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<p>Fundamentos das obrigações</p><p>Profª. Fernanda Paes Leme</p><p>false</p><p>Descrição</p><p>A relação obrigacional, seus elementos estruturantes, funções e principais classificações.</p><p>Propósito</p><p>A compreensão da relação obrigacional, de seus elementos e espécies é fundamental para o entendimento</p><p>de toda a disciplina de obrigações, que é a base de todas as relações privadas patrimoniais.</p><p>Preparação</p><p>Antes de iniciar seu estudo, tenha em mãos o Código Civil (CC) para acompanhar os artigos citados ao</p><p>longo do conteúdo.</p><p>Objetivos</p><p>Módulo 1</p><p>O direito das obrigações</p><p>Analisar a história, a autonomia e os princípios do direito das obrigações.</p><p>Módulo 2</p><p>Fontes e causas das obrigações</p><p>Reconhecer as fontes e as causas das obrigações.</p><p>Módulo 3</p><p>Atos unilaterais, fato jurídico nas obrigações e</p><p>contratos</p><p>Identificar os atos unilaterais e o fato jurídico nas obrigações e nos contratos.</p><p>O direito das obrigações é uma disciplina de extrema relevância, pois é a base das mais diversas</p><p>relações que são estabelecidas nos âmbitos pessoal e profissional de todos. Assim, a compreensão da</p><p>dogmática do direito das obrigações se impõe, sendo certo que tal entendimento pressupõe conhecer a</p><p>historicidade desse ramo do Direito, seus princípios norteadores e os fundamentos dessa relação.</p><p>Nessa perspectiva, trataremos da historicidade do direito das obrigações, com o objetivo de</p><p>compreender os traços mais marcantes e em perspectiva evolutiva das obrigações em geral, assim</p><p>como seus princípios norteadores. Em seguida, tendo como parâmetro norteador a teoria dos fatos</p><p>jurídicos, apresentaremos as fontes das obrigações e, por fim, cuidaremos dos atos unilaterais e não</p><p>negociais de vontade.</p><p>Como será visto, a delimitação dos contornos jurídicos de todos esses aspectos essenciais do direito</p><p>das obrigações é diretamente influenciada e determinada por opções legislativas de cada época e</p><p>também pela releitura de institutos tradicionais a partir de princípios informadores.</p><p>Introdução</p><p>1 - O direito das obrigações</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar a história, a</p><p>autonomia e os princípios do direito das obrigações.</p><p>História, autonomia e princípios do direito</p><p>das obrigações</p><p>Neste módulo, trataremos da historicidade do direito das obrigações, de seus princípios mais importantes e</p><p>de sua autonomia no campo do direito privado.</p><p>Atenção</p><p>Não faremos aqui uma reconstrução histórica do direito das obrigações, tarefa mais apropriada aos</p><p>historiadores, mas tão somente destacaremos as especificidades mais marcantes e relevantes ao longo do</p><p>tempo responsáveis pela configuração do direito das obrigações na contemporaneidade e contextualizado</p><p>no ordenamento jurídico brasileiro.</p><p>Em relação aos princípios, foram selecionados aqueles que, na atualidade, respondem pelo dinamismo e</p><p>pela conformação do direito das obrigações. Certamente, outros princípios poderiam ter sido também</p><p>elencados, mas selecionamos aqueles que entendemos ser mais relevantes.</p><p>Por fim, sobre a autonomia do direito das obrigações, cabe-nos consignar que ela se traduz na disciplina</p><p>específica para esse importante ramo do Direito, cuja aplicabilidade se dá, de forma exclusiva ou</p><p>complementar, com a disciplina de outras áreas.</p><p>Atenção</p><p>Além disso, é importante destacar que, pela sistemática adotada pelo CC de 2002, procedeu-se a uma</p><p>unificação parcial do direito privado, com a reunião das obrigações civis e mercantis no livro do direito das</p><p>obrigações, que inaugura a parte especial do CC.</p><p>Historicidade do direito das obrigações</p><p>A compreensão dos institutos jurídicos perpassa sua historicidade, não com o objetivo de uma exata e</p><p>pormenorizada reconstrução histórica, mas de conhecer a dinâmica evolutiva e, principalmente, as</p><p>transformações ao longo do tempo.</p><p>Nessa perspectiva, podemos indicar três marcos principais na evolução das obrigações:</p><p></p><p>Fase romana.</p><p></p><p>Fase moderna.</p><p></p><p>Fase contemporânea e constitucionalizada.</p><p>Essa divisão não indica que tenham existido três diferentes obrigações, mas apenas que em cada uma</p><p>dessas fases é possível destacar certas características mais marcantes.</p><p>Na fase romana, o conceito de obrigação era bem-definido, com a distinção entre os direitos de crédito e os</p><p>direitos reais e com o estabelecimento do vínculo pessoal entre os sujeitos da relação obrigacional. Note</p><p>que a pessoalidade do vínculo, em um primeiro momento, estava particularmente atrelada à Lei das XII</p><p>Tábuas, e o não cumprimento das obrigações pactuadas assumia um caráter delitual.</p><p>Assim, a título ilustrativo, entre as possíveis consequências do inadimplemento, havia a possibilidade de se</p><p>tornar escravo, ter uma parte do corpo cortada ou ainda ser morto. Essas espécies arcaicas de autotutela</p><p>tiveram seu fim com a Lex Poetelia Papiria, trazendo a distinção essencialmente relevante de patrimônio e</p><p>pessoa natural do devedor, projetando a responsabilidade sobre o patrimônio e originando a</p><p>responsabilidade patrimonial, tal como prevista em nosso ordenamento jurídico atual (art. 391 do CC).</p><p>O extremo formalismo é outra característica marcante das obrigações na época romana. Vejamos alguns</p><p>pontos:</p><p>Lex Poetelia Papiria</p><p>A Lex Poetelia Papiria foi uma lei da República romana que aboliu o nexum, ou seja, o acordo pelo qual um</p><p>devedor dava como garantia de um empréstimo a escravidão de si próprio em nome do credor em troca da</p><p>extinção do débito.</p><p>Importantes manifestações</p><p>Os ritos e as cerimônias eram mais importantes do que a manifestação da vontade em si.</p><p>Extremismo atenuado</p><p>No entanto, com o passar do tempo e a evolução da categoria, tanto o formalismo quanto a</p><p>pessoalidade extrema foram se tornando mais brandos.</p><p>De fato, se a responsabilidade se torna patrimonial e não mais incidente sobre a pessoa do devedor, as</p><p>obrigações deixam de ter caráter personalíssimo, passo importante na evolução das obrigações como um</p><p>todo.</p><p>A partir daí, outras evoluções e transformações foram experimentadas, sendo a principal o deslocamento da</p><p>primazia do formalismo para a vinculação da vontade e a sujeição do devedor a uma prestação, e não mais</p><p>a uma sujeição física e de seu próprio corpo. Essa nova concepção de obrigação já se fazia presente no</p><p>Corpus Iuris Civilis, no século XVI.</p><p>Ainda nessa perspectiva da vinculação da vontade, mas já sob a influência do Direito Canônico, o não</p><p>cumprimento da obrigação se confundia com a ideia de falha moral e até mesmo de pecado, e foi instituído,</p><p>na época, o princípio do pacta sunt servanda (os pactos devem ser cumpridos), denotando o compromisso</p><p>pela palavra empenhada.</p><p>O Direito moderno resgata a noção de obrigações do Direito romano, mas distante daquela primeira</p><p>concepção de vínculo pessoal, quiçá personalíssimo, e adicionando a ideia da força vinculante da vontade.</p><p>Nessa perspectiva, Pothier (2002, p. 24), em atenção ao Code Civil francês, definiu obrigação como “um</p><p>vínculo de direito que nos restringe a dar a outro alguma coisa, ou ainda, a fazer ou não fazer tal ou qual</p><p>Evolução</p><p>Esse fato permitiu a evolução para a responsabilidade patrimonial, como já referido, e a</p><p>própria transmissão das obrigações, com os institutos que hoje conhecemos como cessão de</p><p>crédito e assunção de dívida, por exemplo.</p><p>coisa”, destacando ser da essência das obrigações que exista uma causa para essa obrigação, que existam</p><p>pessoas entre as quais se contrate e que exista alguma coisa que seja seu objeto (POTHIER, 2002, p. 29).</p><p>Essa definição, até pelo protagonismo francês da época, influenciou outras codificações e pode ser</p><p>compreendida como uma boa ilustração da concepção moderna de obrigações.</p><p>Comentário</p><p>Destaca-se que ainda prevalecia a noção de vínculo estático entre credor e devedor, e de sujeição deste</p><p>último ao primeiro, mas não uma sujeição pessoal, e sim patrimonial, na medida em que a responsabilidade</p><p>pelo inadimplemento recaía sobre o patrimônio.</p><p>Em termos de história recente, por muito tempo se acreditou que as obrigações permaneceriam quase</p><p>inalteradas em sua essência, revelando aqui a preponderância</p><p>de seu aspecto estático. Essa visão de</p><p>estabilidade das obrigações se traduz no vínculo jurídico, que confere ao credor o direito de exigir do</p><p>devedor o cumprimento de determinada obrigação, ao passo que o devedor estaria obrigado a realizar a</p><p>prestação ao credor.</p><p>No entanto, novas transformações surgiram, e, mais contemporaneamente, verificamos uma terceira fase</p><p>evolutiva nas obrigações, com destaque para uma concepção dinâmica do vínculo jurídico obrigacional e da</p><p>relação como um todo. Essa nova concepção pode, em alguma medida, ser compreendida como</p><p>consequência direta da própria reformulação da noção de autonomia privada, tanto de seus contornos</p><p>quanto de seus limites.</p><p>A noção de autonomia da vontade, concebida como dogma na teoria clássica, é substituída pela de</p><p>autonomia privada, sendo certo que não se tratou de mera alteração semântica, mas de reformulação de</p><p>fundo, no que tange aos contornos e, principalmente, aos limites da autonomia.</p><p>Sob a influência de princípios constitucionais, notadamente o da dignidade da pessoa humana e o da</p><p>solidariedade social, altera-se a concepção de autonomia, e ela então se distancia de uma ideia de liberdade</p><p>parcamente limitada para a ideia de uma liberdade funcionalizada ao atendimento de interesses e valores</p><p>socialmente relevantes. Como consequência dessa alteração, novos institutos e princípios jurídicos</p><p>emergiram, como a figura do abuso do direito e os princípios da boa-fé objetiva e da função social dos</p><p>contratos.</p><p>No campo das obrigações, especificamente, isso impôs uma renovada concepção da obrigação, a qual</p><p>passa a ser compreendida como um vínculo dinâmico, complexo, enfim, como um processo de cooperação</p><p>entre as partes e com vistas ao adimplemento. Essa nova concepção só foi possível porque, primeiro,</p><p>abandonou-se o formalismo exacerbado e típico do Direito romano e, a partir daí, privilegiou-se o aspecto</p><p>funcional da relação.</p><p>Vale dizer que, preservados seus aspectos estruturais, adota-se uma postura que</p><p>privilegia a função da relação obrigacional, que vem a ser toda a sua existência</p><p>orgânica direcionada ao adimplemento.</p><p>Consequentemente, a relação obrigacional passa a ser apreciada em sua totalidade, e, nessa perspectiva,</p><p>não apenas o débito e o crédito são relevantes, mas todos os direitos, deveres, ônus, exceções, enfim, todas</p><p>as situações jurídicas subjetivas têm papel de destaque, posto que se interligam, tornando a relação uma</p><p>totalidade orgânica, complexa e dinâmica, cujo fim é o adimplemento.</p><p>Certamente, o credor ainda tem o direito de exigir do devedor a satisfação de seu crédito. Essa possibilidade</p><p>é da essência do próprio vínculo obrigacional. No entanto, o credor também tem deveres ao longo dessa</p><p>relação, e ambos devem cooperar para seu fim pretendido, que é o adimplemento.</p><p>Princípios do direito das obrigações</p><p>O direito das obrigações disciplina, essencialmente, três situações:</p><p></p><p>As relações negociais, de troca de bens e serviços entre as pessoas.</p><p></p><p>A reparação dos danos civis.</p><p></p><p></p><p>Os atos unilaterais de vontade relacionados com hipóteses de benefícios indevidamente auferidos.</p><p>Essa delimitação nos indica os princípios mais relevantes no âmbito do direito das obrigações, quais sejam,</p><p>o princípio da autonomia privada, o princípio da boa-fé objetiva e o princípio da função social dos contratos.</p><p>Princípio da autonomia privada</p><p>O que é a autonomia privada? Vamos conhecer seu conceito e características juntamente com a professora</p><p>Fernanda Paes Leme assistindo ao vídeo a seguir?</p><p>Como você deve ter observado no vídeo, a autonomia privada, em seu sentido técnico, é o poder de</p><p>autorregulamentação dos próprios interesses. Trata-se, portanto, de poder reconhecido aos sujeitos de</p><p>direito para a produção de efeitos jurídicos em decorrência de ato de sua própria vontade e em</p><p>conformidade com o ordenamento. Tem como seu fundamento genérico a liberdade jurídica e encontra no</p><p>negócio jurídico o local próprio para sua realização.</p><p>Ainda sobre o tema, vejamos algumas diferenças entre as autonomias:</p><p>Autonomia privada patrimonial</p><p>Tratando-se da autonomia privada patrimonial, a liberdade se especifica na livre iniciativa, nos termos</p><p>do art. 170 da Constituição Federal de 1988 (CF/1988), fundamento próprio para atos dessa natureza.</p><p>Autonomia não patrimonial</p><p>Já para os atos de autonomia não patrimonial, o fundamento se desloca para a cláusula geral de tutela</p><p>da pessoa humana. A liberdade deve ser harmonizada com os substratos que conformam o princípio</p><p></p><p></p><p>da dignidade da pessoa humana.</p><p>No entanto, são os limites que se opõem a essa liberdade que melhor explicam, ao longo do tempo e do</p><p>espaço, sua concepção e abrangência, e também foi a partir da imposição de limites que se deu a grande</p><p>transformação do conteúdo da autonomia.</p><p>Vamos descobrir quais são eles?</p><p>O primeiro limite imposto à autonomia privada é o negativo, consubstanciado no critério da</p><p>licitude/ilicitude. Este sempre existiu e corresponde ao princípio da legalidade, que determina não ser</p><p>possível fazer aquilo que a lei proíbe. Esse limite persiste e pode ser observado em diversas</p><p>passagens da legislação, como no parágrafo único do art. 170 da CF/1988, ao determinar que, em</p><p>alguns casos, o exercício da livre iniciativa dependerá de prévia autorização do poder público; no</p><p>próprio requisito da licitude do objeto para a validade dos negócios jurídicos; na proibição de o tutor</p><p>adquirir bens do tutelado; na indissolubilidade do vínculo de afinidade em linha reta, que traz como</p><p>consequência direta o impedimento matrimonial; entre outros.</p><p>Contudo, em um ordenamento promocional, a licitude não é critério bastante para a valoração, em</p><p>termos positivos, do ato de autonomia, razão pela qual se adiciona o critério da legitimidade e,</p><p>consequentemente, adota-se também o juízo de merecimento de tutela do ato.</p><p>Assim, o segundo limite genérico à autonomia privada é o critério da legitimidade. Trata-se de outro</p><p>limite negativo, que determina que os atos de autonomia, além de lícitos, têm que ser exercidos em</p><p>conformidade com sua função. Trata-se de um controle de abusividade ou de disfuncionalidade do</p><p>ato. Os parâmetros para esse controle de legitimidade são aqueles estabelecidos pelo legislador no</p><p>Limite negativo </p><p>Critério da legitimidade </p><p>art. 187 do CC de 2002, a saber, fim econômico ou social, boa-fé e bons costumes.</p><p>Há ainda um terceiro limite genérico, consistente na funcionalização do ato de autonomia, que se</p><p>trata do privilégio ao aspecto funcional dos institutos jurídicos como um todo e do ato de autonomia</p><p>especificamente, a fim de permitir tanto o controle do ato quanto, principalmente, sua adequação ao</p><p>atendimento dos interesses sociais relevantes.</p><p>Princípio da boa-fé objetiva</p><p>O princípio da boa-fé objetiva foi inserido no ordenamento jurídico brasileiro pelo Código de Defesa do</p><p>Consumidor (CDC), e, posteriormente, o legislador de 2002, por meio de três dispositivos (arts. 113, 187 e</p><p>422), irradiou a força do princípio para as demais relações.</p><p>De forma geral, pode-se dizer que a boa-fé objetiva impõe aos contratantes a</p><p>observância de certo padrão de comportamento ético, o qual será um parâmetro</p><p>utilizado pelo julgador quando da interpretação, integração e solução das</p><p>controvérsias submetidas à sua análise.</p><p>A doutrina brasileira, seguindo a classificação alemã e em observância ao texto codificado, identifica uma</p><p>tríplice função para a vertente objetiva da boa-fé:</p><p>Funcionalização do ato de autonomia </p><p>Função integrativa da boa-fé</p><p>Essa função objetiva (art. 422 do CC) estabelece a obrigação acessória de agir segundo a probidade e a</p><p>boa-fé.</p><p>Função limitativa</p><p>A função limitativa (art. 187 do CC) visa a impedir o exercício abusivo das posições jurídicas.</p><p>Função interpretativa</p><p>Essa função (art. 113 do CC) determina que o contrato seja interpretado segundo a boa-fé.</p><p>No âmbito de sua função integrativa, a boa-fé objetiva impõe deveres genéricos de recíproca cooperação ou</p><p>colaboração entre as partes, impondo,</p><p>portanto, deveres positivos de conduta, os quais foram</p><p>determinantes para a transformação da concepção de obrigação. A rigor, esses deveres, por si só,</p><p>impuseram a complexidade objetiva das obrigações e dotaram a relação de um dinamismo que a</p><p>caracteriza na contemporaneidade.</p><p>A função limitativa permite a verificação da abusividade do exercício do direito, a partir da análise da</p><p>presença de elementos objetivos acerca da cooperação entre as partes, bem como do exercício</p><p>desarrazoado de certa posição jurídica, compreendido como aquele contrário ao padrão de colaboração e</p><p>retidão. Ao equilíbrio compete verificar a proporcionalidade entre as obrigações existentes.</p><p>A título de ilustração, suponha um contrato de compra e venda a prazo de automóvel entre particulares, no</p><p>qual, após o pagamento de uma parcela considerável do contrato, o devedor ficasse inadimplente. Na</p><p>eventualidade de o credor pretender exercer seu direito potestativo à resolução, poderia incidir o controle,</p><p>por meio da boa-fé objetiva, com vistas a impedir a resolução.</p><p>Por fim, a função interpretativa, atribuída à boa-fé objetiva, impõe a adoção de standards de comportamento</p><p>para fins de interpretação das diferentes relações jurídicas. Trata-se de comando normativo direcionado ao</p><p>julgador, no sentido de que adote o parâmetro da boa-fé objetiva para a interpretação das situações postas</p><p>à sua análise.</p><p>Princípio da função social dos contratos</p><p>O princípio da função social dos contratos foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro pelo CC de</p><p>2002, que, por meio do art. 421, determinou que a “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos</p><p>limites da função social do contrato”. Mais recentemente, a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica</p><p>(Lei nº 13.874/2019) alterou a redação do art. 421, suprimindo o “em razão” do caput, substituindo a</p><p>expressão “liberdade de contratar” por “liberdade contratual” e acrescentando um parágrafo único ao</p><p>dispositivo.</p><p>Se existe um consenso acerca da função social dos contratos é o de que o princípio encerra uma espécie de</p><p>critério de controle de legitimidade da liberdade contratual, impondo às partes contratantes a observância e</p><p>o atendimento aos valores socialmente úteis, quando da busca pela realização de seus próprios interesses.</p><p>Isso não significa ignorar a função econômica do contrato, transformando-o em instrumento de realização</p><p>de interesses exclusivamente coletivos, e/ou desprezar a vontade das partes.</p><p>A função social dos contratos impõe uma nova forma de composição dos interesses envolvidos, um plus às</p><p>funções econômicas em geral e específicas das relações obrigacionais como um todo e do contrato,</p><p>especificamente.</p><p>Vem que eu te explico!</p><p>Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.</p><p>MÓDULO 1</p><p>Vem que eu te explico!</p><p>F lt ti i bj ti</p><p></p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>Acerca dos princípios fundamentais que regem o direito das obrigações, é possível afirmar que:</p><p>A</p><p>Não há diferença, em termos práticos, entre autonomia privada e autonomia da vontade,</p><p>limitando-se a uma distinção meramente semântica.</p><p>B</p><p>Entende-se como boa-fé objetiva a identificação particular de determinadas partes, isto é,</p><p>vincula-se a intenção do agente, contrapondo-se à má-fé.</p><p>C</p><p>A função social do contrato se traduz na definição de um controle de legitimidade da</p><p>liberdade contratual, pautado por interesses socialmente relevantes.</p><p>D</p><p>A compreensão do direito das obrigações, na contemporaneidade, rechaça toda a noção</p><p>existente no Direito romano, pois este se vinculava tão somente à inexistência de</p><p>distinção entre o patrimônio e a pessoa.</p><p>E</p><p>O princípio do pacta sunt servanda como princípio contratual contemporâneo significa a</p><p>observância de cumprir determinada obrigação, desde que estejam previstas as</p><p>circunstâncias devidas.</p><p>Parabéns! A alternativa C está correta.</p><p>Trata-se da exata definição do princípio da função social do contrato.</p><p>Questão 2</p><p>Acerca das funções exercidas pela boa-fé objetiva, de acordo com as doutrinas alemã e brasileira, entende-</p><p>se que:</p><p>A Reverbera-se em uma tríplice função, sendo ela: disjuntiva, limitativa e interpretativa.</p><p>2 Fontes e causas das obrigações</p><p>B</p><p>A função integrativa se coaduna com a visão contemporânea e dinâmica das obrigações,</p><p>observando a cooperação entre as partes.</p><p>C Tem como função exclusiva a identificação de valores socialmente relevantes.</p><p>D</p><p>A função interpretativa se traduz no dever de leitura integral de determinado contrato, sob</p><p>pena de não ser considerado válido.</p><p>E</p><p>A função disjuntiva diz respeito à separação necessária entre o cumprimento de uma</p><p>obrigação, pelo lado do devedor, e o direito de exigi-la, pelo lado do credor.</p><p>Parabéns! A alternativa B está correta.</p><p>Trata-se da escorreita compreensão da função integrativa, que, juntamente com as funções</p><p>limitativa e interpretativa, corrobora a tríplice função da vertente objetiva da boa-fé.</p><p></p><p>2 - Fontes e causas das obrigações</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as fontes e as</p><p>causas das obrigações.</p><p>Notas introdutórias</p><p>A fonte ou causa de uma obrigação corresponde a seu fato gerador ou originário e, consequentemente, ao</p><p>fundamento jurídico do vínculo obrigacional. Assim, identificar uma fonte ou causa de uma obrigação é o</p><p>mesmo que identificar a origem dessa mesma obrigação e seu fundamento.</p><p>Exemplo</p><p>A título ilustrativo, uma obrigação oriunda do descumprimento de um dever originário ou de um ato ilícito</p><p>enseja, uma vez preenchidos todos os pressupostos para tal, uma relação de responsabilidade civil, com</p><p>características e especificidades próprias, como prazo prescricional e termo inicial para contagem de juros,</p><p>por exemplo. Por outro lado, uma relação obrigacional oriunda de um vínculo jurídico contratual está</p><p>diretamente relacionada com esse título, no qual, por exemplo, podem ter sido incluídas uma cláusula</p><p>limitativa e, dependendo do contrato, até mesmo exonerativa de responsabilidade.</p><p>Com esses exemplos, meramente ilustrativos, pretendeu-se destacar a importância da identificação das</p><p>fontes ou causas das obrigações. Trata-se de um aspecto instrumental e de extrema relevância prática, pois</p><p>influencia diretamente diversos aspectos técnicos derivados do vínculo estabelecido.</p><p>A relevância da identificação das fontes ou causa das obrigações deriva das especificidades que serão</p><p>próprias a cada uma das diversas relações obrigacionais possíveis em razão de sua fonte.</p><p>Resumindo</p><p>Em síntese, as fontes ou causas das obrigações revelam sua importância a partir da compreensão das</p><p>circunstâncias que ensejam o vínculo jurídico obrigacional de determinada relação.</p><p>Como visto no módulo anterior, as obrigações têm historicidade própria e longa evolução, a qual também</p><p>influencia a identificação das possíveis fontes ou causas das obrigações. Assim, adotaremos aqui os</p><p>mesmos marcos temporais indicados no módulo anterior, quais sejam, a fase romana, a fase moderna e a</p><p>fase contemporânea.</p><p>Algumas palavras sobre cada uma dessas fases:</p><p>Fase romana </p><p>Ao longo da fase romana, foram enumerados como fontes das obrigações o contrato, o como</p><p>contrato, o delito, o como delito e o direito próprio, com alterações nessas indicações, a fim de</p><p>acomodar situações e categorias novas que surgiram com o passar do tempo.</p><p>Essa classificação romana foi adotada, já na fase moderna, pelo Código de Napoleão, por obra direta</p><p>de Pothier (2002, p. 29), que afirmava como causas das obrigações “os contratos, os quase</p><p>contratos, os delitos e os quase delitos e, às vezes, a lei ou a simples equidade”. Observa-se que as</p><p>ideias de “como contrato” e “como delito” do Direito romano são denominadas, na fase moderna,</p><p>“quase contrato” e “quase delito”.</p><p>Na construção francesa, incorporada no Código de Napoleão, o contrato seria uma espécie de</p><p>convenção, cujo objeto era um compromisso. Já os quase contratos seriam o que hoje</p><p>compreendemos como atos unilaterais,</p><p>a exemplo da aceitação de herança e do pagamento</p><p>indevido (POTHIER, 2002, p. 111). Já o delito seria o ato intencional e doloso que causasse dano a</p><p>outrem, e o quase delito, o ato culposo que gerasse o mesmo resultado lesivo. Por fim, a lei era, e</p><p>ainda é, apresentada como fonte mediata de todas as obrigações, além de causa imediata de</p><p>algumas obrigações específicas.</p><p>Como sabemos, a fase moderna foi marcada por um amplo movimento de codificações, e não foram</p><p>todos os ordenamentos que seguiram essa classificação francesa. Ao contrário, foram observadas</p><p>adaptações e reformulações nessas classificações. De forma geral, verificou-se o abandono das</p><p>figuras do quase contrato e do quase delito, sendo o primeiro substituído pela categoria dos atos</p><p>unilaterais de vontade, e o segundo, fundido na categoria geral do delito ou ato ilícito.</p><p>Fase romana </p><p>Fase moderna </p><p>Além disso, sob a influência germânica, substituiu-se, em certa medida, o contrato pela categoria</p><p>mais ampla de negócio jurídico, na qual o contrato está inserido. Já a lei, em que pese existirem</p><p>críticas nesse sentido, majoritariamente, é indicada como uma das fontes das obrigações, mediata</p><p>ou imediata. Como fonte mediata, pois a lei é, em última instância, o fundamento de todas as</p><p>relações obrigacionais, e imediata, nas hipóteses em que a obrigação nasce diretamente da lei, como</p><p>no caso de obrigação alimentar.</p><p>Já em nossa fase atual, contemporânea, reconhecemos como fontes ou causas das obrigações o</p><p>ato ilícito, o negócio jurídico, os atos unilaterais de vontade e a lei. Assim, pode-se afirmar que a</p><p>obrigação resulta de fonte heterônoma, por intermédio da lei, ou de fonte autônoma, resultante da</p><p>vontade humana, manifestada no contrato, na declaração unilateral ou na prática de ato ilícito.</p><p>Derivando um pouco mais essas categorias, temos que as obrigações podem ser originadas de contratos ou</p><p>atos unilaterais de vontade (atos jurídicos); atos ilícitos, dolosos e/ou culposos; e da lei, que usualmente é</p><p>apontada como fonte primária e mediata de todas as obrigações, mas que também pode figurar como fonte</p><p>imediata.</p><p>À exceção da lei, as demais fontes das obrigações pertencem à categoria mais ampla de fatos jurídicos, que</p><p>são os acontecimentos, dependentes ou não da ação humana consciente e voluntária e que produzem</p><p>consequências jurídicas. Entre as possíveis consequências ou efeitos jurídicos do fato está, justamente, a</p><p>relação obrigacional. Daí a afirmativa de que tais fatos jurídicos são fontes ou causas das obrigações.</p><p>O gênero fato jurídico é subdivido em algumas espécies:</p><p>Fase contemporânea </p><p>Esses três últimos, juntamente com a lei, conformam as fontes ou causas das obrigações.</p><p>Atos jurídicos: atos em sentido estrito e</p><p>negócios jurídicos</p><p>O ato jurídico é a ação humana voluntária e consciente, ou seja, destinada à produção de determinado efeito</p><p>pretendido, que gera consequências jurídicas. Essa categoria se subdivide em atos jurídicos em sentido</p><p>estrito e em negócios jurídicos, e ambos derivam da vontade humana criadora. No entanto, o espaço de</p><p>liberdade ou de autonomia do agente difere em uns e em outros.</p><p>I</p><p>O fato jurídico em sentido estrito.</p><p>II</p><p>O ato jurídico, que se subdivide em ato jurídico em sentido estrito e em negócio jurídico.</p><p>III</p><p>O ato lícito.</p><p>Nos atos jurídicos em sentido estrito, todos os efeitos derivam da própria lei. Assim, o espaço de autonomia</p><p>se resume à escolha entre praticar ou não o ato, mas, uma vez praticado, não há espaço para qualquer</p><p>modulação volitiva. Nesse sentido, afirma-se que o ato jurídico em sentido estrito é a exteriorização</p><p>consciente da vontade, cuja eficácia é predeterminada pela lei.</p><p>Exemplo</p><p>Podemos citar a adoção, a fixação de domicílio e a constituição em mora.</p><p>Já no negócio jurídico o espaço para o exercício da autonomia e para a inovação no mundo jurídico é</p><p>bastante amplo, na medida em que o negócio jurídico é o instrumento por excelência da autonomia privada,</p><p>visto que é por meio dele que o sujeito de direito manifesta sua vontade, direcionada à produção de efeitos</p><p>pretendidos.</p><p>Resumindo</p><p>Em síntese, o negócio jurídico é o instrumento próprio para que os sujeitos de direito autorregulem seus</p><p>interesses, na medida em que seus efeitos não são determinados pela norma, embora sejam por ela</p><p>limitados.</p><p>A depender das partes envolvidas, o negócio jurídico pode ser unilateral ou bilateral, e na categoria dos</p><p>negócios bilaterais se insere a principal fonte das obrigações, que é o contrato. Este último pode ser</p><p>compreendido como uma relação jurídica subjetiva, derivada do acordo de vontades e em conformidade</p><p>com a lei, por meio do qual os sujeitos de direito, no exercício de suas autonomias, podem alterar a</p><p>realidade jurídica, perfazendo acordos volitivos em torno de bens e interesses patrimoniais juridicamente</p><p>reconhecidos.</p><p>Os atos negociais unilaterais ou negócios jurídicos unilaterais são aqueles que se aperfeiçoam e criam</p><p>uma obrigação, a partir da declaração de apenas uma vontade negocial.</p><p>A título de ilustração, podemos citar os títulos de crédito, documentos autônomos de natureza obrigacional</p><p>inter partes, predominantes nas relações interempresariais (arts. 887 e segs. do CC), e a promessa de</p><p>recompensa, disciplinada nos arts. 854 a 860 do CC.</p><p>Exemplo</p><p>Um exemplo de promessa de recompensa bastante comum em nossa sociedade é o programa de</p><p>milhagens de companhias aéreas ou de pontos de determinada marca de produtos ou serviços.</p><p>Existem, por fim, os atos unilaterais não negociais, aos quais nos dedicaremos no Módulo 3 e que se</p><p>distinguem dos atos ou negócios jurídicos unilaterais exatamente por serem desprovidos de caráter</p><p>negocial, mas que, por derivarem de ações humanas voluntárias, reverberam em uma obrigação.</p><p>Atos ilícitos</p><p>Vamos assistir agora a professora Fernanda Paes discorrer sobre os atos ilícitos e suas classificações.</p><p>Atos ilícitos</p><p>O ato ilícito está inserido na categoria dos atos jurídicos, ao lado dos atos jurídicos em sentido estrito, cujos</p><p>efeitos decorrem diretamente da lei, independentemente da vontade dos agentes e dos negócios jurídicos,</p><p>cujos efeitos decorrem da vontade em conformidade com a lei.</p><p>A diferença entre os atos jurídicos em sentido estrito e o ato ilícito repousa</p><p>justamente na qualificação específica deste último, que é sua antijuridicidade, pois</p><p>os efeitos dos atos ilícitos também derivam da lei.</p><p>O ilícito, portanto, significa que aquela ação humana é contrária ao Direito e, assim, antijurídica. Trata-se de</p><p>uma caracterização objetiva, visto depender apenas da contrariedade ao Direito. O ato ilícito é um</p><p></p><p>comportamento voluntário que infringe um dever jurídico.</p><p>Assim, em termos práticos, para caracterizar um ato como ilícito, devemos indagar o que a pessoa fez,</p><p>observar a conduta, a ação ou omissão e valorar essa conduta em conforme ou não conforme ao Direito.</p><p>Sendo não conforme ou contrária ao Direito, será antijurídica e, consequentemente, ilícita.</p><p>A vida em sociedade impõe a adoção de certos comportamentos objetivos e também de certos deveres</p><p>negativos, tal qual o dever genérico de não causar danos a outrem. A inobservância desses deveres, somada</p><p>à causação de danos injustos, configura o ato ilícito, cujo efeito principal é o indenizante ou reparatório.</p><p>Repousa, nesse ponto, a relevância dos atos ilícitos como fonte de obrigações, posto que, em muitos casos,</p><p>serão fonte geradora da relação de responsabilidade civil.</p><p>A correlação entre ato ilícito e responsabilidade civil é tão estreita que, tradicionalmente, o conceito de ato</p><p>ilícito foi concebido como o conjunto dos pressupostos da responsabilidade civil subjetiva, como se</p><p>depreende do teor do art. 186 do CC, que dispõe: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência</p><p>ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”</p><p>Contemporaneamente, no entanto, essa correlação deve ser vista com mais cautela, pois, conforme a</p><p>sistemática adotada pelo CC de 2002,</p><p>o ato ilícito passa a ser um gênero que tem como espécies o ato</p><p>ilícito em sentido estrito ou subjetivo (art. 186 do CC) e o ilícito em sentido amplo ou objetivo, que é o abuso</p><p>do direito (art. 187 do CC).</p><p>A cautela se faz necessária porque, enquanto o ilícito subjetivo, de fato, relaciona-</p><p>se de forma muito estreita com a responsabilidade civil, o ilícito objetivo ou abuso</p><p>do direito tem como função primordial exercer um controle dos atos de autonomia,</p><p>visando à coibição de exercícios disfuncionais do direito.</p><p>Certamente, o cometimento de um ilícito objetivo pode gerar uma relação de responsabilidade civil.</p><p>Inclusive, tal previsão é expressa no caput do art. 927 do CC, no qual se afirma que: “Aquele que, por ato</p><p>ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” No entanto, considerando a função</p><p>primordial do abuso do direito, devemos ter em mente que o efeito reparatório ou indenizante, para essa</p><p>espécie de ato ilícito, não é o principal.</p><p>Espécies de ato ilícito</p><p>Espécies de ato ilícito</p><p>Como referido no item anterior, o CC de 2002 ampliou a noção de ato ilícito, incluindo nessa categoria o</p><p>abuso do direito. Consequentemente, foi necessário extrair do conceito de ato ilícito (gênero) a</p><p>culpabilidade, reduzindo sua conceituação a uma conduta ou comportamento humano que viola o</p><p>ordenamento jurídico, infringindo um dever jurídico específico ou geral, tal qual o de não causar danos a</p><p>outrem ou de não agir em desconformidade com o próprio direito que titulariza.</p><p>Assim, diante da sistemática do CC de 2002, duas são as espécies de ato ilícito:</p><p></p><p>Ato ilícito em sentido estrito ou subjetivo, previsto no art. 186 do CC.</p><p></p><p>Ato ilícito objetivo ou abuso do direito, previsto no art. 187 do CC.</p><p>O ilícito subjetivo em sentido estrito ou subjetivo pode ser compreendido como a qualificação de uma</p><p>conduta humana voluntária, culposa ou reprovável, praticada conscientemente por uma pessoa, violadora de</p><p>um dever jurídico e que causa dano a terceiros.</p><p>Depreende-se desse conceito que o núcleo central do ilícito subjetivo é conformado pela antijuridicidade e</p><p>pela imputabilidade:</p><p>\</p><p>Antijuridicidade</p><p>A antijuridicidade é o aspecto objetivo do conceito e que nos impõe investigar o que a pessoa fez, pois</p><p>será antijurídica a conduta voluntária, comissiva ou omissiva, contrária ao ordenamento jurídico.</p><p>Imputabilidade</p><p>A imputabilidade é o aspecto subjetivo do conceito e que indica a necessidade de investigar quem</p><p>praticou o ato ilícito, premissa para a própria reprovabilidade da conduta e para a imputabilidade, que é a</p><p>possibilidade jurídica de atribuição de autoria ou de responsabilidade pelo fato. Imputável pelo ato,</p><p>portanto, será a pessoa a quem se pode atribuir a conduta antijurídica, sendo exigido para tal o</p><p>discernimento.</p><p>Por isso é que, em nosso ordenamento jurídico, o incapaz pode praticar conduta antijurídica, mas não</p><p>comete ato ilícito, pois é inimputável.</p><p>O ato ilícito em sentido amplo, objetivo ou abuso do direito pode ser compreendido como conduta</p><p>antijurídica, mas sem qualquer referência ao elemento subjetivo. Assim, observa-se apenas a conduta, se</p><p>contrária ao ordenamento jurídico.</p><p>Essa é uma distinção muito importante:</p><p>Ato ilícito em sentido subjetivo</p><p>O ato ilícito em sentido estrito ou subjetivo precisa do elemento subjetivo da culpa.</p><p>Ato ilícito em sentido objetivo</p><p>Já o ilícito objetivo ou abuso nasce da incompatibilidade entre o direito subjetivo e seu exercício.</p><p>Em outras palavras: o ato ilícito objetivo dispensa o elemento volitivo, na medida em que, para a</p><p>configuração do abuso, exige-se apenas a comprovação objetiva de que o comportamento adotado</p><p>contraria a função para a qual o direito subjetivo foi concedido.</p><p>A função precípua do abuso do direito, como já referido, é exercer um controle do exercício dos atos de</p><p></p><p>autonomia. A valoração da abusividade é tarefa complexa, pois só pode ser feita em concreto e em atenção</p><p>à função do próprio direito. A rigor, temos um direito que está sendo exercido por seu titular, que, durante</p><p>esse exercício, por não observar ou respeitar a função do próprio direito, abusa do direito e, com isso,</p><p>comete ato ilícito. A configuração do abuso do direito resulta do exercício disfuncional do direito.</p><p>Em comum, ambas as espécies congregam a desconformidade da conduta com o direito e a</p><p>reprovabilidade dessa mesma conduta. Porém, no ilícito subjetivo, a reprovabilidade da conduta</p><p>corresponde à culpa, exteriorizada pela negligência, imprudência e imperícia. Já no ilícito objetivo ou abuso</p><p>do direito a reprovabilidade corresponde ao exercício disfuncional de uma posição jurídica e é apreciada em</p><p>concreto, a partir dos parâmetros indicados pelo legislador, quais sejam, seu fim econômico ou social, a</p><p>boa-fé e os bons costumes.</p><p>Disso deriva outra importante distinção entre o ato ilícito subjetivo e o objetivo ou abuso:</p><p>Ato ilícito em sentido subjetivo</p><p>O autor do ilícito viola diretamente uma norma ou um dever jurídico; daí se afirmar que o ato ilícito em</p><p>sentido estrito conforma uma ilegalidade.</p><p>Ato ilícito em sentido objetivo</p><p>Não se verifica uma violação frontal à norma, o que resulta em ato ilícito qualificado não pela</p><p>ilegalidade estrita, mas, sim, pela ilegitimidade da conduta.</p><p>Comentário</p><p>A violação frontal à norma não é verificada porque temos na hipótese do ilícito objetivo, a rigor, o exercício</p><p>irregular de direito, mas há um direito.</p><p>Uma dúvida natural, nesse ponto, é a razão de se falar em ato ilícito, se não há ilegalidade propriamente dita.</p><p>E a resposta é bastante simples, em que pese não ser isenta de críticas. Porque essa foi a opção de nosso</p><p>legislador, qual seja, considerar ilícito aquele ato abusivo e não merecedor de tutela jurídica. E isso porque o</p><p>abuso é intolerável, e o ordenamento não admite comportamentos violadores de princípios e valores, ainda</p><p>que tais comportamentos tenham aparência de licitude.</p><p>Assim, o ato ilícito clássico é uma violação ao corpo da legislação, enquanto o abuso é uma violação à alma</p><p>da legislação. O ato abusivo é lícito na origem, mas é ilícito quanto ao resultado e à finalidade. Daí a</p><p>complexidade de sua configuração, a qual depende da apreciação em concreto e de seu reconhecimento</p><p></p><p>pelo juízo.</p><p>Atos justi�cados</p><p>Antes de terminar a discussão sobre atos ilícitos, precisamos analisar os atos justificados, os quais, não</p><p>obstante a ausência de ilicitude, podem gerar uma obrigação de responsabilidade civil.</p><p>Os atos justificados são aqueles que derivam de conduta humana voluntária e que geram danos a outrem,</p><p>mas de que, por terem sido praticados em circunstâncias tais que seria inexigível comportamento diverso, a</p><p>ilicitude da conduta é afastada. No entanto, a exclusão da ilicitude não é, necessariamente, acompanhada</p><p>da exclusão da antijuridicidade, e, assim, em algumas hipóteses, haverá o dever de reparar.</p><p>As consequências dos atos justificados são determinadas exclusivamente pela lei, e, nesse sentido, eles se</p><p>aproximam dos atos ilícitos e dos atos jurídicos em sentido estrito.</p><p>Já a peculiaridade dos atos justificados é a potencialidade de gerarem o dever de reparação civil, não</p><p>obstante a ausência de ilicitude na conduta de quem os praticou.</p><p>É a lei que determina quais as justificativas que afastam a ilicitude das condutas e em quais circunstâncias</p><p>haverá também a exclusão da antijuridicidade. São justificados os atos praticados em legítima defesa, no</p><p>exercício regular de um direito reconhecido e em estado de necessidade, como preceitua o art. 188 do CC.</p><p>As condutas praticadas em uma dessas circunstâncias, mesmo quando gerarem danos a terceiros, serão</p><p>lícitas, pois essas causas operam a exclusão da ilicitude da conduta.</p><p>Resumindo</p><p>As excludentes de ilicitude tornam o fato aparentemente antijurídico e ilícito em lícito. Certamente, o fato</p><p>não se altera, porém, a existência de razões que o justifiquem exclui a ilicitude da conduta, configurando</p><p>hipóteses de atos lesivos lícitos.</p><p>Já a configuração ou não da antijuridicidade</p><p>e a consequente obrigação de reparação civil dependerão,</p><p>essencialmente, da participação da vítima do dano na origem da conduta justificada.</p><p>De forma geral:</p><p>Se a vítima do dano tiver dado causa a situação ou circunstância na qual foi praticado o ato justificado,</p><p>não haverá o dever de reparação civil.</p><p>Mas, por outro lado, se a vítima for terceira pessoa, totalmente desvinculada da situação ou</p><p>circunstância, haverá o dever de reparação (arts. 929 e 930 do CC).</p><p>A título de ilustração, suponhamos a seguinte situação hipotética:</p><p></p><p>I</p><p>Um motorista conduz seu veículo automotor observando todas as regras de trânsito e com</p><p>toda a cautela quando surge uma criança correndo na pista.</p><p>II</p><p>Com o intuito de evitar atropelar a criança, ele é obrigado a frear bruscamente e a fazer uma</p><p>manobra, e acaba abalroando o carro de terceiro. A conduta desse motorista é lícita, visto que</p><p>justificada pelo estado de necessidade.</p><p>III</p><p>Não obstante, o terceiro não tem responsabilidade alguma pelo fato e, por opção legislativa,</p><p>não deve suportar o prejuízo. Assim, ao motorista incumbirá o dever de reparação dos danos.</p><p>No mesmo exemplo, suponhamos uma pequena alteração no cenário:</p><p>I</p><p>Imagine que a criança tenha saído correndo do carro de seu representante legal, que tinha</p><p>acabado de estacionar seu veículo</p><p>II</p><p>Imagine também que o motorista, para evitar o atropelamento, tenha feito uma manobra</p><p>arriscada e abalroado o carro do representante legal da mesma criança.</p><p>III</p><p>Em razão do estado de necessidade, a conduta é lícita e, nesse caso, foi o representante legal</p><p>que deu ensejo à situação de perigo; assim, a antijuridicidade da conduta também restará</p><p>afastada, não havendo, para o condutor, o dever de reparar o dano.</p><p>Lei</p><p>A lei é indicada como uma das fontes das obrigações pela maioria dos autores que se dedicam ao tema, os</p><p>quais sustentam que ela sempre seria a fonte primária e mediata, podendo ainda ser a fonte imediata nas</p><p>hipóteses em que a obrigação resulta diretamente da lei, como na prestação de alimentos.</p><p>Não obstante, há vozes dissidentes que, categoricamente, afirmam que a lei não é fonte ou causa das</p><p>obrigações, a exemplo de Fernando Noronha (2010, p. 365). Os autores que assim se posicionam defendem</p><p>a tese de que a lei de per si não é fonte obrigacional, pois lhe falta a autonomia da vontade para se perfazer</p><p>ou concretizar. E, assim, a lei abstratamente considerada não seria fonte de obrigações, mas, se vinculada a</p><p>fato jurídico, torna-se fonte obrigacional.</p><p>Ocorre que o inverso é igualmente verdadeiro, pois a juridicidade de um contrato, por exemplo, deriva da lei</p><p>que reconhece a vontade criadora de efeitos jurídicos dessa natureza.</p><p>Exemplo</p><p>Além dos contratos tipicamente previstos, seja no CC, seja na legislação especial, podemos celebrar</p><p>contratos atípicos, e o que nos garante essa possibilidade é a lei (art. 425 do CC).</p><p>O mesmo se pode dizer dos atos ilícitos, os quais configuram uma das fontes geradoras de obrigações,</p><p>porque a lei assim o determina. Isso fica ainda mais evidente nas hipóteses de atos justificados, quando,</p><p>mesmo agindo licitamente, por opção legislativa, alguém é obrigado a reparar um dano.</p><p>Em síntese, ainda que a lei preveja uma obrigação, tal qual a de prestar alimentos aos filhos menores, a</p><p>obrigação em si dependerá de um fato que vá ao encontro da previsão legislativa e que, justamente por isso,</p><p>ganhe juridicidade, produzindo, como consequência, efeitos jurídicos.</p><p>Isso porque, quando o legislador cria uma lei e ela é sancionada e passa a ter vigência, cria-se um direito</p><p>objetivo e abstrato. E apenas quando um fato se liga a uma situação descrita na lei é que se criam situações</p><p>jurídicas, ou seja, direitos e/ou deveres que são os efeitos jurídicos do fato.</p><p>Nesse sentido, o fato de a lei determinar o dever de prestar alimentos aos filhos menores a ninguém obriga,</p><p>até que alguém tenha um filho. Igualmente, ninguém é obrigado a reparar um dano decorrente da prática de</p><p>um ato ilícito se não cometer o ato ilícito, bem como não serão produzidos os efeitos predeterminados pela</p><p>norma para certo ato jurídico em sentido estrito, sem que uma pessoa declare sua vontade para a realização</p><p>desse mesmo ato. Utilizando-se do exemplo dado anteriormente, ainda que a lei determine todos os</p><p>requisitos e efeitos da adoção, esta só ocorrerá se alguém pretender adotar e declarar sua vontade nesse</p><p>sentido.</p><p>Em suma, parece-nos que, independentemente de qual seja a fonte ou causa das obrigações, sempre</p><p>teremos a coparticipação da lei e de um fato jurídico, de sorte que o que podemos fazer é identificar qual</p><p>das fontes é a preponderante.</p><p>Vem que eu te explico!</p><p>Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.</p><p>MÓDULO 2</p><p>Vem que eu te explico!</p><p></p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>No que tange à compreensão francesa incorporada ao Código de Napoleão, contrato, quase contrato, delito,</p><p>quase delito e lei, é possível afirmar que</p><p>A</p><p>os contratos seriam a formalização dos quase contratos, eis que estes seriam o</p><p>equivalente às tratativas negociais preliminares.</p><p>B</p><p>os delitos e os quase delitos seriam os equivalentes àquilo que se conhece em matéria de</p><p>Direito Penal como crimes e contravenções penais, respectivamente.</p><p>C</p><p>a lei seria considerada fonte imediata de todas as obrigações por excelência, eis que</p><p>prescinde de qualquer outro elemento necessário à formalização de determinada</p><p>obrigação.</p><p>D</p><p>os contratos, como convenção celebrada entre as partes, derivam exclusivamente da</p><p>vontade da lei.</p><p>E</p><p>os quase contratos seriam o que hoje compreendemos como atos unilaterais, a exemplo</p><p>da aceitação de herança e do pagamento indevido.</p><p>Parabéns! A alternativa E está correta.</p><p>Os quase contratos se traduzem, essencialmente, na identificação de atos unilaterais, ou seja, são</p><p>obrigações resultantes da vontade de uma só pessoa, dispensando a certeza do credor.</p><p>Questão 2</p><p>A respeito dos atos justificados, como elemento criador de obrigações, está correto afirmar que:</p><p>A</p><p>São atos derivados da conduta humana, que, não obstante gerem danos a outrem, são</p><p>considerados justificados em razão da tolerância social para condutas consideradas de</p><p>menor potencial lesivo.</p><p>B</p><p>Trata-se de atos causadores de danos, mas originados de condutas praticadas em</p><p>circunstâncias especiais, em que seria inexigível esperar comportamento diverso,</p><p>justificando-se a mitigação da ilicitude.</p><p>C</p><p>São atos que geram danos a outrem, em razão de conduta justificada no caso concreto,</p><p>afastando-se, necessariamente, a ilicitude e a antijuridicidade.</p><p>D</p><p>É possível convencionar entre as partes as circunstâncias capazes de ensejar atos</p><p>justificados na ordem jurídica atual.</p><p>E</p><p>Na ordem jurídica atual, situações que envolvam a legítima defesa ou o estado de perigo</p><p>não são capazes de se enquadrarem como atos justificados, em razão de não ser</p><p>permitida a violação a direito alheio.</p><p>Parabéns! A alternativa B está correta.</p><p>Trata-se da exata definição de atos justificados, que, muito embora gerem danos a outrem, são</p><p>capazes de ter sua ilicitude afastada, pois impor a obrigação de adoção de postura diversa seria</p><p>irrazoável.</p><p></p><p>3 - Atos unilaterais, fato jurídico nas</p><p>obrigações e contratos</p><p>Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os atos</p><p>unilaterais e o fato jurídico nas obrigações e nos contratos.</p><p>Atos unilaterais, fato jurídico nas</p><p>obrigações e contratos</p><p>Fatos jurídicos, fatos sociais e obrigações</p><p>Os fatos sociais são acontecimentos naturais ou dependentes da ação humana e que constituem a base</p><p>para a concretização do direito. Isso porque, quando o legislador promulga uma lei e ela passa a ter</p><p>vigência, temos a criação do direito objetivo e abstrato, o qual será concretizado a partir do momento em</p><p>que um fato, ou seja, um acontecimento, vá ao encontro daquela previsão.</p><p>Assim, quando um fato se liga a uma situação descrita na lei, ganha juridicidade, tornando-se um fato</p><p>jurídico, e,</p><p>assim, passa a produzir efeitos ou consequências jurídicas.</p><p>Relembrando</p><p>A expressão “fato jurídico” é utilizada para denotar um gênero que abarca algumas espécies, como já</p><p>referido no módulo anterior.</p><p>Como já visto, entre as espécies de fatos jurídicos, o ato jurídico, o negócio jurídico e o ato ilícito são fontes</p><p>autônomas das obrigações. Autônomas porque, relembrando, são derivadas de atos humanos e conscientes</p><p>de vontade. Inserido no gênero negócio jurídico, temos o contrato como instrumento próprio para a criação</p><p>de obrigações entre as partes que o celebram.</p><p>A indagação a ser feita, nesse ponto, é sobre a relevância jurídica de outros fatos derivados da ação humana</p><p>voluntária e socialmente reconhecidos, mas que, por não preencherem os requisitos gerais de existência e</p><p>validade dos atos e dos negócios jurídicos, não estariam inseridos na categoria fato jurídico e,</p><p>genericamente, são chamados de situações de fato.</p><p>A título de ilustração, podemos citar as sociedades de fato, a representação aparente, a posse de estado de</p><p>fato, entre tantas outras situações que, não obstante não preencherem os requisitos de existência e validade</p><p>dos atos jurídicos, podem e devem ser reconhecidas, sendo esse o posicionamento de nossos tribunais.</p><p>Exemplo</p><p>Podemos supor a corriqueira situação de um adolescente de 15 anos que celebra um contrato de transporte</p><p>coletivo ou uma compra e venda de um lanche.</p><p>A peculiaridade das situações de fato é a ausência de ato negocial válido que lhe sirva de fonte constitutiva,</p><p>ou até mesmo a dispensa de manifestação de vontade negocial. Dito de outra forma, as situações de fato</p><p>correspondem a condutas negociais típicas, mas sem o preenchimento dos requisitos de existência,</p><p>validade e eficácia exigidos pelo ordenamento (art. 10 do CC).</p><p>Consequentemente, na apreciação de tais situações, a discussão concentra-se na admissão da autonomia</p><p>privada para além do ato negocial propriamente dito, e toda a atenção desloca-se para a conduta típica e</p><p>para seus efeitos. Nessas hipóteses, a conduta passa a ser suficiente para a configuração da situação e</p><p>para produção de efeitos reconhecidos, a despeito da inexistência de ato negocial válido.</p><p>Exemplo</p><p>São os contratos socialmente aceitos, as relações contratuais de fato, os comportamentos concludentes, as</p><p>representações de fato, entre outros.</p><p>É importante observar que o reconhecimento dessas situações de fato que obrigam as partes não implica,</p><p>necessariamente, a ampliação das fontes das obrigações, mas a relevância jurídica dessas atividades e o</p><p>reconhecimento das obrigações dela decorrentes.</p><p>Atos unilaterais de vontade</p><p>Inexiste uma teoria geral sobre os atos unilaterais de vontade. A própria conceituação é difícil, pois os</p><p>ordenamentos jurídicos acabam por agrupar, sob essa categoria, diversos fatos jurídicos que estejam</p><p>excluídos da seara dos contratos e da responsabilidade civil extracontratual. A rigor, o que se verifica é o</p><p>agrupamento de diversos fatos jurídicos com características muito distintas, o que não contribui para a</p><p>compreensão e a caracterização de cada um deles.</p><p>O CC de 2002, por exemplo, reúne, sob o título “Dos atos unilaterais”, a promessa de recompensa, que é um</p><p>negócio jurídico unilateral; a gestão de negócios, que é um ato jurídico em sentido estrito e que pode ser</p><p>configurado como ato ilícito; o pagamento indevido, que é um ato ilícito para quem o recebeu; e o</p><p>enriquecimento sem causa, que é um fato jurídico em sentido estrito, que gera a obrigação de restituição ou</p><p>de indenização.</p><p>Considerando as espécies agrupadas pelo legislador sob o título atos unilaterais e as observações já</p><p>tecidas, devemos distinguir os atos unilaterais negociais dos atos unilaterais não negociais:</p><p>Nuances</p><p>Ambos são espécies de atos jurídicos, o que significa dizer que são derivados de ações humanas</p><p>voluntárias.</p><p>Essa característica inclusive é o que justifica o enquadramento de tais atos no conjunto de fontes das</p><p>obrigações, em que pesem algumas divergências, que serão tratadas mais adiante.</p><p>Distinções</p><p>A distinção entre eles reside na existência ou não de caráter negocial. Assim, os atos unilaterais ou</p><p>negócios unilaterais são providos de caráter negocial, a exemplo da promessa de recompensa, enquanto</p><p>os atos unilaterais são desprovidos de tal caráter negocial.</p><p>Promessa de recompensa (arts. 854 a 860 do CC)</p><p>A promessa de recompensa é um negócio jurídico unilateral que se aperfeiçoa no momento em que o</p><p>declarante se compromete, publicamente, a recompensar ou a gratificar quem preencher certas condições</p><p>ou realizar certo serviço, como se depreende do art. 854 do CC.</p><p>Vejamos como funciona:</p><p>Declaração pública</p><p>A obrigação do declarante de cumprir o prometido surge com a declaração pública,</p><p>independentemente de aceitação, pois se trata de declaração não receptícia de vontade e</p><p>direcionada a uma coletividade.</p><p>Vínculo</p><p>Temos, portanto, que o promitente se vincula como devedor ao público, e não à pessoa ou a</p><p>pessoas determinadas.</p><p>Determinação do credor</p><p>Assim, no momento do surgimento da obrigação, o credor é indeterminado, sendo</p><p>i di id li d f ti d l li i h</p><p>Em nosso cotidiano, somos impactados por diversas promessas de recompensa, como programas de</p><p>milhagens para aquisição de produtos e passagens áreas, programas de fidelização em restaurantes,</p><p>cafeterias etc., concursos de direito privado em geral.</p><p>A configuração da promessa requer o preenchimento de três requisitos específicos, extraídos do art. 854 do</p><p>CC, além do requisito geral de validade dos negócios jurídicos (art. 104 do CC).</p><p>Os requisitos específicos são:</p><p>A publicidade significa que a promessa tem que ser pública e direcionada a pessoas indeterminadas,</p><p>ainda que possa ser dirigida a um grupo determinado, como alunos de determinada faculdade ou</p><p>turma, por exemplo.</p><p>A especificação da condição a ser preenchida ou do serviço a ser prestado é essencial, pois sem tal</p><p>informação não haveria possibilidade fática da própria promessa. Por fim, a indicação da</p><p>recompensa também se mostra imprescindível, pois será a partir do conhecimento desta que o</p><p>público em geral vai avaliar o interesse em tentar preencher a condição ou prestar o serviço.</p><p>A promessa de recompensa gera uma obrigação para aquele que prometeu, e a justificativa para tal é</p><p>a tutela da legítima expectativa que tal promessa gera na coletividade. Assim, a única forma de o</p><p>promitente se exonerar do prometido será com a revogação da promessa antes de alguém ter</p><p>preenchido a condição ou prestado o serviço, e pela mesma forma adotada para a promessa, ou</p><p>seja, a revogabilidade da promessa deve ter igual publicidade (art. 856 do CC).</p><p>individualizado apenas na fase executiva, quando aquele que realizar o serviço ou preencher a</p><p>condição estabelecida requerer a recompensa prometida (art. 855 do CC).</p><p>Publicidade da oferta </p><p>Especificação da condição </p><p>Indicação da recompensa </p><p>A revogabilidade da promessa, nos termos indicados, é possível porque, em que pese já existir a vinculação</p><p>do promitente, nascida no momento em que publicizou a promessa, inexiste individualização do credor e,</p><p>consequentemente, ainda não há pretensão, já que ainda não se conformou a exigibilidade do prometido.</p><p>Gestão de negócios (arts. 861 a 875 do CC)</p><p>A gestão de negócios é um ato jurídico em sentido estrito, unilateral e não negocial, caracterizado pela</p><p>intervenção de uma pessoa (gestor) em negócio alheio, sem autorização do interessado (dono do negócio),</p><p>mas em conformidade com a vontade presumida do dono do negócio.</p><p>A gestão de negócios se dá, usualmente, em virtude da atuação de amigos e parentes na gestão total ou</p><p>parcial de negócios de natureza patrimonial de terceira pessoa, em razão da ausência desta última ou da</p><p>dificuldade ou impossibilidade de comunicação.</p><p>A título de ilustração, suponhamos que, durante um período de viagem ou mesmo de uma internação</p><p>hospitalar, verifique-se um vazamento na casa de determinada pessoa e que, diante de tal situação, mesmo</p><p>sem poderes</p><p>para tal, um vizinho providencie o reparo.</p><p>Os traços mais marcantes da gestão de negócios alheios são a declaração de vontade e a atuação do</p><p>gestor por sua exclusiva conta, mas no interesse presumido do dono do negócio. É justamente a falta de</p><p>autorização ou de poderes de representação que diferencia a gestão de negócios, ato unilateral de vontade,</p><p>do mandato, negócio jurídico bilateral de natureza contratual.</p><p>Inclusive, essa característica conforma a natureza jurídica da gestão, qual seja, ato jurídico em sentido</p><p>estrito e não negocial.</p><p>Vejamos a seguir como prosseguir em três diferentes cenários referente à comunicação ao dono do</p><p>negócio:</p><p>Comunicação</p><p>A vinculação do gestor deriva da lei, que determina, entre outros deveres, que o gestor comunique ao dono</p><p>do negócio a gestão assumida (art. 864 do CC), permanecendo responsável pela gestão enquanto o dono</p><p>do negócio não se pronunciar, devendo atuar com todo o zelo e diligência na salvaguarda dos interesses</p><p>do dono do negócio.</p><p>Anuência ou discordância</p><p>A comunicação ao dono do negócio se dá após o início da gestão, e, na hipótese de sua anuência, haverá</p><p>a ratificação de todos os atos praticados desde esse momento, ou seja, do início da gestão (art. 873 do</p><p>CC). Por outro lado, se o dono do negócio discordar da gestão, esta deverá cessar imediatamente.</p><p>Não aparição</p><p>Já no interregno entre a comunicação e a resposta, ou seja, durante o silêncio do dono do negócio, o</p><p>gestor deverá zelar pelo negócio até sua conclusão, pois não poderá abandonar o negócio livremente</p><p>iniciado.</p><p>É importante frisar que o ordenamento jurídico tolera a intromissão no negócio alheio em razão de ela ser</p><p>feita no interesse presumido do dono do negócio. Assim, na eventualidade de ser exercida contra a vontade</p><p>presumida dele, a gestão poderá converter-se em ato ilícito, e o gestor responderá até pelos casos fortuitos</p><p>(art. 862 do CC), podendo o dono do negócio exigir indenização pelos prejuízos decorrentes da gestão (art.</p><p>863 do CC).</p><p>Por outro lado, se a gestão tiver sido utilmente administrada, o que pressupõe que tenha sido exercida em</p><p>seu interesse, o dono do negócio assumirá as obrigações contraídas em seu nome e reembolsará o gestor</p><p>das despesas necessárias e úteis que tiver realizado durante a gestão (art. 869 do CC).</p><p>Por fim, destaca-se que a gestão de negócios alheios pode consumar-se na prestação de alimentos a quem</p><p>deixou de receber diretamente do devedor, por qualquer razão. Nesse caso, no entanto, o gestor poderá</p><p>reaver o que pagou, independentemente da ratificação pelo devedor (dono do negócio), em razão da</p><p>vedação ao enriquecimento sem causa (art. 871 do CC).</p><p>Enriquecimento sem causa</p><p>Neste vídeo, a professora Fernanda Paes Leme discorre sobre o enriquecimento sem causa e as razões de</p><p>sua inadmissibilidade, dando exemplos.</p><p>A ideia geral de inadmissibilidade de um acréscimo patrimonial às custas de outrem e sem um fato jurídico</p><p>que o justifique é traduzida na vedação ao enriquecimento sem causa ou ao enriquecimento justificado, ou,</p><p>ainda, ao locupletamento ilícito, expressões sinônimas.</p><p>A configuração do enriquecimento sem causa depende da relação material entre dois patrimônios, um</p><p></p><p>enriquecido e outro empobrecido na mesma proporção e sem causa justificadora. Diz-se sem causa em</p><p>razão da ausência de uma causa jurídica que justifique o enriquecimento, e é justamente a ausência de</p><p>causa jurídica que torna o enriquecimento ilícito e faz nascer a obrigação de restituição.</p><p>O enriquecimento sem causa é um fato jurídico que se dá na relação entre patrimônios, podendo ser</p><p>resultante de atos jurídicos, mas também de fatos involuntários, e que se projeta no âmbito do Direito de</p><p>duas formas:</p><p>Como princípio</p><p>Sempre foi reconhecido por nosso ordenamento, em que pese sua previsão só ter sido incluída no CC de</p><p>2002. A justificativa para seu reconhecimento estaria ligada às ideias de equidade e justiça comutativa,</p><p>para alguns juristas, e/ou aos preceitos constitucionais acerca das relações obrigacionais, ou, ainda, ao</p><p>princípio da boa-fé objetiva, como defendem outros. Fato é que, como já referido, a vedação ao</p><p>enriquecimento sem causa, em sua faceta principiológica, não é nenhuma novidade em nosso</p><p>ordenamento, figurando, não raras vezes, como razão de decidir em diversas situações. Exemplos</p><p>recorrentes na jurisprudência são a adoção do princípio da vedação ao enriquecimento sem causa como</p><p>critério para a quantificação do dano moral e para a redução equitativa da cláusula penal.</p><p>Como instituto jurídico</p><p>Aqui o enriquecimento sem causa se afigura como fonte da obrigação de restituir, sendo, nesse sentido, a</p><p>disciplina incluída no CC de 2002. Essa faceta não é imune a críticas, pois se argumenta que o cerne do</p><p>enriquecimento sem causa seria justamente a ausência de fonte obrigacional do benefício auferido às</p><p>custas do patrimônio de outrem. No entanto, essa crítica não afasta a eficácia do instituto, o qual foi</p><p>consagrado no CC de 2002 como fonte de uma obrigação de restituição, como se depreende do caput do</p><p>art. 884: “Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o</p><p>indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.” Do art. 884, extraímos os requisitos</p><p>para configuração do enriquecimento sem causa, quais sejam: (i) o enriquecimento de um (ii) às custas</p><p>de outrem e a (iii) ausência de causa jurídica.</p><p>Comentário</p><p>Em ambas as hipóteses, o enriquecimento sem causa perfaz um instrumento de proteção do patrimônio.</p><p>O enriquecimento é elemento essencial para a configuração do instituto e deve representar uma vantagem</p><p>patrimonial, a qual pode derivar de um aumento do ativo, mas também da diminuição do passivo e/ou do</p><p>não desembolso de uma despesa devida. Em síntese, o enriquecimento patrimonial está ligado ao sujeito</p><p>enriquecido e é calculado pela diferença entre a situação do patrimônio antes e depois do fato que gerou o</p><p>enriquecimento.</p><p>Esse enriquecimento tem que se dar às custas de outrem, pois o enriquecido está auferindo um proveito ou</p><p>uma vantagem que caberia a outra pessoa.</p><p>É importante frisar que não se trata, necessariamente, do empobrecimento de</p><p>alguém, pois não é essencial a diminuição patrimonial do terceiro, mas apenas que</p><p>o enriquecido tenha vantagem sem causa jurídica às custas de outra pessoa.</p><p>A título de ilustração, suponhamos a utilização não autorizada da imagem de alguém com finalidade</p><p>comercial. O titular da imagem não teve diminuição em seu patrimônio, mas aquele que se utilizou</p><p>indevidamente da imagem obteve vantagem.</p><p>Por fim, o enriquecimento tem que ser dissociado de causa jurídica que o justifique, residindo nesse ponto</p><p>inclusive a justificativa para o surgimento da obrigação de restituição. Frise-se que, nos termos do art. 885, a</p><p>restituição será devida “não só quando não tenha havido causa que justifique o enriquecimento, mas</p><p>também se esta deixou de existir”. Utilizando-se do mesmo exemplo anterior, podemos supor que existisse</p><p>um contrato de cessão de imagem, mas que após sua extinção, por termo ou por distrato, por exemplo, a</p><p>imagem continuou a ser utilizada.</p><p>Destaca-se que o enriquecimento sem causa foi disciplinado de forma geral, podendo restar configurado em</p><p>diversas situações, desde que preenchidos seus requisitos.</p><p>Exemplo</p><p>Podemos citar transferências patrimoniais indevidas, como a hipótese do pagamento indevido; exploração</p><p>e/ou utilização de direitos ou bens alheios etc.</p><p>Como já referido, uma vez configurado o enriquecimento sem causa, surge a obrigação de restituição, que</p><p>poderá ser exigida no curso de qualquer ação específica ou, subsidiariamente, em ação específica (art. 886</p><p>do CC). No caso de ações que objetivem cessar o enriquecimento sem causa, é necessário demonstrar não</p><p>apenas o enriquecimento de quem está lucrando, mas que tal enriquecimento se deu às custas de outrem, o</p><p>nexo de causalidade entre as duas circunstâncias, a ausência de causa jurídica, seja de contrato, seja de lei,</p><p>além da inexistência</p><p>de ação específica para tanto.</p><p>Pagamento indevido (arts. 876 a 883 do CC)</p><p>O pagamento indevido constitui caso específico de aplicação do princípio da vedação ao enriquecimento</p><p>sem causa, originando o dever de restituição daquilo que se recebeu a título de pagamento de dívida</p><p>inexistente, ou que deixou de existir, ou que existia, mas da qual quem recebeu não era credor, ou ainda de</p><p>dívida existente, porém pendente de condição suspensiva.</p><p>Trata-se de ato jurídico unilateral e não negocial, em virtude do qual há a obrigação de restituir o que houver</p><p>recebido indevidamente. Percebe-se, portanto, que, ao contrário do pagamento devido, o indevido não</p><p>extingue uma obrigação, mas, sim, faz surgir a obrigação de restituição.</p><p>É simples:</p><p>Analisando pela ótica de quem pagou, estamos diante de um erro (art. 877 do CC).</p><p></p><p>Já pelo lado de quem recebeu, estamos diante de uma vantagem indevida, resultando o dever de</p><p>restituição.</p><p>A restituição pelo que se pagou indevidamente poderá ser requerida em ação própria, que é a ação de</p><p>repetição de indébito (art. 881 do CC), na qual aquele que pagou indevidamente terá o ônus de demonstrar</p><p>que o pagamento foi realizado de forma voluntária e mediante erro.</p><p>É importante destacar que, sendo uma especi�cação da vedação ao</p><p>enriquecimento sem causa, o objetivo também é o de proteção do</p><p>patrimônio.</p><p>Assim, se a dívida existia, não caberá dever de restituição, como na hipótese de pagamento de dívida</p><p>prescrita ou inexigível (art. 882 do CC). Igualmente, não caberá repetição se a dívida existente foi paga por</p><p>quem não era o devedor. Nesse caso, o credor recebeu de boa-fé, e quem pagou dívida que não era sua só</p><p>poderá, se assim pretender, propor ação regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador.</p><p>Por fim, ressalta-se que, nas relações de consumo, em razão da vulnerabilidade do consumidor, se o</p><p>fornecedor cobrar indevidamente e o consumidor pagar, fará jus à restituição em dobro daquilo que foi</p><p>indevidamente pago.</p><p>Vem que eu te explico!</p><p>Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.</p><p>MÓDULO 3</p><p>Vem que eu te explico!</p><p></p><p>q p</p><p>Falta pouco para atingir seus objetivos.</p><p>Vamos praticar alguns conceitos?</p><p>Questão 1</p><p>Acerca do enriquecimento sem causa, no âmbito do direito das obrigações, está correto afirmar que:</p><p>A</p><p>A noção de enriquecimento sem causa pressupõe, necessariamente, a relação entre uma</p><p>parte detentora de maior poder aquisitivo em detrimento de outra parte considerada</p><p>vulnerável, com poucos recursos financeiros.</p><p>B</p><p>Existem algumas hipóteses em que se deflagra o enriquecimento sem causa, mesmo</p><p>diante de causas que justifiquem seu enriquecimento.</p><p>C</p><p>O enriquecimento sem causa se dá, exclusivamente, por atos considerados voluntários,</p><p>eis que exigível o elemento da vontade de se enriquecer em detrimento de outrem.</p><p>D</p><p>Em sua faceta principiológica, o enriquecimento sem causa pressupõe o respeito aos</p><p>preceitos de equidade e de justiça comutativa.</p><p>E</p><p>No âmbito jurisprudencial, reconhece-se na impossibilidade de utilização do princípio do</p><p>enriquecimento sem causa como critério para a quantificação do dano moral e para a</p><p>redução equitativa da cláusula penal.</p><p>Parabéns! A alternativa D está correta.</p><p>Como visto, o enriquecimento sem causa, como princípio, vincula-se às ideias de equidade e</p><p>justiça comutativa, para alguns juristas, e/ou aos preceitos constitucionais acerca das relações</p><p>obrigacionais, ou, ainda, ao princípio da boa-fé objetiva, como defendem outros.</p><p>Questão 2</p><p>Sobre os fatos sociais, a afirmativa correta é:</p><p>A</p><p>São atos vedados desconsiderados no âmbito da civil law, eis que a lei visa a regular todo</p><p>e qualquer fato apto a se deflagrar na ordem jurídica.</p><p>B</p><p>Os fatos sociais são acontecimentos naturais ou dependentes da ação humana e que</p><p>constituem a base para a concretização do direito.</p><p>C</p><p>Os fatos jurídicos derivam justamente da previsão legal de quais fatos sociais são</p><p>legítimos de ser praticados.</p><p>D</p><p>Entre as espécies de fatos jurídicos, o ato jurídico, o negócio jurídico e o ato ilícito são</p><p>fontes dependentes das obrigações.</p><p>E</p><p>Os contratos, como instrumento de criação de obrigações, somente podem ser</p><p>formalizados nos exatos termos em que a lei definir.</p><p>Parabéns! A alternativa B está correta.</p><p>Os fatos sociais são originados da ação humana, considerando que, como visto, ao se promulgar</p><p>uma lei, tem-se a criação de um direito objetivo e abstrato, o qual será concretizado por meio de</p><p>determinado acontecimento que vá de encontro àquela previsão.</p><p></p><p>Considerações �nais</p><p>Como visto nos módulos anteriores, as obrigações remontam ao Império Romano, passando pela história</p><p>moderna e trazendo elementos relevantes à ordem jurídica contemporânea. Nesse sentido, elementos</p><p>inerentes à autonomia privada passam por sucessivas transformações, de modo a basilar o que se conhece</p><p>como as atuais obrigações complexas, dinâmicas e pautadas por valores e princípios solidários, éticos e</p><p>socialmente relevantes.</p><p>Com relação às fontes e às causas das obrigações, identificaram-se noções relevantes à formalização das</p><p>obrigações, por meio de elementos como fatos jurídicos, leis, atos unilaterais e atos ilícitos, demonstrando</p><p>que as obrigações podem deflagrar-se de forma efetivamente dinâmica e, por vezes, inesperada.</p><p>Espera-se que, com o conteúdo apresentado, o aluno possa identificar, de forma mais clara e compreensível,</p><p>de que modo as relações obrigacionais podem ser formalizadas, especialmente por se tratar de estudo caro</p><p>às relações patrimoniais e privadas, responsável, em parte, pela unificação do direito privado em nosso</p><p>ordenamento jurídico.</p><p>Podcast</p><p>A professora Fernanda Paes fará agora uma breve revisão dos pontos mais relevantes estudados até aqui.</p><p></p><p>Referências</p><p>GOMES, O. Obrigações. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019.</p><p>GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: teoria geral das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2019. v. 2.</p><p>MIRAGEM, B. Direito Civil: direito das obrigações. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021.</p><p> </p><p>MONTEIRO, W. de B. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 1982. v. 3.</p><p>NORONHA, F. Direito das obrigações. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.</p><p>POTHIER, R. J. Tratado das obrigações. Campinas: Servanda, 2002.</p><p>RIZZARDO, A. Direitos das obrigações. 9. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2018.</p><p>STOLZE, P.; FILHO, R. P. Novo curso de Direito Civil 2: obrigações. São Paulo: Saraiva, 2019.</p><p>TARTUCE, F. Direito Civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. v.</p><p>2.</p><p>TEPEDINO, G. Fundamentos do Direito Civil: obrigações. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2020. v. 2.</p><p>Explore +</p><p>Para saber mais sobre os assuntos estudados, consulte os seguintes materiais:</p><p>AGUIAR JR., R. R. As obrigações e os contratos. Brasília, DF, Revista CEJ, v. 3, n. 9, set./dez. 1999.</p><p>KONDER, C. N.; RENTERÍA, P. A funcionalização das relações obrigacionais: interesse do credor e</p><p>patrimonialidade da prestação. Civilistica.com, Rio de Janeiro, ano 1, n. 2, jul./dez. 2012.</p><p>PEREIRA, C. M. da S. Instituições de Direito Civil. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. v. II.</p><p>SILVA, C. V. do C. e. A obrigação como processo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.</p><p>TEPEDINO, G.; BARBOZA, H. H.; MORAES, M. C. B. de. Código Civil interpretado conforme a Constituição da</p><p>República: parte geral e obrigações (arts. 1º a 420). Rio de Janeiro: Renovar, 2007. v. I.</p><p> Baixar conteúdo</p><p>javascript:CriaPDF()</p>