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<p>Linguística</p><p>SANDRA MELLO PORTO</p><p>SANDRA VASQUE CARVALHO DE OLIVEIRA</p><p>1ª Edição</p><p>Brasília/DF - 2024</p><p>Autoria</p><p>Sandra Mello Porto</p><p>Sandra Vasque Carvalho de Oliveira</p><p>Produção</p><p>Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração</p><p>Sumário</p><p>Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4</p><p>Introdução ............................................................................................................................................................................. 6</p><p>Capítulo 1</p><p>Conceito de Linguística .............................................................................................................................................. 9</p><p>Capítulo 2</p><p>Linguística Diacrônica do Séc. XIX .......................................................................................................................19</p><p>Capítulo 3</p><p>Atitudes e Preconceitos Linguísticos ...................................................................................................................24</p><p>Capítulo 4</p><p>Aquisição da Língua...................................................................................................................................................31</p><p>Capítulo 5</p><p>A Psicolinguística: conceito, objeto, surgimento e evolução teórico-metodológica............................43</p><p>Capítulo 6</p><p>Linguagem e Cognição .............................................................................................................................................52</p><p>Referências ..........................................................................................................................................................................70</p><p>4</p><p>Organização do Livro Didático</p><p>Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática,</p><p>objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para</p><p>reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final,</p><p>serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e</p><p>pesquisas complementares.</p><p>A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro</p><p>Didático.</p><p>Atenção</p><p>Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a</p><p>síntese/conclusão do assunto abordado.</p><p>Cuidado</p><p>Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar</p><p>para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento</p><p>equivocado.</p><p>Importante</p><p>Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.</p><p>Observe a Lei</p><p>Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é</p><p>origem, a fonte primária sobre um determinado assunto.</p><p>Para refletir</p><p>Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa</p><p>e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.</p><p>É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus</p><p>sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas</p><p>conclusões.</p><p>5</p><p>ORgAnIzAçãO DO LIvRO DIDátICO</p><p>Provocação</p><p>Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes</p><p>mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor</p><p>conteudista.</p><p>Saiba mais</p><p>Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/</p><p>conclusões sobre o assunto abordado.</p><p>Gotas de Conhecimento</p><p>Partes pequenas de informações, concisas e claras. Na literatura há outras</p><p>terminologias para esse termo, como: microlearning, pílulas de conhecimento,</p><p>cápsulas de conhecimento etc.</p><p>Sintetizando</p><p>Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o</p><p>entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.</p><p>Sugestão de estudo complementar</p><p>Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,</p><p>discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.</p><p>Posicionamento do autor</p><p>Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar</p><p>para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento</p><p>equivocado.</p><p>6</p><p>Introdução</p><p>Olá a todos(as)!</p><p>Sejam bem-vindos(as) à disciplina Linguística.</p><p>Esta disciplina tem como um dos seus propósitos abordar, dentre os estudos linguísticos</p><p>que têm sido efetivados, o estudo sociolinguístico e o estudo psicolinguístico.</p><p>A Linguística deve ser compreendida como o estudo científico da linguagem humana.</p><p>O estudo de Linguística é de extrema importância para a formação do profissional de</p><p>Letras. Isso porque o professor é o responsável pelo ensino de línguas e, por essa razão,</p><p>tem de conhecer não apenas a estrutura e o funcionamento da língua que se apresenta</p><p>como seu objeto de estudo, mas, também, os mecanismos que estão envolvidos em sua</p><p>aquisição e uso.</p><p>Sendo assim, na disciplina Linguística, apresento conceitos sobre a linguagem em</p><p>diferentes momentos e vertentes e destaco outros tópicos de estudos relacionados à</p><p>linguagem verbal e à evolução dos estudos linguísticos até os dias atuais. Ao longo do</p><p>trabalho, relaciono Linguística a outros campos de saber, tais como filosofia, antropologia</p><p>e psicologia, que muito contribuíram para o estudo dos fenômenos linguísticos, e falo sobre</p><p>o preconceito que algumas pessoas têm quanto à forma de falar de alguns falantes. Ao final,</p><p>abre-se espaço para estudo, análise e discussão sobre competência comunicativa.</p><p>Inicialmente, com esse intuito, será apresentada a sociolinguística como o estudo da língua</p><p>na sua relação com a sociedade, abordando, para isso, entre outros fatores, o conceito de</p><p>variação linguística e o conceito de mudança linguística.</p><p>A partir de tais reflexões, será visto o posicionamento do estudioso Eugênio Coseriu sobre</p><p>os níveis da linguagem e serão apresentados os tipos de variantes linguísticas dispostos</p><p>por ele.</p><p>Dando sequência, serão demonstradas algumas teorias que tentam explicar como um</p><p>indivíduo adquire a linguagem e, em seguida, o conceito, o objeto de estudo e a origem e</p><p>desenvolvimento da psicolinguística.</p><p>Será ainda tratada a relação entre linguística e cognição humana, apresentando-se algumas</p><p>abordagens sobre o conhecimento e a aquisição da linguagem.</p><p>Finalizando, serão feitas algumas reflexões sobre a relação mente e linguagem. Assim, serão</p><p>vistas, de forma genérica, a questão da competência e do desempenho e a natureza do</p><p>comportamento e a percepção do desenvolvimento linguístico.</p><p>7</p><p>IntRODuçãO</p><p>Objetivos</p><p>» Conceituar Linguística.</p><p>» Contrastar saber linguístico X ciência linguística.</p><p>» Apresentar noções básicas sobre o estudo científico das linguagens.</p><p>» Conceituar língua e cultura.</p><p>» Expor um panorama histórico dos estudos linguísticos da antiguidade ao século XX.</p><p>» Identificar características da Linguística Diacrônica do século XIX.</p><p>» Perceber a sociolinguística e psicolinguística como ciências que estudam a linguagem</p><p>humana.</p><p>» Compreender o conceito e o objeto de estudo tanto da sociolinguística quanto da</p><p>psicolinguística.</p><p>» Perceber a evolução e transformação dos estudos de linguagem e de cognição.</p><p>9</p><p>Introdução</p><p>Estamos iniciando um momento de reflexões sobre Linguística. Aqui, vamos aprender os</p><p>conceitos indispensáveis à compreensão do que é a Linguística e, a partir do entendimento</p><p>de tais conceitos, poderemos avançar na discussão, sendo capazes de saber seu</p><p>desenvolvimento ao longo da história e sua importância no uso da língua portuguesa.</p><p>Nesta aula, explicitaremos a diferença entre saber linguístico e ciência linguística e</p><p>mostraremos conceitos básicos que abordam o estudo científico da linguagem e definem</p><p>língua e cultura.</p><p>Objetivos</p><p>» Compreender o trabalho linguístico e sua abordagem em outras áreas de interesse,</p><p>tais quais Fonética, Fonologia, Morfologia, Sintaxe, Semântica, Análise do Discurso,</p><p>Pragmática, Sociolinguística, Psicolinguística.</p><p>» Entender o significado de saber linguístico</p><p>significa que um dialeto dispõe de regras e outro não. A linguagem é um fato</p><p>social e sobrevive graças às convenções sociais que são admitidas para ela.</p><p>41</p><p>AQuISIçãO DA LÍnguA • CAPÍTULO 4</p><p>As pessoas falam da maneira como seus semelhantes e por isso se entendem.</p><p>Se cada um falasse como quisesse, jamais poderia existir a linguagem numa</p><p>sociedade. Alguém pode dizer “nóis vai prantá arrois” porque é assim que se</p><p>fala em seu dialeto, enquanto outro diz “nós vamos plantar arroz”. Os dois</p><p>modos de falar são diferentes em alguns aspectos e por isso caracterizam</p><p>dialetos diferentes, mas ambos são regidos por regras muito específicas</p><p>(Cagliari, 1994, p. 18).</p><p>José Luiz Fiorin, em “Introdução à linguística”, comenta que o conhecimento que temos</p><p>de nossa língua materna, que nasce conosco, corresponde à noção de competência e a</p><p>habilidade no uso concreto da língua, em situações variadas, corresponde à noção de</p><p>performance. Em relação à habilidade do falante em usar a língua, o autor afirma que todos</p><p>os falantes de determinada língua têm o mesmo conhecimento linguístico. Contudo, somos</p><p>diferentes em ralação à nossa performance linguística.</p><p>Assim, por exemplo, suponhamos que, com a aproximação do dia de finados, um amigo</p><p>que perdeu o pai recentemente e que parece também ter perdido o gosto pela vida escreva o</p><p>seguinte bilhete:</p><p>“Como amanhã é dia de finados, eu queria pedir pra você ir ao cemitério</p><p>visitar o meu pai. Eu gostaria que você pusesse umas flores no túmulo dele e</p><p>que rezasse, não por ele, mas por mim que, por ter guardado na lembrança</p><p>somente os momentos de amargura, me sinto tão morto quanto ele.”</p><p>Se esse amigo fosse, por ventura, Manuel Bandeira, poderíamos receber um bilhete em forma</p><p>de poema, como o seguinte:</p><p>Poema de finados</p><p>Amanhã que é dia dos mortos</p><p>Vá ao cemitério. Vai</p><p>E procura entre as sepulturas</p><p>A sepultura de meu pai.</p><p>Leva três rosas bem bonitas.</p><p>Ajoelha e reze uma oração.</p><p>Não pelo pai, mas pelo filho:</p><p>O filho tem mais precisão.</p><p>42</p><p>CAPÍTULO 4 • AQuISIçãO DA LÍnguA</p><p>O que resta de mim na vida</p><p>É a amargura do que sofri.</p><p>Pois nada quero, nada espero.</p><p>E em verdade estou morto ali.</p><p>(Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio/Instituto Nacional do</p><p>Livro, 1970, p. 129).</p><p>Em consonância com o autor, é possível concluir que a dificuldade do falante em relação</p><p>à língua está, portanto, relacionada aos mecanismos psicológicos de percepção e de</p><p>processamento da língua (performance) e não à competência.</p><p>O que vimos nesse capítulo?</p><p>» Compreender o mecanismo de aquisição de linguagem.</p><p>» Conhecer as principais teorias e os teóricos que explicam a aquisição.</p><p>» Entender os estágios de desenvolvimento da aquisição da linguagem.</p><p>» Refletir sobre as etapas da aquisição.</p><p>» Compreender o que os linguistas chamam de competência linguística.</p><p>» Reconhecer os princípios da teoria gerativista de Chomsky e sua relação com a competência</p><p>linguística.</p><p>» Entender a gramática universal como conjunto de princípios linguísticos determinados</p><p>geneticamente.</p><p>» Conhecer a proposta de José Luiz Fiorin que explica o conhecimento a partir da relação</p><p>competência X performance.</p><p>43</p><p>Figura 14. Psicolinguística.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mental-health-brain-disorder-concept-world-1971601484.</p><p>Introdução</p><p>Esta aula tem como finalidade abordar o conceito e o objeto de estudo da Psicolinguística e</p><p>apresentá-la como uma ciência originada a partir da comunicação entre outras ciências.</p><p>Para tanto, é feita, inicialmente, uma retrospectiva histórica das suas origens, apresentando</p><p>como ocorreu o diálogo entre as disciplinas que foram importantes para o seu surgimento</p><p>enquanto ciência.</p><p>Será também estudado nesta aula o desenvolvimento dessa ciência, apresentando as fases</p><p>por que ela passou, desde o período inspirado na teoria da informação até os dias atuais.</p><p>Objetivos</p><p>» Conhecer a finalidade e o objeto de estudo da Psicolinguística, entendendo desde as</p><p>particularidades da origem até o objetivo de sua atuação.</p><p>» Aprender a evolução e as fases por que passou a ciência Psicolinguística durante o</p><p>desenvolvimento, percebendo-a como disciplina que pode trabalhar em conjunto</p><p>com outras.</p><p>5</p><p>CAPÍTULO</p><p>A PSICOLInguÍStICA: COnCEItO,</p><p>OBJEtO, SuRgIMEntO E EvOLuçãO</p><p>tEÓRICO-MEtODOLÓgICA</p><p>44</p><p>CAPÍTULO 5 • A PSICOLInguÍStICA: COnCEItO, OBJEtO, SuRgIMEntO E EvOLuçãO tEÓRICO-MEtODOLÓgICA</p><p>5.1. Histórico da Psicolinguística</p><p>Surgida no início da década de 1950, a Psicolinguística passou por algumas mudanças até</p><p>que se consolidasse como ciência nessa época.</p><p>Segundo Leitão (2010, p. 218), a Psicolinguística toma como base, para a conceituação</p><p>que usa, os ensinamentos de Humboldt, revistos por Wundt, que foi um psicólogo</p><p>alemão que, na virada do século XIX para o XX, já se mostrava preocupado com a</p><p>relação entre os processos mentais e o comportamento verbal. Entre outras coisas,</p><p>Wundt defendia a impossibilidade de a psicologia cognitiva ser autônoma em relação à</p><p>linguística e vice-versa.</p><p>A autora ainda acrescenta que foi, exatamente, com a inter-relação entre essas duas áreas</p><p>que vamos ver surgir e desenvolver a Psicolinguística.</p><p>É assim, de fato, que essa nova ciência moderna surge: a partir do auxílio que uma área</p><p>oferecia à outra no que diz respeito aos estudos da linguagem. Os psicólogos e os linguistas</p><p>se ajudavam nessas questões e, a partir dessa cooperação, surge uma nova ciência.</p><p>Elena Godoy (2014) comenta que essas duas ciências são as “ciências-mães” da</p><p>psicolinguística. Contudo, ela entende que a Psicolinguística não se resume somente à</p><p>soma das duas disciplinas. Diz que, de fato, ultrapassa suas fronteiras, buscando novas</p><p>abordagens e metodologias.</p><p>Leitão acrescenta que foi depois da realização de dois seminários que os estudiosos</p><p>verificaram que poderia haver eficiência de teorias e metodologias implementadas</p><p>pela Psicologia na resolução e explicação de estruturas linguísticas que estavam sendo</p><p>desenvolvidas pela Linguística. Sobre esses seminários, ela detalha os dados:</p><p>Em 1951 ocorre o seminário de verão de pesquisa entre psicologia e linguística na</p><p>Universidade de Cornell, seguido, dois anos depois (1953), por outro seminário do</p><p>verão sobre psicolinguística na Universidade de Indiana, patrocinado pelo Conselho de</p><p>Pesquisa em Ciência Social (Social Science Research Council – SSRC) em que linguistas</p><p>e psicólogos interagiram produtivamente, sendo creditado a esse evento o nascimento da</p><p>psicolinguística. (Leitão, 2010, p. 219).</p><p>Segundo a autora, nos 50 anos posteriores ao surgimento da psicolinguística, muitas</p><p>mudanças ocorreram nos estudos relativos à cognição humana.</p><p>Nos seus primórdios, a psicolinguísticas tinha como base a teoria behaviorista, segundo a</p><p>qual o acreditava-se na questão estímulo-resposta para a explicação da linguagem.</p><p>Na década seguinte, foram os conceitos e estudos de Chomsky que a influenciaram e, de</p><p>acordo com eles, a característica principal da linguagem humana – fator que a distingue</p><p>45</p><p>A PSICOLInguÍStICA: COnCEItO, OBJEtO, SuRgIMEntO E EvOLuçãO tEÓRICO-MEtODOLÓgICA • CAPÍTULO 5</p><p>de outras linguagens – é a criatividade. Sendo a criatividade essa característica basilar da</p><p>linguagem do homem, não se poderia mais aceitar a concepção behaviorista de que homem</p><p>repete aquilo a que está exposto.</p><p>Essa teoria que passou a influenciar a nova psicolinguística também se dissociava da</p><p>concepção estruturalista saussureana, que tinha como cerne entender a linguagem como</p><p>social. O gerativismo chomskyano, ao contrário, conferia a linguagem a um fator interno,</p><p>inerente ao indivíduo.</p><p>A partir dessa mudança de paradigma teórico, a psicolinguística começa uma fase de</p><p>pesquisas que tentam buscar nas regras da gramática transformacional de Chomsky uma</p><p>estruturação explicativa para os resultados de experimentos psicolinguísticos. (Leitão, 2010,</p><p>p. 219).</p><p>Na década de setenta do século passado, os estudos da psicolinguística se afastam das</p><p>concepções gerativistas</p><p>de se concentrar “nas variáveis sintáticas do processamento</p><p>sentencial” e desembocam nos estudos de “processos relacionados à compreensão do</p><p>discurso e também ao reconhecimento de palavras (acesso lexical)”. (Leitão, 2010, p. 219-220).</p><p>Assim, deixa-se de lado os estudos que focavam a sintaxe e passa-se a dar importância</p><p>maior à semântica e também à pragmática.</p><p>Mais recentemente os estudos entre a Psicolinguística e a teoria gerativista de Chomsky</p><p>tornam a se aproximar, mas em um novo modelo gerativo, “mais especificamente pelo modelo</p><p>gerativo adotado no programa minimalista (Chomsky, 1995, 1999).” (Leitão, 2010, p. 220).</p><p>Sobre o Minimalista (Augusto, 2016, 278), “o Minimalismo reitera a concepção inatista e</p><p>modular da mente humana em relação à linguagem.”</p><p>5.1.1 Ainda sobre a relação entre as duas disciplinas que deram</p><p>origem à Psicolinguística</p><p>Figura 15. O diálogo entre linguistas e psicólogos.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/happy-young-couple-talking-over-chalkboard-373552009.</p><p>46</p><p>CAPÍTULO 5 • A PSICOLInguÍStICA: COnCEItO, OBJEtO, SuRgIMEntO E EvOLuçãO tEÓRICO-MEtODOLÓgICA</p><p>Como se viu, as disciplinas Psicologia e Linguística estão na origem da Psicolinguística. É o</p><p>diálogo entre as duas que vai favorecer o surgimento dessa nova ciência.</p><p>Antes de as duas disciplinas se associarem dando origem a uma terceira, tanto a</p><p>Psicologia se serviu dos estudos linguísticos em separado, quanto a Linguística utilizou</p><p>os conhecimentos da Psicologia, também isoladamente, apesar de ainda não haver um</p><p>diálogo entre as duas.</p><p>As duas áreas se interessavam por aspectos da linguagem, seria, então, conveniente que</p><p>houvesse uma comunicação entre elas.</p><p>Assim, deveria haver uma linguagem comum entre as duas áreas, e isso só ocorreu</p><p>quando, em determinado momento histórico, surgiu a necessidade de novas abordagens</p><p>sobre a linguagem verbal, devido também à necessidade do incremento de novos</p><p>mecanismos de comunicação.</p><p>A interface entre Linguística e Psicologia tem sido, de fato, uma longa</p><p>história de promessas metodológicas. Ferdinand de Saussure, no final do</p><p>século XIX, início do XX, compreendeu a natureza social da linguagem</p><p>e, na direção de Durkheim, desenhou a disciplina linguística e seu</p><p>compromisso descritivista, como um ramo da Semiologia, em última</p><p>instância da explanação em Psicologia Social. A linguagem humana,</p><p>dentro do estruturalismo europeu, era a janela para se enxergar o caráter</p><p>sociocognitivo da comunicação. (Pelosi, 2014, p. 7)</p><p>O período pós-Segunda Guerra Mundial trouxe a necessidade de se conhecer e se</p><p>desenvolver esse conhecimento sobre os sistemas de comunicação.</p><p>A “teoria da comunicação”, que usava e desenvolvia mecanismos de transmissão de</p><p>mensagens de forma mecânica, acabou influenciando e fazendo mudar os estudos em torno</p><p>da comunicação até então realizados.</p><p>Os termos utilizados pela “teoria da informação” como canal, transmissor, receptor, etc.</p><p>foram também amplamente utilizados pelos estudos voltados à comunicação humana.</p><p>Tanto a Psicologia quanto a Linguística, que se interessavam pela linguagem humana, foram,</p><p>assim, influenciadas por essa teoria. Nesse contexto, passou a existir maior colaboração</p><p>interdisciplinar entre as duas áreas.</p><p>Até que surge, na década de 1950, a Psicolinguística, como resposta às necessidades que</p><p>apareceram na sociedade da época no que diz respeito às ciências humanas. Sobre o início</p><p>do uso do nome Psicolinguística, Silva (2016, s/p.) comenta:</p><p>47</p><p>A PSICOLInguÍStICA: COnCEItO, OBJEtO, SuRgIMEntO E EvOLuçãO tEÓRICO-MEtODOLÓgICA • CAPÍTULO 5</p><p>Quando o termo “psicolingüística” começou a ser usado pela primeira vez, no</p><p>início da década de 1950, indicava um interesse pelos métodos lingüísticos</p><p>para descrever a produção dos usuários da linguagem; em especial, a análise</p><p>estrutural em unidades lingüísticas tais como fonemas, morfemas e frases,</p><p>as quais pareciam oferecer uma formulação mais precisa das unidades tão</p><p>obviamente psicológicas quanto as letras, frases e sentenças.</p><p>“Psicolingüística” é, portanto, um neologismo que surgiu da necessidade</p><p>de se denominar essa fase de revolução na Lingüística e na Psicologia,</p><p>principalmente depois que Chomsky publicou nos Estados Unidos um</p><p>trabalho sobre gramática gerativa denominado Syntactic Structures.</p><p>Para Leitão (2010), a psicolinguística moderna se inicia quando linguistas e psicólogos no</p><p>início dos anos 1950 começam a realizar um trabalho de colaboração entre eles.</p><p>Sobre a origem da Psicolinguística, Godoy (2014, p. 18) explica que teria sido também uma</p><p>tendência da época surgirem novas ciências a partir da junção de estudos de disciplinas</p><p>distintas, assim como ela surge, também,</p><p>com a necessidade de oferecerem bases e explicações teóricas a várias tarefas</p><p>práticas para as quais as abordagens puramente linguísticas se mostraram</p><p>insuficientes por focarem a estrutura das línguas e análise textual, excluindo</p><p>de sua investigação o sujeito falante.</p><p>E o que seriam essas tarefas práticas colocadas pelo autor?</p><p>Seriam, justamente, por exemplo, o ensino de língua materna e línguas estrangeiras, problemas</p><p>fonoaudiológicos, casos da psicologia legal, entre outras tarefas.</p><p>Tanto a Psicologia como a Linguística tinham como interesse e objeto de estudo a</p><p>linguagem verbal. Desse fato decorre a importância da colaboração entre as duas disciplinas</p><p>para estudos dessa questão.</p><p>A Psicologia, como estuda os processos de emissão, de recepção, de codificação e</p><p>decodificação da linguagem, apoiando-se em fenômenos psíquicos, auxilia a Linguística</p><p>com suas metodologias na investigação desses processos, observando a aquisição, a</p><p>compreensão e a produção da linguagem.</p><p>A linguística, como estuda o sistema geral do código linguístico e a organização dos</p><p>elementos desse sistema, auxilia a Psicologia com essa estrutura.</p><p>48</p><p>CAPÍTULO 5 • A PSICOLInguÍStICA: COnCEItO, OBJEtO, SuRgIMEntO E EvOLuçãO tEÓRICO-MEtODOLÓgICA</p><p>A Psicolinguística, então, procura entender os processos e a estrutura dos elementos que se</p><p>envolvem na utilização de uma língua. Ela se interessa pelo conhecimento e a capacidade</p><p>que um indivíduo precisa ter para aprender uma língua e para saber usá-la.</p><p>Para Godoy (2014, p. 14), Psicolinguística é a “ciência que integra várias disciplinas que</p><p>estudam os mecanismos e processos da atividade verbal humana”.</p><p>Tenta, desse modo, caracterizar o que um indivíduo precisa saber a respeito de uma língua</p><p>para ter a capacidade de utilizá-la. Assim, os processos e estruturas subjacentes ao ato de</p><p>falar e de entender uma língua é o que interessa a essa disciplina. Ela pretende explicar o uso</p><p>concreto da língua, ou seja, o desempenho linguístico.</p><p>Ela intenta explicar os processos cognitivos que criam a possibilidade de o indivíduo</p><p>compreender e produzir linguagem.</p><p>De fato, de modo geral, é o estudo das relações existentes entre mente e linguagem. Tem,</p><p>assim, o objetivo de estudar quais os processos mentais que se envolvem na aquisição da</p><p>linguagem, assim como na sua produção e compreensão.</p><p>5.2 Aquisição da linguagem para a Psicolinguística</p><p>Por meio de estudos comparativos entre as línguas, foi constatado que algumas</p><p>regularidades são encontradas no processo de aquisição da linguagem em qualquer língua</p><p>natural, seguindo, qualquer criança, para essa aquisição, as mesmas etapas.</p><p>O que é uma língua natural?</p><p>É um idioma, uma língua que se desenvolve naturalmente na vida do ser humano para a sua</p><p>comunicação, sem que seja programado o seu aprendizado.</p><p>Segundo Name (2015, p. 73), a Psicolinguística, quando se preocupa em estudar a aquisição</p><p>da linguagem, tenta responder a questionamentos como estes:</p><p>Quando a aquisição de uma língua começa: o que a criança tem de adquirir</p><p>– o vocabulário, as estruturas sintáticas, a prosódia da língua? Como, então,</p><p>ela percebe todas essas características e as apreende? De que maneira ela</p><p>adquire – que habilidades estão disponíveis no seu aparato perceptual,</p><p>cognitivo? Qual é o percurso do desenvolvimento</p><p>linguístico? etc.</p><p>Como a autora comenta, é em decorrência dos estudos da Psicolinguística que se tem</p><p>evidência hoje, por exemplo, que o feto pode perceber “o contorno prosódico dos</p><p>enunciados produzidos pela mãe, e memorizá-los” (Name, 2015, p. 73).</p><p>49</p><p>A PSICOLInguÍStICA: COnCEItO, OBJEtO, SuRgIMEntO E EvOLuçãO tEÓRICO-MEtODOLÓgICA • CAPÍTULO 5</p><p>Podemos dizer que tudo que tem relação com a comunicação humana feita por meio</p><p>da língua interessa às análises da Psicolinguística. Ela também se interessa por estudar</p><p>estruturas psicológicas que dão capacidade ao homem de entender palavras, textos etc.</p><p>A Psicolinguística, assim, procura estudar a conexão entre mente e linguagem,</p><p>interessando-se pela produção e a compreensão da linguagem do ser humano. Ela</p><p>procura entender o que se processa na mente do homem quando ele usa a linguagem,</p><p>falando e ouvindo.</p><p>5.3 Procedimentos metodológicos</p><p>Como metodologia para o seu estudo, a Psicolinguística utiliza coleta de fatos linguísticos,</p><p>na tentativa de interpretá-los. Desse modo, só conhece a competência linguística de uma</p><p>pessoa observando o seu uso linguístico.</p><p>Segundo Godoy (2014), são utilizados, pela Psicolinguística, três métodos de pesquisa:</p><p>Quadro 1. Métodos da Psicolinguística.</p><p>Método</p><p>Observacional</p><p>» Por esse método, é feita a observação do comportamento linguístico em variadas atividades verbais de</p><p>compreensão e produção da fala em situações linguísticas contextualizadas.</p><p>» O pesquisador grava conversas sem avisar aos participantes, mas os seus nomes não são divulgados.</p><p>Método</p><p>Experimental</p><p>» Por esse método, elabora-se uma hipótese sobre um fenômeno linguístico, fazendo-se deduções e</p><p>previsões na prática.</p><p>» Depois, essas hipóteses são testadas, experimentadas para provar ou negar “a realidade empírica ou</p><p>validade explicativa da hipótese”.</p><p>Simulação</p><p>Cognitiva</p><p>» Por esse método, a Psicolinguística supõe que se possa descrever as funções da linguagem como se elas</p><p>fossem um programa computacional, como representações simbólicas e regras computacionais que se</p><p>aplicam aos símbolos.</p><p>» Com esse método, os estudiosos podem desenvolver simulações de compreensão e produção linguística.</p><p>Fonte: elaborado pela autora a partir de godoy (2014).</p><p>5.4 As fases da Psicolinguística</p><p>As mudanças no desenvolvimento de uma ciência são muito comuns, pois os estudos</p><p>contínuos alteram, aperfeiçoam e, às vezes, ampliam os seus entendimentos e as suas</p><p>práticas.</p><p>A Psicolinguística, assim como as outras áreas do conhecimento, passa por transformações.</p><p>De acordo com Godoy (2014), podemos observar quatro principais fases por que passou</p><p>durante o seu desenvolvimento.</p><p>Sobre essa questão das fases de desenvolvimento da Psicolinguística, vejamos, agora, a</p><p>quadro a seguir:</p><p>50</p><p>CAPÍTULO 5 • A PSICOLInguÍStICA: COnCEItO, OBJEtO, SuRgIMEntO E EvOLuçãO tEÓRICO-MEtODOLÓgICA</p><p>Quadro 2. Desenvolvimento da Psicolinguística.</p><p>Período da</p><p>Formação</p><p>O modelo mecanicista emprestado da teoria da Informação (Schannon; Weaver, 1949), com</p><p>noções como fonte, transmissor, canal, receptor, foi amplamente usado pelas pesquisas da década</p><p>de 1950, com fortes influências da psicologia behaviorista (comportamental), da linguagem e</p><p>linguística estruturalista.</p><p>Período</p><p>linguístico</p><p>Com predomínio da influência da gramática gerativa de Noam Chomsky, as regras de geração de</p><p>sentenças dessa gramática – com status de modelo descritivo da linguagem – eram entendidas</p><p>também como um modelo funcional que pode ser verificado pela experimentação psicológica. A</p><p>busca de confirmação desse modelo alavancou os estudos da aquisição da linguagem, abrindo,</p><p>assim, um novo campo de pesquisa.</p><p>Período</p><p>Cognitivo</p><p>É caracterizado pelas críticas das abordagens anteriores, pela forte atenção à semântica e pelo</p><p>estudo de falantes reais em contextos também reais, sem a formação de teorias altamente</p><p>formalizadas (ocorre uma ampliação da Psicolinguística com base em contribuições de</p><p>psicólogos e filósofos da linguagem).</p><p>Período Atual trata-se do desenvolvimento da Psicolinguística como ciência interdisciplinar que envolve várias</p><p>tendências teóricas – a questão da realidade psicológica mantém-se em lugar de destaque na</p><p>teoria psicolinguística, que busca pesquisar aspectos como a natureza do conhecimento e a</p><p>forma como as representações mentais estruturam e se articulam com esse conhecimento.</p><p>Fonte: elaborado pela autora a partir de godoy (2014).</p><p>Segundo Godoy (2014), a Psicolinguística atual mantém inter-relações, entre outras, com</p><p>áreas como a Linguística, a Psicologia Cognitiva, a Pragmática e com o campo da inteligência</p><p>artificial devido aos diversificados assuntos de que trata. Alguns desses assuntos são</p><p>apresentados pela autora (2014, p. 20):</p><p>» Diferenças de percepção e compreensão da fala oral e da escrita.</p><p>» O papel do contexto no processamento da fala.</p><p>» Os processos de obtenção dos vários tipos de conhecimento.</p><p>» Os níveis de representação do discurso na memória.</p><p>» A construção dos modelos mentais do conteúdo textual.</p><p>» O processamento do discurso.</p><p>» A aquisição da linguagem e das línguas particulares por crianças e adultos.</p><p>» A produção da fala, considerando-se os diferentes níveis de sua geração.</p><p>» Os problemas neuropsicológicos da linguagem.</p><p>Vimos até agora:</p><p>» A Psicolinguística é uma ciência que surgiu no meio do século passado a partir da</p><p>comunicação entre a Psicologia e a Linguística no que dizia respeito à linguagem;</p><p>» O objeto de estudo da Psicolinguística é a linguagem verbal;</p><p>» Tenta explicar os processos mentais e cognitivos que fazem o homem adquirir, compreender</p><p>e produzir linguagem;</p><p>51</p><p>A PSICOLInguÍStICA: COnCEItO, OBJEtO, SuRgIMEntO E EvOLuçãO tEÓRICO-MEtODOLÓgICA • CAPÍTULO 5</p><p>» Inicialmente, apoia-se nos pressupostos do behaviorismo, sendo, depois, influenciada pelos</p><p>preceitos gerativistas de Chomsky. Mais tarde sofre influência de outros estudos, dando, por</p><p>exemplo, maior importância à semântica e à pragmática;</p><p>» Como toda ciência, passa por fases de desenvolvimento que alteram a sua forma de</p><p>pesquisar e de perceber a linguagem verbal.</p><p>52</p><p>Figura 16. Linguagem.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/indian-female-therapist-training-kid-hearing-2184679429.</p><p>Introdução</p><p>Nesta aula serão apresentados os diversos entendimentos sobre cognição, ou seja, as diversas</p><p>visões sobre como o homem conhece, adquire conhecimento, inclusive o conhecimento</p><p>linguístico.</p><p>Para isso, serão abordadas visões distintas que se amparam em princípios filosóficos e</p><p>teóricos para apresentar a sua concepção a respeito de cognição.</p><p>Serão, então, apresentados os paradigmas da hipótese cognitivista (simbólica), do</p><p>conexionismo e do atuacionismo, colocando-se os princípios e, às vezes, as deficiências</p><p>nas concepções dessas visões expostas.</p><p>Objetivos</p><p>» Perceber que entendemos a cognição e os processos cognitivos a partir de um</p><p>pressuposto teórico filosófico.</p><p>» Saber identificar as relações e as diferenças entre algumas visões sobre a cognição</p><p>humana, relacionando-as à linguagem.</p><p>6CAPÍTULO</p><p>LInguAgEM E COgnIçãO</p><p>53</p><p>LInguAgEM E COgnIçãO • CAPÍTULO 6</p><p>6.1 visão simbólica, conexionista, atuacionista</p><p>Para entendermos a relação entre linguística e cognição, inicialmente, teremos de entender</p><p>o que seja a própria cognição.</p><p>Segundo Pelosi (2014), a própria definição do que seja cognição não apresenta apenas</p><p>uma resposta. Isso irá depender de conceitos e de posicionamentos teóricos e filosóficos</p><p>que explicam a natureza da mente humana e de como o homem faz para conhecer o</p><p>mundo. Assim, temos visões diferentes sobre o que é, de fato, cognição.</p><p>Pelosi (2014, p. 8) apresenta três tentativas de definições a partir de três paradigmas que</p><p>diz haver: o simbolismo, o conexionismo e o atuacionismo (inatismo). Desse modo, ela</p><p>coloca a visão simbólica, a visão conexionista e a visão atuacionista, pois, para a autora,</p><p>tais paradigmas “buscam explicar a capacidade humana de construir ou de fazer emergir</p><p>conhecimento significativo</p><p>adequado às mais diversas situações com as quais nos</p><p>confrontamos [...]”.</p><p>Falaremos um pouco sobre esses três paradigmas apresentados pela estudiosa.</p><p>6.1.1 visão simbólica</p><p>Esse é um paradigma que se destacou no campo das ciências cognitivas a partir da década</p><p>de 1950. Ele influenciou vários estudos sobre a linguagem.</p><p>É a visão conhecida como hipótese cognitivista e, segundo Pelosi (2014), tem como base a</p><p>filosofia dualista de Descartes que acreditava no homem dotado de corpo de mente e na</p><p>superioridade desta sobre o corpo, sendo ele apenas uma ideia da mente.</p><p>Essa filosofia cartesiana deu origem a uma tradição em que se entendia a mente como a</p><p>parte racional, imaterial, pensante e o corpo como físico, irracional, funcionando somente</p><p>como uma ponte entre a mente e o mundo.</p><p>Essa filosofia dualista influenciou as dicotomias sobre a linguagem apresentadas pelo</p><p>Estruturalismo. Efetivou influência, igualmente, sobre o gerativismo de Chomsky, quando</p><p>este, por exemplo, a partir de uma explicação racional, distingue o homem dos outros</p><p>animais justamente pela capacidade da linguagem. Assim também Chomsky utiliza a</p><p>dualidade apresentada por Descartes, quando trata de estrutura profunda e estrutura</p><p>superficial, de competência e desempenho.</p><p>Estas divisões, à semelhança da tese de Descartes, traduzem uma divisão</p><p>entre mente e corpo no exercício das capacidades linguísticas, restringindo-</p><p>se as questões presas à realização linguística a um mero reflexo externo de</p><p>representações abstratas de caráter idealizado. (Pelosi, 2014, p. 16-17).</p><p>54</p><p>CAPÍTULO 6 • LInguAgEM E COgnIçãO</p><p>Chomsky também entendia a linguagem humana apartada de outras faculdades cognitivas</p><p>do ser humano e como representação mental de um plano interno em manifestações</p><p>externas:</p><p>A linguagem seria uma faculdade autônoma, distinta das demais habilidades</p><p>cognitivas. Sob essa perspectiva, Chomsky vê a suposta faculdade da</p><p>linguagem como uma representação mental (língua interna) subjacente à</p><p>manifestação de línguas naturais que a espelhariam. (Pelosi, 2014, p. 16).</p><p>A ciência cognitivista seguiu o raciocínio da filosofia de Descartes e, a partir dos avanços</p><p>na tecnologia após os anos 1950, relacionou a mente humana ao computador. Conforme</p><p>Pelosi (2014, p. 9), é disso que, entre outras consequências, “decorre a ideia de que a</p><p>cognição humana nada mais é do que resultado de computações simbólicas determinadas</p><p>por regras”</p><p>Essa visão clássica de cognição humana entende, então, a inteligência do homem com uma</p><p>“computação de representações simbólicas”. Assim, por esse aspecto, a mente representaria,</p><p>internamente, o mundo. Essa representação não é exatamente o mundo ou a realidade, mas</p><p>uma representação interna dessa realidade externa.</p><p>Como coloca Pelosi (2014), o indivíduo cognoscente teria, desse modo, uma mente imaterial</p><p>com a responsabilidade de realizar a representação simbólica da realidade, do mundo</p><p>externo. Essa representação passou a ser conceito-base da visão simbólica de cognição.</p><p>Conhecer e ter um comportamento inteligente dependeria, então, da habilidade de realizar</p><p>a representação, ou seja, de representar como significa o mundo por meio dos símbolos.</p><p>Contudo, essa representação não é o mundo de fato. Nessa visão, parece o ser cognoscente</p><p>estar dissociado do seu mundo exterior.</p><p>Para a autora, o grande problema dessa concepção seria a tentativa de assemelhar a</p><p>inteligência e intencionalidade da máquina à da mente humana, porque a mente humana</p><p>vai além das relações entre sintaxe e semântica existentes na computação. Confirmamos</p><p>isso nas suas palavras:</p><p>Por exemplo, nas línguas naturais a sintaxe não espelha a semântica à</p><p>moda como acontece num programa computacional. Nesse respeito, basta</p><p>lembrarmo-nos das dificuldades enfrentadas pela teoria gerativa padrão</p><p>lançada em meados dos anos 50, por Chomsky. A ênfase na sintaxe como</p><p>componente central da sua gramática gerativo transformacional trouxe</p><p>sérias limitações à proposta gerativista, visto que a evidência reunida a</p><p>partir de experimentos psicolinguísticos consistentemente indicou que,</p><p>na compreensão e no processamento de sentenças, as pessoas antes de se</p><p>55</p><p>LInguAgEM E COgnIçãO • CAPÍTULO 6</p><p>limitarem estritamente a aspectos sintáticos, como propunha Chomsky,</p><p>faziam uso de fatores de ordem semântica, intencionais (crenças, propósitos</p><p>comunicativos, pressupostos) e pragmático-discursivos. (Pelosi, 2014, p. 11)</p><p>Pensando assim, podemos dizer:</p><p>Figura 17. Programa computacional x Linguística do indivíduo.</p><p>Fonte: elaborado pela autora.</p><p>Nessa visão simbólica tradicional da cognição, a mente se dividiria em módulos, de forma</p><p>linear e sequencial, obtendo os processamentos, dessa forma, em módulos específicos</p><p>responsáveis por codificar e decodificar as mensagens separadamente. Cada um, assim,</p><p>sendo responsável, por exemplo, pala fonética, pela sintaxe, pela semântica.</p><p>Essa visão modular tem sido questionada por outros estudos da Neurociência que têm</p><p>evidenciado a “interação dinâmica de outros subsistemas neuronais não exclusivos da</p><p>linguagem, na emergência do conhecimento linguístico”. (Pelosi, 2014, p. 12).</p><p>6.1.2 visão conexionista</p><p>A visão conexionista sobre a aquisição do conhecimento é contemporânea à visão</p><p>simbolista. Contudo, só foi dada a ela a devida atenção nos anos 1980.</p><p>Essa visão sobre a cognição não se desvencilha totalmente das proposições cartesianas.</p><p>Segundo ela, o ser humano também é entendido na dicotomia apresentada por Descartes –</p><p>dotado de mente e corpo.</p><p>Contudo, o que é enfatizado pelo conexionismo é o cérebro que, para essa visão sobre a</p><p>cognição, é o responsável principal pela aprendizagem. Assim, o local onde se processa o</p><p>aprendizado não é na mente e, sim, no cérebro, o órgão, portanto, fisiológico.</p><p>Para explicar como se dá o conhecimento, como coloca Pelosi (2014, p. 13), para esse</p><p>paradigma conexionista, “A ênfase é na busca de explicações quanto ao que o cérebro</p><p>(...) faz ao se deparar com dados de entrada (input) de natureza externa ou interna ao</p><p>organismo”.</p><p>56</p><p>CAPÍTULO 6 • LInguAgEM E COgnIçãO</p><p>Continuando, a autora diz que, segundo essa visão,</p><p>a aprendizagem é, portanto, explicada com base na estrutura eletroquímica</p><p>das conexões estabelecidas entre um sem-número de neurônios que captam</p><p>o conhecimento, não em forma de símbolos prontos, como um todo, mas de</p><p>traços disseminados e engramados nesses neurônios, tridimensionalmente</p><p>conectados. (Pelosi, 2014, p. 13).</p><p>Pensando de forma diferente do paradigma cartesiano-simbólico, para o qual o</p><p>processamento se realiza em módulos de forma linear e sequencial (Pelosi, 2014, p. 14),</p><p>no conexionismo, o processamento das unidades de entrada, externas</p><p>ou internas ao sistema, se dá simultaneamente e em muitas direções.</p><p>São muitas as unidades de entrada e estas interagem com inúmeros</p><p>componentes internos (nodos/neurônios) em milhares de direções.</p><p>Essa atividade dinâmica que caracteriza o modo de funcionamento do</p><p>cérebro tem sido chamada de processamento distribuído paralelo, ou</p><p>processamento em distribuição paralela (PDP).</p><p>Algumas vantagens da visão conexionista sobre a visão simbólica (PELOSI, 2014, p. 14):</p><p>Figura 18. Modelos Conexionistas.</p><p>Fonte: elaborado pela autora a partir de Pelosi (2014, p. 14).</p><p>A Neurociência é a ciência que estuda o sistema nervoso. Ela, tradicionalmente, é um ramo da</p><p>Biologia. Contudo, é de tanta relevância que trabalha interdisciplinarmente com outras áreas</p><p>científicas, como é o caso da Linguística e da Psicologia, por exemplo.</p><p>57</p><p>LInguAgEM E COgnIçãO • CAPÍTULO 6</p><p>A visão conexionista deixará de lado, ao menos em sua vertente mais radical, a ideia da</p><p>representação simbólica do mundo, isto é, da representação interna do conhecimento,</p><p>feita pela mente e, segundo a qual os conhecimentos linguísticos estariam estocados na</p><p>memória do ser humano, em compartimentos separados – os chamados módulos nos</p><p>diversos níveis da língua.</p><p>A respeito da concepção do conexionismo sobre o conceito</p><p>em nosso cérebro, Pelosi cita o</p><p>entendimento de Stefan:</p><p>[...] os conceitos são engramados em redes de células nervosas (redes</p><p>neuroniais) de forma fragmentada, distribuída e difusa no cérebro, e não de</p><p>forma inteira, como um todo e em um lugar fixo, como em um bloco ou um</p><p>módulo. Assim, os conceitos estão distribuídos nos neurônios, sendo que um</p><p>só neurônio não possui todas as informações que compõem um conceito, e</p><p>sim apenas traços dessas informações. (Stefan apud Pelosi, 2000, p. 14).</p><p>Portanto, a autora acrescenta que o significado passa, nesse entendimento, a ser uma função</p><p>global do sistema cognitivo e não mais aquele armazenado como símbolo específico.</p><p>Conforme essa visão, diversas conformações se realizam a partir de uma dinâmica entre</p><p>“inúmeras unidades que se organizam em redes mutáveis, dependendo da interação entre</p><p>dados externos e disposições internas do indivíduo.” (Stefan, 2014, p. 15). São as redes</p><p>neuronais mudando continuamente.</p><p>Como conclui a estudiosa, essa dinâmica dos neurônios faz do cérebro um órgão</p><p>importante para explicação da cognição e, então, para explicação de diversos tipos</p><p>de comportamentos cognitivos, incluindo nesses comportamentos os relacionados à</p><p>linguagem.</p><p>Zimmer (2014, p. 158), sobre a visão conexionista a respeito da aquisição da linguagem,</p><p>comenta:</p><p>A visão emergentista adotada pelo conexionismo substitui o confronto</p><p>entre visões radicais da aquisição da linguagem, postulando que a</p><p>linguagem é fruto do entrelaçamento de diversos tipos de processamentos</p><p>de informações advindas de vários sistemas – auditivo, motor, visual,</p><p>articulatório – e em vários níveis – do genético ao neuronial. Daí a</p><p>afirmação de que o conhecimento linguístico não é inato, mas emergente.</p><p>6.1.3 Visão atuacionista ou corporificada</p><p>Essa visão que vem sendo explorada a partir da década de 1980, tem sido bastante utilizada</p><p>pelos estudos da linguagem, como a Linguística.</p><p>58</p><p>CAPÍTULO 6 • LInguAgEM E COgnIçãO</p><p>Segundo sua concepção, a cognição é a atuação, é ação realizada, advinda das</p><p>“possibilidades neurobiológicas dos organismos em constante interação com seus</p><p>ambientes ecológicos e socioculturais”. (Pelosi, 2014, p. 17).</p><p>A cognição, para esse paradigma, é atuação do indivíduo sobre o ambiente que o cerca,</p><p>sendo esse desempenho propiciado pela estrutura do próprio indivíduo e também do</p><p>ambiente.</p><p>A significação que o indivíduo faz e a atuação de forma cognitiva advêm da sua ação e</p><p>percepção em um mundo do qual faz parte integrante.</p><p>Sob esse ponto de vista, o homem não é somente mente e corpo. Ele é cérebro, mente e</p><p>corpo em constante interação com o seu entorno, com o mundo. O homem e o ambiente</p><p>externo como parte integrante um do outro, em constante e dinâmica interação e, portanto,</p><p>com modificações efetivas de um sobre o outro.</p><p>Qualquer atuação cognitiva do homem, segundo essa concepção, tem o envolvimento de</p><p>mente, do corpo e do mundo. As representações mentais efetivadas são também o mundo e</p><p>advêm do corpo.</p><p>Sob essa perspectiva compreendeu-se, também, que não somente o homem é capaz de</p><p>representar o mundo e de adquirir conhecimentos, mas, igualmente, os outros seres vivos,</p><p>como coloca Pelosi (2014, p. 19):</p><p>A cognição passa assim a ser vista não como uma característica própria de</p><p>uma mente transcendental, mas como um continuum que estabelece graus</p><p>de atuações cognitivas às diferentes espécies à medida que os seres vivos se</p><p>adaptam aos mundos (i.e. nichos) nos quais convivem.</p><p>Nessa visão, a cognição deixa de ser uma característica unicamente</p><p>humana, e o conceito de representação é redimensionado para abranger o</p><p>conhecimento emergente nas várias espécies, a partir de suas percepções e</p><p>ações situadas. Somos levados, assim, a um conceito biológico e ecológico</p><p>de cognição.</p><p>A hipótese de alguns estudos relacionados a esse paradigma é a de que a linguagem não</p><p>pode, assim, ser entendida com aquelas divisões em módulos, mencionadas por outras</p><p>visões. Ao contrário, é um sistema de cognição que usa as mesmas estruturas usadas pelo</p><p>indivíduo para a percepção e a ação.</p><p>Desde a década de 1990, os estudos vêm apontando grande relação entre a linguagem e</p><p>a cognição. E dizem não se poder comprovar o entendimento de uma sintaxe autônoma</p><p>ou da existência daqueles módulos no que diz respeito ao processamento da linguagem.</p><p>(Pelosi, 2014).</p><p>59</p><p>LInguAgEM E COgnIçãO • CAPÍTULO 6</p><p>Assim, como se vê, existem visões distintas sobre a linguagem e cognição e essas visões vão</p><p>sofrendo modificações, conforme novos estudos vão sendo implementados, como é o caso</p><p>dos achados da Neurolinguística.</p><p>A respeito do entendimento de outras visões e da desconstrução de entendimentos como a</p><p>existência de módulos específicos e de uma Gramática Universal, Zimmer (2014, p. 157)</p><p>coloca:</p><p>De fato, antinomias cartesianas – como a dicotomia competência/</p><p>desempenho, a existência autônoma de uma Gramática Universal, de um</p><p>órgão da mente modularmente distinto de outros sistemas cognitivos, e um</p><p>dispositivo inato de aquisição da linguagem (Chomsky, 1975; Fodor, 1983)</p><p>– vêm sendo superadas com as descobertas propiciadas por novas técnicas</p><p>avançadas de imageamento cerebral [...]. Os achados da Neurolinguística vêm</p><p>corroborando a ideia de que a linguagem emerge de um sistema composto</p><p>por diferentes sistemas cerebrais interconectados.</p><p>Quadro 3. As três visões sobre a cognição.</p><p>Visão simbólica » Entende o homem como dotado de corpo e mente, sendo esta superior ao corpo que</p><p>apenas é a sua ideia;</p><p>» A mente é racional, imaterial é pensante; dividida em módulos linear e sequencialmente,</p><p>sendo cada módulo responsável por um conceito;</p><p>» O corpo é físico, irracional e a ponte entre a mente e o mundo;</p><p>» Há a representação do mundo por meio de símbolos;</p><p>» Há a dissociação entre o ser humano e o mundo.</p><p>Visão conexionista » Entende o homem como dotado de mente e corpo, mas dando também importância ao</p><p>cérebro, que seria o maior responsável pela aprendizagem;</p><p>» O aprendizado é processado pelo cérebro e não pela mente;</p><p>» não entende a existência de módulos apresentada pelo paradigma simbólico;</p><p>» Há uma atividade dinâmica do funcionamento do cérebro;</p><p>» não leva em consideração, na sua vertente mais radical, a representação simbólica do</p><p>mundo;</p><p>» O significado é função global do sistema cognitivo e não o armazenado em símbolos</p><p>específicos.</p><p>Visão atuacionista » Entende o homem como dotado de cérebro, mente e corpo em total interação com o</p><p>mundo;</p><p>» A cognição é ação efetiva, é a atuação do indivíduo sobre o mundo de forma interativa</p><p>com ele;</p><p>» A ação e percepção do mundo ao qual pertence é que conduzem o homem a significar e a</p><p>atuar de forma cognitiva;</p><p>» As representações mentais fazem parte do mundo e vêm do corpo.</p><p>Fonte: elaborado pela autora.</p><p>Sobre a cognição em relação ao desenvolvimento e processamento da linguagem, Zimmer</p><p>(2014, p. 159), fazendo referência a estudos de outros pesquisadores, aponta o entendimento</p><p>da visão conexionista e da visão funcionalista:</p><p>60</p><p>CAPÍTULO 6 • LInguAgEM E COgnIçãO</p><p>Nos aspectos relativos ao desenvolvimento e ao processamento da linguagem,</p><p>os pressupostos conexionistas estão em consonância com pressupostos</p><p>da abordagem funcionalista ao estudo da aquisição da linguagem.. [...] O</p><p>primeiro é o de que a linguagem faz parte de um aparato cognitivo complexo,</p><p>não sendo considerada como um mecanismo ou módulo independente de</p><p>outras funções cognitivas. O segundo é aquele relativo ao input linguístico,</p><p>que é tomado como sendo extremamente rico e complexo em informações</p><p>que podem ser organizadas pelo ser humano, em forma de uma gramática</p><p>estruturada de natureza estocástica.</p><p>6.2. Linguagem humana: questão biológica – cérebro</p><p>Segundo Godoy (2014, p. 26), a linguagem humana “é uma faculdade psicológica que se</p><p>sustenta em suporte biológico!”. Para que o homem realize a atividade verbal, ele depende</p><p>de vários sistemas neurofisiológicos, principalmente, do sistema nervoso central formado,</p><p>inclusive, pelo</p><p>cérebro. Juntamente como o sistema nervoso periférico e com outros</p><p>sistemas, o sistema nervoso central é responsável pela percepção e produção da fala.</p><p>A autora aponta o cérebro como o principal responsável pela comunicação verbal do</p><p>homem. Segundo ela, ele é importante na produção, recepção e processamento da</p><p>linguagem humana.</p><p>Rosa (2010) diz que a relação entre linguagem e cérebro não é uma descoberta do século</p><p>XX. Ela comenta que já era dada importância ao cérebro na pré-história – é o que aponta a</p><p>existência de crânios pré-históricos, contendo orifícios feitos para uma cirurgia.</p><p>Na Grécia e na Roma antigas também já era levada em consideração a relação entre cérebro</p><p>e linguagem quando se observavam pessoas que haviam tido alguma lesão no cérebro e</p><p>apresentavam problemas linguísticos.</p><p>Por meio de pesquisas científicas, conseguiu-se constatar que não é apenas uma</p><p>área específica do cérebro responsável pela linguagem do homem. A linguagem é de</p><p>responsabilidade de áreas distribuídas tanto no hemisfério esquerdo quanto no hemisfério</p><p>direito do cérebro.</p><p>Na fase adulta, é o hemisfério esquerdo do cérebro o principal responsável pelas funções</p><p>da linguagem, mas o hemisfério direito também tem participação nessas funções, podendo</p><p>até assumir mais funções no caso de algum traumatismo, por exemplo. Contudo, conforme</p><p>Godoy (2014), o hemisfério esquerdo desde muito cedo é mais preparado para as funções</p><p>linguísticas.</p><p>A seguir, podemos observar a relação, apresentada por Godoy (2014, p. 26), entre esses</p><p>hemisférios que compõem o cérebro e alguns níveis da linguagem humana:</p><p>61</p><p>LInguAgEM E COgnIçãO • CAPÍTULO 6</p><p>tabela 3. na Prosódia.</p><p>Função da linguagem Hemisfério esquerdo Hemisfério direito</p><p>Ritmo Domina –</p><p>Entonação Participa Participa</p><p>timbre Participa Participa</p><p>Fonte: godoy (2014, p. 26).</p><p>tabela 4. na Semântica.</p><p>Função da linguagem Hemisfério esquerdo Hemisfério direito</p><p>Significado verbal Domina –</p><p>Formação de conceitos Participa Participa</p><p>Imagens visuais - Domina</p><p>Fonte: godoy (2014, p. 26).</p><p>tabela 5. na Sintaxe.</p><p>Função da linguagem Hemisfério esquerdo Hemisfério direito</p><p>Sequenciação Domina –</p><p>Relação entre os elementos Domina –</p><p>Fonte: godoy (2014, p. 26).</p><p>6.3. Relação pensamento, mente e linguagem</p><p>Qual seria a relação entre o pensamento e a palavra? Nem tudo o que pensamos é</p><p>representado por palavras. Existem outros símbolos para representar o pensamento.</p><p>Contudo, as palavras costumam representar grande parte dele. Os símbolos mais usados</p><p>são as palavras.</p><p>Figura 19. Pensamento e Linguagem.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/man-mood-behavior-changes-swings-collage-212551663.</p><p>62</p><p>CAPÍTULO 6 • LInguAgEM E COgnIçãO</p><p>O nosso pensamento, normalmente, realiza-se por meio dessas palavras e elas simbolizam os</p><p>fenômenos que se processam na mente.</p><p>Nós pensamos por meio de símbolos e estes constituem conceitos, assim entendem</p><p>estudiosos como Sapir. (Silva, 2016).</p><p>Segundo Silva (2016), na maior parte de todas as civilizações é dado um grande valor a essa</p><p>verbalização como símbolo dos fenômenos. Por conta disso, há uma grande identificação</p><p>entre pensamento e linguagem.</p><p>Conforme o autor, o reflexo da estrutura do pensamento sobre a estrutura da linguagem</p><p>e vice-versa parece bastante claro, principalmente, depois que se entendeu o conceito de</p><p>estrutura profunda.</p><p>Apesar disso, mesmo sabendo que existe uma relação profunda entre pensamento e</p><p>linguagem, já se sabe também que essas relações não são de causa e efeito.</p><p>A linguagem, então, não é a causa do pensamento, mas, como dizem os estudiosos, é o</p><p>instrumento e a base importante para o desenvolvimento progressivo deste. Contudo, ele</p><p>existe sem a linguagem.</p><p>O pensamento não é impossível sem a linguagem. Como, então, poderíamos, se fosse o</p><p>contrário, explicar aqueles pensamentos sem respectivas palavras que possam representá-los,</p><p>aqueles para as quais parece não existir palavras para essa representação?</p><p>Embora isso seja verdade, podemos também dizer que a maioria dos pensamentos são</p><p>envolvidos por elas, são envolvidos pela linguagem verbal. Assim, pensamento e linguagem</p><p>não são a mesma coisa, porém apresentam muitas relações como se vê.</p><p>6.4 Competência e desempenho – relação Psicologia e</p><p>Linguística</p><p>No gerativismo desenvolvido por Chomsky, a ênfase é dada à competência e ao</p><p>desempenho linguístico do falante.</p><p>Em estudos mais recentes, como o da Pragmática, o que é importante é o falante em</p><p>atividade, em ação linguística e na interação comunicativa.</p><p>Competência, no que diz respeito à linguagem, é a capacidade de um indivíduo falar uma</p><p>língua. É o que o falante armazena em sua mente sobre a língua durante a sua vida. Tal</p><p>competência seria de interesse da Linguística.</p><p>63</p><p>LInguAgEM E COgnIçãO • CAPÍTULO 6</p><p>Já o desempenho é a produção linguística real feita pelo indivíduo usuário da língua.</p><p>É a performance do falante, durante a produção da fala. Ele depende e é resultado da</p><p>competência linguística e de fatores como o contexto social da fala. O desempenho seria de</p><p>interesse da Psicologia.</p><p>A língua é um conjunto de regras que um falante domina. Esse sistema linguístico fica</p><p>subjacente à atividade verbal real. Não é exatamente essa atividade. O comportamento</p><p>verbal real do falante – o desempenho – depende desse conjunto de regras, da competência</p><p>do falante advinda disso.</p><p>Quando um indivíduo desempenha a atividade linguística, ele está manifestando</p><p>indiretamente “as regras psicológicas que fazem única a linguagem humana” (Silva, 2016).</p><p>Ter uma competência linguística é dominar as regras gramaticais de uma língua. Já o</p><p>desempenho linguístico é como o falante usará essas regras.</p><p>A competência e o desempenho linguístico do falante são focados pelo Gerativismo, pois</p><p>é nestes que está o alvo de tal teoria. Sobre isso, Pelosi (2014, p. 6) fala:</p><p>Quando, nos anos 50, a sombra de Skinner ainda predominava</p><p>soberana em Harvard, a invenção inteligente do milênio, o computador,</p><p>iluminava a caixa negra da racionalidade humana e sepultava o mito</p><p>do observacionismo positivista. Mediante um desenho da linguagem,</p><p>como competência e desempenho, ancorado na modelagem de hardware</p><p>e software, cuja transparência permitia, pela primeira vez, avançar</p><p>na cognição humana, Noam Chomsky (...) desfechava o derradeiro</p><p>golpe contra o behaviorismo. Construindo seu objeto, a linguagem</p><p>humana, como propriedade do mundo natural, enraizada na genética</p><p>especializada e única dos seres humanos, Chomsky inseria a Linguística</p><p>no quadro das ciências do cérebro-mente, mais especialmente no âmbito</p><p>da Psicologia cognitiva.</p><p>6.5. O desenvolvimento linguístico</p><p>Conforme Rosa (2010), é muito importante que a criança tenha contato com uma língua</p><p>na fase inicial da vida. Segundo a autora, para que ela desenvolva uma língua materna de</p><p>forma normal, precisa estar exposta a uma língua no início de sua vida. A autora coloca que</p><p>esse período varia de estudioso para estudioso. Uns dizem que o final do período propício</p><p>para isso seria por volta do seis ou sete anos de idade. Outros apontam a puberdade como</p><p>fase final para tal desenvolvimento.</p><p>64</p><p>CAPÍTULO 6 • LInguAgEM E COgnIçãO</p><p>Os estudiosos apontam esse período como importante porque, a partir de estudos sobre</p><p>o cérebro, verificou-se que as atividades linguísticas do indivíduo dependeriam do</p><p>desenvolvimento de especialização do hemisfério esquerdo e que isso estaria findado na</p><p>puberdade.</p><p>De acordo como a autora, “O estágio inicial do cérebro permitiria, potencialmente que,</p><p>ambos os hemisférios assumissem a linguagem, mas gradualmente ela se especializaria</p><p>no esquerdo.” (ROSA, 2010, p. 90). Por outro lado, a autora aponta que outros estudiosos</p><p>entendem que o desenvolvimento-especialização do hemisfério esquerdo do cérebro para a</p><p>linguagem já ocorre no primeiro mês de vida da criança.</p><p>O período apontado como propício à aquisição da língua materna, segundo a autora,</p><p>chamado de “período crítico”, tem sido alvo de controversas, pois, pensando</p><p>assim, após</p><p>tal período o indivíduo não conseguiria mais desenvolver a linguagem. Contudo, sabe-se</p><p>que isso não é verdade. Após essa fase, o ser humano ainda pode desenvolver a linguagem,</p><p>mesmo que seja com muito mais dificuldade. Assim, Rosa (2010) diz que os estudos vêm</p><p>substituindo aquela denominação por “período sensível”.</p><p>6.5.1. Desenvolvimento da linguagem em crianças com</p><p>desenvolvimento normal</p><p>Existe uma relação entre as etapas do desenvolvimento de uma língua e a idade de uma</p><p>criança, independentemente de sua língua materna. Isso quer dizer que qualquer criança</p><p>com o desenvolvimento biológico normalmente tem essa relação.</p><p>Até os 12 meses de idade, a produção da fala é igual em qualquer criança, seja ela de</p><p>qualquer comunidade linguística; assim, elas podem perceber e distinguir unidades</p><p>fonéticas de qualquer língua. Segundo Rosa (2010), somente a partir daí, de um ano, é que</p><p>ela irá acompanhar os padrões prosódicos e fonéticos da língua de sua comunidade.</p><p>A autora aponta cinco etapas na produção da fala da criança. São elas (ROSA, 2010, p. 94):</p><p>» O balbucio canônico.</p><p>» As primeiras palavras.</p><p>» Os enunciados de duas palavras.</p><p>» A fala significativa.</p><p>65</p><p>LInguAgEM E COgnIçãO • CAPÍTULO 6</p><p>Figura 20. Fala da criança.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holding-megaphone-giving-speech-on-1891736974.</p><p>Sobre a hipóteses de que a criança fala imitando um adulto, Rosa (2010, p. 98) apresenta</p><p>alguns fatos que desmentem essa realidade e cuja veracidade é fácil de constatar por</p><p>pesquisas:</p><p>» Todas as crianças seguem as mesmas fases de desenvolvimento da linguagem.</p><p>» Elas não pronunciam frases complexas nos primeiros enunciados.</p><p>» Elas não falam igualmente aos adultos, mesmo quando eles a corrigem.</p><p>» Elas regularizam formas verbais que são irregulares, como fazeu.</p><p>» Elas têm a capacidade de fazer novas combinações de palavras com aquelas que já</p><p>conhecem.</p><p>» A criança constrói frases nunca ouvidas.</p><p>Assim, Rosa (2010, p. 100) não considera as teorias que dizem que imitar os adultos é um</p><p>processo de aprendizagem e de que o reforço positivo conferido pelos adultos também o</p><p>é. Ela acrescenta a esse seu entendimento: “As crianças que vivem num ambiente normal,</p><p>em comunicação com outros indivíduos, falam. Seu preparo biológico encontra no</p><p>ambiente o gatilho para desenvolver-se.”</p><p>6.5.2. A relação fala e escrita</p><p>A fala e a escrita são duas modalidades da língua. São duas formas de se expressar em uma</p><p>mesma língua.</p><p>É fato que o uso da língua falada ocorre em muito mais ocasiões do que o uso da língua</p><p>escrita, apesar de cada vez mais a escrita ser necessária no contexto atual.</p><p>Contudo, apesar de a escrita ser mais privilegiada em muitas circunstâncias, se pararmos</p><p>para refletir, durante um dia inteiro, estabelecemos comunicação, na maior parte das vezes,</p><p>de forma oral.</p><p>66</p><p>CAPÍTULO 6 • LInguAgEM E COgnIçãO</p><p>A oralidade acompanha o homem desde muito tempo. Ela é deveras mais antiga. A escrita,</p><p>muito mais recente do que ela, tem em torno de cinco mil anos somente.</p><p>Está na história da origem da escrita a chamada escrita cuneiforme e os chamados</p><p>hieróglifos usados pelos antigos. Desde essa origem, a escrita evoluiu.</p><p>Devemos aos gregos antigos a invenção da escrita alfabética como a conhecemos. Essa</p><p>invenção foi tão relevante que, segundo Godoy (2014), desde o ocorrido até os dias atuais</p><p>não houve nenhuma inovação significativa na história da escrita.</p><p>Se a fala e a escrita têm origens distantes, por que, então, dizermos que fazem parte de um</p><p>continuum? Godoy (2104, p. 108) explica:</p><p>A fala e a escrita são entendidas como modalidades diferenciadas dentro</p><p>de um mesmo sistema linguístico, como é o caso do sistema da língua</p><p>portuguesa, e podem expressar as mesmas intenções comunicativas.</p><p>Assim, entendemos a modalidade oral e a modalidade escrita como duas facetas de uma</p><p>mesma coisa, de um mesmo sistema linguístico, ambas servindo para comunicar as</p><p>intenções dos indivíduos, ainda que de modo diferente.</p><p>Contudo, segundo Godoy (2014), apesar dessa estrita relação entre as duas vertentes, a</p><p>natureza de cada uma é distinta. Elas são diferentes em relação à condição de produção</p><p>de cada uma. Enquanto a fala acontece em um momento de interação presencial e de</p><p>participação entre os falantes, a escrita ocorre em uma interação a distância.</p><p>Na fala, os falantes podem reformular o querem dizer, no momento em que acontece, com o</p><p>auxílio do interlocutor. Na escrita, isso pode ocorrer em outro momento e somente pode ser</p><p>feito pelo autor do texto e não pelo leitor.</p><p>Na visão de Soares (2016), o processo de ensino e de aprendizagem da língua escrita tem duas</p><p>faces, sendo as duas coexistentes, a saber:</p><p>uma face é a aquisição do sistema de escrita, isto é, o desenvolvimento das</p><p>habilidades de transitar do sistema fonológico para o sistema ortográfico</p><p>(escrever) e deste para aquele (ler); a outra face é a utilização do sistema de</p><p>escrita para a interação social, isto é, o desenvolvimento das habilidades de</p><p>produzir textos. (Soares, 2016, p. 61).</p><p>Em relação fato do “aprender” propriamente dito e do que pretendemos saber sobre isso,</p><p>Soares entende como o querer saber que mecanismos ou processos psicológicos fazem o</p><p>indivíduo aprender algo. Assim ela explica ser:</p><p>67</p><p>LInguAgEM E COgnIçãO • CAPÍTULO 6</p><p>o que e como o ser humano, dadas determinadas condições, apropria-</p><p>se do mundo, de seus objetos, de si mesmo. Vale dizer, queremos</p><p>designar os mecanismos ou processos psicológicos – os procedimentos,</p><p>comportamentos, capacidades e conhecimentos – que nos permitem</p><p>apreender algo. Formulando por meio de perguntas: o que se passa em</p><p>nossas mentes quando, diante de um determinado objeto de conhecimento</p><p>– a linguagem escrita, os fenômenos biológicos ou a organização do espaço –</p><p>dizemos que o aprendemos? que dele nos apropriamos? (Soares, p. 33).</p><p>Essa habilidade à qual a autora se refere, como se vê, é alvo de pesquisas no que diz respeito</p><p>aos processos envolvidos.</p><p>Verificamos que muitas são as teorias e as preocupações dos estudiosos em tentar entender</p><p>de que modo e o que favorece a aquisição da linguagem pelo ser humano.</p><p>Todavia, os estudos não se dedicam somente à aquisição da fala, que é a primeira forma</p><p>de comunicação verbal do ser humano. Eles também se preocupam em tentar explicar de</p><p>que modo o homem adquire a língua escrita e quais são os processos importantes nesse</p><p>aprendizado.</p><p>Magna Soares, citada por Godoy (2014), apresenta algumas abordagens teóricas e</p><p>metodológicas e as mudanças de paradigmas nas últimas décadas. São estes:</p><p>Quadro 4. Alguns paradigmas.</p><p>Paradigma</p><p>Behaviorista</p><p>Dominante entre os anos 1960 e 1970, que concebe a aprendizagem da escrita como</p><p>decorrente de estímulos externos, repetição, criação de hábitos, etc.</p><p>Paradigma</p><p>Cognitivista</p><p>nos anos de 1980 (difundido no Brasil como construtivismo e, posteriormente, como</p><p>socioconstrutivismo).</p><p>Paradigma</p><p>Sociocultural</p><p>Evolução do paradigma cognitivista, a partir dos anos 1990, abarcando as perspectivas de</p><p>letramento.</p><p>Fonte: elaborado pela autora a partir de godoy (2014).</p><p>Conforme Godoy (2014), a transição ocorrida entre a abordagem behaviorista e a</p><p>cognitivista representa uma grande mudança de paradigma. Contudo, da cognitivista para</p><p>a sociocultural, o que temos é uma evolução de uma para a outra, ou seja, o paradigma</p><p>sociocultural não é outra coisa senão um aprimoramento da abordagem cognitivista.</p><p>Essa perspectiva cognitiva mudou, enormemente, a forma de entender “o processo de</p><p>construção da representação da língua escrita pela criança” (GODOY, 2014, p. 111). A partir</p><p>dessa visão, passa-se a perceber o sujeito como um ser ativo que constrói e reconstrói</p><p>interativamente esse sistema de representação escrita, nos usos e nas práticas sociais da</p><p>língua. Assim, nessa perspectiva, quando a criança interage com a língua, ela constrói</p><p>progressivamente o conhecimento.</p><p>68</p><p>CAPÍTULO 6 • LInguAgEM E COgnIçãO</p><p>Sobre como uma criança aprende a linguagem</p><p>escrita, Magda Soares e Batista (2005) dizem</p><p>ser produtivo apoiar-se nos estudos de Emilia Ferreiro e de Ana Teberosky, que têm base nas</p><p>ideias de Jean Piaget sobre a aquisição da escrita.</p><p>Tais ideias, segundo Soares (2005), resumem-se em:</p><p>Quadro 5. Sobre a aquisição da escrita.</p><p>O início não é na escola</p><p>A criança não começa a aprender a escrita apenas quando entra para escola; desde que,</p><p>em seu meio, ela entra em contato com a linguagem escrita, começa seu processo de</p><p>aprendizado.</p><p>Não é uma imitação</p><p>mecânica</p><p>Esse aprendizado não consiste numa simples imitação mecânica da escrita utilizada por</p><p>adultos, mas numa busca de compreender o que é a escrita e como funciona; é por essa</p><p>razão que se diz que se trata de um aprendizado de natureza conceitual.</p><p>Há a análise da escrita,</p><p>nos momentos de</p><p>prática e interação</p><p>na busca de compreensão da escrita, a criança faz perguntas e dá respostas a essas</p><p>perguntas por meio de hipóteses baseadas na análise da linguagem escrita, na</p><p>experimentação de modos de ler e de escrever, no contato ou na intervenção direta de</p><p>adultos.</p><p>São feitas tentativas de</p><p>escritas</p><p>As hipóteses feitas pela criança se manifestam, muitas vezes, em suas tentativas de escrita</p><p>(muitas vezes chamadas de escritas “espontâneas”) e, por isso, não são “erros”, no sentido</p><p>usual do termo, mas, sim, a expressão das respostas ou hipóteses que a criança elabora.</p><p>Construção progressiva</p><p>do conhecimento</p><p>O desenvolvimento das hipóteses envolve construções progressivas, por meio das quais a</p><p>criança amplia seu conhecimento sobre a escrita com base na reelaboração de hipóteses</p><p>anteriores.</p><p>Fonte: Soares, Magda Becker e Batista, Antônio Augusto gomes (2005, p. 34).</p><p>A partir de tais ideias, os autores salientam quais sejam as primeiras hipóteses sobre a escrita,</p><p>elaboradas pela criança que tem contato com ela:</p><p>» A criança foca sua atenção em tentar descobrir a diferença entre desenho e escrita, a</p><p>partir disso, percebe que os sinais gráficos são úteis para ler.</p><p>» Em seguida, procura perceber o que pode ser lido, o que pode ser escrito. Assim,</p><p>constrói dois princípios:</p><p>› O do mínimo de quantidade de letras para que se possa ler algo, ou seja, no</p><p>mínimo, mais de uma letra;</p><p>› E o da variedade de letras, ou seja, para que se possa ler, não pode haver uma</p><p>sequência de letras iguais como AAAA</p><p>» Depois a criança pode focar a atenção na finalidade da escrita, perguntando a</p><p>utilidade, para que serve a escrita. A partir disso, ela passa a ter experiências nas quais</p><p>a escrita é utilizada e infere que ela serve para “dizer alguma coisa”, isto é, que textos</p><p>“dizem algo”, manifestam uma intenção comunicativa. São, portanto, algo que tem</p><p>por função simbolizar ou representar outra coisa e que essa “coisa” é um significado</p><p>lingüístico, em geral, para a criança, um nome. Descobrindo que a escrita representa</p><p>um significado lingüístico, a criança dá, assim, um passo extremamente importante</p><p>para sua alfabetização: ela descobre, na verdade, que a escrita representa uma</p><p>dimensão da linguagem humana. (Soares; Batista, 2005, p. 37).</p><p>69</p><p>LInguAgEM E COgnIçãO • CAPÍTULO 6</p><p>Para Piletti (2012), fundamentando-se também em Ferreiro e Teberosky, a criança não inicia</p><p>o aprendizado da escrita, na escola. Ela já leva para lá um saber anterior que foi adquirido</p><p>socialmente. Assim confirmamos em suas palavras:</p><p>A criança chega à escola portanto um saber prévio, a partir de um processo</p><p>evolutivo e cognitivo. Assim as escritas infantis fora do sistema alfabético,</p><p>consideradas como erros, passam a ser vistas como “escritas verdadeiras”,</p><p>cujas garatujas (rabiscos) são consideradas como indício e prova desse saber</p><p>prévio que possuem. (Piletti, 2012, p. 146).</p><p>O que vimos nesse capítulo?</p><p>» Existem diversas concepções sobre a cognição humana e elas costumam ter bases filosóficas.</p><p>» A visão simbólica sobre cognição é baseada no dualismo racionalista de Descartes entre</p><p>mente e corpo.</p><p>» A filosofia de Descartes influenciou, por exemplo, as dicotomias apresentadas pelo</p><p>Estruturalismo e o gerativismo de Chomsky.</p><p>» Essa visão simbólica entende a cognição como representação simbólica do mundo e entende</p><p>que a mente se divide em compartimentos, sendo cada um responsável por um conceito.</p><p>» A visão conexionista, além de atentar para a dicotomia mente e corpo, dá maior importância</p><p>ao cérebro, segundo a qual é o local onde se processa o aprendizado.</p><p>» Para essa visão, existe uma dinâmica no funcionamento do cérebro e os conceitos estão</p><p>difundidos pelos neurônios, não possuindo, cada neurônio, todas as informações sobre um</p><p>conceito, mas somente traços de informações.</p><p>» A visão atuacionista é a que entende a cognição como a atuação do homem sobre o mundo,</p><p>em constante interligação.</p><p>» Para ela, o homem é provido de mente, corpo e cérebro em frequente interação e cooperação.</p><p>» A linguagem está amplamente ligada ao pensamento. Ela é grande parte dos símbolos que o</p><p>representam.</p><p>» Competência linguística é a capacidade de uma pessoa falar.</p><p>» Desempenho linguístico é a produção linguística propriamente dita. É a realização linguística</p><p>e, para realizar, desempenhar linguisticamente, o indivíduo precisa ter competência.</p><p>» Para o aprendizado, é muito importante que uma criança esteja exposta à língua na fase</p><p>inicial de sua vida.</p><p>» Há uma relação entre a idade que a criança tem e as fases de desenvolvimento de uma língua.</p><p>» A escrita e a fala são um continuum de um mesmo sistema linguístico, apesar de</p><p>apresentarem diferenças.</p><p>» Muitos são os estudos sobre a aquisição da escrita, mas alguns autores se apoiam,</p><p>fortemente, sobre o que teorizaram as estudiosas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky.</p><p>70</p><p>Referências</p><p>ABL. 7º Ciclo de Conferências: “Entre a gramática e a linguística”. Norma linguística e inclusão social. Academia</p><p>Brasileira de Letras, 17 set. de 2012. Disponível em: http://www.academia.org.br/node/20067. Acesso em: 15 de</p><p>ago. 2023.</p><p>ALBERT BANDURA (1) – APRENDIZAGEM SOCIAL | TEORIA SOCIAL COGNITIVA. Didatics, Youtube, 12 de abri de</p><p>2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VsmG4v8FMdw. Acesso: 15 de ago. 2023.</p><p>ANDRADE, Carlos Drummond. Antigamente. In: Quadrante (1962), obra coletiva. Alguma poesia. Disponível em:</p><p>http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond07.htm. Acesso em: 15 de ago. 2023.</p><p>ANDRADE, Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira. Língua: modalidade oral/escrita. Disponível em: https://</p><p>acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40355/1/01d17t04.pdf. Acesso em: 15 de ago. 2023.</p><p>ARAÚJO, Flávia Alves de. Gestão de conflitos: transformando conflitos organizacionais em oportunidades . Rh</p><p>Portal, 25 ago. 2023. 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Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cute-happy-little-preschooler-girl-</p><p>child-1739324999.</p><p>e da ciência linguística.</p><p>» Reconhecer a relação existente entre língua e cultura.</p><p>1.1 Saber linguístico x Ciência linguística</p><p>O processo de aquisição e de uso da linguagem se faz de forma independente da</p><p>escolarização: mesmo quem nunca frequentou a escola faz uso da linguagem para se</p><p>comunicar. Nascemos com a capacidade inata que nos permite adquirir e usar a linguagem</p><p>a partir da experiência de vida que adquirimos por estarmos inseridos em um ambiente de</p><p>falantes da mesma língua.</p><p>Observando o uso que outros falantes fazem da língua, criamos uma série de conceitos que</p><p>nos permite o uso da linguagem como ferramenta de comunicação. O que significa saber</p><p>1CAPÍTULO</p><p>COnCEItO DE LInguÍStICA</p><p>10</p><p>CAPÍTULO 1 • COnCEItO DE LInguÍStICA</p><p>linguístico? Saber uma língua é saber usá-la. Conhecemos a língua a partir de um processo</p><p>dinâmico que vai além da compreensão de como ela funciona. A língua é um instrumento</p><p>de comunicação que nos permite viver em sociedade, interagindo com outros indivíduos</p><p>em qualquer situação. Ela é um fato social e existe independente da nossa vontade. Nosso</p><p>amadurecimento psicossocial acompanha nosso amadurecimento linguístico: conhecer</p><p>uma língua é um processo mais amplo do que conhecer algumas regras gramaticais.</p><p>Figura 1. Linguagem.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/dialogue-between-two-people-confused-thought-1568895406.</p><p>1.2. O estudo científico da linguagem: noções básicas</p><p>Quando usamos o termo LINGUAGEM, estamos utilizando um termo nada específico,</p><p>visto que ele pode significar, além da linguagem verbal humana, outras consideradas não</p><p>verbais, ou seja, aquelas que comunicam por intermédio de outros códigos, tais como</p><p>cores, apitos, sirenes, imagens, dança, linguagem dos animais, etc.</p><p>A Linguística é a ciência que se ocupa em estudar a linguagem humana. Ao contrário da</p><p>Linguística, a Gramática Normativa não é uma ciência, já que esta não descreve a língua</p><p>como de fato ela é, mas apresenta as normas que devem ser seguidas ao se usar a norma</p><p>padrão. A linguística estuda como a língua é empregada pelos falantes.</p><p>Figura 2. A linguagem.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/communication-british-sign-language-concept-</p><p>illustration-2139458093.</p><p>11</p><p>COnCEItO DE LInguÍStICA • CAPÍTULO 1</p><p>A Linguística é o estudo científico da linguagem humana. Diz-se que um estudo é científico</p><p>quando se baseia na observação dos fatos e se abstém de propor qualquer escolha entre tais</p><p>fatos, em nome de certos princípios estéticos ou morais. “Científico” opõe-se, portanto, a</p><p>“prescritivo”. No caso da Linguística, importa especialmente insistir no caráter científico e não</p><p>prescritivo do estudo: como o objeto dessa ciência constitui uma atividade humana, é grande</p><p>a tentação de abandonar o domínio da observação imparcial para recomendar determinado</p><p>comportamento, de deixar de notar o que realmente se diz para passar a recomendar o que se</p><p>deve dizer.</p><p>(MARTINET, A. Elementos de linguística geral. Trad Tradução de. Jorge Morais Barbosa. – 5. ª</p><p>Eded. – Lisboa: Sá da Costa, 1973.)</p><p>1.2.1 Estruturalismo</p><p>Teve seu marco inicial no século XX quando foi publicado o Cours de Linguistique Générale</p><p>em 1916, obra divulgada após a morte de Ferdinand de Saussure, que foi elaborada por</p><p>alguns de seus alunos. A referida obra póstuma reacendeu discussões sobre a distinção</p><p>entre língua e fala (langue e parole); forma e substância; a noção de pertinência; e as noções</p><p>de significante, significado e signo.</p><p>1.2.2 Funcionalismo</p><p>Corrente linguística que encarava a linguagem como um recurso a ser utilizado na</p><p>interação social entre os falantes de uma mesma língua. O seu surgimento data de 1926,</p><p>com a fundação do Círculo Linguístico de Praga, o qual teve como base o estruturalismo</p><p>de Ferdinand de Saussure, contando com a contribuição dos linguistas Trubetskoï</p><p>e Roman Jakobson, entre outros. A contribuição de Roman Jakobson deu-se pela</p><p>formulação de um esquema de elementos da comunicação e, posteriormente, foram</p><p>desenvolvidas as funções da linguagem atreladas às finalidades comunicativas.</p><p>Figura 3. Funções.</p><p>Fonte: adaptada pela autora; https://foconoenem.com/funcoes-da-linguagem/.</p><p>12</p><p>CAPÍTULO 1 • COnCEItO DE LInguÍStICA</p><p>A citação a seguir expressa de forma muito clara a visão funcionalista da linguagem:</p><p>A linguagem não é simples emissão de sons, nem simples sistema</p><p>convencional, como quer um certo positivismo, nem tampouco tradução</p><p>imperfeita do pensamento, vestimenta de ideias mudas e verdadeiras como</p><p>a concebe um pensamento idealista. Pelo contrário, é criação de sentido,</p><p>encarnação de significação e, como tal, ela dá origem à comunicação (Leite,</p><p>1997, p. 22-23)</p><p>1.2.3 gerativismo</p><p>O Gerativismo surgiu a partir dos estudos do linguista Noam Chomsky, formulado</p><p>inicialmente pela rejeição do modelo behaviorista da linguagem. Tinha como base a ideia</p><p>de que o ser humano é um ser criativo, uma capacidade genética. Essa capacidade inata</p><p>foi denominada faculdade da linguagem.</p><p>O papel do gerativismo no seio da linguística é constituir um modelo</p><p>teórico capaz de descrever e explicar a natureza e o funcionamento dessa</p><p>faculdade, o que significa procurar compreender um dos aspectos mais</p><p>importantes da mente humana (Kenedy, 2008, p. 129).</p><p>A partir da corrente gerativista, as línguas deixam de ser interpretadas como resultantes de</p><p>um comportamento social e começam a ser encaradas como uma faculdade mental natural</p><p>que permite aos seres humanos o desenvolvimento de uma competência linguística.</p><p>1.3. Língua e cultura</p><p>A língua é um bem público. A língua não pode ser criada ou modificada individualmente,</p><p>já que é exterior aos indivíduos. Ela existe a partir de um acordo coletivo que se</p><p>estabelece entre pessoas de determinado grupo social que a utilizam com o objetivo</p><p>de comunicação. Desde os primórdios da civilização, o homem desenvolve formas</p><p>diferentes de se comunicar. Com o objetivo de trocar ideias, informar e buscar eficiência</p><p>comunicativa, o homem cria e modifica sua forma de falar fazendo com que dentro de</p><p>um país existem maneiras diferentes de falar um mesmo idioma. Isso significa que o</p><p>modo de falar dos indivíduos é variável e acontece em função de diversos fatores. Para</p><p>compreender melhor, é preciso entender primeiro o que o termo significa:</p><p>[...] língua é um sistema gramatical pertencente a um grupo de indivíduos.</p><p>Expressão da consciência de uma coletividade, a língua é o meio pelo qual</p><p>essa consciência representa o mundo envolvente e sobre ele age. Além</p><p>disso, a língua não é imutável, pelo contrário, vive em perpétua evolução</p><p>(Cunha; Cintra, 2013, p. 1-5).</p><p>13</p><p>COnCEItO DE LInguÍStICA • CAPÍTULO 1</p><p>A língua é que assegura a comunicação entre os homens. Considerando a grande variedade</p><p>de formas de se expressar, existe uma variante reputada com mais prestígio do que as</p><p>demais. Essa variante é aquela ensinada nas escolas e usada de forma a desconsiderar</p><p>regionalismos. Tal modalidade linguística é denominada língua padrão ou norma padrão.</p><p>A relação entre língua e cultura se dá se considerarmos que as línguas são produtos da</p><p>cultura. As mudanças culturais determinam mudanças linguísticas.</p><p>As línguas são produtos da cultura para permitir a comunicação social. As mudanças na cultura</p><p>determinam mudanças linguísticas, principalmente no que se refere às categorias gramaticais</p><p>e ao léxico, donde uma relação estreita entre o estudo histórico da semântica e o da história da</p><p>cultura.</p><p>Fonte: CÂMARA JR., J. M. Dicionário de linguística e gramática. Rio de Janeiro: Vozes, 1981.</p><p>Falando especificamente sobre a língua portuguesa, é importante compreender que ela não</p><p>é falada apenas no Brasil, mas, também, em Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde,</p><p>Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Ilha da Madeira e Timor Leste. Considerando que cada</p><p>um dos locais mencionados possui características culturais diferentes, pode-se perceber</p><p>que tais diferenças culturais são determinantes para que haja, em cada um deles, uma</p><p>forma</p><p>Acesso em: 23 ago. 2023.</p><p>REESCREVA. O desenvolvimento da linguagem oral. Disponível em: https://www.reescrevaclinica.com.br/o-</p><p>desenvolvimento-da-linguagem-oral/. Acesso em: 23 ago. 2023.</p><p>Slideplayer. Disponível em: https://slideplayer.com.br/amp/1223430/. Acesso em: 23 ago. 2023.</p><p>Shutterstock. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/london-uk-may-06-2019-</p><p>statue-1714943572. Acesso em: 23 ago. 2023.</p><p>Práticas Escolares, Diversidade, Subjetividade | Percepções e reflexões sobre o conteúdo abordado em sala de aula</p><p>(wordpress.com)</p><p>Shutterstock. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/mental-health-brain-disorder-</p><p>concept-world-1971601484. Acesso em: 23 ago. 2023.</p><p>Shutterstock. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/happy-young-couple-talking-over-</p><p>chalkboard-373552009. Acesso em: 23 ago. 2023.</p><p>Shutterstock. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/indian-female-therapist-training-</p><p>kid-hearing-2184679429. Acesso em: 23 ago. 2023.</p><p>Shutterstock. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/man-mood-behavior-changes-</p><p>swings-collage-212551663. Acesso em: 23 ago. 2023.</p><p>Shutterstock. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/girl-holding-megaphone-giving-</p><p>speech-on-1891736974. Acesso em: 23 ago. 2023.</p><p>_Hlk143876837</p><p>_Hlk133620658</p><p>_Hlk143876850</p><p>_Hlk143877042</p><p>_Hlk143877075</p><p>_Hlk143877203</p><p>_Hlk143877228</p><p>_Hlk133620738</p><p>_Hlk143877250</p><p>_Hlk143877281</p><p>_Hlk143877404</p><p>_Hlk78808739</p><p>_Hlk78810154</p><p>_Hlk78810169</p><p>_Hlk78818336</p><p>_Hlk143877611</p><p>_Hlk80179798</p><p>_Hlk143877846</p><p>_Hlk143877876</p><p>_Hlk131610131</p><p>_Hlk143877928</p><p>_Hlk143878012</p><p>_Hlk143878036</p><p>_Hlk131612883</p><p>Organização do Livro Didático</p><p>Introdução</p><p>Capítulo</p><p>Conceito de Linguística</p><p>Capítulo</p><p>Linguística Diacrônica do Séc. XIX</p><p>Capítulo</p><p>Atitudes e Preconceitos Linguísticos</p><p>Capítulo</p><p>Aquisição da Língua</p><p>Capítulo</p><p>A Psicolinguística: conceito, objeto, surgimento e evolução teórico-metodológica</p><p>Capítulo</p><p>Linguagem e Cognição</p><p>Referências</p><p>de falar específica, mesmo sabendo que são todos falantes da língua portuguesa.</p><p>Figura 4. Língua Portuguesa.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/portugues-presente-o-verbo-oi-mas-1507601462.</p><p>» Aula inaugural de Linguística: Fiorin - 2012 - Parte 1. Disponível neste link: https://www.</p><p>youtube.com/watch?v=hI17FcRY2Ec.</p><p>» Aula inaugural de Linguística: Fiorin - 2012 - Parte 2. Disponível neste link: https://www.</p><p>youtube.com/watch?v=sD62AEF1hw0.</p><p>14</p><p>CAPÍTULO 1 • COnCEItO DE LInguÍStICA</p><p>1.4 O panorama histórico dos estudos linguísticos desde a</p><p>Antiguidade até o séc. XX</p><p>Somente recentemente, a partir do séc. XX, a Linguística é vista como uma ciência.</p><p>Contudo, os estudos sobre a linguagem humana são muito antigos. Para entendermos</p><p>melhor como se deu a evolução desse estudo através do tempo, comecemos nossa</p><p>abordagem histórica a partir da Idade Antiga, apresentando algumas características</p><p>básicas do período e seguindo pela Idade Média, conhecendo alguns pontos específicos</p><p>da Renascença até chegarmos aos tempos modernos. Com vistas a melhor visualização,</p><p>apresento uma linha do tempo capaz de mostrar, de maneira simplificada, o período de</p><p>tempo que será considerado em nossa discussão:</p><p>Figura 5. Breve histórico dos estudos linguísticos.</p><p>Renascença</p><p>Antiguidade 1300 até 1700</p><p>4000 a.C. a 3500 a.C. até 476 d.C.</p><p>... ___________________________________________________________________ ...</p><p>Idade Média Modernidade</p><p>500 d.C. até 1500 1890-1910</p><p>Fonte: A autora.</p><p>1.4.1 Antiguidade</p><p>Considera-se Antiguidade o espaço de tempo que começa com a invenção da escrita (4000</p><p>a.C. a 3500 a.C.) e vai até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.) e início da</p><p>Idade Média (séc. V). Diferentes povos se desenvolveram neste período, entre eles as</p><p>civilizações do Egito, da Mesopotâmia, da China, as clássicas, tais quais as da Grécia e</p><p>de Roma, os Persas, os Hebreus, os Fenícios, os Celtas, os Etruscos, os Eslavos, os povos</p><p>germanos (visigodos, ostrogodos, anglos, saxões). Além do conhecimento e do uso da</p><p>escrita, este período histórico foi importante também pela organização mais complexa</p><p>das cidades e pelo sentimento de nacionalidade. O período é marcado por iniciativas</p><p>linguísticas e pela gramática tradicional.</p><p>Alguns destaques:</p><p>Hindus: o sânscrito surge por motivos religiosos. Inicia-se em uma variedade pré-clássica</p><p>chamada de sânscrito védico, sendo o idioma do Rigveda e dos demais vedas, nascendo em</p><p>torno de 1500 a.C.</p><p>15</p><p>COnCEItO DE LInguÍStICA • CAPÍTULO 1</p><p>Gramática de Panini (séc. IV a.C.): gramático indiano que compôs uma gramática sânscrita,</p><p>cuja consistência e encadeamento lógico apresentam notável rigor – 400 regras.</p><p>Gregos: estudavam sua própria língua por razões estéticas, filosóficas e literárias. Tem-se aí</p><p>a origem da Gramática Tradicional, escrita por Dionísio da Trácia no séc. II a.C. O livro, que</p><p>continha quinze páginas, explicava a estrutura da língua grega, não abordava sintaxe e foi</p><p>escrito com a finalidade de explicar a língua dos autores clássicos e preservar a língua grega.</p><p>Dois princípios que reinavam nesta época perduraram por mais de dois mil anos: Pureza e</p><p>Correção = Preconceito, tema que será abordado na estação quatro.</p><p>Romanos: não se interessavam em estudar a língua falada pelo povo. As línguas românicas</p><p>são a continuação do latim vulgar, o popular dialeto do latim falado pelos soldados, colonos</p><p>e mercadores do Império Romano, que se distinguia da forma clássica da língua falada</p><p>pelas classes superiores romanas, a forma em que a língua era geralmente escrita. Do latim,</p><p>derivaram diversas línguas modernas, como o português, o francês, o espanhol, o romeno e</p><p>o italiano. Deve-se a Marco Terêncio Varrão a primeira Gramática Latina (no séc. I a.C.).</p><p>Gramática latina padrão: composta de três partes - a primeira tratava da definição de</p><p>Gramática como arte de falar corretamente e compreender outros poetas. Cuidava, ainda,</p><p>das letras e das sílabas. Como objeto da segunda parte, falava-se das “partes do discurso”</p><p>e de suas variações segundo tempo, gênero, número e caso. A terceira parte apresentava</p><p>discussão sobre o bom e o mal estilo, bem como fazia algumas advertências contra erros e</p><p>barbarismos.</p><p>1.4.2 Idade Média</p><p>A desintegração do Império Romano do Ocidente, que se deu no século V (476 d.C.), serve</p><p>como marco inicial da Idade Média, e o fim do Império Romano do Oriente (Império</p><p>Bizantino), a Queda de Constantinopla, no século XV (1453 d.C.), e a chegada dos europeus</p><p>à América determinam o seu final. A época muito contribuiu para o estudo da língua.</p><p>Abaixo, alguns fatos que ilustram a riqueza do período:</p><p>Tradução da bíblia: Tradução em gótico no séc. IX.</p><p>Dante Alighieri: De Vulgari Eloquentia, 1301. Distinguiu 14 formas diferentes de dialetos</p><p>italianos.</p><p>Vernáculos: surgimento das línguas nacionais.</p><p>Latim: língua dominante, presente nas escrituras e na liturgia. Língua universal da diplomacia</p><p>e da erudição.</p><p>16</p><p>CAPÍTULO 1 • COnCEItO DE LInguÍStICA</p><p>Figura 6. Idade Média.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/medieval-battle-scene-knights-cavalry-archers-1667055106.</p><p>1.4.3 Renascença</p><p>Neste período, é possível observar maior preocupação com os estudos linguísticos. É</p><p>importante visualizar que os estudiosos do assunto não chegaram a um consenso sobre</p><p>o início e o fim exatos da renascença. Pode haver alguma variação em relação a esses</p><p>dados, conforme os diversos autores que tratam do assunto.</p><p>A época foi marcada por muitas transformações nas mais diversas áreas, todas influenciando</p><p>a vida dos homens daquela época, entre elas:</p><p>» expansão marítimo-comercial;</p><p>» desenvolvimento de diferentes tipos de impressão;</p><p>» difusão da língua grega pela Itália graças à expulsão dos bizantinos de</p><p>Constantinopla;</p><p>» controvérsias teológicas: tradução dos livros sagrados em várias línguas;</p><p>» classificação das línguas: critério geográfico aplicado em dicionários e textos</p><p>multilíngues, traduzidos em várias línguas;</p><p>» classificação de línguas segundo uma origem comum;</p><p>» estudo de línguas-tronco: BOGE, GODT, DEUS e TÉOS - (eslavas, germânicas,</p><p>românicas e grego);</p><p>17</p><p>COnCEItO DE LInguÍStICA • CAPÍTULO 1</p><p>» proposta de LEIBNIZ sobre o estudo de documentos antigos, comparando-os com as</p><p>línguas modernas;</p><p>» criação da Grammaire générale et raisonné de Port-Royal por Antoine Arnauld e</p><p>Claude Lancelot em 1660. Continha conteúdo prático e formato cômodo. Concepção</p><p>cartesiana (que confia de modo irrestrito e exclusivo na capacidade cognitiva da</p><p>razão, limitando-se às explicações mecânicas, simplificadoras, inadequadas à</p><p>compreensão da realidade;</p><p>» linguagem como imagem do pensamento;</p><p>» raciocínio linguístico abstrato.</p><p>1.4.4 Modernidade</p><p>O Modernismo surgiu na última década do séc. XIX, como resposta à industrialização.</p><p>Rejeitava as ideias e as formas antigas e se baseava em princípios autônomos,</p><p>revolucionários e individualistas. Com a descoberta do sânscrito (língua sagrada da Índia)</p><p>e sua descrição em fins do séc. XVIII, estudos comparatistas passaram a identificar as</p><p>famílias de línguas e mostraram que a mudança nas línguas era um processo constante,</p><p>regular e universal. A filologia comparativa, chamada mais tarde de Linguística</p><p>Comparativa, é a parte da linguística histórica que analisa determinadas línguas,</p><p>comparando-as, com o propósito de estabelecer relações entre elas, buscando origem e</p><p>parentesco em comum.</p><p>Até esse momento, algumas línguas já tinham sido analisadas de forma descritiva,</p><p>mas</p><p>o parentesco linguístico ainda não havia sido estudado. Tal interesse teve início a partir</p><p>de comparações que eram feitas em outras áreas do conhecimento, tais como anatomia,</p><p>biologia e paleontologia. O método de reconstrução comparada é um método rigoroso de</p><p>análise que, por intermédio da análise e da comparação da protolíngua (língua-mãe) com</p><p>as demais, cria a chamada Teoria da Árvore Genealógica, a qual mostra o parentesco das</p><p>línguas a partir do Indo-Europeu.</p><p>O latim é uma língua que pertence ao grupo das línguas indo-europeias, que</p><p>inclui as línguas gregas, germânicas, itálicas, eslavas, armênias, entre outras,</p><p>e era falada originalmente na região da Itália conhecida como Lácio (Latium,</p><p>daí o nome‘língua latina’, língua própria do Lácio). Linguistas, a partir</p><p>do século XIX, estão constantemente estudando esse grupo de línguas e</p><p>especialmente a língua anterior falada originalmente: o proto-indo-europeu.</p><p>É a ela que recorremos para qualquer estudo etimológico mais refinado</p><p>(Mundus Latine, 2016, p. 1).</p><p>18</p><p>CAPÍTULO 1 • COnCEItO DE LInguÍStICA</p><p>Pesquisadores desse período que merecem destaque especial:</p><p>» Franz Bopp (Alemanha, 1791-1867): criação da Gramática comparada das línguas indo-</p><p>europeias (Sânscrito, Persa, Grego, Latim, Lituano, Gótico e Alemão).</p><p>» Rasmus Rask (Dinamarca, 1787-1832): línguas germânicas –grego, latim, báltico e eslavo.</p><p>Publicou o manuscrito Undersøgelse om det gamle nordiske Eller Islandske sprogs oprindelse,</p><p>escrito em 1814 e publicado em 1818. Estudo sistemático que analisava diferentes formas de</p><p>variadas línguas usando o método comparativo (levou em conta o sânscrito).</p><p>» Jakob Grimm (Alemanha, 1785-1863): lei de Grimm – Primeiro modelo das leis fonéticas,</p><p>traduzindo a regularidade das transformações sonoras da linguagem ao longo da história.</p><p>» Schleicher (Alemanha, 1821- 1868): Botânico e linguista. Segundo ele, a língua era um</p><p>organismo vivo que, independentemente da vontade humana, nasce, cresce e morre.</p><p>O que vimos nesse capítulo?</p><p>» Conceito de Linguística e de suas subdivisões.</p><p>» Diferença entre saber linguístico e ciência linguística.</p><p>» Como é feito o estudo científico da linguagem.</p><p>» A relação existente entre língua e cultura.</p><p>» Como se deu a evolução dos estudos linguísticos.</p><p>» Quais foram os linguistas que mais contribuíram na evolução da Linguística e suas principais</p><p>contribuições.</p><p>19</p><p>Introdução</p><p>O conceito de DIACRONIA, que surgiu no séc. XX como uma proposta inovadora de se</p><p>entender a linguística, tendo em vista que o método dominante dos estudos linguísticos</p><p>no séc. XIX era o método Histórico-Comparativo. Nesta aula, dá-se destaque ao estudo de</p><p>Ferdinand Saussure, segundo o qual passou a chamar o método Histórico-Comparativo</p><p>de DIACRONIA e criou seu par, a SINCRONIA, para denominar o estudo da língua em</p><p>determinado período do tempo. A aula mostra, ainda, o ESTRUTURALISMO surgindo como</p><p>resultado dos estudos de Saussure.</p><p>Objetivos</p><p>» Conhecer e contrastar sincronia x diacronia.</p><p>» Refletir sobre o trabalho de Saussure e sua importância na evolução dos estudos</p><p>linguísticos.</p><p>» Entender a teoria de análise linguística chamada Estruturalismo e reconhecer sua</p><p>importância.</p><p>2.1 Saussure e a Linguística sincrônica</p><p>Conforme vimos até agora, a partir da análise das línguas, era possível determinar</p><p>sua origem e seu parentesco. O desenvolvimento do método comparativo aconteceu</p><p>exclusivamente no final do século XVIII, período no qual a língua sânscrita já não era</p><p>mais falada e era preservada apenas através da escrita. Um dos teóricos que mais se</p><p>destacaram no período foi Ferdinand Saussure. A partir de seus estudos, Saussure passou</p><p>a chamar o método histórico-comparativo de DIACRONIA (do grego dia, que significa</p><p>através, e kronos, que significa tempo). Enquanto a diacronia estudava as mudanças da</p><p>língua através do tempo, Saussure criou seu par SINCRONIA (do grego sin, que significa</p><p>juntamente, e kronos, que significa tempo) para denominar o estudo da língua em</p><p>2CAPÍTULO</p><p>LInguÍStICA DIACRÔnICA DO SÉC. XIX</p><p>20</p><p>CAPÍTULO 2 • LInguÍStICA DIACRÔnICA DO SÉC. XIX</p><p>determinado período do tempo. Mas como se desenvolveu o estudo de Saussure que criou</p><p>a dicotomia diacronia X sincronia?</p><p>Ferdinand de Saussure (Genebra, 1857 / Morges, 1913) foi um linguista e filósofo suíço,</p><p>que entendia a linguística como um ramo da ciência dos signos e que propôs fosse</p><p>chamada de Semiologia. Em 1874, Saussure começou a estudar sozinho o sânscrito,</p><p>usando a gramática de Franz Bopp. Começou seus estudos sobre a linguagem na</p><p>Sociedade Linguística de Paris, onde definiu um novo objeto de estudos para a</p><p>Linguística: as DICOTOMIAS (do grego dichotomia, que significa “dividir em partes</p><p>iguais”), mais tarde apresentado no livro Curso de linguística geral.</p><p>Essa obra não foi escrita por Ferdinand de Saussure, mas, na verdade, foi editada após</p><p>sua morte por Charles Bally e Albert Sechehaye, com base em anotações feitas ao longo</p><p>de cursos oferecidos pelo linguista na Universidade de Genebra (1906-1911). Há grande</p><p>número de autores que sustentam terem sido os responsáveis do Curso alunos de Saussure.</p><p>Normand (2009), no entanto, afirma que Albert Sechehaye e Charles Bally não assistiram</p><p>integralmente às aulas de Saussure, o que nos faz chegar à constatação de que o livro foi</p><p>organizado por pessoas que não ouviram as aulas daquele mestre do estruturalismo e que</p><p>se basearam apenas nas notas dos cadernos de seus alunos.</p><p>Ferdinand de Saussure</p><p>Linguista</p><p>Ferdinand de Saussure: linguista e filósofo suíço, segundo o qual “suas elaborações teóricas</p><p>propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência autônoma”.</p><p>Nascimento: 26 de novembro de 1857, Genebra, Suíça.</p><p>Falecimento: 22 de fevereiro de 1913, Vufflens-le-Château, Suíça</p><p>Obras: Curso de Linguística Geral, Escritos de linguística geral</p><p>Filhos: Raymond de Saussure, Jacques de Saussure</p><p>Educação: Universidade de Genebra, Universidade de Leipzig</p><p>Irmão: René de Saussure</p><p>No Curso de Linguística Geral, são apresentados quatro pares de conceitos que se opõe</p><p>e mostram uma síntese da análise de Saussure sobre dicotomia. São eles: diacronia X</p><p>sincronia, língua X fala, significante X significado e paradigma X sintagma. Uma leitura</p><p>atenta do Curso indica que o autor cria, a partir de cada uma das quatro dicotomias, um</p><p>terceiro elemento, mediador da relação binária: para a dicotomia significante/significado,</p><p>há o signo; para relações sintagmáticas/relações associativas, há o sistema. Para</p><p>diacronia/sincronia, há a pancronia; para língua/fala, há a linguagem.</p><p>21</p><p>LInguÍStICA DIACRÔnICA DO SÉC. XIX • CAPÍTULO 2</p><p>Língua: “Não se confunde com linguagem; é somente uma parte determinada, essencial</p><p>dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e</p><p>um conjunto de convenções necessárias, adotado pelo corpo social, para permitir o exercício</p><p>dessa faculdade aos indivíduos. Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita.</p><p>O cavaleiro de diferentes domínios, ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela pertence</p><p>além disso ao domínio individual e domínio social” (SAUSSURE, 1973, p. 17).</p><p>Fala: É enunciação, ou seja, “é este colocar em funcionamento a língua por um ato individual</p><p>de utilização” (BENVENISTE, 2006, p. 82).</p><p>Linguagem: “É a capacidade específica da espécie humana de se comunicar por meio de</p><p>signos” (FIORIN, 2013, p. 13).</p><p>Para Saussure, a língua pode ser entendida como um conjunto de unidades que se</p><p>relacionam de forma organizada dentro de um todo. De acordo com o linguista, a</p><p>Linguística tem como objeto a língua considerada em si mesma. Tal princípio a explica a</p><p>partir das relações que unem os elementos no discurso, buscando determinar o valor</p><p>funcional desses diferentes tipos de relações.</p><p>A distinção linguagem/língua/fala situa o objeto da Linguística para</p><p>Saussure. Dela decorre a divisão do estudo da linguagem em duas partes:</p><p>uma, que investiga a língua, e outra, que analisa a fala.</p><p>As duas partes são</p><p>inseparáveis, visto que são interdependentes: a língua é condição para se</p><p>produzir a fala, mas não há língua sem o exercício da fala. Há necessidade,</p><p>portanto, de duas linguísticas: a linguística da língua e a linguística da fala.</p><p>Saussure focalizou em seu trabalho a linguística da língua, “produto social</p><p>depositado no cérebro de cada um”, sistema supraindividual que a sociedade</p><p>impõe ao falante (Fiorin, 2014, p. 14).</p><p>Seus conceitos serviram de base para o desenvolvimento do estruturalismo no século XX.</p><p>A partir de seus estudos, foi possível o desenvolvimento da linguística enquanto ciência</p><p>autônoma. Seu pensamento exerceu grande influência sobre o campo da teoria da literatura e</p><p>dos estudos culturais.</p><p>A linguística histórica, que Saussure chamou de diacrônica no século XIX, se preocupou</p><p>em deixar claro que o português do século XV era diferente do português do século</p><p>XXI, evidenciando que a comparação é um meio para conhecer a história das línguas e</p><p>estabelecer famílias linguísticas.</p><p>Muito interessante o estudo divulgado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)</p><p>que mostra um pouco da evolução do português do século XV comparado com a língua</p><p>portuguesa falada hoje:</p><p>https://static.scielo.org/scielobooks/3fz/pdf/oliveira-9788523211837.pdf</p><p>22</p><p>CAPÍTULO 2 • LInguÍStICA DIACRÔnICA DO SÉC. XIX</p><p>2.2. Estruturalismo</p><p>O termo estruturalismo tem origem no livro Cours de Linguistique Générale (1916), como foi</p><p>mencionado anteriormente na aula um. Para Saussure, a língua podia ser entendida como</p><p>um conjunto de unidades que se relacionam de forma organizada dentro de um todo. A</p><p>proposta do linguista era abordar qualquer língua como um sistema em que cada elemento</p><p>só pode ser entendido mediante suas relações de equivalência ou de oposição com os</p><p>demais elementos.</p><p>Esse conjunto de relações formaria uma estrutura. Os estudos de Saussure sobre este</p><p>sistema deram origem ao que hoje chamamos estruturalismo: a teoria de análise</p><p>linguística surgida a partir dos estudos de Saussure ficou assim denominada. Contudo,</p><p>em sua pesquisa, o termo estrutura não aparecia e, em vez dele, era usada a palavra sistema. O</p><p>termo estrutura só começou a ser usado no final da década seguinte nas teses de Roman</p><p>Jakobson e Nicolas Troubetzkoy, formuladas no Congresso Internacional de Linguística de</p><p>Haia (1928).</p><p>A proposta estruturalista iniciada por Saussure serviu como pilar de estudo para outros</p><p>linguistas que desenvolveram suas próprias versões de linguística estrutural, tais como</p><p>Leonard Bloomfield (USA), Louis Hjelmslev (Escandinávia) e Antoine Meillet e Émile</p><p>Benveniste (França).</p><p>O estruturalismo de Saussure serviu como base para uma corrente estruturalista que</p><p>também obteve destaque em outros campos do saber, tais como na Antropologia (Claude</p><p>Lévi-Strauss, inspirado em Roman Jakobson), na Filosofia e na Matemática, na Literatura</p><p>(estudos literários de Roland Barthes) e na Psicanálise (Jacques Lacan). Mais tarde o</p><p>estruturalismo passou a ser substituído por outras abordagens (pós-estruturalismo e</p><p>desconstrutivismo).</p><p>Figura 7. A Linguística de Saussure.</p><p>Envolve descrição do</p><p>Conjunto de Regras</p><p>(código) da comunicação.</p><p>Origens dos</p><p>Estruturalismo</p><p>Langue (Língua) Parole (Fala)X</p><p>Significante Significado</p><p>Fonte: adaptado pela autora http://mestrando2.blogspot.com/2013/01/estruturalismo.html.</p><p>23</p><p>LInguÍStICA DIACRÔnICA DO SÉC. XIX • CAPÍTULO 2</p><p>O que vimos nesse capítulo?</p><p>» Linguística sincrônica e diacrônica: conceitos e características.</p><p>» Estudos e importância dos estudos de Ferdinand Saussure.</p><p>» Método Histórico-Comparativo X Diacronia.</p><p>» Teoria de análise linguística chamada Estruturalismo e sua importância.</p><p>24</p><p>Figura 8. Pronúncia.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/medium-shot-teacher-explaining-student-classroom-1452844634.</p><p>Introdução</p><p>O conceito de variação linguística e analisa como ela acontece em um país de dimensões</p><p>continentais como o Brasil. São apresentados os conceitos e a ocorrência de variação</p><p>diafásica, histórica, diatópica e diastrática e é feito um estudo comparativo entre o uso da</p><p>norma padrão e as variantes linguísticas. A aula trata, ainda, do preconceito linguístico: o que</p><p>é, como e por que ele acontece.</p><p>Objetivos</p><p>» Distinguir língua padrão e língua em desacordo com a norma padrão.</p><p>» Compreender a diferença no uso da língua padrão e das variantes linguísticas.</p><p>» Identificar os principais tipos de variação da língua.</p><p>» Refletir sobre o preconceito linguístico e entender por que razão ele ocorre.</p><p>3</p><p>CAPÍTULO</p><p>AtItuDES E PRECOnCEItOS</p><p>LInguÍStICOS</p><p>25</p><p>AtItuDES E PRECOnCEItOS LInguÍStICOS • CAPÍTULO 3</p><p>3.1. variação linguística</p><p>Falar sobre preconceito linguístico implica, primeiramente, apresentarmos algumas</p><p>considerações sobre o que significa preconceito e de que forma ele pode ser expresso em</p><p>relação ao modo de falar de um indivíduo. Então, vamos lá!</p><p>Segundo Ferreira (1999), o vocábulo preconceito significa “Ideia preconcebida, suspeita,</p><p>intolerância, aversão a outras raças, credos, religiões e etc.”. Sendo assim, podemos entender</p><p>o preconceito linguístico como qualquer atitude depreciativa, intolerante em relação à</p><p>forma de falar de qualquer pessoa. Será que em nossa sociedade este tipo de preconceito,</p><p>de fato, ocorre? Antes de responder a tal questão, vamos entender melhor o que tal atitude</p><p>preconceituosa significa e como ela acontece.</p><p>Preconceito linguístico é ironizar ou não tolerar o modo de falar das pessoas. É considerar o</p><p>outro inferior por avaliar que sua fala denota ignorância.</p><p>Discutir o preconceito linguístico é discutir o preconceito de maneira geral. É fato que o</p><p>objetivo das escolas e dos professores de Português é que todos alcancem a norma padrão.</p><p>Contudo, o trabalho dos linguistas é identificar que a variação linguística existe e precisa ser</p><p>considerada neste processo.</p><p>Marcos Bagno vem se tornando conhecido por sua luta contra a discriminação social por</p><p>meio da linguagem. Para ele, o preconceito linguístico precisa ser reconhecido, denunciado e</p><p>combatido, porque é uma das formas mais sutis e perversas de exclusão social. Por causa dessa</p><p>militância, Bagno tem recebido amplo apoio de todos aqueles que desejam construir uma</p><p>sociedade verdadeiramente democrática, governada pelo respeito às diferenças e pelo acesso</p><p>aos bens culturais de prestígio.</p><p>Para avançar em nossa análise sobre o tema, vou eleger como objeto de estudo a</p><p>língua portuguesa. É importante lembrar que as línguas servem de instrumento de</p><p>comunicação nas sociedades, que elas existem desde a primeira vez que o homem</p><p>sentiu a necessidade de interagir com outros membros de seu grupo social e que estão,</p><p>portanto, em constante estado de mutação.</p><p>Considerando-se a língua portuguesa, sabe-se que ela é falada por 244 milhões de</p><p>pessoas em todo o mundo, sendo a sexta língua com maior número de falantes, de acordo</p><p>com dados de 2013 do PÚBLICO Comunicação Social SA (Disponível em: https://www.</p><p>publico.pt/culturaipsilon/noticia/ha-244-milhoes-de-falantes-de-portugues-em-todo-o-</p><p>mundo-1610559).</p><p>Dados mais recentes, de 2014, apresentados na exposição “Potencial Económico da</p><p>Língua Portuguesa”, que esteve em exibição no Parlamento Europeu, já colocam que o</p><p>português é atualmente a quarta língua europeia mais falada no mundo (Disponível em:</p><p>http://pt.euronews.com/2014/02/19/portugues-a-quarta-lingua-mais-falada-no-mundo).</p><p>26</p><p>CAPÍTULO 3 • AtItuDES E PRECOnCEItOS LInguÍStICOS</p><p>Contudo, será que todos esses falantes se expressam de uma forma única?</p><p>O português é língua oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique,</p><p>Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Em cada um desses locais, a língua</p><p>portuguesa tem características diferentes, sofrendo a influência de fatores diversos que</p><p>fazem com que ela adquira características particulares de cada povo. Por esse motivo,</p><p>quando nos referimos à língua portuguesa, muitas das vezes sentimos a necessidade</p><p>de especificar o local</p><p>onde a língua a que nos referimos é falada: Português do Brasil,</p><p>Português de Portugal, Português de Angola.</p><p>Se considerarmos apenas o Português falado no Brasil, estudos apontam para a existência</p><p>de diversos SUBFALARES, formas variadas de se falar uma mesma língua, em nosso</p><p>país. Mesmo sofrendo variação, dizemos que todos esses modos de falar diferenciados</p><p>constituem a mesma língua portuguesa. Tal variação linguística acontece graças a alguns</p><p>fatores, tais quais aspectos geográficos (forma de falar diferente entre um carioca e um</p><p>gaúcho), variantes regionais (fala de um falante do interior x fala de um falante da capital),</p><p>fatores históricos (forma de falar influenciada pelos diversos imigrantes estrangeiros que</p><p>compõem o povo brasileiro), diferenças entre as camadas socioculturais (indivíduos com</p><p>maior poder aquisitivo e com mais informação falam de forma diferente daqueles com</p><p>menor poder aquisitivo e menos informação), diferenças entre a modalidade expressiva:</p><p>língua falada, língua escrita, língua literária, linguagens especiais, linguagens dos homens,</p><p>linguagens das mulheres. Em estudo mais criterioso da variação linguística, três tipos de</p><p>variantes merecem atenção especial, são elas:</p><p>3.1.1 Variações diafásicas</p><p>São aquelas que acontecem em função do contexto comunicativo. A ocasião determina o</p><p>modo como falamos com o nosso interlocutor.</p><p>3.1.2 Variações históricas</p><p>A língua é dinâmica e sofre transformações ao longo do tempo. Um exemplo de variação</p><p>histórica é a questão da ortografia: a palavra “telefone” já foi escrita com “ph” (telephone).</p><p>A palavra “você”, por exemplo, tem origem etimológica na expressão de tratamento de</p><p>deferência “vossa mercê” e que se transformou sucessivamente em “vossemecê”, “vosmecê”,</p><p>“vancê” até chegar a que utilizamos hoje.</p><p>3.1.3 Variações diatópicas</p><p>Acontecem a partir das diferenças regionais. As variações regionais, denominadas dialetos,</p><p>são as variações referentes a diferentes regiões geográficas, de acordo com a cultura local.</p><p>Um exemplo deste tipo de variação é a palavra “mandioca” que, em certos lugares, recebe</p><p>27</p><p>AtItuDES E PRECOnCEItOS LInguÍStICOS • CAPÍTULO 3</p><p>outras denominações, como “macaxeira” e “aipim”. Nesta modalidade, também estão os</p><p>sotaques, ligados às marcas orais da linguagem.</p><p>3.1.4 Variações diastráticas</p><p>Ocorrem em razão da convivência entre os grupos sociais. As gírias, os jargões e o linguajar</p><p>caipira são exemplos desta modalidade de variação linguística. É uma variação social e</p><p>pertence a um grupo específico de pessoas. As gírias pertencem ao vocabulário específico</p><p>de certos grupos, como os policiais, cantores de rap, surfistas, estudantes, jornalistas, entre</p><p>outros.</p><p>Enquanto os jargões estão relacionados às áreas profissionais, caracterizando um linguajar</p><p>técnico. Como exemplo, podemos citar os advogados, os profissionais de saúde, os de</p><p>informática, entre outros.</p><p>Considerando a grande variedade de formas de se expressar, existe uma variante reconhecida</p><p>com mais prestígio do que as outras. É aquela ensinada nas escolas, usada nos jornais e no</p><p>meio acadêmico. Essa modalidade linguística é denominada LÍNGUA PADRÃO ou NORMA</p><p>PADRÃO. É importante lembrar que, em situações sociais que exigem maior formalidade,</p><p>tais como entrevista para obter emprego, requerimento, carta dirigida a um jornal ou a uma</p><p>revista, exposição pública, redação em concurso público, a variedade linguística exigida</p><p>sempre é a padrão. Em face disso, é importante dominá-la bem.</p><p>De que forma o preconceito linguístico acontece?</p><p>Vimos, então, que uma mesma língua pode ser falada de modos variados e que as línguas</p><p>estão em constante estado de mudança: essa é a forma natural das línguas evoluírem.</p><p>Então, voltemos ao questionamento inicial: Será que em nossa sociedade o preconceito</p><p>linguístico de fato ocorre? Se as diversas formas de falar uma língua são aceitas, por que</p><p>razão apenas uma dessas variantes, a chamada língua padrão, se destaca como sendo a</p><p>mais prestigiada entre as diversas formas de falar? A língua padrão é a variante linguística</p><p>escolhida como oficial de uma sociedade. Dominar a língua padrão, somado ao domínio</p><p>de outras variedades linguísticas, torna-nos mais preparados para nos comunicarmos</p><p>nas mais diferentes situações sociais de que participamos. Lembremos que a língua não</p><p>é uma só, ela é composta de variantes. Sendo assim, não é correto afirmar que qualquer</p><p>variante linguística seja errada, ou que uma forma de falar seja mais correta do que as</p><p>outras. Precisamos lembrar que as línguas são instrumentos de comunicação, portanto,</p><p>se uma forma de falar cumpre o seu objetivo de comunicar as mais diversas intenções, ela</p><p>não pode ser tratada como uma forma de falar errada. Mesmo que o falante use estruturas</p><p>que estejam em desacordo com o que a gramática normativa apresenta, tal modo de falar</p><p>não deve ser considerado errado. O uso da norma padrão, tendo sido escolhida como</p><p>28</p><p>CAPÍTULO 3 • AtItuDES E PRECOnCEItOS LInguÍStICOS</p><p>tal, cria a falsa impressão de que todo aquele cuja forma de falar se distancie do padrão</p><p>estabelecido esteja falando de maneira errada. Na verdade, mesmo pessoas de alto nível</p><p>cultural, gestores, políticos, empresários e demais sujeitos que compõem as classes mais</p><p>privilegiadas, não se comunicam usando a língua exatamente como ela é ensinada nas</p><p>gramáticas e nas escolas. Mesmo nos textos escritos é possível perceber certo afastamento</p><p>da língua considerada padrão. O que acontece, na verdade, é que qualquer forma de falar</p><p>que se afaste demais da norma passou a ser vista com intolerância, como um sinal de falta</p><p>de prestígio, como justificativa para o preconceito linguístico.</p><p>É bastante comum percebermos na televisão, no cinema, em revistas etc., o preconceito</p><p>linguístico aparecendo junto com outras formas de preconceito. São muitas as vezes</p><p>em que vemos um personagem de ficção mal-vestido, sem dinheiro, sem dentes, vindo</p><p>de regiões menos favorecidas, falando de forma bastante diferente da norma padrão.</p><p>Será que as pessoas com menor poder aquisitivo, ou que vivem em locais distantes</p><p>dos grandes centros urbanos são, necessariamente, aquelas que utilizam variantes</p><p>linguísticas menos prestigiadas? Seria correto afirmar que o uso da norma ensinada nas</p><p>escolas é um fator determinante para a ascensão social? Lendo Preconceito Linguístico:</p><p>O que é, como se faz, de Marcos Bagno, me deliciei com sua reflexão sobre esta questão:</p><p>Ora, se o domínio da norma padrão fosse realmente um instrumento de</p><p>ascensão na sociedade, os professores de português ocupariam o topo</p><p>da pirâmide social, econômica e política do país, não é mesmo? Afinal,</p><p>supostamente, ninguém melhor do que eles domina a norma padrão. Só</p><p>que a verdade está muito longe disso, como bem sabemos nós, professores,</p><p>a quem são pagos alguns dos salários mais obscenos de nossa sociedade.</p><p>Por outro lado, um grande fazendeiro que tenha apenas alguns poucos anos</p><p>de estudo primário, mas que seja dono de milhares de cabeças de gado, de</p><p>indústrias agrícolas e detentor de grande influência política em sua região</p><p>vai poder falar à vontade sua língua de “caipira”, com todas as formas</p><p>sintáticas consideradas “erradas” pela gramática tradicional, porque sua</p><p>posição social dominante já está garantida por outros meios, sem dúvida</p><p>muito mais importantes na hierarquia social (Bagno, 2013, p. 89-90).</p><p>É preciso que assumamos postura diferenciada e crítica em relação às variantes</p><p>linguísticas. A linguagem diferenciada dos brasileiros precisa ser valorizada, visto que a</p><p>forma de falar de cada indivíduo é o resultado de um processo que envolve toda a história</p><p>de vida daquele falante e, por isso, não pode ser desmerecida ou ridicularizada. Até</p><p>mesmo nas escolas o preconceito linguístico pode aparecer: um professor mal preparado,</p><p>material didático mal escrito/impróprio e com visões distorcidas podem, erradamente,</p><p>apresentar a língua portuguesa como se fosse uma língua homogênea, falada de uma</p><p>única forma em todo o território</p><p>brasileiro e como se pudesse ser aprendida, apenas, a</p><p>29</p><p>AtItuDES E PRECOnCEItOS LInguÍStICOS • CAPÍTULO 3</p><p>partir das normas gramaticais contidas na gramática normativa. É preciso garantir aos</p><p>indivíduos acesso à educação inclusiva em seu sentido mais amplo. É preciso formar</p><p>sujeitos reflexivos. É preciso que haja um trabalho intenso com a leitura e a escrita,</p><p>bem como maior reflexão sobre o uso e o funcionamento da língua antes que haja a</p><p>preocupação em se fazer reflexões teóricas sobre a composição da língua.</p><p>Vivemos em uma sociedade que apresenta desigualdades socioculturais e o preconceito</p><p>linguístico é apenas mais um tipo de discriminação e intolerância sofrida pelo povo</p><p>brasileiro. Os preconceitos passam a fazer parte de nossa mentalidade sem que</p><p>percebamos e as atitudes preconceituosas se tornam frequentes em nosso cotidiano. Para</p><p>colocarmos um fim nesta atitude discriminatória e excludente, é preciso compreendermos</p><p>que a língua não é uma, mas uma variedade de subfalares resultantes da identidade de</p><p>cada grupo social.</p><p>Cabe ressaltar que o fato de apresentar aqui a necessidade de se compreender a variação</p><p>linguística e não permitir que a diferente forma de falar das pessoas seja mais um motivo</p><p>para que haja exclusão e preconceito, não significa que o uso da norma padrão deva ser</p><p>esquecida, muito menos que ela deixe de ser ensinada nas escolas. Essa norma necessita</p><p>ser aprendida e dominada, sem que para isso seja necessário condenar as diferentes</p><p>línguas da língua padrão: cabe lembrar aqui que a função da escola é promover o</p><p>desenvolvimento do cidadão, no sentido pleno da palavra. É função dela transmitir não</p><p>apenas o conhecimento teórico, mas, também, desenvolver no aluno capacidade crítica</p><p>e olhar que respeite as diferenças. Educadores e linguistas acreditam que, valorizando a</p><p>experiência linguística que o aluno leva para a escola, é possível se promover o ensino</p><p>da norma padrão de maneira mais rápida e eficaz. O patrimônio linguístico, conjunto de</p><p>todas as formas de falar do povo, constitui grande legado às futuras gerações. A língua</p><p>deve ser protegida pelo povo como uma grande riqueza cultural.</p><p>Em 2011, houve grande polêmica sobre um livro didático distribuído pelo Programa Nacional</p><p>do Livro Didático do MEC, destinado à Educação de Jovens e Adultos (EJA). A polêmica “Por</p><p>uma vida melhor” reacendeu a discussão sobre erro ortográfico e gramatical, linguagem formal</p><p>e informal e a legitimidade de seus usos dentro e fora da sala de aula.</p><p>As lições do livro que desensina “Por Uma Vida Melhor” é exemplo de doutrina difundida há</p><p>décadas na educação brasileira, segundo a qual a norma padrão é um fardo ao qual devemos</p><p>nos curvar por imposição social, e não pelos benefícios que ela propicia. O artigo de Nathalia</p><p>Goulart, publicado pela revista Veja em 20/5/2011 sobre a questão está disponível em: https://</p><p>veja.abril.com.br/noticia/educacao/as-licoes-do-livro-que-desensina</p><p>E o artigo Esclarecimentos sobre o livro “Por uma vida melhor” para a Educação de Jovens e</p><p>Adultos: Faculdade de Educação UFMG disponível em:</p><p>https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumALC/article/viewFile/780/725</p><p>Aproveito para indicar os vídeos com as entrevistas dos gramáticos José Luiz Fiorin e Ataliba</p><p>Castilho comentando “Por uma vida melhor”.</p><p>30</p><p>CAPÍTULO 3 • AtItuDES E PRECOnCEItOS LInguÍStICOS</p><p>Entrevista com o professor Ataliba Castilho sobre o livro “Por uma Vida Melhor”: https://www.</p><p>youtube.com/watch?v=DROHTF4iaiQ.</p><p>José Luiz Fiorin fala da polêmica sobre o livro didático “Por uma Vida Melhor”: https://www.</p><p>youtube.com/watch?v=o7OlNhxLrOg#t=956.</p><p>O que vimos nesse capítulo?</p><p>» Significado de norma padrão e de variação linguística.</p><p>» Não existência de única forma de uso da língua e a não consideração das variantes</p><p>linguísticas como “erro”.</p><p>» Identificação dos principais tipos de variação da língua.</p><p>» Existência do preconceito linguístico.</p><p>» Causas do preconceito linguístico.</p><p>31</p><p>Figura 9. Aquisição da Língua.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cute-happy-little-preschooler-girl-child-1739324999.</p><p>Introdução</p><p>Nesse capítulo, é feita reflexão sobre a aquisição da linguagem, mostrando algumas das</p><p>teorias que tentam explicá-la: Empirismo, Behaviorismo, Conexionismo, Racionalismo,</p><p>Inatismo, Construtivismo, Cognitivismo, Interacionismo. A aula mostra como a aquisição da</p><p>linguagem acontece e seus seis estágios de desenvolvimento: balbucio, primeiras palavras,</p><p>enunciados de uma palavra, crescimento vocabular grande, fase telegráfica, explosão</p><p>vocabular.</p><p>Esta aula pretende trazer um pouco da discussão que ocorre a respeito da aquisição da</p><p>língua portuguesa no ambiente acadêmico, mas não se propõe a esgotar o assunto ou a</p><p>criar debates mais aprofundados sobre o tema.</p><p>Objetivos</p><p>» Compreender o mecanismo de aquisição de linguagem.</p><p>» Conhecer as principais teorias e os teóricos que explicam a aquisição.</p><p>» Entender os estágios de desenvolvimento da aquisição da linguagem.</p><p>» Refletir sobre as etapas da aquisição.</p><p>4CAPÍTULO</p><p>AQuISIçãO DA LÍnguA</p><p>32</p><p>CAPÍTULO 4 • AQuISIçãO DA LÍnguA</p><p>Como se dá a aquisição da linguagem?</p><p>O termo AQUISIÇÃO significa adquirir algo, tomar posse, ir atrás. É uma palavra oriunda</p><p>do latim ACQUISITĬO que significa “ato de adquirir”. Adquirir nos remete a algo que não</p><p>esteja à nossa disposição sem que haja algum esforço para a posse, exatamente como</p><p>acontece no processo de aquisição da linguagem.</p><p>Como vimos na aula 3, linguagem é a “Faculdade que tem o homem de exprimir seus</p><p>estados mentais por meio de um sistema de sons vocais” (CÂMARA JR., 1981, p. 149);</p><p>a função da linguagem é servir de instrumento de comunicação dos seres humanos. É</p><p>preciso compreender que, quando falamos em linguagem, não estamos falando apenas de</p><p>linguagem verbal oral: falamos da fala, da escrita e da leitura. Linguagem é a forma peculiar</p><p>que o homem tem de se comunicar com seus semelhantes por meio de símbolos gestuais,</p><p>orais ou escritos (ROTTA et al., 2006, p. 132). Sendo assim, quando falamos da aquisição</p><p>da linguagem, referimo-nos ao processo em que os seres humanos, ainda em tenra idade,</p><p>aprendem sua língua materna.</p><p>A criança não nasce com o cérebro pronto para a aquisição da linguagem: para</p><p>aprendermos nossa língua, é preciso que haja a interação entre o amadurecimento</p><p>de nosso cérebro e o contato com os demais falantes de nosso grupo social. De acordo</p><p>com Steven Pinker (1994), em “O instinto da linguagem”, a aquisição da linguagem (fala)</p><p>ocorre, aproximadamente, aos nove meses de idade e a aquisição da leitura e da escrita,</p><p>aos cinco ou seis anos. Enquanto para a aquisição da fala é necessário que haja maturação</p><p>de cérebro e contato com demais falantes, no processo de aquisição da leitura e da</p><p>escrita é necessário um aprendizado de metodologia específica para que essa vertente da</p><p>aquisição da linguagem aconteça.</p><p>José Luiz Fiorin, em “Introdução à Linguística I. Objetos Teóricos”, trata da aquisição da</p><p>linguagem a partir do estudo das estruturas silábicas, da causatividade (de acordo com os</p><p>verbos usados) e das estruturas relativas (funções das orações e dos pronomes relativos). A</p><p>trajetória do desenvolvimento da linguagem parece ser universal e contínua passando pelos</p><p>seguintes estágios:</p><p>» balbucio - produção de sons: vogais (3-4 meses); consoantes e vogais (em torno dos 6</p><p>meses);</p><p>» primeiras palavras - entre os 10 e 12 meses;</p><p>» enunciados de uma palavra - em torno dos 12 meses;</p><p>» crescimento vocabular grande - entre os 16 e 20 meses;</p><p>» fase telegráfica - primeiras combinações de palavras, entre os 18 e 20 meses;</p><p>33</p><p>AQuISIçãO DA LÍnguA • CAPÍTULO 4</p><p>» explosão vocabular - entre os 24 e 30 meses;</p><p>» domínio das estruturas sintáticas e morfológicas - entre os 3 anos e 3 anos e meio.</p><p>tabela 1. Desenvolvimento da Linguagem da Criança.</p><p>IDADE HABILIDADES</p><p>1 a 3 meses Presta atenção aos sons e se acalma com a voz da mãe. Chora, faz alguns sons, dá gargalhadas.</p><p>4 a 6 meses Procura</p><p>de onde vem o som. grita, faz alguns sons como se estivesse conversando e imita sua voz.</p><p>7 a 11 meses Encontra de qual lado vem som. Faz alguns sons. Repete palavras. Bate palmas, aponta e que quer, dá tchau.</p><p>12 meses Começa a falar as primeiras palavras Imita a ação de outra pessoa.</p><p>18 meses Pede as coisas usando uma palavra. Já sabe falar umas 20 palavras.</p><p>2 anos Consegue dizer frases curtas com duas palavras. Já sabe falar umas 200 palavras.</p><p>3 anos É possível entender tudo o que ele fala, mas às vezes ele conjuga errado. Conhece as cores.</p><p>4 anos Inventa histórias. Compreende regras de jogos simples.</p><p>5 anos Forma frases completas, fala corretamente.</p><p>6 anos Aprende a ler e a escrever.</p><p>Fonte: Adaptado de https://www.reescrevaclinica.com.br/o-desenvolvimento-da-linguagem-oral/.</p><p>Quando assumimos que a linguagem é um meio de comunicação, podendo ser ou não</p><p>verbal, reconhecemos que alguns animais também se comunicam. Podemos afirmar, então,</p><p>que a forma de comunicação dos homens e de alguns animais acontece da mesma maneira?</p><p>A resposta para essa pergunta é não. Qual seria, então, a diferença entre a nossa forma de</p><p>comunicação e a de tais animais? A diferença está no fato de que os animais se comunicam</p><p>por extinto e nós, seres humanos, somos dotados da capacidade de criatividade, o que nos</p><p>torna capazes de refletir sobre o que falamos. Para ilustrar o extinto de comunicação que</p><p>alguns animais possuem, cito a experiência do filósofo grego Aristóteles que, observando</p><p>o comportamento das abelhas, concluiu que existe uma forma de comunicação entre esses</p><p>animais, a qual os tornam capazes de informar questões básicas sobre perigo e localização de</p><p>alimentos, por exemplo.</p><p>Uma publicação em 1959 por Karl Von Frisch, sobre o mesmo comportamento das abelhas,</p><p>confirma as palavras de Aristóteles, comprovando que as abelhas transmitem informações</p><p>através de danças circulares ou em forma de oito. Dependendo da velocidade de seu voo,</p><p>ou para que lado o trajeto em forma de oito é feito, a abelha pode comunicar ao enxame</p><p>questões básicas a respeito do tipo de néctar que foi encontrado, distância, quantidade, etc.</p><p>4.1 As teorias de aquisição</p><p>A aquisição da linguagem é um processo que não acontece por acaso: como vimos</p><p>anteriormente, é preciso que haja o amadurecimento cerebral da criança e que ela esteja</p><p>exposta a situações de comunicação em que outros falantes usem a mesma língua.</p><p>Contudo, existem várias teorias que tentam explicar de que forma as línguas são adquiridas.</p><p>34</p><p>CAPÍTULO 4 • AQuISIçãO DA LÍnguA</p><p>Então, uma criança sem comprometimentos físicos, psíquicos ou neurológicos, atingindo</p><p>seu amadurecimento cerebral e sendo exposta aos falantes de sua língua materna fará</p><p>uso produtivo da língua por volta dos três anos de idade. As teorias sobre a aquisição da</p><p>linguagem tentam explicar o que acontece nesse período de três anos que permite a ela</p><p>estar pronta para usar a língua na idade estimada.</p><p>Figura 10. teorias de Aquisição do conhecimento.</p><p>Fonte: adaptado pela autora de https://slideplayer.com.br/amp/1223430/.</p><p>4.1.1 Empirismo</p><p>O vocábulo empirismo vem do grego έμπειρία, cuja tradução para o latim é experientia, que</p><p>significa, em português, a palavra experiência. No empirismo, o conhecimento acontece</p><p>a partir da experiência e da evidência, experiência sensorial. Para a teoria empirista, o</p><p>ser humano possui a capacidade inata de formar associações entre estímulos ou entre</p><p>estímulos e respostas com base na similaridade ou contiguidade. A estrutura não está no</p><p>indivíduo nem é por ele construída. Ela está no exterior, do lado de fora do indivíduo.</p><p>O empirismo causou uma grande revolução nas ciências exatas, pois, a partir da valorização</p><p>das experiências e do conhecimento, o homem passou a buscar resultados práticos,</p><p>procurando o domínio da natureza. A partir do empirismo, surgiu a metodologia científica.</p><p>Alguns filósofos associados ao empirismo são estes: Aristóteles, Francis Bacon, Thomas</p><p>Hobbes, Robert Boyle, John Locke, George Berkeley e Nicolau Maquiavel.</p><p>35</p><p>AQuISIçãO DA LÍnguA • CAPÍTULO 4</p><p>Figura 11. Estátua de John Locke.</p><p>Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/london-uk-may-06-2019-statue-1714943572.</p><p>4.1.2 Behaviorismo</p><p>Behaviorismo, em inglês, Behaviorism, significa comportamento, conduta. A teoria</p><p>behaviorista previa o aprendizado de comportamentos linguísticos (e não linguísticos) a</p><p>partir de estímulos, reforços e privações. Essa era a visão de Burrhus F. Skinner (1957) para</p><p>o comportamento dos homens. Segundo tal proposta, um estímulo externo provocaria</p><p>uma resposta externa do organismo. Se essa resposta fosse reforçada de modo positivo,</p><p>a tendência seria a manutenção do comportamento. Se a resposta fosse reforçada de</p><p>modo negativo, ou se não fosse reforçada, o comportamento tenderia a desaparecer.</p><p>De acordo com essa teoria, a criança, durante o processo de aquisição da linguagem,</p><p>seria recompensada ou reforçada na sua produção pelos adultos ao seu redor. Vejamos o</p><p>exemplo de Behaviorismo dado por Luís Eduardo Santos em sua dissertação:</p><p>Caso a mãe a retire do berço, ela está reforçando positivamente o</p><p>comportamento da criança, isto é, a criança “aprende” que para sair do</p><p>berço deve chorar. Se, por outro lado, a mãe não atender a criança (reforço</p><p>negativo), esta “aprenderá” que não é chorando que vai conseguir sair de lá. O</p><p>mesmo princípio é usado para o aprendizado da língua. Imagine que a criança</p><p>vê a mamadeira (estímulo) e diz “papá”. Se ela conseguir com isso que lhe</p><p>deem a mamadeira, será reforçada positivamente, “aprenderá” que quando</p><p>quiser comida deve dizer “papá”. Assim, o aprendizado linguístico era análogo</p><p>a qualquer outro aprendizado. (Santos, 2007, p. 25).</p><p>36</p><p>CAPÍTULO 4 • AQuISIçãO DA LÍnguA</p><p>Alguns pensadores e cientistas que influenciaram o Behaviorismo são estes: Burrhus</p><p>Frederic Skinner, Ivan Pavlov, J. R. Kantor, John Broadus Watson.</p><p>4.1.3 Conexionismo</p><p>O conexionismo é uma proposta teórica recente, criada nos últimos quinze anos.</p><p>Esta é uma parte da ciência cognitiva que parte do modelo de redes neurais artificiais</p><p>para explicar as funções cognitivas humanas. Esta teoria tem por objetivo explicar o</p><p>processamento mental, inclusive o processo de aquisição e uso da linguagem. Enquanto</p><p>o behaviorismo nega a existência da mente, o conexionismo tenta explicar o que ocorre</p><p>com os dados de entrada (input) e saída (output) da mente humana. Essa teoria admite que</p><p>o cérebro e suas redes neurais são responsáveis pelo aprendizado imediato no momento</p><p>exato em que ocorre a experiência. Tem como base a interação entre o organismo e o</p><p>ambiente, mas não consegue explicar de forma satisfatória a rapidez com que a criança</p><p>aprende sua língua materna.</p><p>O conexionismo estuda a mente e a aquisição do conhecimento como se ela (mente) fosse</p><p>um computador. Segundo essa teoria, o aprendizado acontece em virtude das relações</p><p>entre os dados de entrada e de saída em termos neurais, em processamentos distribuídos</p><p>em diversas regiões do cérebro, todas elas trabalhando simultaneamente, com o objetivo</p><p>de promover a cognição. A frequência do input reforça a conexão, e a conexão entre os</p><p>neurônios é modificada pelos dados de entrada. A aprendizagem acontece pela modelagem</p><p>estatística de inferências. Segundo Plunkett (2000), os modelos conexionistas podem ser</p><p>treinados para aprender a flexionar os verbos no passado, a sonorizar textos escritos, pegar e</p><p>equilibrar objetos.</p><p>Um nome de grande importância para a forma de pensar em psicologia, denominada</p><p>associacionismo, e para a psicologia educacional, é o do psicólogo americano Edward Lee</p><p>Thorndike (1874-1949).</p><p>4.1.4 Racionalismo</p><p>Para o professor de psicologia e linguística da Universidade de Berkeley, Califórnia, Dan Isaac</p><p>Slobin (1939), as teorias atuais sobre aquisição da linguagem mostram que, ao aprender</p><p>a língua materna, as crianças fazem uso de sua capacidade inata e de suas experiências.</p><p>Contudo, duas correntes racionalistas tentam explicar tal aprendizado:</p><p>» Hipótese gerativista ou inatista, segundo a qual o aprendizado da linguagem não</p><p>depende de uma cognição generalizada e de outras formas de aprendizado.</p><p>» Teorias cognitivistas, construtivistas, as quais sustentam que a linguagem é parte</p><p>da cognição, que o processo responsável pela aprendizagem da língua também é</p><p>responsável por outras formas de aprendizagem.</p><p>37</p><p>AQuISIçãO DA LÍnguA • CAPÍTULO 4</p><p>Figura 12. Racionalismo.</p><p>•</p><p>•</p><p>•</p><p>Fonte: a autora.</p><p>4.1.5 Inatismo</p><p>Segundo a proposta inatista, o ser humano possui uma gramática inata (Chomsky, 1965),</p><p>isto é, ele já nasce com essa gramática, ela não é aprendida. Em concordância com a teoria</p><p>de Chomsky, a criança nasce com um dispositivo de aquisição de linguagem (DAL), que</p><p>é ativado a partir do INPUT de sentenças, o que irá gerar como resposta a gramática da</p><p>língua à qual a criança está exposta. Tal dispositivo é formado por uma série de regras e</p><p>a criança, quando em contato com sentenças de uma língua, seleciona as regras que</p><p>funcionam naquela língua em particular e descarta as que não funcionam. Dessa forma</p><p>é que o teórico comprova que a criança tem uma Gramática Universal (GU) inata que</p><p>contém todas as regras, mas cabendo à criança selecionar quais as usadas na língua que</p><p>está sendo aprendida.</p><p>Alguns teóricos inatistas: Platão (já em Platão era possível perceber tais características),</p><p>Descartes, Espinoza e Leibniz, entre outros.</p><p>4.1.6 Construtivismo</p><p>Um segundo tipo de teoria inatista (≠ do construtivismo clássico, não inatista) considera que</p><p>o mesmo mecanismo responsável pela aquisição da linguagem é também responsável por</p><p>outras capacidades cognitivas (Dan Slobin, 1939, Professor de Psicologia e Linguística da</p><p>Universidade de Berkeley, Califórnia).</p><p>4.1.7 Cognitivismo</p><p>A teoria cognitivista foi desenvolvida a partir dos estudos de Jean Piaget que, nela, vincula</p><p>linguagem e cognição ao conhecimento. Segundo essa proposta, a criança constrói seu</p><p>38</p><p>CAPÍTULO 4 • AQuISIçãO DA LÍnguA</p><p>conhecimento com base em sua experiência com o mundo físico. Piaget propõe que o</p><p>desenvolvimento cognitivo passa por quatro estágios distintos, quais sejam:</p><p>» sensório motor: de 0 a 18 meses (exercícios reflexos, os primeiros hábitos,</p><p>coordenação entre visão e apreensão, busca de objetos desaparecidos);</p><p>» pré-operatório: de 2 a 7 anos (função simbólica ou semiótica, desenhos, imagens</p><p>mentais);</p><p>» operações concretas: de 7 a 12 anos;</p><p>» operações formais: a partir de 12 anos.</p><p>tabela 2. Inatismo x Empirismo x Construtivismo.</p><p>Inatismo Empirismo Construtivismo</p><p>Independência Dependência Interdependência</p><p>Ser Dever Poder</p><p>Revelação Conversão Progresso</p><p>Dissociação Associação Assimilação</p><p>Regulação = aceitação ou compreensão Correções ou confirmações Pré-correções ou antecipações</p><p>Fonte: https://praticasescolares.wordpress.com/.</p><p>4.1.8 Interacionismo</p><p>Na teoria de Vygotsky (1962), é fundamental que o indivíduo se insira em determinado</p><p>meio cultural para que aconteçam mudanças no seu desenvolvimento. Como Piaget,</p><p>ele também acreditava que o desenvolvimento da fala seguia os mesmos princípios que o</p><p>desenvolvimento das demais operações mentais. Para ele, havia uma dissociação entre fala</p><p>e pensamento, uma vez que possuem raízes genéticas diferentes:</p><p>» fase pré-verbal do pensamento, relacionada à inteligência prática;</p><p>» fase pré-intelectual da fala: balbucio e choro por sua função social (= fala sem</p><p>pensamento).</p><p>Nos animais, mesmo nos antropoides cuja fala é foneticamente semelhante</p><p>à fala humana, e cujo intelecto se assemelha ao do homem, a fala e o</p><p>pensamento não são inter-relacionados. Sem dúvida também existem, no</p><p>desenvolvimento da criança, um período pré-linguístico do pensamento</p><p>e um período pré-intelectual da fala. O pensamento e a palavra não são</p><p>ligados por um elo primário. Ao longo da evolução do pensamento e da</p><p>fala, tem início uma conexão entre ambos, que depois se modifica e se</p><p>desenvolve.</p><p>39</p><p>AQuISIçãO DA LÍnguA • CAPÍTULO 4</p><p>No entanto, seria errado considerar o pensamento e a fala como dois</p><p>processos independentes, paralelos, que se cruzam em determinados</p><p>momentos e influenciam mecanicamente um ao outro. A ausência de</p><p>um elo primário não significa que uma conexão entre eles só possa</p><p>estabelecer-se de uma forma mecânica. A ineficácia da maior parte das</p><p>investigações anteriores deveu-se, em grande parte, ao pressuposto de</p><p>que o pensamento e a palavra são elementos isolados e independentes,</p><p>e que o pensamento verbal resulta da união externa entre eles (Vygotsky,</p><p>2011, p. 13).</p><p>De acordo com o pensamento de Vygotsky, por volta dos dois anos, fala e pensamento se</p><p>unem, ocasionando a fala da criança. Nessa fase, a criança demonstra interesse por novas</p><p>palavras e seu vocabulário tende a aumentar. No interacionismo, a criança tenta explicar os</p><p>nomes dos objetos a partir de seus atributos e a simples troca do nome do objeto significa</p><p>trocar as características de tal objeto.</p><p>Um conceito bastante importante no estudo de Vygotsky em relação à aprendizagem é</p><p>o que diz respeito à ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL, segundo a qual explica</p><p>a diferença entre o que a criança consegue fazer sozinha e aquilo que, embora não consiga</p><p>fazer sozinha, é capaz de aprender e realizar com a ajuda de uma pessoa mais experiente. A</p><p>zona de desenvolvimento proximal se refere a tudo que a criança pode desenvolver em termos</p><p>intelectuais quando recebe adequado suporte educacional.</p><p>4.2 Competência Comunicativa</p><p>Para entendermos competência comunicativa, penso que seja interessante voltarmos no</p><p>tempo, ao final da década de 50, e falarmos da teoria gerativista, proposta pelo linguista</p><p>norte-americano Noam Chomsky. Segundo essa teoria, o que falamos não é determinado</p><p>apenas pelo conhecimento do nosso mecanismo linguístico. Este é apenas um dos fatores</p><p>relevantes, somado aos elementos do contexto situacional do falante, ao seu estado</p><p>emocional, ao número de interlocutores e às suas características socioculturais, ao cansaço</p><p>etc. A forma de falar sofre a influência de muitos elementos extralinguísticos que não</p><p>decorrem de nosso conhecimento linguístico. O uso que fazemos da língua, o que resulta</p><p>da soma dos componentes linguísticos que trazemos conosco e de fatores externos significa</p><p>DESEMPENHO. O desempenho é o que realizamos quando falamos, escrevemos e lemos.</p><p>De acordo com a teoria gerativista, a COMPETÊNCIA é o termo que designa o conjunto de</p><p>regras internalizadas que nos permitem reconhecer e emitir enunciados de nossa língua.</p><p>40</p><p>CAPÍTULO 4 • AQuISIçãO DA LÍnguA</p><p>De acordo com essa teoria de Chomsky, a faculdade da linguagem é formada a partir:</p><p>» da gramática universal: todo ser humano é dotado da faculdade da linguagem. Toda</p><p>criança parte do mesmo estado inicial em seu processo de aquisição da linguagem.</p><p>» do ambiente linguístico: cada criança é exposta a um ambiente linguístico particular.</p><p>A faculdade da linguagem vai-se modificando de acordo com a mudança do</p><p>ambiente linguístico.</p><p>4.2.1 Conhecimento linguístico</p><p>Para a gramática gerativa, as pessoas nascem com a capacidade da linguagem, que é</p><p>um componente do cérebro dedicado à língua. A criança nasce com essa faculdade (=</p><p>gramática universal, conjunto de princípios linguísticos determinados geneticamente),</p><p>que é igual em todas as crianças. À medida que ela cresce, essa situação inicial se</p><p>modifica, de acordo com o ambiente linguístico em que é inserida. Assim, a partir</p><p>da interação da informação genética que a criança traz desde o nascimento com sua</p><p>exposição a determinado ambiente linguístico desenvolve o conhecimento da língua e a</p><p>capacidade de se comunicar.</p><p>Figura 13. gerativismo.</p><p>Fonte: a autora.</p><p>Sobre o conhecimento linguístico, Luiz Carlos Cagliari (1994) comenta em “Alfabetização &</p><p>Linguística”:</p><p>Todo falante nativo usa sua língua conforme as regras próprias de seu</p><p>dialeto, espelho da comunidade linguística a que está ligado. Naturalmente,</p><p>há diferenças entre o modo de falar de um dialeto e de outro, mas isso não</p>