Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

<p>1</p><p>PENSAMENTO CRÍTICO DA</p><p>ARQUITETURA, URBANISMO E</p><p>PAISAGISMO</p><p>AULA 6</p><p>Prof.ª Wívian P. P. Diniz</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>O modo de vida urbano e as relações sociais que ele implica não são</p><p>inerentemente antagônicas à conservação dos valores culturais e</p><p>históricos, nem à proteção dos recursos naturais e do ambiente</p><p>construído, sempre que o planejamento e a gestão das áreas urbanas</p><p>e rurais sejam abordados de maneira integrada.</p><p>(Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Pnuma, 1999)</p><p>Nesta etapa, vamos explorar a interação entre cultura, religião,</p><p>antropologia e práticas sociais na arquitetura e no urbanismo. Abordaremos</p><p>temas como participação cidadã, inclusão, diversidade cultural e</p><p>sustentabilidade no planejamento urbano por meio da análise de estudos de</p><p>caso e da compreensão da importância de uma abordagem antropológica e</p><p>cultural na concepção do espaço. Vamos refletir sobre a influência das crenças</p><p>e valores culturais na criação e uso dos espaços construídos, buscando</p><p>desenvolver projetos arquitetônicos e urbanos mais sensíveis e inclusivos.</p><p>CONTEXTUALIZANDO</p><p>Ao longo desta etapa, abordaremos temas relevantes para o processo de</p><p>formação de arquitetos e urbanistas, enfatizando a importância de se considerar</p><p>aspectos sociais, culturais e antropológicos no planejamento e concepção do</p><p>espaço urbano. Essa abordagem holística nos proporcionará uma compreensão</p><p>mais ampla e inclusiva das necessidades das diversas populações, de modo a</p><p>promover a criação de espaços que respeitem e valorizem as diferenças culturais</p><p>e religiosas. Ao integrar esses conhecimentos em nossa prática profissional, nos</p><p>tornaremos mais aptos a desenvolver projetos urbanos e arquitetônicos</p><p>inclusivos e culturalmente sensíveis, o que contribui para a construção de</p><p>cidades mais justas, democráticas e adaptáveis às demandas das comunidades</p><p>que nelas habitam.</p><p>TEMA 1 – RELAÇÃO ENTRE ESPAÇO, CULTURA E SOCIEDADE</p><p>A análise do espaço como produto social e cultural é fundamental para</p><p>compreender sua relação com a sociedade e cultura. A Antropologia desvenda</p><p>as múltiplas camadas de significado do espaço, com contribuições de autores</p><p>como Lefebvre, Segaud e Rose. Lefebvre, em A Produção do Espaço (2006),</p><p>destaca a influência mútua entre espaço e relações sociais. Segaud, em</p><p>3</p><p>Antropologia do Espaço (2016), examina a construção e apropriação do espaço</p><p>pelos indivíduos. Rose, em A Cidade em Harmonia (2019), discute a relação</p><p>entre ciência moderna, civilizações antigas e natureza humana na concepção de</p><p>projetos urbanos harmônicos e sustentáveis.</p><p>A análise de conceitos e teorias desenvolvidos por esses autores e outros</p><p>estudiosos do tema nos possibilitará uma abordagem crítica e inovadora,</p><p>fundamentada na interdisciplinaridade entre Antropologia, Arquitetura e</p><p>Urbanismo. Além disso, buscaremos incorporar contribuições de autores como</p><p>Michel de Certeau (1998), com A Invenção do Cotidiano, que aprofunda as</p><p>discussões sobre a relação entre espaço, cultura e sociedade, bem como os</p><p>processos de construção de identidade e poder no espaço urbano. Com base</p><p>nessa base teórica, pretendemos instigar a reflexão crítica sobre o tema e suas</p><p>implicações no planejamento e gestão do espaço construído.</p><p>1.1 Conceito de espaço na Antropologia</p><p>A Antropologia, ao buscar entender o ser humano e suas manifestações</p><p>culturais, oferece uma perspectiva enriquecedora do espaço, desafiando noções</p><p>simplistas. Autores como Lefebvre (2006) e Segaud (2016) desempenham um</p><p>papel fundamental na formulação de teorias que aprofundam a compreensão</p><p>das inter-relações entre espaço, cultura e sociedade. Lefebvre desenvolve a</p><p>ideia de espaço como produto social e propõe seu conceito tripartite1, enquanto</p><p>Segaud enfatiza a relação entre espaço, cultura e sociedade considerando</p><p>particularidades culturais e dinâmicas sociais.</p><p>Vídeo</p><p>O QUE é Antropologia? – Antropológica. Leitura ObrigaHISTÓRIA, 21</p><p>mar. 2017. Disponível em: . Acesso em: 18 maio</p><p>2023.</p><p>1 O conceito tripartite de espaço de Henri Lefebvre busca compreender a complexidade do</p><p>espaço por meio de três dimensões interconectadas: o espaço percebido, que se refere à</p><p>realidade física e material ao nosso redor, como edifícios e paisagens; o espaço concebido, que</p><p>abrange a dimensão mental e abstrata do espaço, incluindo ideias, representações e</p><p>conhecimentos produzidos pelos seres humanos; e o espaço vivido, que corresponde à</p><p>dimensão emocional e subjetiva, relacionada às experiências individuais, memórias e afetos</p><p>associados a um lugar. Lefebvre argumenta que o espaço é um produto social, resultado das</p><p>interações e relações humanas, enfatizando a importância de analisar as múltiplas dimensões</p><p>do espaço para uma compreensão mais completa e contextualizada.</p><p>4</p><p>1.2 Espaço como produto social e cultural</p><p>O espaço como produto social e cultural enfatiza a relevância das</p><p>interações humanas e manifestações culturais na sua construção e</p><p>transformação. Essa perspectiva reconhece o espaço como dinâmico e mutável,</p><p>resultado de negociações entre indivíduos, grupos e instituições, bem como</p><p>ressalta a necessidade de considerar dimensões sociais e culturais na</p><p>concepção e gestão do ambiente construído.</p><p>Compreender a relação entre espaço e sociedade é crucial para apreciar</p><p>como o ambiente construído é moldado pelas necessidades e dinâmicas sociais,</p><p>afetando a formação de identidades coletivas e relações de poder. Autores como</p><p>Lefebvre (2006) exploram como o espaço é produto das relações sociais e como</p><p>ele influencia e molda essas relações, e Segaud (2016) examina como o espaço</p><p>é construído e apropriado pelos indivíduos, levando em consideração a</p><p>diversidade cultural e as dinâmicas sociais, fornecendo contribuições</p><p>significativas nesse sentido.</p><p>Além disso, perspectivas que abordam questões de gênero ressaltam as</p><p>diferentes vivências de homens e mulheres no espaço, destacando como o</p><p>ambiente construído é moldado e vivenciado de maneira diferente por diferentes</p><p>grupos.</p><p>1.3 Espaço e cultura: manifestações e apropriações</p><p>O espaço, produto das relações sociais e culturais, reflete identidades e</p><p>tradições, sendo influenciado por crenças, valores e práticas de uma sociedade.</p><p>Rapoport (1982) e Michel de Certeau (1998) exploram a comunicação simbólica</p><p>e a apropriação do espaço no ambiente construído, proporcionando uma</p><p>compreensão aprofundada da relação entre espaço e cultura e possibilitando</p><p>uma abordagem crítica e contextualizada de arquitetura e urbanismo.</p><p>O ambiente construído e a paisagem urbana são palcos para a expressão</p><p>e afirmação das identidades de diferentes grupos sociais e culturais. Doreen</p><p>Massey (1994) e David Harvey (2000) discutem a influência das relações de</p><p>poder e identidades coletivas na produção do espaço, destacando a importância</p><p>de um urbanismo inclusivo e democrático. Essas reflexões fornecem uma base</p><p>teórica para entender o papel do espaço na construção e afirmação das</p><p>5</p><p>identidades coletivas e possibilitam uma análise crítica e contextualizada da vida</p><p>social e cultural das comunidades.</p><p>TEMA 2 – IDENTIDADE E LUGAR NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO</p><p>A identidade desempenha um papel crucial na compreensão do ambiente</p><p>construído, de modo a influenciar a relação dos indivíduos e grupos sociais com</p><p>o espaço e atribuir significados e vínculos emocionais aos lugares.</p><p>Analisaremos, neste tópico, elementos culturais e simbólicos presentes no</p><p>espaço urbano, bem como a construção de identidades coletivas e a presença</p><p>de cultura, símbolos e memória no ambiente urbano. Com base nas obras de</p><p>Edward Relph (2008), Yi-Fu Tuan (1977) e David Harvey (2000), buscaremos</p><p>compreender a relação entre identidade, lugar e espaço urbano, enfatizando a</p><p>necessidade de abordagens inclusivas e democráticas em arquitetura e</p><p>urbanismo.</p><p>2.1 Identidade e lugar: conceitos e relações</p><p>Identidade é um termo que engloba características, valores, tradições e</p><p>histórias que distinguem indivíduos e grupos sociais uns dos outros. O lugar, por</p><p>sua vez, é a manifestação concreta do espaço, carregado de significados e</p><p>experiências vividas que o tornam único e reconhecível. Assim, a relação entre</p><p>identidade e lugar é estabelecida na medida em que indivíduos e comunidades</p><p>se apropriam do espaço e o transformam em algo significativo, conectado às</p><p>suas vivências e histórias.</p><p>Os teóricos Edward Relph (2008) e Yi-Fu Tuan (1977) fornecem</p><p>contribuições fundamentais para a compreensão desses conceitos. Relph</p><p>argumenta que a identidade de um lugar é construída por meio da interação entre</p><p>aspectos físicos, sociais e culturais, dando origem a um senso de pertencimento</p><p>e conexão emocional. Em contrapartida, Tuan destaca que o lugar é um espaço</p><p>vivido e experimentado, no qual as pessoas criam significados e constroem suas</p><p>identidades. Portanto, analisar a interação entre identidade e lugar nos leva a</p><p>compreender a complexidade e a diversidade do espaço urbano, bem como a</p><p>forma como as pessoas se relacionam e se apropriam do ambiente construído.</p><p>6</p><p>Vídeos</p><p>RESUMO do Livro Yi-Fu Tuan – Espaço e lugar_A Perspectiva da</p><p>experiência. Núbia Marques, 19 ago. 2021. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 18 maio 2023.</p><p>EM TESE – A relação do ser humano com o lugar onde vive (16/10/13).</p><p>UFPR TV, 17 out. 2013. Disponível em: . Acesso em: 18 maio 2023.</p><p>2.2 Construção de identidades coletivas por meio do espaço</p><p>A identidade coletiva2 se forma com base nas experiências</p><p>compartilhadas, nos valores culturais, nas tradições e nos símbolos que unem</p><p>um grupo social e diferenciam-no dos demais. O espaço, portanto, é um</p><p>elemento crucial nesse processo, já que é nele que as práticas sociais e culturais</p><p>se desenvolvem e se manifestam.</p><p>Nesse contexto, Doreen Massey (1994), em Space, Place, and Gender,</p><p>argumenta que os lugares são construídos por meio de interações sociais e</p><p>relações de poder, e que a identidade coletiva é forjada em meio a essas</p><p>dinâmicas. Da mesma forma, David Harvey (2000) destaca o papel do espaço</p><p>na construção de identidades e na luta por justiça social e reconhecimento</p><p>cultural. Essas abordagens nos possibilitam compreender que a construção das</p><p>identidades coletivas por meio do espaço é um processo contínuo e em</p><p>constante transformação, no qual os grupos sociais se apropriam e reinterpretam</p><p>o ambiente construído, criando novos significados e afirmações de</p><p>pertencimento. Assim, analisar como as identidades coletivas são construídas e</p><p>negociadas no espaço urbano nos leva a uma compreensão mais inclusiva e</p><p>democrática do ambiente construído e das relações sociais nele estabelecidas.</p><p>2 A identidade coletiva é um conceito que se refere ao conjunto de características, crenças,</p><p>valores e experiências compartilhadas por um grupo, comunidade ou sociedade, que contribuem</p><p>para a construção de um senso comum de pertencimento e diferenciação em relação a outros</p><p>grupos. Essa identidade é moldada e reforçada por meio de tradições, rituais, símbolos, histórias</p><p>e práticas sociais, e pode ser influenciada por fatores como etnia, religião, classe, gênero e</p><p>nacionalidade. A identidade coletiva é dinâmica e pode se transformar ao longo do tempo, em</p><p>resposta a mudanças culturais, desafios e interações com outros grupos, desempenhando um</p><p>papel fundamental na formação da solidariedade, cooperação e mobilização política dentro de</p><p>uma comunidade.</p><p>7</p><p>2.3 Cultura, símbolos e memória no espaço urbano</p><p>A cidade é um palco no qual a cultura se expressa por meio de diversas</p><p>manifestações artísticas, arquitetônicas e sociais. É no espaço urbano que a</p><p>memória coletiva é preservada e transmitida às futuras gerações, e os símbolos</p><p>culturais assumem um papel central na construção das identidades e na</p><p>promoção do sentido de pertencimento.</p><p>Yi-Fu Tuan (1977) ressalta a importância dos símbolos e da memória na</p><p>criação de lugares com significado, em que as pessoas podem se relacionar e</p><p>se identificar. Já Aldo Rossi (1995), em A Arquitetura da Cidade, defende que a</p><p>arquitetura e o espaço urbano são depositários de memórias coletivas3 e devem</p><p>ser entendidos como um sistema de símbolos que expressa a cultura e a história</p><p>de uma comunidade. Essas perspectivas nos mostram que o espaço urbano é</p><p>um ambiente multifacetado, permeado por elementos culturais e simbólicos que</p><p>refletem as experiências, as tradições e as aspirações das pessoas que o</p><p>habitam.</p><p>Vídeo</p><p>ARQUICAST 040 – Livros clássicos: A Arquitetura da Cidade. ArquiCast,</p><p>1.º fev. 2021. Disponível em: . Acesso em: 18</p><p>maio 2023.</p><p>2.4 Espaços de resistência e manifestação cultural</p><p>Discutiremos a emergência dos espaços de resistência4 e manifestação</p><p>cultural no contexto urbano. Esses espaços se caracterizam como locais em que</p><p>grupos e indivíduos se reúnem para expressar suas identidades culturais,</p><p>3 A memória coletiva é um fenômeno sociocultural que se refere à maneira como um grupo,</p><p>sociedade ou cultura compartilha e preserva lembranças, experiências e conhecimentos</p><p>passados. Essa memória é construída e transmitida por meio de tradições, rituais, símbolos,</p><p>histórias e instituições sociais, moldando a identidade coletiva e influenciando a percepção e</p><p>interpretação dos eventos históricos. A memória coletiva é dinâmica, podendo ser reinterpretada</p><p>e adaptada ao longo do tempo, à medida que as comunidades enfrentam novos desafios e</p><p>mudanças culturais.</p><p>4 Espaços de resistência são locais físicos ou simbólicos em que grupos e indivíduos se engajam</p><p>em ações e práticas contrárias às normas, poderes ou políticas dominantes, buscando afirmar</p><p>sua identidade, valores e direitos. Esses espaços podem se manifestar em diferentes escalas,</p><p>desde comunidades locais até contextos globais, e assumir diversas formas, como movimentos</p><p>sociais, expressões artísticas, ocupações e iniciativas comunitárias. Os espaços de resistência</p><p>desempenham um papel fundamental na promoção da justiça social, do empoderamento e da</p><p>transformação política e cultural, desafiando e contestando estruturas de poder estabelecidas e</p><p>hierarquias sociais.</p><p>https://youtu.be/1aNAX-iAiwU</p><p>8</p><p>promover a diversidade e reivindicar direitos e reconhecimento. Tais espaços</p><p>muitas vezes surgem como resposta a processos de exclusão, gentrificação ou</p><p>homogeneização cultural, funcionando como importantes instrumentos de</p><p>preservação e valorização das identidades e tradições locais.</p><p>David Harvey (2014), em Cidades rebeldes, aborda como a cidade é um</p><p>espaço de luta política e cultural, em que movimentos sociais e manifestações</p><p>artísticas desafiam as estruturas de poder e reivindicam o direito à cidade. Nesse</p><p>sentido, os espaços de resistência e manifestação cultural são cruciais para</p><p>promover a inclusão e a diversidade no ambiente urbano. Autores como Michel</p><p>de Certeau (1998) e Henri Lefebvre (2006) também enfatizam a importância das</p><p>práticas cotidianas e da apropriação do espaço urbano pelos indivíduos e grupos</p><p>como forma de resistência e expressão cultural. Analisar esses espaços e suas</p><p>dinâmicas é fundamental para entender as complexas relações entre identidade,</p><p>cultura e espaço urbano e, assim, desenvolver políticas públicas e projetos</p><p>urbanísticos mais sensíveis às demandas e necessidades das diversas</p><p>comunidades que compõem a cidade.</p><p>2.5 Importância do lugar na sustentabilidade cultural</p><p>A sustentabilidade cultural é um conceito que engloba a preservação de</p><p>tradições, valores, crenças e práticas culturais de um grupo ou comunidade ao</p><p>longo do tempo, levando em conta aspectos sociais, econômicos e ambientais.</p><p>Nesse sentido, o lugar desempenha um papel fundamental na sustentabilidade</p><p>cultural, pois é o espaço em que</p><p>essas práticas culturais são vividas,</p><p>compartilhadas e transmitidas de geração em geração.</p><p>Doreen Massey (1994) argumenta que a construção do lugar é um</p><p>processo contínuo e dinâmico, moldado pelas interações e relações sociais e</p><p>culturais que ocorrem em um dado espaço. Assim, a sustentabilidade cultural</p><p>está intimamente ligada à capacidade de manter e fortalecer a relação entre as</p><p>pessoas e os lugares que habitam. David Harvey (2000) também aborda a</p><p>importância do lugar na formação da identidade e na construção da cultura,</p><p>ressaltando que a relação entre espaço e cultura é fundamental para a</p><p>sustentabilidade das comunidades locais.</p><p>9</p><p>TEMA 3 – PARTICIPAÇÃO CIDADÃ NA CONCEPÇÃO E GESTÃO DOS</p><p>ESPAÇOS PÚBLICOS</p><p>A participação cidadã5 é um elemento fundamental para garantir a</p><p>democracia e a inclusão social, o que possibilita que diferentes vozes e</p><p>interesses sejam considerados na tomada de decisões e na execução de</p><p>projetos que afetam o espaço urbano. Os espaços públicos são locais de</p><p>encontro, expressão e convívio, e sua qualidade e acessibilidade têm impacto</p><p>direto na vida cotidiana dos habitantes. Nesse contexto, autores como Jan Gehl</p><p>(2013) e Jane Jacobs (2011) têm defendido a importância da participação cidadã</p><p>no planejamento urbano e no desenho dos espaços públicos.</p><p>Neste tópico, discutiremos como o empoderamento das comunidades no</p><p>processo de construção do espaço pode contribuir para um ambiente urbano</p><p>mais justo, inclusivo e sustentável. Analisaremos exemplos de projetos</p><p>participativos e comunitários que ilustram a eficácia da participação cidadã na</p><p>concepção e gestão dos espaços públicos. Abordaremos também os métodos e</p><p>desafios do planejamento e gestão participativa, bem como os benefícios e</p><p>obstáculos inerentes à promoção da participação cidadã no espaço urbano.</p><p>Nesse sentido, a obra de Arnstein (2002), Uma escada da participação cidadã,</p><p>é uma referência importante para entender os diferentes níveis e formas de</p><p>participação cidadã na tomada de decisões e gestão dos espaços públicos.</p><p>3.1 Participação cidadã e democracia na construção do espaço público</p><p>A participação cidadã e a democracia estão intrinsecamente relacionadas</p><p>à construção do espaço público, promovendo inclusão, transparência e</p><p>responsabilidade. Autores como Habermas (2014) e Lefebvre (2006) destacam</p><p>a importância do diálogo aberto e inclusivo entre cidadãos e autoridades,</p><p>defendendo um processo participativo na construção do espaço público. O</p><p>5 A participação cidadã é um processo que envolve o engajamento ativo e a contribuição dos</p><p>cidadãos nas decisões políticas, sociais e culturais que afetam suas vidas, comunidades e</p><p>sociedade em geral. Essa participação pode ocorrer em diversos níveis, desde a tomada de</p><p>decisões no âmbito local até a formulação de políticas públicas em escala nacional ou</p><p>internacional, e por intermédio de diferentes mecanismos, como votação, consultas públicas,</p><p>assembleias populares, organizações da sociedade civil e mídias sociais. A participação cidadã</p><p>é fundamental para o fortalecimento da democracia, a promoção da justiça social e a efetividade</p><p>das políticas públicas, garantindo que as demandas, necessidades e perspectivas dos cidadãos</p><p>sejam levadas em consideração no processo decisório.</p><p>10</p><p>engajamento dos cidadãos vai além da consulta, incluindo a capacidade de</p><p>influenciar políticas urbanas significativamente. Segundo Carmona et al. (2010),</p><p>a participação efetiva requer compromisso contínuo e mecanismos que</p><p>oportunizem a colaboração entre diferentes atores, resultando em um ambiente</p><p>urbano mais inclusivo, equitativo e sustentável.</p><p>3.2 Empoderamento e apropriação comunitária do espaço</p><p>O empoderamento e a apropriação comunitária do espaço6 estão</p><p>relacionados à capacidade das comunidades, especialmente as marginalizadas,</p><p>de influenciar a produção e transformação do espaço urbano. Isso ocorre quando</p><p>os cidadãos obtêm maior controle sobre recursos e processos decisórios que</p><p>afetam suas vidas e comunidades. A apropriação comunitária possibilita que</p><p>grupos locais moldem seu ambiente de acordo com suas necessidades e</p><p>aspirações, refletindo e valorizando suas identidades e culturas, conforme</p><p>destacado por Massey (1994).</p><p>Movimentos sociais urbanos exemplificam o empoderamento e a</p><p>apropriação comunitária do espaço, lutando pela democratização da cidade e</p><p>garantia de direitos como moradia, transporte e espaços públicos de qualidade.</p><p>Ao promover a participação ativa dos moradores no planejamento e gestão do</p><p>espaço urbano, esses movimentos favorecem o desenvolvimento de cidades</p><p>inclusivas e democráticas, com vistas a valorizar a diversidade cultural. Ações</p><p>como projetos comunitários de habitação, reivindicação de espaços públicos</p><p>abandonados e criação de hortas comunitárias demonstram como esses</p><p>processos contribuem para a construção de cidades mais justas e sustentáveis.</p><p>6 Empoderamento e apropriação comunitária do espaço referem-se ao processo pelo qual</p><p>indivíduos e comunidades adquirem maior controle, autonomia e participação ativa na tomada</p><p>de decisões, na gestão e no uso dos espaços físicos e simbólicos que afetam suas vidas e bem-</p><p>estar. Esse processo envolve o desenvolvimento de habilidades, conhecimentos e capacidades</p><p>necessárias para exercer influência e promover mudanças positivas em seus contextos</p><p>espaciais, sociais e culturais. O empoderamento e a apropriação comunitária do espaço</p><p>fortalecem a coesão e a resiliência dos grupos, ao mesmo tempo que promovem a equidade, a</p><p>justiça social e o desenvolvimento sustentável, de modo a possibilitar que as comunidades</p><p>transformem e moldem seus ambientes de acordo com suas necessidades, aspirações e</p><p>identidades coletivas.</p><p>11</p><p>Leitura complementar</p><p>Camilla Ghisleni. Ecofeminismo na arquitetura: empoderamento e</p><p>preocupação ambiental. ArchDaily Brasil, 24 abr. 2023. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 18 maio 2023.</p><p>3.3 Planejamento e gestão participativa: métodos e desafios</p><p>O planejamento e a gestão participativa são fundamentais para atender</p><p>aos interesses e necessidades dos cidadãos no espaço urbano. Métodos como</p><p>audiências públicas, oficinas comunitárias, orçamento participativo e plataformas</p><p>digitais colaborativas proporcionam envolvimento direto na tomada de decisões</p><p>e formulação de políticas e projetos urbanos. Entretanto, desafios como</p><p>desigualdade de poder, representatividade e limitações burocráticas e de</p><p>recursos podem dificultar a eficácia das iniciativas participativas. Para superar</p><p>tais desafios, é crucial garantir inclusão, equidade e representatividade, além de</p><p>mecanismos eficientes para implementação e monitoramento das políticas e</p><p>projetos desenvolvidos por meio do processo participativo.</p><p>A participação cidadã no espaço urbano traz benefícios e enfrenta</p><p>desafios como inclusão de diferentes vozes e interesses, desigualdades</p><p>socioeconômicas e culturais, bem como falta de recursos para implementação</p><p>de projetos participativos. Porém, quando bem conduzidos, os processos de</p><p>participação promovem soluções mais adequadas e criativas, empoderamento</p><p>das comunidades, fortalecimento da capacidade de negociação e ação política,</p><p>e a construção de uma cidade mais democrática e inclusiva. A apropriação</p><p>comunitária do espaço público melhora a qualidade de vida, segurança e</p><p>identidade local, fomentando o sentido de pertencimento e sustentabilidade</p><p>cultural. Portanto, enfrentar os desafios e potencializar os benefícios da</p><p>participação cidadã no espaço urbano é essencial para promover cidades mais</p><p>justas e equitativas.</p><p>3.4 Exemplos de projetos participativos e comunitários</p><p>Existem diversos exemplos de projetos participativos e comunitários que</p><p>ilustram a importância da participação cidadã na concepção e gestão do espaço</p><p>público. Um exemplo notável</p><p>é o projeto “Parque Minhocão”, na cidade de São</p><p>12</p><p>Paulo, Brasil. O Minhocão, um elevado que corta o centro da cidade, foi</p><p>transformado temporariamente em um parque público aos fins de semana, com</p><p>o engajamento de organizações comunitárias e ativistas locais. A participação</p><p>popular foi fundamental para a criação de um espaço de lazer e convivência,</p><p>possibilitando a requalificação de uma área outrora degradada e promovendo a</p><p>qualidade de vida urbana.</p><p>Figura 1 – Vista aérea do viaduto Presidente João Goulart, também conhecido</p><p>como Minhocão, e bairro de Santa Cecília, localizado no centro da cidade de São</p><p>Paulo, Brasil</p><p>Crédito: Nelson Antoine/Adobe Stock.</p><p>Vídeo</p><p>ARQUITETURAS: Minhocão. Sesc TV, 1.º nov. 2015. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 18 maio 2023.</p><p>Saiba mais</p><p>SÃO PAULO. Gestão Urbana. PIU Minhocão. Disponível em: . Acesso em: 18 maio</p><p>2023.</p><p>Outro exemplo é a iniciativa “Park(ing) Day”, que promove a</p><p>transformação temporária de vagas de estacionamento em miniparques e</p><p>espaços de convivência, mostrando o potencial de projetos de pequena escala</p><p>e a apropriação cidadã do espaço público.</p><p>13</p><p>Saiba mais</p><p>O Park(ing) day é um projeto global, público e participativo em que as</p><p>pessoas em todo o mundo reaproveitam temporariamente os espaços de</p><p>estacionamento nas calçadas e os convertem em parques públicos e espaços</p><p>sociais para defender ruas mais seguras, verdes e igualitárias para as pessoas.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 18 maio 2023.</p><p>Vídeo</p><p>PARK(ING) day São Paulo. Urb-i, 18 set. 2016. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 18 maio 2023.</p><p>Esses projetos demonstram que, por meio de ações participativas e</p><p>comunitárias, é possível transformar o espaço urbano de maneira a atender às</p><p>necessidades e demandas dos cidadãos. No entanto, é fundamental que essas</p><p>iniciativas sejam articuladas com políticas públicas e planejamento urbano de</p><p>longo prazo, de modo a garantir a sustentabilidade e continuidade dessas</p><p>intervenções. Além disso, a participação efetiva e inclusiva de diferentes atores</p><p>sociais é crucial para assegurar que os projetos participativos e comunitários</p><p>sejam bem-sucedidos e reflitam as aspirações e desejos de toda a comunidade.</p><p>Dessa forma, a valorização da participação cidadã e do envolvimento</p><p>comunitário no planejamento e gestão do espaço urbano pode levar à criação de</p><p>cidades mais democráticas, inclusivas e sustentáveis.</p><p>TEMA 4 – COMPREENSÃO DA CULTURA E PRÁTICAS SOCIAIS NA</p><p>ARQUITETURA E URBANISMO</p><p>Considerar os aspectos culturais e sociais ao projetar e planejar espaços</p><p>urbanos e arquitetônicos é essencial, pois influenciam diretamente a qualidade</p><p>de vida e a sustentabilidade das comunidades. Seguindo a abordagem</p><p>antropológica e cultural defendida por Hall (2006), Augé (1994), Rapoport (1982)</p><p>e Sennett (1970), é possível garantir a inclusão e adequação das diferentes</p><p>populações no espaço construído. Essa abordagem enfatiza a importância de</p><p>considerar os aspectos culturais e sociais no planejamento e projeto de espaços</p><p>urbanos e arquitetônicos. Também busca compreender as complexas interações</p><p>entre as pessoas, seus sistemas de crenças, práticas culturais e o ambiente</p><p>construído, promovendo a inclusão e adequação das diferentes populações no</p><p>espaço.</p><p>https://www.myparkingday.org/</p><p>https://youtu.be/8ua63-NCV28</p><p>14</p><p>Ao levar em conta fatores como identidade cultural, tradições, rituais e</p><p>padrões de comportamento, planejadores(as) e arquitetos(as) podem projetar</p><p>espaços que respondam às necessidades e aspirações das comunidades,</p><p>incentivando a diversidade e a equidade. Essa perspectiva holística contribui</p><p>para a qualidade de vida e a sustentabilidade das comunidades, garantindo que</p><p>o espaço construído reflita e respeite as características e valores culturais e</p><p>sociais dos grupos que o habitam.</p><p>Profissionais de arquitetura e urbanismo devem compreender e</p><p>considerar as práticas culturais e sociais das comunidades, levando a soluções</p><p>inovadoras e sustentáveis que promovam inclusão e diversidade no ambiente</p><p>construído (Tuan, 1977). Além disso, essa abordagem sensível ao contexto pode</p><p>contribuir para a criação de espaços públicos vibrantes, acolhedores e seguros,</p><p>nos quais as comunidades possam se conectar e interagir entre si (Gehl, 2013).</p><p>Vídeos</p><p>ARQUITETURA e comunidade | Jô Vasconcellos | TEDxPUCMinas. TEDx</p><p>Talks, 20 ago. 2019. Disponível em: . Acesso</p><p>em: 18 maio 2023.</p><p>ARQUITETURA hostil e cartografia afetiva | Jamile Borges |</p><p>TEDxRioVermelho. TEDx Talks, 3 fev. 2020. Disponível em: . Acesso em: 18 maio 2023.</p><p>4.1 Necessidade de uma abordagem antropológica e cultural na</p><p>concepção do espaço</p><p>A incorporação de uma abordagem antropológica e cultural na concepção</p><p>do espaço7 é fundamental para compreender e respeitar as complexidades das</p><p>comunidades e dos indivíduos que habitam esses espaços. A arquitetura e o</p><p>urbanismo devem criar espaços que reflitam e respeitem a diversidade cultural</p><p>7 A abordagem antropológica e cultural na concepção do espaço refere-se ao estudo e à</p><p>compreensão dos espaços físicos e simbólicos em relação às práticas culturais, interações</p><p>sociais e sistemas de significado das comunidades e sociedades humanas. Essa abordagem</p><p>enfatiza a diversidade de formas como diferentes culturas percebem, interpretam, organizam e</p><p>utilizam o espaço, levando em consideração aspectos como história, tradições, crenças, valores</p><p>e relações de poder. Ao adotar essa perspectiva, é possível analisar e projetar espaços urbanos,</p><p>arquitetônicos e paisagísticos de maneira mais inclusiva, sustentável e culturalmente sensível,</p><p>reconhecendo e valorizando as múltiplas dimensões e significados do espaço no contexto das</p><p>experiências e identidades humanas.</p><p>https://youtu.be/NpxSj4HUF1I</p><p>15</p><p>e social das comunidades, promovendo a inclusão e a justiça espacial (Sennett,</p><p>1970).</p><p>Nesse sentido, devemos adotar uma postura de escuta ativa e empatia,</p><p>buscando compreender e incorporar as perspectivas das comunidades</p><p>envolvidas no projeto. Abordagens multidisciplinares e participativas são</p><p>essenciais para envolver as comunidades e os indivíduos diretamente afetados</p><p>pelo projeto e aprender com experiências anteriores e exemplos bem-sucedidos</p><p>de projetos inclusivos.</p><p>A diversidade cultural é um aspecto fundamental das cidades</p><p>contemporâneas, trazendo consigo uma riqueza de tradições, conhecimentos e</p><p>experiências que podem enriquecer o ambiente urbano (Sennett, 1970). No</p><p>entanto, essa diversidade também apresenta desafios significativos para o</p><p>planejamento urbano, uma vez que os(as) profissionais devem encontrar formas</p><p>de acomodar e valorizar as diferenças culturais, evitando a segregação e a</p><p>marginalização de comunidades específicas. Para enfrentar esses desafios, é</p><p>essencial promover o diálogo intercultural e a participação ativa das</p><p>comunidades na concepção e gestão dos espaços urbanos (Fainstein, 2013).</p><p>4.2 Projetos arquitetônicos e urbanos culturalmente sensíveis e inclusivos</p><p>Projetos arquitetônicos e urbanos culturalmente sensíveis e inclusivos são</p><p>aqueles que levam em consideração práticas, tradições e valores das diversas</p><p>comunidades presentes no espaço urbano. Esses projetos têm como objetivo</p><p>promover a convivência harmoniosa entre diferentes grupos culturais e sociais,</p><p>incentivando o diálogo intercultural e a troca de experiências. Nesse contexto, é</p><p>fundamental que os(as) arquitetos(as) e urbanistas adotem uma postura</p><p>reflexiva e crítica em relação às suas próprias práticas e concepções de espaço,</p><p>buscando sempre aprender com as comunidades e os contextos culturais nos</p><p>quais atuam.</p><p>Uma abordagem efetiva para desenvolver projetos culturalmente</p><p>sensíveis e inclusivos envolve</p><p>trabalhar em colaboração com as comunidades</p><p>locais, a fim de compreender suas necessidades e aspirações (Manzo; Perkins,</p><p>2006). Isso pode incluir a realização de oficinas participativas, entrevistas e</p><p>observações etnográficas, entre outras estratégias de engajamento. Além disso,</p><p>é importante que os(as) arquitetos(as) e urbanistas estejam abertos a incorporar</p><p>elementos das culturas locais em seus projetos, como materiais, técnicas</p><p>16</p><p>construtivas e elementos simbólicos, contribuindo assim para a construção de</p><p>um ambiente urbano que reflita e valorize a diversidade cultural presente nas</p><p>cidades contemporâneas (Fainstein, 2013).</p><p>TEMA 5 – ESTUDOS DE CASO: DIFERENTES FORMAS DE HABITAÇÃO E</p><p>INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO E CRENÇAS NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO</p><p>Neste tópico, exploramos a relação entre antropologia, cultura e</p><p>arquitetura/urbanismo por meio de estudos de caso, enfocando diversas formas</p><p>de habitação e a influência da religião e crenças na produção do espaço. Essa</p><p>compreensão é crucial para perceber como tradições e culturas moldam o</p><p>ambiente construído em diferentes contextos e épocas. Abordaremos temas</p><p>como habitação, contexto cultural, condições ambientais e integração de</p><p>espaços sagrados e profanos no planejamento urbano. Ao adotar uma</p><p>abordagem interdisciplinar conectando antropologia, arquitetura e urbanismo,</p><p>vamos aprofundar nosso entendimento da complexidade do espaço construído</p><p>e suas dimensões culturais, sociais e ambientais.</p><p>5.1 Estudos de caso: antropologia, cultura e arquitetura/urbanismo</p><p>A seguir, abordamos estudos de caso que ilustram a interação entre</p><p>antropologia, cultura e arquitetura/urbanismo, evidenciando como a arquitetura</p><p>e o urbanismo podem ser entendidos como manifestações culturais que refletem</p><p>as práticas sociais e os valores de uma comunidade (Rapoport, 1982). Esses</p><p>estudos de caso podem abranger diferentes contextos e escalas, desde projetos</p><p>arquitetônicos de edifícios específicos até intervenções urbanas em bairros ou</p><p>cidades inteiras. Um exemplo emblemático é a análise do trabalho do arquiteto</p><p>Hassan Fathy, no Egito, que, ao empregar técnicas vernáculas e materiais locais,</p><p>conseguiu desenvolver projetos habitacionais de baixo custo, respeitando as</p><p>tradições culturais e o contexto ambiental da região.</p><p>17</p><p>Figura 2 – Aldeia de New Baris de Hassan Fathy</p><p>Crédito: Csobno/Shutterstock.</p><p>Outro exemplo interessante é a cidade de Curitiba, no Brasil, que se</p><p>tornou referência em planejamento urbano sustentável, em parte graças à</p><p>abordagem integrada de seu ex-prefeito e arquiteto, Jaime Lerner. A cidade</p><p>implementou soluções inovadoras de transporte público e gestão de resíduos,</p><p>bem como a criação de espaços públicos acessíveis e inclusivos, respeitando a</p><p>diversidade cultural e social de seus habitantes.</p><p>Vídeo</p><p>RODA Viva | Jaime Lerner | 2010. Roda Viva. 27 maio 2021. Disponível</p><p>em: . Acesso em: 18 maio 2023.</p><p>5.2 Diferentes formas de habitação: contexto cultural e adaptação ao</p><p>meio ambiente</p><p>Diversas culturas desenvolveram soluções habitacionais distintas,</p><p>baseadas em suas tradições, valores e necessidades. Essas formas de</p><p>habitação são fruto de um processo evolutivo que considera as condições</p><p>ambientais locais, como clima e recursos naturais, e a organização social,</p><p>política e econômica das comunidades. A arquitetura vernácula, por exemplo, é</p><p>caracterizada por soluções habitacionais desenvolvidas em resposta a desafios</p><p>18</p><p>ambientais e culturais específicos, como o uso de materiais e técnicas de</p><p>construção locais que se alinham às tradições e modos de vida das comunidades</p><p>(Rapoport, 1982). Entre os exemplos de diferentes formas de habitação,</p><p>podemos citar as casas de adobe no Novo México (EUA), que são construídas</p><p>com blocos de barro e palha, adaptadas às condições áridas e quentes da região</p><p>e às tradições culturais locais.</p><p>Figura 3 – O pueblo de Taos, no Novo México, apresenta estruturas de adobe</p><p>empilhadas umas sobre as outras</p><p>Crédito: Bill Florence/Shutterstock.</p><p>Outro exemplo é a habitação tradicional japonesa conhecida como Minka,</p><p>que incorpora elementos como o tatame e o engawa, o que proporciona espaços</p><p>multifuncionais e uma conexão com a natureza, e reflete os valores culturais</p><p>japoneses.</p><p>19</p><p>Figura 4 – Habitação tradicional japonesa ou Minka: tatames no piso e engawa</p><p>circulando o pátio interno</p><p>Crédito: Mtaira/Adobe Stock.</p><p>5.3 Influência da religião e crenças na concepção do espaço construído</p><p>Abordaremos a influência da religião e das crenças na concepção do</p><p>espaço construído, destacando como esses elementos culturais moldam a</p><p>arquitetura e o urbanismo. A relação entre a religião e o espaço construído é</p><p>complexa e multifacetada, pois envolve aspectos simbólicos, funcionais e</p><p>organizacionais. Por exemplo, a distribuição e orientação dos edifícios religiosos,</p><p>como igrejas, mesquitas e templos, pode ser influenciada por crenças e práticas</p><p>religiosas, como a direção da oração ou a necessidade de espaços específicos</p><p>para rituais e cerimônias.</p><p>As crenças religiosas também podem influenciar a configuração do</p><p>espaço doméstico e público, como no caso das casas islâmicas tradicionais, que</p><p>são organizadas em torno de um pátio central e apresentam uma separação</p><p>rígida entre os espaços privados e públicos, o que reflete os princípios de</p><p>modéstia e privacidade do Islã.</p><p>Outro exemplo é a cidade de Teotihuacán, no México, onde a disposição</p><p>urbana e a arquitetura monumental refletem as crenças religiosas e</p><p>20</p><p>cosmológicas dos habitantes pré-hispânicos, com templos e pirâmides alinhados</p><p>aos pontos cardeais e a disposição das estruturas seguindo um plano reticular.</p><p>Portanto, compreender a influência da religião e das crenças na</p><p>concepção do espaço construído é crucial para respeitar e valorizar a</p><p>diversidade cultural e desenvolver abordagens sensíveis e inclusivas no</p><p>planejamento urbano e arquitetônico.</p><p>Vídeo</p><p>A Cidade asteca de Teotihuacán | Invenções Lendárias | History. History</p><p>Brasil, 13 fev. 2023. Disponível em: . Acesso</p><p>em: 18 maio 2023.</p><p>5.4 Espaços sagrados e profanos: uso e significado</p><p>O espaço sagrado é aquele que tem um significado simbólico e espiritual,</p><p>sendo dedicado a atividades religiosas e cerimoniais, enquanto o espaço profano</p><p>é destinado a atividades seculares e cotidianas. Essa distinção revela a maneira</p><p>como as sociedades humanas atribuem valor e significado ao espaço,</p><p>organizando-o de acordo com suas crenças e práticas culturais.</p><p>A relação entre espaços sagrados e profanos pode ser observada em</p><p>diversos contextos e culturas. Por exemplo, em cidades indianas tradicionais, os</p><p>templos geralmente ocupam uma posição central e são cercados por áreas</p><p>comerciais e residenciais, o que reflete a interação entre a vida espiritual e</p><p>cotidiana. Em contrapartida, na arquitetura cristã medieval, as igrejas e catedrais</p><p>não apenas serviam como locais de culto, mas também como centros de</p><p>atividade social e econômica, demonstrando a interpenetração dos domínios</p><p>sagrado e profano. Ao analisar o uso e o significado dos espaços sagrados e</p><p>profanos, é possível obter insights valiosos sobre a cultura e as práticas sociais</p><p>de uma comunidade, bem como informar abordagens mais sensíveis e</p><p>contextualizadas no planejamento e no projeto arquitetônico e urbanístico.</p><p>https://youtu.be/f5V477ImP70</p><p>21</p><p>Figura 5 – Vista aérea da Piazza Duomo, em Milão, Itália, em frente à catedral</p><p>gótica: a praça central tem diversas edificações no entorno, de modo que sejam</p><p>promovidas atividades cotidianas no entorno da catedral</p><p>Crédito: Ingusk/Adobe Stock.</p><p>TROCANDO IDEIAS</p><p>É fundamental refletirmos sobre a aplicação prática do conteúdo estudado</p><p>nesta etapa em nossa futura carreira na arquitetura e urbanismo. Ao desenvolver</p><p>projetos, é essencial considerar as particularidades culturais,</p><p>sociais e</p><p>antropológicas das comunidades envolvidas, buscando entender suas</p><p>necessidades e respeitando suas tradições. Ao fazer isso, vamos contribuir para</p><p>a criação de espaços urbanos e arquitetônicos mais inclusivos e sustentáveis,</p><p>que promovam a convivência harmoniosa entre diferentes grupos e valorizem a</p><p>diversidade cultural. É importante nos lembrarmos de que o papel do(a)</p><p>arquiteto(a) e urbanista vai além da simples concepção estética dos espaços,</p><p>visto que isso envolve também a responsabilidade de promover o bem-estar</p><p>social e a qualidade de vida das pessoas que habitam esses espaços.</p><p>22</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Atividade prática: Análise de espaços urbanos e arquitetônicos em sua</p><p>cidade ou região</p><p>Objetivo: Aplicar os conhecimentos adquiridos nesta etapa, observando e</p><p>analisando o ambiente urbano e arquitetônico de sua cidade ou região,</p><p>considerando aspectos culturais, sociais e antropológicos.</p><p>Instruções:</p><p>1. Escolha dois locais diferentes em sua cidade ou região para analisar.</p><p>Procure locais que representem diferentes contextos culturais, sociais ou</p><p>históricos (por exemplo, um bairro tradicional e um bairro moderno, ou</p><p>uma área residencial e uma área comercial). Caso você viva em uma</p><p>cidade pequena, considere ampliar sua análise para a região em que sua</p><p>cidade está inserida.</p><p>2. Visite os locais escolhidos e observe atentamente os elementos</p><p>arquitetônicos e urbanísticos, bem como as práticas sociais e culturais</p><p>que ocorrem nesses espaços. Tire fotos ou faça esboços para ilustrar</p><p>suas observações.</p><p>3. Para cada local, escreva uma breve descrição das características físicas</p><p>e culturais observadas, abordando questões como: formas de habitação,</p><p>uso do espaço público, presença de espaços sagrados ou profanos,</p><p>influência da religião e crenças na concepção do espaço, e a relação entre</p><p>cultura e sustentabilidade no planejamento urbano.</p><p>4. Faça uma análise comparativa entre os dois locais, destacando</p><p>semelhanças e diferenças em termos de arquitetura, urbanismo e práticas</p><p>culturais. Reflita sobre como os conhecimentos adquiridos nesta etapa</p><p>podem ser aplicados na compreensão e valorização da diversidade</p><p>presente em sua cidade ou região.</p><p>5. Compartilhe suas observações e análises com os colegas por meio do</p><p>fórum de discussão. Converse sobre as experiências e percepções de</p><p>cada um e busque identificar pontos em comum e contrastantes entre as</p><p>diferentes cidades e regiões representadas pelos estudantes.</p><p>Lembre-se de que a atividade prática visa ampliar a compreensão dos</p><p>conceitos abordados nesta etapa e desenvolver habilidades de análise e reflexão</p><p>crítica sobre o ambiente urbano e arquitetônico. Ao realizar a atividade, esteja</p><p>23</p><p>atento às diferentes dimensões culturais, sociais e antropológicas que</p><p>influenciam a produção do espaço e a vida das pessoas que o habitam.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Ao finalizar esta etapa, é fundamental ressaltar a importância de</p><p>considerar os aspectos culturais, sociais e antropológicos no estudo e na prática</p><p>da arquitetura e urbanismo. Nesta etapa, abordamos temas essenciais como a</p><p>relação entre cultura e práticas sociais na arquitetura e urbanismo, a</p><p>necessidade de uma abordagem antropológica e cultural na concepção do</p><p>espaço, a inclusão e adequação das diferentes populações no espaço</p><p>construído, a diversidade cultural e os desafios no planejamento urbano, além</p><p>de projetos arquitetônicos e urbanos culturalmente sensíveis e inclusivos.</p><p>É importante que, como futuros(as) profissionais de arquitetura e</p><p>urbanismo, estejamos conscientes do papel crucial que desempenhamos na</p><p>criação e transformação de espaços que promovam a inclusão, respeitem as</p><p>diferenças culturais e valorizem o patrimônio histórico e social das comunidades.</p><p>Isso implica desenvolver habilidades para observar, analisar e compreender as</p><p>práticas e manifestações culturais em contextos urbanos e arquitetônicos, bem</p><p>como aplicar esse conhecimento em projetos que integrem sustentabilidade,</p><p>inovação e respeito à diversidade cultural.</p><p>24</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ARNSTEIN, S. R. Uma escada da participação cidadã. Revista da Associação</p><p>Brasileira para o Fortalecimento da Participação – Participe, Porto</p><p>Alegre/Santa Cruz do Sul, v. 2, n. 2, p. 4-13, 2002.</p><p>AUGÉ, M. Non-Places: Introduction to an Anthropology of Supermodernity.</p><p>Translated by John Howe. New York: London: Verso, 1994.</p><p>CARMONA, M. et al. Public Places, Urban Spaces: The Dimensions of Urban</p><p>Design. New York: Oxfordshire: Routledge, 2010.</p><p>CERTEAU, M. de. A Invenção do cotidiano. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.</p><p>FAINSTEIN, S. S. The Just City. New York: London: Cornell University Press,</p><p>2013.</p><p>GEHL, J. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.</p><p>HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera pública. São Paulo: Unesp, 2014.</p><p>HALL, T. Urban Geography. 3rd. ed. New York: Routledge, 2006.</p><p>HARVEY, D. Cidades rebeldes: do direito à cidade à revolução urbana. São</p><p>Paulo: Martins Fontes, 2014.</p><p>_____. Espaços da Esperança. São Paulo: Loyola, 2000.</p><p>JACOBS, J. Morte e vida das grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes,</p><p>2011.</p><p>LEFEBVRE, H. A Produção do espaço. São Paulo: Editora 34, 2006.</p><p>MANZO, L. C., PERKINS, D. D. Finding Common Ground: The Importance of</p><p>Place Attachment to Community Participation and Planning. Journal of Planning</p><p>Literature, v. 20, n. 4, p. 335-350, may 2006.</p><p>MASSEY, D. Space, Place, and Gender. Minneapolis: University of Minnesota</p><p>Press, 1994.</p><p>RAPOPORT, A. The Meaning of the Built Environment: A Nonverbal</p><p>Communication Approach. Tucson: University of Arizona Press, 1982.</p><p>RELPH, E. Place and Placelessness. In: HUBBARD, P.; KITCHEN, R.;</p><p>VALLENTINE, G. (Ed.). Human Geography. London: Sage, 2008. p. 43-51.</p><p>25</p><p>ROSE, J. F. P. A cidade em harmonia: o que a ciência moderna, civilizações</p><p>antigas e a natureza humana nos ensinam sobre o futuro da vida urbana. Porto</p><p>Alegre: Bookman, 2019.</p><p>ROSSI, A. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995.</p><p>SEGAUD, M. Antropologia do espaço: habitar, fundar, distribuir, transformar.</p><p>São Paulo: Sesc, 2016.</p><p>SENNETT, R. The Uses of Disorder: Personal Identity and City Life. New York:</p><p>Knopf, 1970.</p><p>TUAN, Y.-F. Space and Place: The Perspective of Experience. Minneapolis:</p><p>University of Minnesota Press, 1977.</p>

Mais conteúdos dessa disciplina