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Nome: Eduardo Brandão de Sousa Daniel Matrícula: 211027634 Resenha sobre a mobilidade social dos negros brasileiros Introdução O texto proposto aborda a mobilidade social dos negros e mulatos no Brasil, enfocando a discussão sobre a ideologia da democracia racial e a relação entre desigualdades de classe e desigualdades raciais. O autor ressalta que a tese de que o preconceito de classe seria predominante em relação ao racial, praticamente inexistindo, ainda é debatida, apesar de ser refutada pelas evidências empíricas.A introdução destaca a relevância do tema da mobilidade social no contexto das relações raciais no Brasil e menciona a existência da ideologia da democracia racial, que argumenta que as diferenças socioeconômicas entre negros e brancos tenderiam a desaparecer ao longo do tempo. No entanto, estudos contemporâneos revelaram que essa previsão era ilusória, mas a ideia de que as desigualdades de classe são mais importantes do que as desigualdades raciais continuou a ser difundida.O texto é dividido em duas seções principais. Na primeira seção, são analisados os estudos realizados nas décadas de 1940 e 1950, período em que se consolidou a ideia da democracia racial e a crença no poder integrador do desenvolvimento econômico. A mobilidade social dos mulatos e a presença de pessoas negras nas elites eram utilizadas como argumentos a favor dessa visão. No entanto, o autor menciona que tanto aqueles que acreditavam nessa ideia quanto os que a questionavam analisaram esses aspectos.Na segunda seção, são apresentados os estudos realizados a partir do final dos anos 1970, que adotaram uma nova perspectiva teórica e metodológica. Essas pesquisas foram baseadas em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e levaram a conclusões consensuais sobre as relações raciais e a estratificação social no Brasil. O autor destaca que o desenvolvimento econômico, com industrialização e urbanização intensas, não resultou em uma redução das desigualdades na distribuição dos benefícios do progresso. Além disso, a situação socioeconômica dos negros como grupo social não melhorou, apesar da presença de indivíduos negros nos estratos superiores da sociedade.O texto também menciona a existência de barreiras raciais nos processos de mobilidade social, demonstrando a inadequação das explicações antigas baseadas na defesa de um Brasil racialmente democrático. Por fim, é destacada a nova teoria, baseada na ideia de acumulação de desvantagens ao não ser branco no Brasil, que se mostrou mais adequada para explicar as evidências observadas e não foi contradita por nenhuma teoria concorrente até o presente momento.Em resumo, o texto apresenta uma análise crítica da ideologia da democracia racial e discute a mobilidade social dos negros e mulatos no Brasil, enfatizando as desigualdades raciais persistentes mesmo em um contexto de desenvolvimento econômico. Além disso, destaca a existência de barreiras raciais na mobilidade social e a importância de uma nova teoria baseada na acumulação de desvantagens. Mobilidade social dos negros Na segunda parte do texto, é discutida a mobilidade ascendente dos negros e mulatos como argumento utilizado por alguns defensores da tese da democracia racial no Brasil. Segundo essa visão, a presença de mestiços entre as elites econômicas e políticas seria um sinal de que o preconceito racial não era significativo, pois eles teriam obtido sucesso devido ao fato de estarem distantes da escravidão há mais tempo do que os negros de pele mais escura.Essa ideia foi disseminada a partir do declínio das teorias de superioridade branca na década de 1930. Autores como Donald Pierson e Arthur Ramos foram alguns dos principais formuladores dessa visão. Pierson, em seu livro "Negroes in Brazil" publicado em 1942, argumentava que o preconceito existente no Brasil não era racial, mas sim de classe. Ele admitia a existência de preconceito contra os negros, mas afirmava que não era baseado na cor da pele.Azevedo, em seu estudo sobre a mobilidade social em Salvador, também defendia a preponderâncie a do preconceito de classe sobre o racial. Ele descrevia a sociedade de Salvador como uma sociedade multirracial de classes, na qual negros e brancos competiam igualitariamente. No entanto, em estudo posterior, Azevedo ponderou que a ascensão social não garantia uma mudança completa de status, pois os negros mulatos ainda enfrentavam barreiras sociais em outras esferas da vida.Outra pesquisa realizada pelo Projeto Unesco, coordenada por Charles Wagley, examinou as relações entre raça e classe no Brasil rural. Wagley e outros pesquisadores concluíram que o preconceito de classe tinha maior preponderância sobre o preconceito racial. Eles argumentavam que a presença de negros e mulatos entre as elites indicava a transição de uma sociedade de castas para uma sociedade de classes. No entanto, eles alertavam para o aumento da competição entre negros e brancos, o que poderia levar a tensões raciais.Porém, nem todas as pesquisas realizadas pelo Projeto Unesco chegaram às mesmas conclusões. Costa Pinto, em seu estudo sobre o Rio de Janeiro, questionava a ideia de mobilidade ascendente dos mulatos, considerando que as exceções citadas eram apenas figuras de um discurso ideológico destinado a reforçar as barreiras raciais. Ele destacava a existência de barreiras étnicas travestidas de barreiras não-étnicas, como a exigência de "boa aparência" nos classificados de emprego.Em geral, os estudos apresentados mostram diferentes perspectivas sobre a mobilidade social dos negros e mulatos no Brasil. Enquanto alguns defendiam a tese da mobilidade ascendente como evidência de ausência de preconceito racial, outros apontavam para a persistência das desigualdades e barreiras étnicas na sociedade brasileira. A terceira parte do texto discute a mobilidade social dos negros no Brasil durante o período de industrialização e desenvolvimento econômico do país. Alguns pesquisadores acreditavam que o aumento das oportunidades proporcionado pela industrialização e urbanização resultaria em maior integração dos negros na sociedade e na superação das relações raciais assimétricas.Durante o período de intensa industrialização e urbanização até o início da década de 1980, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu significativamente, e a população urbana aumentou. Essas mudanças rápidas resultaram em alta mobilidade social, conforme evidenciado por estudos como o de José Pastore e Nelson do Valle Silva, realizados com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 1973.Esses estudos mostraram que mais da metade da população estudada estava em um estrato social diferente do de seus pais, e a maioria dessas pessoas experimentou mobilidade ascendente. No entanto, grande parte dessa mobilidade foi atribuída a mudanças estruturais decorrentes da urbanização e industrialização, e não a uma maior permeabilidade social. Por exemplo, muitos trabalhadores domésticos e da construção civil, que eram descendentes de trabalhadores rurais, foram considerados como tendo experimentado mobilidade ascendente, mesmo que suas ocupações fossem consideradas de status socioeconômico inferior.Os estudos de Pastore e Valle Silva levantaram preocupações sobre os limites da mobilidade estrutural, uma vez que o processo de urbanização e industrialização estava mostrando sinais de esgotamento. Eles também alertaram para a possibilidade de que as barreiras estruturais entre as dimensões rural e urbana e entre ocupações manuais e não manuais se intensificassem, revelando uma estruturação da sociedade brasileira em três classes distintas. Essa perspectiva levantou dúvidas sobre se a mobilidade social seria suficiente para melhorar significativamente a distribuição dos negros na sociedade.Posteriormente, estudos baseados em dados da Pnad de 1976, que incluíam informações sobre raça, confirmaram as conclusões anteriores. Carlos Hasenbalganalisou dados de seis estados do centro-sul do país e constatou a presença de barreiras raciais nos processos de mobilidade social. Ele destacou a sobre-representação dos negros nos estratos inferiores da sociedade, o menor nível educacional alcançado e a concentração em ocupações de baixo status.Outro estudo realizado por Nelson do Valle Silva, em 1988, utilizando dados nacionais da Pnad de 1976, reafirmou a presença de desigualdades raciais na mobilidade social. Os negros estavam mais presentes nos estratos inferiores em termos de renda, educação, ocupações e regiões menos desenvolvidas. Referências Bibliográficas AZEVEDO, T. As elites de cor numa cidade brasileira: um estudo de ascensão social, classes sociais e grupos de prestígio. Salvador: Edufba, 1996. ________. Mestiçagem e status . In : Cultura e situação racial no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.