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ARQUIMEDES E A COROA DO REI: 
O LIVRE PENSAMENTO NA ATENAS DEMOCRÁTICA
TELMA LIMA SANTOS
[footnoteRef:1]Graduação em Educação Artística. pela Universidade Católica do Salvador. (1991); Professor de Ensino Fundamental II – Educação Artística - na EMEF Darcy Ribeiro. [1: ] 
RESUMO
Arquimedes de Siracusa (em grego: Ἀρχιμήδης, Arkhimedes) foi um dos grandes gregos da antiguidade clássica. Nascido na província de Siracusa (Magna Grécia), atual Sicília, Itália, no ano de 287 a.C. tendo vivido desde jovem em Alexandria, grande centro intelectual da época. Iniciou seus estudos nas áreas de Matemática, Física e Astronomia, tendo convivido de perto com outros grandes pensadores, tais como: Euclides de Alexandria, Canon de Samos, Erastótenes de Cirene. Arquimedes foi grandemente destacado por Marcus Vitruvius Pollio, conhecido arquiteto romano, que exaltou suas descobertas em vários textos da época, sendo seu principal relato a história em torno da coroa do Rei Hiero II, de Siracusa, que deu impulso à teoria da gravidade específica e o Princípio de Arquimedes. O grande pensador, físico, engenheiro, astrônomo e matemático acabou sendo morto, em um cerco romano que perdurou por 3 anos (214 -212 a.C). Seu assassino foi um soldado romano, em 212 a.C, que contrariou as ordens de seu general Marcellus Claudius. Arquimedes era o que se pode chamar de uma celebridade entre seus pares e muito admirado entre os romanos. Detalhe é que segundo as fontes, Arquimedes acabou sendo assassinado por armas criadas por ele mesmo, as quais permitiram a resistência de Siracusa pelo referido tempo. Sua célebre palavra “EUREKA” (do grego encontrei, achei, descobri) permanece ecoando em tempos atuais no meio acadêmico e científico. 
Palavras-chave: Arquimedes, Coroa, Eureka, Ciências.
1. INTRODUÇÃO 
 Tendo como grande influenciador seu pai Fídias, um astrônomo, Arquimedes chama a atenção de muitos estudiosos das ciências às quais se dedicou, sobretudo à Matemática, em que teve grande impacto no mundo conhecido de então e à aplicação de várias de suas teorias em inventos que auxiliaram os gregos da época e auxiliam os homens da atualidade com suas teorias matemáticas . Seus vários contatos, como por exemplo, Cânon de Samos e Eratóstenes de Cirene, permitem ter uma ideia de como este homem era culto. Foi contemporâneo de Heráclides, e este lhe dedicou uma biografia que infelizmente se perdeu com o passar do tempo. 
Supõe-se que tenha estudado em Alexandria (Egito), mas que não teve filhos ou sequer tenha se casado, tendo sido assassinado com a idade de 75 anos, segundo um biógrafo de Bizâncio chamado Tzetzes. Muito admirado pelo seu povo, conforme relato de Vitrúvio, um dos grandes episódios de sua vida consiste no pedido do rei de Siracusa, Hiero II , Hierão II ou ainda Hieron II.
Hiero II convocou Arquimedes para desvendar o mistério de uma coroa e a quantidade de ouro presente em sua constituição. O rei desconfiava da quantidade deste metal precioso utilizado pelo ourives, o qual declarava ser feita inteiramente de ouro. 
2. ARQUIMEDES E A COROA DO REI: MITO OU REALIDADE?
Quem nos conta acerca deste mito ou lenda é Vitrúvio, que em seu livro “Da Arquitetura” se expressa nestas palavras: 
“Quanto a Arquimedes, ele certamente fez descobertas admiráveis em muitos domínios, mas aquela que vou expor testemunha, entre muitas outras, um engenho extremo. Hieron de Siracusa, tendo chegado ao poder real decidiu colocar em um templo, por causa de seus sucessos, uma coroa de ouro que havia prometido aos deuses imortais. Ofereceu assim um prêmio pela execução do trabalho e forneceu ao vencedor a quantidade de ouro necessária, devidamente pesada. Este, depois do tempo previsto, submeteu seu trabalho, finalmente manufaturado, à aprovação do rei e, com uma balança, fez uma prova do peso da coroa. Quando Hieron soube, através de uma denúncia, que certa quantidade de ouro havia sido retirada e substituída pelo equivalente em prata, incorporada ao objeto votivo, furioso por haver sido enganado, mas não encontrando nenhum modo de evidenciar a fraude, pediu a Arquimedes que refletisse sobre isso. E o acaso fez com que ele fosse se banhar com essa preocupação em mente e ao descer à banheira, notou que, à medida que lá entrava, escorria para fora uma quantidade de água igual ao volume de seu corpo. Isso lhe revelou o modo de resolver o problema: sem demora, ele saltou cheio de alegria para fora da banheira e completamente nu, tomou o caminho de sua casa, manifestando em voz alta para todos que havia encontrado o que procurava. Pois em sua corrida ele não cessava de gritar, em grego: εύρηκα [ Encontrei, encontrei! ]. Assim encaminhado para sua descoberta, diz-se que ele fabricou dois blocos de mesmo peso, igual ao da coroa, sendo um de ouro e o outro de prata. Feito isso, encheu de água até a borda um grande vaso, no qual mergulhou o bloco de prata. Escoou-se uma quantidade de água igual ao volume imerso no vaso. Assim, depois de retirado o corpo, ele colocou de volta a água que faltava, medindo-a com um sextarius3, de tal modo que o nível voltou à borda, como inicialmente. Ele encontrou assim o peso de prata correspondente a uma quantidade determinada de água. Feita essa experiência, ele mergulhou, então, da mesma forma o corpo de ouro no vaso cheio, e depois de retirá-lo fez então sua medida seguindo um método semelhante: partindo da quantidade de água necessária, que não era igual e sim menor, encontrou em que proporção o corpo de ouro era menos volumoso do que o de prata, quando tinham pesos iguais. Em seguida, depois de ter enchido o vaso e mergulhado desta vez a coroa na mesma água, descobriu que havia escoado mais água para a coroa do que para o bloco de ouro de mesmo peso, e assim, partindo do fato de que fluía mais água no caso da coroa do que no do bloco, inferiu por seu raciocínio a mistura de prata ao ouro e tornou manifesto o furto do artesão...” (VITRUVIUS, De l architecture, livro IX, preâmbulo, §§ 912, pp. 5-7).
Assim, saiu correndo nu pela rua gritando "Eureka!" (expressão que do grego que significa “achei”, “encontrei” ou “descobri”). Desse evento, ficou estabelecido o “Princípio de Arquimedes”, o qual se baseava na “gravidade específica”.
Segundo esse princípio “todo corpo mergulhado num fluido recebe um impulso de baixo para cima igual ao peso do volume do fluido deslocado. Por esse motivo, os corpos mais densos que a água acaba afundando, enquanto os menos densos flutuam”.
Durante a segunda guerra púnica, mais precisamente no momento do cerco à Siracusa (214-212 a.C.), Arquimedes foi morto por um soldado romano, das tropas do general romano Marcellus Claudius.
O general havia violado as ordens impostas, as quais determinavam que Arquimedes não deveria ser ferido, afinal os romanos tinham grande admiração pelo sábio. Foi assassinado em 212 a. C. em Siracusa (Grécia), guerreada com armas que o próprio criara e que foram eficientes na defesa de sua “polis” contra os romanos durante 3 anos. Conta-se, não de forma evidenciada, que suas últimas palavras foram: “não perturbe os meus círculos”, tarefa à qual se dedicava quando perturbado pelo soldado romano que posteriormente daria cabo a sua vida. 
 Dada a admiração pelo grande sábio por parte dos romanos, após seu enterramento seguiram-se homenagens. Em seu túmulo havia uma escultura que demonstrava sua equação matemática predileta. Tal escultura era composta de uma esfera e um cilindro de mesma altura e diâmetro. Em suas demonstrações de genialidade, Arquimedes havia provado que o volume e a área da superfície da esfera são dois terços da do cilindro incluindo suas bases. 
Cícero, o grande orador romano, que trabalhava como questor na Sicília por volta de 75 a.C, portanto 137 anos após a morte de Arquimedes, ouviu falar de tal túmulo, porém nenhum dos residentes da região sabia lhe indicar o exato local. Em sua busca, acabou por encontrá-lo próximo ao Portão Agrigentino, totalmente abandonado e recoberto por arbustos. Eis que em sua simplicidade, mesmo sendo um dosgrandes do império romano, iniciou sua limpeza, sendo possível observar a escultura e os versos dispostos na mesma.   
Todas as versões que se conhecem da biografia de Arquimedes foram escritas muito depois de sua morte e por historiadores da Roma Antiga. Políbio, por exemplo, cita a personagem deste estudo em seu livro “História Universal”, mas o relato descrito conta com o espaço de setenta anos após a morte de Arquimedes, porém serviram de base a outros grandes historiadores tais como Plutarco, Lívio e Vitrúvio. Políbio, no entanto, demonstra a engenhosidade de Arquimedes como grande construtor de armas e máquinas de guerra durante o cerco a Siracusa, pouco dando indícios de sua vida cotidiana. 
3. A ATENAS DE ARQUIMEDES
Tão importante quanto saber o desenrolar da história biográfica de Arquimedes é necessário situá-lo na Atenas de seu século e o quão importante foram as influências recebidas por tão singular figura, que permanece no imaginário e inconsciente coletivo de todo e qualquer estudante das várias ciências as quais se dedicou. 
Como já informado anteriormente, um dos principais “informantes” da vida de Arquimedes foi Vitrúvio (arquiteto romano, que merece seu destaque e um estudo mais aprofundado), fonte de inspiração para a criação de Leonardo Da Vinci, durante o Renascimento, em seu “homem vitruviano”, repleto de suas proporções perfeitas.
Já é sabido que os gregos influenciaram e influenciam até os dias atuais o mundo ocidental. Desde que Alexandre, o Grande, da Macedônia dominou grande parte do mundo antigo, fez com que toda a cultura grega se espalhasse pelos territórios conquistados. O conhecimento foi assim perpetuado ao longo dos séculos e muito se deve à democracia (governo do povo) instituída por esta cidade-estado, que até aquele momento era uma verdadeira revolução nas formas de pensar e agir e de como formar cidadãos conscientes de seu poder nas tomadas de decisões sobre a governabilidade de seu espaço. Assim como se deve muito à grandes pensadores e observadores do mundo ao seu redor, tais como: Tales de Mileto, Sócrates, Platão e Aristóteles, dentre outros. 
O que deve chamar a atenção neste aspecto é que mesmo havendo rivalidades internas (e eternas), a exemplo de Atenas e Esparta, os gregos se reconheceram como um povo único, por sua língua, religião e cultura que eram as mesmas nas diferentes cidades- estado. Vale ressaltar que enquanto existiu como dominador do mundo antigo e conhecido, a era de ouro grega perdurou por séculos, justamente por sua unidade e na forma como “ensinou” o mundo a viver e pensar. Leva-se até hoje o termo escola, criado pelos gregos e que quer dizer “tempo vago”. É a essa imensa capacidade intelectual grega que se deve a evolução humana nas artes, no conhecimento, na ciência, na música, na literatura e na filosofia. Claro que sob este ambiente, surgirem mentes brilhantes como a de Arquimedes não é nenhuma surpresa. 
 
4. Arquimedes no Renascimento
Em destaque Arquimedes no afresco de Rafael Sanzio. Capela Sistina, Vaticano.
Há quem pense que Arquimedes seria esquecido pela humanidade. Ao contrário, e para perpetuar seu brilhantismo, eis que mil anos depois, ao final da idade média esta riquíssima personagem é relembrada e eternizada.
Aqueles que podem e têm a oportunidade de viajar ao menor Estado do mundo, o Vaticano, e conseguem visitar seu museu, lhes é possibilitada a visão de genialidade de um grande pintor. Rafael Sanzio (1483-1520), um dos grandes do Renascimento, imortaliza em uma das paredes da antiga biblioteca do Papa Júlio II o afresco (pintura realizada diretamente no cimento): “A Escola de Atenas”. Na realidade as quatro paredes deste local são cobertas por temas que invocam a grandiosidade dos gregos na Filosofia, Poesia, Direito e Teologia. Como atualmente é possível analisar estes afrescos, percebe-se a unidade existente entre eles: o equilíbrio entre a cultura grega e a busca pela verdade na mentalidade dos renascentistas. 
Obviamente que nesta busca pelas virtudes da ciência, Arquimedes, um gênio para sua época, estaria desempenhando papel fundamental na pintura, no canto inferior direito: ensinando. 
A imagem a seguir é original e apresenta uma visita ao museu do Vaticano, onde pode ser observada a grandeza e genialidade do afresco. Os detalhes são grandiosos e extremamente intrigantes. Cabe ao leitor (visualizador) observar cada minúcia do afresco para perceber que estão presentes a singularidade, a eficiência, o conhecimento e a força grega no modo como se pensa e se observa o mundo. 
“A Escola de Atenas” (Museu do Vaticano). Foto in loco de: Bernardo Supranzetti.
Reprodução do afresco vista de frente
 O afresco acima reproduzido, tem início em 1509 e se finda em 1511, e quase 500 anos depois ainda impressiona. Escola de Atenas, é a síntese de um pensamento recorrente da época, que recoloca o homem como centro do universo (antropocentrismo) e onde estão expressos: as artes, as ciências, os saberes adquiridos ao longo dos séculos, além de personagens célebres de várias e diferentes épocas, contemporâneos ou não de Rafael Sanzio. 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por mais improvável que seja o relato de Vitrúvio acerca da coroa do rei Hiero II, já que as fontes são escassas e muitos tentem provar a “inverdade” de tal acontecimento, o que encanta nesta história é a vivacidade com a qual ela é, foi e será contada. Roberto de Andrade Martins, que tem seu artigo publicado pela UFSC realmente nega a existência do suposto “Eureka!” de Arquimedes, mas se rende à genialidade desta personagem em outros campos das ciências, tais como a Física, a Geometria e a Matemática. 
Neste “intenso relacionamento” com Arquimedes, durante a execução desta atividade, o que chama a atenção é a forma como ainda é possível revisitá-lo mais de 2 mil anos depois de sua existência, seja nos bancos escolares, seja nos bustos existentes na Itália ou ainda sua representação no afresco de Rafael Sanzio na Capela Sistina ( na antiga biblioteca do Papa Júlio II), acima de tudo estar rodeado de grandes deuses e personagens como Platão, Sócrates, Hipátia, Galileu, Appelles, Heráclito e fazendo o quê mais gostava: dar soluções às vidas dos cidadãos de sua democrática e expansionista Grécia. Ele está lá no afresco, se dedicando a ensinar, como se já não o fizesse mesmo dois mil anos após sua morte. Quando se retoma o termo expansionista, não se diz neste momento apenas de territórios conquistados, mas de crescimento intelectual e voraz expansão do espírito humano. 
O democrático ambiente grego proporcionou ao jovem Arquimedes (e ao idoso também) estudar em Alexandria, ter contato com as mais célebres mentes humanas de sua época, para além de proteger os seus concidadãos durante o cerco a Siracusa, demonstrando que seu conhecimento não “secou” ou virou pó mesmo após seu assassinato. Esta atividade, para além de sua discussão científica, objetiva levantar conclusões acerca de nosso atual momento acadêmico e científico: Arquimedes produziu legado duradouro, estamos fazendo o mesmo com relação as ciências em nosso país, mesmo com o cerceamento e falta de incentivo à pesquisa científica? Fica o questionamento ao leitor desta atividade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
http://www.cognoscomm.com/arquivo/1004/coroa-de-ouro/ consultado em 04.05.2020 as 19hs. 
http://www.descontexto.com.br/analise-de-pintura-a-escola-de-atenas/ consultado em 19.04.2020 23hs.
https://www.infoescola.com/biografias/arquimedes/ consultado em 19.04.2020 as 22hs. 
https://www.infoescola.com/filosofia/filosofia-grega/ consultado em 13.04.2020 as 20hs. 
https://www.webpages.ciencias.ulisboa.pt/~ommartins/seminario/textosarquimedes/vitruvius.htm consultado em 08.04.2020 as 23hs. 
MARTINS, Roberto de Andrade. “Arquimedes e a coroa do rei: problemas históricos”. Disponível em : https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/download/6769/6238
ROBERTS, Royston M. “Descobertas acidentais em ciências”. Trad. André Oliveira Mattos, revisão deOswaldo Pessoa Jr. Campinas: Papirus, 1993.
VITRUVIUS, Marcus. “De l architecture”. Trad. Jean Soubiran. Paris: Belles Lettres, 1969.
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