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ESTRUTURAS CLÍNICAS

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ESTRUTURAS CLÍNICAS
 Coordenação:Tereza Dubeux
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ESTRUTURAS CLÍNICAS
Contextualização:
Nos últimos séculos, se desenvolveu a compreensão geral de que a vida humana tem lugar dentro de estruturas sociais ordenadas, que condicionam as ações e as crenças, como também se desenvolvem tentativas, de conceituar e explicar a natureza e seus efeitos.
Subjacente a este raciocínio está o agente humano, um ator histórico, que não é um heróico modelador do mundo, fora da história, mas envolvido em uma complexa estrutura em que se dá uma evolução de regras, papéis, relações e significados que devem ser coletivamente reproduzidos na vida diária. 
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ESTRUTURAS CLÍNICAS
Conceitos de Estrutura e Estruturalismo:
Os termos estrutura e estruturalismo são antigos. Referem-se de forma ampla à idéia de relação e, por vezes, estão ligados a outras noções como as de totalidade, forma, sistema, interconexão, associação, função, etc. Neste sentido, estes conceitos eram empregados para o inconsciente, os mitos, as narrativas, a poesia, os sonhos, as relações de parentesco, etc.
Apenas no século XX, o termo estrutura ganha um campo limitado para a sua aplicação, reportando-se somente ao que é linguagem.
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CONTEXTUALIZANDO O ESTRUTURALISMO
Pode-se definir o estruturalismo como um movimento do pensamento que estabelece uma nova forma de relação com o mundo.
O movimento estruturalista vem em seguida ao movimento existencialista, que tinha em Sartre um de seus maiores protagonistas.
O estruturalismo vem rejeitar a noção existencialista de liberdade humana radical, enfatizando o modo como o ser humano era determinado por estruturas culturais, sociais e psicológicas. 
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CONTEXTUALIZANDO O ESTRUTURALISMO
Partindo da linguística e da psicologia do princípio do século XX, o estruturalismo alcançou seu apogeu na época da antropologia estrutural, ao redor dos anos 1960.
O trabalho mais importante nesse sentido foi a obra de Claude Lévi-Strauss, As estruturas elementares de parentesco, fruto da influência do estruturalismo de Jakobson.
Outro autor estruturalista importante para a psicanálise foi Foucault, que estudou estruturas discursivas que condicionavam o pensamento do homem em determinada época.
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CONTEXTUALIZANDO O ESTRUTURALISMO
Coube a Levi-Strauss fundar a antropologia estrutural ao insurgir-se contra o empirismo em geral e ao funcionalismo em particular que, a seu ver, constrangiam a antropologia a manter-se na superfície dos fatos sociais.
Levi-Strauss vai eleger um modelo novo de cientificidade - o modelo lingüístico oferecido pela lingüística estrutural impulsionada por Jakobson e Boas - que enfatizavam a natureza inconsciente dos fenômenos culturais e a colocação das leis da linguagem no centro da inteligibilidade dessa estrutura inconsciente.
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CONTEXTUALIZANDO O ESTRUTURALISMO
Levi-Strauss lança, assim, as bases para uma verdadeira antropologia social capaz de pensar o sujeito humano como resultante de efeitos de processos, de estruturas sociais nos quais se encontra inserido.
Para muitos, o estruturalismo é um modo de pensar e um método de análise praticado pelas ciências do século XX, especialmente as ciências humanas.
O estruturalismo provocou um corte epistemológico, uma mudança, representando um potencial para combater a ideologia burguesa. Seá classificada por muitos como antiempirista, uma anti-historicismo, um anti-psicologismo, enfim um anti- humanismo.
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A ESTRUTURA: o que é?
É um conjunto de elementos com leis próprias, independentes das leis que regem cada um desses elementos;
A existência de tais leis relativas ao conjunto implica que a alteração de um dos elementos provoca a alteração de todos os outros;
Esta alteração se dá porque o valor de cada elemento não depende apenas do que ele é por si mesmo, mas da posição que ele ocupa em relação aos outros elementos do grupo. 
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A ESTRUTURA: o que é?
A definição de estrutura remete à maneira como os elementos se relacionam no interior do domínio de um objeto qualquer, não especificado.
A discussão não se volta nem para os tipos de objetos nem para os tipos de relações ocorridas entre os elementos, mas para o padrão segundo o qual os objetos estão articulados.
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ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
Contextualização:
Lacan ressaltou a idéia de que a linguagem preexiste ao desenvolvimento mental de um sujeito empírico; esta linguagem é sempre pensada como uma estrutura ao invés de ser reduzida a uma função somática, ou psíquica, (que poderia nos ser imposta pelos chamativos problemas acarretados pelas lesões orgânicas causadoras das afasias).
 O campo da linguagem representa para o homem que o habita não só uma anterioridade radical, mas também uma servidão que não deixa de ser alienante. É a linguagem que separa o ser da natureza do ser da cultura.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
Contextualização:
A noção de estrutura, mais especificamente a estrutura da linguagem, funcionará como uma base, um plano imanente à formação do sujeito que será afetado pelo verbo vindo desde o lugar chamado Outro.
Uma base a partir da qual conceitos fundamentais como o de inconsciente e de sujeito serão pensados.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
A aproximação entre Levi-Strauss e Lacan só funcionou quando a noção de símbolo deixou de ser articulada quer convencionalmente, quer de forma natural com as coisas e assimilada ao elemento formal de uma estrutura. 
Essa nova visão levou à compreensão de que os fatos sociais não são nem coisas, nem idéias, são estruturas.
Foi a partir dessa conceituação que Lacan elaborou o seu registro do simbólico.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
 
Alguns fatores mostram a importância da lingüística para a compreensão do ser humano:
 A complexidade que o fenômeno lingüístico e as capacidades de comunicação atingem no homem; 
 O fato de que a linguagem aí se constitua em sistema;
Os sinais lingüísticos remetem uns aos outros, e não apenas às coisas que elas designam.
 Eles permitem que o simbolismo, que assim se constrói, forneça a chave para a organização do mundo físico, adaptando-o às instituições humanas, ao contrário das linguagens animais que só podem expressar ou designar.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
É por esta razão que o homem vive num meio artificial de símbolos; não reage diretamente às coisas, mas às idéias que ele tem sobre as coisas; não pode perceber nada senão através da interposição desse meio simbólico que o afasta da realidade física.
Com a idéia de estrutura, Lacan pôde elaborar, para a psicanálise, a idéia de uma categoria que se funda em uma determinada articulação de seus elementos, com independência relativa de suas essências. Essa categoria compreende não uma mesma classe de objetos afins, mas uma série de acontecimentos produzidos pelas mesmas leis.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
Embora a nenhum método seja dado capturar o próprio do viver, a criação ou opção por um dado método revela o lugar que o homem se dá diante de si mesmo e da vida.
É a partir de uma exterioridade que funda-se o elemento inaugural do estruturalismo do século XX. Exterioridade esta que permitiu romper com a relação dual entre o imaginário e o real e introduzir uma terceira ordem: o simbólico.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
No século XX, o signo deixa de ser demarcado pelo conhecimento, passando a encontrar representação no exterior, na ordem simbólica: aquilo que, não sendo o real, ao mesmo tempo, não é interior ao homem.
Segundo Nasio, uma estrutura é uma cadeia de elementos distintos em sua realidade material, mas ao mesmo tempo, semelhantes em seu pertencimento ao conjunto. E os elementos são justamente os significantes.
 
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
Esses significantes estão articulados entre si, de forma a obedecer ao duplo movimento de ligação (metonímia) e de substituição (metáfora). 
A metonímia é a conexão que mantém ligados, como uma cadeia, um
significante a outro, garantindo que, num dado momento, a cadeia esteja em condições de delegar um significante ao lugar periférico do Um.
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 O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
Já a metáfora, designa o mecanismo de substituição para que se produza a delegação, ou seja, o mecanismo que possibilita ao inconsciente se exteriorizar sob a forma de significante, o dito significante metafórico. 
Há um duplo movimento de conexão e de substituição dos significantes, fazendo com que a estrutura se atualize ininterruptamente, de modo a colocar um dos significantes na periferia, deixando um buraco vazio pelo significante que ficou de fora, significante que é transformado em borda e limite da estrutura, inscrevendo uma falta na cadeia. Uma falta que tem como resultado a mobilidade do conjunto.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
Se o simbólico é o sustentáculo da proposta estruturalista, é este mesmo sustentáculo que impossibilita defini-lo. 
É inteiramente inadequado considerar o estruturalismo como possuindo um corpo teórico fechado, ou como constituindo uma ideologia.
Os estruturalistas costumam afirmar que só há estrutura no que é linguagem.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
Neste sentido, o estruturalismo é um anti-humanismo que, de modo radical, descentra o homem até mesmo da construção de uma teoria.
Ao mesmo tempo, liberta-o da supremacia de um outro homem, pois mesmo este, reconheça-o ou não, está submetido às leis da estrutura que lhe dão lugar no sistema humano. 
Para esta corrente, não há como cristalizar o verdadeiro e o falso pois tudo se daria no paradoxo das posições relativas, ou seja, na relação. 
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
As características comuns a um recorte estrutural são: 
a estrutura é o próprio simbólico,
 o espaço estrutural é fundamentalmente topológico, 
os lugares e as posições são anteriores a seus ocupantes e 
A importância da função do significante vazio, o falo, um operador que só existe na irrealidade dele mesmo, mas que possibilita a circulação e posição dos demais elementos – os significantes – da estrutura.
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O ESTRURALISMO E A PSICANÁLISE
O Falo Simbólico é o operador em torno do qual giram e se definem as várias posições clínicas: a perversão, a psicose e a neurose. O Falo, entretanto, não existe: só existe nesta sua irrealidade, enquanto imaginário e representante da completude e da falta.
O que significa, portanto, esta função fálica? O falo é o símbolo da libido para ambos os sexos. A noção de falo indica que o ponto de impacto eficaz de interpretação no tratamento, é o sexual. O falo trata da assunção, pelo ser humano, de seu sexo.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
A função fálica permite situar a função paterna como a exceção fundadora daquilo que regula, em relação ao falo, o ser ou não ser, o ter ou não tê-lo. 
Esse laço que une o falo à função paterna, fundadora da lei que rege o gozo, em lugar de confundir sexualidade e geração, as distingue e as esclarece mutuamente. 
O falo é, assim, um representante da falta e da completude. Em si, não existe a não ser no imaginário dos sujeitos.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
A primazia atribuída ao falo não deve ser confundida com uma suposta primazia do pênis. 
A prevalência do falo significa que a evolução sexual infantil e adulta ordena-se conforme esse pênis imaginário, chamado falo, esteja presente ou ausente no mundo dos seres humanos. 
Lacan sistematizou a dialética da presença e da ausência em torno do falo através dos conceitos de falta e de significante.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
O falo é, portanto, o significante ao mesmo tempo do desejo e da lei. Da lei, porque a função paterna age em si mesma na medida em que a primazia do falo está instaurada na cultura. 
Se essa relação é determinante de uma ordem na medida em que induz uma organização, também é fator de desordem já que a estruturação psíquica apresenta esta particularidade de ser irreversivelmente determinada.
Do ponto de vista do desejo, o sujeito tende a constituir-se inicialmente como o único objeto de desejo do outro.
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O Conceito de Estrutura na Clínica Psicanalítica
Na psicanálise, foi a leitura do discurso freudiano, realizada por Lacan, que permitiu o estabelecimento rigoroso e sistemático do conceito de estrutura.
De modo criativo, Lacan se apropriou dos instrumentos conceituais da antropologia social e da lingüística para formular que o campo psicanalítico é fundado na fala e na linguagem;
Nesse contexto, o conceito de inconsciente foi formulado como sendo uma realidade transindividual que se constitui na e pela linguagem.
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O Conceito de Estrutura na Clínica Psicanalítica
O simbólico, enquanto estrutura, encarna-se nas realidades e nas imagens segundo séries determináveis. Embora constitua essas séries, não deriva delas, pois é mais profundo e serve de subsolo ao real e ao imaginário.
O elemento simbólico da estrutura é visto a partir de uma posição no espaço estrutural, topológico, onde os lugares prevalecem sobre aqueles que o ocupam. Pai, Mãe, Filho, Falo são lugares numa estrutura. Como cada um ocupa estes lugares é o fator determinante da estrutura.
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O Conceito de Estrutura na Clínica Psicanalítica
O modelo da linguagem seria a matriz teórica para se representar a existência e o funcionamento psíquico do registro inconsciente.
Lacan sublinhou que o registro simbólico seria a instância dominante no psiquismo humano e seria fundante do sujeito inconsciente, não existindo pois qualquer possibilidade de se enunciar o mesmo na exterioridade do registro simbólico.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
Considerando-se os registros do imaginário e do real como também constitutivos da realidade humana, é possível pensar que, inicialmente, Lacan baseou seu pensamento estruturalista na hegemonia do simbólico.
É possível identificar nessa hegemonia atribuída por Lacan ao registro simbólico na sua leitura do discurso freudiano uma crítica de seu percurso teórico anterior fundado no imaginário.
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O ESTRUTURALISMO E A PSICANÁLISE
O modelo da linguagem seria a matriz teórica para se representar a existência e o funcionamento psíquico do registro do inconsciente.
O modelo da linguagem como estrutura é a matriz teórica do pensamento estrutural. Propõe enunciar a concepção de estrutura como uma ordenação lógica e matemática rigorosa, onde as partes não são consideradas como substancialidades em sua inserção na totalidade. 
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O Conceito de Estrutura na Clínica Psicanalítica
A noção de estrutura resulta de uma mudança de atitude a respeito dos objetos de estudo, que consiste em se afastar da singularidade para ligar-se às relações latentes que existem entre os elementos. Isso pressupõe que esses objetos pertençam a um conjunto.
A noção de estrutura percorre toda a obra de Freud, mesmo sem que os instrumentos conceituais do estruturalismo tivessem ainda sido formulados. Em seus diversos trabalhos, predomina uma concepção da psicopatologia que não se apóia no registro de um catálogo de dados semiológicos. Fundamenta-se em uma dinâmica estrutural, cuja argumentação desenvolve-se sempre em relação direta, ou indireta, com a metapsicologia.
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O Conceito de Estrutura na Clínica Psicanalítica
A metapsicologia lança raízes sobre as três dimensões fundamentais que constituem os pontos de vista tópico, dinâmico e econômico. Esses três registros circunscrevem o substrato que inscreve o conjunto das pesquisas freudianas em uma concepção estrutural. 
Ao referir-se ao aparelho psíquico, Freud defende que ele tem um valor de ficção sem realidade orgânica correspondente, sustentando que este aparelho se diferencia em certo número de sistemas cujas propriedades e relações são descritas nas duas tópicas por ele formuladas. 
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ESTRUTURAS CLÍNICAS
O modo de um sujeito falar, constituir seu discurso, posicionar-se como emissor de mensagens, vem testemunhar seu modo próprio de apropriar-se da linguagem
e valer-se dela para estruturar-se como alguém. 
A constituição subjetiva tem como base essa operação simbólica, que revela o quanto o que é próprio ao humano se inaugura via operações que não são naturais, mas resultado do artifício da invenção da linguagem na qual cada um se aliena, para edificar seu próprio uso dela e situar-se em algum lugar.
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ESTRUTURAS CLÍNICAS
Como a linguagem enquanto tal preexiste a cada um de nós, ela nos ultrapassa, funcionando como um recurso que ao mesmo tempo nos revela para nós mesmos, fazendo com que possamos nos reconhecer como um Eu, mas simultaneamente, nessa mesma operação, nos encobre de nós mesmos, mostrando o quanto o que nos fundamenta nos é exterior.
 Daí nosso aparente desconhecimento, no plano da consciência, de quem somos nós. O que justifica que nosso acesso a nós mesmos se afigure como cifrado, exigindo, portanto, decifração.
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O Conceito de Estrutura na Clínica Psicanalítica
Esta concepção estrutural também se aplica à dinâmica que anima os sistemas inerentes ao aparelho psíquico, “às relações estruturais da vida mental”, fundamentando os processos patológicos, e subsidiando a definição das estruturas clínicas. 
A Estrutura Psíquica e a Função Fálica
Para todo sujeito, a estruturação de uma organização psíquica atualiza-se sob a égide dos amores edipianos, isto é, no desenvolvimento da relação que o sujeito mantém com a função fálica. 
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A Estrutura Psíquica e a Função Fálica
Se essa relação é determinante de uma ordem na medida em que induz uma organização, também é fator de desordem já que a estruturação psíquica apresenta esta particularidade de ser irreversivelmente determinada.
 O gozo constitui o próprio índice da permanência de um crescimento de desordem, porque inviabiliza o acesso ao desejo. Isto equivale a supor a castração como o que introduz uma medida de ordem na economia da estrutura psíquica. 
Conseqüentemente, a ordem da estrutura é instituída pela ordem fálica, responsável pela castração simbólica.
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A Estrutura Psíquica e a Função Fálica 
No caso da estrutura psíquica, o desejo do sujeito deve permanecer continuamente submetido à função fálica para neutralizar a irreversibilidade do gozo.
Do ponto de vista do seu desejo, o sujeito tende a constituir-se, inicialmente, como o único objeto do desejo do outro. O gozo encontra sua exata medida nesse dispositivo dinâmico do desejo e somente pode desenvolver-se em direção a um crescimento mortífero se nada vier limitá-lo, se o desejo do sujeito não chegar a aceitar a dimensão da falta. 
Cabe à função fálica promover essa subscrição: o desejo do sujeito só encontra a mediação simbólica que o inscreve na falta na relação que mantém com o falo. 
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A Estrutura Psíquica e a Função Fálica
A estrutura psíquica mantém-se em certa ordem se o desejo do sujeito sustenta-se no desejo do outro, nele encontrando a falta.
Esta dinâmica desenvolve-se na dialética do ser e do ter. Em um movimento de elaboração psíquica que conduz o sujeito de uma posição em que está identificado com o falo da mãe, a uma segunda posição em que, renunciando a esta identificação, aceitando a castração simbólica, tende a identificar-se ou com aquele que supostamente tem o falo ou com aquele que não o tem. 
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A Estrutura Psíquica e a Função Fálica
Essa operação decisiva atualiza-se em um processo de simbolização inaugural designado por Lacan de metáfora paterna ou metáfora do Nome-do-Pai. 
Importa, sobretudo salientar alguns momentos dessa dialética edipiana, momentos cruciais para o sujeito quando os empreendimentos do desejo mobilizados na relação com o falo revelam-se particularmente favoráveis à precipitação de organizações estruturais específicas.
É no lugar de uma estruturação psíquica fundamental que esses elementos intervêm e que são dadas, na triangulação dos desejos recíprocos da mãe, do pai e da criança em relação ao empreendimento fálico, suas relações internas.
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O Estruturalismo e a História
O Estruturalismo consolidou a idéia de que a vida humana tem lugar dentro de estruturas sociais ordenadas que condicionam suas ações e crenças, relegando a um segundo plano, a história dos acontecimentos. 
Nesta abordagem, as estruturas são vistas como invariantes através do tempo, sendo pouco afetadas pelo padrão superficial dos eventos. Teriam, assim, uma existência não fenomenológica, transcendendo a realidade humana cotidiana, e constituindo-se como o contexto em que os fatos ocorrem.
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O Estruturalismo e a História
O material, o social e o psíquico são todos eles estruturados e é preciso examinar eventos e linguagens de todos os tipos quando se quer ter acesso às estruturas. O caminho não é o de rejeitar a história dos acontecimentos, mas o de buscar articular estrutura e evento, considerando que as estruturas atualizam-se em eventos e são reproduzidas e transformadas através deles. 
A psicanálise precisa considerar tanto a história, quanto a estrutura, na medida em que se propõe a explicar os determinantes constitutivos da subjetividade humana e seus processos de mudança. A própria situação analítica, fundada na transferência, tem essa proposta.
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O Estruturalismo e a História
Assim, temos falas de psicanalistas que atestam posições divergentes quanto às abordagens estruturalistas e a historicista. 
Jean Allouch defende: “Não vejo como se poderia ser outra coisa senão estruturalista. Eu me mantenho inteiramente estruturalista porque, do ponto de vista da psicanálise, o sujeito só pode ser pensado como estrutura. Se não houver estrutura do sujeito, não há clínica possível”.
Já em outros psicanalistas, até mesmo em Lacan, é possível encontrar certa rejeição da historicidade. Essa rejeição é, no mínimo, paradoxal para um analista cujo objeto de estudo, o inconsciente, implica também a história do sujeito.
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 A inconsistência humana é atestada pelas grandes questões que tradicionalmente são traduzidas por: 
“De onde eu vim?” “Quem sou eu?” “Para onde vou?”
 A existência destas questões indica a dimensão enigmática do existir humano, a natureza errante de nosso ser, já que ser humano é ser confrontado com uma eterna busca, busca essa que nos remete a uma experiência de que sempre falta algo, o que também nos convoca a uma permanente transformação.
 Ao nos constituirmos como sujeitos, de alguma forma respondemos, ao nosso modo a essas questões. Mas não as respondemos de forma autônoma.
 A estruturação subjetiva vem a ser o modo pelo qual cada sujeito responde singularmente ao Outro, a alteridade, recortando-se a partir dessa referência como um alguém. 
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PROBLEMÁTICAS ESSENCIAIS À PSICANÁLISE
Duas problemáticas essenciais ao trabalho analítico: a estrutura do sujeito, dependente de uma abordagem estrutural e o inconsciente, que exige a consideração do acontecimento e da história, obriga a psicanálise a conciliar o aparentemente inconciliável.
A FUNÇÃO PATERNA
A psicanálise situa a função paterna na encruzilhada estrutural da subjetividade humana. O pai é um operador simbólico a-histórico no sentido de que não está submetido à ação de uma história cronologicamente ordenada. 
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A FUNÇÃO PATERNA E AS ESTRUTURAS CLÍNICAS
A função paterna ocupa a posição de uma estrutura invariante, enquanto representante da lei simbólica, ao mesmo tempo em que, através das instâncias ideais, transmite as especificidades culturais do seu tempo, sendo assim também, um indicador das mudanças sociais.
Para que a criança se torne um sujeito desejante, é imprescindível que a mãe dê lugar à entrada do pai como o terceiro que interditará a relação incestuosa mãe-filho, introduzindo a lei. 
Ao fazê-lo, insere o filho na ordem simbólica, revelando, ao mesmo tempo, a castração materna: a mãe como ser de falta e de desejo, portanto não fálica, e que não pode adquirir o gozo da plenitude narcísica pela posse ou reintegração do seu filho. 
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A FUNÇÃO PATERNA E AS ESTRUTURAS CLÍNICAS
Embora se situe fora da história, a função paterna
está inscrita no ponto de origem de toda história através dos mitos. Uma história mítica é necessária a qualquer suposição universal.
O pai remete a um a anterioridade simbólica que escapa ao sujeito, mas que o insere no universo da linguagem e da cultura.
A função paterna pode ser anulada, dificultada ou facilitada pela mãe. O modo como for exercida esta função, determinará a especificidade da estrutura clínica do sujeito na medida em que coloca em jogo a confrontação com a castração decorrente da vivência edipiana. 
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A FUNÇÃO PATERNA
Ser neurótico, psicótico ou perverso é a posição defensiva que foi possível ao sujeito assumir como sua resposta frente à questão da castração.
Desta perspectiva, as estruturas clínicas não devem ser abordadas de um ponto de vista meramente descritivo.
A neurose, por exemplo, assume sua forma no quadro da transferência, e o analista não poderia abstrair aquilo que ele pode descrever de sua realidade: a estrutura, ou seja, a relação entre os elementos, são mais importantes que o sentido dado a cada elemento.
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A Estrutura Neurótica
Neurose é um modo de defesa contra a castração pela fixação em um argumento edipiano. A neurose é uma maneira imprópria, defensiva, que foi possível ao sujeito empregar para se opor a um gozo inconsciente e perigoso.
 
Na neurose, os sintomas são a expressão simbólica que tem raízes na história infantil do sujeito e constitui uma solução de compromisso entre o gozo e a defesa.
Atualmente, o termo neurose tende a ser reservado para as formas clínicas da neurose obsessiva, da histeria e, com menos certeza, a neurose fóbica (ou histeria de angústia). Existe uma tendência, hoje, a não considerar a fobia, uma neurose, e talvez nem mesmo a histeria.
O que é neurose?
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A Estrutura Neurótica
Essas três neuroses clássicas podem se definir segundo o modo particular que o eu tem de se defender. Existe portanto, três maneiras inadequadas de lutar contra o gozo intolerável e, por conseguinte, três modos diferentes de viver a própria neurose. 
Um Breve Histórico da Perspectiva Freudiana
Depois de estabelecer a etiologia sexual das neuroses, Freud tentou distingui-las, de acordo com seus aspectos clínicos e seus mecanismos específicos, identificando as neuroses atuais e as psiconeuroses.
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Perspectiva Freudiana da Neurose
Distingue a neurastenia e a neurose de angústia, cujos sintomas se originam diretamente da excitação sexual, sem a intervenção de um mecanismo psíquico, das psiconeuroses. A neurastenia estaria ligada a um modo de satisfação sexual inadequado, como a masturbação, e a neurose de angústia, à ausência de satisfação. Essas neuroses serão denominadas de neuroses atuais.
Entende as neuroses como decorrentes de um mecanismo de defesa específico (o recalque), e as denomina psiconeuroses de defesa.
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Perspectiva Freudiana da Neurose
Nessas, o recalcamento é exercido em relação às representações de ordem sexual consideradas incompatíveis com o eu, determinando os sintomas neuróticos.
 Na histeria, a excitação, desligada da representação pelo recalcamento, é convertida ao domínio corporal; nas obsessões e na maioria das fobias, a excitação permanece no domínio psíquico, sendo deslocada para outras representações, distantes do núcleo recalcado.
A seguir, Freud observa que uma representação sexual só é recalcada se tiver despertado o traço mnêmico de uma cena sexual infantil que tenha sido traumatizante; e, portanto, postula que essa cena agiu a posteriori, de uma maneira inconsciente, provocando o recalcamento. 
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 Perspectiva Freudiana da Neurose
A disposição à neurose parecia depender de eventos sexuais traumatizantes que realmente tivessem ocorridos na infância, em particular devido à sedução da criança por um adulto.
 Mais tarde, Freud iria reconhecer o caráter bastante inconstante da sedução real, mas manteria a idéia de que a neurose teria sua origem na primeira infância e numa dimensão traumática.
De fato, a emergência das pulsões sexuais, por si só, constitui um trauma, e o recalcamento que se segue a isso dá origem à neurose infantil. 
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 Perspectiva Freudiana da Neurose
Com freqüência, essa neurose infantil passa despercebida, com os sintomas, quando existem, atenuando-se no período de latência, mas reaparecendo posteriormente. Portanto, a neurose do adolescente ou do adulto é uma revivência da neurose infantil.
A fixação aos traumas, às primeiras satisfações, surge como um fator importante na causação das neuroses; no entanto não é um fator suficiente, pois também é encontrado nas perversões.
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Perspectiva Freudiana da Neurose
O fator decisivo é o conflito psíquico: Freud explicava as neuroses pela existência de um conflito entre o eu e as pulsões sexuais. Conflito inevitável, pois as pulsões sexuais são refratárias a qualquer educação, visando apenas obter o prazer, enquanto o eu, dominado pela preocupação com a segurança, acha-se submetido às necessidades do mundo real, à pressão dos pais e às exigências da civilização, que lhe impõe um ideal a ser perseguido. 
Segundo Freud, o que determinaria a neurose seria a parcialidade do eu em favor do mundo exterior, em detrimento do mundo interior. Neste sentido, ele ressalta o caráter inacabado, fraco, do eu que o desvia das pulsões sexuais e as recalca em lugar de controlá-las. 
Um
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Perspectiva Freudiana da Neurose
Posteriormente, em 1914, Freud divide as psiconeuroses em dois grupos opostos: as neuroses narcisistas, ou as psicoses, em que a libido era investida sobre o eu, não sendo mobilizadas pelo tratamento analítico e as neuroses de transferência (a histeria, a neurose obsessiva e a histeria de angústia), em que a libido, investida sobre objetos fantasmáticos, é facilmente transferida para o analista.
No que se refere às neuroses atuais, elas também se opõem às neuroses de transferência, porque não se originam de um conflito infantil e não possuem significação passível de elucidação. Freud as considera estéreis do ponto de vista analítico, embora reconheça que o tratamento possa exercer sobre elas algum efeito terapêutico. 
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 Perspectiva Freudiana da Neurose
Em seguida, Freud situou o Édipo como o complexo nuclear das neuroses. A tarefa do filho consiste em desprender de sua mãe seus desejos libidinais, para ligá-los a um objeto estranho; em reconciliar-se com o pai, se tiver conservado alguma hostilidade quanto a ele, ou a emancipar-se de sua tirania, quando, como reação contra sua revolta infantil, torna-se seu escravo submisso.
Essas tarefas são impostas a todos e a cada um, devendo-se observar que raramente sua realização é alcançada de modo ideal. 
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Perspectiva Freudiana da Neurose
Os neuróticos fracassam parcialmente nessas tarefas, permanecendo um filho submisso à autoridade paterna durante toda a sua vida, sendo incapaz de transferir sua libido para um objeto sexual estranho. 
Esse apego aos pais persiste porque as reivindicações libidinais edipianas são recalcadas e, por isso, perenizadas. 
Freud considera o móvel do recalcamento a angústia de castração, mas deixa sem resposta o que perpetuaria essa angústia. 
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A Perspectiva Lacaniana da Neurose
A angústia de castração, para Lacan, indicaria que a operação normativa, que é a simbolização da castração, não teria sido completamente realizada. A simbolização se realiza através do Édipo.
 A castração, isto é, a perda do objeto perfeitamente satisfatório e adaptado, é simplesmente determinada pela linguagem, e o que permite simbolizá-la é o Édipo, ao atribuí-la a uma exigência do pai em relação a todos nós, (a função paterna simbólica). 
Sendo simbolizada a castração, habitualmente persiste uma fixação ao pai, que é nosso modo comum de normalidade. É o que o termo sintoma significa na concepção lacaniana. 
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A Perspectiva Lacaniana da Neurose
Não sendo a neurose o sintoma, quais são os fatores que tornam o Édipo neurotizante?
 
Lacan afirma que o que é patogênico
é a discordância entre aquilo que o sujeito percebe do pai real e a função paterna simbólica. O problema é que esse tipo de discordância é inevitável, sendo, pois perigoso atribuir a neurose ao que os pais fizeram a criança sofrer, ou não.
Charles Melman insiste na importância da historização na constituição da neurose. Sugere a existência de uma rejeição da situação comum: rejeição em aceitar a perda do objeto, que, portanto, se vê atribuída não a uma exigência do pai, mas a uma história considerada original e exclusiva, o que não corresponde necessariamente à realidade: falta de amor materno, impotência do pai real, trauma sexual, nascimento de um irmão ou de uma irmã, etc. 
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A Perspectiva Lacaniana da Neurose
No lugar em que o mito edipiano, mito coletivo, abre uma promessa, o mito individual do neurótico pereniza um dano. Se existir a fixação ao pai, ela se deve à queixa que lhe é dirigida para que repare esse dano. 
Assim, não é apenas ao pai e à mãe que o neurótico permanece apegado; é, mais amplamente, a uma situação organizada por seu mito individual.
 Essa situação é estruturada como um argumento que irá se repetir durante toda a vida, impondo a ele suas estereotipias e seu fracasso, nas diversas circunstâncias que irão se apresentar. 
 
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A Perspectiva Lacaniana da Neurose
Estar preso a um argumento é característico da neurose. Na psicose, não existe drama edipiano que possa ser representado. 
Na fobia, que é um momento anterior à neurose, existe a repetição de um idêntico, que é o elemento da fobia, mas ele não se inscreve em um argumento. 
Quanto à perversão, ela se caracteriza por uma montagem imutável, que tem por finalidade dar acesso ao objeto, e que não atribui lugar nem a história, nem a personagens específicos
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A Perspectiva Lacaniana da Neurose
Assim, é possível concluir que o real instalado na infância irá servir de modelo para todas as situações futuras, apresentando-se à vida como um sonho submetido à lei do coração e ao desprezo pela realidade forçosamente diferente, sendo o conflito sempre o de antigamente.
 
O ponto fundamental, devido às suas conseqüências clínicas, é que o argumento termina em fracasso, pois a maneira pela qual o neurótico aborda a realidade mostra que ele reproduz, sem modificá-la, a situação do fracasso original. 
Que significação atribuir a essa repetição do fracasso? Seria a de finalmente obter uma perfeita apreensão do objeto, ou, ao contrário, a de fazer com que sua perda seja definitiva? A posição neurótica oscila entre essas duas intenções opostas. 
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A Perspectiva Lacaniana da Neurose
 
A Relação do Neurótico com o Outro
É na relação com o Outro que o neurótico adquire a sua estrutura, apesar da grande incidência da relação narcisista nas neuroses.
O Édipo propõe um pacto simbólico. Por meio da renúncia a um certo gozo, o sujeito pode ter acesso lícito ao gozo fálico. As condições do pacto são bem estabelecidas para o futuro neurótico, mas ele não irá renunciar completamente a este tipo de gozo e nem se pretender não castrado. 
De que forma ele se defende? Ele pode tomar imaginariamente o Nome-do-Pai, tornando-o um pai ideal, aquele que, como diz Lacan, fecharia os olhos aos desejos, não exigindo a aplicação estrita do pacto simbólico. Assim, o neurótico dá existência ao Outro que, por definição, é apenas um lugar. 
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A Perspectiva Lacaniana da Neurose
A Relação do Neurótico com o Outro
A transferência neurótica é essa crença, com muita freqüência inconsciente, no Pai Ideal que supostamente irá acolher a queixa, comover-se com ela, dar-lhe remédio, e que “supostamente sabe” em que caminho o sujeito deveria engajar seu desejo.
O neurótico desejaria ser à imagem desse Pai: sem falha, não castrado; é por isso que Lacan diz que o neurótico tem um eu forte, um eu que, com todas as suas forças, nega a castração que sofreu. Apesar da contradição com o termo eu fraco empregado por Freud, Lacan concorda com o que ele formula no final de sua obra, a respeito do rochedo da castração, que nada mais é do que a não admissão da castração. 
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A Perspectiva Lacaniana da Neurose
A Relação do Neurótico com o Outro
Ao defender-se da castração, o neurótico continua temendo-a, enquanto uma ameaça imaginária, sem nunca saber bem ao que pode ser autorizado - quer se trate de sua palavra ou de seu gozo – mantém suas limitações. 
A psicanálise, que não está a serviço da moral ordinária (de inspiração edipiana e preconizando a lei paterna), deve permitir que o sujeito se interrogue tanto sobre a escolha do gozo que fez como a respeito da existência do Outro. 
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ESTRUTURAS CLÍNICAS
 
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ESTRUTURAS CLÍNICAS
 
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ESTRUTURAS CLÍNICAS

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