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A Estrutura Perversa - Apresenta+º+úo Slide

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A ESTRUTURA PERVERSA
 
HISTÓRICO:
A perversão permanece como um desafio teórico e clínico. Talvez não seja apenas pelos interesses comerciais em explorar a veia mórbida do público consumidor que o tema da perversão esteja em voga na mídia contemporânea, excitando o imaginário social. 
Esse foco na perversão também responde a novos desafios que se colocam em uma sociedade não mais regulada por regras religiosas, ritos e usos universais, mas que se apóia em uma ciência e em um corpo jurídico que pouco avançaram a respeito desse fenômeno.
Tereza Dubeux
 
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A ESTRUTURA PERVERSA
 
Histórico da palavra perversão:
Tereza Dubeux
 O sentido da palavra perversão articula-se com a 
 palavra que lhe deu origem: perversidade. Este sentido 
 é, antes de mais nada, moral e religioso.
 Há no ser humano uma duplicidade: ele quer o bem, 
 crê nele, mas faz o mal. Ele tende a perverter, a desviar, 
 o bem em mal.
 O termo perversão é bastante antigo e significa 
 inversão, sugerindo a noção de uma norma moral, ou 
 de um comportamento natural, dos quais o perverso 
 estaria se afastando.
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A ESTRUTURA PERVERSA
 As instituições religiosas preocuparam-se em delimitar as 
 fronteiras morais que não deveriam ser ultrapassadas e em punir os transgressores. No entanto, não detinham sozinhas este poder e precisaram aliar-se à sociedade política, 
especialmente com o poder judiciário e o poder médico. 
 Essa união entre as instituições da sociedade política deu origem, no século XIX, à integração das perversões no campo das competências médica e jurídica a fim de precisar a incidência médico-legal dos atos delituosos e apreciar sua relação com a nosografia psiquiátrica.
 Esse tipo de apreciação não considera a dimensão do desejo 
 sexual que, por ser submetida às leis da linguagem, escapa a 
 qualquer finalidade que possa ser diretamente apreendida 
 através dos instrumentos utilizados por essas ciências.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 Representando a sociedade política, inicialmente, o poder judiciário se propôs a intervir exercendo uma tríplice função: enunciar as fronteiras, punir o transgressor, e proteger a sociedade, evitando a recidiva do ato.
No século XIX, o judiciário fez um apelo ao discurso 
 médico para que este se pronunciasse sobre a 
 responsabilidade do sujeito sobre os atos por ele 
 praticados.
A questão tornou-se, então: tratava-se de uma 
 perversidade moral, ou de “ perversão”patológica? O 
 médico e o jurista encontravam-se diante de um 
 fenômeno humano - deshumano do excesso, da 
 desmedida, e da violência de uma força interior que se 
 impunha ao sujeito sem que ele pudesse se conter. 
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 A principal pergunta do juiz ao médico era: se essa 
força que leva ao ato de transgressão dito “perverso”, é 
tão irresistível e poderosa, não é porque o sujeito é 
doente e, portanto, não podendo ser responsabilizado por seus atos?
 As respostas médicas vão no sentido de classificar as 
diversas condutas tidas como perversas, sem se 
preocuparem em fazer avançar o conhecimento sobre as 
causas desses atos: de onde viria essa anormalidade 
qualificada como patológica?
 Embora chamados freqüentemente para fazer perícia, 
os médicos não dispunham de uma clínica que pudesse 
fundamentar a construção desse saber.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 O perverso não se considera um doente e, portanto, fica 
 longe dos consultórios médicos. Na maior parte do 
 tempo, são homens e mulheres respeitáveis em sua vida 
 social, profissional e familiar, embora tenham, por outro 
 lado, secretamente, discretamente, uma vida paralela 
 que não é vista pelos guardiões da ordem médico-legal.
 A ausência de demanda clínica cria uma ausência de 
 pesquisa psiquiátrica.
 
 No entanto, a partir de 1885, passos significativos foram 
 dados por alguns médicos que começaram a situar a 
 causa da perversão na sexualidade, uma vez que é uma 
 das característica do prazer sexual no homem poder 
 sempre levar à anormalidade.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 Krafft-Ebing declarava perversa toda exteriorização do instinto sexual que não respondesse ao objetivo da natureza, isto é, à reprodução, quando a ocasião de uma satisfação sexual natural fosse dada.
 Ficava, assim, definido o padrão moral da normalidade: é a natureza que dá a finalidade consciente e não violenta da sexualidade. Desviar esse bem em mal é subverter-lhe o objeto e o objetivo. Segundo a natureza, estava admitido que o objeto é a união genital heterossexual entre dois adultos; e o objetivo, a satisfação sexual de um e do outro em conseqüência dessa conjunção.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 Krafft-Ebing pôde, então, classificar as perversões em dois grupos: 
Aquelas em que o objetivo da ação é perverso: o sadismo, o masoquismo, o fetichismo e o exibicionismo.
Aquelas em que o objeto é perverso: o grupo da homossexualidade, da pedofilia, da gerontofilia, da zoofila e do auto-erotismo.
Foi este o avanço possível ao saber psiquiátrico no cumprimento de sua função de salvaguardar o essencial: definir o punível, proteger o futuro da sociedade.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
A CONCEPÇÃO DA PERVERSÃO EM FREUD
 
 Não há em Freud uma teoria sobre a perversão, mas pode ser encontrado um conjunto de teorias freudianas sobre o tema.
 O escândalo da novidade freudiana foi suprimir a fronteira entre perversão e normalidade. Assim, podemos ver em suas frases:
 “Mesmo no processo mais normal reconhecem-se os rudimentos daquilo que, se desenvolvido, levaria às aberrações descritas como perversões.” (Freud, 1905)
 “Nenhuma pessoa sadia, ao que parece, pode deixar de adicionar alguma coisa capaz de ser chamada de perversa ao objetivo sexual normal, e a universalidade desta conclusão é em si suficiente para mostrar quão inadequado é usar a palavra perversão como um termo de censura.” (Freud, 1905)
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
A CONCEPÇÃO DA PERVERSÃO EM FREUD
 Nos “Três Ensaios sobre a Sexualidade” (1905), Freud propõe a existência de uma sexualidade infantil ainda não genital, que denomina de disposição perversa polimorfa. Ela seria intrínseca a todo ser humano, constitutiva da futura sexualidade adulta e composta por pulsões parciais que buscam exclusivamente o prazer do órgão.
 Refere-se a sensações que podem ser ativas ou passivas, como lamber e ser lambido, tocar e ser tocado, olhar e ser olhado, etc. Esta sexualidade comum a todas as crianças é a matriz sobre a qual se assentará a perversão adulta.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
A CONCEPÇÃO DA PERVERSÃO EM FREUD
 Concordando comKrafft-Ebing, Freud afirma que os desvios sexuais podem ser de dois tipos:
Desvios quanto ao objeto sexual escolhido, por exemplo, pedofilia, zoofilia e a homossexualidade. Freud afirma que a bissexualidade é inata aos seres humanos. A definição por uma sexualidade adulta homo, bi, ou hetero dependerá da combinação dos fatores constitucionais e adquiridos (identificações).
Quanto à homossexualidade, apesar de implicar uma escolha de objeto do mesmo sexo e, portanto, se configurar como um desvio quanto ao objeto sexual, Freud não a inclui, necessariamente, na categoria de perversão.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
A CONCEPÇÃO DA PERVERSÃO EM FREUD
 Em 1916, na “Conferência XXII”, Freud afirma que na sexualidade perversa, geralmente, uma das pulsões parciais é predominante e submete as outras a seus propósitos.
 A evolução do desenvolvimento das funções sexuais no ser humano se prolonga por mais tempo do que o das funções ligadas à auto-preservação (fome, sede, sono) e, nesse longo período de desenvolvimento, as pulsões sexuais se acham sujeitas a três processos: a fixação, a regressão e a inibição.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 A fixação é um processo de aderência da libido a certas atividades ou zonas erógenas especialmente propícias a gratificar o sujeito nos primeiros anos de vida, levando-o
a desenvolver preferências e estilos libidinais.
 
 Em função da existência de barreiras externas, geralmente decorrentes do ambiente familiar, pode ocorrer uma regressão a pontos de fixação mais salientes nos primeiros anos de vida, no qual o funcionamento era percebido como mais satisfatório. Há assim, um reforço da fixação em lugares arcaicos de funcionamento.
 Ambas, a fixação e a regressão, podem predispor o sujeito à perversão, na medida em que mantêm o funcionamento psíquico num patamar onde prevalece o prazer, o primitivismo e as pulsões sexuais parciais.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
Desvios quanto ao objetivo sexual se referem às disposições perversas que se expressam como transgressões anatômicas quanto as regiões do corpo durante o ato sexual e como uma demora excessiva nas relações sexuais preliminares (o uso do ânus e da boca).
 A perversão também pode ocorrer quando uma parte do corpo não apropriada para fins sexuais, ou um objeto inanimado ligado à pessoa desejada, é utilizado como substituto. A esse quadro ele dá o nome de fetichismo.
Quanto ao olhar e ao tocar, que estão relacionados ao voyeurismo e ao exibicionismo, caracterizam-se como perversão quando o prazer de ver, e de ser visto, se dirigem à genitália ou às funções excretórias ou quando suplantam o escopo sexual normal em vez de servirem como ato preparatório para ele. 
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 A educação e a cultura impõem ao sujeito restrições a livre manifestações dessas tendências da infância. Essas tendências primitivas são submetidas às ações da repressão e do recalque. Sem o recalque, o sujeito se tornaria perverso. Por outro lado,o recalque é um mecanismo ligado à frustração e à neurose: fenômenos constitutivos da vida em cultura.
 Enquanto a neurose mantém o sujeito inibido e contido a partir de valores morais e éticos, a perversão se caracteriza pela ausência da repressão ou do recalque. O sujeito perverso só se contém pelo medo de punições externas.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
A CONCEPÇÃO DA PERVERSÃO EM FREUD
 A função ética, para Freud, nasce paulatinamente como resultado da vivência edipiana e da castração.
 A castração implica deixar para trás um gênero de relação e de lógica, que pode ser designado de fálico, no qual a onipotência, a arbitrariedade e os afetos imperam.
 O período no qual a criança se defronta com as angústias da castração marca um ponto nodal no desenvolvimento humano:
 Trata-se de entrar em uma nova lógica de amor ou, pelo contrário, de regredir e se fixar em antigos modos nos quais prevalecem o narcisismo, as pulsões parciais, a arbitrariedade e a violência. 
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
A CONCEPÇÃO DA PERVERSÃO EM FREUD
 A tendência à perversão é mais do que a tentativa da criança de manter relação de exclusividade com os objetos incestuosos; é a busca para apagar os indícios e as diferenças que lhe apontam a necessidade de se submeter às leis e às regras próprias à interdição do incesto. 
 O perverso permanece a meio caminho da resolução do complexo de Édipo. Ele não leva em conta o desejo de seu objeto de amor, nem as leis éticas; reivindica para si a total exclusividade do gozo, impondo aos seus objetos um modo de relação primitivo e violento.
 
 Assim, o percurso edipiano, a temática da castração e o mecanismo de defesa do desmentido são os elementos que se acrescentam à fixação, à regressão e às pulsões primitivas para constituir a perversão.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 Ao conceituar a sexualidade infantil como perversa polimorfa quanto ao seu objetivo e quanto ao seu objeto esta perspectiva freudiana pode ser ratificada: a sexualidade infantil tem origem nas pulsões parciais com objetos pré-genitais (oral, anal, vogal, escópica).
 
 Como todo ser humano foi um dia criança, é possível dizer que a predisposição às perversões é uma predisposição original e universal da pulsão sexual humana.
 Havia, no entanto, uma formulação freudiana de que o primado do genital deveria permitir a superação das perversões pela unificação das pulsões parciais da vida infantil numa só pulsão totalizante dirigida para o objeto genital heterossexual, seguindo o modelo da finalidade biológica da reprodução.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 
 Há, sobre este ponto, uma divisão entre os psicanalistas. Para alguns, a perversão seria a persistência de uma fixação em uma pulsão parcial e representaria um sinal de atraso no desenvolvimento e na evolução da pulsão genital. Ela se definiria por uma parada em certo prazer preliminar.
 Já outros, não concordam com esta concepção de que a perversão infantil universal é apenas um estágio provisório do desenvolvimento da sexualidade humana. 
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 Lacan, por exemplo, diz que “a pulsão, uma vez que representa a sexualidade no inconsciente, nunca é senão pulsão parcial”.
 Essa segunda perspectiva é uma negação da finalidade totalizante da pulsão genital e da tentativa freudiana de ver no amor a expressão da pulsão sexual total, sob o primado do genital a serviço da reprodução. 
 Para Lacan, amor e sexualidade não se confundem. Se amar é ser amado em seu eu total e unificado, o mesmo acontece com o pulsional? Amor e desejo sexual coincidem?
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 Freud não se limita a definir a perversão como a negação do instinto cuja finalidade é a reprodução biológica. Ele avança gradualmente, incluindo suas novas descobertas. 
 Ele opera a conjunção entre a descoberta feita em 1905, sobre o fetichismo como uma aberração sexual e, por outro lado, a descoberta, em 1908, de que entre as teorias sexuais infantis existiam aquelas que consistiam em atribuir um falo às mulheres. 
 A articulação do fetiche como falo da mãe surge no texto sobre Leonardo da Vinci, em 1910. Acrescenta-se, ainda, a importância do narcisismo nesta estrutura. 
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 Freud é, então, conduzido a uma nova definição da perversão. Esta não é vista como pré-edipiana, mas como decorrente do complexo de castração. 
 Em 1927, no texto sobre “O fetichismo”, a perversão é nomeada com seu verdadeiro nome através da definição do seu mecanismo: nem recalque, nem foraclusão, mas um desmentido, isto é, uma dupla posição do ego a um só tempo: o reconhecimento de que a mãe não tem falo e a negação desse reconhecimento. A mãe tem o falo pelo fetiche como um falo deslocado. 
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
A perversão não é, portanto, uma simples aberração sexual em relação aos critérios sociais estabelecidos. Ela coloca em ação o primado do falo, realizando uma fixação do gozo em um objeto imaginário, em lugar da função fálica simbólica que organiza o desejo por intermédio da castração e da falta.
A perversão é a recusa da diferença sexual: como os homens, todas as mulheres têm o falo.
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A ESTRUTURA PERVERSA
 Freud afirma que a perversão está muito além de ser um simples fragmento da sexualidade que teria escapado ao recalque. Ela decorre dos impasses que as restrições da vida em cultura nos impõem.
 A perversão não se restringe às formas malignas, sociopáticas ou manifestações bizarras. Consiste numa presença inerente ao desejo humano que se ancora nas camadas mais primitivas do psiquismo, onde as memórias das vivências de satisfação infantis continuam a alimentar e sustentar o desejo do adulto permitindo que as pulsões agressivas e destrutivas se atualizem.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 O que faz com que as fantasias sexuais e desejos agressivos inerentes a todos os humanos não transformem as pessoas em molestadores ou em serial killers, é sutil: é preciso que o sujeito consiga inserir os seus desejos no mundo sem se fixar na perversão.
 
 O termo perversão designa fixações infantis da sexualidade em objetos e atividades que se cronificam no adulto. 
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
Estas fixações manifestam-se como comportamentos repetitivos e estereotipados em que o parceiro é um mero figurante
em ritos sexuais. O termo é também utilizado para designar comportamentos narcisistas, malignos, em que o sujeito sente prazer em maltratar o outro.
No âmago das várias formas de perversão, sempre estão em jogo o prazer e o medo. Assim, quando o psicanalista enfoca o inconsciente e seus conteúdos latentes, são os conflitos mais arcaicos do entrelaçamento entre o medo e o prazer que lhe interessa revelar.
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O MECANISMO DA PERVERSÃO: O Desmentido
 O primeiro encontro da criança do sexo masculino com aquilo que visualmente deveria conduzi-la à diferença dos sexos, provoca uma recusa de sua parte, ela prefere uma fantasia: todos os seres humanos têm um pênis, a mulher também.
 A criança afasta-se, portanto, da realidade da diferença dos sexos, com o limite de mistério que ela comporta, da proibição do incesto ligada à função paterna e da dinâmica fálica.
 A recusa concerne a vários níveis: a recusa da castração, da diferença dos sexos e de uma realidade. 
Tereza Dubeux
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O MECANISMO DA PERVERSÃO: O Desmentido
Com a alternativa castrada / não castrada, a fórmula correspondente “a mulher não foi castrada pelo pai”, ao mesmo tempo suprime e mantém a castração;
 Na recusa, duas forma propostas por Freud opõem-se simultaneamente: a mulher tem um pênis, logo não foi castrada e a mulher foi castrada pelo pai, logo, ela não tem pênis.
 Essa recusa primeira sofreu um recalque comprovado pelo nojo do sexo feminino, e por uma reativação do falo através de deslocamentos que resultam no objeto-fetiche.
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O MECANISMO DA PERVERSÃO: O Desmentido
 A operação comporta, portanto, uma primeira recusa no momento do trauma, a visão do sexo feminino, e um recalque da recusa pelo horror da castração. No plano lógico, cotidiano, o perverso não negará a diferença dos sexos, mas ao mesmo tempo, estará consciente de um certo nojo pelo sexo da mulher.
 O desmentido consiste num funcionamento no psiquismo de duas correntes paralelas, causando uma cisão no ego: o sujeito sabe que a castração existe, mas funciona como se ela não existisse, por recusá-la. Daí a célebre frase de Octave Mannoni: “Eu sei, mas mesmo assim...”.
Tereza Dubeux
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O MECANISMO DA PERVERSÃO: o Desmentido
 O desmentido é o mecanismo de defesa, por excelência, dos fenômenos perversos, uma vez que na essência, a perversão é uma recusa em tomar conhecimento das evidências da realidade que lhe apontam para a falta e para a possibilidade de se inserir em um cenário onde todos os homens e mulheres são castrados e têm que levar em conta os desejos uns dos outros. 
 No contexto contemporâneo, permanece a concepção de que o perverso recusa os limites que a cultura lhe impõe.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
Freud ressalta três casos típicos de perversão: a o fetichismo, o sado-masoquismo e a homossexualidade .
 O fetichismo supõe a intervenção de um processo defensivo mais complexo. O sujeito se recusa a reconhecer a existência da percepção traumatizante da ausência de pênis na mulher e reage, diante dessa ausência, pela elaboração de uma formação substitutiva. 
 
 Diante da recusa dessa realidade, ele responde por uma formação de compromisso: como a mulher não tem pênis na realidade, ele encarna o objeto que supostamente falta nela, substituindo-o por um outro objeto da realidade, o objeto-fetiche. A escolha desse objeto lhe permite não renunciar ao falo na mulher e a angústia de castração é neutralizada, evitando ao fetichista o engajamento libidinal na via da homossexualidade.
Tereza Dubeux
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 O sadismo é uma forma de manifestação da pulsão sexual que visa fazer outra pessoa sofrer uma dor física, ou psíquica, como, por exemplo, uma humilhação.
 
 O masoquismo implica um estranho desejo de sofrer, o que põe em cheque a tendência profunda da vida pulsional à obtenção do prazer, da satisfação. Se a dor e o desprazer podem ser fins em si mesmos, e não meros sinais de advertência, o princípio de prazer fica paralisado.
 Na opinião de Freud, o masoquismo, por consistir em buscar dor junto a um outro, revela-se como simétrico ao sadismo.
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
 Freud assumiu posições diferentes em relação ao sado-masoquismo. Inicialmente, considera o sadismo como primário, revendo, no entanto, essa posição em seu artigo de 1924, “O Problema Econômico do Masoquismo”, afirmando a anterioridade do masoquismo erógeno. Segundo ele, o masoquismo erógeno é uma condição imposta à excitação sexual que suscita necessariamente um grau ao mesmo tempo de dor e de prazer. 
 Esse tipo de prazer no sofrimento está na base dos outros dois tipos de masoquismo:
 o masoquismo feminino (que coloca o indivíduo numa posição passiva, de modo a obter prazer em se fazer objeto do outro)
 
 o masoquismo moral (no qual o sujeito toma para si um sentimento inconsciente de culpa e manifesta uma necessidade de punição, aqui é o próprio sofrimento que importa).
Tereza Dubeux
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A HOMOSSEXUALIDADE
A homossexualidade não tem nem o mesmo estatuto nem a mesma significação nas neuroses, nas psicoses, e nas perversões, portanto, é preciso distinguir os vários tipos de homossexualidade conforme a estrutura clínica em que se coloca o sujeito, como ele organiza sua relação com o gozo e com a castração.
A homossexualidade resulta de uma reação de defesa narcísica diante da castração. A criança fixa a representação de uma mulher dotada de pênis, essa representação persiste no inconsciente e influencia todo o dinamismo libidinal posterior.
Tereza Dubeux
A ESTRUTURA PERVERSA
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A HOMOSSEXUALIDADE
A homossexualidade é um fato de discurso. Um fato de discurso significa uma fala que, ao ser pronunciada dentro e a partir do contexto de um conjunto de falas em que todos os sujeitos se reconhecem em seus lugares, tem por função criar ou confirmar a existência, entre esses sujeitos, de um vínculo social.
Quem denomina esses sujeitos de homossexuais é o Outro. É no Outro como sede da linguagem, e também enquanto lugar do discurso familiar, ou cultural, que eles tiveram que encontrar seu lugar de sujeitos e se depararem com o rótulo, que a eles se aplicam.
 O discurso dominante, compartilhado por “todo mundo”, cumpre essa função.
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HOMOSSEXUALIDADE 
 
 O lugar central da sexualidade no inconsciente provém de que a sexualidade do ser humano não passa de uma sucessão de anomalias que delimitam a impossibilidade de estabelecer, no humano, a existência de um verdadeiro instinto sexual que una automaticamente o macho à fêmea.
 “Homo”, ou “hetero”, é do falo de que se trata, desse significante único de um sexo que deve diferenciar-se pelas vias mais obscuras, e também do objeto causa do desejo, impossível de apontar, mas real, e cuja natureza é assexuada. 
A representação fálica ri da anatomia. De fato, é a própria noção de uma complementariedade entre macho e fêmea que deve ser questionada.
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A linguagem de que o ser humano é dependente cria uma sexualidade distante da animal. Homem e mulher são significantes cujos efeitos permanecem imprecisos: eles ultrapassam de longe a delimitação de dois sexos opostos e, ao mesmo tempo, não bastam para expressar a diferença sexual. 
 
 A sexualidade humana é, na realidade, uma sexualidade estranhamente intelectual, função da linguagem e de seus efeitos, mais do que do corpo e suas pressões.
 Desvinculada da função reprodutora, a estrutura do desejo passa entre o apelo do amor e a necessidade de gozo e só se religa finalmente à diferença entre os sexos por intermédio de complexos: o Édipo e a castração.
A HOMOSSEXUALIDADE
Tereza Dubeux
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O instinto sexual único está ausente do humano: nem todo macho é atraído por fêmeas, e vice-versa. A psicanálise enfatiza as fantasias e as pulsões parciais, articuladas com um objeto que não tem por si só, nenhuma relação com o sexo, e estão montadas em circuitos auto-eróticos. A sexualidade humana aos olhos da psicanálise é um enigma para o qual cada um tem que elaborar sua
resposta.
 O complexo de Édipo e o complexo de castração remetem a outras questões: em que se prestam os conceitos de “pai” e “mãe” para serem assimilados pelo sujeito feminino e masculino? 
A HOMOSSEXUALIDADE
Tereza Dubeux
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Como é que o triângulo pai-mãe-filho garante uma identificação sexuada e uma escolha de objetos conformes ao indicado pela anatomia da criança?
É na instauração do Édipo e do significante fálico como pólo do complexo de castração que se pode produzir um fracasso. Esse fracasso pode sobrevir segundo duas modalidades, que permite distinguir dois tipos de homossexualidades masculinas.
Há um fracasso por falta de realização da castração que estrutura a homossexualidade perversa; e há um fracasso por excesso de imaginarização da castração que constitui a homossexualidade neurótica. 
A HOMOSSEXUALIDADE
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
Para compreender como Freud, a partir de 1910, pôde fundar a perversão sobre a recusa da diferença sexual, é necessário decifrar em seu texto as três funções: o simbólico, o imaginário e o real.
Baseando-se num artigo escrito por W. Granoff, intitulado “O Fetichismo: o simbólico , o imaginário e o real” em que o autor faz uma análise teórica de um caso de fetichismo apresentado, em 1930, por Alexander Lorand.
 Trata-se de um menino de 4 anos, Harry, que Lorand encontra uma ou duas vezes por semana durante 6 meses. Ele costumava acariciar e beijar os sapatos das amigas de sua mãe, perguntando se tal de suas amigas tinha um grande “peru” e desenha tanto as meninas como os meninos com um “peru”.
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A ESTRUTURA PERVERSA
Granoff interpreta dizendo que não se trata do pênis real mas do falo no simbólico: o fetiche deve ser tomado como elemento de uma atividade simbólica, sem confusão entre a palavra e o seu referente, pois a palavra torna presente o que está ausente. 
Embora o sapato, ou o pé, possam ser tomados como imagens fálicas, esses elementos imaginários só são decifráveis se forem postos em símbolo porque o elemento imaginário tem valor simbólico.
O caso do pequeno Harry mostra o que é a interpretação analítica: passar da relação a dois, segundo o imaginário, para a relação pai-mãe-filho, que obedece à ordem simbólica da troca. O desmentido perverso seria o sinal de uma oscilação mantida entre um e outro desses registros.
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 Lacan sustenta que o processo perverso pode ser entendido à luz da dialética do desejo na criança, do ponto de ancoragem da escolha perversa no contexto da lógica fálica no terreno da dinâmica edipiana.
 A origem desse ponto de ancoragem deve ser buscada no nível da identificação pré-genital da criança, que é, antes de tudo, identificação fálica: a criança se institui como único objeto de desejo da mãe. 
 
 A mãe ocupa um duplo papel em relação à criança: é aquela que lhe satisfaz todas as necessidades e também a que lhe assegura um capital de gozo, mais além da satisfação dessa necessidade. Portanto, ela é investida como onipotente. 
Ao se fazer objeto do desejo materno, a criança tende a transformar o Outro onipotente em um Outro faltoso.
A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
Tereza Dubeux
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A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
. O fundamento da identificação pré-edipiana reside assim, na insígnia da falta no Outro, porque a criança está identificada com o objeto fálico capaz de preencher essa falta.
 
 Essa identificação é fálica e assim permanecerá enquanto um terceiro não vier intervir nessa dialética imaginária do desejo. Enquanto a criança aderir à idéia dessa auto-suficiência materna como única dimensão responsável pela lei, a ordem do desejo, a questão da diferença dos sexos é recusada, e ela permanece tranqüila na certeza de sua identificação fálica.
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
 Essa certeza imaginária da identificação fálica é inevitavelmente confrontada com um ordem da realidade que a colocará em questão.
 
 Essa interrogação é induzida pela intrusão da figura paterna com a qual se abre a dinâmica edipiana e que supõe investimentos mobilizados em torno da diferença dos sexos e da castração.
 
 A função paterna só é operatória sobre a condição de ser investida como uma instância simbólica, e introduzida no discurso pela mãe.
Tereza Dubeux
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A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
 A intrusão paterna através da figura do pai imaginário só pode induzir a uma vacilação da identificação fálica da criança, na medida em que ela pressente, no discurso materno, que a mãe se significa como um objeto potencial do desejo do pai. O pai imaginário, fantasiado pela criança, lhe parece como um rival dela própria junto à mãe.
 
 A criança apreende duas ordens de realidade que interrogam o curso do seu desejo: por um lado, ela se dá conta de que o objeto do desejo materno não depende exclusivamente dela própria; por outro, descobre que a mãe é castrada, e que ela própria não é suficiente para preencher a falta materna. Existe um rival: o pai.
Tereza Dubeux
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A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
 Por trás da figura paterna se perfila um universo de gozo novo, ao mesmo tempo estranho e proibido, de que a criança só pode se sentir excluída. A vacilação de sua certeza originária é para a criança um ponto de partida de um novo saber sobre o desejo do Outro, portanto, de um novo saber sobre o seu. 
 A criança é introduzida nos empreendimentos mobilizados pela diferença dos sexos e no registro da castração. Toda a dinâmica edipiana desenvolve-se em torno da assunção dessa diferença sobre a égide da figura paterna que intervém como instância mediadora do desejo.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
 Face ao enigma da diferença dos sexos, a criança atribui o falo à mãe, iniciando o processo constitutivo das perversões.
 A atribuição fálica resulta da concepção de que alguma coisa que deveria estar lá, falta. A criança não consegue renunciar facilmente a representação da mãe fálica pois renunciar a essa representação seria ser confrontada com o real da diferença dos sexos, com a perda de sua identificação fálica e com a ameaça da castração.
Tereza Dubeux
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A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
 A criança não tem nenhum interesse em acolher esse real, que lhe impõe aceitar uma conseqüência insuportável: libertar-se de sua identificação fálica, imaginária, e renunciar a seu estatuto de único objeto de desejo da mãe. Se a mãe é um ser castrado, a própria criança se sente também ameaçada pela castração.
 
 A emergência da angústia de castração favorece na criança reações defensivas destinadas a neutralizá-la. Essas construções defensivas recusam em aceitar a diferença dos sexos e apontam pra um trabalho psíquico que visa contornar a incidência da castração. Tais processos defensivos se persistem, predeterminam o curso da economia psíquica em vias de uma realização estereotipada estruturalmente: a perversão.
Tereza Dubeux
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A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
 O perverso encerra-se na impossibilidade de assumir simbolicamente a falta, mantendo a coexistência simultânea de uma atitude que leva em consideração a diferença dos sexos e de uma outra que a recusa.
 O perverso é levado a alimentar a convicção de que a mãe não tem falo porque foi castrada pelo pai. Neste sentido, o pai é responsável pelo horror de uma castração supostamente real. O pai é investido como o agente responsável, que obrigou a mãe a se comprometer na falta do desejo, impondo-lhe esta lei que faz com que o desejo de um esteja sempre submetido à lei do desejo do outro.
Tereza Dubeux
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A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
 Alguns fatores indutores são decisivos no decorrer da constituição da perversão pois interrogam a certeza da identificação fálica da criança:
 A ambigüidade materna captura a criança na fronteira da dialética do ser e do ter. De um lado, trata-se da cumplicidade libidinal da mãe, que se desenvolve no terreno da sedução, mantida autenticamente pela mãe; por outro, da complacência silenciosa
do pai.
 Esse apelo sedutor da mãe, que se organiza nos registros do dar a ver e do dar a entender e a tocar, traduz-se nesse momento crucial do Édipo em um verdadeiro convite ao tormento para a criança. Por mais que a criança perceba a incitação ao gozo, a mãe se cala sobre o sentido da intrusão paterna e da questão do desejo que ela supõe.
 
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
 Na cumplicidade erótica que a mãe partilha com a criança, ela pode iludir-se sobre a ausência de mediação paterna face ao desejo da mãe.
 O lugar do pai é perturbador e enigmático. A suspensão do esclarecimento da questão do desejo da mãe contribui para sustentar a ambigüidade que atiça a atividade libidinal da criança. A criança se esforçará para seduzir cada vez mais o objeto de seu gozo na esperança de dissipar qualquer dúvida sobre o sentido da instância paterna, confiando nessa incitação materna que a convida a menosprezá-la (a função paterna).
 
Tereza Dubeux
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A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PERVERSÕES
 O desafio e a transgressão serão encorajados pelo apelo materno ao menosprezo da instância paterna. Essa ambigüidade materna encontra eco num reforço na complacência tácita de um pai em se deixar facilmente desprover de suas prerrogativas simbólicas, delegando sua própria fala à da mãe com todo o equívoco que essa delegação supõe.
 A mãe do perverso não manda no pai, não pode ser inscrita como as mães psicotizantes, fora da lei. A criança permanece confrontada à dimensão de um desejo referido a lei do pai. Trata-se apenas de mostrar que a significação não é essencialmente trazida pela palavra do pai. O discurso materno se faz embaixador da interdição, mas é também por causa dessa delegação que a criança é, apesar de tudo, remetida a uma interdição reportada a lei do pai. Esse pai é o pai imaginário.
Tereza Dubeux
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A CONCEPÇÃO LACANIANA DAS PSICOSES
 O princípio complacente dessa delegação tem por efeito confundir a criança no seio de uma ambigüidade que a captura nas redes de uma alternativa intratável: entre a mãe ameaçadora e interditora, intermediária da fala simbólica do pai e uma mãe sedutora, encorajando a criança a fazê-la gozar, menosprezando a significação estruturante da lei do pai. 
 Tornar-se homem para o menino passa pela simbolização na qual o pênis é elevado à categoria de representante da posse do falo. Isso pressupõe que duas mensagens sejam expressas ao menino na configuração edipiana. A primeira é que sua mãe é desprovida do falo, logo ela deseja. A segunda é que ele não é o falo que falta à mãe.
Tereza Dubeux
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 A concepção lacaniana das perversões
A criança deve identificar-se com aquele que o tem, ou seja, com o pai. Esse mecanismo pressupõe que a mãe comece por reconhecer aquilo que lhe falta e não negue sistematicamente a posse disso àquele que se supõe ocupar o lugar do homem na família.
Essencialmente, a leitura de Lacan consiste em colocar a distinção entre simbólico, imaginário e real. Freud fala da percepção visual da ausência de um órgão real na mulher. Lacan desloca Freud: trata-se não do real, mas do falo imaginário e simbólico. A sua argumentação se ordena em três tempos.
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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 A concepção lacaniana das perversões
A mãe não tem o falo
 Para a criança que não é psicótica, a significação do desejo da mãe não está foracluída, ela designa o que lhe falta, isto é, o significado do falo como significante do seu desejo. Esse simbólico tem efeito sobre o imaginário. Se a criança recebeu da mãe a significação fálica de sua falta, então ela pode fazer-se objeto fálico para a mãe como imagem: o sujeito, menino, ou menina, é, pela imagem do seu eu, o que falta à mãe. Isto é o que está em jogo para o não psicótico. A mãe não tem o falo, logo eu o sou ...para ela.
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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 A concepção lacaniana das perversões
2. A Angústia
 A posição de ser o falo que falta à mãe não é evidente. Lacan lembra que trata-se da questão de saber como a criança dará à mãe esse objeto que lhe falta. Como estar à altura do desejo da mãe? 
 Por ser impossível responder a essa questão nasce a angústia da castração: ser o objeto fálico imaginário para preencher o desejo da mãe é a angústia mesma de ser devorado, engolido, por ela.
 Se Freud falava do horror da castração da mulher a respeito do fetichismo, Lacan diz que a perversão nasce daí como conseqüência da angústia.
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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 A concepção lacaniana das perversões
A mãe tem o falo
Este é o desmentido da castração: recusa da 1ª posição segundo a qual a mãe não tem o falo. Ali onde na mãe falta o falo simbólico, o sujeito coloca no lugar, o falo imaginário, um fetiche.
“A mulher tem, portanto, o falo sobre o fundo daquilo que ela não tem”, dizia Lacan. É a um só tempo um e outro: há clivagem, divisão. O fetichismo torna-se o paradigma de toda a perversão.
A divisão do lado da mãe tem efeito de divisão do lado do sujeito: ele é o falo e não o é, já que a mãe não tem o falo enquanto desejante.
O fetiche é uma defesa contra a angústia do desejo da mãe. É por isso que o fetiche tem a mesma função que o objeto fóbico: defender-se do desejo insaciável da mãe.
 
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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 A concepção lacaniana das perversões
A partir do fetichismo, Lacan vai poder apresentar a estrutura de toda perversão no capítulo IX de seu Seminário A relação de objeto, ao mostrar a dupla função do véu.
O véu é, a um só tempo, o que esconde e o que revela a falta do falo. 
Na perversão, trata-se, para o sujeito, de esconder a falta fálica da mãe, embora aponte, com a ajuda do véu, a figura daquilo de que há falta. 
O véu esconde o Nada que está para além do Objeto enquanto desejo do Outro: a mãe não tem o falo. Mas, ao mesmo tempo e mesmo assim, o véu é o lugar onde se projeta a imagem fixa do falo simbólico: a mãe tem o falo. 
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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 A concepção lacaniana das perversões:
Segundo essa estrutura da projeção da imagem fálica, que o sujeito coloca diante dele, que esconde e designa o Nada, Lacan situa as seguintes perversões:
O fetichismo coloca um véu sobre a falta fálica da mãe. O véu é o ersatz do falo deslocado para o pé, o sapato, o chinelo, a trança, a cabeleira, etc.
O masoquismo não deve ser definido em relação de complementaridade com o sadismo, ou inversamente. Neste sentido, não há sado-masoquismo. Mesmo Freud, em seu artigo de 1919, “Espanca-se uma criança”, afirma que é preciso que o Outro tenha o chicote como potência fálica. 
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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O voyeurismo também não é o complemento do exibicionismo, mas é paralelo a ele.
Lacan introduz a noção de fenda para esclarecer esta perversão. O voyeur entra no desejo do Outro pela fenda. Ele visa o desejo do Outro, surpreendendo-o em seu pudor e sua intimidade; introduz-se no seu mundo privado através da fenda.
Na fantasia, o sujeito é a fenda, de modo que o Outro fique interessado, cúmplice, aberto a esse espetáculo e participe dessa demonstração.
O sujeito é fenda, fissura do véu que separa o escondido do mostrado, o privado do público do espaço do Outro. 
O que o Outro dar a ver à sua revelia, é o que permite recusar a falta fálica, de acordo com a crença perversa: todos os seres humanos têm falo.
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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Exemplos de Casos de Inversão:
André Gide: seus relatos mostram claramente a distinção entre a lei do amor que protege e a lei do gozo. O amor que protege ele dirige à sua prima Madeleine, que se tornará sua mulher, a única que ele amou.
Relata que o grande acontecimento de sua adolescência foi a descoberta da dor de Madeleine diante da má conduta da mãe que despreza o marido por um amante. Dedica sua vida a curá-la desta sua dor imensa.
A essa lei do amor se opõe outra lei, a do gozo do Outro. Neste lugar situa-se a mãe de Madeleine, a tia Mathilde, cujo gozo do jovem corpo de André fez dele objeto de uma intrusão inesquecível.
Essas manobras da tia parecem singularmente com as supliciantes delícias que Gide narra ao cumprir sua inversão.
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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Exemplos de Casos de Inversão:
André Gide:
 Assim, ao descrever sua experiência durante a viagem de núpcias, ele conta que a cada parada do trem ele experimentava supliciantes delícias em apalpar o que se lhe era oferecido a sua carícia de macia carne de âmbar. Sua mulher, sentada à sua frente, fingia nada ver, mas ao chegar no ônibus que nos levaria ao hotel, ela dizia num tom em que eu sentia mais tristeza do que censura: “ você parecia um louco ou um criminoso”.
Este é o sentido da paixão: a prova de sofrer da irrupção do Outro em seu próprio corpo, tornando o paciente o arbitrário do seu gozo.
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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Exemplos de Casos de Inversão:
Henry de Montherlant:
 Caso conhecido como o da estranha identidade entre os desejos e os sonhos de sua mãe e os de seu filho, Henry. Identidade essa que permanecerá secreta muito tempo até a publicação tardia de uma autobiografia intitulada Les garçons. Só então, Montherlant cessa de atribuir o drama de sua vida a seus educadores do colégio onde estudava.
Ele fala do vínculo estreito entre o amor de sua mãe por ele e seu amor pelo menino. Amor único, insubstituível, que ele confessa pouco antes do seu suicídio em 1972.
De onde viria a unicidade desse amor entre Henry e Serge? Essa unicidade decorreria do lugar insubstituível que Henry recebeu da mãe.
Ele escreve; “até os 12 anos, vinha à cama da mãe antes de ir se deitar. Ela o abraçava, de camisola, quente como um patinho.”
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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Exemplos de Casos de Inversão:
Henry de Montherlant
Isso durou até o dia em que ele a tocou onde não se deve.
O marido não tem nenhum significado para a mãe. O amor selvagem e forte é para Henry.
 A estranha identidade aparece quando Henry tem seu encontro amoroso com o rapaz no Colégio Sainte-Croix. Ao narrar este encontro, ele diz que por saber ser aquela a última vez que ia tocar o rosto daquela criança, tentou pôr um pouco de doçura no que para a eternidade não ia ser mais. Ajoelhando-se junto a Serge, desenrolou o seu cachecol e enfiou o rosto em seu pescoço quente; tomou seu rosto em seu braço dobrado e o beijou nas pálpebras. No final ele se dá conta de que esse beijo nas pálpebras era o que sua mãe fazia com ele quando ele dormia. Assim, essa reconstrução do filho permite ver que aquilo de que ele goza em Serge é o gozo mesmo de sua mãe.
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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Exemplos de Casos de Inversão:
Henry de Montherlant
Ele diz, ainda, entender que mais do que nunca por Serge, ela permanecia em sua vida. Por Serge, ela o conservava.
Marcado não pela expulsão do colégio em razão do escândalo dessa amizade particular, mas marcado por esse gozo da mãe a perpetuar-se incessantemente, voltando-se para um rapaz como ela se voltara para ele.
Assim, por intermédio do filho, ela continua a ter o falo... para além mesmo de sua morte! 
É uma coisa terrível que essa mãe, com todo o seu amor materno, toda a sua honestidade, toda a sua vivacidade de espírito, toda a sua educação, não entrasse quase nunca na vida de seu filho senão para falsificá-la, ou para abaixá-la, ou para pô-la em confusão. Era culpa dela ou era só que os adultos, o que quer que façam, só fazem estragar a infância e a adolescência? 
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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 Freud formulou duas definições da perversão a cada vez que enunciava a afirmação de uma proposição universal:
 Toda criança tem uma sexualidade perversa.
 Todo ser humano tem falo.
 Lacan, em 1966, acrescenta o enunciado de uma terceira proposição universal, procurando responder à questão da perversão nas mulheres.
 Em 1958-1959, no seu Seminário, ele dizia a respeito da mulher: 
“Há uma singular similaridade de sua fórmula transubjetiva, inconsciente, com a do perverso, se tudo o que descobrimos da economia inconsciente da mulher cabe em equivalências simbólicas do falo com todos os objetos que se separam dela, e em primeiro lugar o objeto que se separa dela, o seu produto infantil”. É, portanto na relação da mulher como mãe que é preciso identificar sua possibilidade de perversão.
 
LACAN E O DESMENTIDO DO REAL
Tereza Dubeux
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Lacan e o desmentido do Real 
Dois anos depois, no Seminário De um Outro ao outro !1968-1969), Lacan faz um seminário sobre a neurose e a perversão. Questionando a posição do sujeito na perversão, ele afirma que o sujeito se faz objeto a serviço do gozo do Outro. 
Ao defender essa posição teórica, Lacan se ergue contra o julgamento habitual segundo o qual o perverso só pensa no próprio gozo sem levar em conta o Outro.Ele afirma que se trata do inverso: “ Longe de estar fundada sobre algum desprezo pelo Outro, a função do perverso é algo que deve ser avaliado de modo diferentemente rico... Ele é aquele que se dedica a tapar o furo no Outro.” Ele se vota e se devota ao gozo do Outro, para que o Outro exista não barrado, não incompleto. 
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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Lacan e o desmentido do Real 
Assim, segundo as duas pulsões, a escópica e a invocante, o sujeito se faz objeto a para um mais-de-gozar do Outro, segundo duas modalidades:
Suplemento a: sadismo e voyeurismo
 O voyeur interroga pelo olhar o que falta como falo no Outro par suplementá-lo e assim proteger-se disso. Da mesma forma, o sádico dá ao Outro voz; ele se faz instrumento do que ele supõe estar faltando no Outro para o seu gozo.
Complemento de: masoquismo e exibicionismo
 O exibicionista visa fazer aparecer no Outro o olhar como sinal de possível cumplicidade no gozo. Da mesma forma, o masoquista entrega-se totalmente à voz do Outro e faz um esforço desgraçado para que ela surja e se imponha.
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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Lacan e o desmentido do Real 
 A definição da perversão como devotamento ao gozo do Outro, complementando-o, ou suplementando-o, demonstra-se a partir de uma nova lógica segundo estas três coordenadas: O real, A perversão e Uma nova clivagem.
O Real da não relação sexual
 Lacan nega a possibilidade de se estabelecer uma relação onde houvesse um Outro do Outro, que inscreveria o saber do dizer de toda a verdade. Não haveria uma complementaridade homem-mulher, de modo que duas metades façam um. A fórmula de Lacan se enuncia: “Não há relação sexual”. Significa dizer que o Outro, como lugar dos significantes, estando barrado, incompleto, se demonstra como um impossível quanto à inscrição do que estabeleceria uma relação entre dois gozos, o do homem e o da mulher de tal modo que de dois eles só façam um. O que não cessa de não se escrever é o real da não-relação sexual. 
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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Lacan e o desmentido do Real 
 A Perversão:
É a partir do que falta no simbólico que toma lugar a perversão.
Lacan vai dizer que do lado do homem: “Se O Homem quer A Mulher, ele só a alcançará fracassando no campo das perversões”. Do lado da mulher, dirá Lacan: “A mulher só entra em função na relação enquanto mãe porque enquanto mãe, ela estará toda inteira no gozo fálico.”
Eis, portanto, essa definição da perversão com esta proposição universal: todo gozo fálico é perverso, isto é, estabelece relação sexual graças ao Outro, completo. 
Em maio de 1976, como sua última definição, Lacan enunciará que : “Toda sexualidade humana é perversa se seguirmos bem o que diz Freud.” 
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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Lacan e o desmentido do Real 
 Uma Nova Clivagem
Octave Manoni dizia: Eu sei...mas mesmo assim para articular a clivagem inerente ao desmentido.
Trata-se agora de uma nova clivagem, de uma clivagem entre dois gozos. Um é fálico, o outro está para além do gozo fálico. Assim , há disjunção entre, de um lado, o postulado da perversão e do outro, o enigma que é o não-saber de um gozo outro que o perverso.
Lacan chama essa clivagem de inadequação: “ Não há relação sexual porque o gozo do Outro tomado como
corpo é sempre inadequado: perverso, de um lado, uma vez que o Outro se reduz ao objeto a, e do outro, direi louco, enigmático.”
É bem este o encontro entre um homem e uma mulher: pura contingência; o impossível do não se escrever cessa.
 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A PERVERSÃO NA MULHER
 Além da homossexualidade em que pode se engajar a sexualidade feminina, é possível afirmar que as mulheres podem também manter um certo modo de relação com a perversão. 
 No que se refere à homossexualidade feminina, há a dinâmica do empreendimento fálico e a função da referência ao terceiro masculino, testemunha incontornável do desafio que a homossexual lança a todo homem enquanto castrado. É através dessa mediação masculina terceira que vem indiretamente se colocar a questão referente à própria essência da feminilidade que percorre fundamentalmente toda a problemática enigmática da perversão feminina.
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A PERVERSÃO NA MULHER
Piera Aulagnier sustenta que somente o outro pode trazer a uma mulher alguma segurança sobre a questão de sua feminilidade. Uma mulher jamais recebe a investidura de sua feminilidade senão através do consentimento de um homem, cujo único desejo basta para lhe expressar se ela a possui ou não.
A feminilidade partilha com o pênis o privilégio de ser por excelência objeto de inveja. O modo de assumir essa feminilidade é objeto de uma invariável rivalidade de toda mulher face a uma outra.
Com o registro da inveja, retornamos, pelo viés da feminilidade à problemática da homossexualidade feminina e da perversão. A inveja do pênis traduzida através da reivindicação fálica, não deixa de ser, para a homossexual, a expressão paradoxal de sua inveja da feminilidade que venera junto a sua parceira. 
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A PERVERSÃO NA MULHER
A mulher homossexual parece, inicialmente, ter amado demais seu pai. Porém tinha anteriormente, amado demais sua mãe e não suportou a frustração desse amor. Por ocasião da mudança de objeto de amor pre-edipiano, o pai herda a transferência de amor e torna-se o suporte de uma identificação masculina possível. O objeto de amor paterno não desaparece: a criança introjetá-o, apropriando-se de suas insígnias fálicas. 
Emblemas fálicos menosprezados pelo discurso materno que não deixa de destilar que o pai nunca soube explorar seus privilégios junto a ela. Expressando como faltante junto à filha, a mãe revela a dimensão de impostura do pai que supostamente não soube fazer a lei. Esta ambigüidade materna revela-se suficiente para que a menina identifique-se com o objeto dessa falta.
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A PERVERSÃO NA MULHER
 Com a mulher homossexual acontece exatamente isto: propondo-se como objeto capaz de preencher a falta da outra, ela reata de certo modo com seus primeiros amores reencontrando inconscientemente na outra a mãe faltante.
A proeza que a homossexual se esforça para realizar em relação ao que nenhum homem (nenhum pai) poderia fazer. Ela própria representa o objeto dessa falta, que ela não tem, mas que pode contudo dar ao outro feminino.
Por mais que a homossexualidade se apresente como uma via sexual em que a mulher se engaja, trata-se efetivamente de perversão? Existe perversão, enquanto estrutura na mulher?
Tudo se passa como se a mulher atualizasse seu investimento libidinal do modo perverso sem jamais ter nada para perverter.
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A PERVERSÃO NA MULHER
 Se considerarmos a recusa da castração como o traço mais fundamental da dinâmica da estrutura perversa, é preciso admitir que esse traço é recessivo na economia do desejo da mulher.
 O que parece acontecer com as mulheres é uma aptidão para perverter sua libido, sem perverter-se ela própria. Ela pode perverter sua libido em três modos: o modo do narcisismo, o da maternagem ou o da paixão.
Do ponto de vista do narcisismo, a mulher pode tornar-se para ela mesma seu próprio fetiche oferecendo seu corpo ao gozo sexual do homem. A erotização do corpo fetiche só é satisfatória na condição de ser entregue a um homem, destituído de sua atribuição fálica e da referência à lei que ela supõe, isto é, reduzido a uma mera função instrumental.
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A PERVERSÃO NA MULHER
 Quanto à maternagem: 
Pode haver uma tendência das mães a perverter a relação com o filho. Devido a relação naturalmente privilegiada que a mãe mantém com a criança, a relação mãe/filho subtendida pelo amor materno, engaja-se por vezes em uma tendência perversa, se não encontra matéria para sublimar.
A criança não deixa de encontrar, nesta disposição perversa materna, o eco mais favorável à dinâmica do seu desejo que a leva a se constituir, ela mesma, como objeto que preenche a falta do Outro.
Lacan acrescenta ainda: “ É o que os autores exprimiram dizendo que , se há menos perversão entre as mulheres que entre os homens, é que elas satisfazem sua grandeza perversa em relação com seus filhos.”
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A PERVERSÃO NA MULHER
 Quanto à Paixão:
A mulher alimenta freqüentemente o fantasma de se tornar para o outro amado, objeto de sua paixão. Esta atração particular que a paixão exerce sobre a mulher, é o que pode lhe servir de porta de entrada no registro da perversão.
É em nome deste objetivo ideal através do qual a mulher quer se supor a única a ser desejada, ou seja a única a tornar-se exigência vital para o desejo do outro, que se perverteria a dinâmica feminina do desejo.
O fantasma da prostituição é um exemplo do masoquismo feminino. O fascínio exercido pela prostituição deve-se à interação recíproca da transgressão e da submissão. Quanto mais o objeto feminino é maltratado e rejeitado, mais é investido como objeto distribuidor de gozo.
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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A PERVERSÃO NA MULHER
A homossexualidade feminina
Comentando o artigo de Freud de 1920, “Psicogênese de um caso de homossexualidade feminina”, Lacan diz, em seu Seminário A Relação de Objeto: o que a jovem mulher deseja na Senhora está para além da mulher amada; é o que lhe falta, o falo simbólico. A perversão homossexual consiste em encobrir essa falta com um substituto: um filho, como imagem fálica.
Ao se identificar com o pai, é possível para a jovem homossexual assumir seu papel. Ela ama como um homem, supõe ter o pênis e ela o dá à Senhora que não o tem, conforme a equivalência pênis imaginário/criança. 
Quando o pai intervém publicamente com um olhar furioso para a filha e sua amiga, ela passa ao ato: atua, em público, o parto de sua amiga: esta é a significação de pular o parapeito e “cair” na linha do trem. Ela se faz a criança que nasce da Senhora como um substituto da falta fálica nela identificada.
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A PERVERSÃO NA MULHER
A homossexualidade feminina
Neste caso de Freud, no momento em que a jovem vivia o declínio do Édipo, voltada para o pai à espera de receber dele uma criança, o pai engravida a mãe, causando-lhe grande decepção. Se, até então, ela se conduzia com prazer como uma mãe em relação a um menino de 4 anos, filho de amigos de seus pais, diante desta decepção, ela se volta para a Senhora mais velha que ela, tentando imaginariamente dar a ela o que não recebeu do pai. O processo de identificação ao pai é o seu modo de lidar com a decepção, com a falta, enfim com a perda. 
Há uma troca: no lugar da frustração do objeto real (a criança) pelo pai simbólico, instala-se uma identificação com o pai imaginário. Esse luto do objeto perdido se cumpre pela identificação com aquele que poderia dá-lo, mas que se recusou fazê-lo. 
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A ESTRUTURA PERVERSA
A RELAÇÃO DO PERVERSO COM AS MULHERES:
 A mulher pode representar para o perverso a mãe fálica completamente idealizada que o protege contra a mãe como objeto de desejo. Encarnando o ideal feminino, a mulher é ao mesmo tempo investida como um ser onipotente e virgem de todo desejo, objeto puro e perfeito.
 Por outro lado, a mulher pode representar a mãe repulsiva e abjeta porque sexuada. Nesse caso, ela
é ainda mais repugnante porque é desejante e desejável em face do pai. Para o perverso, essa mulher/mãe é relegada à categoria de puta, oferecida ao desejo de todos já que não está exclusivamente reservada ao próprio desejo. Esta representação remete o perverso ao horror da castração e à repulsa em relação ao sexo feminino.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
PROXIMIDADE ESTRUTURAL DA PSICOSE E DA PERVERSÃO
 
 O engajamento perverso é tributário das mensagens significantes através das quais a mãe e o pai transmitem ao sujeito algo sobre a posição dos seus desejos. A criança não é apenas vítima nesse processo, ela é um ser desejante, ela é agente de uma força de inércia que deseja. Existe, portanto, uma disposição do desejo da criança que intervém na dinâmica desejante dos pais.
 É o significante da lei, a metáfora paterna, que permite simultaneamente compreender a proximidade dessas estruturas e estabelecer a linha divisória, separando uma da outra. É necessário recorrer ao significante da lei como agente discriminador na instituição dos processos perversos e psicóticos a fim de determinar o lugar a partir do qual esse significante fará significação para o sujeito.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
PROXIMIDADE ESTRUTURAL: PSICOSE E PERVERSÃO
O caráter estruturante da metáfora paterna, operação simbólica por excelência, produz significação. O significante Nome do Pai só tem eficiência porque não permanece como puro significante ao ser associado ao significado do desejo da mãe, logo da falta da mãe.
 No psicótico, a confusão entre o significante da lei e o significante fálico é completa. Por essa razão, predomina a identificação fálica. A foraclusão do Nome do Pai traduz a impossibilidade para esse significante de ter podido entrar em um processo de significação, portanto, há uma impossibilidade de associar um significado para simbolizar a atribuição fálica paterna. 
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
PROXIMIDADE ESTRUTURAL : PSICOSE E PERVERSÃO
 Existe uma diferença entre o significante da lei e a sua significação. No perverso, essa diferença é mantida, mesmo que seja de modo radicalmente marginal. O significante da lei permanece relacionado à instância paterna,embora imaginária. A atribuição do falo à mãe coexiste com a atribuição paterna. 
A estrutura cede ao processo de simbolização da lei: o elemento Nome do Pai vem como elemento de substituição ao significante do desejo da mãe. A foraclusão é neutralizada em benefício do recalque original.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
PROXIMIDADE ESTRUTURAL DAS PSICOSES E DAS PERVERSÕES
Foraclusão x Castração
 Enunciar que a foraclusão do Nome do Pai implica que o significante Nome do Pai jamais surgiu no simbólico provoca certa ambigüidade. Como esta foraclusão, é o próprio simbólico que não surge como tal, já que é a referência paterna que o faz existir para o sujeito, se o símbolo não existe para o sujeito, é todo o conhecimento que lhe falta, portanto, ele não tem conhecimento da castração. Como pode o psicótico compreender que ele evita ou foraclui algo do qual não tem conhecimento?
 Evidentemente o Nome do Pai está foracluído por causa do que significa: o psicótico teria uma certa experiência da castração, mesmo se esta castração não tem, para ele, nenhuma inserção simbólica no sentido de que ele não a simboliza. Lacan sustenta que a foraclusão refere-se a alguma coisa que já tomou o sentido da castração.
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
PROXIMIDADE ESTRUTURAL DA PSICOSE E DA PERVERSÃO
Foraclusão x Castração
 No perverso, o significante fálico se presta à substituição metafórica, embora que com alguma reserva: se o significante fálico é referido em lugar de uma atribuição paterna, esta atribuição permanece num estado de suposição, considerando que o pai não foi capaz de dar provas disso. 
 Apesar do significante fálico estar relacionado ao pai no discurso da mãe, esse significante retorna à instância materna, que se torna depositária da atribuição fálica delegada pela complacência paterna. Por faltar uma referência paterna estável, o significante vai se manter no entremeio simbólico, que é responsável pelo desmentido (dinâmica contraditória em relação à castração).
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
PROXIMIDADE ESTRUTURAL DA PSICOSE E DA PERVERSÃO
Foraclusão x Castração
 A mãe fálica, na perversão, encarna a lei junto à criança na medida em que é sua embaixatriz. Ela representa a lei junto à criança na medida em que se operou uma transferência de lugar simbólico do pai para a mãe.
 
A função paterna existe enquanto função simbólica, embora tenha sido delegada à mãe, resultando disso, um equívoco para o perverso. Intermediada deste modo, pelo viés da instância materna, a lei tem a marca de uma certa desnaturação na sua ressonância simbólica. 
Tereza Dubeux
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A ESTRUTURA PERVERSA
PROXIMIDADE ESTRUTURAL DA PSICOSE E DA PERVERSÃO
Foraclusão x Castração
A lei não se inscreve para o perverso como uma lei que submete o desejo de um à lei do desejo do outro.
 A lei, é uma lei perversa, que ordena ao perverso transgredi-la para sustentá-la a seu modo. A lei à qual obedece o perverso, é a lei do gozo, ele se faz então, instrumento do gozo do outro, propondo-se como o lugar da transgressão.
 Essa transgressão tem como objetivo encarnar, na realidade, o significante fálico, visando desviar o alcance da castração.
Tereza Dubeux
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PROXIMIDADE ESTRUTURAL DA PSICOSE E DA PERVERSÃO
 A mãe do psicótico é uma mãe fora da lei, não assimila nada do sentido da lei, por não ter podido, ela mesma, simbolizá-la para si própria. Trata-se, portanto, nesse caso, de uma lei pessoal, arbitrária, segundo suas próprias conveniências. A mãe se investe junto à criança como onipotente e a função paterna é completamente negada pela mãe na sua relação à criança.
 
A criança não é, assim, nem reconhecida, nem designada no discurso materno como inscrita em uma filiação.
A ESTRUTURA PERVERSA
Tereza Dubeux
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
A clínica da perversão apresenta inúmeras dificuldades à psicanálise, seja pelas características próprias da estrutura perversa, fundada no mecanismo da recusa da castração, no desmentido, seja pela ineficácia da neutralidade e associação livre neste trabalho.
Sabemos que a presença do ato perverso na vida sexual não implica a existência de uma estrutura perversa. O sujeito neurótico pode apresentar uma montagem perversa para solucionar seu problema edipiano, ou como forma de evitar a dor psíquica, revelando com isso traços perversos. O trabalho analítico com esses tipo de paciente difere radicalmente do trabalho realizado com pacientes de estrutura perversa.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
No trabalho clínico com pacientes perversos, o analista depara-se com manifestações hostis e desqualificativas que dificultam a função da escuta psicanalítica, pois, repetidamente o analista se encontra enlaçado como objeto real do gozo.
O verdadeiro perverso dificilmente procura a análise, mesmo porque a prática perversa lhe garante o acesso ao gozo. O objeto fetiche, além de assegurar o prazer sexual, ainda é considerado salutar e propício ao fetichista. 
Quando acontece dele procurar um analista, não é em função de sua prática sexual. Se na neurose o sujeito se questiona a respeito do seu desejo: “que queres?”, “ que quero?”, na perversão não existe uma questão, mas uma resposta sobre o desejo.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
Na perversão, o desejo aparece como vontade de gozo e o ato é vivenciado como um triunfo isento de qualquer sentimento de culpa. O perverso sabe o que quer e esta é a base de sua arrogância, já que está convencido de saber a verdade sobre o gozo. 
Desta forma, ele não está à mercê das apreensões, inibições, recriminações, auto-acusações e frustrações que angustiam o sujeito neurótico. Ao contrário, o perverso não se penaliza e ainda vê o sofrimento do neurótico com desprezo. Para ele, o neurótico é um sujeito que não sabe o que quer, que não sabe gozar.
O perverso
é aquele que está sempre a postos para o gozo, agindo sempre na hora certa. Já o neurótico mede o tempo e seleciona criteriosamente sua hora de agir, pois ele é um sujeito de falta, de desejo; a ele são impostos os intervalos do véu da alienação.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
Se o que está em jogo é o gozo, não demanda de análise. O sujeito perverso sabe o que fazer, não se interroga, realiza seu ato e o repete reiteradamente.
Quando a relação com o gozar é perturbada ( como, por exemplo, ocorre um rompimento no contrato estabelecido por parte do parceiro ou ainda quando se deu o advento da Aids e sua conseqüências mortais) a ruptura da montagem perversa desestabiliza o sujeito, possibilitando o surgimento da angústia, da loucura e da depressão. 
Nesses momentos, o perverso pode buscar um analista. Mas como será sua relação com ele? Como se manifesta a transferência no sujeito perverso?
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
A posição subjetiva do perverso na relação analítica
O que o perverso quer de um analista?
 Aliviar-se de algum mal estar momentâneo, sem que esteja disposto a abrir mão de seu gozo mortífero?
Utilizar-se da análise como um álibi contra possíveis implicações médico-legais de seus atos eventualmente criminosos, deles fazendo o analista um cúmplice?
Apropriar-se do discurso analítico para refinar sua tarefa inesgotável de desafiar a lei, através da busca do gozo a qualquer custo?
Formar um par perverso com o analista, deslocando-o da escuta e reduzindo-o a um mero ouvinte e voyeur de seu monólogo exibicionista?
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
Em qualquer destas demandas, a transferência é minada em sua função de suporte para a interpretação, dando lugar a uma relação estéril com o analista, da qual o perverso busca sempre conseguir algum lucro que atenda seu propósito de manter o controle.
As regras da associação livre e da neutralidade revelam-se inúteis para o trabalho analítico. A primeira, por ser sistematicamente desrespeitada pelo analisando e substituída pelo relato compulsivo e inflexível de suas encenações reais; e a segunda, por instalar o analista no lugar de ouvinte passivo e de cúmplice que o perverso lhe aponta e manobra para mantê-lo. 
O perverso desafia o analista em sua prática e em sua ética, reeditando no real de suas encenações a recusa à castração que a análise ameaça impor-lhe pela via do simbólico.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
O mecanismo da perversão, é sustentado à custa de um imenso e desgastante investimento psíquico que se defronta com uma realidade da qual o perverso percebe que, mesmo ele, não pode dela escapar: a inexorabilidade do tempo. 
A decadência física e a falibilidade do corpo, do qual se utiliza impiedosamente na repetição de suas encenações na busca compulsiva pelo gozo, acabam por confrontá-lo com o horror inconsciente de não poder depender delas indefinidamente para escapar da angústia, da loucura e da melancolia, que a perversão manteve afastadas.
Esse ponto limite, que ocasionalmente pode levar o perverso a procurar um analista, é exatamente a possível fenda que abala toda a sua estrutura defensiva e através da qual pode-se entrever alguma possibilidade de subjetivação e de uma verdadeira demanda de trabalho analítico.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
Esse trabalho pode ser intolerável para o perverso por implicar um sofrimento psíquico sempre por ele negado através do mecanismo da recusa. Quando sua crença ilusória é posta à prova pela realidade surge uma angústia imensa pois é preciso lembrar que não foi só sua vida sexual que foi construída sobre o alicerce da clivagem, mas toda sua superfície identificatória.
O trabalho de subjetivação o obrigará a abandonar, pelo menos parcialmente, o gozo proveniente do seu ato impostor. O sexo explícito e o horror inerentes ao discurso perverso, fascinam e ameaçam quem o ouve, colocando “o desejo de analista” à prova, fazendo com que o analista se sinta questionado em seu saber.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
Na relação analítica é comum o perverso utilizar a linguagem psicanalítica, sem, no entanto, ter a intenção de estabelecer uma interlocução. Sua fala permanece inarticulável, podendo ser vista como um desafio, uma manobra de redução do outro, ou uma mera sedução.
A transferência por ele montada é de ordem narcísica, ele nega ao analista o lugar de “sujeito- suposto- saber”. As intervenções do analista que revelam a clivagem do perverso são declinadas visto que, para ele, é primordial se manter fora do campo do Outro, pois é lá que reside a angústia – portão de entrada do desejo. 
O discurso do perverso é uma fala vazia de sentido que exclui a angústia e condena o desejo a circular fora da cadeia discursiva. Ele sustenta seu desejo pelo gozo, sustenta sua vontade de gozo pelo ato. No confronto entre a palavra e o ato prevalece o ato pois este permite que ele alcance o próprio gozo, ao mesmo tempo em que sustenta o gozo do Outro. 
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
O perverso se faz objeto a serviço do gozo do Outro, dedicando-se a tamponar a falta, o furo do Outro, para que ele exista como sujeito não barrado. O gozo do perverso depende do não consentimento do outro e advém da dor provocada no parceiro.
O perverso reedita na cena analítica o mesmo modo de agir com os seus parceiros. Por privilegiar uma Lei recusada que o persegue, uma cultura narcisista que o determina, ele procura definir as regras do jogo e manter o controle do setting analítico.
A conjunção de elementos que caracterizam a relação transferencial na análise do perverso acabam por encurralar o analista entre duas posições possíveis polarizadas, ambas dissonantes com a ética psicanalítica: a de moralista e regulador ou a de cúmplice e voyeur.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
A transgressão e o desafio contumaz à lei por parte do perverso, o sistemático desrespeito à regra fundamental da associação livre e sua substituição pela confissão repetitiva e monótona de sua encenações, seu absoluto desprezo pelo “sujeito- suposto- saber” dificultam, ou impossibilitam, o analista de ocupar a sua posição.
Em vez de “semblant” de objeto, o analista é tomado pelo perverso como mais um objeto real de gozo, ao ser colocado na posição de masoquista ouvinte passivo, cúmplice e voyeur do seu discurso exibicionista.
Na tentativa de escapar desta posição paralisante e diante da pobreza simbólica e fantasmática do discurso perverso, o analista pode flagrar-se na posição sádica de moralista e regulador, o que estimula o desafio e a transgressão perversa e alimenta a perpetuação do gozo.
Oscilando entre essas duas posições, o analista é destituído de seu lugar e de sua função, havendo o risco de estabelecer uma relação dual com o perverso na qual desaparece o desejo de analista. É exatamente neste ponto que ele desmonta o dispositivo analítico e questiona seu arcabouço teórico.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
O grande desafio que se coloca para os analistas no trabalho com o perverso é o de achar uma posição que lhe permita aproveitar aquilo que o sujeito traz além do relato de suas encenações. Desafio que passa necessariamente por um posicionamento teórico e técnico diverso daquele consagrado ao trabalho analítico com os neuróticos.
Lacan sustentou que a direção do tratamento psicanalítico, em analogia às guerras, comporta os níveis da política, da estratégia e da tática. Neste sentido, ética, manejo da transferência e interpretação são, respectivamente, os princípios que devem nortear o analista na luta que ele trava, no setting analítico, entre o “desejo de analista” e as resistências do cliente.
Se na análise com os neuróticos, há uma eficácia clínica, no trabalho com os perversos, as questões técnicas são questionadas pela posição ocupada pelo cliente e por aquela na qual ele busca manter o analista.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
Qual a estratégia adequada à clínica da perversão?
Se para o neurótico a estratégia analítica se baseia na instalação de uma
neurose de transferência que permite a interpretação ao longo do deslizamento da cadeia significante, na análise do perverso, a estratégia é outra.
No lugar de material simbólico (sintomas, sonhos, associações), ele oferece ao analista o real de suas encenações que carecem do duplo sentido que propicia a intervenção interpretativa pela palavra.
Intitulando-se mestre do gozo e lutando para manter a angústia no campo do Outro, o perverso recusa ao analista o lugar de sujeito suposto saber. O perverso não busca uma cura para o seu sintoma, tampouco um saber sobre o seu desejo, a ele só interessa fazer o outro gozar.
Por estas razões, a moeda de troca com os perversos não pode se situar no plano simbólico como na análise com os neuróticos.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
Qual a estratégia adequada à clínica da perversão?
Jean Claude Maleval, ao confrontar as estruturas clínicas com o gozo, pontuou que o psicótico tem uma relação de certeza quanto ao gozo do Outro; o neurótico mantém uma posição de suposição sobre esse gozo; já o perverso testemunha um saber fazer sobre o gozo em sua interação com o outro.
A estratégia defendida pelo autor para a clínica do perverso é a de buscar a instalação do “Sujeito-suposto-saber-fazer”. A atribuição de um “saber fazer” propiciaria ao analista intervir do lugar de detentor de um saber sobre o que o perverso deseja: gozar.
Tal atribuição possibilitaria a emergência de uma relação transferencial que, se configurada, permitiria ao perverso supor que há um sujeito para além do seu saber fazer. Conseqüentemente, haveria uma transformação da posição do sujeito com seu saber, até então absoluto.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
Qual a estratégia adequada à clínica da perversão ?
Um efeito da instalação da transferência seria a de levantar a suspeição sobre o ato perverso, deslocando-o para o que há de verdade no sujeito: a falta e, desta maneira, possibilitando-lhe o ingresso no campo do Outro. 
As situações difíceis impostas ao trabalho analítico com o perverso exigem recursos táticos, diferentes da interpretação, que visem instaurar o “sujeito-suposto-saber-fazer”na posição do analista.
Embora a psicanálise seja a clínica do singular, a experiência adquirida com a clínica da perversão permite prever uma gama de desafios endereçados ao analista pelo paciente, aos quais é preciso responder de forma a sustentar a posição estratégica proposta.
Entre os recursos táticos utilizados para o manejo da transferência com os perversos destacam-se: a banalização, a trivialização, a ironia, o paradoxo, o humor, o ato analítico, o desvelamento da angústia, a atribuição de sentido e a restauração histórica.
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
Qual a estratégia adequada à clínica da perversão ?
As respostas do analista ao perverso dependem diretamente da posição que este ocupa em relação ao Outro. Quando o perverso se posiciona enquanto encarnação do saber fazer gozar, é necessário que o analista suporte o jogo perverso no qual ele é chamado como parceiro, acolhendo o relato de suas encenações sexualizadas e violentas, confrontando o horror do gozo a partir do que podemos chamar de trivialização da transferência. Este recurso é utilizado para atestar o caráter “prosaico” de suas encenações, levando o perverso a se questionar sobre este saber rígido e implacável que o escuda da desilusão, da angústia e, ainda lhe garante fazer o Outro gozar.
A mensagem aqui transmitida pelo analista ao perverso ao remeter o seu reluzente discurso de horror à trivialidade, é a de que seus atos não possuem a originalidade que ele lhes atribui, seja por sua repetição monótona denunciada pelo analista, seja porque este lhe escuta com o aparente desinteresse de quem “já sabe”sobre o que é relatado
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PERVERSÃO: UMA CLÍNICA POSSÍVEL? 
Qual a estratégia adequada à clínica da perversão ?
Para que se vença o impasse analítico entre uma escuta acolhedora e conivente e a atitude moralista de denúncia de uma prática, a proposta é que o analista opere com um paradoxo: quando localizado pelo perverso na posição de cumplicidade, o analista deve fazer semblant do grande Outro, assim representando um saber fazer, porém com um poder que não subjugue o perverso e nem goze dele.
Por outro lado, quando o perverso localizar o analista como moralista, detentor da lei, estrategicamente, este faria semblant de objeto, causa do desejo, Da posição de objeto, o analista apontaria para Outra cena, buscando a instalação do duplo sentido da dimensão simbólica: “o que quer com isso?”
 O que o analista busca com os diversos recursos mencionados é a subjetivação da posição perversa, ao preço da eclosão da angústia e de sua própria fragmentação, pois o risco de desmontar sua recusa sinaliza o perigo iminente de ter que se haver com o desamparo absoluto vivenciado diante do não saber. 
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PSICOPATIA X SOCIOPATIA
Sociopatia
As características dos sociopatas englobam, principalmente, o desprezo pelas obrigações sociais e a falta de consideração com os sentimentos dos outros. Eles possuem um egocentrismo exageradamente patológico, emoções superficiais, teatrais e falsas, pobre ou nenhum controle da impulsividade, baixa tolerância para frustração, baixo limiar para descarga de agressão, irresponsabilidade, falta de empatia com outros seres humanos, ausência de sentimentos de remorso e de culpa em relação ao seu comportamento. 
Essas pessoas geralmente são cínicas, incapazes de manter uma relação leal e duradoura, manipuladoras, e incapazes de amar. Eles mentem exageradamente sem constrangimento ou vergonha, subestimam a insensatez das mentiras, roubam, abusam, trapaceiam, manipulam dolosamente seus familiares e parentes, colocam em risco a vida de outras pessoas e, decididamente, nunca são capazes de se corrigirem.
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SOCIOPATIA E PSICOPATIA
Esse conjunto de caracteres faz com que os sociopatas sejam incapazes de aprender com a punição ou incapazes de modificar suas atitudes.
 Quando os sociopatas descobrem que seu teatro já está descoberto, eles são capazes de darem a falsa impressão de arrependimento, falseiam que mudarão "daqui para a frente", mas nunca serão capazes de suprimir sua índole maldosa. Não obstante eles são artistas na capacidade de disfarçar de forma inteligente suas características de personalidade. 
Na vida social, o sociopata costuma ter um charme convincente e simpático para as outras pessoas e, não raramente, ele tem uma inteligência normal ou acima da média 
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PSICOPATIA X SOCIOPATIA
Psicopatia
O psicopata, por sua vez, superdimensiona suas prerrogativas, possibilidades e imunidades; "esta vez não vão me pegar", ou "desta vez não vão perceber meu plano", essas são suas crenças ostentadas.
Toda lei ou norma, gera temor e inibição, implicam na possibilidade de castigo. A lei está feita para domar, para obrigar e para condicionar as condutas instintivas dos indivíduos. 
O psicopata não apenas transgride as normas mas as ignora, considera-as obstáculo que devem ser superados na conquista de suas ambições. A norma não desperta no psicopata a mesma inibição que produz na maioria das pessoas.
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PSICOPATIA X SOCIOPATIA
Para os contraventores não psicopatas, vale o lema "Se quer pertencer a este grupo, estas são as regras. Se cumprir as regras está dentro, se não cumprir está fora". Mas o psicopata tem a particularidade de estar dentro do grupo, apesar de romper todas as regras, normas e leis, apesar de não fazer um insight, não se dar conta, não se arrepender e não se corrigir. Sua arte está na dissimulação, embuste, teatralidade e ilusionismo.
Os psicopatas parecem ser refratários aos estímulos, tanto aos estímulos negativos, tais como castigos, penas, contra-argumentações à ação, apelo moral, etc., como também aos estímulos positivos, como é o caso dos carinhos, recompensas, suavização das penas, apelos afetivos. Essa última característica é pouco notada pelos autores. 
O psicopata não modifica sua conduta nem por estímulos, positivos, nem pelos negativos.
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PSICOPATIA X SOCIOPATIA

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