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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA - UNINTA BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL MARIA LETÍCIA MENDONÇA PAIVA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES SOBRAL - CE 2024 MARIA LETÍCIA MENDONÇA PAIVA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL Monografia apresentada a Universidade Uninta como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientador(a): Professora Ms. Alberlane Pereira de Matos Barros. SOBRAL - CE 2024 FICHA CATALOGRÁFICA MARIA LETÍCIA MENDONÇA PAIVA ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL Monografia apresentada a Universidade Uninta como requisito parcial para a obtenção do título Bacharel em Serviço Social. Orientadora metodológica: Profª. Ms. Alberlane Pereira de Matos Barros. Apresentada em _____/_________/2024 Banca examinadora: __________________________________________________________ Profª. Ms. Alberlane Pereira de Matos Barros Centro Universitário INTA- UNINTA Orientadora __________________________________________________________ 1º Examinador: Prof. Centro Universitário INTA - UNINTA ___________________________________________________________ 2º Examinador Prof. Centro Universitário INTA - UNINTA Dedico este trabalho aquele que me conhece desde o ventre da minha mãe. Que conhece o meu falar, os meus pensamentos e sonda o meu coração. Nem sempre eu sei o que é o melhor pra mim, mas Ele possui o conhecimento do que é o melhor na minha vida e é por isso que a sua vontade é boa, perfeita e agradável. Obrigada Pai pelo os teus feitos em meu viver AGRADECIMENTOS Epígrafe RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo geral analisar a atuação do profissional do Serviço Social no sociojurídico com ênfase no reconhecimento da paternidade de crianças e adolescentes. Com a nova visão de família estabelecida na Constituição de 1988, a filiação também foi abordada com mais igualdade, garantindo o mesmo tratamento para filhos nascidos dentro ou fora do casamento. A lei reconhece que o afeto é fundamental para a relação entre pais e filhos, por isso, é importante entender o papel da filiação dentro da estrutura familiar, considerando seu valor histórico na formação do modelo patriarcal. Diante desse contexto, o referido trabalho traz uma reflexão a respeito da atuação do profissional do Serviço Social no reconhecimento da paternidade de crianças e adolescentes, visto que as requisições conservadoras para o Serviço Social nos espaços sócio ocupacionais do sociojurídico na atualidade são múltiplas, complexas e desafiadoras. A escolha por este tema surgiu com o objetivo de refletir acerca da atuação do profissional do Serviço Social no sociojurídico com ênfase no reconhecimento da paternidade de crianças e adolescentes. A pesquisa se deu do tipo bibliográfica através de documentos, com a necessidade de estudo teórico acerca da atuação do assistente social no sociojurídico com ênfase no reconhecimento da paternidade de crianças e adolescentes. Com a realização deste trabalho, a atuação do profissional do Serviço Social no sociojurídico com ênfase no reconhecimento da paternidade de crianças e adolescentes no Brasil espera-se uma maior compreensão acerca da atuação do assistente social nessa área. Contudo, esperamos que este trabalho venha contribuir para a atuação dos profissionais do Serviço Social no reconhecimento de paternidade das crianças e adolescentes e como fonte de pesquisa para futuros profissionais. Palavras-chave: Atuação. Profissional do Serviço Social. Reconhecimento de Paternidade. ABSTRACT The general objective of this research is to analyze the role of Social Service professionals in socio-legal matters with an emphasis on recognizing the paternity of children and adolescents. With the new vision of family established in the 1988 Constitution, filiation was also addressed more equally, guaranteeing the same treatment for children born within or outside of marriage. The law recognizes that affection is fundamental to the relationship between parents and children, therefore, it is important to understand the role of affiliation within the family structure, considering its historical value in the formation of the patriarchal model. Given this context, the aforementioned work brings a reflection on the role of the Social Service professional in recognizing the paternity of children and adolescents, given that the conservative requests for Social Service in the socio-occupational spaces of the socio-legal sector today are multiple, complex and challenging. The choice for this theme arose with the aim of reflecting on the role of Social Service professionals in socio-legal matters with an emphasis on recognizing the paternity of children and adolescents. The research was bibliographical through documents, with the need for theoretical study about the social worker's role in the socio-legal field with an emphasis on recognizing the paternity of children and adolescents. With the completion of this work, the role of Social Service professionals in socio-legal matters with an emphasis on recognizing the paternity of children and adolescents in Brazil, a greater understanding of the role of social workers in this area is expected. However, we hope that this work will contribute to the work of Social Service professionals in recognizing the paternity of children and adolescents and as a source of research for future professionals. Keywords: Acting. Social Service Professional. Paternity Acknowledgment LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas CBAS Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais CF Constituição Federal CFESS Conselho Federal de Serviço Social CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente ECA Estatuto da Criança e do Adolescente IBDFAM Instituto Brasileiro de Direito de Família LOAS Lei Orgânica da Assistência Social NOB/SUAS Norma Operacional Básica/ Sistema Único da Assistência Social ONU Organização das Nações Unidas SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................6 2. METODOLOGIA.......................................................................................................9 3. REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................10 3.1 FAMÍLIA: CONCEITOS, ASPECTOS HISTÓRICOS E NOVOS ARRANJOS ......10 3.2 DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS NORTEADORES DO DIREITO DE FAMÍLIA 3.3 SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 4. ASPECTOS LEGAIS E CONCEITUAIS SOBRE FILIAÇÃO, PARENTALIDADE E PATERNIDADE.............................................................................................................. 4.1 RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE NA LEGISLAÇAO BRASILEIRA............ 5. O SERVIÇO SOCIAL NO JURÍDICO E ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL.......................................................................................................................32 6. CONCLUSÃO.........................................................................................................35conservador, com a finalidade de adequar a profissão criticamente as exigências da sociedade contemporânea, elegem a liberdade como valor central e está pautada na reflexão ética necessária para disputa política e ideológica. (KERNKAMP, 2014, p. 81) Para Kernkamp (2014), o Código de Ética está vinculado ao projeto ético do serviço social, com conceito de novos valores profissionais e o rompimento do conservadorismo, com novo cenário de inovações acerca do compromisso profissional e das transformações na sociedade. De acordo com o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais (2012), o assistente social tem como princípios fundamentais: Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças; Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional; Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores. (CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS, 2012, p.3). A partir deste momento o Serviço Social passou a se caracterizar como uma profissão de caráter sociopolítico, crítico e interventivo, inserido na divisão social e técnica do trabalho. Assim, realiza sua ação profissional nas refrações da questão social, isto é, no conjunto das desigualdades que se originam do antagonismo entre a socialização da produção e a apropriação privada dos frutos do trabalho. De acordo com o Art. 3º do Código de Ética do Serviço Social de 1993 Título ll dos direitos e das responsabilidades gerais do assistente social, constitui deveres do assistente social: a- Desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade, observando a legislação em vigor; b. Utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da profissão; c. Abster-se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes; d. Participar de programas de socorro à população em situação de calamidade pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades (KERNKAMP, 2014, p. 92 apud CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011, p. 27). Conforme os deveres citados acima, se percebem que são obrigações do profissional de serviço social cumprir com os deveres de cada item mencionado no Código de Ética. De acordo com Código de Ética do Serviço Social de 1993, capítulo V – Do Sigilo Profissional: Art. 15 - Constitui direito de o assistente social manter o sigilo profissional; Art. 16 – O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o assistente social tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional; Art. 17 – É vedado ao assistente social revelar sigilo profissional (KERNKAMP, 2014, p. 95 apud RIO DE JANEIRO, 1993, p. 7). Diante da citação acima sobre o sigilo profissional, que é direito do assistente social proteger o usuário diante do sigilo profissional, é necessário manter uma relação de confiabilidade com o usuário. No que tange o Serviço Social no Jurídico, ressalta-se que o Estado brasileiro é constituído por três poderes: o Executivo o Legislativo e o Judiciário. Sobre a atuação no poder judiciário, Pizzol (2006): Em sua atuação, o poder judiciário designa uma série de profissionais para subsidiar o juiz em seu trabalho, estes profissionais são: escrivão, peritos judiciais, e oficiais de justiça. Entre os profissionais do conhecimento científico, que também atuam no judiciário, estão os Assistentes Sociais, que há muito, vem contribuindo com o poder judiciário (PIZZOL, 2006, p. 133). No entender de Pizzol (2006), o Judiciário passou a requerer o Serviço Social, pois muito contribui nas diferentes áreas do Direito constituído, tais como: Família, Civil, Menor, Trabalho e Penal. Conforme Chuairi (2001), sobre a inserção do assistente social no campo jurídico: Em sua trajetória profissional, o assistente social sempre esteve inserido na prestação de serviços assistenciais, voltando sua atuação de forma prioritária às necessidades sociais e garantia de direitos das classes subalternas. E é na efetivação de direitos, no acesso à justiça e na reestruturação de cidadania dos sujeitos das classes subalternas que a assistência jurídica pode ser compreendida como espaço de permanentes desafios para ação profissional do Serviço Social (CHUAIRI, 2001, p. 138). No entendimento de Chuairi (2001), a inserção do Serviço Social no campo jurídico implica a participação do assistente social como membro de uma equipe interdisciplinar, atuando como profissional especializado no âmbito dos direitos e da justiça social através de demandas que chegam ao assistente social. De acordo com o Fávero (2003), sobre o Judiciário ser umas das primeiras áreas de atuação do Serviço Social: Na década de 1940, o/a assistente social tem sua prática vinculada ao Juizado de Menores de São Paulo, hoje funcionando como Juizado da Infância e da Juventude. Atuava como perito, sendo estagiário ou integrando o Comissariado de Vigilâncias, conquistando um espaço formal, no final dos anos de 1940 no Juizado da Infância e da Juventude de São Paulo (FÁVERO, 2003, p. 20). Conforme Borgianne (2004 apud CFESS, 2014, p.11), “o termo sociojurídico surge a partir de iniciativa da Editora Cortez de publicar uma edição sobre o tema na revista Serviço Social e Sociedade, a de nº 67 editada em setembro de 2001”. Embora assistentes sociais atuem desde a década de 1930 nos Juizados de Menores nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, o termo sociojurídico passou a ser mais conhecido no meio profissional dos assistentes sociais a partir do X Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) no Rio de Janeiro em 2001, aonde consta em uma de suas pautas a discussão do tema “Serviço Social e o Sistema Sociojurídico”, e na mesma oportunidade foi lançada a Revista Serviço Social e Sociedade nº 67 sobre temas “Sócio-Jurídicos” pela Editora Cortez. Para Fávero (2003), o campo sociojurídico é: Campo ou (sistema) sociojurídico diz respeito ao conjunto de áreas em que a ação do Serviço Social articula-se a ações de natureza jurídica, como o sistema judiciário, o sistema penitenciário, o sistema de segurança, os sistemas de proteção e acolhimento como abrigos, internatos, conselhos de direitos dentre outros (FÁVERO, 2003, p. 10). Segundo Fávero (2003), o campo sociojurídico é um campo que desenvolve ações, onde são aplicadas medidas decorrentes de aparatos legais, civis e penais. Para Chuairi (2001): A assistência jurídica gratuita é garantida através de preceito constitucional concebido como um direito social de todos, assim, a Assistência Jurídica gratuita passa a ser atribuição do Departamento Jurídico do Estado, a partir da Lei nº 17.330, de 26/06/1947 (CHUAIRI, 2001, p. 126). Conforme Chuairi (2001), todo cidadão brasileiro tem direto ao acesso à justiça e isso pressupõe a assistência jurídica gratuitapara aqueles que dela necessitam. Sobre a inserção do assistente social no campo jurídico, Chuairi (2001) adverte: Em sua trajetória profissional, o assistente social sempre esteve inserido na prestação de serviços assistenciais, voltando sua atuação de forma prioritária às necessidades sociais e garantia de direitos das classes subalternas. E é na efetivação de direitos, no acesso à justiça e na reestruturação de cidadania dos sujeitos das classes subalternas que a assistência jurídica pode ser compreendida como espaço de permanentes desafios para ação profissional do Serviço Social (CHUAIRI, 2001, p. 138). No entendimento da autora a inserção do Serviço Social no campo jurídico implica a participação do assistente social como membro de uma equipe interdisciplinar, atuando como um profissional especializado no âmbito dos direitos e da justiça social através de demandas que chegam ao assistente social. Segundo Fávero, Melão e Jorge (2005) sobre as demandas neste campo: No campo sociojurídico, o assistente social vem deparando com a ampliação das demandas, cada vez mais graves e complexas, grande parte delas decorrente da perversidade posta por um modelo político-econômico, em que os excluídos do sistema econômico que perdem progressivamente as condições materiais para exercer seus direitos básicos (FÁVERO, MELÃO, JORGE, 2005, p. 33). Conforme os autores (2005), diante dessa realidade é necessário que o assistente social utilize o estudo social com maior frequência nesse espaço, pois este faz parte da metodologia de trabalho de domínio específico e privativo do assistente social, de maneira a oferecer suporte ao magistrado para uma tomada de decisão a respeito da vida dos usuários em atendimento. O campo sociojurídico se apresenta ao Serviço Social como um espaço amplo de intervenção, requerendo do assistente social conhecimentos específicos da área profissional e do Direito, que de acordo com Forti (2012, p.79 apud CFESS, 2012), “comporta inestimável número de questões tanto éticas quanto técnicas”. De acordo com o autor, o assistente social deve utilizar durante a realização dos atendimentos instrumentos que subsidiem a intervenção profissional, como a Lei 8662/93, o Código de Ética e a Legislação Social, pois estes amparam o sistema de direito dos cidadãos. Conforme Chuairi (2001), as principais atribuições do Serviço Social no campo sociojurídico são: Assessorar e prestar consultoria aos órgãos públicos judiciais, a serviços de assistência jurídicos e demais profissionais deste campo, em questões específicas de sua profissão; Realizar perícias e estudos sociais, bem como informações e pareceres da área de sua competência, em consonância com os princípios éticos de sua profissão; Planejar e executar programas destinados à prevenção e integração social de pessoas e/ou grupos envolvidos em questões judiciais; Planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para análise social, dando subsídios para ações e programas no âmbito jurídico; Participar de programas de prevenção e informação de direitos à população usuária dos serviços jurídicos; Treinamento supervisão e formação de profissionais e estagiários nesta área (CHUAIRI, 2001, p. 138). Estas são de extrema importância, pois contribuem para o fortalecimento da cidadania e a garantia de direitos humanos da população que busca justiça social na esfera pública. Segundo Chuairi (2001): O trabalho do assistente social no campo jurídico se distingue por uma prática de operacionalização de direitos, de compreensão dos problemas sociais enfrentados pelos sujeitos no seu cotidiano e suas inter-relações com o sistema de justiça. Além disso, esse espaço profissional permite a reflexão e a análise da realidade social, da efetivação das leis e de direitos na sociedade, possibilitando de ações que ampliem o alcance dos direitos humanos e a eficácia da ordem jurídica em nossa sociedade (CHUAIRI, 2001, p.120). De acordo com o autor, o trabalho do assistente social é mediado por meio de um conjunto de conhecimentos, valores e princípios éticos; ou seja, os instrumentais teórico-operativos, ético-políticos e teórico-metodológicos, capacitam-no, levando-o a adquirir uma postura crítica ao construir um saber a respeito dos usuários no campo sociojurídico para a garantia e ampliação dos seus direitos. Os instrumentos técnicos são: entrevista, parecer, laudo, visita domiciliar, relatório social e perícia que detalhará o processo interventivo profissional para o assistente social responder as demandas da instituição da qual está inserido. Apoiando-se na Lei nº 8.662/1993, em seu Art. 4º, que constitui dez competências do assistente social e dentre elas destacamos as que mais direcionam o fazer profissional do Assistente Social na garantia e acesso aos direitos sócios. São elas: 1. Encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e a população; 2. Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais; 3. Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; 4. Realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto aos órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades (BRASIL, 1993). Mediante as competências do profissional do Serviço Social estabelecidas pela a Lei nº 8.662/1993 a qual regulamenta a profissão consideramos que todas são importantes e obrigatórias para os profissionais do Serviço Social, porém destacamos as competências acima, por serem elas que orientam o serviço do assistente social referente à garantia de acesso dos usuários. De acordo com o Art. 4º da Lei nº 8.662 do Código de Ética do Assistente Social (1993), que constitui as competências do Assistente Social: [...] V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; VI- planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais [...]. (BRASIL, 1993, p.45). Conforme o Código de Ética do Serviço Social, é competência do Assistente Social esclarecer os grupos de diferentes segmentos sociais, em relação aos seus direitos, benefícios e serviços, fortalecendo a sua autonomia. Sobre a atuação do assistente social no reconhecimento da paternidade, é válido ressaltar que para efetivar o projeto ético político da profissão, comprometido com o aprofundamento da democracia como socialização das riquezas socialmente produzidas e com a construção de uma nova ordem societária, necessita estar atento às múltiplas expressões da questão social e suas diversas manifestações. Segundo Fuziwara (2006): Sua ação deve identificar não apenas as desigualdades, mas as possibilidades de enfrentamento. Conhecer a complexidade da realidade é necessário para a intervenção profissional que não culpabilize o usuário, mas o compreenda enquanto sujeito social que sofre determinações que incidem sobre a sua existência material e subjetiva (FUZIWARA, 2006, p. 34). Conforme a citação acima, é necessário que o profissional contextualize os conflitos numa perspectiva macrossocietária, considerando as dimensões políticas, econômicas, sociais e culturais dentro de um processo histórico, para que assim, possa articular as condições socioeconômicas e subjetivas vivenciadas pelos sujeitos. O assistente social tem o desafio de viabilizar o acesso aos direitos dos cidadãos com os quais atua. Nesse sentido, Fuziwara (2006) ressalta que, se, por um lado, atuam cientes de que muitas vezes realizam ações que afetam o emergencial, o imediato e o superficial, por outro, há uma série de mediações que se realizam nesse fazer profissional comprometido com a emancipação dos sujeitos (FUZIWARA, 2006,p. 82). A prática do assistente social deve considerar a construção histórica da realidade e suas mediações, mas, sobretudo, ter um horizonte delineado pelo projeto ético-político profissional. A percepção de que a questão social permeia o cotidiano dos sujeitos atendidos, e tendo a ação profissional embasada nos fundamentos que dão direção ao projeto profissional, o assistente social poderá propor ações inovadoras que venham a contribuir para alterações na realidade social. 6. CONCLUSÃO Diante do que foi tratado no presente trabalho, espera-se uma maior compreensão acerca dessa problemática, assim como no que se refere o fazer profissional do assistente social junto às famílias no sentido da consolidação da política na perspectiva do direito. Para tanto, consideramos que o Serviço Social no reconhecimento da paternidade de crianças e adolescentes no Brasil é um assunto bastante debatido na atualidade. Compreende-se que uma das atribuições do assistente social é de orientar, esclarecer e direcionar as famílias acerca dos direitos, serviços, benefícios, programas que as políticas públicas dispõem. Diante desse contexto, a práxis do Serviço Social está vinculada a intervenção nas expressões da questão social, nas situações de vulnerabilidade e risco social, na qual se enquadra o reconhecimento da paternidade. Portanto, é válido ressaltar a importância da atuação do assistente social no enfrentamento as expressões da questão social, visto que a sua intervenção profissional está pautada na garantia dos direitos das famílias, no comprometimento com a qualidade dos serviços prestados a esse público, bem como na viabilização do acesso aos demais serviços da rede. A escolha por este tema surgiu com intuito de aprofundar o debate acerca desse grave problema social, ainda muito existente no Brasil. Diante do processo deste estudo, que contribuiu imensamente para nossa vida acadêmica e profissional, adquirimos experiências únicas que levaremos para nossa vida, momentos considerados de preparação para atuação na vida profissional que está raiando novos horizontes da nossa futura profissão como profissional do Serviço Social. Portanto, com a realização deste trabalho “Atuação do Serviço Social no reconhecimento da paternidade de crianças e adolescentes” espera-se uma maior compreensão acerca da atuação do profissional do Serviço Social no sociojurídico, com ênfase no reconhecimento da paternidade de crianças e adolescentes. Contudo, esperamos que este trabalho venha contribuir para a atuação dos profissionais do Serviço Social e como fonte de pesquisa para futuros profissionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS7. REFERÊNCIAS......................................................................................................37 1. INTRODUÇÃO A existência humana se dá, em sua maioria, por afeto, onde duas pessoas se envolvem não apenas emocionalmente mais fisicamente, com fatores biológicos e dão origem a uma nova vida, que inicialmente precisará de cuidados e ensinamentos para sua boa formação e desenvolvimento, e a legislação brasileira traz garantias a cada indivíduo sobre sua filiação. Sabendo assim da importância de uma boa formação social, a promulgação da Constituição Federal de 1988 trouxe profundas mudanças no Direito de Família, em decorrência dos novos princípios estabelecidos. A sociedade passou a valorizar mais a liberdade individual e a busca pela realização pessoal e afetiva, ainda que isso significasse romper com as tradições na época. Essa mudança de valores resultou na criação de novas formas de constituição familiar e em uma nova dinâmica familiar. Com a nova visão de família estabelecida na Constituição de 1988, a filiação também foi abordada com mais igualdade, garantindo o mesmo tratamento para filhos nascidos dentro ou fora do casamento. A lei reconhece que o afeto é fundamental para a relação entre pais e filhos, por isso, é importante entender o papel da filiação dentro da estrutura familiar, considerando seu valor histórico na formação do modelo patriarcal. Diante desse contexto, o referido trabalho traz uma reflexão a respeito da atuação do profissional do Serviço Social no reconhecimento de paternidade de crianças e adolescentes no Brasil, visto que as requisições conservadoras para o Serviço Social nos espaços sócio ocupacionais do sociojurídico na atualidade são múltiplas, complexas e desafiadoras. Portanto, enquanto profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho deve reconfigurar-se na busca de atender melhor as demandas vivenciadas por seu público alvo almejando uma hegemonia profissional baseada na defesa de direitos sociais, econômicos, políticos, culturais e da classe trabalhadora. É notório a ampliação do trabalho dos assistentes sociais em diversos segmentos e espaços sócio ocupacionais no Brasil. Para tanto, diante dessa realidade, é válido questionar como ocorre o processo de trabalho do profissional do Serviço Social no reconhecimento de paternidade de crianças e adolescentes no sociojurídico? A presente pesquisa tem como objetivo geral analisar a atuação do profissional do Serviço Social no sociojurídico com ênfase no reconhecimento de paternidade de crianças e adolescentes. Especificamente, tem como objetivos analisar o conceito, aspectos históricos e novos arranjos de família, assim como os princípios fundamentais norteadores do direito de família e o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente; Conhecer sobre os aspectos legais e conceituais de filiação, parentalidade e paternidade, bem como o reconhecimento de paternidade na legislação brasileira; Além disso, visa compreender sobre o Serviço Social no sociojurídico e a atuação do assistente social no reconhecimento da paternidade de crianças e adolescentes no Brasil. Para tanto na parte inicial, o trabalho busca dissertar sobre o conceito, aspectos históricos e novos arranjos de família, assim como os princípios fundamentais norteadores do direito de família e o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente. Na segunda parte, o enfoque é conhecer sobre os aspectos legais e conceituais de filiação, parentalidade e paternidade, bem como o reconhecimento de paternidade na legislação brasileira; Por último, a pesquisa foca no Serviço Social na área sociojurídico e a atuação do assistente social no reconhecimento de paternidade de crianças e adolescentes no Brasil. 2. METODOLOGIA A pesquisa se deu do tipo bibliográfica através de documentos, com a necessidade de estudo teórico acerca da atuação do profissional do Serviço Social no sociojurídico com ênfase no reconhecimento de paternidade de crianças e adolescentes. Para isso, utilizou-se para a obtenção de análises de dados os artigos selecionados nas plataformas Google Acadêmico, Portal Capes, Scielo e Revistas na área do Serviço Social com foco no tema em estudo. Segundo Marconi e Lakatos (2022), a pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do apontamento disponível, em função de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, monografias e entre outros. Para que isso aconteça é necessário um levantamento bibliográfico preliminar que segundo Gil (2020), pode ser entendido como um estudo exploratório, posto que tem a finalidade de proporcionar a familiaridade do pesquisador com a área de estudo na qual está interessado, bem como sua delimitação. Foram adotados os seguintes critérios de inclusão para a seleção dos artigos: estar em português, ser artigo científico, teses e dissertações e abordar sobre a atuação do profissional do Serviço Social no reconhecimento da paternidade de crianças e adolescentes. Enfatiza-se ainda que esta pesquisa tem o embasamento teórico especializado tendo como referência autores como: Teixeira (2016), Carvalho (2020), Oliveira (2020), Dias (2010), Iamamoto (2011), dentre outros autores que se dedicaram a estudos referentes à questão abordada. Para a elaboração da pesquisa, foi seguido as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) em toda a normalização do trabalho, assim como citar devidamente todos os autores, com a finalidade de garantir a qualidade científica da pesquisa realizada. 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 FAMÍLIA: CONCEITOS, ASPECTOS HISTÓRICOS E NOVOS ARRANJOS De acordo com o dicionário Aurélio (2016), o conceito de família é: Grupo de pessoas que compartilham a mesma casa, especialmente os pais, filhos, irmãos etc; Pessoas que possuem relação de parentesco; Pessoas cujas relações foram estabelecidas pelo casamento, por filiação ou pelo processo de adoção. (FERREIRA, 2016, p.1613). Nesse sentido, segundo o dicionário tal definição nos leva a ampliar o conceito de família para além dos laços sanguíneos, ou seja, relações constituídas através do casamento civil ou religioso e da união estável. Sobre a definição do conceito de família, a NOB/SUAS 2005 (Norma Operacional Básica/ Sistema Único da Assistência Social) menciona que: Família: Grupo de pessoas, com laços consanguíneos e/ou de aliança e/ou de afinidade, cujos vínculos circunscrevem obrigações recíprocas, organizadas em torno de gênero e de geração. (NOB/SUAS, 2005, p.14). De acordo com a NOB/SUAS 2005, a família é o núcleo social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e de protagonismo social, independentemente de laços sanguíneos. Assim, através da Constituição Federal de 1988, onde está presente em seu Art. 226, que família é: “Família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) é uma comunidade formada por qualquer um dos pais e seus descendentes.” (CF: 1988, Cap. VII, art. 226, §4º). Mediante a citação, é válido ressaltar que a visão constitucional de família é bastante ampla, pois o referido documento defende a idéia da não-consanguinidade familiar, quando afirma que ela pode ser formada por qualquer um dos pais. Para tanto, observa-se que são diversas as definições do conceito de família e que está presente em qualquer forma de sociedade pelo qual perpassa pelo próprio processo histórico. Ao longo dos anos através do processo histórico da família, há relatos de grande importância sobre as transformações na representação familiar, iniciando na Idade Média onde a família feudal era constituída por linhagem incluindo parentes, vassalos e amigos. De acordo com Ariès (2017, p.213) “não se tinha conhecimentoou noção afetiva de família, o sentimento de família estava ligado a casa, ao governo da casa e a vida da casa”. Conforme o autor, o convívio familiar não era baseado em construções afetivas, a família tinha o dever de proteger a casa, o patrimônio e os nomes sem adentrar a questão do sentimento. No século XIX, surge no Brasil um novo modelo de família: a família patriarcal, para Narvaz e Koller (2006) “as relações conjugais eram baseadas em interesses econômicos, em que o patriarca era detentor das posses e o convívio familiar era hierarquizado, onde quem possuía o poder e a autoridade era o homem, vindo depois à mulher e os filhos”. Conforme a citação acima que discorre acerca da família patriarcal, o que predominava na família nesse contexto, era uma estrutura social formada por poderes, cujo poder era centralizado na figura do patriarca. Após alguns anos surgiu à família pós-moderna, segundo Rocha-Coutinho (2007), com as transformações que tem ocorrido no país nas últimas décadas se ampliou os questionamentos sobre o modelo familiar hierárquico, principalmente pela classe média, composta pela maioria de homens e mulheres dos centros urbanos, com grau universitário e defensores de valores individualistas e antiautoritários. Para tanto, conforme o autor com esta nova mudança no contexto familiar se estabeleceu novas maneiras de se relacionar e de estar em família, pois para a mulher através da sua independência financeira trouxe a possibilidade de igualdade e partilha nas questões domésticas e para os homens estes não ficaram sendo os únicos a prover o sustento da família, fazendo com que as responsabilidades e obrigações passem a ser divididos entre o casal. A sociedade passou por grandes transformações nos últimos anos, na área da economia, política, social, entre outras alterando também a forma como as famílias são compostas configurando-se em uma variedade de arranjos familiares. No entanto, ao abordar sobre os novos arranjos, é válido ressaltar apoiando-se em Teixeira (2008) que existem nove tipos de composição familiar, são elas: [...] 1) Família nuclear: é a família formada por pai, mãe e filhos biológicos, ou seja, é a família formada por apenas duas gerações; 2) Famílias extensas: são as famílias formadas por pai, mãe, filhos, avós e netos ou outros parentes, isto é, a família formada por três ou quatro gerações; 3) Famílias adotivas temporárias: são famílias (nuclear, extensa ou qualquer outra) que adquirem uma característica nova ao acolher um novo membro, mas temporariamente; 4) Famílias adotivas: são as famílias formadas por pessoas que, por diversos motivos, acolhem novos membros, geralmente crianças, que podem ser multiculturais ou birraciais; 5) Famílias de casais: são as famílias formadas pelo casal, sem filhos; 6) Famílias monoparentais: são as famílias chefiadas só pelo pai ou só pela mãe; 7) Famílias de casais homossexuais com ou sem criança: são as famílias formadas por pessoas do mesmo sexo, vivendo maritalmente, possuindo ou não crianças; 8) Famílias reconstruídas após o divórcio: são famílias formadas por pessoas (apenas um ou o casal) que foram casadas, que podem ou não ter crianças do outro casamento; 9) Famílias de várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo: são famílias formadas por pessoas que moram juntas e que, mesmo sem ter a consanguinidade, são ligadas fortemente por laços afetivos. (TEIXEIRA, 2008, p.64-65). Assim, de acordo com o autor esses são os novos arranjos da família contemporânea e que estão cada vez mais presentes na sociedade. É válido ressaltar conforme Álvares (2008), que além das mudanças dos novos modelos de família, outras transformações na família contemporânea ocorreram, tais como: maior participação das mulheres no mercado de trabalho e nas universidades; casamentos consentidos por fatores afetivos e emocionais com base no amor romântico; esposa e filhos da tradicional família nuclear inserindo-se no mercado de trabalho; a diminuição do número de filhos; a redução de número de matrimônios legalmente (casamento civil); o aumento de separações e divórcios; o aumento de famílias chefiadas por mulheres, entre outras. (ÁLVARES, 2008, p.56). Nesse sentido, conforme o exposto acima se observa que na sociedade contemporânea, a família passou por diversas transformações e dinamicidade, mas, no entanto, continua sendo espaço para a formação e construção de identidades e de protagonistas no mundo em transformação. 3.2 DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS NORTEADORES DO DIREITO DE FAMÍLIA Devido as transformações complexas que ocorreram nas estruturas familiares, foi necessário melhorar a aplicação do Direito, resultando na introdução de discussões fundamentadas em princípios. A aplicação dos princípios busca a harmonização da igualdade entre os indivíduos, garante a proteção e a preservação plena dos direitos humanos ligados ao Direito das Famílias (CARVALHO, 2020). De acordo com a citação supracitada, mediante as mudanças ocorridas nas estruturas familiares no decorrer dos anos, foi de extrema necessidade a aplicação dos princípios norteadores do direito de família, visto que a aplicação dos princípios permite a proteção e preservação na plenitude dos direitos humanos, os quais estão intrinsecamente ligados ao Direito de Família. Para Maria Berenice Dias (2010): É o princípio maior, fundante do Estado Democrático de Direito, sendo afirmado já no primeiro artigo da Constituição Federal. A preocupação com a promoção dos direitos humanos e da justiça social levou o constituinte a consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional. (...) Na medida em que a ordem constitucional elevou a dignidade da pessoa humana a fundamento da ordem jurídica, houve uma opção expressa pela pessoa, ligando todos os institutos à realização de sua personalidade. Tal fenômeno provocou a despatrimonialização e a personalização dos institutos jurídicos, de modo a colocar a pessoa humana no centro protetor do direito (DIAS, 2010, p.61-62). Conforme a autora, a família surge inclusa nesta sistemática, como instrumento para promoção dos direitos fundamentais e concretização da dignidade da pessoa humana, bem como o maior princípio da Constituição Federal. A eficácia e aplicação imediata dos direitos e garantias fundamentais (art. 5º, §1º, CF) é de suma importância, pois garantem plena proteção e efetividade aos membros da família atual, não dependendo de qualquer norma regulamentadora. Diante desse contexto, Rolf Madaleno (2020) ressalta: E no direito de família é de substancial importância a efetividade dos princípios que difundem o respeito e a promoção da dignidade humana e da solidariedade, considerando que a família contemporânea é constituída e valorizada pelo respeito à plena liberdade e felicidade de cada um de seus componentes, não podendo ser concebida qualquer restrição ou vacilo a este espaço constitucional da realização do homem em sua relação sociofamiliar (MADALENO, 2020, p. 19) Conforme a autora, a família surge inclusa nesta sistemática, como instrumento para promoção dos direitos fundamentais e concretização da dignidade da pessoa humana, mostrando-se tão fundamental quanto eles. No Direito de Família contemporâneo se percebe o fenômeno da personalização, ao proteger a entidade familiar na pessoa de cada um dos que a integra. A família vive sob o desígnio da liberdade e da igualdade, que visam à tutela irrestrita da dignidade de seus membros. Não é mais a instituição da família e especialmente o casamento que é tutelado, mas as pessoas, oferecendo-lhes condições para que possam realizar-se íntima e afetivamente na família (TEIXEIRA, 2022, p. 74-75). Conforme a citação supracitada, no Direito de Família a igualdade e o respeito às diferenças constituem um dos princípios para as organizaçõesjurídicas e especialmente para o Direito de Família, sem os quais não há dignidade do sujeito de direito. Segundo Tartuce (2023): Um dos princípios constitucionais no Direito de Família, após séculos e séculos de desigualdades e discriminações, é o da igualdade ou isonomia dos filhos, expressando uma das diversas demonstrações da personalização na família, previsto expressamente no artigo 227, §6º, da Constituição Federal. Regulamenta especificamente na filiação a isonomia constitucional ou igualdade em sentido amplo, prevista no artigo 1.596 do Código Civil, ao também dispor que os filhos terão os mesmos direitos e qualificações, havidos ou não do casamento, restando proibidas quaisquer formas de designações discriminatórias. Assim, juridicamente todos os filhos são iguais, consanguíneos ou não, havidos do casamento ou não, não podendo ser utilizada mais as expressões de “filho bastardo”, “adulterino”, “espúrio” ou “incestuoso”, por não ser admitida qualquer forma de distinção jurídica (TARTUCE, 2023, p. 9). Nesse sentido conforme a autora acima, o princípio da igualdade, além da absoluta igualdade entre homem e mulher, importa no mesmo tratamento e isonomia dos filhos, respeitando as diferenças, pouco importando a origem, extinguindo definitivamente a velha concepção de ilegitimidade da prole. Uma das maiores inovações no Direito de Família na Constituição de 1988, o princípio da igualdade jurídica de todos os filhos reconheceu expressamente a paternidade socioafetiva fora dos casos de adoção, incluindo a havida por reprodução medicamente assistida heteróloga e a chamada adoção à brasileira, todos previstos no parentesco por outra origem. A filiação, portanto, atualmente é jurídica e não mais em razão do casamento dos pais ou por laços de sangue, podendo se dividir em biológica ou por outra origem, que inclui a adoção, a havida mediante reprodução assistida heteróloga, a socioafetiva mediante a comprovação da posse de estado de filho e a adoção à brasileira (CARVALHO, 2022, p. 12). De acordo com o autor supracitado, a igualdade jurídica da filiação obriga que a lei seja aplicada igualmente a todos aqueles que se encontrem na mesma situação, vedando ao aplicador estabelecer diferenças em razão das origens dos filhos ou circunstâncias que não estejam contempladas na norma, como ocorre no parentesco socioafetivo, que produz todos e os mesmos efeitos do parentesco biológico. Dentre os princípios que norteiam o Direito de Família, Pereira (2020) inclui o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente. É também denominado na doutrina de princípio da plena proteção das crianças e adolescentes, possuindo suas raízes nas mudanças ocorridas na estrutura da família nos últimos anos, que passou a valer somente enquanto fosse veiculadora da valorização do sujeito e a dignidade de todos os seus membros. Por isso, deve preservar e proteger integralmente as pessoas que se encontram em situação de fragilidade e em processo de amadurecimento e formação da personalidade, possuindo este princípio estreita relação com os direitos e garantias fundamentais da criança e do adolescente, que são de prioridade absoluta. De acordo com o autor, considerando-se a proteção dos direitos fundamentais na unidade de cada membro da família, merece atenção e prioridade as crianças e adolescentes, que necessitam de cuidados especiais para sua criação, orientação, educação e plena assistência familiar e comunitária, ou seja, possuem direito ao dever de cuidado. Na Convenção Internacional dos Direitos da Criança, adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas no dia 20 de novembro de 1989 e ratificada no Brasil em 1990, consagrou no art. 3º, I, que: Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança (BRASIL, 1990). Para tanto, tratando-se de crianças e adolescentes, ressalta-se que possuem condição prioritária e proteção não apenas da família, mas do Estado e da sociedade. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), destina-se a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos bem como a proteção integral das crianças e adolescentes. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sancionado em 13 de julho de 1990, é o principal instrumento normativo do Brasil sobre os direitos da criança e do adolescente. O ECA incorporou os avanços preconizados na Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas e trouxe o caminho para se concretizar o Art. 227 da Constituição Federal, que determinou direitos e garantias fundamentais a crianças e adolescentes. (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990). Conforme a citação supracitada, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), regulamentado pela Lei nº 8.069/1990, é o principal marco legal e regulatório dos direitos das crianças e dos adolescentes no Brasil. A Lei nº 8.069/1990 assegura a criança e o adolescente direitos fundamentais inerentes a pessoa humana, conforme o Art. 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990). O Estatuto, em consonância com o Art. 227 da Constituição Federal de 1988, prevê: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988). Conforme o documento supracitado, é notório que o ECA é uma lei que buscou regulamentar os direitos anteriormente promulgados pela ONU e assumidos na Constituição Federal, promovendo um sistema de garantias para a proteção da infância e adolescência. O Art. 226, § 7º, da Constituição Federal de 1988 prevê: Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas (BRASIL, 1988). Para tanto, de acordo com o Art. 226, § 7º da Constituição Federal de 1988, é direito da criança a ter o reconhecimento da paternidade, direito esse que é personalíssimo e imprescritível, o qual tem como objetivo garantir à criança e ao adolescente o direito a ter o nome do pai ou da mãe em seu registro de nascimento. 3.3 SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE De acordo com Digiácomo (2014), “O Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente consiste na atuação e intervenção conjunta e sistemática de diversos órgãos e autoridades, cujo papel é efetivar os direitos desse público”. Conforme o autor supracitado, o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente corresponde ao conjunto de ações e serviços de diferentes setores com o objetivo de ampliar e melhorar a qualidade do atendimento às vítimas. O Art. 1º. da Resolução nº 113/2006, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA, corrobora: Art. 1º O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente constitui-se na articulação e integração das instâncias públicasgovernamentais e da sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos da criança e do adolescente, nos níveis Federal, Estadual e Municipal. (CONANDA, 2006) Conforme a citação acima, o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente organiza-se na articulação das instâncias públicas governamentais e da sociedade civil para garantir os direitos da criança e do adolescente. Conforme o Art. 2º da Resolução nº 113/2006, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA, o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente objetiva: Compete ao Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente promover, defender e controlar a efetivação dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, coletivos e difusos, em sua integralidade, em favor de todas as crianças e adolescentes, de modo que sejam reconhecidos e respeitados como sujeitos de direitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento; colocando-os a salvo de ameaças e violações a quaisquer de seus direitos, além de garantir a apuração e reparação dessas ameaças e violações. (CONANDA, 2006) De acordo com a citação acima, o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente tem como objetivo promover e garantir os direitos das crianças e adolescentes de modo que sejam reconhecidos e respeitados, colocando-os a salvo de todas as violações e ameaças a seus direitos. O Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente é caracterizado por uma organização em rede, segundo a Resolução nº 113/2006, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA, atuam a partir de três eixos: A. Defesa: o eixo da defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes se caracteriza pela garantia do acesso à Justiça, ou seja, pelo recurso às instâncias públicas e aos mecanismos jurídicos de proteção legal dos direitos humanos, gerais e especiais, da infância e da adolescência, para assegurar a impositividade de tais direitos e sua exigibilidade em concreto. B. Promoção: o eixo da promoção de direitos humanos de crianças e adolescentes funciona por meio de uma política de atendimento dos direitos dessa população, como previsto no artigo 86 do ECA. Essa política é especializada nos direitos e necessidades dessa população, podendo ser caracterizada pela concretização de direitos sociais previstos na Constituição Federal, como o direito à saúde e à educação. C. Controle social: o controle das ações públicas de promoção e defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente se dá por meio de instâncias públicas colegiadas, assegurada a paridade da participação de órgãos governamentais e de entidades sociais. (CONANDA, 2006) Portanto, o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente é composto por três eixos estratégicos com o objetivo de defender os direitos humanos das crianças e adolescentes. Conforme o Art. 7º da Resolução nº 113/2006, no eixo da Defesa dos Direitos Humanos atuam os seguintes órgãos públicos: I – judiciais, especialmente as varas da infância e da juventude e suas equipes multiprofissionais, as varas criminais especializadas, os tribunais do júri, as comissões judiciais de adoção, os tribunais de justiça, as corregedorias gerais de Justiça; II – público-ministeriais, especialmente as promotorias de justiça, os centros de apoio operacional, as procuradorias de justiça, as procuradorias gerais de justiça, as corregedorias gerais do Ministério Público; III – defensorias públicas, serviços de assessoramento jurídico e assistência judiciária; IV – advocacia geral da união e as procuradorias gerais dos estados; V – polícia civil judiciária, inclusive a polícia técnica; VI – polícia militar; VII – conselhos tutelares; e VIII – ouvidorias. (CONANDA, 2006) De acordo com o Art.7º do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA, atua neste eixo entidades sociais de defesa dos direitos da criança e do adolescente, incumbidas de prestar proteção jurídico-social. Dentre os órgãos públicos que atuam na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Art. 45 corrobora sobre a Justiça da Infância e da Juventude: Art. 145. Os Estados e o Distrito Federal poderão criar varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões. (BRASIL, 1990) Diante da citação acima, a Justiça da Infância e da Juventude desenvolve atos jurisdicionais atuando em processos referentes os interesses das crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Ao mencionar o Ministério Público na defesa dos direitos da crianças e do adolescente, é válido ressaltar apoiando-se em Dias (2015, p.161), que “O Ministério Público tem o papel de defensor dos interesses sociais e individuais indisponíveis, dever que lhe é imposto constitucionalmente”. Para tanto, o Ministério Público na atuação no Sistema de Garantias, exerce um papel de extrema importância, pois busca proteger as crianças e adolescentes de qualquer tipo de violação, acompanhando e fiscalizando a execução de políticas públicas voltadas à promoção dos seus direitos. De acordo com o Art. 201 do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), compete ao Ministério Público: I – conceder a remissão como forma de exclusão do processo; II – promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações atribuídas a adolescentes; III – promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de suspensão e destruição do pátrio poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em todos os demais procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude; [...] (BRASIL, 1990) Conforme a citação acima, o Ministério Público compõe o Juizado da Infância e da Juventude, formando parte do corpo de instituições positivado no Estatuto da Criança e do Adolescente, atuando para o cumprimento dos princípios constitucionais a favor das crianças e adolescentes. Sobre a Defensoria Pública, Santos (2009) discorre: É o órgão encarregado de prover assistência judiciária gratuita àqueles que dela necessitarem por meio da nomeação de defensores públicos ou advogados. A Constituição Federal assegurou esse direito e determinou a criação de defensorias públicas e o ECA estendeu esse direito a todas as crianças e adolescentes. (SANTOS, 2009) Segundo o autor supracitado, a Defensoria Pública é o órgão público que garante o acesso à justiça gratuita às pessoas que dela necessitarem, inclusive as crianças e adolescentes. Nesse sentido, o Art. 206 do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) corrobora: Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, respeitado o segredo de Justiça. (BRASIL, 1990) Assim, a referida Lei assegura as crianças e adolescentes a orientação e a defesa dos seus direitos por meio do acesso à justiça gratuita. Sobre o Conselho Tutelar, é válido ressaltar apoiando-se no Art. 10 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA (2006): Art. 10. Os conselhos tutelares são órgãos contenciosos não jurisdicionais, encarregados de “zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente”, particularmente através da aplicação de medidas especiais de proteção a crianças e adolescentes com direitos ameaçados ou violados e atravésda aplicação de medidas especiais a pais ou responsáveis. (CONANDA, 2006) Segundo o CONANDA, o Conselho Tutelar constitui-se num órgão de extrema importância do Sistema de Garantia dos Direitos, com o objetivo de agilizar o atendimento prestado à população infanto-juvenil. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990), “O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei”. Para tanto, o Conselho Tutelar é um órgão permanente e autônomo composto por representantes eleitos para atuarem na garantia dos direitos e interesses das crianças e adolescentes. Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (1990), são atribuições do Conselho Tutelar: I – atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos art. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII; II – atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art.129, I a VII; III – promover a execução de suas decisões, podendo para tanto: a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações; IV – encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; V – encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência; VI – providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional; VII – expedir notificações; VIII – requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário; [...] (BRASIL, 1990) Para tanto, de acordo com o ECA cabe ao Conselho Tutelar escutar, orientar e exigir a aplicação de medidas administrativas e judiciais necessárias para assegurar com absoluta prioridade o atendimento dos direitos das crianças e adolescentes. No que se refere o eixo da promoção dos direitos humanos, de acordo com inciso § 1º do Art. 14 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA (2006): § 1º Essa política especializada de promoção da efetivação dos direitos humanos de crianças e adolescentes desenvolve-se, estrategicamente, de maneira transversal e intersetorial, articulando todas as políticas públicas (infra estruturantes, institucionais, econômicas e sociais) e integrando suas ações, em favor da garantia integral dos direitos de crianças e adolescentes. (CONANDA, 2006) Assim, conforme o inciso § 1º do Art. 14, a política de promoção possui característica transversal e intersetorial, devendo articular as políticas públicas e integrar suas ações em prol da garantia dos direitos de crianças e adolescentes. Sobre o eixo controle das ações públicas de promoção e defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente, é válido ressaltar de acordo com o Art. 21 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA (2006): Art. 21 O controle das ações públicas de promoção e defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente se fará através das instâncias públicas colegiadas próprias, onde se assegure a paridade da participação de órgãos governamentais e de entidades sociais, tais como: I – conselhos dos direitos de crianças e adolescentes; II – conselhos setoriais de formulação e controle de políticas públicas; e III – os órgãos e os poderes de controle interno e externo definidos nos artigos 70, 71, 72, 73, 74 e 75 da Constituição Federal. (CONANDA, 2006) Para tanto, o eixo controle das ações públicas de promoção e defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente, responsável pelo acompanhamento, avaliação e monitoramento das ações de promoção e defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes se dá primordialmente pela sociedade civil e por meio dos conselhos dos direitos de crianças e adolescentes. 4. ASPECTOS LEGAIS E CONCEITUAIS SOBRE FILIAÇÃO, PARENTALIDADE E PATERNIDADE Ao abordar sobre os aspectos conceituais sobre filiação, é válido ressaltar apoiando em Rodrigues (2002), que a filiação “é a relação de parentesco consanguíneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma pessoa àquelas que a geraram, ou a receberam como se a tivessem gerado. (...) cria efeitos no campo do direito.” Na compreensão de Rodrigues, a filiação é a relação entre pais e filhos, seja porque aqueles geraram estes ou os adotaram. Quando vista pelo lado do filho é a filiação propriamente dita, quando vista por parte do genitor é considerada maternidade ou paternidade. A atual Carta Magna admite a absoluta igualdade entre todos os filhos, deixando de lado o pensamento ultrapassado de que somente os filhos tidos na constância do casamento tinham direitos, deixando de lado a diferença entre filiação legítima e ilegítima que havia no Código Civil de 1916. O princípio da igualdade é reforçado no Art. 1.596 do Código Civil de 2002, que enfatiza que “Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. Para Venosa (2010): A filiação é, destarte, um estado, o status família e, tal como concebido pelo antigo direito. Todas as ações que visam seu reconhecimento, modificação ou negação são, portanto, ações de estado. O termo filiação exprime a relação entre o filho e seus pais, aqueles que o geraram ou o adotaram. A adoção, sob novas vestes e para finalidades diversas, volta a ganhar a importância social que teve no Direito Romano (VENOSA, 2020, p.224). Conforme Venosa, a filiação é a relação de parentesco que se estabelece entre duas pessoas de maneira consanguíneo ou por meio da adoção. O Instituto Brasileiro de Direito de Família (2017) dispõe sobre: Não há filiação legítima, ilegítima, natural, adotiva ou adulterina. Está proibida qualquer discriminação entre filhos, segundo determina o Art. 227, parágrafo 6º da Carta Magna. Hoje, por exemplo, a filiação não é determinada apenas pelo vínculo genético que liga os pais aos filhos. Pelo contrário, a afetividade passou a ter um peso importante, já que é responsável por fortalecer o vínculo e manter a unidade familiar (IBDFAM, 2017). Conforme a citação supracitada, qualquer possibilidade de distinção para o tipo de filiação, e determinando que a afetividade a convivência que dirá quem será a figura paterna na vida de um ser humano, claro que a genética ainda sim mantém seu valor, mas não terá mais soberania pura para que a figura paterna seja determinada, terá toda uma avaliação psicológica, seja com a criança, adolescente, jovem ou adulto. No que se refere à parentalidade de acordo com Clóvis Beviláqua (1950, apud GONÇALVES, 2013), para que houvesse o parentesco, seria necessária a descendência entre as pessoas derivada de laços biológicos, uma vez que era necessária a ancestralidade. Diferente disso, o entendimento do que vem a ser parentesco, assim como o conceito de família evoluiu com a nova perspectiva trazida pela Constituição Federal de 1988, havendo a necessidade de se estender esses conceitos de forma a abranger os novos arranjos familiares (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2013). Nesse sentido, deve se dizer que o parentesco não se dá somente da relação de vínculo entre pessoas advindas dos mesmos membros familiar, ou que sejam descendentes umas das outras, elas se dão também “entre um cônjuge ou companheiro e os parentes do outro, entre adotante e adotado e entre pai institucional e filho socioafetivo” (DINIZ, 2013, p.483). O Art. 1.593 do Código Civil de 2002 regra as formas como se constitui o parentesco: “Oparentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem” (BRASIL, 2002). Para tanto, de acordo com a citação acima o parentesco é o vínculo jurídico estabelecido entre pessoas que têm a mesma origem biológica, entre um cônjuge ou companheiro e os parentes do outro, e entre as pessoas que têm entre si um vínculo civil. Ao abordar sobre paternidade é também perpassar por cenários históricos sociais sobre a definição do ser pai. Por muito tempo, o conceito de paternidade foi norteado por uma cultura patriarcal rígida que delimitava bem o espaço e o papel do homem e da mulher. De acordo com Freitas; Coelho; Silva, (2007), após o coito fecundante, o papel social do pai estava associado a provisão material, sendo o bom pai aquele que não deixava faltar mantimentos dentro de casa e que dava lições devida aos filhos. Desse modo, competia aos pais a autoridade distante, resultando em uma reduzida interação entre pai e filho, sem a preocupação com os cuidados diários da criança, deixando as mães como única referência afetiva infantil (OLIVEIRA et al., 2009; BENCZIK, 2011). Uma das conjunturas preponderantes que configurava esse cenário residia no fato de que o homem era a única pessoa que trabalhava fora de casa. A mulher, por sua vez, permanecia no lar, responsabilizando-se pela criação e pelo desenvolvimento afetivo da criança (OLIVEIRA; SILVA, 2011). No entanto, com o ingresso crescente da mulher no mercado de trabalho e na esfera pública, o contexto relacional dos pais é alterado; ocorrem, então, novos arranjos familiares, com significativa mudança nas relações entre homens e mulheres. O pai provedor começa a ser chamado para exercer mais ativamente suas funções junto ao lar e aos filhos. Com isso, o modelo de família tradicional, no qual o pai é o nível mais alto de hierarquia, dá lugar a um pai mais íntimo e sensível (OLIVEIRA; SILVA, 2011). De acordo com Zampieri et al., 2012; Freitas, o conceito de paternidade nasce, então, a partir de uma confluência de inúmeros fatores. Isso se reflete na lentidão com que as mudanças no modo de conceber a paternidade acontecem por não ser algo linear, a construção da nova concepção de pai envolve rupturas e continuidades com o modelo tradicional, perpassando, inevitavelmente, pelo enredo transgeracional dos homens com seus pais. Em virtude disso, os estudos apontam não para uma, mas para duas formas vivenciais de paternidade coexistindo atualmente: o pai tradicional, com a provisão demarcando o eixo central, e o novo pai. Conforme os autores, o conceito de paternidade atualmente é diferente do modelo tradicional, ou seja, o pai da atualidade é demandado socialmente para que exerça uma paternidade mais implicada e ativa no que se refere à convivência e aos cuidados com os filhos. Ainda sobre o conceito de paternidade, é válido mencionar sobre a paternidade socioafetiva. De acordo com Otoni (2012): A paternidade socioafetiva está relacionada com a afetividade, que engloba sentimentos que se prolongam e se fortalecem a cada dia. Não convém que a relação envolvendo pais e filhos, independentemente do liame biológico, se desconstitua, uma vez que a relação paterna é um fator essencial no desenvolvimento do filho no que tange a formação de sua personalidade (OTONI, 2012, p. 53) Conforme a citação, a paternidade socioafetiva está relacionada com a dedicação proporcionada aos filhos, sendo considerada tão importante quanto à biológica, visto que é o vínculo socioafetivo que une pais e filhos. O Direito de Família está em constante evolução. Ao longo do tempo, as famílias continuam passando por muitas transformações, de acordo com os costumes e o meio cultural da sua época. O direito e a família estão conectados, assim a medida em que o meio social prospera e a família evolui e se modifica, devem adaptar-se às distintas concepções de família formadas (CARVALHO, 2020). Para tanto, a filiação socioafetiva caracteriza o novo conceito de entidade familiar, considerando não apenas o laço consanguíneo como filiação, mas também o laço afetivo. O elo afetivo é construído na escolha de ser pai ou mãe, na convivência diária, se manifesta de maneira natural, amando e cuidando como seu aquele que acolheu como filho. Ser genitor não é exatamente o mesmo que ser pai ou mãe. A condição de ser pai ou mãe vai além da simples função de gerar biologicamente um filho. Ela carrega um significado espiritual e afetivo profundo, que está ausente na expressão “genitor”. No moderno Direito Civil, reconhece-se a importância da paternidade ou maternidade biológica, mas também se valoriza a relação afetiva entre pais e filhos, sem priorizar exclusivamente a verdade genética. Isso significa que há situações em que a filiação é construída ao longo do tempo com base na relação socioafetiva, independentemente do vínculo genético. Nesses casos, a verdade biológica não prevalece sobre a verdade afetiva na determinação da filiação (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2022). A filiação socioafetiva reconhece a importância do vínculo afetivo e social na formação da família e na relação entre pais e filhos, independentemente da relação biológica. Ela pode ocorrer em diversas situações, como quando um casal cria um filho de outra pessoa como se fosse seu filho biológico, ou quando uma pessoa assume a responsabilidade pela criação e educação de um menor de idade, sem relação biológica. 4.1 RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE NA LEGISLAÇAO BRASILEIRA Ao abordar sobre o reconhecimento da paternidade é válido ressaltar com base na Lei nº 8.560 de 1992, que regula a investigação de paternidade de filhos nascidos fora do casamento, a averiguação compulsória de paternidade é necessária quando uma certidão de nascimento não contém referência ao pai, que no decorrer dos anos passou por importantes alterações, pois, conforme o Art. 355 do Código Civil de 1916 a filiação era dividida, entre os filhos legítimos e ilegítimos, o primeiro era os filhos tidos no casamento, e o segundo, era os casos extraconjugais, esses filhos eram excluídos e discriminados tanto socialmente quanto juridicamente, tendo em vista os próprios termos utilizados pela legislação anteriormente vigente, “legítimos e ilegítimos”. Consoante o disposto no Art. 37 do Código Civil de 1916, quando o adotante tiver filhos legítimos, legitimados ou reconhecidos, a relação de adoção não envolve a de sucessão hereditária. Outro exemplo claro é o fato de que o filho ilegítimo, reconhecido por um dos cônjuges, não poderia residir no lar conjugal sem o consentimento do outro, conforme preceituava o Art. 359. (BRASIL, 1916). No tocante à parentalidade, é interessante mencionar que o Estatuto da Criança e do Adolescente trouxe a possibilidade, no Art. 26, de reconhecimento de filhos extramatrimoniais, independentemente, de sua origem, no próprio termo de nascimento, por testamento, por escritura ou outro documento, bem como a menção expressa da natureza personalíssima e imprescritível do direito ao reconhecimento do estado de filiação. Seguindo esse movimento de constitucionalização das leis infraconstitucionais, a Lei de Registros públicos, qual seja, a Lei Federal nº 6.015, editada em 31 de dezembro de 1973, previa em seu Art. 54, item 7º, que constasse no assento de nascimento da criança o lugar e o cartório onde os pais haviam se casado, o item 7º foi revogado em parte. Assim, não mais são 76 considerados como elementos do registro de nascimento o lugar e o cartório onde os pais se casaram por ofensa direta ao Art. 227, § 6o da Constituição Federal e Art. 5º, da Lei no 8.560/92 (BRASIL, 1973). Diante de todo esse movimento de constitucionalização do Direito e, após muitos anos de tramitação no Congresso Nacional, que se iniciou em 1975, em 2001, o Código Civil vigente no Brasil recebeu sua aprovação. Para tanto,é importante, destacar que o Código Civil de 2002, no decorrer de sua longa tramitação, sofreu importantes alterações, sobretudo em razão de uma releitura do Direito Civil, e, especialmente do Direito de Família, realizada por meio de jurisprudência dos Tribunais Superiores, com base nas diretrizes traçadas na Constituição Federal. Segundo Dias (2013): Assim, indispensável que o Código Civil abandonasse a velha terminologia que diferenciava filhos legítimos e ilegítimos pelo fato de terem nascido na constância do casamento ou serem fruto de relações extramatrimoniais. No entanto limitou-se a excluir as palavras legítima e ilegítima reproduzindo no mais com ligeiros retoques e pequeníssimos acréscimos o que dizia o Código anterior (DIAS, 2013, p. 387). Conforme a autora, o Código Civil de 2002 legitimou que filhos legítimos e ilegítimos são filhos, ou seja, independente da concepção ter sido dentro de um casamento ou não, e se os fatores biológicos forem positivos, são considerados filhos e tem o direito a paternidade e filiação devendo o Estado garantir a efetivação do direito de paternidade e filiação. O papel da família é de extrema importância para o desenvolvimento da criança, adolescente e jovem, visto que a Constituição de 1988 no Art. 227 estabelece e delega não somente ao Estado e a sociedade em si, mas a família, a proteção e vários cuidados necessários para o desenvolvimento saudável de um indivíduo. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação (BRASIL, 1988). Diante desse contexto, compreende-se que não há mais distinção entre os filhos legítimos, oriundos da relação matrimonial, e os filhos anteriormente designados como ilegítimos, ou seja, aqueles provenientes de relações extramatrimoniais tornando-se proibido qualquer atitude discriminatória. Nesse sentido, Carlos Roberto Gonçalves (2010, p.111) corrobora que existem duas formas, ou seja, dois modos de reconhecimento de paternidade sendo o voluntário e o judicial. O reconhecimento de paternidade voluntário, geralmente é para os casos em que os pais não são casados, tendo em vista que os tidos na constância de um casamento têm por presunção a paternidade. Este reconhecimento pode ser feito pelas formas expostas no Art. 1.609 do Código Civil de 2002: Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: I - no registro do nascimento; II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder no nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes. art. 1.610. O reconhecimento não pode ser revogado, nem mesmo quando feito em testamento (BRASIL, 2002). Para tanto, o reconhecimento de forma voluntária é emerso ante a figura do matrimônio, sendo que muitas vezes no relacionamento o indivíduo por intermédio da convivência, da relação afetiva reconhece uma criança como filho, sendo que esta forma de reconhecimento pode ocorrer de determinadas maneiras, conforme o Art. 1609 do Código Civil de 2002. Sobre o reconhecimento da paternidade de maneira judicial, Gonçalves (2011) ressalta que o filho não reconhecido voluntariamente, pode se fazer judicialmente, através de Ação de Investigação de Paternidade, sendo esta Ação de Estado, de natureza declaratória e imprescritível. Assim, o reconhecimento da paternidade judicial decorre de uma sentença havida em ação de investigação de paternidade em que a criança é filho (a) do genitor, é uma manifestação expressa e direta perante o juiz. O direito ao reconhecimento de paternidade e filiação é muito protegido e defendido pela legislação brasileira, tendo em vista que esse direito como já mencionado é imprescritível, podendo a qualquer momento ser exigido, ainda este direito é exclusivo de quem o detém, sendo chamado de direito personalíssimo, e ainda assim, não se pode dispor do direito e muito menos que um terceiro disponha pelo filho. Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça (ECA, 1990). Para tanto, de acordo com o ECA o direito de filiação está disposto e espalhado por toda a legislação como se pode conferir no decorrer deste, mostrando a sua grande proteção e importância. Segundo Sasso (2020), em novembro de 2017, a paternidade socioafetiva, foi, pela primeira vez, disciplinada pelo Conselho Nacional de Justiça através do Provimento 63. O provimento trouxe a possibilidade de os “pais” socioafetivos serem reconhecidos com tal, ou seja, mediante uma formalização no registro de nascimento da criança, tendo então todos os o então todos os direitos e obrigações equivalentes aos dos pais biológicos (SASSO, 2020). Conforme o autor supracitado, antes da criação do Provimento nº 63/2017 do Conselho Nacional de Justiça, para que o Estado reconhecesse a filiação socioafetiva, era necessário comprovar a existência de um vínculo familiar a partir da convivência por um período de tempo. Além disso, o registro dessa filiação só poderia ocorrer após intervenção do Poder Judiciário, por meio de ação judicial. No entanto, com o provimento, foi estabelecido um novo modelo de certidão de nascimento, permitindo o registro voluntário e direto nas serventias de registro civil de pessoas, dispensando a supervisão do Poder Judiciário. A paternidade socioafetiva ou filiação socioafetiva permite o acréscimo de um novo pai ou mãe no registro de nascimento da criança, sendo assim possível ter dois pais ou duas mães. Esse reconhecimento dever ser averbado no cartório de registro civil onde a criança anteriormente foi registrada (OLIVEIRA, 2020). Assim, é válido ressaltar que o reconhecimento voluntário da filiação pode ser feito quando o filho não foi registrado ou foi por apenas um dos pais, aonde o reconhecimento de paternidade ou maternidade socioafetiva não ocorre através de laços biológicos, mas sim através de laços afetivos e a escolha de afeiçoar-se a outra pessoa é livre e quando concretizada gera responsabilidades e efeitos. Para tanto, o compromisso com a paternidade socioafetiva vincula o indivíduo, com direitos e obrigações na relação familiar, para a formação da criança e do adolescente a verificação do cumprimento, descumprimento ou parcial cumprimento do dever de cuidar é fundamental. Nesse sentido, um recurso especial julgado pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça em 09 de Outubro de 2018, traz a possibilidade de dupla paternidade em registro de nascimento: RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. SOCIOAFETIVIDADE. ART. 1.593 DO CÓDIGO CIVIL. PATERNIDADE. MULTIPARENTALIDADE. POSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. INDIGNIDADE. AÇÃO AUTÔNOMA. ARTS. 1.814 E 1.816 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. A eficácia preclusiva da coisa julgada exige a tríplice identidade, a saber: mesmas partes, mesma causade pedir e mesmo pedido, o que não é o caso dos autos. 3. Na hipótese, a primeira demanda não foi proposta pelo filho, mas por sua genitora, que buscava justamente anular o registro de filiação na ação declaratória que não debateu a socioafetividade buscada na presente demanda. 4. Não há falar em ilegitimidade das partes no caso dos autos, visto que o apontado erro material de grafia foi objeto de retificação. 5. À luz do art. 1.593 do Código Civil, as instâncias de origem assentaram a posse de estado de filho, que consiste no desfrute público e contínuo dessa condição, além do preenchimento dos requisitos de afeto, carinho e amor, essenciais à configuração da relação socioafetiva de paternidade ao longo da vida, elementos insindicáveis nesta instância especial ante o óbice da Súmula Nº 7/STJ. 6. A paternidade socioafetiva realiza a própria dignidade da pessoa humana por permitir que um indivíduo tenha reconhecido seu histórico de vida e a condição social ostentada, valorizando, além dos aspectos formais, como a regular adoção, a verdade real dos fatos. 7. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 898.060, com repercussão geral reconhecida, admitiu a coexistência entre as paternidades biológica e a socioafetiva, afastando qualquer interpretação apta a ensejar a hierarquização dos vínculos. 8. Aquele que atenta contra os princípios basilares de justiça e da moral, nas hipóteses taxativamente previstas em lei, fica impedido de receber determinado acervo patrimonial por herança. 9. A indignidade deve ser objeto de ação autônoma e seus efeitos se restringem aos aspectos pessoais, não atingindo os descendentes do herdeiro excluído (arts. 1.814 e 1.816 do Código Civil de 2002). 10. Recurso especial não provido (BRASIL, 2021). Resguardada no artigo 227, § 6º da Constituição Federal, a filiação socioafetiva tem grande importância nas relações de família pois traz uma relação de afeto entre duas pessoas e, independente do laço consanguíneo é possível ter um pai ou uma mãe. 5. O SERVIÇO SOCIAL NO JURÍDICO E ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL Ao abordar sobre o surgimento do Serviço Social no Brasil ressalta-se que ocorreu nas décadas de 1920 e 1930, sob influência católica européia. Segundo Iamamoto (2011): A gênese do Serviço Social no Brasil, enquanto profissão inscrita na divisão social do trabalho está relacionada ao contexto das grandes mobilizações da classe operária nas duas primeiras décadas do século XX, pois o debate acerca da “questão social”, que atravessa a sociedade nesse período, exige um posicionamento do Estado, das frações dominantes e da Igreja. (IAMAMOTO, 2011) Percebe-se que de acordo com o relatar da autora, o surgimento do Serviço Social no Brasil está relacionado às grandes mobilizações da classe operária, devido ao processo de industrialização e ao crescimento das populações das áreas urbanas, onde foi preciso controlar a massa operária. Nos anos de 1960 e 1970, há um movimento de renovação na profissão, que se expressa em termos tanto da atualização do tradicionalismo profissional, quanto de uma busca de ruptura com o conservadorismo. Nesse período, assistentes sociais se reúnem e criam o que seria um marco do Serviço Social brasileiro: o Documento de Araxá. Como ressalta Netto (2001, p.148), “é no marco desse movimento que o Serviço Social, abertamente, apropria-se da tradição marxista e o pensamento de raiz marxiana deixou de ser estranho no universo profissional”. De acordo com o autor, o Documento de Araxá traz uma proposta teórico- ideológica que dá o alicerce do ensino da profissão, originando uma prática mais transformadora e conferindo aos assistentes sociais uma postura mais crítica no modo de atuar bem como comprometida com as classes populares. Ainda sobre o percurso do Serviço Social no Brasil, na década de 1990 foi implantado o Projeto Ético-Político do Serviço Social, que tem como pano de fundo um projeto societário radicalmente democrático. De acordo com Guerra (2007): A década de 1990 confere maturidade teórica ao Projeto Ético-Político Profissional do Serviço Social brasileiro que, no legado marxiano e na tradição marxista, apresenta sua referência teórica hegemônica. Enfeixa um conjunto de leis e de regulamentações que dão sustentabilidade institucional, legal, ao projeto de profissão nos marcos do processo de ruptura com o conservadorismo: a) o Novo Código de Ética Profissional de 1993; b) a nova Lei de Regulamentação da Profissão em 1993; c) as Diretrizes Curriculares dos cursos de Serviço Social em 1996; d) as legislações sociais que referenciam o exercício profissional e vinculam-se à garantia de direitos como: o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA de 1990, a Lei Orgânica da Assistência Social – Loas de 1993, a Lei Orgânica da Saúde em 1990. (GUERRA, 2007, p.37). Segundo o autor, a construção deste projeto profissional materializou-se no Código de Ética Profissional do Assistente Social, aprovado pela Lei de Regulamentação da Profissão de Serviço Social (Lei 8.662/1993) vigente e na proposta das Diretrizes Curriculares para a Formação Profissional em Serviço Social de 1996. Para Kernkamp (2014, p.101), “O projeto ético-político se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização, e na consolidação da cidadania e declara radicalmente democrata”. Na compreensão de Kernkamp (2014), o posicionamento do projeto ético- político busca o favorecimento da justiça social e a equidade, com foco na universalização e na consolidação da cidadania. Ainda sobre o projeto ético-político do Serviço Social: Compreende-se que o projeto ético-político do serviço social está vinculado a um projeto de transformação social, com a dimensão política de intervenção profissional, mesmo sabendo que a atuação profissional se dá na relação das contradições de classes, pois é nesse espaço que emerge a profissão e se concretiza a atuação profissional [...] (KERNKAMP, 2014, p. 104). A autora refere-se que o projeto ético-político está interligado com o projeto de transformação social, através da intervenção profissional e a atuação do assistente social, o qual se dá por meio das demandas dos usuários que são os conflitos de classe e da expressão das contradições que emerge a profissão. Conforme o Conselho Federal de Serviço Social - CFESS (2012) o Código de Ética foi consolidado num processo gradual de amadurecimento intelectual e político ocorrido no âmbito do Serviço Social, rompendo com o conservadorismo ético-moral e superando a concepção ética tradicional abstrata e histórica. Ressalta Kernkamp (2014) sobre o Código de Ética: O Código de Ética de 1993 tem o propósito de garantir a ampliação das conquistas profissionais, proporcionando a flexibilização ética quando elegem os valores dos princípios profissionais, os quais norteiam a conduta do profissional, traz o compromisso como o exercício profissional com sua base central na liberdade, democracia, cidadania, justiça social e igualdade social. Descrever normas e princípios que determinam direitos, deveres e compromissos do profissional do serviço social com os usuários, instituições empregatícia, colegas de profissão, entre outros. (KERNKAMP, 2014, p. 81). Kernkamp (2014) menciona que o Código de Ética, norteia a conduta do profissional, bem como seus direitos, deveres e compromisso profissional, com base central na cidadania, justiça e igualdade social. Ainda sobre o Código de Ética, Kernkamp (2014) acrescenta: Vinculado a um projeto societário o serviço social define um projeto profissional, o qual determina com Projeto Ético Político do Serviço Social, que renovou no âmbito da interpretação teórico-metodológico e política, rompendo com o tradicional profissional