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XVII CONGRESSO BRASILEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS 11 a 13 de outubro de 2022 “Crise do capital e exploração do trabalho em momentos pandêmicos: Repercursão no Serviço Social, no Brasil e na América Latina” Autores: Patrícia De Paula Barros Moraes 1, Marinara Melo Da Silva 1, Raquel Da Silva Amorim 1 O FAZER PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NOS CUIDADOS PALIATIVOS ONCOLÓGICOS: uma revisão integrativa RESUMO O profissional aAssistente sSocial intervém junto às expressões da questão social e atua em vários espaços sócio-ocupacionais via políticas sociais, em especial no âmbito da saúde. A partir disso, essa pesquisa visa sistematizar as ações desse profissional nos cCuidados pPaliativos oOncológicos mediante literaturas científicas presentes nas bases de dados: Periódicos da Capes, Scielo e LILACS. Palavras-chave: SServiço sSocial; SSaúde; CCuidados pPaliativos; PPrática pProfissional. ABSTRACT The Social Worker professional intervenes with the expressions of the social question and acts in various socio-occupational spaces by social policies, especially in the scope of health. This research aims to systematize the actions of this professional in Palliative Oncological Care through scientific literature present in the databases: Periodicals of Capes, Scielo and LILACS. Keywords: Social Work; Health; Palliative care; Professional Practice. INTRODUÇÃO O estudo tem como objetivo sistematizar o fazer profissional do aAssistente sSocial no contexto dos cuidados paliativos oncológico a partir da literatura científica. Para isso, o artigo foi estruturado em seis tópicos. O , a saber: o primeiro 1 Universidade Do Estado Do Pará/hospital Ophir Loyola versa sobre a historicidade da política de saúde no Brasil, com ênfase para a constituição do Sistema Único de Saúde – (SUS) e os atuais desafios dessta política no cenário político-econômico vigente. O segundo evidencia alguns apontamentos acerca da articulação do sServiço sSocial com a saúde, considerando que esse é um dos principais espaços de atuação profissional do assistente social. O terceiro destaca o conceito dos cCuidados pPaliativos, seus princípios e a inserção do assistente social nesse contexto. Em seguida, a metodologia traz os caminhos percorridos para a construção dessa pesquisa. O penúltimo tópico apresenta os resultados e discussão realizados a partir dos achados. PE, por fim, as considerações finais do estudo. Sendo assim, espera-se que essa pesquisa venha a contribuir com as duas temáticas centrais em questão (sServiço sSocial e cCuidados pPaliativos), ainda incipientes no interior da categoria profissional, mas com potencial de ter suassa discussão ser ampliada e difundida nas entidades do sServiço sSocial e nos periódicos científicos. POLÍTICA DE SAÚDE BRASILEIRA: a construção do Sistema Único de Saúde e os desafios atuais A saúde pública brasileira em sua atual organização resulta de um processo sócio-histórico e político, com ênfase para as lutas e reivindicações da classe trabalhadora, as quais tem como marco principal a construção do Projeto da Reforma Sanitária em um contexto de redemocratização do país ao final do século XX. Paim (2009) descreve a criação e organização do movimento da Reforma Sanitária, na segunda metade da década de 1970, composto por diversos atores sociais. Bravo (2009) aponta as propostas defendidas por essa coletividade: a universalização do acesso; a saúde entendida como direito social e dever do Estado; a criação de um Sistema Unificado de Saúde; o financiamento efetivo;, a incorporação da sociedade civil no poder mediante os Conselhos e as Conferências de Saúde; e a descentralização para as três esferas do governo. A realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, representou um marco para a saúde, pois teve a participação da sociedade civil e o relatório final dessa Conferência foi a base para a formulação do texto constituinte, em 1988. Entretanto, ressalta-se a disputa de dois grupos: os empresariais e as forças da Reforma Sanitária que até os dias atuais tem suas ideologias presentes e em concorrência no cenário brasileiro (BRAVO, 2009). No texto Constitucional prevaleceu as propostas do segundo grupo, a saúde foi escrita como direito de todos e dever do Estado, devendo ser garantida por meio de políticas sociais e econômicas com intuito de reduzir o risco de doenças e outros agravos bem como garantir o acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2016). Já a sua regulamentação ocorreu com a Lei Orgânica da Saúde – (LOS) n.º 8.080/90 e n.º 8.142/90. Dessa forma, constituiu-se o Sistema Único de Saúde (– SUS), contudo, o cenário político-econômico emergente na década de 1990 com a Política de Ajuste Neoliberal, trouxe implicações para a concretização do SUS constitucional. Essa pPolítica tem contribuído para a redução dos direitos sociais e trabalhistas, o desemprego estrutural, o trabalho precarizado, ausência de investimentos na rede pública de saúde e em recursos humanos, além de verbas para custear e manter os serviços existentes (BRAVO, 2009; PAIM, 2009). Além disso, há uma dependência do SUS em relação ao setor privado nos serviços especializados e exames complementares, bem como uma organização deficiente entre a atenção básica à saúde e os demais níveis, pois a baixa efetividade alcançada no nível básico desencadeia uma sobrecarga na média e na alta complexidade. A gestão e a gerência também têm seus impasses quando vinculadas a interesses partidários, onde “a saúde das pessoas transforma-se em objeto de clientelismo e moeda de troca política” (PAIM, 2009, p. 130). Isto posto, é inegável a relevância do SUS na busca de corrigir as injustiças sociais acumuladas historicamente no país, bem como a capacidade de articulação política e social dos movimentos coletivos em prol de um sistema de saúde universal, igualitário e equitativo. Concorda-se com Paim (2009) quando afirma que o Movimento Sanitário e o SUS nasceram da sociedade e não de governos ou partidos, e mesmo com as adversidades atuais o SUS constitui-se um importante sistema público de saúde. SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE: alguns apontamentos O sServiço sSocial é uma profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho e tem o lugar de classe trabalhadora nessa divisão. É uma profissão liberal, possui estatutos legais e éticos os quais conduzem o exercício profissional. O(a) aAssistente sSocial é trabalhador(a) assalariado(a) contratado(a) por organismos empregadores, intervém junto às expressões da questão social2 via políticas sociais na busca por viabilizar os direitos a partir do atendimento direto à população, do planejamento; da gestão de serviços entre outros (IAMAMOTO, 2009; CARDOSO, 2013).. O sServiço sSocial atingiu seu amadurecimento com a formulação do Código de Ética Profissional e da Lei de Regulamentação, em 1993, e a definição de um Projeto Profissional, todos pautados em princípios e valores humanistas, tais como: o reconhecimento da liberdade como valor ético central; a defesa intransigente dos direitos humanos; a defesa e consolidação da cidadania e da democracia;, posicionamento em favor da equidade e justiça social; com o compromisso com a qualidade dos serviços prestados (IAMAMOTO, 2009). Em relação ao campo de atuação, o aAssistente sSocial possui vários espaços sócio-ocupacionais que atua frente às políticas sociais, inclusive a saúde. Nogueira e Mioto (2009) ao trazer a concepção ampliada dessa política na Constituição de 1988 assinala um novo estatuto ao sServiço sSocial, pois compreender as necessidades de saúde da populaçãorequer considerar que elas são produtos das relações sociais e destas com o meio físico, cultural e social. Ou seja, tais necessidades remete dar importância àa alimentação, àa habitação, ao acesso àa água potável e saudável, ao trabalho, àa renda, àa educação e aos cuidados primários de saúde (NOGUEIRA; MIOTO, 2009). Assim, com essa concepção, defendida pela Reforma Sanitária, e com odo amadurecimento da profissão é perceptível a relação intrínseca entre ambos. CFESS (2010) confirma isso quando menciona as requisições postas ao assistente social a partir dos dois projetos vigentes e em disputa na saúde. O Projeto da Reforma Sanitária requisita ações como a democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde, estratégias para aproximar as unidades de saúde com a realidade, intervenções interdisciplinares,; ênfase nas abordagens grupais e estímulo à participação popular. Nessa perspectiva, uma ferramenta contribuinte com o direcionamento profissional na saúde em consonância com os fundamentos da Projeto da Reforma Sanitária foram os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde, formulados em 2010. 2 “Apreendida enquanto o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade” (IAMAMOTO, 2009, p. 176). Neles, há quatro grandes eixos de atuação: atendimento direto aos usuários, o qual ocorre nos diversos espaços de atuação na saúde mediante as ações socioassistenciais, de articulação com a equipe de saúde e as socioeducativas; mobilização, participação e controle social envolve ações cujo objetivo é contribuir na organização dos usuários enquanto sujeitos políticos; investigação, planejamento e gestão que objetivam promover o fortalecimento da gestão democrática e participativa em prol dos usuários e trabalhadores; e assessoria, qualificação e formação que visam desenvolver atividades de qualificação e formação profissional (CFESS, 2010). Assim sendo, identifica-se a aproximação dos ideários da profissão com o Projeto da Reforma Sanitária. CUIDADOS PALIATIVOS E SERVIÇO SOCIAL: breves considerações conceituais O conceito mais atual acerca dos cCuidados pPaliativos foi definido pela Organização Mundial da Saúde – OMS, em 2002, presente em Matsumoto (2009, p. 16) como “Abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, através de prevenção e alívio do sofrimento”. Sendo necessárioso a identificação precoce, a avaliação e o tratamento da dor proveniente da natureza física, social, psicológica e espiritual. Os Cuidados Paliativos têm sua origem a partir dos empenhos da assistente social, enfermeira e médica Cicely Saunders, em meados do século XX, quema qual criou o Movimento Hospice Moderno3. Elassa dedicou-se ao estudo do alívio da dor de pessoas em fase final de vida, publicando artigos sobre a temática onde difundiu o conceito da dor total ao considerar todos os aspectos da vida do usuário (físico, emocional, social e espiritual) como fatores para a geração da dor e manifestação do sofrimento humano (MACIEL, 2008). Dessa forma, os Cuidados Paliativos visam proporcionar a qualidade de vida ao indivíduo e à família e aà manutenção da dignidade humana durante a doença, na fase final de vida, na morte e no período de luto. Para isso, faz-se necessáriao uma atuação em equipe interdisciplinar a partir de princípios, tais como: promover o alívio da dor e de outros sintomas desagradáveis; afirmar a vida e considerar a morte um processo normal da vida; não acelerar nem adiar a morte; integrar os 3 O Movimento Hospice Moderno iniciou em 1967 com a fundação do St. Christopher’s Hospice, cuja estrutura permitiu a assistência aos doentes e o desenvolvimento de ensino e pesquisa, recebendo bolsistas de vários países (MACIEL, 2008). aspectos psicológicos e espirituais (MATSUMOTO, 2009). Ainda, oferecer um sistema de suporte que possibilite: o usuário viver de forma afetiva até o momento da sua morte,; bem como um sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do usuário e no luto;; oferecer uma abordagem multiprofissional para focar nas necessidades do usuário e seus familiares; melhorar a qualidade de vida e influenciar de forma positiva o curso da doença; e iniciar precocemente o cuidado paliativo, com medidas de prolongamento da vida, incluindo todas as investigações necessárias (MATSUMOTO, 2009). Diante disso, o aAssistente sSocial ganha relevância na equipe de cCuidados pPaliativos por ter um ângulo de observação que difere de outras categorias profissionais e contribui para o entendimento do homem como ser integral, fator determinante para essa vertente. Andrade (2009, p. 221) pontua o papel profissional orientado pela atuação “junto a paciente, familiares, rede de suporte social, instituição na qual o serviço encontra-se organizado e diferentes áreas atuantes na equipe”. Portanto, a partir do conceito e princípios dos Cuidados Paliativos, surge a necessidade de difundir as pesquisas referentes à temática dentro do Serviço Social diante da relação entre ambos. METODOLOGIA O estudo tem o viés exploratório, mediante a revisão integrativa de literatura, com a seleção de artigos científicos nas bases de dados: Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (– CAPES); Scientific Eletronic Library Online – SCIELO; e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde –( LILACS). Para a busca, foram utilizados os descritores e conector booleano Cuidados Paliativos AND Serviço Social. Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram: idioma em português; lapso temporal de 2012 a 2022; revista de acesso aberto; artigos e relatos de experiência completos; aceitos para publicação em periódicos científicos; e que tenham relação com o objetivo do estudo. Inicialmente foram selecionados 80 artigos, após a aplicação dos critérios de inclusão e leitura dos resumos constituiu- se uma amostra de 6 artigos para esta revisão integrativa. Após a leitura e releitura dos artigos, os dados foram sistematizados em uma planilha do Programa Excel para auxiliar na interpretação destes e na identificação das atividades profissionais do aAssistente sSocial nos cuidados paliativos oncológicos, foco desta pesquisa. Os dados foram apresentados em quadro e em fragmentos no texto, analisados à luz do referencial teórico crítico dialético. RESULTADOS E DISCUSSÃO As produções científicas acerca do fazer profissional do aAssistente sSocial dentro do cenário dos cuidados paliativos oncológico, encontradas nesta pesquisa, foram organizadas no quadro a seguir com intuito de destacar algumas informações pertinentes ao tema. AEm seguir, os dados são apresentados mediante temáticas as quais visam responder ao objetivo proposto. As temáticas desdobram-se em: iInstrumentos e técnicas do sServiço sSocial; aAções socioassistenciais, com ênfase para a viabilização dos direitos sociais e o suporte à família; aAções em articulação com a equipe de saúde; e aAções de cunho socioeducativo. Quadro 01 – Artigos selecionados para a revisão integrativa ARTIGO AUTORES ANO PERIÓDICO Serviço Social e Cuidados Paliativos: o que sinaliza a produção científica? CAVALCANTI, P. B. et al 2020 Barbarói Cuidados Paliativos Oncológicos: o cuidar na perspectiva dos profissionais de saúde FROSSARD, A. G. de S; MILLER, T. C. de C. 2019 Sustinere Serviço Social e Cuidados Paliativos CAVALCANTI, P. B; SATURNINO, C. I. N; MIRANDA, A. P. R. S.de 2019 Serviço Social & Saúde Experiência da residência multiprofissional em Serviço Social e cuidados paliativos oncológicos FROSSARD, A. G. de S; SILVA, E. C. de S. 2016 Katálysis Acolhimento e acesso aos direitos sociais: assistência a pacientes em cuidados paliativos oncológicos MEDEIROS, T. de S; SILVA, O. R. da; SARDINHA, A. L. B 2015 Textos & Contextos Cuidados Paliativos: uma abordagem a partir das categorias profissionais de saúde HERMES, H. R; LAMARCA, I. C. A 2013 Ciência & Saúde Coletiva Fonte: Primária (2022) A primeira temática versa acerca dos principais “iInstrumentos e técnicas do sServiço sSocial” no contexto em questão. O aAcolhimento, segundo Frossard e Miller (2019), constitui-se parte integrante do processo interventivo do assistente social e tem um diferencial na área dos cuidados paliativos oncológicos, onde requer um exercício diário de leveza, sensibilidade e compromisso com a qualidade da assistência prestada aos usuários e sua rede familiar. Medeiros, Silva e Sardinha (2015) reforçam que o acolhimento vem sendo utilizado como ferramenta no sServiço sSocial, entretanto, urge a necessidade de avançar nas produções científicas no sentido de determinar um elemento particular o qual denote a definição de acolhimento para a profissão. Para realizar o acolhimento é imprescindível a linguagem como um instrumento privilegiado de trabalho, pois proporciona a comunicação entre profissional-usuário-equipe visando formar uma relação de segurança e confiança entre os envolvidos. A entrevista social também compõe o rol dos instrumentos e técnicas profissionais. Essa entrevista ocorre mediante uma escuta qualificada com os usuários e seus familiares e/ou acompanhante e se materializa no preenchimento do formulário de aAvaliação sSocial. Frossard e Miller (2019) conceituam a entrevista uma ferramenta mediadora no processo de conhecimento entre profissional e usuário, proporcionando uma troca com foco na ampliação da consciência crítica e a viabilização dos direitos sociais. Cavalcanti, Saturnino e Miranda (2019) afirmam que a aAvaliação sSocial deverá conter elementos como composição familiar, local de moradia, formação, profissão, renda, situação trabalhista, rede de suporte social entre outros para realizar o levantamento e, posteriormente, orientar acerca dos serviços oferecidos, bem como os encaminhamentos para outros setores ou para rede socioassistencial. Essas ferramentas e técnicas caracterizam a atuação profissional no atendimento direto aos usuários o que direciona à segunda temática intitulada: “aAções socioassistenciais”. Dentre essas ações, a particularidade presente nos artigos selecionados destaca o assistente social como profissional viabilizador de direitos sociais. Cavalcanti et al (2020) enfatizam como o profissional inserido nos cuidados paliativos deve conhecer o usuário, sua rede de apoio, os recursos e objetivos institucionais e a rede de serviços para então oferecer informações que possam contribuir para o acesso aos seus direitos e políticas sociais. Entre as orientações realizadas pelo assistente social que o caracteriza como viabilizador de direitos sociais no referido contexto, Medeiros, Silva e Sardinha (2015, p. 407) destacam: [...] a situação previdenciária, a situação trabalhista, assim como a situação financeira, a necessidade de encaminhamento a outros setores para realização de algum procedimento, encaminhamentos a serviços jurídicos: preparação de procuração quando não há condições físicas para exercer a autonomia de caráter cível; encaminhamento a instituições defensoras de seus direitos (Ministério Público, Defensoria Pública, Promotorias) quando estes em processo são indeferidos para concessão, além de verificar e orientar o paciente e seus familiares acerca do Tratamento Fora de Domicílio (TFD), auxílio (transporte, estadia e alimentação) de direito a pacientes e acompanhantes quando o tratamento necessário não é oferecido pelo seu município de origem. Ressalta-se que a postura profissional enquanto viabilizador de direitos deve estar em consonância com o atual projeto hegemônico do sServiço sSocial, dos aparatos legais da profissão e das requisições postas a esse profissional a partir do Projeto da Reforma Sanitária conforme visto anteriormente. Outra particularidade presente nos artigos foi a intervenção profissional no suporte à família. Frossard e Miller (2019) apontam tal intervenção com objetivos de: identificar os temas centrais que circulam em torno da família; rastear quais as condições dos cuidados no lar para incentivar o atendimento domiciliar; realizar a interlocução entre família, usuário e equipe de forma a construir mediações ; e fomentar o uso da rede de apoio, o qual se torna fundamental em momento de finitude humana. Cavalcante, Saturnino e Miranda (2019, p. 16) reforçam este pensamento ao incluir intervenções tais como: identificação dos casos de violência ou negligência intrafamiliar ou mesmo situações de “[...] adoecimento de cuidadores, a necessidade de inserção em rede de proteção social e ainda, em conjunto com psicólogos e a equipe médica, a abordagem da morte e do luto que não podem ser ignorados entre pacientes submetidos aos CPs”. Em relação à temática “aAções em articulação com a equipe de saúde”, Hermes e Lamarca (2013) afirmam, que o assistente social desemprenha um papel relevante no cenário dos cuidados paliativos, qual seja a interação com a equipe. Faz-se necessário informar a equipe sobre a biografia do usuário: onde ele reside, em que condições, como se organiza a dinâmica da família na qual está inserido, que, somado às informações de outras categorias profissionais, poderá ser planejado um projeto terapêutico singular daquele indivíduo. Frossard e Silva (2016) mencionam da importância do trabalho interdisciplinar, onde há uma responsabilização de todos os envolvidos, cada qual intervindo conforme as suas atribuições e competências, formulando abordagens conjuntas como reuniões com familiares e encaminhamentos. Cavalcanti et al (2020) afirmam ainda que é na perspectiva do trabalho em equipe onde se materializa a atuação do assistente social nos cuidados paliativos. Na última temática intitulada “aAções de cunho socioeducativo”, as autoras Medeiros, Silva e Sardinha (2015) ressaltam o papel de educador desempenhado pelo assistente social, pois eleesse intervém no sentido de instigar a participação dos usuários e familiares enquanto corresponsáveis no processo saúde-doença, possibilitando a autonomia desses sujeitos para reivindicarem seus direitos. Cavalcanti, Saturnino e Miranda (2019) também apontam a posição do profissional enquanto coordenador e treinador de equipes atuantes de forma direta ou indireta nos cuidados paliativos, a possibilidade de criar ações e projetos de humanização no setor hospitalar, estratégias e metodologias de trabalho, entre outros. Diante disto, ratifica-se o cenário dos cuidados paliativos como lócus privilegiado de intervenção do aAssistente sSocial mediante o olhar particular da profissão que, associado às demais categorias profissionais, tem o intuito de prestar uma assistência à saúde de qualidade aos usuários e seus familiares, conforme os conceitos, os princípios e as diretrizes discutidos no decorrer deste estudo. CONSIDERAÇÕES FINAIS As discussões do fazer profissional do sAssistenteassistente sSocial no cenário dos cCuidados pPaliativos oOncológico não se esgotam nestse estudo, mas a partir deste foi possível apreender como essa intervenção estandor intrinsecamente relacionada com os Parâmetros de Atuação do Assistente Social na Política de Saúde e os demais marcos legais da profissão, bem como do que preconizao Projeto da Reforma Sanitária. Confirma-se ainda o potencial de contribuição que tal temática possui para essanossa categoria profissional e da necessidade de mais produções científicas sobre o tema. Além disso, evidenciou-se como o contexto político-econômico perpassa por esse fazer profissional e apesar das relações intrínsecas mencionadas acima, o aAssistente sSocial, não apenas no cenário dos cCuidados pPaliativos, mais diante da atuação frente às políticas sociais no geral, se depara com demandas que precarizam a imagem da profissão. Por isso, urge a necessidade do total comprometimento dos profissionais com seus preceitos ético-políticos na busca por uma prática defensora de uma sociedade mais justa e equitativa. REFERÊNCIAS ANDRADE, L. Papel do Assistente Social na equipe de Cuidados Paliativos. In: ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS – ANCP. Manual de Cuidados Paliativos. Rio de Janeiro: Diagraphic, 2009. p. 221-223. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2016. BRAVO, M. I. de S. Política de Saúde no Brasil. In: MOTA, A. E. et al (orgs.) Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. 4 ed. São Paulo: Cortez; Brasília: OPAS, OMS, Ministério da Saúde, 2009. p.88-110. CAVALCANTI, P. B. et al. Serviço Social e Cuidados Paliativos: o que sinaliza a produção científica? Barbarói. Santa Cruz do Sul, n.56, p. 68-83, jan./jun. 2020. Disponível em: . 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