Prévia do material em texto
ALINE FONSECA PINTO AS COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL NO ÂMBITO HOSPITALAR Governador Valadares 2020 Ano AS COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL NO ÂMBITO HOSPITALAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Pitágoras como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Serviço Social. Orientadora: Francielle Karla Fabri Nascimento Vieira ALINE FONSECA PINTO ALINE FONSECA PINTO AS COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL NO ÂMBITO HOSPITALAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Pitágoras, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Serviço Social. BANCA EXAMINADORA Amanda Soares Rezende Prof (a). Titulação Nome do Professor (a) Francielle Karla Fabri Nascimento Vieira Prof (a). Titulação Nome do Professor (a) Governador Valadares, 04 de dezembro de 2020. AGRADECIMENTOS Inicialmente quero agradecer á Deus! Senhor não há palavras que consigam expressar a gratidão que sinto por teres estado ao meu lado a cada instante dessa jornada me amparando, me guiando, enchendo meu coração de força e coragem para poder lutar com determinação e chegar até aqui. Para realizar o sonho de ser Assistente Social enfrentei muitos desafios, quatro anos de dedicação, mas valeu a pena cada esforço, pois, alcancei meu objetivo e hoje celebro este grande feito na minha vida. É com imensa satisfação a que venho agradecer e dedicar essa vitória a começar pelos meus amados pais Sebastião e Marlene, que além de pais foram amigos e fiéis companheiros. Desde pequena eles foram meu alicerce, sinônimos de luta e resistência, e nunca me deixaram desistir pra que eu chegasse até aqui. Hoje sei que sorriem orgulhosos e choram emocionados por essa conquista. O que seria da realização desse sonho sem o apoio da minha irmã Amanda, meu cunhado Eduardo e meu sobrinho e afilhado Miguel. Obrigada por serem tão importantes na minha vida e por me mostrarem que sempre é possível lutar e vencer. Eu amo vocês! Ao meu namorado Marcus Luiz, um especial agradecimento. Amor, você fez toda a diferença, fez de fato o possível e o impossível para que o fardo fosse mais leve. Você esteve comigo em todos os momentos, fez dos meus sonhos os seus e dos meus objetivos sua própria luta. Obrigada pela força e incentivo, por ter me apoiado em tudo ao longo desta caminhada. Você faz parte desta conquista! Eu te amo! Dedico essa conquista também á todos meus familiares que desejaram a concretização deste sonho e em especial minha vó Datita (in memoriam), pois, foi através dela que conheci a profissão pela qual me apaixonei! É com muito prazer que quero dividir a alegria deste momento com todo o corpo docente que ao longo desses anos compartilharam seus brilhantes conhecimentos com muita dedicação e desprendimento. Sou grata e honrada pelos professores que tive e pelos ensinamentos que colhi. Em especial agradeço ás minhas professoras e assistentes sociais Aloídes, Amanda e Francielle que contribuíram essencialmente para a minha formação acadêmica transmitindo a mim não somente teorias, mas também a ética, a dedicação e o amor no que se faz. Aos colegas de turma que muito me apoiaram, me incentivaram e se fizeram presentes demonstrando todo apoio, carinho e consideração. As amigas que descobri em sala e que levarei para toda á vida agradeço por cada momento compartilhado, cada desafio e dificuldades que foram ultrapassadas com muita determinação, pois, são momentos assim que fazem da nossa jornada um caminho prazeroso de ser percorrido. Agora é o momento de celebrar com alegria, afinal esta conquista é de TODOS! PINTO, Aline Fonseca. As competências e atribuições do Assistente Social no âmbito hospitalar. 2020. Número total de 34 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social) – Faculdade Pitágoras, Governador Valadares, 2020. RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo apresentar as competências e atribuições que o profissional assistente social traz para o âmbito hospitalar. Além disso, partindo de algumas inquietações como em que momento o assistente social passa a ser um profissional indispensável na área da saúde e como busca realizar suas intervenções, atentando-se para a legitimação dos fundamentos valorativos dos atos profissionais. Desta forma, abordam-se quais os limites e desafios que delimitam o cumprimento e a execução das atribuições profissionais no momento da materialização da intervenção no âmbito hospitalar. O objetivo geral desse trabalho é contribuir para o entendimento da atuação do assistente social a partir de suas competências e atribuições profissionais no âmbito hospitalar, bem como apresentar as ações desenvolvidas no enfrentamento das demandas postas entre pacientes e instituição, e a relação com a equipe multidisciplinar presente no cotidiano deste âmbito. A metodologia aplicada nesta pesquisa refere-se á uma revisão bibliográfica qualitativa e descritiva. Foram utilizados trabalhos, publicações e artigos publicados nos últimos quinze anos referentes ao tema, além da presença de citações de autores conceituados em Serviço Social. Ressalta se que a característica essencial deste trabalho é oferecer ao leitor, diversos referenciais sobre o determinado assunto, além de contribuir na ampliação do conhecimento e fazer com que a pesquisa se torne um documento fundamentando teoricamente. Palavras-chave: Serviço Social. Política de saúde. Hospital. PINTO, Aline Fonseca. The skills and duties of the Social Workerat in the scope hospital environment. 2020. Número total de 34 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço social) – Faculdade Pitágoras, Governador Valadares, 2020. ABSTRACT The present work of completion of course aims to present the skills and duties that the professional social worker brings to the hospital. In addition, based on some concerns such as when the social worker becomes an indispensable professional in the health area and how he seeks to carry out his interventions, paying attention to the legitimation of the valuing foundations of professional acts. In this way, the limits and challenges that limit the fulfillment and execution of professional duties at the moment of the materialization of the intervention in the hospital are addressed. The general objective of this work is to contribute to the understanding of the role of the social worker based on his professional skills and duties in the hospital environment, as well as to present the actions developed in facing the demands placed between patients and the institution, and the relationship with the multidisciplinary team present in everyday life in this area. The methodology applied in this research refers to a qualitative and descriptive bibliographic review. Works, publications and articles published in the last fifteen years on the topic were used, in addition to the presence of citations from renowned authors in Social Work. It is noteworthy that the essential characteristic of this work is to offer the reader several references on the given subject, in addition to contributing to the expansion of knowledge and making the research become a document with a theoretical foundation. Keywords: Social Service. Health policy. Hospital. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CFESS Conselho Federal de Serviço Social LOAS Lei Orgânica de Assistência Social SUS Sistema Único de Saúde ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................10 2. O ASSISTENTE SOCIAL E SUA INSTRUMENTALIDADE TÉCNICA NO ÂMBITO HOSPITALAR ............................................................................................ 12 3. AS AÇÕES PROFISSIONAIS DE O ASSISTENTE SOCIAL FRENTE ÁS DEMANDAS HOSPITALAR ..................................................................................... 17 4. SERVIÇO SOCIAL EM EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES .................................................................................................... 23 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 28 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 30 10 INTRODUÇÃO O presente trabalho de conclusão de curso em bacharel em Serviço Social tem como objetivo apresentar as competências e atribuições que o profissional assistente social traz para a área da saúde, especificadamente no âmbito hospitalar. Assim como abordar os desafios que o profissional se depara para materializar sua atuação e os limites que por vezes delimita o cumprimento e a execução das atribuições no momento da intervenção. Este trabalho é relevante, pois contribui para a produção do conhecimento acerca do Serviço Social no âmbito hospitalar. Sua inserção nesse campo ocorre através de suas competências e atribuições que possibilita melhorias sociais no período de hospitalização do paciente e de seu familiar, que segui como acompanhante, como também contribuir de forma a ampliar o conhecimento do indivíduo acerca dos seus direitos e deveres. Além disso, partindo de algumas inquietações como em que momento o assistente social passa a ser um profissional indispensável na área da saúde e como esse profissional busca realizar suas intervenções. Há necessidade de ampliar as discussões da pesquisa do mesmo modo o olhar crítico, atentando-se para a legitimação dos fundamentos valorativos dos atos profissionais do assistente social. Desta forma, levanta-se o seguinte questionamento: Quais os limites que delimita o cumprimento e a execução das atribuições no momento da intervenção no âmbito hospitalar? O objetivo geral desse trabalho é contribuir para o entendimento da atuação do assistente social a partir de suas competências e atribuições profissionais no âmbito hospitalar, além de refletir sobre os instrumentais de trabalho utilizados pelo assistente social no âmbito hospitalar, apresentar as atividades desenvolvidas no enfrentamento das demandas apresentadas no atendimento aos pacientes e familiares e apontar as relações de trabalho do assistente social com a equipe multidisciplinar composta pelos demais profissionais da área da saúde. A metodologia aplicada nesta pesquisa refere-se á uma revisão bibliográfica qualitativa e descritiva. Foram utilizados trabalhos, publicações e artigos publicados nos últimos quinze anos referentes ao tema. Ressalta-se a presença de citações de autores conceituados em Serviço Social como Iamamoto, Bravo e Martinelli. Os locais da busca foram sites de internet, como Scielo e Google Acadêmico, Leis e 11 sites de hospitais para aprofundar o conhecimento acerca da atuação do assistente social nessa instituição, quando também a realização do estágio obrigatório do curso de graduação de Serviço Social, no Hospital São Lucas de Governador Valadares/ MG. Destaca se acerca de uma breve apresentação do que os leitores vão ler nos capítulos seguintes, no capítulo 1 refletir acerca da importância da instrumentalidade técnica utilizada pelo profissional assistente social no âmbito hospitalar. No capitulo 2 será apresentada as atividades desenvolvidas pelo assistente social no enfrentamento das demandas postas nos atendimentos aos pacientes e familiares. Por fim no capitulo 3 apontar as relações de trabalho do assistente social com a equipe multidisciplinar composta pelos demais profissionais da área da saúde. 12 2. O ASSISTENTE SOCIAL E SUA INSTRUMENTALIDADE TÉCNICA NO ÂMBITO HOSPITALAR Na contemporaneidade compreende se que o caráter social interfira diretamente no conceito do processo de saúde/doença da população, tal compreensão ocorre em razão das múltiplas expressões da questão social. Ressalta se que a questão social é o objeto de trabalho do assistente social e seu papel é intervir e mediar em favor da transformação social, procurando alternativas para que a questão social seja estabelecida. (VERGARA, 2003). Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões cotidianas, tais como, os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc. Questão social, que, sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resiste e se opõem. (IAMAMOTO, 2008, p. 28). Na área da saúde, especificadamente no âmbito hospitalar é comum lidar com situações que vão para além da questão de risco e/ou comprometimento com a saúde física, fatores como sociais, econômicos e culturais também fazem parte desse cenário, pois, segundo Bezerra e Araújo “[...] todas as sequelas oriundas das más condições de vida decorrentes da falta ou da precariedade do trabalho, renda, moradia, alimentação, educação, informação, água, saneamento básico, entre outros, criam grandes contingentes de pessoas miseráveis, famintas, empobrecidas, desinformadas e doentes, que buscam os serviços de saúde trazendo consigo todas as necessidades advindas de um sistema que explora, espolia e abandona cotidianamente seus trabalhadores.” Em detrimento da emergência em atender os pacientes que buscam pelo serviço de saúde para além do tratamento de patologias e pela amplitude do mercado de trabalho nesta área o profissional assistente social está cada vez mais sendo requisitado para atuar neste âmbito no cumprimento de cidadania, democracia e no fortalecimento em reconhecer os usuários da saúde como sujeitos de direitos, pois, de acordo com Conti “[...] a análise histórica mostra como as necessidades das classes dominantes, que se expressam como se fossem as necessidades da sociedade em seu conjunto, condicionam um ou outro conceito de saúde e doença.” De acordo com BRAVO; MATOS (2012), o assistente social é 13 amplamente capacitado para exercer o papel de viabilizador de acesso á garantia de direitos, serviços e benefícios, tal como mediador entre a instituição e a população no que diz respeito ao aperfeiçoamento da realidade de ambos. Ainda conforme BRAVO (1996, apud, MATOS, 2003) o Serviço Social se insere na área da saúde primeiramente no âmbito curativo e com atendimento de caráter individual, pois, a saúde não era classificada como um direito universal, o que acarretava numa contradição de demandas excludentes e seletivas. Mudanças significativas só ocorrerão a partir da década de 1980, momento em que se dispõe da promulgação da Constituição Federal de 1988 portando como premissa básica no art. 196 que define “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. Portanto, o Serviço Social se afirma legalmente como um profissional da área da saúde a partir da década de 1990, de acordo com as Resoluções do Conselho Nacional de Saúde n. 218, de 6 de março de 1997, e do Conselho Federal de Serviço Social n. 383, de 29 de março de 1999, além da Resolução n. 196, de 1996, que trata da ética em pesquisa, envolvendo seres humanos (Rosa et al.,2006, p. 63‑64). A partir de então o assistente social se insere no âmbito hospitalar com o objetivo de viabilizar aos usuários o acesso aos serviços e benefícios, e realizar suas ações, tais como encaminhamentos, orientações previdenciárias e concessão de benefícios (BRAVO; MATOS, 2012). Destaca-se por intermédio dos marcos legal a importância do documentoParâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde, elaborados a partir da participação da própria classe e oficialmente aceito pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), com o objetivo de “referenciar a intervenção dos profissionais na área da saúde” (CFESS, 2010, p. 11), estes parâmetros bem como o Projeto Ético-Político do Serviço Social e o Código de Ética do Assistente Social de 1993 embasados na Lei n° 8.662 de Regulamentação da Profissão, enrijecem a orientação e a normatização para a atuação profissional. Para Netto, estabelece-se que: Os projetos profissionais [inclusive o projeto ético político do Serviço Social] apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relação com os usuários de seus serviços, com outras profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas [...] (1999, p. 95). 14 Com base na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) n ° 8.742/93 e Lei n° 8.662 de Regulamentação da Profissão que no seu artigo 4º e 5º define algumas competências e atribuições que são requisitadas ao profissional, tais como elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam de seu âmbito de atuação; prestar orientação social aos indivíduos, grupos e à população; planejar, organizar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a transformação social; realizar vistorias, perícias técnicas, laudos e pareceres; prestar assessoria e consultoria á empresas privadas e outras entidades e identificar as demandas presentes na sociedade, visando formular respostas profissionais para o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre o público e o privado (ABEPSS, 1996). Todavia seja no âmbito hospitalar ou em qualquer outro espaço ocupacional para o cumprimento da intervenção profissional o assistente social porta-se de instrumentos que são imprescindíveis e fundamentais, pois, retratam a identidade da profissão, tais como suas ações, seus valores, princípios, posicionamentos políticos, projetos profissionais, entre outros. Segundo CAVALLI (2012, p.4), a instrumentalidade do assistente social se constrói cotidianamente de maneira competente e crítica, pois, “[...] o objeto da profissão é construído e reconstruído no cotidiano profissional, através do olhar do profissional sobre a realidade e sua capacidade de decifrá-la e identificar criticamente o que aparece enquanto demanda. Esta construção depende da finalidade que o profissional tem sobre seu trabalho, isto é, da direção social que se encontra embutida na sua ação interventiva”. Portanto, para o Serviço Social a instrumentalidade é devidamente pautada sobre a realidade social e sua concretude e complexidade necessita de um aparato técnico, salientam-se as dimensões técnico-operativa, teórico-metodológica e ético- político. A dimensão ética é peculiar da identidade da profissão, assim como as dimensões técnico‑operativa e teórico‑metodológica, articulando‑se em termos de poderes, fazeres e saberes como mediações da prática profissional e expressões de nossa práxis humana. Conforme CHAUI (2000), a ética profissional é engendrada por várias dimensões que são imprescindíveis na área da saúde, especialmente no que se refere á ética dos cuidados, ética da proteção social e à ética militante. Segundo MARTINELLI (2007, p.23), o assistente social atua com pessoas em situação de vulnerabilidade e apenas um gesto humano, um olhar, um sorriso, uma 15 palavra, uma escuta atenta, um acolhimento possam o fortalecer na sua própria humanidade. Se tratando dos instrumentos de trabalho utilizados pelo assistente social especificadamente no âmbito hospitalar, define-se a relevância de alguns que permitem ao profissional executar um atendimento com rigor teórico, ético e humanizado, além de contextualizar sua intervenção frente ás múltiplas expressões da questão social apresentadas em seu cotidiano. Desse modo, delibera-se que a escuta qualificada seja um importante instrumento, pois, permite que o profissional tenha uma real dimensão da realidade social do paciente e/ou familiar, além de encontrar soluções diante das inúmeras situações que surgem no cotidiano. Assim como a visita no leito hospitalar em conjunto com a abordagem e a observação, vistos pela necessidade de fazer uma leitura crítica reflexiva daquele paciente que traz consigo inúmeros dilemas envolvendo questões familiar, social e cultural. É importante ressaltar que, o assistente social contribui com um trabalho de maior relevância após os atendimentos e o acolhimento social juntamente com o acompanhamento, pois, contribui para que o paciente se sinta acolhido e confortável durante o período de hospitalização, além de evidenciar que o profissional é capacitado em oferecer um atendimento humanizado, capaz de estabelecer uma relação entre o paciente e/ou familiar com o profissional. O uso da linguagem gestual e verbal também é de grande importância, pois, permite a comunicação com aqueles com quem se relaciona. É por meio da fala clara, técnica e objetiva que o profissional demanda de sua aptidão inventiva para alcançar possíveis centelhas de intervenção, bem como promover o fortalecimento de uma interação entre ele e o paciente, familiar e/ou acompanhante. (...) Se a linguagem é um meio através do qual, um determinado grupo social cria uma identidade social, não será diferente para uma profissão que tem a linguagem como o principal recurso de trabalho. (SOUSA, 2008, p.125). De acordo com Mioto e Lima (2009) às ações dos assistentes sociais estão relacionadas basicamente no uso da linguagem, mas á clareza das intervenções transcorrem-se somente quando registramos as mesmas. Desse modo, o relatório social permite ao profissional registrar as condições sociais daquele paciente como também instigar ao profissional em ser o mediador dos possíveis conflitos existentes 16 entre paciente, familiar, acompanhante e/ou profissionais da instituição, pois, todos estes recursos favorecem a garantia do acesso dos usuários a determinados serviços sociais, dentre eles o acesso aos direitos sociais que são fundamentais no que diz respeito á igualdade social. De acordo com Silva (2011) os direitos sociais são: [...] prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas nas normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização das situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em que cria condições materiais mais propícias ao auferimento da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da liberdade. (SILVA, 2001, p. 285). Entretanto, não é possível classificar um instrumento de trabalho como sendo o mais relevante, pois, o instrumental do assistente social é a competência de se compreender a realidade social em sua totalidade afim de que a intervenção possa ser efetuada com eficácia, justiça e responsabilidade. 17 3. AS AÇÕES PROFISSIONAIS DE O ASSISTENTE SOCIAL FRENTE ÁS DEMANDAS HOSPITALAR A intervenção profissional do assistente social fortalece o seu significado social em suas relações com as práticas societárias mais amplas, especialmente com as que visam o enfrentamento das situações de violações de direitos que afetam as condições de vida da população em geral e, sobretudo, dos setores mais empobrecidos da sociedade. Dentre as esferas sociaisonde ocorrem situações de violação de direitos, salienta se a área da saúde, que devido sua precariedade afeta não apenas a saúde, mas ao direito a vida, a dignidade da pessoa humana, a igualdade e a discriminação de grande parte da população. Contudo o profissional assistente social é amplamente capacitado para intervir neste âmbito, pois, de acordo com COSTA (2000), a inserção do assistente social na área da saúde é mediada pelo reconhecimento social da profissão e por um conjunto de necessidades que se definem e redefinem a partir das condições históricas sob as quais a saúde pública se desenvolveu no Brasil. Na área da saúde o assistente social tem o papel de assegurar a integralidade e o cumprimento das ações previstas na Lei Orgânica de Saúde (LOAS), Lei nº 8.080/90 de 19 de Setembro de 1990 que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Assim como, detém sua atuação norteada pelo Código de Ética do Serviço Social de 1993 e pela Lei de Regulamentação da Profissão, Lei n° 8.662/93 que envolve o reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes como a autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; posicionamento a favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso a bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como a gestão democrática (CFESS, 1993). Portanto, a práxis do assistente social tem inúmeras alternativas desde que tenha comprometimento com os princípios e diretrizes do Código de Ética profissional, que permite uma prática inovadora e diversificada, longínquo do conservadorismo. 18 Na perspectiva do rompimento da práxis do Serviço Social com o conservadorismo, Vasconcelos (2001) afirma que o assistente social vem assumindo novas posturas em suas ações, tais como participar do processo de gestão da saúde, atuar nos conselhos de saúde, na formulação, planejamento, monitoramento e avaliação da política, bem como são chamados a trabalharem na realização de atividades em que os profissionais, assessoram, organizam e realizam cursos, seminários, debates, treinamentos, palestras, oficinas de trabalho, reuniões, dentre outras. Além de evidenciar que suas ações encontram se inseridas em espaços de participação e igualdade social, e no exercício de demandas coletivas, longe do aspecto excludente, sendo elas, o plantão, a triagem, o encaminhamento, a concessão de benefícios e orientação previdenciária. Iamamoto (2001) ao analisar tal questão afirma que: “(...) um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um Profissional propositivo e não só executivo”. (2001:20). Os parâmetros para atuação do assistente social conforme CFESS (2010, p.39) afirma que "[...] alguns conceitos são fundamentais para a ação dos assistentes sociais na saúde como a concepção de saúde, a integralidade, a intersetorialidade, a participação social e a interdisciplinaridade”. Pois, devem traduzir as necessidades de um projeto profissional consonante com um projeto de sociedade onde o cotidiano vai solicitar ao assistente social ações para atender as diversas demandas que em sua maioria resultam da contraditória sociedade capitalista. As ações profissionais do assistente social no campo da saúde, assim como em outros, não ocorrem de forma isolada, mas se articulam em eixos/ processos à medida que se diferenciam ou se aproximam entre si, e particularmente na saúde integram o processo coletivo do trabalho em saúde. [...] estas estão pautadas na lógica do Direito e da Cidadania, mais, ainda, na lógica do direito a ter direitos, o que, na área da saúde, reflete uma visão de cidadania estratégica, baseada na organização em torno das necessidades de saúde, que, no caso, não estão reduzidas unicamente à atenção médica – paradigma que dominou muito tempo o setor (MIOTO; NOGUEIRA, 2009, p.282). Desse modo, em cada ação profissional são mobilizados conhecimentos, saberes e práticas mediante uma ampla cadeia de demandas. Ressalta se dentre as 19 principais demandas presentes no cotidiano do assistente social no âmbito hospitalar, viabilizar o acesso para marcação de consultas e exames, solicitar pedidos de internação, alta e transferência e ouvir reclamação dos pacientes com que por vezes encontra-se desempregado, em precárias condições de moradia, violência doméstica e abandono. Salienta-se que ocorrem demandas que não são de competência do profissional como, por exemplo, a alta hospitalar que é função do médico e não do assistente social. Entretanto na execução das ações socioeducativas, de mobilização, participação, controle social, investigação, planejamento, gestão, assessoria e qualificação o profissional assistente social tem como objetivo solucionar as demandas postas no atendimento ao paciente e/ou familiar que segui como acompanhante, além de oferecer as devidas orientações sobre serviços e benefícios dos quais ele se encaixe. As ações socioeducativas são mais citadas pelo assistente social, pois, transpõem o caráter emergencial e burocrático, bem como têm uma direção socioeducativa através da reflexão com relação às condições sócio histórico a que são submetidos o paciente e mobilização para a participação nas lutas em defesa da garantia do direito à saúde (CFESS, 2008). Tais ações para serem realizadas necessitam de dois processos para que elas se efetivem, os processos de reflexão e a socialização de informações, conforme aponta Mioto (2009). Estas ações que também recebe a denominação de educação em saúde consistem em orientações reflexivas e socialização de informações realizadas através de abordagens individuais, grupais ou coletivas ao paciente e ao familiar. Devem ter como intencionalidade a dimensão da libertação na construção de uma nova cultura e enfatizar a participação do paciente quanto ao conhecimento crítico da sua própria realidade potencializando-o para a construção de estratégias coletivas, ou seja, os pacientes por meio de uma reflexão constroem uma consciência crítica sobre si mesmo e sobre a realidade social, para nela atuarem de forma transformadora. No que se refere ás ações de mobilização, participação e controle social são ações voltadas prioritariamente para a inserção do paciente e familiar nos espaços democráticos de controle social e construção de estratégias que fomentem a participação e defesa dos direitos. A avaliação sócia econômica do paciente tem por objetivo ser um meio que possibilite a mobilização do mesmo para a garantia de direitos e não um instrumento que impeça o acesso aos serviços. Ou seja, não deve a avaliação sócia econômica funcionar como critério de elegibilidade e/ou 20 seletividade estrutural. Destaca se que o controle social envolve o exercício da cidadania, consciência crítica, pensamento político, república, democracia, Constituição Federal (BRASIL, 1988), dinheiro público e principalmente direito. Conforme já ressaltado, nessas ações á população participará do processo de formulação e controle das políticas públicas de saúde. No tocante das ações de investigação, planejamento e gestão têm como perspectiva o fortalecimento da gestão democrática e participativa capaz de produzir, em equipe e intersetorialmente, propostas que viabilizem e potencializem a gestão em favor dos usuários e trabalhadores de saúde, na garantia dos direitos sociais. Para o assistente social o planejamento é uma ferramenta gerencial que proporciona a sensibilidade para identificar, ao longo do tempo, ações necessárias ao enfrentamento de estrangulamentose desafios institucionais que devem ser vencidos em prol de uma intervenção de qualidade. E as ações de assessoria, qualificação e formação profissional são atividades de qualificação profissional que consistem em treinamento, preparação e formação de recursos humanos voltados para a educação permanente de funcionários, representantes comunitários, chefes intermediários e conselheiros. O atendimento individual ou grupal são ações de transmissão retilínea entre o assistente social, paciente, familiar e/ou acompanhante juntamente com as demandas postas pela instituição. Esse tipo de atuação é fundamental visto que se deve respeitar a vontade do familiar e/ou acompanhante que procura o Serviço Social com o objetivo de obter orientações e de forma á facilitar seu acesso ás políticas sociais e aos serviços públicos como também fazerem um acatamento e atender as prioridades a serem alcançadas dentro do hospital. Deste modo ás instituições “interferem na definição de papéis e funções que compõem o cotidiano do trabalho institucional”. Visto que “a instituição não é um condicionante a mais do trabalho do assistente social. Ela organiza o processo de trabalho do qual ele participa” (IAMAMOTO, 2009, p. 63). Destaca se um desafio para o profissional assistente social é não se orientar pelo atendimento psicoterapêutico aos pacientes e familiares, mas sim potencializar a orientação social com vistas à ampliação do acesso dos indivíduos e da coletividade aos direitos sociais. É importante ressaltar esta questão, pois alguns segmentos profissionais vêm se dedicando à terapia familiar e individual insistindo no reconhecimento do campo terapêutico enquanto ampliação do espaço ocupacional do assistente social, qualificando-o de Serviço 21 Social Clínico, conforme já referido. Esta abordagem é anunciada como uma ressignificação do Serviço Social de Casos, apoiada numa visão “holística do ser humano”, pois, estas ações fogem ao âmbito da competência do assistente social e não estão previstas na legislação profissional, seja referente ao ensino da graduação, expressa nas diretrizes curriculares aprovadas pelo MEC, seja na lei de regulamentação da profissão (IAMAMOTO, 2002). Portanto no âmbito hospitalar o Serviço Social se afirma como receptor e acolhedor de todas as demandas que perpassam por outros setores, sendo recorrente um grande desafio, pois, termina por buscar respostas de questões que vão para além de sua competência e atribuição, mas que são necessárias visto que á instituição por si só não consegue resolver mediante á enorme burocracia dos acessos aos serviços vinculados á rede. Nesse sentido Vasconcelos (2011) afirma que: As demandas manifestadas pelos usuários por inserção na rotina são consideradas demandas individuais/particulares de usuários que, por diferentes motivos, não conseguem inserção na rotina institucional. Assim, os assistentes sociais negam o caráter coletivo dessas demandas, que são coletivas não só porque vivenciadas por todos, mas, também porque só coletivamente poderão ser enfrentadas tendo em conta os interesses e necessidades dos trabalhadores. Da mesma forma é negado o caráter institucional dessa demanda, ou seja, também não são reconhecidas como demandas da própria unidade de saúde. Apresenta se outra ação como sendo um dos espaços criados para estabelecer a comunicação entre os usuários e a instituição que é a “ouvidoria”. A ouvidoria no Sistema Único de Saúde (SUS) é um canal de articulação entre o cidadão e a gestão pública de saúde, que tem por objetivo melhorar a qualidade dos serviços prestados. Entre suas atribuições estão: receber as solicitações, reclamações, denúncias, elogios e sugestões encaminhadas pelos cidadãos e levá- las ao conhecimento dos órgãos competentes. Considera-se que o assistente social ao assumir a ouvidoria, deve consolidar os dados obtidos nos atendimentos por meio de relatórios e coletivizá-los no conselho diretor da unidade e/ou direção da unidade bem como estabelecer articulação com os conselhos de saúde da unidade e local para que as demandas sejam analisadas coletivamente e as respostas tenham impacto no funcionamento da unidade e na política de saúde, através das mudanças necessárias. Cabe destacar, entretanto, que a ouvidoria não é uma atribuição privativa dos assistentes sociais, podendo ser realizada por outros profissionais. 22 Todavia observando que os pacientes encontram-se a cada dia com mais ociosidade na espera ao atendimento médico, foi detectado que na sala de espera do âmbito hospitalar, eles necessitam de intervenção social e interdisciplinar para ocupação de seu tempo, tendo como proposta ações preventivas de recuperação e de controle do processo saúde/doença. De acordo com Veríssimo e Valle (2006) a sala de espera é caracterizada como uma forma produtiva de ocupar um tempo ocioso nas instituições, com a transformação do período de espera pelas consultas médicas em momento de trabalho; espaço esse em que podem ser desenvolvidos processos educativos e de troca de experiência comuns entre os pacientes e familiares, possibilitando a interação do conhecimento popular com os saberes aos profissionais de saúde. Conforme Palermo (2010) o assistente social tem uma atividade técnica e profissional que colabora na recuperação de pacientes com dificuldades individuais e do meio ambiente, relacionadas às enfermidades, objetivando a convalescença, reabilitação e preservação da saúde. 23 4. SERVIÇO SOCIAL EM EQUIPE MULTIDISCIPLINAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES O hospital é uma instituição de prestação de serviços de saúde onde reuni saberes, profissionais, tecnologia e infraestrutura diversificados. Suas demandas e problemáticas exigem uma leitura dos fenômenos ligados ás práticas dentro do campo da saúde e apontam para as diferenças entre as equipes de profissionais. Nesse contexto, caracteriza-se á importância que o trabalho seja realizado por uma equipe multidisciplinar, pois, caracteriza se pela relação recíproca entre as diversas intervenções e interações dos profissionais de diferentes áreas, estabelecendo uma mediação a fim de articular as ações. Todavia, uma equipe multidisciplinar presente no cotidiano hospitalar, é composta pelas categorias que compreende: profissionais de Medicina, Enfermagem, Serviço Social, Psicologia, Nutrição, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Técnico de enfermagem. Segundo Maldonado e Canella (2009), a saúde não seria de competência de um único profissional, mas uma prática interdisciplinar em que profissionais de diversas áreas, representantes de várias ciências, devem agregar-se em equipes de saúde, tendo como objetivos comuns estudar as interações somáticas e psicossociais para encontrar métodos adequados que propiciem uma prática integradora, tendo como enfoque a totalidade dos aspectos inter-relacionados à saúde e à doença. Conforme Pinho (2006), quando falamos em trabalho em equipe existem várias definições, porém, existem pontos universais que baseiam a formação de uma equipe, sendo estes o desempenho coletivo, responsabilidade coletiva, tomada de decisões coletiva, uso de habilidades e conhecimentos completares. Segundo Peduzzi (2001): O trabalho em equipe ocorre no contexto das situações objetivas de trabalho, tal como encontradas na atualidade, nas quais se mantêm relações hierárquicas entre médicos e não médicos e diferentes graus de subordinação, ao lado da flexibilidade da divisão de trabalho e da autonomia técnica com interdependência. (p.6) Dentre as diversas áreas de atuação do assistente social, destaca-se aqui a área da saúde. Costa (2000) considera que este profissional atua num contexto de requisições expressivas da tensão entre as ações tradicionais da saúde. No 24 cumprimento de uma atuação competente e críticao Serviço Social na área da saúde, porta-se do documento Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Saúde em articulação com o Projeto Ético-Político da Profissão. Assim como, o Código de Ética do Serviço Social prevê que o assistente social deve trabalhar e incentivar práticas interdisciplinares, pois estas têm importância fundamental para uma prática efetiva porque buscam decifrar as particularidades da questão social, numa visão de totalidade, sem perder as nuances da vida dos sujeitos sociais (CFESS, 2012). Salienta se que o assistente social na equipe multidisciplinar é o profissional que identifica as necessidades e ás condições sociais em que o paciente está inserido, além de auxiliar a equipe a decifrar os aspectos do âmbito social, em busca de acolher as demandas e prestar uma atenção digna para além do diagnóstico clínico, numa perspectiva de totalidade. Conforme Cavalcante, Reis e Lira (2011): No serviço social a multidisciplinaridade, geralmente, é muito vivenciada, devido à demanda das Instituições por esta modalidade de atendimento, fato que implica superposição dos conhecimentos de diversas áreas. Não podemos negar que ela representa um passo em relação ao trabalho interdisciplinar, mas nunca na direção de uma alternativa de oportunizar uma inter-relação ou troca entre os profissionais que possa trazer respostas para decifrar a “questão social” a partir de uma consciência humanitária, que se funde na integração entre a vida, a conduta e o conhecimento neste campo do trabalho. (2011, p. 5). Percebe-se que há por parte do assistente social uma preocupação em avançar nesse sentido, ou seja, no trabalho com outras áreas de conhecimento, pois estes entendem que os determinantes sociais devem ser considerados também pelos demais profissionais da saúde, para que possa haver possibilidade de um trabalho interdisciplinar dentro da equipe. Portanto, o profissional assistente social realiza sua intervenção no âmbito das relações sociais, assim para uma prática efetiva, deve buscar uma visão ampla dada por meio de uma leitura crítica da realidade. Para se aproximar adequadamente dessa realidade que é complexa, deve buscar superar a disciplinaridade e ir em direção a uma prática interdisciplinar, pois de acordo com Vasconcelos (2012) dificilmente um só profissional daria conta de todos os aspectos de uma realidade tão complexa [“...] o que leva, na atenção integral, a recorrer-se ao trabalho multiprofissional” (2012, p. 443). A interdisciplinaridade irá aproximar a equipe possibilitando que os profissionais tomem conhecimento das atividades que são próprias do serviço social, evitando 25 que os assistentes sociais realizem atividades que não suas e viabilizando um reconhecimento dos profissionais da equipe acerca da atuação do assistente social. Conforme Vasconcelos: A interdisciplinaridade entendida aqui passa pela visão do enriquecimento mútuo com tendências a horizontalização das relações de poder entre os campos implicados, reconhecendo dialeticamente a necessidade de olhares diferenciados para um mesmo objeto (VASCONCELOS, 2000, p. 47). De acordo com Angerami-Camon (2000), na interdisciplinaridade a equipe trabalha de forma que todos os profissionais funcionem de maneira uniforme e colaborativa, ou seja, os membros da equipe interagindo entre si, em busca de uma melhor qualidade de vida para os pacientes. Portanto, deve se construir uma relação entre profissionais, onde o paciente é visto como um todo, considerando um atendimento humanizado. Dessa forma, foca-se nas demandas do paciente, e a equipe tem como finalidade de atender as necessidades visando o bem-estar do paciente. Destaca se a importância de que cada profissional tem devido o conhecimento teórico e prático sobre suas competências e atribuições, sendo inerentes á sua categoria profissional. Todavia é presente a falta de conhecimento das reais competências do assistente social no fazer profissional para com a equipe de saúde que deve ter clareza dos objetivos e das atribuições privativas do profissional de Serviço Social, amparadas e legitimadas pelo Código de Ética da profissão (AMADOR, 2009). O Art. 2 do Código de Ética do Serviço Social define que, o assistente social possui ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a prestar serviços profissionais incompatíveis com suas atribuições, cargos ou funções. Art. 2º Constituem direitos do/a assistente social: a- garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código; b- livre exercício das atividades inerentes à Profissão.(Código de Ética do/a Assistente Social 1990/93). Entretanto, faz se necessário manter o propósito de evitar visões distorcidas que levem a uma percepção romântica ou residual da atuação, focalizado somente na escuta e redução de tensão (CFESS, 2009, p.26). De acordo com Iamamoto (2002): 26 [...] é necessário desmistificar a ideia de que a equipe, ao desenvolver ações coordenadas, cria uma identidade entre seus participantes que leva á diluição de suas particularidades profissionais. A autora considera que “são as diferenças de especializações que permitem atribuir unidade á equipe, enriquecendo-a e, ao mesmo tempo, preservando aquelas diferenças”. (2002, p. 41). Ressalta se a relevância do diálogo, o que facilitaria para o assistente social trabalhar sobre suas competências e atribuições junto aos profissionais da instituição, tal diálogo também poderia modificar a caracterização da equipe passando de multiprofissional para interdisciplinar além de viabilizar uma percepção melhor acerca do serviço social. Segundo Cavalcante (2011) a complexidade da questão social com a qual os profissionais lidam cotidianamente demanda diálogo, cooperação e constituem possibilidades de alianças com outras áreas do conhecimento na realização do trabalho em equipe, a partir de uma visão mais ampla no que se refere à efetivação do acesso ao direito, como cidadania e não apenas quanto á execução dos serviços prestados. É este diálogo que se faz necessário para que seja adquirida a autonomia profissional e o assistente social possa executar suas atribuições. A inserção do Serviço Social e sua relação com a equipe têm atribuído positivamente, pois, o assistente social porta-se de um diferencial teórico capaz de identificar as adversidades da assistência social, além de auxiliar a equipe no tocante à parte administrativa e em relação aos familiares, ajudando em problemas relacionados á legislação e resguardando os direitos dos pacientes dentro da instituição hospitalar. Visto que inúmeras vezes o paciente e seus familiares são alheios dos direitos como pacientes e cidadãos, principalmente no que diz respeito ao direito à autonomia, direito dos idosos, crianças e deficientes. A equipe multiprofissional realiza reuniões, palestras, oficinas e atendimentos aos familiares e acompanhantes onde é informando as condições clínicas do paciente como também são passadas orientações quanto aos serviços prestados pela instituição que lhe são ofertados por direito, ficando sobe responsabilidade de o assistente social acompanhar esta família e principalmente o paciente durante todo o período de hospitalização com enfoque no encaminhamento das ações necessárias, o que diferencia sua atuação dos demais profissionais da área. Além destas ações, a integração da equipe com os pacientes e o atendimento humanizado tece uma rede de confiança e solidariedade entre as pessoas. Desse modo, possibilita a 27 reorganização do processo de trabalho melhorando o serviço de saúde e a articulação em rede. Consolidando a premissa de que saúde é um assunto para muitos profissionais, Campos (1995), afirma que a abordagem em equipe deve ser comum a toda a assistênciaà saúde. Isso porque o principal aspecto positivo da atuação em equipe interdisciplinar é a possibilidade de colaboração de várias especialidades que denotam conhecimentos e qualificações distintas. 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por toda á extensão desta pesquisa foi permitido compreender um pouco mais sobre a atuação do assistente social na saúde, notadamente no âmbito hospitalar. Adjacentes com esse aprendizado foram alcançados também os objetivos da pesquisa que eram entender quais as contribuições que o profissional assistente social traz para esse campo a partir de suas competências e atribuições, apresentar as atividades desenvolvidas frente ás demandas postas na instituição e apontar a relação de trabalho com a equipe multidisciplinar presente neste âmbito. Não distinto dos diversos espaços sócio ocupacionais de atuação do assistente social, no âmbito hospitalar o serviço social exerce inúmeras atividades que possibilitam melhorias sociais, como também contribui de forma a ampliar o conhecimento do indivíduo acerca dos seus direitos e deveres. A práxis reflexiva do assistente social se aperfeiçoa cotidianamente, haja vista, para atender às necessidades geradas pela contemporaneidade, uma vez que a questão social foi revelando suas diversas facetas. Ressalta se que tal desempenho proporciona à profissão conquistas no que compete à abertura de diferentes campos de atuação, o reconhecimento da profissão de caráter critico e investigativo, a articulação ao acesso das informações em defesa da garantia de direitos da sociedade e ampliação no conhecimento teórico e prático da própria classe, como também dos demais profissionais da área e dos administradores da política de saúde. Quanto á instrumentalidade técnica utilizada pelo profissional assistente social no âmbito hospitalar foi possível identificar sua relevância, visto que são imprescindíveis e fundamentais, pois, retratam a identidade da profissão, tais como suas ações, seus valores, princípios, posicionamentos políticos, projetos profissionais, entre outros. Sendo esta devidamente pautada sobre a realidade social e sua concretude e complexidade necessita de um aparato técnico, salientam- se as dimensões técnico-operativa, teórico-metodológica e ético-político. Em relação ás ações desenvolvidas pelo assistente social no âmbito hospitalar, entende-se que estas encontram se inseridas em espaços de participação e igualdade social, e no exercício de demandas coletivas, longe do 29 aspecto excludente. Desse modo, em cada ação profissional são mobilizados conhecimentos, saberes e práticas mediante uma ampla cadeia de demandas. Sendo assim, o advento da relação de trabalho do assistente social com a equipe multidisciplinar ocorre por meio da necessidade entre as diversas intervenções e interações dos profissionais de diferentes áreas, estabelecendo uma mediação a fim de articular as ações. A saúde não é apenas da competência de um único profissional, mas uma prática interdisciplinar em que representantes de várias ciências, devem agregar-se em equipes tendo como objetivos comuns estudar as interações somáticas e psicossociais para encontrar métodos adequados que propiciem uma prática integradora. 30 REFERÊNCIAS A questão social no capitalismo. In: Revista Temporalis. 3. Ed. Ano 2, n. 3 (jan./jul.2001). Brasília: ABEPSS, Gráfica Odisseia, 2001, p. 09-32. AMADOR, J. R. O. A prática do assistente social na atualidade: a sala de espera como alternativa nos espaços do plantão. Polêmica: Revista Eletrônica, Rio de Janeiro, p. 101-106, 2009. Disponível em: . Acesso em: 5 de set. de 2020. ANGERAMI-CAMON, V. A. (org.). Psicologia da saúde: um novo significado para a prática clínica. São Paulo: Pioneira, 2001. A prática do Assistente Social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional. UNIGRANRIO. Rio de Janeiro. P. 125. 2008. BRASIL. CÓDIGO DE ÉTICA DO/A ASSISTENTE SOCIAL. Lei 8.662/93 de regulamentação da profissão. - 10ª. ed. rev. e atual. - [Brasília]: Conselho Federal de Serviço Social, [2012]. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2020. BRASIL. Lei n° 8.662, de 07 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2020. BRASIL. Política Nacional de Assistência Social. Brasília: Senado Federal, Resolução n. 145, 15 out. 2004. BRAVO, Maria Inês Souza, MATOS, Maurílio Castro de. Reforma Sanitária e projeto ético-político do Serviço Social: elementos para o debate. In: BRAVO, 31 Maria Inês Souza ET al. Serviço Social e Saúde. 5. Ed. São Paulo; Cortez; Rio de Janeiro: UERJ: 2012. BRAVO, Maria Inês Sousa. Serviço Social e Reforma Sanitária: Lutas sociais e práticas profissionais. São Paulo e Rio de Janeiro: Cortez e Ed. UFRJ, 1996. CAMPOS, T. C. P Psicologia hospitalar. São Paulo: EPU, 1995. CARVALHO, Raul de; IAMAMOTO, Marilda Villela. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: Esboço de uma interpretação histórico-metodológica 15. Ed. São Paulo: Cortez, 2003 CAVALCANTI, A. S.; REIS, M. L.; LIRA, S. A. Interdisciplinaridade e questão social: novo paradigma no trabalho do serviço social na Amazônia. In: CIRCUITO DE DEBATES ACADÊMICOS, 2011, Brasília. Anais... Brasília: IPEA, 2011. CAVALLI, Michelle. A categoria mediação e o processo de trabalho no Serviço Social: Uma relação possível? P.4. 2012. CÓDIGO DE ÉTICA DOS ASSISTENTES SOCIAIS. 1965. Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_1993.pdf. Acesso: em 20 Abr. 2020. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Lei nº 8662, de 07 de junho de 1993. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL & CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA / Parâmetros para atuação de assistentes sociais na Política de Assistência Social. Brasília: CFESS / CFP, 2009. COSTA, Maria Dalva H. O trabalho nos serviços de saúde e a inserção dos (as) assistentes sociais. Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 62, p. 35- 72, mar. 2000. http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_1993.pdf 32 CFESS. PARAMETROS PARA A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NA POLÍTICA DE SAÚDE. Conselho federal de Serviço Social. Brasília – 2010. CHAUI, M. de Souza. Público, privado, despotismo. In: NOVAES, A. (Org.). Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 345‑390. IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na cena contemporânea. In: Serviço Social: Direitos Sociais e competências Profissionais. Brasília CFESS/ABEPSS, 2009. p.1- 45. IAMAMOTO, Marilda Villela. Projeto Profissional, Espaços Ocupacionais e Trabalho do Assistente Social na Atualidade. Atribuições Privativas do (a) Assistente Social Em questão. Brasília: CFESS, 2002. Lei Orgânica da Assistência Social. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8742compilado.htm. Acesso em: 20. Julho. 2020 Lei Orgânica da Saúde (8.080/1990). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm. Acesso em: 20. Julho. 2020 MALDONADO, M. T.; CANELLA, P. Recursos de Relacionamento para Profissionais de saúde: a boa comunicação com clientes e seus familiares em consultórios, ambulatórios e hospitais. Ribeirão preto, SP: Editora Novo Conceito, 2009. MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: Identidade e Alienação. 9. Ed. São Paulo: Cortez, 2005. MARTINELLI, Maria Lúcia. O trabalho do assistente social em contextos hospitalares: desafios cotidianos. Serv. Soc. Soc.São Paulo, n. 107, p. 497-508, setembro de 2011. Disponível em . acesso em 01 de maio de 2020. https://doi.org/10.1590/S0101-66282011000300007 . Acesso em: 21 Abr. 2020. https://doi.org/10.1590/S0101-66282011000300007 33 MIOTO, Regina Célia Tamaso; LIMA, Telma Cristiane Sasso. A dimensão técnico- operativa do Serviço Social em foco: sistematização de um processo investigativo. In: Revista Textos & Contextos. Porto Alegre, v. 8. N. 1. 2009, p. 22 – 48. NETTO, José Paulo Democracia e Transição Socialista: Escritos de teoria e política. Belo Horizonte, Oficina de Livros. 1990. NOGUEIRA, V. M. R.; MIOTO, R. C. T. Sistematização, planejamento e avaliação das ações dos assistentes sociais no campo da saúde. In: MOTA, A. E. ET al. Serviço social e saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2009. Disponível em: . Acesso em: 10 de agosto de 2020. PALERMO, C. M. N. Marketing de serviços: uma proposta de aplicação para o serviço social do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Curitiba: UFPR, 2010. PEDUZZI, Marina. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Rev. Saúde Pública 2001. www.fsp.usp.br/rsp PINHO, Márcia Cristina Gomes de. Trabalho em equipe de saúde: limites e possibilidades de atuação eficaz. Ciências & cognição. Vol. 08. 2006. HTTP://www.cienciasecognicao.org Política de Saúde no Brasil. In Serviço Social e Saúde: Formação e Trabalho Profissional. São Paulo: OPAS, OMS, Ministério da Saúde, 2006. P. 88-110. Resolução CFESS n° 383, de 29 de março de 1999. Caracteriza o assistente social como profissional de saúde. Resolução CFESS n° 493, de 21 de agosto de 2006. Dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional do assistente social. Resoluções do Conselho Nacional de Saúde n. 218, de 6 de março de 1997, e do Conselho Federal de Serviço Social n. 383, de 29 de março de 1999. http://www.fsp.usp.br/rsp http://www.cienciasecognicao.org/ 34 ROSA, L. C. S. ET al. O Serviço Social e a Resolução 196/96 sobre ética em pesquisa envolvendo seres humanos. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XXVII, n. 85, p. 62‑70, mar. 2006. SILVA, José Afonso Da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 34. Ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. SOUSA. Charles Toniolo. Monografia. A prática do Assistente Social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional. UNIGRANRIO. Rio de Janeiro, 2008. VASCONCELOS, Ana Maria de. Serviço Social e Práticas Democráticas na Saúde. In: MOTA, Ana Elizabete. Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2001. VASCONCELOS, A. M. A prática do serviço social: cotidiano, formação e alternativas na área da saúde. 8. Ed. São Paulo: Cortez, 2012. VASCONCELOS, E. M. Saúde mental e serviço social: o desafio da subjetividade e da interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2000. VERGARA, Eva Maria Bitencourt. O significado da categoria mediação no Serviço Social. P. 2, 2003. Disponível em http://cacphp.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario1/trabalhos/Assistencia%20s ocial/eixo3/98evavergara. Pdf. Acesso em: 05 de agosto de 2020. 35 36