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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1. Rever a morfofisiologia da hipófise; 2. Compreender a definição, etiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento das síndromes hipofisárias. Morfofisiologia da hipófise ANATOMIA DA HIPÓFISE ↠ A glândula hipófise é uma estrutura em forma de ervilha com 1 a 1,5 cm de diâmetro e que se localiza na fossa hipofisial da sela turca do esfenoide (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A hipófise ou pituitária é um pequeno órgão que pesa cerca de 0,5 g no adulto (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Fixa-se ao hipotálamo por um pedículo, o infundíbulo, e apresenta duas partes anatômica e funcionalmente separadas: a adeno-hipófise (lobo anterior) e a neuro- hipófise (lobo posterior) (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A adeno-hipófise representa cerca de 75% do peso total da glândula e é composta por tecido epitelial. No adulto, a adeno-hipófise consiste em duas partes: a parte distal, que é a porção maior, e a parte tuberal que forma uma bainha ao redor do infundíbulo (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A neuro-hipófise é composta por tecido neural. Também consiste em duas partes: a parte nervosa, a porção bulbosa maior, e o infundíbulo (TORTORA, 14ª ed.). IMPORTANTE: Os lobos apresentam origem embrionária diferente, o que se manifesta na sua estrutura e função. A hipófise posterior ou neurohipófise forma-se durante o desenvolvimento embrionário, da parte inferior do cérebro, e assim os seus axónios estendem-se desde a parte inferior do hipotálamo. As secreções desta glândula são denominadas neurohormonas. A adenohipófise ou lobo anterior da hipófise é formada a partir do tecido embrionário do epitélio oral, não apresentando conexões neurais com o hipotálamo. Apresenta capacidade de produzir as suas próprias hormonas, mas a sua secreção é regulada pelo hipotálamo (LIMA, 2015). SISTEMA PORTA HIPOFISÁRIO O sangue arterial chega à hipófise através de dois ramos da artéria carótida interna, uma das grandes artérias que fornecem sangue para o encéfalo (MARIEB, 7ª ed.). A artéria hipofisária superior irriga a adeno-hipófise e o infundíbulo, enquanto a artéria hipofisária inferior irriga a parte nervosa da neuro- hipófise. As veias dos amplos leitos capilares na hipófise drenam sangue para o seio cavernoso e para outros seios da dura-máter vizinhos (MARIEB, 7ª ed.). As artérias hipofisárias superiores, ramos das artérias carótidas internas, levam sangue para o hipotálamo (TORTORA, 14ª ed.). Na junção da eminência mediana do hipotálamo e o infundíbulo, essas artérias se dividem em uma rede capilar chamada de plexo primário do sistema porta hipofisário. Do plexo primário, o sangue drena para as veias porto-hipofisárias que passam por baixo da parte externa do infundíbulo (TORTORA, 14ª ed.). Na adenohipófise, as veias porto-hipofisárias se dividem mais uma vez e formam outra rede capilar chamada de plexo secundário do sistema porta hipofisário (TORTORA, 14ª ed.). Acima do quiasma óptico há grupos de neurônios especializados chamados de células neurossecretoras (TORTORA, 14ª ed.). SECREÇÃO E REGULAÇÃO DOS HORMÔNIOS ↠ O hipotálamo está relacionado com a adenohipófise e a neurohipófise devido ao sistema portal sanguíneo, onde o suprimento sanguíneo arterial para a eminência mediana e para a hipófise é assegurado pelas artérias hipofisárias superior medial e inferior. Os neurónios magocelulares dos núcleos supraótico (NSO) e núcleos paraventricular (NPV) apresentam axónios longos, que terminam na neurohipófise (LIMA, 2015). Síndromes hipofisárias APG 23 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck CONEXÕES COM A NEURO-HIPÓFISE O feixe hipotálamo-hipofisário é uma via nervosa constituída pelos axónios, que se estendem desde o hipotálamo, pelo infundíbulo, até à neurohipófise. Nos neurônios magnocelulares hipotalâmicos, localizados no corpo celular, ocorre no retículo endoplasmático a síntese da pré e pró-hormona da hormona anti-diurética (ADH) e da ocitocina (LIMA, 2015). O hipotálamo tem apenas conexões eferentes com a hipófise, que são feitas através dos tratos hipotálamo-hipofisário e túbero- infundibular: (MACHADO, 3ª ed.). • Trato hipotálamo-hipofisário: é formado por fibras que se originam nos neurônios grandes (magnocelulares) dos núcleos supraóptico e paraventricular e terminam na neuro-hipófise. As fibras deste trato, que constituem os principais componentes estruturais da neuro-hipófise, são ricas em neurossecreção, transportando os hormônios vasopressina e ocitocina; • Trato túbero-infundibular (ou túbero-hipofisário): é constituído de fibras que se originam em neurônios pequenos (parvicelulares) do núcleo arqueado e em áreas vizinhas do hipotálamo tuberal e terminam na eminência mediana e na haste infundibular. Essas fibras transportam os hormônios que ativam ou inibem as secreções dos hormônios da adeno-hipófise. ↠ O hipotálamo controla a atividade secretora da adenohipófise, e a adenohipófise controla a atividade secretora das glândulas da tiróide, suprarrenais e gónadas sexuais. Por sua vez, as atividades secretoras destes órgãos influenciam a atividade secretora da hipófise e, consequentemente do hipotálamo. A atividade do sistema endócrino é regulada por um mecanismo de "feedback”. O "feedback negativo" ou inibidor ocorre quando a concentração das hormonas secretadas por uma glândula (tiróide, suprarrenais e gónadas sexuais) atingem uma concentração maior do que o necessário, condicionando assim a interrupção da secreção hormonal e a interrupção deste mecanismo. O "feedback" é denominado "feedback positivo" quando a concentração da hormona diminui, surgindo a necessidade da glândula secretá-la para garantir a atividade fisiológica (LIMA, 2015). ADENO-HIPÓFISE ↠ A adeno-hipófise secreta hormônios que regulam uma ampla variedade de atividades corporais, desde o crescimento até a reprodução (TORTORA, 14ª ed.). OBS.: Cinco tipos de células da adeno-hipófise – somatotrofos, tireotrofos, gonadotrofos, lactotrofos e corticotrofos – secretam sete hormônios (TORTORA, 14ª ed.). 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck • Os somatotrofos secretam o hormônio do crescimento (GH), também conhecido como somatotrofina. O hormônio do crescimento estimula o crescimento corporal geral e regula aspectos do metabolismo. • Os tireotrofos secretam o hormônio tireoestimulante (TSH), também conhecido como tireotrofina. O TSH controla as secreções e outras atividades da glândula tireoide. • Os gonadotrofos secretam duas gonadotrofinas: o hormônio foliculoestimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH). Tanto o FSH quanto o LH atuam nas gônadas (testículos e ovários). Nos homens, estimulam os testículos para a produção de espermatozoides e a secreção de testosterona. Nas mulheres, estimulam os ovários para a maturação dos ovócitos e a secreção de estrogênios e progesterona. • Os lactotrofos secretam a prolactina (PRL), que inicia a produção de leite nas glândulas mamárias. • Os corticotrofos secretam o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), também conhecido como corticotrofina, que estimula o córtex da suprarrenal a secretar glicocorticoides, como o cortisol. Alguns corticotrofos, remanescentes da parte intermédia, também secretam o hormônio melanócito-estimulante (MSH). A liberação dos hormônios da adeno-hipófise é regulada, em parte, pelo hipotálamo. O hipotálamo secreta cinco hormônios liberadores, que estimulam a secreção dos hormônios adeno-hipofisários (TORTORA, 14ª ed.). • O hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH), também conhecido como somatocrinina, estimula a secreção do hormônio do crescimento. • O hormônio liberador de tireotrofina (TRH) estimula a secreção do hormônio tireoestimulante. • O hormônio liberador de corticotrofina (CRH) estimula a secreção do hormônio adrenocorticotrófico. • O hormôniorecorrência, nos quais a cirurgia esteja contraindicada (grande tumor com invasão do seio cavernoso), ou quando não se dispõe de um neurocirurgião experiente. A radiação da hipófise pode levar até 2 a 5 anos para ser efetiva e, em geral, resulta em pan-hipopituitarismo. Se não for possível demonstrar com certeza a existência de tumor hipofisário, a suprarrenalectomia laparoscópica bilateral cura o hipercortisolismo, sendo necessária, então, a reposição pós-operatória de esteroides durante toda a vida do paciente (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). TUMORES PRODUTORES DE HORMÔNIO FOLICULOESTIMULANTE E HORMÔNIO LUTEINIZANTE ↠ Do ponto de vista clínico, os tumores hipofisários são, em sua maioria, classificados como adenomas não secretores ou não funcionais. Entretanto, com uma investigação mais detalhada, a maioria (70 a 80%) secreta pequenas quantidades da subunidade α ou da subunidade β do LH ou do FSH (que não produziriam nenhuma manifestação clínica) ou, raramente, de LH ou FSH completos com subunidades α e β. O FSH é mais comum do que o LH, e as subunidades α livres são mais comuns do que as subunidades β. Pouco se sabe sobre a base molecular desses tumores (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Quadro clínico ↠ Os tumores produtores de gonadotropinas são, em sua maioria, clinicamente silenciosos, exceto quando seu tamanho resulta em achados neurológicos, como problemas de campo visual ou cefaleias. Em geral, os pacientes apresentam hipogonadismo, visto que as gonadotropinas secretadas são ineficazes na estimulação das gônadas (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ As mulheres na pré-menopausa podem apresentar cistos ovarianos e distúrbios menstruais. Os homens geralmente apresentam hipogonadismo, devido aos 17 Júlia Morbeck – @med.morbeck baixos níveis de testosterona, mas também desenvolvem aumento dos testículos em consequência de tumores secretores de FSH. Em raros tumores que secretam LH, os homens apresentam níveis elevados de testosterona e de hemoglobina (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Diagnóstico ↠ Não existe nenhuma síndrome clínica exclusivamente associada a esses tumores. Alguns pacientes podem apresentar elevações moderadas inespecíficas dos níveis de prolactina, porém quase todos os casos são diagnosticados no pós-operatório, quando se analisa a peça cirúrgica (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Tratamento ↠ Como os principais sintomas dos tumores produtores de gonadotropinas ou dos adenomas não funcionantes estão relacionados com efeitos expansivos locais e extensão extrasselar, a meta do tratamento consiste em reduzir o tamanho do tumor (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ Em geral, a cirurgia transesfenoidal pode reverter por completo ou parcialmente qualquer hipopituitarismo e comprometimento dos campos visuais, porém é raramente curativa, devido ao grande tamanho dos tumores (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ A radioterapia pós-operatória pode beneficiar os pacientes que apresentam tumor residual mínimo. Se não for observado nenhum tumor na RM do pós-operatório, indica-se um monitoramento anual com campimetria mais TC ou RM. Os marcadores tumorais também podem monitorar a atividade do tumor. Nos tumores que crescem, indicam-se a cirurgia repetida, a radioterapia ou ambas (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). TUMORES SECRETORES DE HORMÔNIO TIREOESTIMULANTE ↠ Raramente, adenomas hipofisários conhecidos como TSHomas ou adenomas hipofisários secretores de TSH podem produzir o hormônio TSH. Esses tumores representam menos de 1% de todos os casos de hipertireoidismo. Além dos achados clássicos de hipertireoidismo, os achados clínicos no TSHoma incluem bócio difuso, defeitos dos campos visuais, cefaleia e, nas mulheres, irregularidades menstruais (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ Em certas ocasiões, os pacientes não apresentam sintomas de hipertireoidismo, provavelmente em razão de uma habituação às concentrações ligeiramente elevadas de hormônio (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ Deve-se considerar um diagnóstico de TSHoma quando um paciente apresenta níveis séricos elevados de tiroxina e tri-iodotironina totais e livres. Em alguns casos, podem ser observados níveis séricos elevados da subunidade alfa da molécula de TSH e TSH não suprimido (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ O diagnóstico raramente é direto. O diagnóstico pode ser confirmado por uma combinação de testes (p. ex., testes repetidos da tireoide em outro laboratório, determinação da subunidade α, medição de outros hormônios hipofisários), porém não existe nenhum teste que seja diagnóstico (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ Na ausência de qualquer história ou teste sugestivo de adenoma hipofisário, e tendo em vista a dificuldade de distinguir pacientes com tumores secretores de TSH de uma resistência ao hormônio tireoidiano, deve-se considerar a realização de uma análise (quando disponível) para mutações do gene do receptor β do hormônio tireoidiano em pacientes com níveis elevados de T4 e T3 livres, TSH não suprimido e nível sérico normal de subunidade α (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ O tratamento tem por objetivo reduzir o tamanho do tumor. Os tratamentos e o prognóstico assemelham-se aos dos adenomas produtores de gonadotropinas. Pode- se administrar um betabloqueador como propranolol (80 a 160 mg/dia) ou atenolol (25 a 50 mg/dia) para melhorar alguns dos sinais e sintomas de hipertireoidismo (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Referências LIMA, N. F. S. O. Distúrbios da hipófise. Dissertação de mestrado. Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2015. MARIEB, E.; WILHELM, P.; MALLATT, J. Anatomia humana, 7ª ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2016. 18 Júlia Morbeck – @med.morbeck MACHADO A.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional, Atheneu, 3ª ed. KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K.; ASTER, Jon C. Robbins & Cotran Patologia: Bases Patológicas das Doenças. Grupo GEN, 2023. GOLDMAN, Lee; SCHAFER, Andrew I. Goldman-Cecil Medicina Grupo GEN, 2022. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Grupo GEN, 2021. VILAR, Lucio. Endocrinologia Clínica. Grupo GEN, 2020.liberador de prolactina (PRH) estimula a secreção de prolactina. • O hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) estimula a secreção de FSH e de LH. O hipotálamo também produz dois hormônios inibidores, que suprimem a secreção dos hormônios da adeno-hipófise (TORTORA, 14ª ed.). • O hormônio inibidor do hormônio do crescimento (GHIH), também conhecido como somatostatina, suprime a secreção do hormônio do crescimento. • O hormônio inibidor de prolactina (PIH), que é a dopamina, suprime a secreção de prolactina. Hormônio do crescimento ↠ O hormônio do crescimento (GH) é o hormônio mais abundante da adeno-hipófise. O GH promove o crescimento dos tecidos corporais, incluindo ossos e músculo esquelético, e regula certos aspectos do metabolismo (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O GH exerce os seus efeitos na promoção do crescimento indiretamente por meio de pequenos hormônios proteicos, denominados fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGF) ou somatomedinas. Em resposta ao hormônio do crescimento, as células no fígado, no músculo esquelético, na cartilagem e no osso secretam IGF. Os IGF sintetizados no fígado entram na corrente sanguínea como hormônios que circulam até as células-alvo em todo o corpo, causando crescimento. Os IGF produzidos no músculo, na cartilagem e no osso atuam localmente como hormônios autócrinos ou parácrinos, induzindo o crescimento desses tecidos. Diferentemente dos efeitos do GH sobre o crescimento do corpo, os efeitos do GH no metabolismo são diretos, o que significa que o GH interage diretamente com as células-alvo, causando reações metabólicas específicas (TORTORA, 14ª ed.). O GH, utilizando os IGF como mediadores, induz o crescimento dos ossos e de outros tecidos do corpo. Por meio de seus efeitos diretos, o GH ajuda a regular certas reações metabólicas nas células do corpo. As funções específicas dos IGF e do GH incluem as seguintes: (TORTORA, 14ª ed.). Aumentam o crescimento dos ossos e dos tecidos moles. Nos ossos, os IGF estimulam os osteoblastos, promovem a divisão celular na lâmina epifisial e intensificam a síntese das proteínas necessárias para a formação de mais matriz óssea. Nos tecidos moles, como o músculo esquelético, os rins e os intestinos, os IGF fazem com que as células cresçam por meio de aumento da captação de aminoácidos nas células e aceleração da síntese de proteínas. Os IGF também reduzem a degradação das proteínas e o uso de aminoácidos para a produção de ATP. Devido aos efeitos dos IGF, o GH aumenta o crescimento do esqueleto e dos tecidos moles durante a infância e a adolescência. Nos adultos, o GH (atuando por meio dos IGF) ajuda a manter a massa dos ossos e dos tecidos moles e promove a cicatrização de lesões e o reparo tecidual (TORTORA, 14ª ed.). Aumentam a lipólise. O GH aumenta a lipólise no tecido adiposo, o que resulta em aumento da utilização dos ácidos graxos liberados para a produção de ATP pelas células corporais (TORTORA, 14ª ed.). Diminuição da captação de glicose. O GH influencia o metabolismo dos carboidratos por meio de redução da captação de glicose, o que diminui a utilização de glicose para a produção de ATP pela maioria das células corporais. Essa ação preserva a glicose, de modo a deixá- la disponível para os neurônios para a produção de ATP em períodos de escassez de glicose. O GH também estimula os hepatócitos a liberar glicose no sangue (TORTORA, 14ª ed.). OBS.: Os somatotrofos na adeno-hipófise liberam salvas de hormônio do crescimento com intervalos de poucas horas, particularmente durante o sono. A sua atividade secretora é controlada principalmente por dois hormônios hipotalâmicos: (1) o hormônio liberador de hormônio 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck do crescimento (GHRH), que promove a secreção de hormônio do crescimento, e (2) o hormônio inibidor do hormônio do crescimento (GHIH), que o suprime (TORTORA, 14ª ed.). A regulação da secreção de hormônio do crescimento pelo GHRH e pelo GHIH ocorre da seguinte maneira: (TORTORA, 14ª ed.). 1. O GHRH é secretado pelo hipotálamo. Os fatores que promovem a secreção de GHRH incluem hipoglicemia (baixo nível de glicemia); diminuição dos níveis sanguíneos de ácidos graxos; aumento dos níveis sanguíneos de aminoácidos; sono profundo (estágios 3 e 4 do sono sem movimentos oculares rápidos); aumento da atividade do sistema nervoso simpático, como o que pode ocorrer em caso de estresse ou exercício físico vigoroso; e outros hormônios, incluindo testosterona, estrogênios, hormônios tireoidianos e grelina. 2. Uma vez secretado, o GHRH entra no sistema porta hipofisário e flui para a adeno-hipófise, onde estimula os somatotrofos a secretar GH. 3. O GH atua diretamente sobre várias células para promover reações metabólicas. No fígado, nos ossos, no músculo esquelético e na cartilagem, o GH é convertido em IGFs, os quais, por sua vez, promovem o crescimento dos ossos, do músculo esquelético e de outros tecidos. 4. Os níveis elevados de GH e de IGF inibem a liberação de GHRH e de GH (inibição por retroalimentação negativa). 5. O GHIH é secretado pelo hipotálamo. Os fatores que promovem a secreção de GHIH incluem hiperglicemia (nível elevado de glicemia); aumento dos níveis sanguíneos de ácidos graxos; diminuição dos níveis sanguíneos de aminoácidos; obesidade; envelhecimento; e níveis sanguíneos elevados de GH e de IGF. 6. Após ser secretado, o GHIH entra no sistema porta hipofisário e flui para a adeno-hipófise, onde impede a secreção de GH pelos somatotrofos ao interferir na via de sinalização utilizada pelo GHRH. Hormônio tireoestimulante ↠ O hormônio tireoestimulante (TSH) estimula a síntese e a secreção dos dois hormônios tireoidianos, a tri- iodotironina (T3) e a tiroxina (T4), que são produzidos pela glândula tireoide (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O hormônio liberador de tireotrofina (TRH) do hipotálamo controla a secreção de TSH. Por sua vez, a liberação de TRH depende dos níveis sanguíneos de T3 e T4; os níveis elevados de T3 e de T4 inibem a secreção de TRH por meio de retroalimentação negativa (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Não há nenhum hormônio inibidor da tireotrofina (TORTORA, 14ª ed.). Hormônio foliculoestimulante ↠ Nas mulheres, os ovários constituem os alvos do hormônio foliculoestimulante (FSH). A cada mês, o FSH inicia o desenvolvimento de vários folículos ovarianos, que são arranjos em forma de saco de células secretoras que circundam o óvulo em desenvolvimento. O FSH também estimula as células foliculares a secretar estrogênios (hormônios sexuais femininos) (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Nos homens, o FSH estimula a produção de espermatozoides nos testículos. O hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) do hipotálamo estimula a liberação de FSH. A liberação de GnRH e de FSH é suprimida pelos estrogênios nas mulheres e pela testosterona (o principal hormônio sexual masculino) nos homens por sistemas de retroalimentação negativa. Não existe nenhum hormônio inibidor de gonadotrofina (TORTORA, 14ª ed.). Hormônio luteinizante ↠ Nas mulheres, o hormônio luteinizante (LH) desencadeia a ovulação, que consiste na liberação de um ovócito secundário (futuro ovo) por um ovário. O LH estimula a formação do corpo lúteo (uma estrutura formada após a ovulação) no ovário e a secreção de progesterona (outro hormônio sexual feminino) pelo corpo lúteo. Em conjunto, o FSH e o LH também estimulam a secreção de estrogênios pelas células ovarianas (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Os estrogênios e a progesterona preparam o útero para a implantação de um óvulo fertilizado e ajudam a preparar as glândulas mamárias para a secreção de leite (TORTORA, 14ª ed.). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Nos homens, o LH estimula as células dos testículos a secretar testosterona. À semelhança do FSH, a secreção de LH é controlada pelo hormônio liberadorde gonadotrofina (GnRH) (TORTORA, 14ª ed.). Prolactina ↠ A prolactina (PRL), juntamente com outros hormônios, inicia e mantém a produção de leite pelas glândulas mamárias. A prolactina por si só exerce apenas um efeito fraco. Somente após a preparação das glândulas mamárias pelos estrogênios, progesterona, glicocorticoides, hormônio do crescimento, tiroxina e insulina, que exercem efeitos permissivos, é que a PRL promove a produção de leite. A ejeção de leite das glândulas mamárias depende da ocitocina, um hormônio liberado pela neuro-hipófise. Em conjunto, a produção e a ejeção de leite constituem a lactação (TORTORA, 14ª ed.). ↠ O hipotálamo secreta hormônios tanto inibitórios quanto excitatórios, que regulam a secreção de prolactina. Nas mulheres, o hormônio inibidor de prolactina (PIH), que é a dopamina, inibe a liberação de prolactina da adeno- hipófise na maior parte do tempo. Todo mês, imediatamente antes do início da menstruação, a secreção de PIH diminui, e ocorre elevação dos níveis sanguíneos de prolactina, porém não o suficiente para estimular a produção de leite. A hipersensibilidade das mamas imediatamente antes da menstruação pode ser causada pela elevação da prolactina. Quando o ciclo menstrual começa de novo, o PIH é mais uma vez secretado, e o nível de prolactina cai. Durante a gravidez, o nível de prolactina aumenta, devido à estimulação pelo hormônio liberador de prolactina (PRH) do hipotálamo. A ação de sucção do recém-nascido provoca uma redução na secreção hipotalâmica de PIH (TORTORA, 14ª ed.). OBS.: A função da prolactina não é conhecida nos homens, porém a sua hipersecreção provoca disfunção erétil (impotência, a incapacidade de apresentar ereção do pênis). Nas mulheres, a hipersecreção de prolactina causa galactorreia (lactação inapropriada) e amenorreia (ausência de ciclos menstruais) (TORTORA, 14ª ed.). Hormônio adrenocorticotrófico ↠ Os corticotrofos secretam principalmente o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). O ACTH controla a produção e a secreção de cortisol e de outros glicocorticoides pelo córtex das glândulas suprarrenais. O hormônio liberador de corticotrofina (CRH) do hipotálamo estimula a secreção de ACTH pelos corticotrofos. Estímulos relacionados com o estresse, como baixo nível de glicemia ou trauma físico, e a interleucina-1, uma substância produzida por macrófagos, também estimulam a liberação de ACTH. Os glicocorticoides inibem a liberação de CRH e de ACTH por retroalimentação negativa (TORTORA, 14ª ed.). Hormônio melanócito-estimulante ↠ O hormônio melanócito-estimulante (MSH) aumenta a pigmentação da pele nos anfíbios ao estimular a dispersão dos grânulos de melanina nos melanócitos. A sua função exata nos seres humanos é desconhecida, porém a presença de receptores de MSH no encéfalo sugere que esse hormônio pode influenciar a atividade encefálica. Existe pouco MSH circulante nos seres humanos. Entretanto, a administração contínua de MSH por vários dias produz um escurecimento da pele. Os níveis excessivos de hormônio liberador de corticotrofina (CRH) podem estimular a liberação de MSH; a dopamina inibe a liberação de MSH (TORTORA, 14ª ed.). NEURO-HIPÓFISE ↠ Embora não sintetize hormônios, a neuro-hipófise armazena e libera dois hormônios. É composta por axônios e terminais axônicos de mais de 10.000 células neurossecretoras hipotalâmicas (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A liberação dos hormônios pela neuro-hipófise ocorre da seguinte maneira: (TORTORA, 14ª ed.). 1. As células neurossecretoras nos núcleos paraventriculares e supraópticos do hipotálamo 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck sintetizam ocitocina e hormônio antidiurético (ADH). Em seguida, esses hormônios são acondicionados em vesículas. 2. As vesículas são conduzidas por transporte axônico rápido ao longo do trato hipotálamo-hipofisial até os terminais axônicos na neuro-hipófise, onde são armazenadas. 3. Quando um estímulo apropriado excita o hipotálamo, os impulsos nervosos desencadeiam a exocitose e liberação de ocitocina ou de ADH na corrente sanguínea (artéria hipofisária inferior, plexo capilar do infundíbulo e veia hipofisária). 4. Após a sua liberação, a ocitocina ou o ADH são transportados até seus tecidos-alvo no corpo. Ocitocina ↠ Durante e após o parto, a ocitocina afeta dois tecidos- alvo: o útero e as mamas da mãe. Durante o parto, o estiramento do colo do útero estimula a liberação de ocitocina, que, por sua vez, intensifica a contração das fibras musculares lisas na parede do útero; depois do parto, a ocitocina estimula a ejeção de leite (“descida”) das glândulas mamárias em resposta ao estímulo mecânico proporcionado pela sucção do lactente (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A função da ocitocina nos homens e nas mulheres não grávidas não está bem esclarecida. Experimentos realizados em animais sugeriram que a ocitocina possui ações no encéfalo, que promovem o comportamento parental de cuidados com a prole. Ela também é responsável, em parte, pelas sensações de prazer sexual durante e após o coito (TORTORA, 14ª ed.). Hormônio antidiurético ↠ Como o próprio nome sugere, um antidiurético é uma substância que diminui a produção de urina. O ADH faz com que os rins devolvam mais água ao sangue, diminuindo, assim, o volume de urina. Na ausência de ADH, o débito urinário aumenta mais de 10 vezes, passando do normal de 1 a 2 ℓ para cerca de 20 ℓ por dia. Com frequência, o consumo de álcool provoca micção frequente e copiosa, visto que o álcool inibe a secreção de ADH. (Esse efeito desidratante do álcool pode causar tanto a sede quanto a cefaleia típicas de uma ressaca.) O ADH também diminui a perda de água pela sudorese e provoca constrição das arteríolas, o que eleva a pressão arterial. Outro nome desse hormônio, a vasopressina, reflete esse efeito sobre a pressão arterial (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A secreção de ADH é promovida por dois estímulos principais: a elevação da osmolaridade do sangue e a diminuição do volume sanguíneo (TORTORA, 14ª ed.). A osmolaridade sanguínea elevada é detectada por osmorreceptores, que são neurônios no hipotálamo que monitoram mudanças na osmolaridade do sangue. A diminuição do volume sanguíneo é detectada por receptores de volume nos átrios do coração e por barorreceptores nas paredes de certos vasos sanguíneos. Uma vez estimulados, os osmorreceptores, os receptores de volume atriais e os barorreceptores ativam as células neurossecretoras hipotalâmicas, que sintetizam e liberam ADH na corrente sanguínea. O sangue transporta o ADH para dois tecidos-alvo: os rins e a musculatura lisa das paredes dos vasos sanguíneos. Os rins respondem com retenção de mais água, diminuindo o débito urinário. A musculatura lisa nas paredes das arteríolas (pequenas artérias) se contrai em resposta a níveis elevados de ADH, causando constrição do lúmen desses vasos sanguíneos e elevando a pressão arterial (TORTORA, 14ª ed.). OBS.: A secreção de ADH também pode ser alterada de outras maneiras. A dor, o estresse, o trauma, a ansiedade, a acetilcolina, a nicotina e substâncias como morfina, tranquilizantes e alguns anestésicos estimulam a secreção de ADH (TORTORA, 14ª ed.). Síndromes hipofisárias ↠ As patologias da hipófise caracterizam-se por afetar primariamente o lobo anterior ou o lobo posterior, e estão associadas ao hiperfuncionamento da hipófise, que desencadeia excesso de secreção de hormonas, ou hipofuncionamento, com diminuição da secreção hormonal trófica (LIMA, 2015). Hipopituitarismo ↠ O hipopituitarismo é uma condição em que há deficiência de um ou mais hormônios hipofisários (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ A prevalência situa-se entre 290 e 455 casos por milhão, com incidência de 42 casos por milhão por ano (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ETIOLOGIA ATENÇÃO: É conveniente classificar o hipopituitarismoem duas categorias principais: o hipopituitarismo congênito (com causas genéticas conhecidas e desconhecidas) e o hipopituitarismo adquirido. Embora os tipos congênitos possam envolver a deficiência de um único ou de vários hormônios hipofisários, os tipos adquiridos de hipopituitarismo habitualmente envolvem mais de um dos hormônios hipofisários simultaneamente (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). OBS.: O pan-hipopituitarismo refere-se a um defeito em todos os hormônios hipofisários. Além dos defeitos congênitos e adquiridos, o 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck hipopituitarismo pode resultar de um distúrbio hipotalâmico. As manifestações clínicas do diabetes insípido e do hipopituitarismo habitualmente sugerem defeitos hipotalâmicos e hipofisários combinados. Além disso, a hiperprolactinemia sugere uma interrupção da inibição dopaminérgica hipotalâmica da prolactina e pode resultar de defeitos hipotalâmicos (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ Os defeitos congênitos são habitualmente observados logo após o nascimento, quando as consequências da ausência de um hormônio hipofisário tornam-se evidentes, em decorrência de retardo do crescimento ou falha de desenvolvimento (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Foram relatados defeitos genéticos em todos os níveis do eixo hipotálamo- hipófise, incluindo defeitos nos fatores hipotalâmicos, nos receptores dos fatores hipotalâmicos e nos genes dos hormônios hipofisários. Esses pacientes apresentam deficiência congênita de uma função específica da hipófise e manifestam defeitos do crescimento de início precoce, puberdade tardia ou hipotireoidismo. Os defeitos nos genes que codificam o hormônio específico quase sempre resultam em baixa concentração sérica desse hormônio, e fatores como os genes PIT1 e PROP1 podem comprometer a diferenciação celular da hipófise. Além disso, o receptor de hormônios hipofisários nas respectivas glândulas pode estar defeituoso, resultando, assim, em resistência à ação dos hormônios hipofisários. Por fim, defeitos genéticos no gene que codifica o hormônio ou seu receptor podem causar deficiência hormonal profunda (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ O hipopituitarismo adquirido manifesta-se habitualmente mais cedo em mulheres em idade reprodutiva, visto que qualquer perturbação no ambiente hipotalâmico-hipofisário provavelmente resultará em anormalidade nos ciclos menstruais (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). A menstruação normal exige a coordenação de múltiplos hormônios, que são muito sensíveis a alterações dos hormônios hipofisários. Os homens de todas as idades e as mulheres na pós-menopausa habitualmente apresentam hipopituitarismo por vários anos antes do estabelecimento do diagnóstico. Nesses pacientes, os sintomas podem ser indefinidos e não percebidos durante muitos anos após o início do hipopituitarismo (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ Os defeitos adquiridos, como tumor, especificamente macroadenoma na sela turca, constituem a causa mais comum de hipopituitarismo. O aumento do tumor dentro dos limites da sela turca pode comprimir as células hipofisárias normais, com consequente falha de sua função. A irradiação da hipófise, o infarto hipofisário, a lesão cirúrgica e a doença infiltrativa podem comprometer o funcionamento normal da hipófise. Além do dano estrutural às células, pode ocorrer disfunção na presença de desnutrição, doença crítica e transtornos psiquiátricos (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Doenças congênitas Síndrome de Laurence-Moon-Biedl Esse distúrbio autossômico recessivo caracteriza-se por hipogonadismo hipogonadotrófico, retardo mental, obesidade, retinite pigmentosa, hexadactilia, braquidactilia ou sindactilia. No caso dessa doença, aos 30 anos de idade, a maioria dos pacientes está cega. Embora a deficiência de GnRH seja a causa preponderante do hipogonadismo, cerca de 25% dos indivíduos do sexo masculino com a síndrome podem ter insuficiência testicular primária (VILAR, 2020). Síndrome de Prader-Willi ↠ A síndrome de Prader-Willi é um distúrbio genético caracterizado por retardo mental discreto, baixa estatura, hipotonia muscular, hiperfagia intensa e obesidade. Essa condição tem sido atribuída a translocação ou deleção do cromossomo 15 (VILAR, 2020). ↠ Acredita-se que tal alteração genética leve à disfunção de vários centros hipotalâmicos, sendo comuns a DGH e o hipogonadismo (presente em dois terços dos casos em uma série com 19 pacientes). Nos indivíduos hipogonádicos, o criptorquidismo bilateral e a ausência das pregas escrotais são acompanhados por secreção atenuada de GnRH. Os níveis de LH e FSH, às vezes, podem ser restaurados por meio do tratamento crônico com GnRH. Também têm sido relatados problemas na síntese de ocitocina e vasopressina (VILAR, 2020). Hipogonadismo hipogonadotrófico congênito ↠ O hipogonadismo hipogonadotrófico congênito (HHC) resulta da deficiência isolada do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH); na sua origem, mutações em mais de 30 genes já foram identificadas em cerca de 40% dos casos. Neste grupo incluem-se a síndrome de Kallmann (SK) e, menos frequentemente, o hipogonadismo hipogonadotrófico idiopático (HHI). A SK se caracteriza por HHC combinado com alterações do olfato (anosmia ou hiposmia). Tal associação é resultado da migração inadequada de neurônios produtores de GnRH e 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck neurônios olfatórios, determinando agenesia ou hipoplasia dos bulbos e tratos olfatórios (VILAR, 2020). ↠ No HHI não há distúrbios do olfato, daí ser também chamado de HHC normósmico (VILAR, 2020). Miscelânea ↠ São raros os exemplos em que causas de hipopituitarismo congênito são doenças infecciosas (p. ex., sífilis congênita), agenesia da artéria carótida interna, ausência de haste hipofisária etc. O hipopituitarismo congênito com ectopia da neuro-hipófise pode também vir associado à aplasia ou à hipoplasia do nervo óptico e, em casos mais raros, à síndrome da glória matinal (baixa estatura, nistagmo, desvio do olhar para dentro e baixa visão) (VILAR, 2020). Hipopituitarismo adquirido Tumores hipofisários ↠ Adenomas hipofisários representam as neoplasias intracranianas mais comuns e são responsáveis por 10,7% dos tumores primários do sistema nervoso central (SNC). Estudos de prevalência demonstraram a presença dessa condição em até 35% das séries de necropsia e em aproximadamente 10% da população adulta submetida a avaliações por RM, como incidentalomas (VILAR, 2020). ↠ O hipopituitarismo pode resultar de compressão ou destruição do parênquima hipofisário ou compressão da haste hipofisária pelo tumor. Pode também ser consequência do tratamento ablativo do tumor por meio de cirurgia ou radioterapia. Nos casos de prolactinomas, o hipogonadismo hipogonadotrófico resulta da inibição, pela hiperprolactinemia, da secreção de kisspeptina por neurônios hipotalâmicos, uma vez que esse neuropeptídeo é um potente secretagogo da secreção do GnRH. Adenomas hipofisários apenas excepcionalmente cursam com diabetes insípido (DI), mesmo os mais volumosos. Em contraste, o achado de hipopituitarismo e DI é comum em outras lesões hipofisárias (p. ex., hipofisites, abscesso, metástases etc.) (VILAR, 2020). Linfomas hipofisários ↠ Em alguns casos raros, comprometimento da adeno-hipófise ou do hipotálamo por distúrbios linfoproliferativos é a causa do hipopituitarismo. Os linfomas mais comuns do SNC são linfomas não Hodgkin e, mais raramente, linfoma de células B ou de células T. Manifestam-se à RM com aumento difuso da hipófise, invasão de seios cavernosos e padrão de crescimento rápido. Em contraste, o achado de hipopituitarismo e DI é comum em casos de metástases hipofisárias (VILAR, 2020). Síndrome da sela vazia ↠ Sela vazia, também chamada de aracnoidocele selar, é um achado de imagem caracterizado pela presença de herniação aracnóidea para dentro do espaçoselar, o que resulta em compressão da hipófise contra o assoalho da sela. Pode resultar de uma incompetência congênita do diafragma selar, o que caracteriza a chamada sela vazia primária (SVP). Esta última é mais comum em mulheres obesas ou multíparas (VILAR, 2020). ↠ A terminologia sela vazia secundária aplica-se aos casos em que a condição surge após infarto de adenoma hipofisário, necrose hipofisária pós-parto (síndrome de Sheehan), dano no assoalho selar induzido por cirurgia ou radioterapia, hipofisites, doenças infiltrativas, bem como após terapia com agonistas dopaminérgicos ou, menos frequentemente, com análogos da somatostatina (VILAR, 2020). A síndrome de Sheehan (SSh) se caracteriza pelo hipopituitarismo pós- parto secundário à necrose hipofisária, decorrente de hipotensão ou choque, em virtude de hemorragia maciça durante ou logo após o parto. Sua frequência vem caindo em todo o mundo, principalmente em países e regiões mais desenvolvidos, em razão da melhora nos cuidados obstétricos; contudo, ainda é frequente em países em desenvolvimento onde os cuidados obstétricos são mais precários. A SSh pode levar a graus variados de hipopituitarismo, agalactia e hipoplasia hipofisária ou síndrome de sela vazia secundária. Os sinais e sintomas costumam aparecer lentamente, após um período de meses a anos. Existem pacientes cujo diagnóstico foi realizado 2 a 3 décadas após o último parto. Contudo, é frequente a ausência de lactação (agalactia) após o parto (VILAR, 2020). ↠ Embora a sela vazia seja, em geral, um achado acidental, o hipopituitarismo tende a acontecer se mais de 90% do tecido hipofisário estiver comprimido ou atrofiado. Estudos atuais mostraram que a sela vazia primária pode ser acompanhada por graus variados de hipopituitarismo, desde pan- hipopituitarismo até deficiência isolada de GH. Entre 175 casos de SVP, cerca de um terço tinha algum grau de hipopituitarismo. A hiperprolactinemia é outra potencial complicação da sela vazia (VILAR, 2020). 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck Doenças infecciosas ou parasitárias ↠ Várias doenças infecciosas podem acometer a região hipotalâmico-hipofisária e provocar inflamação, seguida de necrose, hemorragia e fibrose. Foram descritos casos de hipopituitarismo em pacientes com neurocisticercose, tuberculoma intrasselar, sífilis e infecções fúngicas (VILAR, 2020). ↠ Abscesso hipofisário pode também levar a hipopituitarismo e DI Em alguns casos, pode clinicamente simular uma apoplexia hipofisária. Hipopituitarismo pode também ser uma sequela de meningite viral ou bacteriana. Hipopituitarismo e DI já foram relatados em pacientes imunossuprimidos com toxoplasmose cerebral (VILAR, 2020). Doenças inflamatórias | Hipofisites ↠ A hipofisite é uma condição rara caracterizada por inflamação da hipófise, frequentemente resultando em hipopituitarismo e aumento da hipófise. A inflamação da hipófise pode ocorrer por processo primário (hipofisite primária granulomatosa, xantomatosa ou, sobretudo, linfocítica) ou ser secundária a doenças sistêmicas inflamatórias ou autoimunes, medicações ou distúrbios da região selar (p. ex., germinoma ou ruptura de cisto da bolsa de Rathke) (VILAR, 2020). Cirurgia ↠ Cirurgia de tumores hipofisários ou hipotalâmicos pode resultar em hipopituitarismo, cuja prevalência é inversamente proporcional à experiência do neurocirurgião, à extensão do procedimento e à via de abordagem (p. ex., maior com a cirurgia transcraniana do que com a transesfenoidal). Em uma série, entre pacientes submetidos a cirurgia por via transesfenoidal, a ocorrência de hipopituitarismo foi 88% com hipofisectomia, 33% com hemi-hipofisectomia e 14% com adenomectomia seletiva (VILAR, 2020). Radioterapia ↠ Hipopituitarismo é uma complicação frequente do tratamento radioterápico para tumores hipofisários e hipotalâmicos, tumores cerebrais primários, tumores nasofaringianos, tumores de cabeça e pescoço, tumores ósseos que afetam o crânio ou leucemia linfoblástica aguda (VILAR, 2020). ↠ De modo geral, estima-se que graus variados de hipopituitarismo surjam em cerca de 50% dos pacientes, 5 a 10 anos após a radioterapia da região selar. A ocorrência de hipopituitarismo parece ser similar às radioterapias convencional e estereotáxica. O eixo do GH é o mais vulnerável aos efeitos da radioterapia. Em crianças pré-puberais, a irradiação craniana pode resultar em deficiência de gonadotrofinas ou, de modo contraditório, em puberdade precoce (VILAR, 2020). Traumatismo cranioencefálico ↠ O traumatismo cranioencefálico (TCE) tem emergido como uma das causas mais importantes de hipopituitarismo, à medida que estudos sobre o assunto têm se avolumado nos últimos 15 anos. O TCE que causa hipopituitarismo pode ser caracterizado por um único traumatismo na cabeça, como o de um acidente de trânsito (cerca de 50% dos casos) ou queda, ou por traumatismo craniano repetitivo crônico, como visto em esportes de combate, incluindo boxe, kickboxing, hóquei no gelo e futebol americano (VILAR, 2020). OBS: Entre boxeadores em atividade ou já aposentados, mostraram-se frequentes as deficiências de GH (15 a 50%) e ACTH (cerca de 10%). Outro tipo de esporte que pode causar lesão cerebral é o futebol americano. Entre jogadores aposentados com uma qualidade de vida relativamente baixa, 23,5% tinham hipopituitarismo. O hipopituitarismo pode se tornar evidente logo depois do acidente, mas em 15% dos casos só foi diagnosticado após, no mínimo, 5 anos. A história natural do hipopituitarismo pós-traumatismo é desconhecida, e são relatados casos de recuperação funcional espontânea. O padrão de déficit hormonal pode se modificar com o tempo após o TCE. De fato, anormalidades durante a fase aguda podem reverter, enquanto novos distúrbios hormonais podem surgir até 6 meses após o TCE. (VILAR, 2020). Hipopituitarismo funcional ↠ O termo hipopituitarismo funcional tem sido utilizado para os casos em que não haja lesão orgânica hipotalâmico-hipofisária, sendo potencialmente reversível com a eliminação do fator desencadeante (VILAR, 2020). Hipopituitarismo induzido por medicamentos ou drogas ilícitas ↠ Algumas medicações (p. ex., inibidores do checkpoint imune, interferon-α etc.) podem causar hipofisite e hipopituitarismo. Disfunção hipotalâmico-hipofisária pode também acontecer após quimioterapia de tumores não localizados no SNC. Entre 31 pacientes, 81% tinham deficiência de GH, deficiência de TSH, puberdade precoce e/ou deficiência de gonadotrofinas. Deficiência de GH e/ou de TSH estava presente em cerca de metade dos casos. Infarto hipofisário induzido pelo uso de cocaína já foi relatado (VILAR, 2020). QUADRO CLÍNICO ↠ O quadro clínico e as complicações do hipopituitarismo dependem da etiologia, do tipo e da gravidade da insuficiência hormonal (VILAR, 2020). 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck A reserva funcional da hipófise é grande, e as manifestações clínicas do hipopituitarismo são evidentes apenas quando ocorre o comprometimento de, pelo menos, 75% de seu parênquima (VILAR, 2020). ↠ As deficiências na secreção dos hormônios hipofisários manifestam-se, em geral, na seguinte ordem: gonadotrofinas (hormônio luteinizante [LH], hormônio foliculestimulante [FSH]), hormônio do crescimento (GH) ou somatotrofina, hormônio tireoestimulante (TSH), seguido de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e, por último, prolactina (PRL) (VILAR, 2020). OBS.: Embora a deficiência de hormônio de crescimento possa ocorrer em até 60% dos pacientes com hipopituitarismo, em um adulto, essa deficiência não tende a causar os mesmos sintomas notáveis, em comparação com a baixa estatura observada em crianças. Na deficiência de múltiplos hormônios, as manifestações na idade adulta podem ser sutis, como alterações cutâneas, diminuição da função sexual, redução da massamuscular e aumento da massa adiposa (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ Pacientes com lesões hipotalâmico-hipofisárias podem apresentar sintomas compressivos, caracterizados por cefaleia (compressão da dura-máter ou hipertensão intracraniana), alterações de campo visual (compressão do nervo óptico), paralisias de nervos periféricos (extensão lateral da lesão) ou relativos à deficiência hormonal. Em relação à deficiência hormonal, o quadro clínico é variável e depende do grau de comprometimento da glândula e da época em que a doença surgiu (VILAR, 2020). Deficiência de GH Na criança, a DGH manifesta-se por diminuição na velocidade de crescimento, baixa estatura, implantação anômala dos dentes, micropênis, hipoglicemia, lipodistrofia abdominal, hipotrofia muscular. No adulto, caracteriza-se por fraqueza, depressão, osteoporose, labilidade emocional, redução da massa magra e da capacidade para o exercício, aumento da massa gorda (com distribuição predominante no tronco), esteatose hepática, aumento do LDL-colesterol e aumento do risco de doença cardiovascular. A maior morbimortalidade cardiovascular em adultos com DGH deve-se, pelo menos em parte, à alta prevalência de síndrome metabólica nesses pacientes (VILAR, 2020). Deficiência de gonadotrofinas A deficiência de gonadotrofinas ocorre de modo precoce no curso do hipopituitarismo. Quando surge antes da puberdade, os pacientes não apresentam os caracteres sexuais secundários. Após esse período, as principais manifestações clínicas na mulher são amenorreia secundária, perda da libido, atrofia mamária, dispareunia, osteoporose e infertilidade. No homem, o quadro clínico caracteriza-se por redução da massa muscular, astenia, atrofia testicular, ginecomastia, redução do líquido ejaculado e azoospermia (VILAR, 2020). Deficiência de TSH Ocorre no momento em que o curso do hipopituitarismo já está bem avançado e tem como manifestações mais marcantes: astenia, sonolência, intolerância ao frio, pele seca e descamativa, voz arrastada, hiporreflexia profunda, edema facial, anemia e bradicardia. Entretanto, muitos pacientes são assintomáticos ou oligossintomáticos. Pacientes com deficiência de TSH tendem a ter menor riqueza de sintomas do que aqueles com hipotireoidismo primário. Isso se deve ao fato de que 10 a 15% da função tireoidiana não dependem do TSH (VILAR, 2020). Deficiência de ACTH A deficiência de ACTH leva à perda da estimulação das camadas fasciculada e reticular das glândulas adrenais, o que prejudica a secreção de glicocorticoides (sobretudo o cortisol) e androgênios. A secreção de mineralocorticoides permanece íntegra, pois é regulada principalmente pelo sistema renina-angiotensina-aldosterona; portanto, são incomuns os sintomas referentes a distúrbios hidreletrolíticos graves. As principais manifestações clínicas são fraqueza, astenia, anorexia, perda de peso, hipotensão postural leve, hipoglicemia e, somente em casos mais graves, hiponatremia (VILAR, 2020). Deficiência de prolactina É bastante rara, pois ocorre apenas quando a hipófise anterior é completamente destruída (p. ex., após apoplexia) ou em pacientes com deficiência congênita de prolactina. É raro surgir após cirurgia e radioterapia da região hipotalâmico-hipofisária. Quando presente, está associada à deficiência grave de outros hormônios, e o principal sinal clínico é a incapacidade para a lactação (VILAR, 2020). DIAGNÓSTICO ↠ A avaliação diagnóstica do paciente com suspeita de hipopituitarismo deve determinar: (VILAR, 2020). • a presença, o tipo e o grau de deficiência hormonal; • a etiologia; • a presença de alterações visuais. ↠ Um rastreamento inicial da função hipofisária pode ser realizado a partir das dosagens basais dos hormônios hipofisários e/ou das glândulas-alvo (VILAR, 2020). O diagnóstico de hipopituitarismo em pacientes com massas hipofisárias secretoras ou não secretoras envolve habitualmente uma combinação de exames de sangue estáticos e de estimulação. Embora se disponha de múltiplos testes, cada um deles tem suas vantagens e desvantagens, e a escolha do exame pode depender da idade do paciente e do contexto clínico. Algumas vezes, podem ser realizados múltiplos exames caso os resultados de um deles sejam equivocados (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck Deficiência de TSH Níveis baixos de TSH e tiroxina (T4) livre confirmam o diagnóstico de hipotireoidismo central. Entretanto, em alguns indivíduos acometidos, o TSH pode estar normal ou ainda discretamente elevado (em geral, 15 a 18 μg/dℓ virtualmente exclui IA. A maioria dos autores recomendam que se faça um teste de estímulo diante de valores de cortisol sérico entre 3 e 5 até 15 a 18 μg/dℓ. O padrão-ouro é o ITT, no qual o cortisol e a glicemia são dosados 30 e 60 minutos após a administração intravenosa de insulina Regular (0,1 U/kg) (VILAR, 2020). No ITT, um pico de cortisol 65 anos) nem pacientes com doença cardiovascular, cerebrovascular ou história de convulsões. Como alternativa mais segura, pode-se utilizar o teste de estímulo com ACTH sintético (Cortrosina), em que se administram 250 μg da substância por via intravenosa ou intramuscular e dosa-se o cortisol sérico após 30 e 60 minutos. Um pico do cortisol↠ O hiperpituitarismo surge da secreção excessiva de hormônios tróficos. Ele resulta, mais frequentemente, de um adenoma da hipófise anterior, mas também pode ser causado por outras lesões hipofisárias e extra-hipofisárias. ETIOLOGIA Tumores hipofisários ↠ A proliferação clonal dos diferentes tipos de células na hipófise resulta em formação de tumores. Embora a base molecular dessa proliferação clonal não esteja bem elucidada, os tumores hipofisários são clinicamente classificados como “funcionantes”, para indicar que eles 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck produzem um ou mais hormônios em excesso, ou “não funcionantes”, para indicar que eles não produzem hormônio em excesso no sangue. Como os tumores funcionantes não apresentam, em sua maioria, um mecanismo de retroalimentação fisiológica apropriada em virtude de sua natureza oncológica, eles habitualmente secretam hormônio(s) em excesso, causando uma variedade de síndromes clínicas (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). • Os prolactinomas, que podem responder por até 50% dos tumores hipofisários, são provavelmente causados quando a proliferação do lactotrofo resulta em excesso de prolactina e ocorrência subsequente de galactorreia e hipogonadismo (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). • Os somatotrofos, que produzem hormônio de crescimento; os corticotrofos, que produzem ACTH; e os gonadotrofos, que sintetizam LH e FSH, são, em seu conjunto, responsáveis por 10 a 20% dos adenomas (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). OBS.: O tamanho do tumor é habitualmente proporcional à quantidade de hormônio que ele produz quando ativo. Dependendo da gravidade da perturbação clínica provocada, certos tumores são habitualmente diagnosticados mais precocemente e, portanto, são, em geral, menores do que outros por ocasião do diagnóstico. Assim, por exemplo, os gonadotropinomas são habitualmente diagnosticados como macroadenomas, visto que os sintomas que eles produzem são, em geral, mais sutis do que aqueles dos tumores secretores de TSH, cujos sintomas aparecem precocemente, e os tumores são habitualmente menores no momento do diagnóstico (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ Além de sua classificação como funcionantes e não funcionantes, os tumores também são classificados pela sua anatomia, com base nos exames de imagem: os microadenomas têm menos de 10 mm de diâmetro, enquanto os macroadenomas medem mais de 10 mm de diâmetro (e, normalmente, com extensão extrasselar) (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). EXCESSO DE HORMÔNIO DE CRESCIMENTO: ACROMEGALIA E GIGNTISMO ↠ A acromegalia é uma doença caracterizada por excesso de crescimento e alterações metabólicas causadas pela proliferação de somatotrofos hipofisários e secreção excessiva do hormônio de crescimento. Se não for tratada, a acromegalia resulta em desfiguração acral e facial visível, doença cardíaca, câncer, anormalidades metabólicas, incluindo diabetes melito e aumento da mortalidade (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ATENÇÃO: Quando se desenvolvem na infância ou adolescência, antes da fusão das placas epifisárias, apresentam-se com o fenótipo de gigantismo; quando o excesso de GH ocorre na vida adulta, desenvolve-se a acromegalia (VILAR, 2020). ETIOLOGIA: Aproximadamente 98% dos pacientes com acromegalia albergam um adenoma hipofisário secretor de GH (somatotropinoma), que pode ser um adenoma de células puras de GH ou um adenoma misto, com células de GH e prolactina (PRL). Cerca de 80% desses adenomas são macroadenomas (≥ 10 mm) por ocasião do diagnóstico. Muito raramente, a acromegalia resulta de hipersecreção de GHRH, hipotalâmica ou ectópica (cerca de 2% dos casos) (VILAR, 2020). Iatrogenia: Características acromegálicas (p. ex., aumento do tamanho dos pés, nariz e mandíbula) podem aparecer durante a administração exógena de GH em indivíduos sem deficiência do hormônio, com o intuito de melhorar o desempenho atlético ou como tratamento antienvelhecimento (VILAR, 2020). Quadro clínico ↠ Acromegalia é um distúrbio insidioso, com progressão gradual dos sinais e sintomas, os quais podem resultar de: (VILAR, 2020). • compressão do tumor sobre as estruturas adjacentes (cefaleia, distúrbios visuais ou hipopituitarismo); • exposição prolongada e excessiva ao GH (aumento das mãos e dos pés, alterações cutâneas, modificações fisionômicas e manifestações musculoesqueléticas, osteoartrite, síndrome do túnel do carpo, apneia do sono); • complicações (cardiovasculares, respiratórias, endócrinas, metabólicas e neoplásicas) resultantes do excesso de GH. ↠ As modificações fisionômicas na acromegalia se caracterizam por alargamento do nariz, aumento dos lábios, crescimento exagerado da mandíbula com prognatismo (causando separação dos dentes e má oclusão dentária), macroglossia, aumento dos arcos zigomáticos e fronte proeminente (VILAR, 2020). 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck Não raramente o diagnóstico da acromegalia é estabelecido de modo casual ou a partir das complicações da doença (VILAR, 2020). Diagnóstico ↠ Como o estresse, o exercício e o sono causam aumentos fisiológicos dos níveis séricos do hormônio de crescimento, a medição do nível de IGF-I (que apresenta uma boa correlação com a secreção diária do hormônio de crescimento e com a atividade da doença), após um teste de tolerância à glicose oral de 75 g de 2 h, fornece melhor índice integrado da produção do hormônio de crescimento e constitui maneira mais útil de proceder ao rastreamento para acromegalia (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ Na acromegalia, a administração de glicose não irá suprimir os níveis do hormônio de crescimento para valores inferiores a 1 ng/mℓ por um imunoensaio de anticorpo policlonal ou abaixo de 0,4 ng/mℓ por um ensaio imunorradiométrico quimioluminescente. A resposta a uma carga de glicose também é útil para determinar a eficácia da terapia, visto que ela deve se normalizar rapidamente após a normalização dos níveis do hormônio de crescimento. Deve-se medir a secreção concomitante de prolactina, visto que uma porcentagem considerável de tumores cossecretam hormônio de crescimento e prolactina, e esses achados apresentam implicações no tratamento clínico com agonistas da dopamina (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Uma vez estabelecido o diagnóstico de acromegalia com base em uma avaliação endocrinológica completa, deve-se obter uma RM para definir a extensão do crescimento do tumor. OBS.: O diagnóstico de gigantismo deve ser considerado em crianças que estejam mais de três desvios padrões acima da altura média para a idade ou mais de dois desvios padrões além da altura ajustada em relação à dos pais (VILAR, 2020). Tratamento Os objetivos do tratamento consistem em reduzir o tamanho do tumor, prevenir seus efeitos expansivos e eliminar sua função, reduzindo a morbidade e a mortalidade a longo prazo, que resultam da produção excessiva do hormônio de crescimento. Em geral, o tratamento é bem-sucedido, visto que é capaz de reverter muitas anormalidades dos tecidos moles, bem como o diabetes melito e outros distúrbios metabólicos. Entretanto, as alterações acrais são habitualmente interrompidas, de modo que é possível prevenir a desfiguração física, em vez de corrigi-la. Embora qualquer redução nos níveis de hormônio de crescimento possa melhorar os sintomas, a meta é normalizar os níveis do hormônio de crescimento e de IGF-I, prevenir a recrudescência do tumor e evitar precipitar o hipopituitarismo. Em geral, a cura é definida pela normalização dos níveis sanguíneos de amostras aleatórias, bem como dos níveis após a realização de teste provocativo, como teste de tolerância à glicose oral (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ O tratamento clínico para a acromegalia inclui análogos da somatostatina (octreotida, lanreotida e pasireotida), agonistas da dopamina (p. ex., cabergolina) e um agonista do receptor do hormôniode crescimento (pegvisomanto). Os análogos da somatostatina podem ser utilizados como terapia adjuvante quando a cirurgia ou a radioterapia não curam o tumor, ou como terapia primária quando a cura cirúrgica não é possível, como nos casos em que o tumor invadiu o seio cavernoso (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). HIPERPROLACTINEMIA ↠ Entre as causas de elevação dos níveis de prolactina, destacam-se os medicamentos que antagonizam a ação da dopamina ou que aumentam a atividade das endorfinas ou da serotonina. Esses mecanismos resultam em hiperprolactinemia leve (à glicose ou diabetes melito flagrante, dependendo da elevação absoluta do nível de cortisol, bem como de sua cronicidade. Os níveis elevados relativamente constantes de cortisol não seguem a variação diurna fisiológica. Outro achado na doença de Cushing dependente de ACTH consiste na hiperpigmentação, devido ao hormônio estimulante dos melanócitos (MSH), que é secretado juntamente com o ACTH pelo adenoma. Embora a hiperpigmentação não seja tão pronunciada quanto aquela observada na doença de Addison (em que os níveis de ACTH são habitualmente 10 a 100 vezes mais altos) nem no hipercortisolismo ectópico, ela é certamente mais acentuada do que aquela que ocorre nas causas de síndrome de Cushing independentes de ACTH. A hipertensão, que é comum, é causada pela capacidade direta do ACTH de estimular a secreção de mineralocorticoides pelo córtex suprarrenal, bem como pelo excesso de glicocorticoides. O excesso de mineralocorticoides também leva frequentemente a caliurese e hipopotassemia (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Diagnóstico ↠ A maioria dos pacientes com obesidade, hipertensão e intolerância à glicose ou diabetes não apresentam síndrome de Cushing, porém há achados físicos clássicos, que podem sugerir a necessidade de maior investigação. Não existe nenhum exame complementar único que possa confirmar o diagnóstico de doença de Cushing, porém um conjunto de resultados de exames habitualmente determina a sua existência. O primeiro passo, que frequentemente é o mais difícil, consiste em documentar o hipercortisolismo (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Medição do nível sérico de cortisol A confirmação do hipercortisolismo pela determinação de um nível sérico de cortisol aleatório representa um desafio, visto que o 80% do cortisol sérico estão ligados à globulina de ligação do cortisol, 10% estão ligados à albumina, e apenas 10% estão livres. Por conseguinte, as alterações na globulina de ligação do cortisol (p. ex., durante a gravidez) e na albumina podem afetar a medição do cortisol. Embora a cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas em tandem (LC-MS/MS) tenha altas sensibilidade analítica e especificidade, um nível sérico aleatório raramente é considerado diagnóstico, em virtude da secreção episódica de cortisol (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Medição do cortisol livre na urina de 24 horas Uma amostra de urina de 24 horas adequadamente coletada para determinação do cortisol livre urinário evita as flutuações que tornam os níveis séricos de cortisol pouco confiáveis e é segura o suficiente, de modo que a obtenção de um nível elevado de cortisol livre na urina em um paciente não estressado com função normal é, em geral, suficiente para estabelecer o diagnóstico de síndrome de Cushing. Por outro lado, um resultado normal fornece uma forte evidência contra esse diagnóstico. Entretanto, devido a variações biológicas, bem como a problemas relacionados com a coleta excessiva ou insuficiente de urina, esse teste não é ideal para o rastreamento inicial da síndrome de Cushing (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Medição do cortisol salivar à noite O teste do cortisol salivar à noite (23h a 0h) está sendo cada vez mais utilizado como exame inicial para avaliar pacientes com suspeita clínica de síndrome de Cushing. A sensibilidade diagnóstica desse teste é alta (80 a 90%), porém sua especificidade é mais baixa (70 a 90%). Entretanto, trata-se de um exame de rastreamento satisfatório em virtude de sua excelente sensibilidade (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). 16 Júlia Morbeck – @med.morbeck Determinação do ACTH plasmático As medições do ACTH, embora estejam sujeitas à mesma variabilidade circadiana dos níveis de cortisol, não dependem dos efeitos da globulina de ligação do cortisol. Níveis de ACTH superiores a 100 pg/mℓ são sugestivos de insuficiência suprarrenal primária, enquanto valores acima de 500 pg/mℓ são diagnósticos. A baixa concentração plasmática de ACTH não é diagnóstica, exceto para os níveis indetectáveis observados nos adenomas suprarrenais produtores de cortisol. A concentração plasmática de ACTH também está baixa em pacientes em uso de esteroides exógenos (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Teste de supressão com dexametasona Foram descritas pelo menos cinco variações do teste de supressão com dexametasona. Todas as versões exigem a administração de dexametasona pelo paciente em horas inconvenientes do dia (23h) ou até 4 vezes/dia. As amostras exigem a coleta de urina de 24 horas ou a ida ao consultório do médico ou laboratório às 8h da manhã para múltiplas coletas de sangue (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Uma opção popular consiste em uma dose única de 1 mg de dexametasona administrada às 23h, com obtenção de uma amostra de sangue na manhã seguinte, às 8h. A resposta normal consiste em concentração sérica de cortisol inferior a 1,8 μg/dℓ. Um ponto de corte alternativo, inferior a 5 μg/dℓ, é mais específico, porém menos sensível. Se o nível de cortisol ultrapassar 10 μg/dℓ, a probabilidade de hipercortisolismo é alta. Pacientes com macroadenomas secretores de corticotropina ou com tumores muito ativos podem apresentar níveis de cortisol livre na urina superiores a 1.000 μg/dℓ e necessitarão de doses mais altas de dexametasona para confirmar a supressão e excluir a possibilidade de produção ectópica de ACTH (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Teste de estimulação com CRH O teste de estimulação com CRH é um dos mais sensíveis para determinar a existência de alguma anormalidade no eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal e para diagnosticar a etiologia do hipercortisolismo na síndrome de Cushing dependente de ACTH. As concentrações médias de ACTH 15 e 30 minutos após a administração de CRH devem aumentar em pelo menos 35% acima do valor basal médio em pacientes com doença de Cushing, mas não naqueles com secreção ectópica de ACTH. Essa medida proporciona as melhores sensibilidade (93%) e especificidade (100%) (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). RM O próximo passo mais adequado na avaliação de pacientes com hipercortisolismo documentado (i. e., ausência de supressão com dexametasona em baixa dose e hiperestimulação com CRH) consiste na realização de RM para confirmar a existência de massa hipofisária. Infelizmente, 10% de todos os indivíduos normais podem exibir pequenas anormalidades da hipófise na RM, e muitos pacientes com doença de Cushing podem apresentar tumores muito pequenos para serem detectados na RM. Entretanto, submeter um paciente a uma exploração cirúrgica da hipófise na ausência de massa demonstrável tende a levar a uma cirurgia sem sucesso (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Cateterismo do seio petroso inferior Se a supressão com dexametasona e o teste com CRH forem equívocos, deve-se efetuar o cateterismo do seio petroso inferior para confirmar a fonte hipofisária de ACTH. Embora esse exame seja menos confiável na lateralização da fonte de ACTH (i. e., esquerda versus direita) do que na confirmação de que o ACTH é de origem central, ele pode excluir a possibilidade de produção ectópica de ACTH por um tumor. Todavia, ele habitualmente não consegue distinguir um tumor secretor de CRH ectópico de uma doença de Cushing verdadeira (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). Tratamento ↠ A cirurgia transesfenoidal oferece a melhor chance de cura de um adenoma secretor de ACTH. São observadas recorrências em 7% dos casos, quando o nível plasmático de cortisol no pós-operatório imediato é inferior a 3 μg/dℓ, em comparação com 100% quando o nível de cortisol pós-operatório é de 3 a 8 μg/dℓ. Em pacientes com doença de Cushing e macroadenomas, apenas cerca de um terço apresenta remissão a longo prazo. Quando a cirurgia inicial não tem sucesso, a realização de uma segunda cirurgia de hipófise apresenta uma taxa de sucesso de apenas cerca de 50% (GOLDMAN; SCHAFER, 2022). ↠ A radiação da hipófise ou a suprarrenalectomia bilateral podem ser recomendadas em pacientes que apresentam