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RELIGIÕES TRIBAIS 
AULA 6 
 
Prof. Itamar Marques da Silva 
 
RELIGIÕES TRIBAIS: TRADIÇÕES LOCAIS E ESTRANGEIRAS 
 
CONVERSA INICIAL 
Caríssimo(a) discente, seja bem-vindo(a) ao nosso sexto e último tema 
das religiões indianas. A Índia é como uma grande esponja que mantém as 
primeiras águas, mas consegue absorver sempre mais sem perder as primeiras 
águas. Na nossa primeira aula, destacamos a capacidade cultural de manter a 
essência e ainda aderir outros elementos. Sem dúvidas essa pluralidade faz da 
Índia um caldeirão cultural e religioso. 
“Considerada o caldeirão das religiões, a Índia apresenta 
uma notável presença de tradição religiosa estrangeiras, 
que, ao longo dos séculos, entraram na região, assim como 
também se destacam as tradições tribais, que eram 
anteriores ao hinduísmo e ao budismo.” (ANDRADE, 2020, 
p. 134) 
Nesta aula, trataremos de dois tipos de religião na Índia. Como você já 
deve ter percebido, o pluralismo, que falávamos na primeira aula, é uma 
realidade muito forte na Índia. Diante de múltiplas faces, olhares e pensamentos, 
o sentido do divino também é plural, de modo que pequenos grupos mantenham 
espiritualidades muito antigas e outros não se encaixem com nada do local, 
percebendo nas religiões estrangeiras o sentido do divino. 
 Portanto, queremos trazer essas duas peculiaridades que não se 
encaixam nos milhões de deuses hindus, nem no único Deus da religião Sikhs, 
e nem na inexistência de deus dos Jains. Abordaremos nessa aula as tradições 
tribais e também algumas religiões estrangeiras que, atravessaram os montes e 
chegaram no vale sagrado, encontrando na Índia um espaço de acolhida diante 
da pluralidade. 
Você lembra da nossa primeira aula, quando descobrimos, entre as mais 
variadas curiosidades sobre a Índia, que a tribo mais isolada do mundo, os 
sentinelenses, pertence a Índia. Pois é. Já se perguntou qual é a percepção do 
divino para eles? Infelizmente essa resposta não será possível, pois nem os 
indianos conseguem estabelecer um contato com eles. Mas isso é só para 
ilustrarmos e dizermos que além deles existem muitos povos tribais pela Índia. 
Diferente dos sentinelenses, existem outras tribos que possuem relações para 
além dos integrantes de modo que possamos entender as suas percepções do 
divino e estrutura religiosa. Quer entender sobre elas? Nessa aula abordaremos 
esse assunto. 
Andrade (2020) destaca que antes dos arianos chegarem ao 
subcontinente indiano, existiam as tradições primitivas, com suas cosmovisões 
mais frágeis, voltadas mais para o mundo agrícola. Ainda existem essas 
tradições em alguns locais, vivendo e desenvolvendo suas atividades religiosas. 
Uma boa parte dessas tribos aderiu às grandes tradições estrangeiras, como 
judaísmo, islamismo e cristianismo. Isso se deu devido, ao que já mencionamos 
em aulas passadas, as rotas comerciais e os domínios que a Índia viveu. 
Algumas regiões da Índia possuem características religiosas bem 
peculiares, o caso da Caxemira, que hoje vive em conflito, é um exemplo de 
como a religião estrangeira ocuparam espaços significativos. A região da 
Caxemira pertencente a Índia possui uma população majoritariamente 
mulçumana. Quer entender como isso aconteceu? Iremos explicar nessa aula. 
Certamente, você já tinha visto nas aulas passadas sobre o império 
Mongol e a influência mulçumana que deixou essa herança na Índia. Mas em 
relação ao cristianismo não demos tantas pistas. Talvez você esteja pensando 
nas navegações. De certa forma você está certo, mas há evidências que o 
cristianismo chegou bem antes. Quer saber como? Nessa aula você descobrirá. 
 Ao longo dessa aula, queremos analisar as formas com que essas 
tradições encontram seu lugar. Desejamos-lhe uma ótima viajem nesse universo 
da pluralidade religiosa na Índia. Vamos lá? 
 
TEMA 1 – Religiões tribais da Índia central. 
 
Caro(a) discente, como mencionamos no tópico anterior, alguns povos 
tribais receberam fortes influências externas de modo que adaptaram ou 
mudaram completamente de religião. Outras tribos, principalmente as mais 
isoladas, se mantiveram intactas em seu modelo religioso. Andrade constata 
esse fato dizendo que: 
“Algumas tribos que permaneceram isoladas em regiões remotas 
conseguiram preservar crenças e práticas sem receber influência de religiões 
estrangeiras, ao passo que tribos localizadas nas regiões planas tiveram 
dificuldades em preservar as próprias tradições” (ANDRADE, 2020, p.135). 
Existem centenas de tribos na Índia, espalhadas em diversos cantos, mas, 
na atualidade, a concentração se dá na parte central e nordeste da Índia. Na 
parte central, encontramos duas tribos significantes: Gond e Bhil. Essas duas 
tribos carregam a característica do “deus do vale1”, a adoração aos elementos 
da natureza são características da presença do divino em tudo. 
De acordo com Andrade (2020), a tribo Gond tem a veneração à Terra-
mãe e outras divindades da montanha do rio, dos lagos e espíritos ancestrais. A 
terra-mãe é responsável por trazer a fecundidade e desenvolver a vida. A tribo 
Gond preserva suas mais antigas tradições de adoração à natureza. O nome da 
religião nativa da tribo é Koyapunem, que foi fundada por Pari Kupar. Houve uma 
tentativa de aproximação com o hinduísmo, mas: 
“Os 'Gonds' não foram anexados ao hinduísmo, pelos 
hindus, pois eram diferentes dos povos hindus e dos 
intocáveis. O hinduísmo não os considerava intocáveis; nem 
tinham sido marginalizados em qualquer outra religião. No 
entanto, o pano de fundo do hinduísmo pode ter existido no 
início da vida religiosa dos 'Gonds'. Os ‘Gonds’ são 
principalmente animistas. O animismo está centrado na 
 
1 Termo utilizado pelo Dr. Joachim Andrade para definir as percepções do divino a partir do 
contexto geográfico. 
crença de que entidades não humanas possuem algum tipo 
de princípio vital” (KORETI, 2015, p.87, tradução nossa). 
A tradição tribal Gond, possuem alguns deuses, mas como Andrade 
(2020) menciona, eles não possuem uma ordem hierárquica. São eles: Mata Kali 
Kankali que, de acordo com Patankar (2016),é a mãe ancestral dos 
antepassados da tribo. Ela está associada a Mahakali. Outro deus dos povos 
tribais Gond é Dulha-Pen, que de acordo com Koreti (2015), é o deus do noivo, 
sendo representado em uma pedra a imagem de um homem montado em um 
cavalo ou um machado de batalha. 
Existem alguns deuses que são incorporados a religião, como menciona 
Andrade (2020) a deusa Yama, como a deusa que provê na natureza as 
condições de subsistência. Koreti (2015) lembra que o deus Bhivsen ou Bhimal, 
é reconhecido como deus da força e da terra. Ele é associado aos elementos da 
natureza como as rochas, montanhas e rios. Além disso, existem colinas e 
rochas que são considerados locais de morada do deus Bhivsen. 
Além desses deuses mencionados, Koreti (2015) menciona: Nat Awal ou 
Dharti Mata, a deusa da fertilidade. Bhum, a terra e a mãe da humanidade. Nat 
Auwal, a deusa mãe da aldeia. Ela é invocada quando a aldeia participa de uma 
cerimônia, de rituais sazonais a orações contra desastres. Thakur Deo, o 
guardião masculino da aldeia. Hulera-Pen, a protetora do gado. Maitya-Pen, o 
demônio dos redemoinhos. Narayan-Pen, o deus do sol. Kodapen, o deus 
cavalo. Maswasi Pen, o deus da caça. Kanya, os espíritos da água. 
Existem poucos ritos na religião da tribo Gond, no entanto, como afirma 
Andrade (2020), os deuses são venerados constantemente. Koreti (2015) afirma 
que nos rituais, três pessoas são importantes, o baiga, (sacerdote da aldeia), o 
bhumka (sacerdote do clã) e o kaser-gaita (líder da aldeia). 
 “Durante os festivais, sacerdotes vestem-se com penas de 
pavão e máscara para interpretar dramas sobre figuras 
míticas e, em seguida, entram em transe, atuando como 
oráculos e médiuns, para que os deuses possam comunicar-
se diretamente com a comunidade” (ANDRADE, 2020, 
p.138). 
Assim comono Jainismo, existe um princípio de não violência na religião 
Gond, esse princípio é chamado de munjok , que, de acordo com Koreti (2015), 
significa não violência, cooperação e autodefesa. No entanto, diferente do 
jainismo, essa não violência não inibe a alimentação com proteínas animais. 
Aliás, os Gonds vão além da alimentação com proteínas, pois, de acordo com 
Andrade (2020), as cerimônias Gond contam com sacrifícios de animais. 
Por fim, há uma crença em uma substância da vida (Jiv), quando essa é 
tirada o ser humano morre para ir para junto dos deuses. A reverência à arvores, 
pedras e outros elementos da natureza podem indicar uma veneração ao 
ancestral que está junto com os deuses. Koreti (2015) explica essa relação com 
o sepultamento que era muito comum na tribo. Atualmente a prática da cremação 
tem permeado os costumes dos Gonds. 
 Por sua vez, a tribo Bhil possui duas divindades mais importantes: 
Waghdeo, divindade do Tigre, e Nandeo, divindade da agricultura. Essa tribo 
possui suas origens nas florestas profundas, seus integrantes eram hábeis na 
arte da caça, atirando com precisão. Esse fato está atrelado ao nome Bhil, que 
significa atiradores com arco. 
Durante o domínio do império Mongol, esses povos tribais foram 
empregados em trabalhos que envolviam técnicas de plantio e colheitas, 
enquanto outros foram selecionados para guerreiros do exército. Essa relação 
com o império trouxe uma mescla religiosa com o islamismo que posteriormente 
foi complementada com o cristianismo. Atualmente a tribo Bhil possui uma dupla 
pertença religiosa. De acordo com Andrade: “O conteúdo religioso dessa tribo 
mescla animismo e hinduísmo, e muitos de seus integrantes são mulçumanos e 
cristãos” (ANDRADE, 2020, p.138). 
Antes do império mulçumano, essa tribo possuía uma infinidade de 
divindades relacionadas com a natureza, mas “com o passar do tempo, foi 
absorvido por deuses hindus” (ANDRADE, 2020), que receberam atualizações 
em suas compreensões. 
Em relação a morte, os Bhils, faziam como os Gonds, sepultando seus 
mortos, mas a prática da cremação tem substituído esse costume. Para esse 
povo há vida após a morte. Alguns tornan-se espíritos bons de proteção e outros 
tornam-se espíritos que causam maldades. Esses traços estão presentes nessa 
tribo que entrelaça com sua raiz os elementos do hinduísmo, cristianismo e 
islamismo. 
 
TEMA 2 – Religiões tribais do nordeste e sul da Índia. 
O nordeste da Índia foi o terreno fértil das tradições tribais. Vamos 
conhecer sobre as tradições mais importantes: Santal, espalhada na região de 
Kolkolta, a tribo Abor, na fronteira com Myanmar, e a tribo no sul - a Todar, que 
possui, também, suas especificidades nas práticas ritualísticas. 
A tribo Santal é mais estudada pelos antropólogos, pois desenvolve suas 
práticas religiosas animistas, que envolvem os ídolos malignos e benignos. 
Atualmente a Índia elegeu a sua segunda presidente, dessa vez, trata-se de uma 
mulher, Draupadi Murmu, líder da tribo Santal. A tribo possui uma população de 
7 milhes2 de pessoas. 
A tribo Santal sofre bastante discriminação por suas crenças e prática 
nada comuns. A tribo pratica uma espécie de bruxaria trabalhando com espíritos 
(bongas) bons e maus simultaneamente. Andrade (2020) menciona que alguns 
rituais de curandeirismo são realizados com o próprio sangue do curandeiro. 
Thakurji é a divindade suprema da religião Santal, o principal espírito é 
Maran Buru que quer dizer a montanha alta3. Esse espírito é superior entre os 
demais que trazem a benevolência para a tribo. A determinação da tribo em 
manter as tradições, faz com que elementos se mantenham fortes sem 
interferências de outras tendências. 
A morte é vista pelos membros da tribo Santal como uma forma de tornar-
se um bom espírito. Para isso existe um ritual pós morte bem longo. De acordo 
com Andrade: 
“Quando alguém morre, o falecido é enterrado, entretanto 
não há caixão. O morto é embrulhado em um pano e 
colocado diretamente na terra para possibilitar que ocorra 
uma rápida decomposição. Após um período, alguns dos 
ossos são recolhidos e mantidos por um tempo sob o teto da 
 
2 O texto de Andrade em 2020 menciona 5 milhões. Os dados em 2022 apontam para 7 milhões. 
3 Em Andrade (2020, p.136), o termo refere-se a montanha grande. 
casa dos familiares e são regularmente levados para serem 
“alimentados” ritualmente com leite, cerveja de arroz e água 
sagrada, além de receberem flores” (ANDRADE,2020, 
p.137). 
Esses ossos passam por esse ritual, mas não permanecem para sempre 
com a família. Existe uma segunda etapa que ocorre com esses ossos que é a 
imersão deles em águas para que o espírito se torne bom. Além da imersão em 
águas, geralmente de um rio, Andrade (2020) menciona o sacrifício de um bode, 
como expiação. Essa riqueza ritualística pode perder o sentido se a prática da 
cremação se tornar comum na tribo. 
 
A tribo Abor, por sua vez, é uma tribo que está, geograficamente, no 
extremo nordeste indiano, divisa da China e de Myanmar. Essa tribo também 
realiza rituais com sacrifícios de animais, tendo, também, a crença nos espíritos 
maléficos e bons. A divindade dessa tribo é os rios. 
Assim, seus integrantes temem os rios principais da região, Nippongs 
(sinônimo de espíritos das águas associado com as mulheres que morreram 
durante a gravidez), Epon – considerado o pai dos maus espíritos, e outros rios 
– associados com as almas de pessoas que morreram de forma não natural ou 
que não foram enterradas conforme os costumes ritualísticos. (ANDRADE, 2020, 
p. 140) 
A citação de Andrade evidencia que a prática ritualística do pós morte é, 
de alguma forma, parecido com costumes de outras tribos, pois na essência não 
está a prática da cremação. No entanto, também há indícios que, na atualidade, 
os elementos dessa tribo estão se enfraquecendo com o foco na industrialização 
(Andrade, 2020), perdendo muitos dos elementos voltados a conexão com a 
natureza e as práticas ritualística, inclusive a prática do sepultamento. 
Nessa tribo, também, existe a crença da vida após a morte, de modo que 
as duas vidas possuem semelhanças. Existem, de acordo com Andrade (2020) 
dois tipos de sacerdotes na tribo, os que curam e aqueles que adivinham as 
coisas. Isso é devido a conexão com o espírito de Benji Bama que é considerado 
o controlador do destino humano, ele é quem determina tudo no cotidiano e na 
hora da morte. 
Já a tribo Todar, está localizada na região montanhosa de Nilgiri ao sul do 
território indiano. A relação de vida e morte é algo muito forte entre eles. Os 
membros da tribo Todar, de acordo com Andrade (2020), acreditam em dois 
mundos, dos vivos e dos mortos. Esses dois mundos são regidos por deuses 
diferentes. Enquanto a deusa do mundo dos vivos, Tokisy4, habita nas 
montanhas, o seu irmão, governa o mundo dos mortos. 
O Buffalo é tido como um animal sagrado na tribo, aliás, ele é 
hierarquicamente o mais sagrado entre todos. Os rituais e o modo de vida dessa 
tribo estão relacionados diretamente com o búfalo. Isso se dá, pois, a 
subsistência nessa região dependia de alguns animais, além disso, a tribo Todar 
acredita que a deusa Teikirsy e seu irmão criaram primeiramente alguns animais, 
especialmente o búfalo sagrado, para depois criarem o ser humano. Na criação 
humana há um fato bem parecido com algumas narrativas cristãs, pois, de 
acordo com Chhabra (2001), a tribo Todar acredita que a primeira mulher foi 
criada a partir da costela direita do primeiro homem. 
As pessoas que cuidam dos búfalos são os sacerdotes da tribo. Essa 
pessoa possui o status mais alto, mas também segue algumas restrições, pois 
ele foi proibido de atravessar pontes enquanto estiver no cargo. Ele precisa 
atravessar rios a pé, ou nadando. Outra curiosidade é que as pessoas da tribo 
andam descalços. 
Essa tribo já possui como prática antiga o ato da cremação paraque o 
corpo se desintegre com a natureza. Durante a cerimônia fúnebre dois búfalos 
são abatidos e as mãos do defunto são colocadas agarrando o chifre do búfalo. 
Depois o corpo é cremado e essas cabeças de búfalos ficam em templos. De 
acordo com Andrade (2020, p.140): “No templo,[...] são penduradas imagens de 
corpos celestes, de cobras e de cabeças de búfalos”. 
 
TEMA 3 – Religiões estrangeiras: o cristianismo. 
O cristianismo encontrou seu terreno na Índia, principalmente na parte sul 
na costa ocidental. Andrade (2020) menciona três etapas distintas da chegada 
do cristianismo na Índia. Atualmente o cristianismo chega a 3% da população 
indiana, o que é visível devido à prática da religiosidade popular. 
 
4 Ou Teikirsy 
O cristianismo é a maior religião monoteísta do mundo, sua expansão se 
deu após a morte, ressurreição e a Ascenção de Jesus Cristo ao céu. O evento 
que marcou a expansão foi um pedido feito pelo próprio Jesus aos discípulos. 
Segundo a narrativa cristã, Jesus pediu que seus discípulos percorressem o 
mundo e fizessem seguidores. Outro evento que marcou essa expansão, 
mencionada por Andrade (2020), foi o Pentecostes de Atos, pois a partir dali os 
apóstolos saíram para fundar comunidades. 
As comunidades fundadas pelos discípulos de Jesus são conhecidas em 
partes, pois nem todos os apóstolos possuem livros na bíblia, o livro sagrado dos 
cristãos. Sabemos que João fundou comunidades em regiões da Ásia por seus 
escritos endereçados para essas comunidades, Paulo e Pedro fundaram 
comunidades nas regiões do império romano. No entanto, as comunidades 
fundadas por Bartolomeu e Tomé estão ausentes dos textos bíblicos. 
De Acordo com Andrade (2020) Tomé foi quem esteve já no primeiro 
século no território indiano, inicialmente ele esteve exercendo sua função de 
escultor, mas posteriormente converteu milhares à fé cristã. Essa história não é 
confirmada por historiadores, mas há consenso entre eles que desde o século III 
já havia cristãos na Índia. 
Um outro momento de tentativa de cristianização na Índia se deu com as 
navegações portuguesas. Junto de Vasco da Gama, vários missionários 
chegaram ao território indiano. Esses missionários eram da Companhia de 
Jesus que, embora tivesse sede na Espanha, exercia um trabalho junto da coroa 
portuguesa. 
A investida portuguesa em cristianizar a Índia se deparava com alguns 
problemas, entre eles os mais relevantes eram a conflituosa relação com os 
mulçumanos quais haviam dominado alguns setores da Índia e a língua. Esse 
fato fez com que surgisse a necessidade de estabelecer um seminário local para 
formar nativos que espalhassem a cristianização e a cultura portuguesa. 
“Indubitavelmente, o objetivo português era impor sua 
cultura e sua religião. A fundação de um seminário exclusivo 
para formar nativos tinha como objetivo formar agentes de 
disseminação da cultura portuguesa. Parece-nos que o 
Seminário contribuiu efetivamente com tal objetivo. O ensino 
dos meninos nativos criava um grupo de elementos 
cristianizados a auxiliar os padres na catequese. Vários 
desses meninos foram enviados às localidades para ajudar 
os padres, como catequistas ou tradutores” (BORGES, 
MENEZES e COSTA, 2020, p.444). 
Essa chegada dos missionários causa uma experiencia conflitante entre 
os cristãos que já estavam na Índia. De Acordo com Andrade, 
“A colonização português gerou um conflito entre cristãos 
nativos, que se consideravam de “São Tomé”, e os aqueles, 
que foram convertidos durante a colonização portuguesa. A 
guerra entre os dois grupos, que aconteceu no século XVII, 
é conhecida como Coonsn Cross. Desde então, a igreja 
católica indiana foi dividida em três ramificações distintas: 
siro-malabárico, siro-malankara e latino” (ANDRADE, 2020, 
p.146). 
Ainda houve um terceiro momento de cristianização na Índia. Esse 
momento se deu quando a Índia esteve sob o domínio inglês. Houve um 
investimento na cristianização das comunidades tribais. Esse fato pode ser 
percebido em algumas tribos que possuem dupla pertença. 
Além desses momentos, paralelamente a essa última investida com foco 
nos povos tribais, houve uma missão por parte de denominações oriundas do 
movimento reformatório do século XVI. Em 1979, um sapateiro, batista, inglês, 
William Carey, iniciou um movimento de cristianização. Alguns anos depois em 
1835, o reverendo, presbiteriano James R. Campbell chegou no território indiano 
acompanhado de alguns missionários presbiterianos, resultando em adesões a 
uma outra divisão do cristianismo. 
 
TEMA 4 – Islamismo. 
Caro(a) discente, algumas perguntas nortearão nossa apresentação 
sobre o islã na Índia. Como essa tradição encontrou seu lugar, chegando a quase 
15%, atualmente, da população indiana? De que forma as práticas muçulmanas 
são realizadas? É o que vamos aprender. 
Assim como ocorreu com o cristianismo, o islamismo teve algumas etapas 
em sua entrada e expansão no território indiano. Não há dúvidas do sucesso que 
o processo de islamizar a Índia conseguiu. Atualmente continua se expandindo 
pelo território da Índia e enfrentando algumas barreiras que lhe são impostas, 
como a dificuldade que os mulçumanos passaram para ter reconhecimento de 
cidadania e os conflitos na região da Caxemira. 
O Islã é uma das tradições que mais cresceu no subcontinente indiano, 
devido à sua doutrina e também ao poder político nas mãos dos reis muçulmanos 
ao longo dos séculos. Andrade (2020) aponta a entrada da tradição como 
consequência dos comerciantes árabes e depois a outros fatores políticos. 
Os comerciantes mantinham relações com a Índia antes do islã surgir, de 
acordo com Andrade, (2020) o islã chegou nas terras indianas ainda na época 
do profeta Maomé. Andrade (2020) destaca que houve um segundo momento 
de islamização no território indiano. Essa segunda fase se deu por meio de várias 
invasões e saqueamentos de templos hindus. Mahammad bin Qasim com 
apenas 17 anos conquistou a região de Sindh em 672. 
O terceiro momento dessa islamização se deu de maneira muito forte 
quando a Índia esteve sob o império Mongol, que já mencionamos em outras 
aulas. Sem dúvidas o império mulçumano Mongol foi o epicentro da islamização 
na Índia. O resultado disso foi, de acordo com Andrade (2020), uma presença 
massiva de mulçumanos em todas as esferas da Índia. 
 
TEMA 5 – Judaísmo e Parsis5. 
 
Existem diversas teorias sobre a entrada do judaísmo na Índia. Alguns 
dizem que uma das tribos perdidas de Israel chegou à Índia logo após a morte 
do rei Salomão. Outros afirmam que, nos tempos de diáspora, os judeus 
migraram à Índia, ocupando a região de especiarias. O fato é que: “Havia em 
torno de 20 mil judeus na Índia até a independência do país em 1947, mas, com 
a criação do Estado de Israel, em 1948, muito deles migraram para esse novo 
local” (ANDRADE, 2020, p.151). 
 
5 Ou Parses. 
Não há consenso entre os historiadores sobre a chegada dos judeus na 
Índia, isso pode se dar por serem os judeus a primeira religião estrangeira a 
chegar na Índia, mas sem a intenção de converter ninguém para sua fé. Há 
indícios que após a construção do templo de Salomão uma tribo tenha partido 
para a Índia, os chamados “Judeus de Cochim”. 
Atualmente o judaísmo está presente nas terras indianas com várias 
ramificações. Existem sinagogas por várias regiões, embora o judaísmo não 
exerça uma força como o islamismo e o cristianismo exercem nas terras 
indianas. 
Outra religião estrangeira é os Parsis, eles são da tradição zoroaster e 
migraram à Índia já no século VII, por conta da invasão dos muçulmanos ao Irã. 
O grupo era pequeno e ocupou a região de Mumbai, a parte ocidental da Índia. 
“Os parses (parsis) são seguidores da tradição de 
Zaratustra, ou Zoroastro, que fundou uma religião na antiga 
Pérsia e no atual oeste do Irã por volta de 600 a.C. A tradição 
de Zaratustra é popularmente conhecida como zoroastrismoe também chamada de masdeísmo, mas, na Índia, é 
conhecida como parsismo. Essa religião carrega o princípio 
do dualismo: uma guerra constante entre o bem e o mal” 
(ANDRADE, 2020, p.151). 
A instalação da religião na Índia se deu em um contexto de fuga do Irã 
quando os árabes invadiram a região nos tempos de Maomé. Essa fuga não foi 
aleatória, mas planejada, pois, os seguidores da religião, também, mantinham 
comércio com a Índia. 
A religião Parses é monoteísta e já contou com um significativo número 
de adeptos na Índia. Atualmente, de acordo com Andrade (2020), esse número 
vem diminuindo gradativamente. 
 
NA PRÁTICA 
Caríssimo(a) discente, que tal colocarmos em prática algumas coisas que 
descobrimos nessa aula? Nós o queremos ajudar com algumas sugestões, mas 
sinta-se livre para incrementar e/ou fazer algo diferente em sala de aula. 
Imagine que você tenha que explicar sobre as religiões tribais indianas e 
outras tradições. Nós sugerimos que você tenha como ponto de partida algo mais 
íntimo da cultura dos alunos. Por exemplo, podemos trabalhar a partir das 
religiões das nossas etnias indígenas, que possuíam uma relação com a 
natureza com aspectos parecidos com as religiões tribais indígenas. Parece fácil, 
não é? 
Podemos trabalhar a dupla pertença da tribo Bhil em analogia com fatos 
do Brasil. Já pensou se comparássemos essa tribo com os nossos povos 
originários que atuaram nas aldeias em torno da igreja onde Sepé Tiaraju era 
sacerdote, e chefe dos sete povos das missões? Parece estar nessa analogia 
uma dupla pertença, um “sacerdote feiticeiro”. 
Outra sugestão é para trabalhar o cristianismo na Índia. Veja só! Muitas 
vezes, as pessoas perguntam como é possível existir cristãos na Índia. Portanto, 
é necessário abordar, em um primeiro momento, as religiões tribais, anteriores 
a qualquer tradição indiana. Depois, é preciso apresentar as tradições que 
entraram posteriormente e que conseguiram preservar sua identidade até os 
tempos de hoje, como a tradição cristã e a tradição muçulmana. Além disso, é 
bom falar, também, sobre as religiões judaísmo e Parsis, devido à sua presença 
em algumas regiões. 
Esperamos que você realize uma excelente atividade em sala, motivando 
os alunos para conhecerem mais e compreenderem esse pluralismo religioso 
que, antes de tudo, é fruto de uma percepção humana do contexto em que está 
inserido. 
 
FINALIZANDO 
Caríssimo(a) discente, chegamos ao fim de mais uma aula. Foi um prazer 
fazer esse diálogo contigo e aprendermos juntos sobre as religiões tribais e 
estrangeiras nas terras indianas. 
Nesta aula aprendemos que as tradições tribais se encontram espalhadas 
por todo o território indiano, mas estão fortemente concentradas na região central 
e nordeste. Essas tradições elaboram suas práticas ritualísticas ao redor da 
crença nos espíritos e também no sacrifício dos animais. 
A relação, em intenções diferentes, com a natureza são marcas 
diferenciais nessas etnias que carregam vivas as heranças mais antigas de suas 
culturas. Um fato interessante é que a nova presidente da Índia pertence a uma 
dessas tribos, inclusive a tribo que sofre mais discriminação por suas práticas 
envolverem uma espécie daquilo que é chamado de bruxarias. 
 Também aprendemos sobre as religiões estrangeiras que encontraram 
seu lugar na Índia, algumas encontraram refúgio em tempos de perseguição, 
outras encontraram um campo de possibilidades para expansão religiosa e ainda 
há o judaísmo que sem intenção de agregar membros, possui o título da religião 
estrangeira mais antiga da Índia e ainda viva. 
Apesar das peculiaridades, e alguns conflitos, o vale dos deuses abrigou 
o Deus único do cristianismo, judaísmo e do islã. A relação una e plural está por 
toda a Índia em busca da harmonia, mantendo suas peculiaridades. 
Gostaríamos de incentivá-lo(a) a ler a obra que orientou essa aula. Trata-
se da obra: “Índia, lar dos deuses e terra das multidões”, do indiano Dr. Joachim 
Andrade, lançado pela editora InterSaberes. Ainda sugerimos a leitura de outros 
textos que abordam essa pluralidade religiosa na Índia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANDRADE, Joachim. Deus do deserto, deus do vale: A Geografia como ponto 
de partida para a compreensão do fenômeno religioso. Uberlândia: 
INTERAÇÕES - Cultura e Comunidade / Uberlândia / v. 5 n. 7 / p. 13-38 / jan./jun. 
2010. 
ANDRADE, Joachim. Índia, lar dos deuses e terra das multidões: uma 
aproximação às religiões indianas. Curitiba: InterSaberes, 2020. 
Bhil. In: Knowledge Encyclopedia. Disponível em: 
> Acesso em 17 de julho 
de 2022. 
BORGES, Felipe Augusto Fernandes; MENEZES, Sezinando Luiz; COSTA, 
Célio Juvenal. A Companhia de Jesus e o Seminário de Santa Fé em Goa 
(1541-1548). História Unisinos, v. 24, n. 3, p. 432-445, 2020. Disponível 
em:> Acesso em: 22 
de julho de 2022. 
BOWKER, J. Para entender as religiões: as grandes religiões mundiais 
explicadas por meio de uma combinação perfeita de texto e imagens. São Paulo: 
Ática, 1997. 
CHHABRA, Tarun. "The Todar Landscape.” India International Centre 
Quarterly, vol. 27/28, 2001, pp. 53–69. JSTOR, Disponível em: 
> Acesso em 23 de julho de 2022. 
Índia elege à Presidência Draupadi Murmu, mulher de etnia marginalizada. In: 
Folha de São Paulo. 21.jul.2022. Disponível em: 
> Acesso em: 22 de julho 
de 2022. 
JANSEN, J. (Org.). O livro das imagens hinduístas. São Paulo: Totalidade, 1995. 
KORETI, Shamrao I. Religion of the ‘Gond’Tribes of Middle India. 2015. 
Disponível em:> Acesso em 17 de julho de 2022. 
PATANKAR, Mayuri. ‘Gondwana’/‘Gondwanaland’as a Homeland of the 
Gonds: Storytelling in the Paintings of Gond Pilgrims. 2016. Disponível em: 
> Acesso em 17 de 
julho de 2022. 
SMITH, George. The life of William Carey, DD: Shoemaker and missionary. 
Cambridge University Press, 2011.

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