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1 DIREITO AMBIENTAL www.universo.edu.br DIREITO AMBIENTAL Graduação DIREITO AMBIENTAL U N ID A D E 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL É nesta nossa primeira unidade de estudo que todas as portas se abrem para que você penetre nas questões e nos assuntos relativos ao meio ambiente e ao direito ambiental. Dá-se ênfase às relações do homem com a natureza, à percepção da gravidade da problemática ambiental inclusive tendo em vista os desequilíbrios que afetam este planeta. OBJETIVOS DA UNIDADE: • Compreender com base na evolução histórica do Direito Ambiental, elementos para uma visão concreta de como as questões relativas ao meio ambiente resultaram em legislação de proteção. • Identificar as etapas da percepção crítica da problemática ambiental. • Evidenciar a tutela ao meio ambiente como um dado evolutivo na medida em que, de uma relação inicialmente benéfica ao meio natural, a intervenção humana, com a industrialização e o crescimento populacional dos séculos XVIII a XX, se faz de modo nocivo à natureza. • Evidenciar o direito ao meio ambiente como uma resposta do homem consciente ao homem degradador e poluidor. PLANO DA UNIDADE: • A associação/ dissolução: Homem – Natureza. • As etapas à percepção da problemática ambiental. • Equilíbrio / Desequilíbrio. • Direito Ambiental. • A evolução histórica da Legislação de Proteção. • Tutela internacional do meio ambiente. • Meio ambiente e o desenvolvimento sustentável/direito ambiental de sustentação. Declaração do rio/92. • Protocolo de Kyoto. • Meio ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. • A vida como destinatária do direito ambiental. Bem-vindo à primeira Unidade de Estudo. Sucesso! UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL A ASSOCIAÇÃO/DISSOLUÇÃO: HOMEM - NATUREZA Meio ambiente, é claro, tem tudo a ver com natureza. E com a natureza. Portanto, é a natureza que se revela no meio ambiente. Os seus bens, ou seja, tudo o que é natural, ora se mostram intactos, sem lesões, ora refletem as lesões de que têm sido “vítimas”. Você, que se inicia ou se aprofunda na matéria ambiental, precisa, antes de tudo, conhecer como a natureza vem sendo tratada pelo homem. E isto, como você verá, aos poucos, neste trabalho, é a base da compreensão de um processo na relação homem - natureza – que começou com a natureza em vantagem, a colocou depois em desvantagem e se espera que, por fim, o que se desequilibrou no meio natural volte a reequilibrar-se com a natureza recuperando aquilo que, com o tempo, veio a perder. Tanto quanto possível, é claro. De início, você deve ter essa “visão de processo” sem uma idéia de como, exatamente, tudo terminará. O esquema a seguir nos traz essa “visão”: No princípio, o homem necessita da natureza e se identifica com ela. Sob certo aspecto, pode-se dizer que o homem é controlado por ela e depende dela. A fúria dos elementos tem de ser aplacada por rituais e sacrifícios. O desconhecido gera crença e mitos. O inexplicável encontra algum tipo de explicação, mas o homem é frágil na sua defesa ante as agressões do “meio” (fenômenos naturais; animais) e a luta pela subsistência alimentar e pela sobrevivência. O homem começou a exercer algum controle sobre a natureza com a “descoberta”1 do fogo, o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais. Esse controle foi aumentado, aos poucos, mas a intervenção humana no meio natural e na construção de seu ambiente é tímida e não tem grande significação até as transformações posteriores que mudam sua vida e sua história. DIREITO AMBIENTAL É importante considerar que, da interação homem-natureza, passa- se, progressivamente, à ação do homem sobre a natureza. O que acontece, então? Essa interferência se dá em vários níveis, age de diferentes maneiras sobre os componentes do meio: ar, solo, água e seres vivos. Grandes reflexos deste processo podem ser verificados, por exemplo, nas atividades agrícolas e florestais que, praticadas extensivamente, tornam-se responsáveis por alterações significativas. Por outro lado, o ecossistema urbano traz, sem dúvida, marcas bastante profundas da intervenção humana. Os autores destacam que: “Uma das aptidões cada vez maior do ser humano para modificar e criar seu próprio ambiente foi a capacidade de manter um crescimento populacional constante. No entanto, foram as novas tecnologias industriais, agrícolas e medicinais dos últimos 200 anos que propiciaram o aumento das taxas de expansão demográfica. A ocupação do solo de forma inconseqüente e acelerada no último século, sem a implantação de uma infra-estrutura adequada, contribuiu bastante para vários danos ambientais. As alterações provocadas podem ser mais ou menos abrangentes, localizadas ou extensivas, criando gradientes de interferência nos macrocompartimentos da biosfera.” Todavia, com a revolução industrial (séculos XVIII-XX), um tipo de industrialismo é adotado sem consideração qualquer à qualidade da intervenção humana na natureza; as “influências e interferências”2 poluidoras e degradadoras adquirem extensão e profundidade. Problemas ambientais em escala global se acentuam devido aos padrões de consumo dos países industriais do Primeiro Mundo. Como constata Elmo da Silva Amador na introdução à obra Avaliação e Perícia Ambiental: “O desmantelamento dos sistemas naturais apresenta muitos aspectos, mas o que caracteriza o homem moderno e o distingue das sociedades não industriais é a sua agressão total. Enquanto os estragos causados pelas culturas primitivas eram limitados e localizados, permanecendo a maior parte do globo intacta, hoje nada escapa. A crise ecológica que atualmente abala o planeta não mais se resume à morte deste ou daquele rio, no desaparecimento dessa ou daquela espécie ou no envenenamento do ar das grandes cidades. O mal afeta a ecoesfera como um todo. (citando Lutzemberg, 1978). E concluindo: “O modelo vigente de desenvolvimento é o responsável pela crise ecológica. Há quatro séculos todas as sociedades mundiais são reféns de um mito: o do “progresso e do crescimento ilimitado”.” (p. 12). UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL ETAPAS À PERCEPÇÃO DA PROBLEMÁTICA AMBIENTAL De todas essas referências que pertencem à história, constata-se que o homem, ao tomar consciência delas, veio a perceber, criticamente, as etapas da problemática ambiental, isto é, de como os problemas ambientais evoluíram. Barbieri identifica três etapas fundamentais à percepção da problemática ambiental e ao equacionamento e adoção de soluções compatíveis: “A primeira etapa baseia-se em problemas ambientais localizados e atribuídos à ignorância, negligência, dolo ou indiferença das pessoas e dos agentes produtores e consumidores...; numa segunda etapa, a degradação ambiental é percebida como um problema generalizado, porém confinado nos limites territoriais dos Estados nacionais. Gestão inadequada dos recursos, além das causas anteriormente citadas, é apontada como causa básica dos problemas percebidos...; na terceira etapa, a degradação ambiental é percebida como um problema planetário que atinge a todos e que decorre do tipo de desenvolvimento praticado pelos países.” (Barbieri, 1997: 15-16). Fala-se, agora, em desenvolvimento sustentável e o conceito de sustentabilidade, conforme Barbieri (1997, p. 32-33) “tem suas origens nas ciências Biológicas aplicáveis aos recursos renováveis, principalmente os que podem se exaurir por exploração descontrolada. (...) Para os recursos não-renováveis, como os combustíveis de origem fóssil, por exemplo, a sustentabilidade seria sempre uma questão de tempo.” A sustentabilidade decorre da utilização adequada dos recursos disponíveis com a preservação do meio ambiente (CF/88, art. 185, II). EQUILÍBRIO/DESEQUILÍBRIO A esta altura, você deve estar perguntando: mas o que é meio ambiente? É claro que, por intuição, nós sabemos o que é, mas estamos iniciando estudo de Direito Ambiental e a expressão “meioambiente” deve ter significado técnico apropriado a este campo do Direito. Você tem toda razão. Meio Ambiente, assim definido pela Lei 6.938/81, a ser estudada nas Unidades 2 e 3, consite em: “Lei 6.938/81: ‘Art. 3º - Meio Ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” DIREITO AMBIENTAL Portanto, o Meio Ambiente é constituído por bens que resultam, nas suas interações – uns agindo sobre os outros –, de condições, leis e influências na determinação da vida. Assim, o meio ambiente, como um todo, é bem de uso comum do povo. Mas é composto de bens ou recursos ambientais. Talvez você esteja ainda em dúvida quanto ao conceito de Meio Ambiente. Vamos reforçar ou aclarar o que foi dito: Diante da degradação e da poluição, ocasionando danos à saúde e ao equilíbrio das condições de vida, uma das mais significativas respostas do homem consciente ao homem poluidor consistiu em estabelecer legislação de proteção ao meio ambiente em geral (proteção = tutela) e aos bens ambientais especificamente considerados. Degradação: alteração ad- versa da qualidade do meio ambiente. Poluição: alteração adver- sa da qualidade ambiental provocada por certas ativi- dades humanas. UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL Mas, com que objetivo se estabelece a tutela ao meio ambiente (em geral) e aos bens de que especificamente se compõe? (tutela específica) Se o meio ambiente está em equilíbrio, a proteção tem o propósito de mantê-lo equilibrado; se está em desequilíbrio, a tutela legal se destina a reequilibrá-lo. Observamos o que é tutela geral ao meio ambiente. É a proteção à integridade de todas as forças e elementos da natureza que, para o benefício da vida, devem ser, em conjunto, resguardados da degradação e da poluição. Mas você quer um exemplo para liquidar, de vez, todas as dúvidas a respeito. Pois bem: Agora, com referência à tutela específica, vimos que os bens especificamente protegidos são: o ar, a água, o solo, a fauna e a flora. Mas a esses bens se acrescentam bens do patrimônio histórico-cultural. Por que razões? Por que é na história, na cultura e movimentos da vida humana em relação com o meio-ambiente que podemos identificar e compreender condutas inclusive nas relações entre homem e o meio natural. As descobertas arqueológicas contribuem para assinalar os momentos da vida do homem em seu ambiente e os bens paisagísticos concorrem para o bem-estar como parte de uma “sadia qualidade de vida”. Temos, portanto: DIREITO AMBIENTAL DIREITO AMBIENTAL A legislação de proteção forma, em conjunto, o direito ambiental; que é um complexo sistemático (um sistema) de leis e princípios no contexto de ordenamento jurídico. O campo de aplicação do direito ambiental, assim, se define como um regime legal tutelar que abrange, em primeiro plano, as normas constitucionais em sintonia com os tratados e convenções internacionais de que o Brasil é signatário e, em segundo, regras e disposições regulamentares de proteção. Mas você precisa, com redobrada atenção, ter em vista que a proteção ao meio ambiente se destina: UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL Por conseguinte, a proteção do Direito ao Meio Ambiente ou Ambiental, como destinatário o “bem” ambiental e os “bens” que o compõe. O art. 225, da CF/88, assegura a todos “o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. Portanto, é um direito de todos. Com que finalidade segundo esse mesmo dispositivo constitucional? “Visando a uma qualidade de vida”. Assim, o fim do último e maior a ser alcançado é “a sadia qualidade de vida”. E de “vida em todas as suas formas”. (art. 3º, Lei 6.938/81) O termo “sadia” pode ser entendido como relativo à saúde, ao que é saudável do ponto de vista do bem-estar resultante, ao que está em equilíbrio. Então, você deve notar que a tutela imediata do Direito Ambiental incide sobre o bem e os bens ambientais: Mas, em certos casos, há proteção a pessoas em face do mau uso do bem ambiental. Importante: com vistas à tutela específica, você deve sempre se recordar que: DIREITO AMBIENTAL • pode acontecer que, lesado um bem, o dano repercuta em outros. Se árvores são abatidas, prejudica-se o solo, o ar, a água. Mas, na tutela específica, o que se considera, em plano principal, é o bem imediato e diretamente lesado. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO Toshio Mukai e Georgete Nacarato Nazo, em trabalho publicado na Revista de Direito Ambiental (nº 28), apresentam levantamento minucioso da evolução histórica da legislação ambiental no Brasil colônia, passando pelo Império, mergulhando na década 60-70 e na década 70-80 e chegando à década 80-90 em que as leis ambientais, diversificadas, assinalavam avanços consideráveis em sua atualização. Exemplo: • tutela geral ao meio ambiente (década 80-90): trata-se de etapa evolutiva decisiva à fase atual do direito ambiental. A política nacional do meio ambiente (ver Unidades 2 e 3), instituída pela lei 6.938/81, é regulamentada (Dec. 99.274, de 06.06.90); cria-se o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA (Lei n. 7.7735/89) cuja estrutura básica está disposta no Dec. 97.946/89 e, como se trata de tutela ao meio ambiente, várias matérias de relevante interesse do meio ambiente se incorporam à legislação de direito ambiental: localização de estações ecológicas e usinas nucleares (Dec. 84.973/80); criação de áreas específicas e de locais de interesse político (Lei n. 6.513/77); reservas ecológicas áreas de relevante interesse ecológico (Dec. 89.336/84); instituição do plano nacional de gerenciamento costeiro (Lei n. 7.735/89); criação de estações ecológicas e áreas de proteção UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL ambiental (Dec. 99.274/90); programa de defesa do complexo de ecossistemas da Amazônia Legal (Decreto 96.944/88). Com referência a agrotóxicos a Lei n. 7.802, de 11.07.89, “dispõe sobre pesquisa, experimentação, embalagem e rotulagem, transporte, armazenamento, comercialização, propaganda comercial, utilização, implantação, exportação, destino final dos resíduos e embalagens, registro, classificação, controle, infração e fiscalização” (...). O Dec.4074/02 regulamentou a Lei n. 7.802/89. A legislação ambiental, em princípio, acentua proteção ao meio ambiente segundo a visão de tutela geral. Aos poucos, delineia-se legislação voltada para a tutela específica. Exemplo: timidamente, delineia-se proteção específica de bens ambientais, exemplo: obrigatoriedade de licença para a comercialização ou utilização de motosserra (na proteção à flora). (Lei 7.803/ 89). Na tutela específica, tem-se em vista, principalmente, a proteção a determinado bem ambiental mesmo considerado que a lesão a um bem repercute na integridade de outros (ex. Lesão a árvores afeta o solo, o ar, a água) Diploma legal em que a tutela específica foi (e, em parte é) relevante é o chamado Código Florestal (Lei n. 4771/65), referente a processamento de crimes ambientais, com as alterações da Lei n. 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais). Altera-se e há atualização à Lei 6.938/81 que estabelece a Política Nacional do Meio ambiente em 07.02.2000; alterações; Lei 9.960 de 28.01.2000; Lei n. 10.165, de 27.12.2000. Consagra-se a responsabilidade civil objetiva por danos ambientais (lei nº 6.938/81, art. 14, § 1º, e art. 907, parágrafo único do CC), com o advento da Lei n. 9.605/98 (de crimes ambientais) e o decreto 3.179/99 (imposição de sanções por ilícitos administrativos) acrescentam-se à responsabilidade civil a responsabilidade penal por crimes ambientais e a administrativa por ilícitos desta natureza. DIREITO AMBIENTAL TUTELA INTERNACIONAL AO MEIO AMBIENTE “O Direito vai até onde a fumaça alcança.” Vilson Rodrigues Alves O Direito Ambiental reflete a globalização inevitável de relevantes questõesambientais e de soluções amplas a essas questões. Problemas ecológicos de magnitude, como os relativos ao ar e ao mar, não se localizam uma vez que se irradiam para muito além dos pontos em que ocorrem em suas manifestações iniciais. Temos, entre nós, no Brasil, o caso típico da floresta Amazônica cuja preservação é considerada essencial ao equilíbrio ecológico do próprio planeta. Em conseqüência, a problemática ecológica, não podendo ser equacionada isoladamente, requer a integração dos Estados em suas relações de Direito Internacional Público – DIP, com que se institui normatividade própria em escala internacional. Essa normatividade se consubstancia em Tratados ou Convenções Internacionais cujas regras e disposições se incorporam ao Direito interno. Para a celebração de Tratados ou Convenções Celso Albuquerque Mello diz serem condições de validade: a) a capacidade das partes contratantes – reconhecida aos estados soberanos, às organizações internacionais, aos beligerantes, à Santa Sé e a outros entes internacionais; b) habilitação dos agentes signatários; c) objeto lícito e possível; d) “consentimento mútuo.” (1991-1:178/181). Em matéria de Tratados é de grande importância o tema relativo às reservas e objeções. Conforme Celso Albuquerque Mello: a convenção de Viena define reserva do seguinte modo: “uma declaração unilateral, qualquer que seja sua denominação ou redação, feita por um estado ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um Tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar os efeitos de certas disposições do Tratado em sua aplicação a esse estado.” 208/9). Contudo, ressalva-se que em determinadas convenções ambientais, a exemplo da Convenção da Biodiversidade, Convenções sobre as Mudanças Climáticas Globais, não admitem nenhum tipo de “reserva”. Observa Celso Albuquerque Melloque “Os Tratados possuem uma conclusão imediata com as seguintes fases: negociação, assinatura, ratificação, promulgação e registro...”. E ainda segundo Celso Albuquerque Mello(223-226) “há as hipóteses de revisão” (...); “nulidade” (...); “anulação” (...) “. UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL Algumas das principais Convenções Internacionais. O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL/DIREITO AMBIENTAL DE SUSTENTAÇÃO – DECLARAÇÃO DO RIO/92 Agora, você está diante de “princípios” e de “diretrizes” para orientar a solução de problemas ambientais. A Declaração do Rio/92 não é um documento jurídico, mas “político”; não é jurídico no sentido de que seus enunciados desobrigam à observância pelos países signatários e político porque expressa a “vontade” do movimento ambiental e tomada-de-posição diante das questões ecológicas da atualidade. Em linhas gerais, a Declaração do Rio/92 confere prioridade ao desenvolvimento sustentável, sob o aspecto técnico-econômico de que a adaptação das legislações ambientais nacionais é parte essencial. Pode-se, até, falar de um direito ambiental de sustentação. Chega-se, assim, à visão da problemática ambiental relacionada ao desenvolvimento técnico-econômico e social. A Agenda 21 é uma das mais elaboradas expressões da interconexão meio ambiente e desenvolvimento tal como consubstanciada na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. E como o Direito Ambiental se coloca na perspectiva da sustentabilidade? Adaptando-se às mudanças técnico-econômicas e sociais 1954. “Convenção para A Prevenção de Poluição do Mar por Petróleo”. 1958. “Convenção para Pesca e Recursos Vivos do Alto Mar”. 1963. “Tratado de Banimento de Testes Nucleares na Atmosfera, no Espaço Exterior e Embaixo da Água”. 1967. “Tratado sobre os Princípios que Governam as Atividades de Exploração do Espaço Exterior, Incluindo a Lua e Outros Corpos Celestes”. 1971. “Lei do Mar”. 1971. “Convenção sobre Alagados de Importância Internacional especialmente como Habitat de Aves Aquáticas”. 1972. “Convenção Relativa à Proteção da Cultura Mundial e Herança Natural”. 1973. “Convenção sobre o Comércio Internacional de Aves Ameaçadas de Extinção”. 1979. “Convenção da Conservação de Espécies Migratórias de Animais Selvagens”. 1982. “Carta Mundial da Natureza”. 1983. “Assunção Internacional sobre Recursos Genéticos Vegetais”. 1983. “Acordo Internacional de Madeira Tropical”. 1985. “Acordo sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais”. 1985. “Plano de Ação das Florestas Tropicais”. 1992. “Convenção sobre Diversidade Biológica”1. 1992. “Convenção sobre Mudança do Clima”. 1994. “Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento”. 1994. “Convenção Internacional de Combate à Desertificação”. 1 Convenção sobre Diversidade Biológica – “Acordo Internacional celebrado na Rio/92, que objetiva a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável de seus componentes e o compartilhamento eqüitativo e justo dos benefícios oriundos da utilização de fontes genéticas. Esta convenção entrou em vigência em 29 de dezembro de 1993”. (fonte referida). Fonte: Lima e Silva, Pedro Paulo de e outros. Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais. Rio de Janeiro: Thex, 1994. DIREITO AMBIENTAL que repercutem no meio ambiente e oferecendo respostas jurídicas a problemas de renovada complexidade. A Rio/92, além de corroborar o Estudo Prévio de Impacto Ambiental (§ 17), indica princípios para a evolução do Direito Ambiental em sua atualização à realidade de novos padrões de desenvolvimento. A Declaração do Rio, sendo declaração, não tem força vinculante como Tratados ou Convenções, ou seja, não obriga os signatários à estrita observância de suas disposições que se apresentam como princípios. Não obstante, uma vez subscrita, indica propósito de adesão que antecipa posições futuras; nesse propósito, há uma aceitação de determinadas condições que implica, de imediato, num referencial de soluções que serve de base às relações entre os que a firmaram. Da Rio/92, selecionamos apenas três princípios diretores para o Direito Ambiental, a título de exemplificação. O primeiro aponta na direção da adaptação das legislações nacionais ambientais segundo as particularidades e possibilidades de cada país, num quadro geral de desequilíbrio diante dos diversos estágios de desenvolvimento (§ 11); o segundo, não necessariamente pela ordem, enfatiza a prevenção ambiental (§ 15) e o terceiro a defesa do meio ambiente (§ 13): “§ 11 – Os Estados deverão promulgar legislações ambientais eficazes. As normas, os objetivos e as prioridades ambientais devem refletir o contexto ambiental e de desenvolvimento em que se aplicam. Normas aplicadas por alguns países podem ser inadequadas e representar custos sociais e econômicos injustificáveis para outros, principalmente para os países em desenvolvimento. § 15 – Para proteger o meio ambiente, os Estados devem aplicar do modo mais amplo os princípios da prevenção conforme suas capacidades. Diante da ameaça de dano grave ou irreversível, a falta de uma considerável certeza científica não deverá ser usada como motivo para adiar a adoção de medidas para evitar a degradação ambiental em decorrência dos seus custos. § 13 - Os Estados devem desenvolver uma legislação nacional dispondo sobre a responsabilidade e a indenização às vítimas da poluição e de outros danos ambientais. E devem também cooperar de modo mais eficaz para a elaboração de novas normas internacionais suplementares sobre responsabilidade e indenização pelos efeitos adversos dos danos provocados em áreas situadas fora de sua jurisdição pelas atividades realizadas dentro de sua jurisdição e sob seu controle.” Estes três princípios diretores constituem, em verdade, os fundamentos naturais e lógicos de toda e qualquer política legislativa que tenha em vista a prevenção e a defesa do meio ambiente. Sob este aspecto, podem ser UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL considerados irreversíveis, dada a dimensão de perenidade de sua essência e da efetividade deseu conteúdo. A Agenda 21 constitui-se de inúmeros temas, por capítulos, com as correspondentes áreas-programas. Os temas se relacionam a questões de interesse do meio ambiente, em geral e não apenas a matérias pertinentes ao Direito Ambiental. Há propostas para a produção e o consumo, a sustentabilidade econômica, a saúde, o desenvolvimento social, com indicativos de soluções necessárias à problemática ambiental. O PROTOCOLO DE KYOTO É fundamental que você tenha refletido e esteja refletindo sobre a Declaração do Rio /92 porque exprime a “vontade política” do movimento ambientalista mundial acerca do que se pre-tende alcançar para se resolverem problemas ambientais, através do enunciado de princípios e diretrizes. O chamado Protocolo de Kyoto, in casu, trata-se de protocolo-acordo. Logo, cria normas jurídicas, portanto, obriga os signatários. (GUERRA, Sidney, Direito Internacional Público, 2ª ed. RJ: Freitas Bastos, 2005, p. 36). Mas há uma diferença entre ambos os documentos ou “cartas”: a Declaração do Rio/92 decorre de mobilização consciente e determinada do ambientalismo internacional como instrumento de influência, a fim de que os Estados ajustem suas políticas públicas às exigências das pressões que emanam da consciência ecológica. Sua reflexão deve considerar estes aspectos, mas você, prosseguindo, há de verificar que o Protocolo de Kyoto não guarda qual-quer semelhança com a Eco-92. Com efeito, enquanto a Declaração do Rio/92 é produto de uma vontade consciente do ambientalismo e de mobilização para se alcançarem resultados desejáveis, o Protoco-lo de Kyoto constitui documento que consagra os interesses dos Estados, em sua autonomia, na questão atualíssima da emissão de gás carbônico e do efeito-estufa responsável pelo aquecimento global. O mundo emite, atualmente, 23 bilhões de toneladas de gás carbônico. A população de todo o mundo respira 700 toneladas de gás carbônico a cada segundo o que equivale a 80% da poluição mundial. Os Estados Unidos respondem por 26% do gás carbônico liberado; a União Européia, por 15%. Ou seja, os Estados Unidos respondem por quase 6 bilhões de toneladas e a União Européia por cerca de 3,5 bilhões anuais. O Protocolo de Kyoto estabeleceu que, durante o período de 2008- 2012, os países terão de reduzir em 5% a quantidade de gás carbônico que emitirem em relação a 1990. Em artigo para a Folha de São Paulo, Opinião, 24.02.2002, A 2, Antonio Ermírio de Moraes constata que apenas 47 países ratificaram o Protocolo de Kyoto, os quais, no total, respondem por apenas 2,4% da emissão mundial. DIREITO AMBIENTAL Comenta Antonio Ermírio de Moraes: “Os Estados Unidos não assinaram o tratado e disseram que não vão assinar porque pretendem reduzir a emissão de gás carbônico até o ano 2012 por meio de mecanismos voluntários, e não por meio de medidas impositivas... Os países da Europa não gostaram da idéia... Mas até agora nada fizeram para reduzir a sua própria poluição...” Nessas condições, se o país signatário adotar o protocolo, tem força vinculante. Há, portanto, conflito internacional de interesses entre os países que emitem gás carbônico em níveis toleráveis, como o Brasil, que é um dos subscritores do Protocolo, e os Estados Unidos e União Européia. Em entrevista à grande imprensa americana e européia, retransmitida no Brasil, o atual Presidente dos EUA, George Bush, declarou que a questão ambiental envolvida nesse problema tem de ser solucionada sem afetar a produção industrial norte-americana em razão do que significa para a economia mundial. As conquistas do ambientalismo mundial estariam, nesse episódio, seriamente comprometidas ou se trata de desafio que requer uma nova postura de mobilização e uma renovada consciência de percepção de respostas amplas e criativas?3 MEIO AMBIENTE NATURAL, CULTURAL, ARTIFICIAL E DO TRABALHO Um outro ponto de reflexão, à sua consideração, é o relacionado à classificação do meio ambiente. Entendemos que o meio ambiente se classifica em natural e artificial. Há quem faça distinção entre meio, como meio natural, e ambiente, como ambiente artificial, este compreendendo as manifestações de ambientação cultural e do trabalho. A doutrina, em geral, aceita a classificação abaixo dos vários aspectos do Meio Ambiente: • Meio ambiente natural é constituído por solo, água, ar, flora efauna. Conforme Fiorillo (2006, p. 20) – “Concentra o fenômeno da homeostase, consistente no equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o meio em que vivem.” • Meio ambiente artificial – “(...) é compreendido pelo espaço urbano construído, consistente no conjunto de edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto)(...)” Fiorillo (2006, p. 21). • Meio ambiente cultural -– Fiorillo(2006, p. 22) cita José Antonio da Silva para quem “o meio ambiente cultural é integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que, embora artificial, em regra, como obra do homem, UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor especial” O conceito de meio ambiente cultural está previsto no art. 216, da Constituição Federal: “Art.216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos for-madores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artísticoculturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.” A rigor, nós poderíamos agrupar os vários aspectos do Direito Ambiental em natural e artificial. Quanto a meio ambiente do trabalho com que vários autores concordam, veremos na Unidade 7 que, em ambiente do trabalho, o que se tem em vista é a proteção ao trabalhador nas relações trabalhistas e não tutela ao meio ambiente ou a bens ambientais da vida. A VIDA COMO DESTINATÁRIA DO DIREITO AMBIENTAL O objeto do Direito Ambiental é á tutela ao meio ambiente e aos bens ambientais de que se compõe. Vimos que, em certas hipóteses, do mau uso de bens ambientais pode decorrer de proteção a pessoas por ele prejudicadas. Tem razão Fiorillo (2006, p. 18) quando sustenta que “a vida em todas as suas formas...” é a destinatária do Direito Ambiental. No seguinte sentido: “O art. 225, da CF/88, assegura o direito ao meio ambiente a todos, indistintamente, na medida em que todos têm interesse em uma vida saudável; para que esse direito se torne efetivo, é preciso manter o equilíbrio ecológico ou reequilibrar as condições do meio ambiente nas circunstâncias em que estiver desequilibrado e, para isso, assegura-se proteção ao meio ambiente e aos recursos ambientais que o integram, visando a uma “sadia qualidade de vida.” Portanto, o resultado final pretendido é a “sadia qualidade de vida” em todas as suas formas. É a isto que se destina a aplicação de regras e disposições de Direito Ambiental. DIREITO AMBIENTAL CONCLUINDO O conceito de meio ambiente é a base de toda a construção de Direito Ambiental. Vemo-lo associado à expressão “bem de uso comum do povo” e à consideração de bens que integram o bem ambiental em sentido amplo. Historicamente, é recente o contínuo agravamento da degradação e da poluição ambientais, que se intensificaram com a expansão demográfica e a industralização nos séculos XVIII-XX. Por isto, também é recente a evolução da legislação de Direito Ambiental. Com a degradação e a poluição, desequilibra-se o meio ambiente em pontos importantes no planeta. A legislação de Direito Ambiental, em conseqüência, vem a contemplar a manutenção do equilíbrioecológico onde quer que o meio ambiente esteja salvaguardado de lesões e o reequilíbrio das condições ambientais onde esteja desequilibrado. A legislação ambiental é de proteção: ao meio ambiente em geral, como “bem de uso comum do povo”, e aos bens de que se compõe a que se confere tutela específica. Disse Vilson Rodrigues Alves que, em matéria ambiental, “o Direito vai até onde a fumaça alcança”. Expressão que reflete a dimensão internacional dos problemas ambientais, motivo pelo qual são eles objeto de tutela por Tratados ou Convenções. Na lei interna, as normas de proteção estão estabelecidas constitucionalmente. Há questões ambientais que são alvos de mobilização do movimento ambientalista, como em referência à Declaração do Rio/92 e outras que têm solução na pendência dos interesses dos Estados: a exemplo das que consubstanciam o Protocolo de Kyoto. A doutrina, em regra, classifica o meio ambiente como natural, cultural, artificial e do trabalho. Torna-se claro que a “vida, em todas as suas formas” é a destinatária das regras de proteção do Direito Ambiental. Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco! Chegamos ao final desta nossa primeira unidade. Esperamos que você tenha compreendido a relevância do estudo do Direito Ambiental através dos argumentos apresentados e que a partir desta unidade, você se sinta estimulado a prosseguir com mais confiança e segurança ao exame das questões fundamentais da disciplina. Então, te espero na próxima unidade. Ainda temos muito que estudar! UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AMBIENTAL NOTAS 1 “Descoberta” é aquilo que o homem identifica nas leis da natureza. Exemplo: ao ver cair a maçã de árvore, Newton “descobriu” a lei da gravidade. Ao contrário de ‘invenção” que decorre de criação humana. 2 No contexto das relações de vizinhança, imissões, influências e interferências têm significado técnico peculiar. imissões – o pó, a fuligem, o vapor, por exemplo, são coisas que se imitem. Já interferência se opera com luz, ruído, calor, umidade, trepidação, odor. Influências, em sentido amplo, são apenas as imissões e interferências. Em sentido estrito, é a que se verifica com a perturbação do vizinho, de tal modo que ele não pode desfrutar do imóvel. Sem invasão e privação. (Alves, 1992, p. 348, 349 e 151) 3 A Rússia, que não havia aderido, subscreveu o Protocolo. Ainda não o firmaram os Estados Unidos da América e o Canadá. Esta observação e a referência ao Presidente dos Estados Unidos da América datam de 19.11.06.
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