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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Faculdade de Ciências Econômicas Departamento de Análise Econômica Inttrodução à Economia I 2º. Semestre 2012 Leitura 5 - O significado de lucro zero1 Prof. Honorio Kume Em uma indústria competitiva, qual é o montante de lucro ganho por uma firma maximizadora de lucro? Em equilíbrio de longo-prazo, a surpreendente resposta é lucro zero! Quando os lucros são calculados corretamente, as firmas em uma indústria competitiva devem obter lucros zero. Isto ocorre, porque se os lucros fossem positivos, outras firmas entrariam na indústria, aumentariam a quantidade ofertada e derrubariam os preços. Este processo (entrada de novas firmas) continuará até que o lucro tenha caído para zero. Isto significa que as firmas não conseguem escolher a quantidade que maximiza o lucro? De nenhuma maneira. Eles estão produzindo uma quantidade que maximiza o lucro, sendo que o maior lucro econômico disponível é zero. Se eles produzissem uma outra quantidade, seus lucros seriam negativos. O ponto fundamental para entender este aparentemente estranho resultado é ter em mente que a definição de lucro de um economista é diferente daquela utilizada por um contador. Imagine um menino vendedor de jornais, que compra todo dia 100 jornais por R$ 0,20 cada e vende por R$ 0,25. No fim do dia, ele visita o seu contador, sendo informado que teve um lucro de R$ 5 (R$ 25 de receita menos R$ 20 de custo). Mais tarde, ele encontra um economista e o menino faz alarde do lucro que obteve nas vendas de jornais. Como o economista reagirá? O economista certamente concorda que o menino teve uma R$ 25 . Mas, ele argumenta que os R$ 20 gastos na compra de jornais representam apenas uma parte dos custos. Ele pergunta ao menino o que ele estaria fazendo se não estivesse vendendo jornais. O menino responde: 1 Copiado e adaptado de Landsburg, S. E. Price Theory and Applications. The Dryden Press International Edition, 1992 (second edition). 2 "vendendo refrigerantes". Nesse caso, quanto você ganharia, trabalhando tão intensivamente como na venda de jornais, pergunta o economista ao menino. "Provavelmente, cerca de R$ 4,50", responde o menino, começando a perceber aonde o economista queria chegar. O economista então conclui que a atividade de vendas de jornais impede o menino de ganhar R$ 4,50 na venda de refrigerantes: "o custo de oportunidade faz parte do custo de venda de jornais, não é? Portanto, eu estimo que "seus lucros foram de R$ 0,50”. O menino, mais triste e mais esperto, vai para casa, prometendo parar de gabar-se diante de economistas. Entretanto, o menino pode ser um tipo otimista que digeri os argumentos do economista e então diz: "bem, pelo menos eu fiz um lucro positivo de R$ 0,50, graças ao fato que os jovens vendedores de refrigerantes levam para casa R$ 4,50 enquanto os jovens vendedores de jornais conseguem R$ 5 com o mesmo esforço". Agora, o economista deveria suspeitar muito fortemente que o menino está mentindo ou, pelo menos, está mal informado. Se todos os vendedores de jornais estão ganhando R$ 5, enquanto os vendedores de refrigerantes estão obtendo apenas R$ 4,50, o que aconteceria ? Alguns dos meninos deixarão de vender refrigerantes para vender jornais. Eles sairão da “indústria de refrigerantes” e entrarão para a “indústria de jornais”. Este fato tenderá a diminuir os lucros das vendas de jornais e a aumentar os lucros das vendas de refrigerantes. Quanto tempo durará este processo? Até que os retornos sejam iguais entre as indústrias, isto é, até que o lucro em cada indústria seja zero. Agora, nós podemos entender melhor o significado da frase "quando os lucros são calculados corretamente, as firmas em uma indústria competitiva deverão obter lucro zero". Calculado corretamente, quer dizer "calculado como faz um economista: receita menos todos os custos incluindo os custos de oportunidade que seu contador não considera". Vamos dar ao menino mais uma chance. Talvez, ele deseja dar a seguinte explicação para o economista: "todos os vendedores de refrigerantes ganham R$ 4,50. Você afirma que se todos os vendedores de jornais ganhassem R$ 5, os vendedores de refrigerantes se tornariam vendedores de jornais. Isto não é verdadeiro, pois na realidade, todos os vendedores de jornais também ganham somente R$ 4,50, equivalente ao que um vendedor de refrigerante obteria se mudasse de 3 atividade. Eu sou um dos poucos meninos que ganham mais do que R$ 4,50. Eu ganho R$ 5 por que sou especialmente talentoso na venda de jornais: entrego mais rápido, descubro com facilidade novos clientes, etc. Portanto, eu posso ganhar muito mais na venda de jornais do que na venda de refrigerantes”. Agora, você admitirá que meus ganhos são positivos, pergunta o menino ao economista. Não, eles não são, responde o economista (os economistas são bastante teimosos). "Eu estou pensando sobre os meninos vendedores de refrigerantes que ganham R$ 4,50 e vêem você ganhando R$ 5". Eles estão pensando o seguinte: "eu poderia mudar para a atividade de venda de jornais e obter maiores lucros". Mas, eles sabem que não podem fazer diretamente, pois eles não são tão bons nesta atividade quanto você. Entretanto, o mais inteligente deles está pensando: "eu poderia entrar na atividade de vendas de jornais e empregar aquele menino que vive alardeando seu sucesso". Desde que você consegue um lucro de R$ 5 por semana, eles estarão dispostos a pagar até este valor pelos seus serviços. Agora, recalcule o lucro: R$ 25 de receita menos R$ 20 de custo de jornais e R$ 5 de seu salário. Logo, o lucro é zero. O economista está fazendo uma distinção crucial. Ele distingue entre a firma de entrega de jornais do menino e o próprio menino. Ele pensa em uma firma alugando a especial habilidade do menino ao preço de R$ 5 por dia. Este é o valor que aquela habilidade comanda em um mercado livre. O menino ganha um "rent" de R$ 5 por dia, enquanto a firma tem um lucro zero. Em geral, as firmas ganham lucro zero, enquanto os indivíduos ganham "rents". Os lucros são iguais a receita menos os custos. Os custo a serem considerados são: os explícitos (salários, aluguel do equipamento e outros) e os implícitos ("rents" pagos pelas firmas para os seus proprietários pelo uso de suas habilidades especiais). O "rent" deve ser suficiente para induzir os proprietários a não vender suas habilidades para outros e, então, deve ser igual ao montante que alguém estaria disposto a pagar. Alguns economistas tem preferências diferenciadas acerca do tratamento para os insumos especialmente produtivos, tais como a habilidade do menino vendedor de jornais ou uma terra particularmente fértil de alguma região. Nós temos visto que se a firma emprega o insumo (habilidade ou terra fértil) do seu proprietário e lhe paga um "rent " equivalente ao seu custo de 4 oportunidade, o lucro da firma é zero. Os pagamentos são freqüentemente implícitos, pois o proprietário do insumo e o proprietário da firma podem ser a mesma pessoa. Outros economistas preferem afirmar que quando uma firma tem acesso a um insumo especialmente produtivo, não deveríamos manter esta ficção acerca dos "rents" sendo pagos, mas deveria aceitar que os lucros são positivos. Na realidade, não importa se o chamamos de lucro positivo ou "rent", desde que sejamos consistente no uso da linguagem. O que vale é a idéia subjacente a esta terminologia: se as firmas são idênticas, eles entrarão na indústria até que cada firma seja indiferente entre permanecer naquela indústria ou na melhor alternativa. Se há diferenças entre as firmas, a mais eficiente entrará primeiro na indústria, sendo seguido por firmas levemente menos eficientes até que a última firma seja indiferente entre ficar na indústria ou ir para a melhor alternativa. Portanto, nós podemos dizerque as mais eficientes firmas estão ganhando lucros positivos ou que seus proprietários estão ganhando "rents".
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