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Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I Apresentação Seja bem-vindo! O esforço de reconstruir os caminhos de volta ao passado histórico é primordial para que se possa compreender o presente e definir os melhores caminhos para o futuro. Você perceberá, por exemplo, que o exercício de certos direitos, como a liberdade de pensamento e o direito de votar, não gera automaticamente o gozo de outro, e que os governos nem sempre estiveram atentos aos problemas básicos da população. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai fixar a atenção nos principais episódios da nossa história e, assim, identificar as tramas desses acontecimentos e o legado histórico para compreender a nossa sociedade hoje. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a formação sócio-histórica da sociedade brasileira do período colonial até a década de 1930. • Analisar os impactos do processo de formação sócio-histórica na contemporaneidade brasileira. • Explicar como as lutas sociais se relacionam às exigências de cumprimento dos direitos sociais.• Desafio Washington Luís, o último presidente da República Velha, disse que a questão social era um “caso de polícia”. Essa opinião não levava em consideração que as manifestações dos trabalhadores eram consequências dos baixos salários, da longa jornada de trabalho e da total ausência de proteção contra os abusos de todo tipo. Levando em consideração os seus aprendizados, você entende que essa é a expressão do que sempre se constituiu a dinâmica da sociedade brasileira, na qual a questão social existia da época colonial, com a escravidão, até as relações entre trabalhadores livres e patrões. Agora, imagine que você precisa entregar um trabalho da universidade sobre os impactos hitóricos na questão social no Brasil. Para tanto, responda: Quais são as principais características e acontecimentos de cada um dos três momentos históricos brasileiros estudados (a Colônia, o Império e a República)? Como se deu a evolução no campo dos direitos (civis, sociais e políticos) em cada um das fases? Infográfico Por meio da História, é possível interpretar velhos episódios para descobrir, explorar e projetar novos sentidos que possam produzir perspectivas e atitudes que sejam relevantes para a nossa formação e atuação. A História também diz muito sobre a identidade de uma sociedade, suas crenças e o modo como justifica sua prática profissional. Ao conhecer as versões dos acontecimentos, você pode fazer um quadro comparativo e reflexivo entre o ontem e o hoje. A história do Brasil mostra como os acontecimentos políticos, econômicos e sociais interferiram na formação da nossa sociedade, culminando no que somos hoje, como país e como povo. Neste Infográfico, confira uma linha do tempo com os principais acontecimentos da história brasileira para compreender melhor como se deu a formação sócio-histórica do país, no período de 1500 (colonização do Brasil) até sua constituição enquanto Império e, depois, República, até o fim da década de 1920. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Conteúdo do livro A formação sócio-histórica do Brasil, que teve seu início com a colonização portuguesa, foi marcada por avanços e retrocessos no campo das conquistas sociais e democráticas. Os primeiros anos da história brasileira estão intimamente ligados à expansão comercial europeia na Época Moderna. A sociedade brasileira atual ainda reflete traços da subordinação à coroa e dos acontecimentos sociais, econômicos e políticos que sucederam desde então, em um processo histórico singular que marcou o nosso país. O capítulo Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I, da obra Questão social e Serviço Social, retrata os principais acontecimentos do período colonial, do Império e a da Primeira República ou República Velha. Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira. � Analisar os impactos do processo de formação sócio-histórica na contemporaneidade brasileira. � Explicar como as lutas por direitos sociais se relacionam às exigências de cumprimento desses direitos. Introdução Neste texto, você vai estudar o processo de formação da sociedade brasileira a partir de importantes acontecimentos históricos, analisando-os criticamente. O estudo comtempla desde a época da pré-colonização e se aprofunda na decadência do Império, ao final do século XIX, até a instauração da República e, por fim, chegará ao contexto histórico da chamada Era Vargas até 1944. Dessa forma, pretende-se instigar o desenvolvimento da habilidade crítica e analítica acerca do processo de conquista de direitos sociais nesse período, atentando para as demandas da classe dos trabalhadores frente às políticas de cunho liberal e do consequente aprofundamento das múltiplas manifestações da questão social no Brasil. Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira Para entender a formação sócio-histórica da sociedade brasileira, é imprescin- dível caracterizar alguns momentos de grande importância para a formação da sociedade contemporânea brasileira. Veja a seguir quais são eles. Período pré e pós-colonização do Brasil O período abordado neste texto é o da pré-colonização portuguesa, de 1500 a aproximadamente 1532. O momento foi marcado pela extração de muitas riquezas, como o pau-brasil, que os portugueses adquiriam por meio de es- cambos ou trocas com os índios. O interesse em colonizar o Brasil era fraco porque não havia relatos da existência de ouro. A intenção era enriquecer Portugal rapidamente e manter a Coroa portuguesa. O Brasil era explorado por vários países da Europa, que extraíam pau-brasil e tudo que era considerado de valor comercial. Esse quadro foi muito diferente do que o observado na América do Norte, por exemplo, onde o interesse inicial era a colonização, a construção de uma sociedade. A concepção inicial de conquistas de novas terras balizou a traje- tória divergente de desenvolvimento dessas iniciais colônias, futuros países. Você sabe o que ocorreu para que houvesse a colonização no Brasil? Os historiadores brasileiros, de modo geral, assumem a explicação de que a Co- roa portuguesa decidiu ocupar e povoar seus domínios na América devido à pressão que vinha sofrendo das potências comerciais e econômicas europeias, em especial da França, país que, inclusive, já estava ocupando Pernambuco. Contudo, há documentos que comprovam ter havido, também, outra razão: a expansão da fé católica. “A expansão da fé foi também a expansão do comércio” (MENDES, 2012, p. 2). A Igreja tinha grande poder político e econômico à época e, diante do seu apelo e da forte presença de países europeus nas terras que ainda seriam chamadas de Brasil, Portugal decide transformá-las em colônia e povoá-las. O período da monarquia no Brasil Colônia dura 70 anos e é marcado por três períodos. O último período é o mais longo da monarquia – iniciou em 1840 e terminou com a proclamação da República em 1889. Os três períodos são: � Primeiro Reinado; � Regência; � Segundo Reinado. Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I2 Falar em monarquia implica falar em Estado e no seu significado, pois estes são, basicamente, duas formas de governo distintos. Como conceito geral de Estado, pode-se afirmar que é formado por um limite geográfico ou um territó- rio – sendo que há poder político e administrativo sobre esse território – e pela soberania, estabelecendo fronteiras e normas societárias. É um regulador da economia e das relações exteriores e é formado por um conjunto de instituiçõespúblicas. O Estado estabelece um sistema e uma forma de governo. A forma de governo estabelecida no princípio da colonização do Brasil foi a monarquia constitucional parlamentarista. Nessa modalidade de composição do Estado e de suas relações políticas, o monarca tinha poderes absolutos sobre as decisões que envolvessem seu reino. Nesse caso, o poder é hereditário e vita- lício. Por isso mesmo, a República tardou em ser proclamada. Houve um longo período desde a Independência, em 1822, até a queda da monarquia em 1889. Queda da monarquia e instauração da república Aponta-se que a Lei Áurea (1888) teria sido um grande motivador da insatisfa- ção com o governo de Dom Pedro II. De um lado, os grandes proprietários de terras e fazendeiros se revoltaram, pois não foram indenizados pelos escravos libertados. De outro lado, os grupos progressistas estavam insatisfeitos com a demora de Dom Pedro em libertar os escravos. Além disso, a Igreja Católica não estaria mais apoiando o Imperador, e os militares estavam descontentes. Prova disso é que um marechal do exército foi quem proclamou a República, Deodoro da Fonseca. Nesse momento, ocorria a expansão do capitalismo no mundo. A Europa vivia sua segunda Revolução Industrial enquanto o Brasil vivia uma crise social, econômica e política, que teve como consequência a proclamação da república. Contudo, Marechal Deodoro assume a presidência do Brasil de forma provi- sória até as eleições, de acordo com os direitos políticos a serem construídos para isso. Era o início de um processo de transição político-administrativa. A grande diferença entre a monarquia e a república é a forma como se dá o comando político administrativo do país. Na República, o presidente é escolhido pelo voto popular, e seu mandato tem prazo determinado. Existe também uma divisão clara entre os poderes legislativo, judiciário e executivo. 3Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I Com o início da república, houve a libertação dos escravos, mas nenhum planejamento para tratá-los como cidadãos de direitos. Não tinham moradia, renda, documentos ou terras. Assim, aqueles que não continuaram “por sua escolha” servindo aos seus antigos senhores foram para as periferias das cidades, onde construíram suas moradias; outros permaneceram pelas cidades sobrevivendo da forma como puderam. Para substituir a mão de obra escrava, o governo implantou a política de imigração. Assim, vieram para o Brasil imigrantes de muitas partes da Europa e da Ásia, intensificando, ainda mais, uma importante diversidade cultural e étnica. No entanto, era notória a exclusão de negros do processo civilizatório, assim como a manutenção das disparidades socioeconômicas da época da Monarquia, materializadas nas desigualdades entre as classes mais ricas e os trabalhadores pobres. Do final do século XIX até meados do século XX, o Brasil passou por um período de mudanças conjunturais em nível social, político e econômico. O país vivia o crescente processo de urbanização, o desenvolvimento do sistema capitalista, a imigração como política de contratação de mão de obra e a industrialização. O Brasil viveu a República Velha (ou Primeira República), período estabe- lecido entre a Proclamação da República, em 1889, e a Revolução de 1930. Esta foi caracterizada pela tomada do poder por Getúlio Vargas. Havia uma disputa acirrada entre os fazendeiros e os militares pela presidência da república. Essa disputa e as consequências do governo dos coronéis podem ser cons- tatadas quando se estuda, mesmo que brevemente, o período de 1894 a 1930. Foi o período no qual o controle político era exercido pela oligarquia cafeeira paulista e pela elite rural mineira, na chamada “política do café com leite”. Tinham poder até sobre o governo federal. Foi nesse período, também, que se desenvolveu mais fortemente o coronelismo, garantindo poder político regional às diversas elites locais do País (PINTO, 2017). Devido ao voto aberto e à exigência de alfabetização para votar, os coronéis controlavam os resultados das eleições. Durante a República Oligárquica, a preocupação do governo era com os investimentos na economia agroexportadora, garantidos os interesses econômi- cos dos grandes produtores de café, pois estava instalada uma crise econômica mundial que também afetava o País. Portanto, os coronéis governavam para seu próprio lucro e enriquecimento. Ao mesmo tempo, não investiam em políticas sociais, agravando o abismo social e a insatisfação da população. Exemplo de insatisfação foi a revolta do Cangaço, movimento social que lutava, literalmente, contra o descaso do poder público em relação à miséria Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I4 do nordeste brasileiro. Saqueavam as fazendas, extorquiam a população das cidades e sequestravam pessoas importantes política e socialmente. Tratava-se da disputa por terras, de vingança dos jagunços cangaceiros contra coronéis e contra o poder público negligente. O principal representante desse movimento foi Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião (FRANCISCO, 2017). O período da República Oligárquica teve importante contribuição para a formação social e política do Brasil atual. A cultura da extração de riquezas apenas para quem detém o poder político administrativo em detrimento dos interesses e necessidades da população permaneceu vivo. Portanto, devido à grave crise econômica externa que afetou a exportação de café e toda a eco- nomia brasileira, bem como às crises social e política instauradas, os militares tomaram o poder, e Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil em 1930. Foi o início de um novo período de transformações para o País. A crise das oligarquias rurais e a crise econômica mundial, atingindo profun- damente a produção cafeeira, representaram a agonia da República Velha. A insatisfação com a eleição de Júlio Prestes, em 1930, deu à elite os motivos para derrubar os fazendeiros paulistas que estavam no poder, através da Revolução de 1930. Era o fim da República Velha e o início da Era Vargas (PINTO, 2017). A Era Vargas e o processo de conquista de direitos O despertar da República brasileira diz muito sobre os rumos que o Brasil tomou. Há disputas de poder entre poderosos governantes, e o povo sempre teve o papel fundamental da participação e da pressão, para a edificação da sociedade atual. A Era Vargas é especialmente importante para essa compre- ensão, pois foi um momento da História em que direitos foram adquiridos na mesma intensidade em que direitos foram tolhidos. Foi um período social, político e econômico emblemático, pois o Estado assumiu o papel dúbio entre os interesses dos detentores do capital e os da classe operária. É importante compreender que o governo de Getúlio Vargas é chamado de Era Vargas por ser complexo e extenso. Foi composto três períodos distintos: � Governo Provisório (1930/1934) – Implantou a política de interven- ção, inclusive destituindo governadores de seus cargos. O objetivo era acabar com a política do coronelismo, especialmente de Minas Gerais e São Paulo. A revolta dos oligarcas de São Paulo – que não queriam a promulgação de uma Constituição – gerou a guerra que ficou conhecida como Revolução Constitucionalista de 1932. 5Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I � Governo Constitucional (1934/1937) – Após a guerra de 1932, foi promulgada a Constituição de 1934, dando início à nova fase de go- verno. Porém, enfrentava-se a resistência de comunistas e integralis- tas, a Intentona Comunista. Alguns autores afirmam que as reações violentas dos grupos comunistas teriam motivado a implantação do Estado Novo. � Ditadura do Estado Novo (1937/1945) – Foi o período da implantação das limitações das liberdades individuais e a criação de uma nova Constituição Federal. Durante oGoverno Provisório, em 1931, o Governo Vargas criou o Minis- tério do Trabalho, no qual trabalharam os principais líderes sindicais. Dessa forma, os sindicatos foram burocratizados e desarticulados. A partir dessa estratégia, o governo visava a enfraquecer as lutas dos trabalhadores e afiançar o desenvolvimento econômico e os interesses do mercado. Getúlio temia que os movimentos operários também se desenvol- vessem a exemplo dos países europeus, principalmente com a orientação de operários imigrantes da Europa aqui no Brasil. Com a Revolução Industrial ocorrida na Europa (séculos XVIII e XIX), surgiram os conflitos de classes advindos da exploração da força de trabalho dos operários, e a experiência de lutas organizadas foi trazida pelos europeus para o Brasil. A realidade do momento e o quadro que se desenhava no Brasil – com o desenvolvimento das indústrias e o crescimento da população urbana, no primeiro ano de governo – fizeram com que a criação do Ministério do Tra- balho e a contratação dos principais líderes sindicais para assumirem cargos no novo Ministério se tornassem grandes estratégias. Ao mesmo tempo, os direitos eram garantidos ou “concedidos” aos trabalhadores urbanos, que eram a minoria da população, também visando a enfraquecer as lutas e resistências de classe. A proposta era vender a ideia da concessão de direitos pelo “pai do povo”, evitando a consciência das responsabilidades do Estado e da conquista desses direitos. Dessa forma, contraditoriamente, nascem as primeiras ações voltadas à garantia de direitos do trabalhador no País, asseguradas em lei. Tais ações também beneficiavam os detentores dos meios de produção, pois estimulavam a produtividade, desmobilizando as resistências incentivadas pelos sindicatos dos trabalhadores. Criavam-se estratégias de controle da pobreza (principalmente a urbana) e eram garantidos os superlucros das indústrias e a exploração de riquezas do País pelos países estrangeiros. Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I6 Você sabe quais foram os direitos sociais adquiridos na Era Vargas? � Implantação do Ministério do Trabalho; � Criação do Ministério da Educação e da Saúde Pública; � Extensão do direito de voto às mulheres; � Regulamentação do trabalho feminino e dos menores de 18 anos na indústria; � Criação do salário mínimo; � Estipulação do repouso remunerado; � Instituição do direito a férias anuais remuneradas; � Estipulação de jornada de trabalho não superior a oito horas diárias; � Indenização nas demissões sem justa causa; � Reunião e sistematização das legislações sociais, criando-se a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT – 1943); � Expansão das Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs), um sistema de 1923 que assegurava aos trabalhadores ferroviários, como benefício, o direito à aposenta- doria (velhice ou invalidez), o direito à assistência médica para si e para a família, ao recebimento de pensão pelos seus familiares e à compra de medicamentos a baixo preço; � Regulamentação especial para o trabalho agrícola; � Amparo aos desvalidos, amparo à maternidade e à infância; � Instituição do direito à educação primária integral e gratuita (COUTO, 2004; SOUZA, 2017); � Promulgação do Código Penal Brasileiro, da Lei das Contravenções Penais e do Có- digo de Processo Penal Brasileiro. Em 1934, como expressão das mobilizações sindicais, foi criada e dirigida por comunistas a Frente Única Sindical (FUS), que, no ano seguinte, originou a Confederação Unitária do Brasil (CSUB). No mesmo ano, foi criada a Aliança Nacional Libertadora (ANL). Esta última tratava-se de “[...] frente popular anti-imperialista e antifascista que congregava comunistas, socialistas, ope- rários, setores progressistas das classes médias e estudantes”. O movimento reivindicava “[...] a luta contra o fascismo, o fim do pagamento da dívida externa, a reforma agrária e a nacionalização das empresas estrangeiras” (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2011, p. 237). As ações da ANL foram registradas historicamente como violentas e motivadoras de novas e duras ações do Estado. A direita chamou as ações da ANL de Intentona Comunista e decretou a Lei de Segurança Nacional (LSN). O estado prendeu, perseguiu, deportou, torturou e matou estrangeiros. 7Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I Em 1937 ocorreu o Golpe de Estado, e Getúlio criou o Estado Novo com o objetivo de modernizar a indústria. Nessa época, o Estado assume uma postura de repressão e violência sobre os cidadãos. O governo adotou caráter autoritário e implantou o regime ditatorial que durou sete anos. Um exemplo do autoritarismo que tomou conta do País foi o fechamento da Assembleia Legislativa e do Congresso Nacional. Uma nova Constituição foi elaborada por Francisco Campos e aprovada pelo Presidente (COUTO, 2004). Essa constituição ainda preservou os direitos trabalhistas, mas incluiu a avaliação do Estado no caso de algum direito interferir nos planos de governo. Dessa forma, o governo é que definia se o direito seria ou não exercido. Apesar da dureza do Estado contra a população (especialmente os movi- mentos sociais e políticos, pois os ideais anticomunismo e pró-liberalismo haviam sido instalados em âmbito mundial), sempre houve a resistência. O liberalismo está ligado ao desenvolvimentismo e ao capitalismo, favorecendo os grandes industriários e proprietários dos meios de produção e do capital. O escritor Jorge Amado foi preso duas vezes, em 1936 e 1937, sob a acusação de subversão por envolvimento com a Intentona Comunista. Outros escritores e jornalistas conhecidos foram perseguidos não somente nesses anos, mas em todo o período da ditadura. Essa pequena parte da História do Brasil aponta avanços e retrocessos na construção de uma república democrática. Foi um processo longo e doloroso até o alcance da condição de República democrática e cidadã. A década de 1940 foi marcada pela Segunda Guerra Mundial, que influen- ciou o Brasil e já estava em andamento desde 1939, com a invasão da Alemanha na Polônia. Em 1941, com o advento da Guerra, o Brasil procurava permanecer neutro. Vargas não entendia que a participação do Brasil era vantajosa. Porém, a pressão dos Estados Unidos era ferrenha e ameaçava a segurança nacional. Após muita pressão e negociação, Brasil e Estados Unidos assinaram um acordo em que o governo norte-americano se comprometeu a financiar a cons- trução de uma grande usina siderúrgica brasileira – a Companhia Siderúrgica Nacional – em Volta Redonda (Rio de Janeiro) em troca da permissão para a instalação de bases militares e aeroportos nas regiões Norte e Nordeste e em Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I8 Fernando de Noronha. Logo após, navios mercantes de bandeira brasileira foram atacados por forças alemãs e pela marinha italiana, o que pôs fim à neutralidade brasileira. Contudo, mesmo com a pressão popular para uma reação do Brasil, somente após sete meses desses ataques que Getúlio declarou guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista. Foi um fato complicador para a economia brasileira, já que a Alemanha havia se tornado o principal comprador de algodão, café e cacau brasileiros. O Brasil, assim como a Itália e a Alemanha, também tinha um governo autoritário, e Getúlio Vargas mostrava afinidades com o regime fascista. Em vista disso, a nova Constituição Federal brasileira foi chamada de “Polaca” por ser inspirada nos moldes italianos daquela época. No ano de 1943, começaram a surgir as primeiras manifestações contra o Estado Novo, motivadas também pelos ataques aos navios brasileiros pelos alemães e pela demora da resposta do Brasil diante da Segunda Guerra. A primeira delas foi a publicação do Manifesto dos Mineiros, um grupo de advogados que defenderam a redemocratização do Brasil. Diante da pressão popular, GetúlioVargas declarou guerra contra os alemães, mesmo que isso fragilizasse seu próprio governo. Sendo um ditador, Vargas entraria na guerra para combater o regime autoritário do qual ele próprio era praticante. Diante desse quadro, a guerra e seus efeitos no País deixavam evidente o crescimento da rejeição popular ao governo de Getúlio Vargas. A pressão e a rejeição foram tão fortes que Getúlio adotou a estratégia política da concessão de anistia para os presos políticos, de permissão de organização partidária e de convocação de uma nova Assembleia Nacional Constituinte, além de marcar novas eleições. O desgaste da imagem de Vargas era crescente. No ano de 1945, as mesmas tropas militares que faziam parte do governo e “[...] ocupavam seu próprio ministério invadiram o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, e compeliram a renúncia do presidente. Consolidava-se a Queda do Estado Novo e chegava ao fim um governo que durava desde 1930” (HENRIQUES, 1964). Com a queda do Estado Novo, as lutas dos trabalhadores ganharam força e avançaram para a conquista de aumentos salariais e pela liberdade de orga- nizações sindicais. Além da anistia aos presos políticos, o Partido Comunista Brasileiro foi descriminalizado e legalizado. Em 1945, o “PCB elege Prestes para o Senado, com a maior votação na história, até então, e 14 deputados federais além de deputados estaduais e vereadores em várias cidades” (MON- TAÑO; DURIGUETTO, 2011, p. 237). Até 1944, o Brasil viveu um intenso regime ditatorial – apesar de haver resistências, houve fissuras consideráveis no Estado Novo com a entrada do País na guerra e com a intensificação da crise econômica. Os movimentos 9Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I políticos e sociais continuaram existindo mesmo com a acirrada perseguição política do governo contra os cidadãos, marcando a persistência geradora de resultados significativos para o caminho da redemocratização que ainda seria longo e repleto de desafios. Avanços dos direitos na sociedade brasileira Da pré-colonização até os anos de 1940, muitas foram as conquistas pelos direitos sociais. Este capítulo abordou eventos que propiciaram a conquista de muitos direitos. O período pré-colonial não previa nenhum investimento real nas terras brasileiras, servido apenas para a extração do que havia de valor para os países europeus, especialmente Portugal. Contudo, muitos países atracavam no Brasil e também exploravam os recursos naturais, mesmo ainda não tendo sido detectada a existência de ouro. Nos países em que a intenção primeira da conquista de terras estava an- corada na ocupação e na colonização, percebe-se que houve investimentos estruturais, diferentemente da realidade brasileira, na qual a concepção da apropriação dos bens naturais e sociais por particulares esteve incrustada na sua formação sócio-histórica desde os primórdios. A população, em diferentes períodos históricos, manifestou suas demandas sociais, políticas, econômicas e culturais de formas diferentes, considerando os limites e as possibilidades de cada época. Não se pode dizer, portanto, que o povo brasileiro é pacato, pacífico e acomodado, pois existem registros de revoltas que marcaram com sangue a trajetória da conquista de direitos no País. Nota-se também que os movimentos sociais e as associações fortaleceram algumas pautas de lutas por direitos. A união de grupos, de coletivos, por meio da organização sindical, de associações e de partidos políticos possibilitou conquistas importantes. Mesmo tendo o Brasil passado por períodos de ditadura e repressão, os direitos foram gradativamente sendo estruturados, vendendo-se a ideia da concessão. Porém, por uma sequência não linear de acontecimentos internos e em âmbito externo ao País, a sociedade brasileira obteve um expressivo desenvolvimento social e político frente a muitas mobilizações trabalhistas, partidaristas, sindicais e da sociedade civil. Essas resistências abriram portas para uma nova fase da política brasileira: a queda do Estado Novo. Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I10 COUTO, B. R. O direito social na sociedade brasileira: uma equação possível? São Paulo: Cortez, 2004. FRANCISCO, W. C. Cangaço. Brasil Escola, 2017. Disponível em . Acesso em: 17 jun. 2017. HENRIQUES, A. Vargas e o Estado Novo. São Paulo: [s.n.], 1964. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2017. MENDES, C. M. M. A questão da colonização do Brasil: historiografia e documentos. Imagens da Educação, v. 2, n. 2, p. 1-13, 2012. Disponível em: . Acesso em: 14 jul. 2017. MONTAÑO, C.; DURIGUETTO, M. L. Estado, classe e movimento social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2011. (Coleção Biblioteca Básica/Serviço Social, v. 5). PINTO, T. República Velha. Brasil Escola, 2017. Disponível em: . Acesso em: 13 abr. 2017. SOUZA, A. P. A. Os direitos sociais na era Vargas: a Previdência Social no processo histórico de constituição dos direitos sociais no Brasil. In: JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS, 2., 2005, São Luís. Anais... São Luís: UFMA, 2012. Dispo- nível em: . Acesso em: 14 jul. 2017. Leituras recomendadas BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006. (Coleção Biblioteca Básica/Serviço Social). BLUME, B. A. Monarquia e república: qual a diferença? Politize!, 2015. Disponível em: . Acesso em: 19 jun. 2017. ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS. O que são direitos humanos? [S.l.]: ONUBR, [2017]. Disponível em: . Acesso em: 29 maio 2017. WIKIPÉDIA. Estado Novo (Brasil). [S.l.]: Wikipédia, 2015. Disponível em: . Acesso em: 20 jun. 2017. 11Formação sócio-histórica da sociedade contemporânea brasileira e as lutas por direitos sociais I Dica do professor A arte brasileira também se expressou ao se opor, no campo cultural e intelectual, à predominância da cultura europeia. O movimento trouxe consigo uma crítica profunda ao mundo cultural dominante na época, na Semana de Arte Moderna de 1922. Nesta Dica do Professor, saiba mais sobre o assunto ao assistir ao vídeo a seguir. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/c74c258ebb00e74259b7ec13d0442a31 Exercícios 1) As particularidades da nossa formação social são determinantes na própria construção da cidadania e na constituição dos direitos civis, políticos e sociais brasileiros. Marque a opção que melhor expressa essas particularidades. A) Desde o início, Portugal não interferiu no desenvolvimento do país, o que possibilitou a plena expansão econômica e social do Brasil. B) O novo país desenvolveu-se significativamente, não só do ponto de vista econômico, mas também social e politicamente. C) O trabalho escravo e a dependência em relação à Portugal são as principais características que marcaram a sociedade brasileira, principalmente nos três primeiros séculos após o descobrimento do país. D) O Estado sempre se fez presente, numa sociedade considerada latente e em transformação, mas que já revelava os primeiros sintomas da questão social. E) A política da independência brasileira tem uma característica peculiar, uma vez que a população participou ativamente na sua proclamação. 2) Carvalho (2003) destaca algumas marcas peculiares do processo de independência do Brasil. Marque a opçãoque expressa estas marcas. A) Coesão no poder entre brasileiros e portugueses. B) Obscurantismo das diferenças sociais que existiam entre os próprios brasileiros e semelhanças entre portugueses e brasileiros de grande fortuna, que tinham em comum interesses já cristalizados no Brasil. C) Movimento de intensos conflitos sociais em várias partes do país, principalmente, na capital, Rio de Janeiro. D) A escravidão foi um dos principais pontos da Constituição de 1824, tornando-se o ponto de partida para sua abolição. E) A Constituição de 1824 previa o sufrágio universal para todos os indivíduos com mais de 25 anos, com renda acima de cem mil réis e todos os analfabetos. 3) Marque a opção que expressa uma característica do período republicano brasileiro: A) A política da época era descentralizada e fortalecida pelas alianças entre as oligarquias locais e o governo (sistema de poder político conhecido como Coronelismo ou República dos Coronéis). B) Priorização da modernização administrativa, com elevado investimento em políticas que minimizam os reflexos da questão social. C) Os empresários multinacionais que se inseriram no mercado interno brasileiro criaram obstáculos às investidas dos grandes proprietários rurais. D) A sociedade brasileira, nesse período, passou por grandes transformações e sua população adquiriu novas características e um novo status quo social. E) Avanço na participação da população no debate político. As principais transformações no cenário político, econômico e social foram realizadas com a participação dos brasileiros. 4) Assinale a opção que demonstra os principais aspectos do período colonial brasileiro: A) O trabalho dos índios e a dependência em relação à Portugal. B) A grande propriedade rural, fechada à ação da lei e um Estado comprometido com o poder privado. C) Os direitos civis e políticos eram destinados a todos os cidadãos. A grande maioria da população formada especificamente por mão de obra escrava não tinha direito algum garantido. D) O Estado fazia-se presente, numa sociedade considerada latente e em transformação, mas que já revelava os primeiros sintomas da questão social. E) A economia e a sociedade brasileira eram marcadas pela industrialização e pelo grande capital estrangeiro. 5) No campo das conquistas sociais, a sociedade brasileira assumiu a questão dos direitos sociais de modo particular. Marque a opção que expressa os acontecimentos histórico- sociais determinantes para as transformações no campo dos direitos, no contexto estudado. A) No contexto da República, houve uma efervescência política com a participação maciça do povo brasileiro. B) A vinda de trabalhadores imigrantes da Europa que fortaleceram uma identidade classista entre o operariado brasileiro e os seus movimentos de reivindicação de melhores condições de vida e de trabalho. C) As relações sociais estabelecidas entre a elite dominante visando ao progresso da nação e do seu povo. D) A burguesia sempre se utilizava do Estado em benefício do povo brasileiro e do avanço do progresso, pelo bem de todos. E) A grande propriedade rural a mercê da ação do Estado comprometido com os interesses públicos. Na prática Ana Lúcia é professora do curso de Serviço Social em uma universidade. Durante uma aula, abordou a entrada do Brasil na OIT (Organização Internacional do Trabalho) em 1919, que foi um dos grandes marcos do processo histórico e de lutas de segmentos da classe trabalhadora. Veja, Na Prática, como Ana Lúcia apresentou o surgimento da OIT, sua influência na questão social brasileira e seus desdobramentos históricos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/9aa9253c-ad4d-4c1f-b354-a7f502dced73/43893938-4582-4056-a4eb-62a8690c5a3b.png Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Vermelho Brasil Neste filme baseado no livro do escritor francês Jean-Christophe Rufin, você vai saber a respeito da história da expedição de Nicolas Durand Villegaignon ao Brasil por volta do ano 1550, e sua luta para criar uma colônia francesa em solo brasileiro. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. História do Brasil: a independência do Brasil Nesta videoaula, você vai ter acesso a mais informações sobre a independência do Brasil, sobre o fim do domínio português e sobre a conquista da autonomia política. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. 1822 a 1889 - História do Brasil - O Império No documentário recomendado, você verá mais sobre o Brasil Imperial e seus desdobramentos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/IiFjWJxKnYM https://www.youtube.com/embed/U0DkvkGMtik https://www.youtube.com/embed/v9Dux7sVmVw