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NEUROPSICOLOGIA: EXAMES E AVALIAÇÕES 
 
 
1
 
1 
Sumário 
NEUROPSICOLOGIA: EXAMES E AVALIAÇÕES .................................. 0 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 
Introdução ................................................................................................ 3 
O exame neuropsicológico ...................................................................... 8 
Avaliação Quantitativa ........................................................................ 12 
Avaliação Qualitativa .......................................................................... 22 
A avaliação neuropsicológica ................................................................ 33 
Instrumentos de avaliação .............................................................. 36 
Limitações e Vantagens da utilização dos instrumentos da avaliação 
neuropsicológica ....................................................................................... 37 
Interpretação dos resultados .......................................................... 38 
Protocolo Básico ............................................................................. 39 
Avaliação Cognitiva ............................................................................ 40 
A-Testes de eficiência intelectual ................................................... 41 
B- Instrumentos de rastreio ............................................................ 42 
C- Avaliação da memória ............................................................... 44 
D-Avaliação da linguagem .............................................................. 46 
E- Avaliação das habilidades vísuo- construtivas ........................... 47 
F- Funções executivas .................................................................... 48 
G- Avaliação dos distúrbios psicológicos e do comportamento ...... 50 
Avaliação neuropsicológica na criança - indicações e contribuições . 51 
Testes utilizados ............................................................................. 53 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 64 
 
file://192.168.0.2/E$/PostagemNova/PSICOLOGIA/NEUROPSICOLOGIA/NEUROPSICOLOGIA-%20EXAMES%20E%20AVALIAÇÕES/NEUROPSICOLOGIA-%20EXAMES%20E%20AVALIAÇÕES.docx%23_Toc72500942
 
 
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2 
 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
3
 
3 
 
Introdução 
 
 
A neuropsicologia é a ciência que estuda a relação entre o comportamento 
e o funcionamento cerebral em condições normais ou patológicas. Em outras 
palavras, ela busca compreender as funções mentais e sua relação com o 
funcionamento neurológico (Capovilla, 2007). Mais detalhadamente, a 
neuropsicologia entende os processos mentais como sistemas funcionais 
complexos, não localizáveis em estreitas e circunscritas áreas do cérebro e 
ocorrendo com a participação de grupos de estruturas cerebrais, cada uma das 
quais contribuindo de modo diferenciado para a organização do sistema 
funcional em questão (Luria, 1981). 
De acordo com Lezak, Howieson e Loring (2004), a avaliação 
neuropsicológica ocupa lugar central na neuropsicologia por auxiliar na 
investigação das funções mentais, particularmente as funções cognitivas. Em 
resumo, a avaliação neuropsicológica é uma estratégia investigativa destinada a 
 
 
4
 
4 
identificar, obter e proporcionar dados e informações sobre o funcionamento 
mental dos sujeitos. 
O Exame Neuropsicológico é uma análise detalhada e objetiva das 
principais funções mentais: atenção, raciocínio lógico, linguagem, memória, 
percepção visual, planejamento, raciocínio aritmético, através de testes, 
questionários e inventários aplicados por profissionais experientes nesta técnica. 
A avaliação neuropsicológica são testes que investigam as funções 
cognitivas (conhecimentos complexos) e práticas (atividade motora fina) das 
pessoas, para esclarecer os distúrbios de atenção, memória e sensopercepção, 
além de desalinhamentos cognitivos específicos como gnosias, abstração, 
capacidade de raciocínio, cálculo e planejamento, bem como seus diagnósticos 
diferenciais. 
Seu objetivo é apoiar médicos neurocirurgiões, psiquiatras, psicólogos ou 
fonoaudiólogos entender melhor as funções mentais “normais” comparados aos 
sintomas apresentados pelo paciente devidos a temas como desatenção, 
esquecimento ou problemas de cognição. 
Segundo Mäder (1996), os objetivos da avaliação neuropsicológica são 
basicamente auxiliar o diagnóstico diferencial, estabelecer a presença ou não de 
disfunção cognitiva e o nível de funcionamento em relação ao nível ocupacional 
e localizar alterações sutis a fim de detectar disfunções ainda em estágios 
iniciais. Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo e Cosenza (2008) ressaltam que as 
principais razões para se solicitar uma avaliação neuropsicológica são: 
 Auxílio diagnóstico: as questões diagnósticas geralmente buscam 
saber qual seria o problema do paciente e como ele se apresenta. Isso implica 
que seja feito um diagnóstico diferencial entre quadros que têm manifestações 
muito semelhantes ou passíveis de serem confundidas. 
 
 
5
 
5 
 Prognóstico: com o diagnóstico feito, deseja-se estabelecer o curso 
da evolução e o impacto que a desordem terá à longo prazo. Este tipo de 
previsão tem a ver com a própria patologia ou condição de base da doença ou 
transtorno (quando há lesão, com o lugar, o tamanho e lado no qual se encontra 
e, nesse caso, devem ser considerados os efeitos à distância que elas 
provocam). 
 Orientação para o tratamento: ao estabelecer a relação entre o 
comportamento e o substrato cerebral ou a patologia, a avaliação 
neuropsicológica não só delimita áreas de disfunção, mas também estabelece 
as hierarquias e a dinâmica das desordens em estudo. Tal delineamento pode 
contribuir para a escolha ou para mudanças nos tratamentos medicamentosos 
ou outros. 
 Auxílio para planejamento da reabilitação: a avaliação 
neuropsicológica estabelece quais são as forças e as fraquezas cognitivas, 
provendo assim uma espécie de mapa para orientar quais funções devem ser 
reforçadas ou substituídas por outras. 
 Seleção de pacientes para técnicas especiais: a análise detalhada 
de funções permite separar subgrupos de pacientes de mesma patologia, 
possibilitando uma triagem específica de pacientes para um procedimento ou 
tratamento medicamentoso. 
 Perícia: auxiliar a tomada de decisão que os profissionais da área 
do direito precisam fazer em uma determinada questão legal. 
Lezak, Howieson e Loring (2004) apontam ainda a relevância da avaliação 
neuropsicológica para os cuidadoscobrindo uma gama de capacidades e 
habilidades. 
Mesmo tendo fornecido informações quantitativas valiosas a respeito do 
intelecto, Wechsler sempre considerou a complexidade da inteligência e chegou 
a afirmar que “a inteligência se manifesta de várias formas e nenhum dos sub- 
testes das escalas Wechsler pretende refletir toda inteligência” (1994). Essas 
baterias avaliam aspectos distintos da cognição e foram amplamente estudadas 
para verificar seu valor para localização cerebral. Os sub-testes são agrupados 
em domínios específicos que avaliam aspectos verbais (QI verbal) e os não 
verbais (QI de execução) da inteligência. 
 
 
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2 
42 
 
B- Instrumentos de rastreio 
 
O Mini–exame do estado mental (Folstein et al., 1975 e adaptado por 
Bertolucci et. Al, 1994 *6) é, de longe, o teste cognitivo mais utilizado no mundo, 
pois é rápido (em torno de 10 minutos), de fácil aplicação e não requer material 
específico. Deve ser utilizado, no entanto, como instrumento de rastreio e de 
forma alguma substitui uma avaliação mais detalhada, porque apesar de 
investigar vários domínios cognitivos (orientação temporal, espacial, memória 
imediata e de evocação, cálculo, linguagem - nomeação, repetição, 
compreensão, escrita e cópia de desenho), a avaliação é feita de maneira 
bastante superficial. Obviamente não serve para diagnóstico, mas serve para 
indicar as funções que devem ser melhores investigadas. Possui escores 
diferentes dependendo da escolaridade do sujeito testado (Ver Figuras 1 e 2). 
 
 
 
 
 
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3 
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4
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C- Avaliação da memória 
 
Como definiu Iván Izquierdo “A memória é uma função do sistema nervoso 
encarregada de reter informações ou percepções, para que posteriormente 
possam ser utilizadas”. Há razoáveis evidências para se acreditar no 
envolvimento de diferentes regiões do sistema nervoso nos processos de 
aquisição e utilização de diferentes tipos de informação. A desconexão em 
diferentes áreas desses circuitos pode fazer emergir diferentes aspectos 
neuropsicológicos e diferentes manifestações clínicas. 
Basicamente, o processo de memorização inclui 3 etapas: 
- Registro da informação por uma modalidade sensorial; 
- Retenção ou armazenamento; 
- Evocação, que é a capacidade de resgatar a informação 
De acordo com o sistema em operação, a memória pode ser dividida em 
episódica, semântica e de procedimento. A memória episódica é autobiográfica 
e temporalmente relacionada. A memória semântica é a memória do 
conhecimento para fatos. A memória de procedimento ou procedural envolve 
habilidades motoras e perceptuais, como andar de patins. Os diferentes tipos de 
memórias devem ser avaliados nas modalidades verbais e não verbais. Os 
testes mais utilizados para a avaliação da memórias estão listados no Quadro 1. 
 
 
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5 
45 
 
Mais do que a análise quantitativa dos resultados, baseada nos escores, 
é imprescindível a análise qualitativa dos dados. É preciso capacidade para 
responder: o sujeito utiliza estratégias que facilitam a evocação? Ele é capaz de 
agrupar palavras ou desenhos por categoria semântica ou fonêmica ou utiliza 
outra estratégia mnêmica? Como reagiu às interferências? Quais os tipos de 
erros apresentados? Em quanto tempo se dá o esquecimento? 
Diferentes patologias parecem apresentar perfis diferentes nas tarefas 
que avaliam a memória. Pacientes com Doença de Alzheimer apresentam 
dificuldade de evocação porque os processos estratégicos de recuperação de 
informação são deficitários. Enquanto pacientes com quadros depressivos ou 
lesões mais anteriores apresentam dificuldade de registrar uma informação e de 
acessar o mecanismo de busca dessas informações armazenadas. É importante 
observar a presença de intrusões ou perseverações. A intrusão se refere à 
inclusão de palavras ou desenhos estranhos à lista previamente apresentada e 
a perseveração à repetição de algum (ns) dos itens apresentados. 
Todos os testes de memória devem incluir tarefas de reconhecimento 
junto a distratores. 
 
 
4
6 
46 
 
D-Avaliação da linguagem 
 
As alterações de linguagem são manifestações freqüentes após lesões 
cerebrais. A família ou o próprio paciente relata o desinteresse por leitura, a 
dificuldade de escrita, além de dificuldade de encontrar palavras na hora de falar 
bem como a diminuição da fala espontânea. 
Durante a entrevista inicial, é importante observar se faltam palavras no 
discurso, se este é coerente e apropriado para o contexto, se há alteração do 
ritmo e da melodia (prosódia), se o paciente utiliza bordões, se fica em volta da 
palavra alvo. “Aquilo que escreve” para designar caneta, por exemplo. Devem 
ser avaliados: 
Os testes mais utilizados para se avaliar a linguagem são: 
- Teste de fluência verbal por categorias semânticas (dizer o maior 
número de animais em 1 minuto, Newcombe,1969); 
- F. A. S. de fluência por categoria fonêmica (maior número de 
palavras iniciadas com as letras F, A e S durante 1 minuto, Benton & Hamsher, 
1976). Esse tipo de teste é muito sensível, para disfunção frontal, especialmente 
à esquerda (Lezak, 1995); 
- Teste de nomeação de Boston, para se verificar a capacidade 
nominativa (Kaplan et al., 1978); 
- Tolken Test, teste dos toquinhos para observação da compreensão 
oral (De Renzi & Ferrari, 1962); 
- Figura do roubo dos biscoitos, onde o paciente descreve por escrito 
uma cena complexa (Goodglass & Kaplan, 1972). 
 
 
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7 
47 
Esses testes são capazes de avaliar todos os aspectos da linguagem. No 
entanto, para uma investigação mais aprofundada, seria aconselhável o 
encaminhamento a um profissional especializado. 
Nos testes de nomeação, deve-se ficar atentos à presença de parafasias, 
circunlóquios, neologismos e à tendência a fazer gestos para tentar designar o 
objeto. 
Nos testes de escrita, observam-se os erros de ortografia não compatíveis 
com a escolaridade, tendência a duplicar letras, além de frases curtas e sem 
pontuação. 
 
E- Avaliação das habilidades vísuo- construtivas 
 
Os distúrbios visuoespaciais fazem parte de um conjunto de alterações 
associadas a lesões cerebrais. 
 
Os distúrbios visuoespaciais referem-se à percepção deficitária de 
formas, características, distância, cores, local, tamanho, comprimento, volume, 
angulação, luminosidade, movimento e profundidade. A percepção visual provê 
ao observador informações sobre “quais” objetos estão no meio, “onde” e “como” 
estão localizados. Segundo Anauate (Referencia) “a percepção visual abrange 
um número grande de funções e circuitos cerebrais que incluem: procura e 
pesquisa visual; plano e exploração visual; sustentação da fixação visual no 
estímulo por tempo programado; distinção das características do objeto ou 
figura; captação e comparação de detalhes; pesquisa por scanning em diferentes 
arranjos; localização da informação no espaço; monitoramento da velocidade de 
resposta para informação visual; observação do todo e divisão em partes; 
reconhecimento do estímulo em diferentes perspectivas; formação e uso de 
 
 
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imagens visuais para descrever objetos; figuras ou cenas que não estão 
presentes; estocagem de atributos visuais elementares num sistema de memória 
visual”. 
Tradicionalmente, o teste do desenho do relógio tem sido usado como 
tarefa visuoespacial e construtiva. Para sua execução é necessária também 
organização e planejamento. Devem ser investigadas: a distribuição espacial 
dos números dentro do círculo, a ocorrência de negligências visuais e de 
hemianopsias. 
A bateria do WAIS inclui tarefas de construção, envolvendo a 
reconstrução de desenhos com blocos e montagem de quebra –cabeça. 
Outros testes muito utilizadossão: 
- Cópia do cubo- desenho em terceira dimensão; 
- Desenho da casa, bicicleta- desenho em duas dimensões; 
- Figura Complexa de Rey. 
As lesões cerebrais à direita provocam deslocamento e distorções das 
partes, perda das relações espaciais, dificuldade de percepção e ausência de 
crítica dos erros. 
As lesões cerebrais à esquerda podem levar a dificuldades na execução 
da tarefa, como cópias simplificadas, tendência a deixar ângulos em aberto ou 
retificá-los, dificuldades motoras com cópias lentificadas. 
 
F- Funções executivas 
 
Segundo a definição de Lezak,(9) as funções executivas se relacionam a 
processos mentais que envolvem a formulação, a antecipação, o planejamento, 
 
 
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49 
a monitorização e o desempenho com vistas a um objetivo. Compreendem 
funções complexas que capacitam e preparam um indivíduo para ações 
voluntárias dirigidas para metas específicas. O desempenho eficiente do 
funcionamento executivo torna possível focalizar, direcionar, gerenciar e integrar 
o funcionamento cerebral, as emoções e o comportamento, de modo a mantê-lo 
fluente, visando a realização de tarefas rotineiras e a solução de novos 
problemas. Ele possibilita a antecipação de ações futuras, muda as estratégias 
de modo flexível, se a situação assim o exige, direciona o comportamento para 
metas específicas, inibe estímulos competitivos e avalia os resultados parciais 
comparando com o plano original. Enfim, os sistemas frontais têm o caráter 
regulador das funções motivacionais, emocionais, afetivas, perceptivas, 
cognitivas e do comportamento em geral. 
As funções executivas, pela sua nobreza e importância são extensamente 
avaliadas durante o exame neuropsicológico, embora as dificuldades possam 
aparecer mais nas atividades da vida diária do indivíduo do que em situações de 
testagem formal. 
Existem diferentes testes para se avaliar as diferentes funções do lobo 
frontal. Os mais conhecidos são: 
- Análise de figuras temáticas (Escala de Stanford-Binet, por 
exemplo), para avaliar a capacidade de percepção temática e de construção de 
estória simples e objetiva; 
- Torre de Hanói: consiste em uma tarefa de planejamento que 
envolve desenvolvimento e realização de um plano; 
- Wisconsin Card Sorting Test (WCST), para observação da 
habilidade de abstração e capacidade de se mudar de uma linha de pensamento 
para outra, sendo considerado um dos mais sensíveis para disfunção frontal; 
 
 
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50 
- Trail Making Test A e B, Stroop Test, Go-no-go que avaliam a 
inibição de respostas e a resistência à interferência. O teste de trilhas consiste 
em conectar números de 1 a 25 em ordem crescente na forma A, tarefa que deve 
ser realizada dentro de um determinado tempo, e números e letras em sua forma 
B; 
- Repetição de dígitos do WAIS, na ordem direta, que além da 
atenção avalia memória, e a ordem indireta, onde o sujeito tem que inverter a 
seqüência lida pelo examinador, teste que envolve além da estocagem, 
manipulação da informação e controle mental. 
 
G- Avaliação dos distúrbios psicológicos e do comportamento 
 
Em 13 de setembro de 1848, um contramestre de 25 anos de idade, 
chamado Phineas Gage, teve seu crânio perfurado por uma barra de ferro de 6 
quilos e 1 metro de comprimento. Apesar de ter sobrevivido aos ferimentos e ter 
apresentado pouca perda cognitiva, sua personalidade apresentou uma 
mudança radical e ele se tornou irreverente, grosseiro e impaciente. 
Desde então, é sabido que lesões no lobo frontal são capazes de produzir 
mudanças emocionais e comportamentais. 
A avaliação neuropsicológica difere da avaliação cognitiva por incluir a 
avaliação de aspectos não cognitivos. Assim, são utilizados instrumentos de 
rastreio para detecção de distúrbios psicológicos tais como: depressão, 
ansiedade, delírios, alucinações, etc. e comportamentais tais como: 
agressividade, apatia, alterações do sono e apetite, etc. 
As causas para essas alterações são muitas, mas as alterações 
neuroquímicas e a presença de lesões em determinados circuitos geram 
quadros clínicos que simulam patologias psiquiátricas. Assim, lesões de regiões 
 
 
5
1 
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dorso-laterais podem gerar comportamento de apatia, com empobrecimento 
cognitivo e déficit das habilidades executivas. Lesões órbito-frontais são 
normalmente associadas a comportamentos de desinibição e agressividade, 
sugerindo uma “pseudopsicopatia”, com imprudência, inquietude e inadequação 
social. 
Pacientes com lesões de áreas cingulares podem apresentar apatia e 
normalmente não se sentem mobilizados para nada, porém podem manter as 
funções executivas, sendo esse um quadro muito similar à depressão, enquanto 
lesões de pólos temporais anteriores cursam com hipersexualidade, 
hipermetamorfose (tendência a explorar o ambiente), agnosia visual e 
hiperoralidade (tendência a levar tudo a boca). Outros fatores também podem 
contribuir para essas alterações como estresse, mudanças na rotina e no 
ambiente do paciente, etc. Além disso, as perdas funcionais e cognitivas 
parecem influenciar a natureza desses distúrbios. 
É importante tratar também essas alterações porque elas sobrecarregam 
o cuidador e estão associadas a um número maior de institucionalizações, 
segundo estudos de Steele e Cols,. (1990). Atualmente existe uma enorme gama 
de instrumentos para se rastrear tais alterações. Existem escalas globais que 
abordam amplos aspectos do comportamento e da emoção e outras escalas 
onde se avalia um único aspecto emocional ou comportamental. Exemplificam 
os dois casos: o Inventário neuropsiquiátrico (NPI) e o inventário Beck de 
Depressão, respectivamente. Essas escalas são preenchidas com informações 
prestadas pelo examinador, colhidas junto a um familiar ou cuidador ou mesmo 
a partir de informações obtidas com o paciente. 
 
Avaliação neuropsicológica na criança - indicações e 
contribuições 
 
 
 
5
2 
52 
A avaliação neuropsicológica é recomendada em qualquer caso onde 
exista suspeita de uma dificuldade cognitiva ou comportamental de origem 
neurológica. Ela pode auxiliar no diagnóstico e tratamento de diversas 
enfermidades neurológicas, problemas de desenvolvimento infantil, 
comprometimentos psiquiátricos, alterações de conduta, entre outros. 
A contribuição deste exame na criança é extensiva ao processo de ensino-
aprendizagem, pois nos permite estabelecer algumas relações entre as funções 
corticais superiores, como a linguagem, a atenção e a memória, e a 
aprendizagem simbólica (conceitos, escrita, leitura, etc.). O modelo 
neuropsicológico das dificuldades da aprendizagem busca reunir uma amostra 
de funções mentais superiores envolvidas na aprendizagem simbólica, as quais 
estão, obviamente, correlacionadas com a organização funcional do cérebro. 
Sem essa condição, a aprendizagem não se processa normalmente, e, neste 
caso, podemos nos deparar com uma disfunção ou lesão cerebral. 
Ao fornecer subsídios para investigar a compreensão do funcionamento 
intelectual da criança, a neuropsicologia pode instrumentar diferentes 
profissionais, tais como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e psicopedagogos, 
promovendo uma intervenção terapêutica mais eficiente. 
O conjunto dos instrumentos utilizados nos possibilita uma avaliação 
global das capacidades da criança, bem como das dificuldades encontradas por 
ela em seu desempenho dia a dia. Não se trata de "rotular" ou "enquadrar" a 
criança como integrante de grupos problemáticos, e sim de evitar que tais 
dificuldades possam impedir o desenvolvimento saudável da criança. 
Ainda quanto à avaliação em crianças, torna-se importante salientar 
algumas questões, entre elas o fato de o desenvolvimento cerebral ter 
características próprias a cada faixa etária. Portanto, dentro desse padrão de 
funcionamento cerebral,é importante a elaboração de provas de acordo com o 
 
 
5
3 
53 
processo maturacional do cérebro. Por exemplo, "quando se fala de imaturidade 
na infância, esta não deve ser entendida unicamente como deficiência", devido 
às peculiaridades do desenvolvimento cerebral na infância. Diferentemente do 
adulto, o cérebro da criança está ainda em desenvolvimento, tendo 
características próprias que garantem uma diferenciação e especificidade de 
funções. 
Segundo Antunha, as baterias de testes neuropsicológicos adaptados 
para crianças são em número bastante reduzido. Devem contemplar: 
_ a organização e o desenvolvimento do sistema nervoso da criança; 
_ a variabilidade dos parâmetros de desenvolvimento entre crianças da 
mesma idade; 
_ a estreita ligação entre o desenvolvimento físico, neurológico e a 
emergência progressiva de funções corticais superiores. 
 
Testes utilizados 
 
Estão relacionados a seguir alguns testes utilizados na avaliação 
neuropsicológica, descrevendo-se, de maneira sucinta, as potencialidades de 
cada teste ou bateria como instrumento de ajuda na investigação 
neuropsicológica. 
 
Inteligência 
 
 
 
5
4 
54 
Os testes de inteligência para crianças medem primariamente habilidades 
essenciais ao desempenho acadêmico. 
Entre eles, o de Stanford-Binet foi o primeiro nos Estados Unidos. 
Adaptado das escalas originais de Binet-Simon, baseia-se maciçamente no 
desempenho verbal e cobre desde os 2 anos até a idade adulta (23 anos), 
fornecendo uma idade mental e um quociente de inteligência (QI). 
O padrão-ouro internacional para a quantificação das capacidades 
intelectuais são as escalas Wechsler de inteligência, subdivididas pela faixa de 
idade. Essas escalas consistem em uma série de perguntas e respostas 
padronizadas que medem o potencial do indivíduo em áreas intelectuais 
diferentes, como o nível de informação sobre assuntos gerais, a interação com 
o meio ambiente e a capacidade de solucionar problemas cotidianos. 
O teste WPPSI (do inglês Wechsler Preschool and Primary Scale of 
Intelligence - Escala de Inteligência Wechsler para Pré-Escolares e Primário) é 
uma versão para crianças menores das escalas Wechsler, permitindo avaliar a 
inteligência de crianças entre 4 e 6,5 anos. É constituída por seis subtestes 
verbais e cinco de natureza manipulativa. Normalmente, a aplicação de cinco 
subtestes de cada uma das subescalas (verbal e de execução) é suficiente para 
uma análise fidedigna. A escala também permite recolher algumas informações 
sobre a organização do comportamento da criança. 
O WISC-III (Wechsler Intelligence Scale for Children-III - Escala de 
Inteligência Wechsler para Crianças-III) é a escala mais usada para avaliar a 
inteligência de crianças cobrindo as idades de 6 anos a 16 anos, 11 meses e 30 
dias. Fornece escores nas escalas verbal e de execução, bem como um QI de 
escala total. Inclui muitos tipos de tarefas, oportunizando a observação das 
dificuldades da criança e de suas habilidades. É importante salientar que 
crianças com dificuldades motoras em geral são penalizadas neste teste, que 
 
 
5
5 
55 
não deve ser usado quando tal deficiência estiver presente. O subteste Cubos 
do WISC-III (Figura 1) visa averiguar a capacidade de análise, síntese e 
planejamento de coordenadas vísuo-espaciais e a praxia construtiva. Pede-se 
ao sujeito que reproduza, com cubos de faces coloridas, desenhos que lhe são 
mostrados. Para cada modelo é estipulado um prazo limite para execução. 
 
 Embora o QI não seja uma medida para localizar disfunções cerebrais, o 
resultado de QI contribui para dar maiores informações sobre o nível geral de 
funcionamento do paciente e, assim, servir de referência para outras funções 
mais específicas, como memória, linguagem, etc. Tanto o Stanford-Binet como 
o WISC-III e o WIPPSI são administrados individualmente a cada sujeito. 
Quando o paciente não apresenta condições de expressar-se 
verbalmente, usam-se os testes Matrizes Progressivas de Raven e Escala de 
Maturidade Mental Colúmbia, que avaliam a inteligência geral e estimam a 
capacidade de raciocínio geral de crianças de uma forma não-verbal. O objetivo 
do teste Matrizes Progressivas de Raven (Figura 2) é descobrir as relações que 
existem entre as figuras e imaginar qual das oito figuras apresentadas 
completaria o sistema. 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000300014#fig01
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000300014#fig02
 
 
5
6 
56 
 
 Tradicionalmente, a inteligência está relacionada com as habilidades 
acadêmicas, porém existem outros tipos de inteligência (como, por exemplo, a 
caracterizada pela capacidade de relacionar ideias complexas, formar conceitos 
abstratos, derivar implicações lógicas através de regras gerais) que, muitas 
vezes, não é possível mensurar através dos testes convencionais. A este 
respeito, Primi salienta que, nas abordagens da inteligência, duas são tratadas 
como fundamentais: a inteligência cristalizada (que prioriza o conhecimento) e a 
inteligência fluida (que prioriza o raciocínio). A primeira se refere à profundidade 
das informações adquiridas via escolarização e geralmente é usada na 
resolução de problemas semelhantes ao que se aprendeu no passado (como 
nos testes tradicionais de inteligência). A segunda se refere à capacidade de 
processamento cognitivo, ou seja, a capacidade geral de processar informações 
ou as operações mentais realizadas quando se resolvem problemas 
relativamente novos. 
Com o propósito de avaliar a inteligência de uma forma global, foi 
padronizada para a população brasileira a bateria de provas de raciocínio (BPR-
5), a qual oferece estimativas do funcionamento cognitivo geral e das habilidades 
do indivíduo em cinco áreas específicas: raciocínio abstrato, verbal, espacial, 
 
 
5
7 
57 
numérico e mecânico. Este instrumento auxilia os examinadores a tomarem 
decisões sustentadas na avaliação das aptidões e raciocínio geral, tais como, 
por exemplo, na avaliação das dificuldades de aprendizagem. É organizado em 
duas formas: A) para estudantes da 6ª à 8ª série do ensino fundamental; B) para 
alunos da 1ª à 3ª série do ensino médio. 
 
Memória 
 
Para esta função, são utilizados instrumentos que avaliam a capacidade 
de aprendizado de funções de memória, como, por exemplo, o Teste de 
Aprendizado Auditivo Verbal de Rey (Rey Auditory Verbal Learning Test - 
RAVLT) e o Teste de Aprendizado Visual de Desenhos de Rey (Rey Visual 
Design Learning Test - RVDLT). Os testes que envolvem aprendizado, isto é, a 
repetida exposição ao material a ser recordado, são mais sensíveis para detectar 
prejuízos de memória do que testes apresentados somente uma vez. No teste 
de Aprendizado Auditivo Verbal de Rey (Figura 3), lê-se a lista de palavras para 
o examinando, pausadamente, cinco vezes consecutivas. Após cada uma das 
vezes em que são apresentadas as 15 palavras, o sujeito deve fazer a evocação 
do material, sem precisar seguir a mesma ordem de apresentação. 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000300014#fig03
 
 
5
8 
58 
 
 
 O WRAML (do inglês Wide Range Assessment of Memory and Learning 
_ Short Form) é um instrumento psicométrico destinado a avaliar a capacidade 
de aprender e memorizar ativamente vários tipos de informação em pacientes 
na faixa etária de 5 a 17 anos (memória visual, aprendizado verbal, memória 
para histórias). 
Linguagem 
 
Um dos testes mais utilizados para a avaliação da linguagem é o Boston 
Naming Test, que utiliza figuras de objetos para avaliar a capacidade de 
reconhecimento e nomeação. É empregado em crianças com dificuldades de5
9 
59 
compreensão ou produção de palavras ou material verbal escrito. Pode ser 
usado a partir dos 6 anos de idade. Também são utilizados o Teste de Fluência 
verbal (FAS, do inglês Verbal Fluency), testes de compreensão, como o Teste 
de Token, compreensão de textos, escrita e leitura. A avaliação inclui, ainda, os 
seguintes tópicos: órgãos fonoarticulatórios, hábitos orais e desenvolvimento da 
linguagem. 
Algumas particularidades precisam ser respeitadas e levadas em conta 
quando se avalia uma criança com lesão cerebral. Cabe ao profissional ter 
clareza dos propósitos, conhecimentos, habilidade e adequação das técnicas e 
instrumentos de investigação a serem utilizados, como também ter 
conhecimento das possíveis alterações e limitações decorrentes da lesão 
cerebral, para que não sejam cometidos equívocos ao concluir-se a avaliação 
neuropsicológica. 
Em muitas das crianças com lesão cerebral, encontram-se alterados os 
canais formais de expressão e comunicação com o meio. Sendo assim, o 
profissional por vezes precisa criar estratégias a fim de que a criança possa se 
comunicar e, então, interagir e melhor entender o que se passa com ela. 
Devemos auxiliar a criança a nos mostrar seu potencial e a comunicar-se 
utilizando recursos que lhe possibilitem compreender o que está sendo 
solicitado, a representar o que compreende e/ou quer realizar (através de gestos, 
mímicas, fala, expressão gráfica ou ação). 
 
Lobos frontais 
 
Nos últimos anos, cresceu muito o interesse pelas funções do lobo frontal. 
É nessa parte do cérebro que se encontram as maiores diferenças entre os seres 
humanos e seus antepassados na evolução. Os lobos frontais constituem uma 
das maiores regiões do encéfalo, com funções ainda pouco conhecidas, embora 
nos últimos anos tenham se acumulado importantes conhecimentos sobre suas 
 
 
6
0 
60 
atividades. Agora se sabe que é no lobo frontal que se situam as habilidades 
humanas mais complexas, como o planejamento de ações sequenciais, a 
padronização de comportamentos sociais e motores, parte do comportamento 
automático emocional e da memória. 
Para a adequada avaliação das funções "frontais" (funções executivas), é 
necessário ter conhecimento das etapas evolutivas desta estrutura, isto é, do 
seu processo de maturação, o que é particularmente importante quando 
avaliamos uma criança. A avaliação do lobo frontal é, em geral, mais difícil de 
ser realizada, pois envolve funções mais complexas e pouco conhecidas. Entre 
as diversas funções dos lobos frontais estão a plasticidade do pensamento, a 
capacidade de julgamento, a habilidade de produzir ideias diferentes, a 
organização da informação, a capacidade de dar respostas adequadas aos 
estímulos, de estabelecer e trocar estratégias e de planejar uma ação. 
Essas habilidades podem ser avaliadas através do teste de fluência 
verbal, fluência para desenhos, Wisconsin Card Sort Test (WCST), Trail Making 
Test e Stroop Test, que avaliam a capacidade de manter a atenção concentrada 
e de não sofrer interferências de respostas não-exigidas no momento. No 
teste Trail, a tarefa do sujeito na parte A (Figura 4) é ligar, com o lápis, círculos 
consecutivamente numerados, distribuídos aleatoriamente em uma folha de 
papel; na parte B (Figura 5), existem, além dos números, também letras 
impressas na folha de resposta, e a sequência a ser ligada deve intercalar as 
duas séries, números e letras (1-A, 2-B, 3-C). A tarefa deve ser realizada o mais 
rapidamente possível. 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000300014#fig04
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000300014#fig05
 
 
6
1 
61 
 
 
 O WCST avalia a função executiva do lobo frontal. Mede a modulação de 
respostas impulsivas, a direção do comportamento, as habilidades em 
desenvolver e manter uma estratégia na solução de um problema, apesar das 
mudanças de contingência, a flexibilidade, o planejamento, a organização, a 
ineficiência de conceitualização inicial e a dificuldade em encontrar soluções 
para problemas cotidianos, bem como o nível de perseveração, que vem a ser o 
problema que muitas pessoas têm de ficar remoendo um mesmo assunto ou 
repetindo um mesmo comportamento motor. Pode ser aplicado a partir dos 6 
anos de idade. 
Diversos subtestes da Escala de Inteligência Wechsler (WISC III e 
WPPSI) também auxiliam na investigação de disfunções frontais, tais como 
analogias, compreensão, códigos, etc. 
 
Lobos parieto-occipitais 
 
As funções relacionadas às habilidades vísuo-espaciais, organização 
vísuo-espacial (percepção) e planejamento são avaliados pelo teste de cópia da 
Figura Complexa de Rey-Osterrieth, enquanto que habilidades percepto-vísuo-
espaciais são avaliadas pelo teste de Hooper Visual Organization. As figuras de 
Rey (Figura 6) objetivam avaliar a atividade perceptiva e a memória, verificando 
o modo como o sujeito apreende os dados perceptivos que lhe são apresentados 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572004000300014#fig06
 
 
6
2 
62 
e o que foi conservado espontaneamente pela memória. A testagem é composta 
de duas etapas: a primeira é a cópia da figura, e a segunda é a recordação da 
mesma após 30 minutos. A avaliação também pode ser realizada através do 
subteste Cubos das escalas Wechsler. 
 
O Bayley II é um teste destinado à avaliação do desenvolvimento de 
crianças nas idades de 1 a 42 meses. O teste é dividido em três escalas: motora, 
mental e de comportamento, com quociente de desempenho para cada área. As 
três escalas são consideradas complementares, tendo cada uma sua 
importância na avaliação da criança. 
A escala mental avalia aspectos relacionados com o desenvolvimento 
cognitivo e com a capacidade de comunicação (capacidade de discriminar 
formas, atenção, habilidade motora fina, compreensão de instruções, nomeação, 
resolução de problemas e habilidades sociais). 
A escala motora avalia o grau de coordenação corporal (aspectos como 
sentar, levantar, caminhar, subir e descer escadas) e motricidade fina das mãos 
e dedos. 
 
 
6
3 
63 
A escala comportamental permite avaliar aspectos qualitativos do 
comportamento da criança durante o teste, tais como atenção, compreensão de 
orientações, engajamento frente às tarefas, regulação emocional, entre outros. 
O material do teste é atraente e de fácil utilização. Também existe 
o Bayley Infant Neurodevelopment Screener _ BINS, que é uma versão 
simplificada, usada para triagem de desenvolvimento em crianças de 3 a 24 
meses, assim como o Denver II. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6
4 
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Exp. Neuropsychol., 33 (7), 721-734.com o indivíduo. Nesse sentido, a avaliação 
neuropsicológica pode fornecer aos membros de seu convívio familiar e social 
informações importantes relativas às suas capacidades e limitações. Essas 
informações incluem a capacidade de autocuidado, capacidade de seguir o 
tratamento proposto, reações às suas próprias limitações, adequação de sua 
avaliação de bens e dinheiro, dentre outras. Conhecer esses aspectos do 
 
 
6
 
6 
paciente é fundamental para estruturar o seu ambiente, promovendo alterações, 
se necessário, de forma que ele tenha condições ótimas de reabilitar-se e 
evitando possíveis problemas secundários, como atribuição exagerada de 
responsabilidade ou de atividades que não estejam ao seu alcance (Mäder, 
1996). Sendo assim, é fundamental que a avaliação considere, não somente as 
áreas deficitárias, como também as habilidades preservadas que são potenciais 
para reabilitação (Capovilla, 2007). Nota-se que a avaliação das forças e 
fraquezas do indivíduo remete a um modelo avaliação neuropsicológica que 
transcende o objetivo primário de apenas detectar, localizar e caracterizar uma 
disfunção. 
De acordo com Lezak (1995), a avaliação neuropsicológica envolve o 
estudo de aspectos quantitativos (os testes normatizados permitem obter 
desempenhos relativamente precisos) e aspectos qualitativos, que incluem 
entrevistas, questionários, entre outros. Embora os resultados quantitativos dos 
testes neuropsicológicos reflitam a maturidade conceitual e o nível cognitivo, 
muitas variáveis interferem no desempenho dos indivíduos. Ou seja, os escores 
dos testes, isoladamente, fornecem apenas informações limitadas sobre o 
funcionamento mental do indivíduo. Desta forma, é fundamental a análise dos 
aspectos qualitativos durante a interpretação dos testes. Mais importante do que 
saber que o paciente falhou ao realizar um teste, deve-se investigar quais os 
motivos da sua falha, ressalta Lezak (1995). A verificação concomitante do modo 
como ele soluciona problemas também pode fornecer boas informações sobre o 
funcionamento cognitivo do paciente. O olhar minuncioso do profissional sobre 
a realização do teste oferece dados como a estratégia utilizada, a maneira e a 
orientação de como um traço é dado (da direita para esquerda ou da esquerda 
para direita ou uso excessivo de borracha) e os tipos de erros cometidos (Cho, 
Ryali, Geary & Menon, 2011; Woods, Herron, Yund, Hink, Kishiyama & Reed, 
2011). 
 
 
7
 
7 
A avaliação neuropsicológica sendo um exame intensivo do 
comportamento, deve valorizar, não só as capacidades intelectuais em termos 
de desempenho individual, mas também os aspectos emocionais, funcionais e 
relacionais dos indivíduos (Marcelli, 1998). Em muitas situações, as observações 
da conduta do paciente fora da situação de teste e o emprego de entrevistas 
estruturadas ou semiestruturadas podem oferecer dados muito valiosos. Da 
mesma forma, o neuropsicólogo pode lançar mão de informações relatadas 
pelos responsáveis, cônjuges, cuidadores, bem como outros profissionais que 
também estejam acompanhando o indivíduo (Tharinger, Finn, Hersh, Wilkinson, 
Christopher & Tran, 2008). 
É importante salientar que os instrumentos de avaliação, em especial os 
testes, informam o desempenho do sujeito somente no exato momento da sua 
aplicação (Cronbach, 1996). Diante disso, o neuropsicólogo deve considerar 
que, se a avaliação envolve etapas variadas e é realizada em diferentes 
momentos, é imprescindível atentar para as mudanças qualitativas do indivíduo, 
tais como o uso de fármacos, a realização de tratamento psicológico e/ou 
fonoaudiológico e qualquer tipo de acontecimento desestruturante durante a 
semana vigente. 
Além dos instrumentos a serem utilizados, o setting de atendimento 
precisa de cuidados especiais. Jurado e Pueyo (2012), por exemplo, apontam 
que grande parte dos pacientes com danos cerebrais necessitam de salas 
contendo poucos distratores, um clima não ameaçador e procedimentos que 
minimizem a fadiga. Igualmente, o neuropsicólogo pode alternar a aplicação com 
testes verbais e não verbais, evitando uma sequência de testes desagradáveis 
ou com alto grau de dificuldade. 
A influência dos aspectos sócio-afetivos e comportamentais durante o 
processo de avaliação foi apontado por Thompson, Stopford, Snowden e Neary 
(2005). Em seu artigo, os autores destacam a desinibição, rigidez mental e 
 
 
8
 
8 
inflexibilidade, pensamento concreto, distratibilidade e comportamento 
perseverativo como alguns aspectos que afetam o desempenho nos testes e em 
vários domínios cognitivos na demência frontotemporal, por exemplo. Ainda, as 
observações comportamentais ao longo dos encontros podem fornecer dados 
relevantes para o neuropsicólogo. Lapsos ou pedido de repetição das instruções, 
nervosismo ou agitação psicomotora, desmotivação e falta de persistência na 
resolução das tarefas, apatia e falta de iniciativa, baixa frustração à tolerância, 
agressividade são atitudes que devem ser analisadas, pois podem fornecer 
informações mais ecológicas das alterações cognitivas e comportamentais do 
paciente (Salmon & Bondi, 2009; Spooner & Pachana, 2006). Assim, o 
acompanhamento dessas mudanças colabora na identificação de questões 
referentes aos aspectos positivos e negativos da evolução do problema e serve 
como referência para o planejamento da reabilitação neuropsicológica, se for o 
caso. 
Embora, atualmente, inúmeros estudos apontem as contribuições dos 
testes neuropsicológicos na investigação do funcionamento cognitivo e mental, 
parece haver uma carência de investigações sobre a análise qualitativa da 
avaliação neuropsicológica. 
 
O exame neuropsicológico 
 
 
 
9
 
9 
 
O exame neuropsicológico tem-se tornado cada vez mais popular na 
prática clínica e demandado por profissionais de áreas como saúde e educação. 
Um dos riscos dessa popularização é a proliferação de avaliações que não se 
fundamentam em preceitos básicos da neuropsicologia e não levam em 
consideração cuidados necessários para que se chegue a conclusões e 
orientações clínicas. 
A avaliação neuropsicológica difere das demais avaliações clínicas por 
ser fundamentada em um raciocínio monista e materialista. Mesmo não sendo 
mais papel do neuropsicólgo localizar centros lesionais ou detectar organicidade, 
o raciocínio clínico em neuropsicologia envolve considerações sobre as funções 
examinadas e os sistemas neurais subjacentes. 
O exame neuropsicológico é um dos mais importantes exames 
complementares na prática clínica do profissional que lida com comportamento 
e cognição. Seus resultados devem ser considerados à luz de outras 
informações clínicas para potencializar não apenas questões de diagnóstico, 
mas para fundamentar rotinas de intervenção eficientes. 
O exame neuropsicológico é um procedimento de investigação clínica 
cujo objetivo é esclarecer questões sobre os funcionamentos cognitivo, 
comportamental e – em menor grau – emocional de um paciente. Diferentemente 
 
 
1
0 
10 
de outras modalidades de avaliação cognitiva, o exame neuropsicológico parte 
necessariamente de um pressuposto monista materialista segundo o qual todo 
comportamento, processo cognitivo ou reação emocional tem como base a 
atividade de sistemas neurais específicos. 
De acordo com Baron (2004), a especialidade da neuropsicologia inclui 
profissionais que apresentam background teórico e de formações diversas. Essa 
diversidade teórico-conceitual é uma das forças da neuropsicologia e impulsiona 
não apenas a produção de conhecimento como também a eficiência de suas 
aplicações. 
A despeito da existência de diferentes concepções sobre a prática clínica 
da neuropsicologia, Lamberty (2005) propõe que o principal objetivode um 
neuropsicólgo clínico é sempre o mesmo: compreender como determinada 
condição patológica afeta o comportamento observável do paciente (entendido 
aqui como cognição, comportamento propriamente dito e emoção). 
De acordo com Benton (1994), o exame neuropsicológico permite traçar 
inferências sobre a estrutura e a função do sistema nervoso a partir da avaliação 
do comportamento do paciente em uma situação bem controlada de estímulo-
resposta. Nela, tarefas cuidadosamente desenvolvidas para acessar diferentes 
domínios cognitivos são usadas para eliciar comportamentos de um paciente. 
Tais respostas são, então, interpretadas como normais ou patológicas 
pelo expert. Este, por sua vez, usará não apenas a interpretação de parâmetros 
quantitativos (comparação com parâmetros populacionais de desempenho), 
mas, principalmente, a análise dos fenômenos observados e sua relação com a 
queixa principal, a história clínica, a evolução de sintomas, os modelos 
neuropsicológicos sobre o funcionamento mental e o conhecimento de 
psicopatologia. 
 
 
1
1 
11 
Embora os neuropsicólogos usem com grande frequência os testes 
cognitivos, estes são apenas um dos quatro pilares da avaliação 
neuropsicológica. Os demais são a entrevista, a observação comportamental e 
as escalas de avaliação de sintomas. Os testes geralmente são supervalorizados 
em diversos programas de formação em neuropsicologia e por profissionais em 
início de formação. Há também um apelo cartorial que clama pela reserva de 
mercado da neuropsicologia para psicólogos. Um dos pontos centrais desse 
argumento é a retificação de testes psicológicos como a pedra filosofal da 
neuropsicologia. 
A formação bem-sucedida de um neuropsicólogo certamente o levará a 
dar a devida dimensão aos testes cognitivos, encarando-os como meio, jamais 
como fim. Obviamente, os testes são indispensáveis na prática do 
neuropsicólogo, porém devem ser corretamente escolhidos de acordo com 
hipóteses aventadas na entrevista e coerentes com a observação 
comportamental. 
O conhecimento sobre a validade de construto, a validade de critério e a 
validade ecológica, bem como sobre parâmetros normativos e fidedignidade, é 
algo necessário na prática clínica do neuropsicólogo. Além disso, as informações 
geradas por testes são geralmente potencializadas pelas que são coletadas a 
partir do uso de escalas de avaliação de sintomas. Mas, novamente, eles sempre 
serão um meio de investigação, e jamais um fim em si mesmos. 
Mattos (2014) define o exame neuropsicológico como um exame clínico 
armado. Como qualquer exame clínico, compreende anamnese abrangente e 
observação clínica do paciente. Seu diferencial está na seleção das “armas” 
(geralmente, testes e escalas) que poderão auxiliar na investigação de hipóteses 
específicas e no esclarecimento de déficits sutis. De modo geral, o exame é 
realizado com baterias de testes neuropsicológicos que envolvem uma 
variedade de funções, tais como memória, atenção, velocidade de 
 
 
1
2 
12 
processamento, raciocínio, julgamento, funções da linguagem e funções 
espaciais (Harvey, 2012). 
Para avaliação dessas funções, boas armas são aquelas capazes de 
reproduzir, no contexto do consultório, em situação controlada, vários dos 
processos presentes na rotina natural de quem está sendo avaliado. A análise 
fenomenológica e psicométrica do que se observa nessa etapa da avaliação 
ajuda a inferir não apenas sobre a funcionalidade do paciente em seu dia a dia 
como também sobre a integridade ou os danos em diferentes sistemas neurais, 
bem como sobre a presença de neuropatologias. 
 
 
 
Avaliação Quantitativa 
 
A psicometria (do grego psyche = alma e metrein = medir) é a ciência que 
pretende a tradução dos fenômenos psíquicos em números, através da 
 
 
1
3 
13 
quantificação. Em outras palavras, a psicometria pode ser entendia como a 
medição das funções psíquicas através de testes normalizados destinados a 
estabelecer uma base quantificável das diferenças entre indivíduos. A testagem 
psicométrica resume o desempenho em números, neste caso, os números são 
uma forma de expressar os acontecimentos da mente humana. Diante disso, o 
estilo psicométrico é marcado pela qualidade definida da tarefa, objetividade dos 
registros, rigor na avaliação e nos dados combinantes, e ênfase na validação. 
A abordagem psicométrica surgiu a partir de discussões amplas acerca 
da inteligência e de sua medição. Datam do século XIX os primeiros trabalhos 
envolvendo a mensuração de comportamentos humanos, o interesse pela 
inteligência e pela testagem intelectual. Segundo Mäder (1996), nessa época os 
ingleses preocupavam-se com a análise estatística, os franceses com a 
experimentação clínica, os alemães focavam mais os estudos das 
psicopatologias e funções cognitivas mais complexas, e os americanos 
procuravam desenvolver escalas e métodos estatísticos para trabalhar com os 
dados. 
Em 1890, o americano James MacKeen Cattell (1860-1944) publicou um 
artigo onde, pela primeira vez, apareceu o termo teste mental, e descreveu 50 
diferentes medidas, tais como: pressão dinamômetro, velocidade de movimentos 
dos braços, discriminação entre dois pontos, menor diferença perceptível entre 
dois pesos, tempo de reação para o som, tempo para denominar cores, números 
e letras lembradas após uma única exposição oral (Mäder, 1996). Em 1905, 
Alfred Binet propôs uma escala numérica precursora de todos os testes de 
avaliação posteriores. Essa escala, depois conhecida pelo nome de teste de 
Binet-Simon, introduziu: (1) a possibilidade de situar as crianças patológicas em 
uma hierarquia “cifrada” do déficit mental; e (2) a possibilidade de rastrear desde 
o começo da escolaridade certas deficiências intelectuais que, até a entrada para 
a escola, tinham passado despercebidas. Segundo Mäder (1996), esta foi a 
primeira escala que se preocupou com a idade mental e desenvolvimento 
 
 
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cognitivo em relação à idade, compondo-se de testes com graduação de 
dificuldades. 
Em 1936, David Wechsler publicou a Wechsler Bellevue Scale, marcando 
o início de uma série de baterias de avaliação de inteligência (Mäder, 1996). A 
partir disso, diversos testes foram elaborados com uma dupla preocupação: para 
uns, na mesma perspectiva de Binet-Simon, tratava-se de aperfeiçoar a 
avaliação, seja por faixa de idade, seja por aptidão especial; para outros, tratava-
se de abordar a natureza dos processos intelectuais. 
Um teste pode ser definido como um procedimento sistemático para 
observar o comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou 
categorias fixas. Os examinadores psicométricos confiam nas interpretações 
feitas através de uma regra derivada estatisticamente de grupos anteriores; eles 
desconfiam de interpretações mais subjetivas, individualizadas. Assim, para 
conduzir de modo apropriado a avaliação neuropsicológica e, especialmente, a 
avaliação estandardizada normativa, é necessário dispor de instrumentos 
precisos, válidos e normatizados para uma determinada população. 
Os testes têm como objetivo principal examinar as habilidades cognitivas 
em uma escala, que podem alternar desde os desempenhos decididamente 
superiores à média, até os gravemente comprometidos. É importante ressaltar 
que este trabalho não fará distinção entre os termos psicológicos e 
neuropsicológicos ao tratar-se de testes, visto que praticamente não existem 
testes neuropsicológicos, apenas o método de elaborar inferências sobre os 
testes é neuropsicológico. Isto significa que mais importante que avaliar é como 
avaliar (Mäder, 1996), ou seja, o profissional interpreta os resultados dos testes 
de acordo com sua formação. Por exemplo, um psicólogo que não possui 
conhecimentos de neuropsicologia nãoserá capaz de relacionar as funções 
psicológicas avaliadas com as teorias do funcionamento cerebral. 
 
 
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15 
Segundo Capovilla (2007), para o estudo neuropsicológico podem ser 
usados procedimentos de comparação estandardizada ou não. Nos 
procedimentos estandardizados, a avaliação do distúrbio é feita em relação a um 
padrão que pode ser normativo (ou seja, derivado de uma população apropriada) 
ou individual (derivado da história prévia do paciente e de suas características). 
A avaliação neuropsicológica estandardizada tem sido grandemente influenciada 
pela psicometria. Uma abordagem psicométrica é mais proveitosa quando uma 
pergunta bem definida deve ser respondida, e quando o intérprete tem 
experiência suficiente para traduzir a mensuração numa estimativa do provável 
resultado de cada curso de ação disponível. 
É importante ressaltar que os passos no desenvolvimento de um 
instrumento de avaliação neuropsicológica devem seguir os critérios para 
desenvolvimento de instrumentos de avaliação psicológica em geral, envolvendo 
a definição do construto psicológico a ser examinado e a operacionalização 
desse construto, de forma a possibilitar a sua mensuração experimental e/ou 
psicométrica, e a verificação das características psicométricas do instrumento de 
avaliação neuropsicológica, que poderá envolver a análise dos itens, análise da 
precisão e da validade do instrumento. De uma forma geral, os instrumentos de 
medida em psicologia testam indícios de comportamento, o que deixa uma 
margem ampla quanto à sua confiabilidade. Para minimizá-la, é preciso que o 
instrumento seja fidedigno e válido. 
Diante disso, os profissionais que fazem uso de testes devem estar 
atentos a quatro parâmetros: validade, precisão ou fidedignidade, padronização 
e normatização. A validade pode ser compreendida como o grau com que as 
interpretações feitas a partir dos escores de um teste são sustentadas por 
evidências empíricas ou teóricas. Assim, um teste psicológico pode ser válido 
em circunstâncias específicas de uso, para as quais os dados teóricos ou 
empíricos encontraram sustentação para a interpretação dos seus resultados. 
Em outras palavras, um teste é válido quando mede o que se propõe a medir. 
 
 
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A fidedignidade ou precisão dos testes refere-se ao grau com que os 
resultados de um teste se mostram consistentes, quando medido em situações 
diferentes; sendo assim, quanto maior a correlação entre os escores dos dois 
momentos diferentes, maior será a precisão do teste. Já a padronização de um 
teste refere-se à uniformidade de procedimentos utilizados em sua aplicação. 
Quando as condições de aplicação não são asseguradas, mesmo um teste de 
boa qualidade pode tornar-se inválido, não como medida psicométrica, mas na 
proporção em que os dados obtidos sobre o sujeito não sejam confiáveis. 
 Por fim, a normatização refere-se à uniformidade na interpretação dos 
resultados dos testes, ou seja, ao desenvolvimento de critérios ou parâmetros 
para a interpretação dos escores obtidos nos testes. A normatização permitirá 
situar o testando, levando-se em conta um padrão ou norma, atribuindo sentido 
aos escores obtidos no teste. 
Um teste é considerado padronizado quando as palavras e os atos do 
examinador, o aparelho e as regras de avaliação foram fixados, de modo que os 
resultados coletados em momentos e lugares diferentes sejam inteiramente 
comparáveis. Em outras palavras, os testes são padronizados quando eles são 
apresentados da mesma maneira para muitas pessoas, em muitos lugares. 
A padronização de testes, inventários e escalas possibilita o 
desenvolvimento de normas nacionais, deixando mais apropriada a 
interpretação dos escores resultantes em um determinado instrumento, na 
medida em que uniformiza o processo de aplicação, avaliação e interpretação. 
E, assim, permitindo que sejam aplicados e avaliados de forma idêntica por 
qualquer aplicador, o que diminui as variâncias de erro e amplia as possibilidades 
de pesquisas cientificas diante da possibilidade da reprodução de resultados. 
Para Lezak (1983), um instrumento eficiente deve ter idoneidade na 
adequação das necessidades do indivíduo ou propósito; praticabilidade, 
compondo-se de instrumental mínimo necessário adaptável e breve; utilidade, 
 
 
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cujos dados deverão ser importantes na análise para conferir um diagnóstico, 
plano de intervenção ou linha de base num determinado momento evolutivo de 
uma lesão/disfunção; previsibilidade, para possibilitar a identificação de dados 
patológicos. De acordo com Tabaquim (2003), quanto maior a capacidade de 
predição, melhor a qualidade do teste. Além disso, para maior fidedignidade das 
conclusões neuropsicológicas, Costa et. al. (2004) sugere a utilização de mais 
de um teste ao avaliar cada função cognitiva. 
Segundo Capovilla (2007), os testes neuropsicológicos podem ser 
agrupados em baterias fixas ou flexíveis. As baterias fixas são aplicáveis em 
pesquisas, em protocolos específicos para investigação de uma população 
particular. Já as baterias flexíveis são mais apropriadas para a investigação 
clínica, pois estão mais voltadas para as dificuldades específicas do paciente 
(Mäder, 1996). Na medida em que a avaliação neuropsicológica se processa 
com testes quantificáveis específicos e que investigam amplamente o 
funcionamento cognitivo, ela permite estabelecer se há distúrbio ou déficit, se 
eles têm relação com a doença presente e se é sugestiva de uma desordem não 
diagnosticada no presente. Ela estabelece que funções, áreas ou sistemas 
cerebrais podem estar envolvidos e quais hipóteses diagnósticas podem ser 
feitas a partir do exame. 
Como vimos, Mäder (1996) propõe como protocolo básico, para avaliação 
neuropsicológica clínica, uma composição de testes de orientação, atenção, 
percepção, inteligência geral, raciocínio, memória verbal, visual, de curto e longo 
prazo, flexibilidade mental, linguagem e organização visuoespacial. O protocolo 
básico deve permitir ao examinador um panorama geral do funcionamento 
cognitivo do paciente, para posteriormente aprofundar sua avaliação com testes 
complementares. O resultado final deve fornecer um perfil neuropsicológico do 
paciente que, combinado a avaliação dos aspectos neurológicos, psicológicos e 
sociais, permitirá a orientação do paciente ou da família sobre o melhor 
aproveitamento de suas potencialidades. Mäder (1996) entende por “perfil”, 
 
 
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quando os resultados dos testes são computados lado a lado em escalas 
comparáveis. 
São diversos os instrumentos à disposição da comunidade internacional. 
Lezak (1983) aponta como recursos, na última edição de seu livro, 435 técnicas 
e/ou instrumentos destinados à avaliação neuropsicológica. No entanto, de nem 
sempre os instrumentos usados são normatizados, ou adaptados para a 
população brasileira. A maioria dos instrumentos então disponíveis são 
adaptações de outras culturas (Mäder, 1996) e a correta interpretação exige o 
exercício de raciocínio clínico do avaliador. Nesse sentido, vale ressaltar que 
alguns testes de inteligência para adultos são normatizados para uma população 
com cerca de oito anos de escolaridade (Mäder, 1996). No entanto, a média de 
anos de estudo das pessoas de 10 anos ou mais de idade, no Brasil, segundo 
dados do IBGE (2007), é de sete anos de escolaridade. Sendo assim, o 
desempenho inferior nesses testes, para uma amostragem brasileira, poderia ser 
interpretado como rebaixamento intelectual, efeito da diferença de escolaridade 
ou ainda como interação entre ambos os fatores. A elaboração de um material 
próprio para a nossa realidade pode ser bastante útil para a compreensão dos 
problemas específicos da população brasileira. 
Embora as pesquisas em neuropsicologiatenham crescido e resultado em 
trabalhos valiosos, no Brasil, pesquisadores e clínicos que trabalham com 
avaliação neuropsicológica ainda se deparam com um problema bastante grave: 
a escassez de instrumentos precisos, validados e normatizados, disponíveis 
para pesquisa e diagnóstico (Capovilla, 2007). Portanto, o profissional deve estar 
atento às particularidades de cada teste, sua sensibilidade e especificidade, 
além de considerar os aspectos culturais e limitações do método utilizado 
(Mäder, 1996). No que se refere a essas dificuldades encontradas na prática, 
Cunha (1993) afirma que, quando o objetivo é o diagnóstico na clínica, é mais 
adequado utilizar técnicas bem respaldadas na literatura, mesmo que 
estrangeira, até que estejam disponíveis padronizações mais apropriadas. 
 
 
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Para Lezak (1983), a necessidade de planejamento na avaliação 
neuropsicológica é fundamental, na medida em que é de importância indiscutível 
a relação que deve existir entre os instrumentos utilizados e as hipóteses 
levantadas a partir do diagnóstico geral, feito no início do processo. Contudo, 
cabe ao avaliador não se fechar em uma única bateria, pois, de acordo com as 
evidências surgidas no processo de avaliação, ele poderá incluir novos critérios 
de análise. Uma bateria que esteja voltada para a avaliação de indivíduos com 
lesões ou distúrbios neuropsicológicos deve apresentar as seguintes 
características, de acordo com Lezak (1983): fundamento teórico sólido; 
possibilidades de exploração das funções básicas; possível aplicação sem 
intermediações do avaliador ou pessoas próximas ao paciente; critérios de 
avaliação mais objetivos e capazes de possibilitar quantificação dos dados; 
recursos mínimos, essenciais à aplicação. 
Embora seja simples obter dados teóricos sobre como elaborar uma 
bateria neuropsicológica e até mesmo como utilizar um teste específico, nas 
mãos de pessoas com treinamento inadequado os testes podem causar danos, 
como, por exemplo, classificar crianças em uma categoria de deficiência 
cognitiva à qual elas não pertencem. Usuários sem treinamento podem 
administrar erradamente um teste. Eles podem confiar demais em medidas 
inexatas e podem entender mal o que o teste está medindo, chegando a 
conclusões errôneas. Sendo assim, os profissionais devem limitar-se aos testes 
que são capazes de manejar adequadamente e que são reconhecidamente 
relevantes para seus propósitos. Nesse sentido, Cronbach (1996) afirma que os 
usuários de testes devem: 
1) Primeiro, definir o propósito da testagem e a população a ser 
testada. Depois, selecionar um teste para esse propósito e essa população, 
baseados num cuidadoso exame das informações disponíveis. 
 
 
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2) Investigar fontes de informação potencialmente úteis, além dos 
resultados de teste, e corroborar as informações fornecidas pelos testes. 
3) Ler os materiais fornecidos pelos criadores de testes e evitar usar 
testes sobre os quais existam apenas informações confusas ou incompletas. 
4) Ficar a par de como e quando o teste foi desenvolvido e 
experimentado. 
5) Ler avaliações independentes de um teste e de possíveis medidas 
alternativas. Procurar as evidências necessárias para confirmar as afirmações 
dos criadores do teste. 
6) Examinar um conjunto de amostra, testes divulgados ou amostras 
de questões, orientações, folhas de resposta, manuais e os relatórios de 
resultados, antes de selecionar um teste. 
7) Determinar se o conteúdo do teste e o(s) grupo(s) de comparação 
são adequados para os examinandos. 
 8) Selecionar e utilizar apenas aqueles testes para os quais estejam 
disponíveis as habilidades para aplicar e interpretar corretamente os resultados. 
Diante de tantas recomendações, não é difícil utilizar um teste de forma 
errônea. De acordo com Marcelli (1998), os principais usos errôneos dos testes 
incluem a escolha inadequada de testes, aplicação falha, interpretações 
insensíveis às limitações dos resultados e má comunicação dos achados do 
teste. Sendo assim, Marcelli (1998) cita cinco princípios do uso efetivo dos 
testes, nos quais os profissionais devem: 1) manter a segurança dos materiais 
de testagem antes e depois da testagem; 2) evitar rotular o indivíduo com base 
num único resultado de teste; 3) aderir estritamente à lei de direitos autorais e, 
em nenhuma circunstância, tirar cópias ou reproduzir de alguma maneira os 
formulários de resposta, os livros ou manuais de teste; 4) administrar e avaliar 
os testes, exatamente como especificado no manual; e 5) liberar os resultados 
 
 
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somente para pessoas autorizadas e de acordo com os princípios de 
interpretação de testes. 
Como vimos até agora, a testagem resume o desempenho dos avaliados 
em números e seu ideal. Nesse sentido, a mensuração torna-se essencial e, a 
partir dela, os testes podem dar mais fidedignidade a vários tipos de avaliação 
(Cronbach, 1996). Em outras palavras, os testes proporcionam uma base mais 
objetiva e confiável para avaliar hipóteses (Cronbach, 1996). Porém medir 
significa atribuir valores a características ou atributos de um objeto segundo 
regras que assegurem a validade e a confiabilidade dos resultados da medida. 
Sendo assim, a testagem psicométrica busca reduzir a mensuração a um 
procedimento técnico (Cronbach, 1996). Independente do instrumento utilizado 
na obtenção dos dados para a posterior avaliação, o tratamento dos dados 
ocorre sempre através da quantificação, com representação numérica ou 
estatística. 
Por outro lado, para que a quantificação seja possível, a testagem 
psicométrica parece preocupar-se mais com o produto do que com o processo 
(Cronbach, 1996). O produto é claramente observável – a resposta dada, a torre 
de cubos construída, ou a redação escrita (Cronbach, 1996). Já o processo é 
investigar as origens de um padrão de resposta, ou seja, buscar as 
circunstâncias atuais que desencadeiam a resposta de um indivíduo. Ainda que 
a testagem tenha deixado de lado a avaliação do processo, a avaliação do 
produto também não é tão simples quanto parece. O que é claramente 
observável e comum a todas as pessoas são os comportamentos humanos; e 
estes, de acordo com Campos (2008), são amplos e variados, sendo muitas 
vezes tecnicamente inviável ou até mesmo impossível a avaliação de todas as 
possibilidades de comportamento. Quanto ao problema da avaliação do 
comportamento, Miranda (2006) também faz uma crítica muito apropriada, ao 
relatar que a análise quantitativa consiste na obtenção de escores que não são 
 
 
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2 
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observações diretas do comportamento, mas sim um sumário do comportamento 
observado. 
Outro ponto importante a ser discutido é que, como já mencionado, os 
testes, ou até mesmo a avaliação fornecem dados do indivíduo em um 
determinado momento, no entanto, algumas características do sujeito são 
razoavelmente constantes ao longo do tempo, enquanto que outras são 
extremamente instáveis (Campos, 2008). O humor, por exemplo, dificilmente 
será estável ao longo de dias, ou até mesmo entre uma hora e outra. Dessa 
forma, torna-se difícil, talvez impossível, traduzir a qualidade do humor em 
quantidade. Além disso, mesmo que os dados fornecidos pelos testes sejam 
vinculados a uma questão momentânea, não valeria a pena obter essa 
informação, se não pudéssemos predizer alguma coisa sobre um desempenho 
posterior. Sobre isso, Cronbach (1996) levanta a seguinte questão que, aqui, 
vale como reflexão: Com que intensidade o desempenho anterior de alguém 
deve determinar suas perspectivas futuras? 
Conforme vimos, embora a abordagem psicométrica seja fundamental, 
existem questões que não se enquadram no critério de quantidade e, por isso, 
exigem um tratamento diferenciado para obtenção de dados sobre o sujeito.Em 
razão disto, da alta complexidade das funções cognitivas – já descritas no tópico 
anterior – e do fato de que o psicólogo que avalia com base na neuropsicologia 
cognitiva não poder ater-se somente ao que está quantificado, é que a 
abordagem qualitativa torna-se essencial. O que é a avaliação qualitativa e a 
necessidade de realizá-la serão discutidos adiante. 
 
 
Avaliação Qualitativa 
 
 
 
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23 
Ferreira (1975) define “qualidade” como propriedade, atributo ou condição 
das coisas ou das pessoas capaz de distingui-las das outras e de lhes determinar 
a natureza. Sendo assim, a qualidade é algo que permite reconhecer diferenças 
e, portanto, tem a capacidade de determinar a natureza daquilo que está sendo 
qualificado. Em se tratando da avaliação neuropsicológica, a qualidade está 
relacionada aos vários aspectos do ser humano, em especial sua peculiaridade 
como sujeito. Eis o que a quantificação negligencia, ao tentar quantificar o 
indivíduo. 
De acordo com Cronbach (1996), a “avaliação” é um processo mais amplo 
do que a “testagem”, quando significa integrar e valorar informações. Segundo o 
autor, o termo “avaliação” sugere apropriadamente uma combinação de 
informações com julgamentos de valor que vão muito além da testagem. De 
modo muito mais sofisticado do que havia proposto a psicologia cognitiva, a 
avaliação realizada nos moldes da teoria de Luria (1981) privilegiou a influência 
dos fatores socioculturais sobre o desempenho e análise dos erros. Dessa 
maneira, favoreceu o estudo e a compreensão dos mecanismos e estratégias 
envolvidos nas execuções da resposta (Santos e Andrade, 2004). 
Uma avaliação neuropsicológica pode ser resumida como uma estratégia 
investigativa destinada a identificar, obter e proporcionar, de maneira válida e 
confiável, dados e informações suficientes e relevantes sobre o funcionamento 
do sujeito. Conforme já citado, o protocolo básico de qualquer avaliação 
neuropsicológica consiste na utilização de testes específicos, porém estes, 
isoladamente, não abrangem todos os aspectos da cognição e do 
comportamento do sujeito. Em outras palavras, um resultado de testes, por si 
mesmo, quase nunca deve determinar o que será feito por uma pessoa ou para 
ela (Cronbach, 1996), pois as condições do trabalho clínico não permitem a 
aplicação controlada de muitos métodos experimentais. E, lidando com 
pacientes, nunca devemos esquecer que o que está em jogo é a individualidade, 
e não uma abstração estatística que, em sua média, comprova uma teoria (Luria, 
 
 
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1992). Sendo assim, tendo em vista que uma boa avaliação deve reduzir 
incertezas, é fundamental que o profissional em questão faça uma integração 
entre a psicometria e o sujeito. 
Considerada como método de investigação das relações entre as funções 
psicológicas e a atividade cerebral (Dalgalarondo, 2008), a avaliação 
neuropsicológica diferencia-se dos demais tipos de avaliação por não ser uma 
simples descrição de distúrbios e sim uma interpretação dos mesmos dentro de 
um contexto que colabora na explicação dos mecanismos subjacentes ao 
comportamento (Capovilla, 1998). Por exemplo, em certas ocasiões, precisa-se 
de uma avaliação que indique ou apoie um diagnóstico. Porém, em outras, 
necessita- se saber se está havendo piora ou melhora no quadro do sujeito e até 
na sua própria qualidade de vida. Nesse sentido, os resultados – qualitativos – 
expressam as forças e fraquezas do indivíduo, podendo expressar também os 
seus principais ganhos e potencialidades. 
No entanto, conforme já mencionado neste trabalho, a avaliação e 
interpretação do comportamento humano não é simples, uma vez que este é 
consequência de três grandes sistemas (Lezak, 1995) que, por serem funcionais, 
são interdependentes, na medida em que, mesmo exercendo funções 
separadamente, elas se encontram ligadas como conceitos que geram o 
comportamento individual. O primeiro desses sistemas engloba as funções 
cognitivas, que, como já vimos, são responsáveis pelo processamento das 
informações. Sendo que tal funcionamento faz com que o sistema se divida em 
quatro classes, que são nomeadas com base nas operações computacionais – 
input, estocagem, processamento e output – correspondentes, por sua vez, às 
funções de recepção, memória, pensamento e às chamadas funções 
expressivas. Também estão envolvidas nessa categoria as variáveis de 
atividade mental, como, por exemplo, nível de alerta, atenção, taxa de atividade 
ou velocidade. 
 
 
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25 
O segundo sistema estudado por Lezak (1995) refere-se aos aspectos 
emocionais que incluem as variáveis de personalidade e emoção. Este é o 
campo sistêmico do comportamento humano decorrente de arranjos que se 
apresentam de forma complexa, visto que esse aspecto está diretamente 
envolvido com demandas sociais, ou seja, com um conjunto de ações e reações 
provenientes do ambiente social. Em se tratando de aspectos emocionais, 
Marcelli (1998) afirma que a experiência clínica mostra o quanto é artificial 
separar o que se chama de estado afetivo e as funções cognitivas, pois 
perturbações em um desses domínios acabam habitualmente por repercutir no 
outro. Assim, graves perturbações afetivas são acompanhadas, com o tempo, 
de distúrbios cognitivos. Neste ponto, não há como desconsiderar o estado 
emocional do sujeito, no momento da avaliação. Ainda de acordo com Marcelli 
(1998), quanto mais profunda a deficiência intelectual, mais grave será a 
dificuldade afetiva. 
O terceiro sistema funcional que completa a concepção comportamental 
de Lezak (1995) compreende as funções executivas ligadas às ações individuais 
independentes, cujo propósito vem da decisão do agente e se traduz como ação 
auto-regulada. Pessoas indecisas, que apresentam dificuldades de iniciar 
atividades e conduzi-las dentro de uma sequência lógica, ou que apresentam 
dificuldade de planejamento ao estabelecer um objetivo, por mais simples que 
seja, revelam dificuldades nesse sistema funcional. Apesar de os três aspectos 
serem partes integrantes de todo comportamento, eles podem ser 
conceitualizados e tratados separadamente. Na neuropsicologia, as funções 
cognitivas têm recebido mais atenção que as demais (Capovilla, 2007). Porém, 
raramente uma lesão cerebral afeta apenas um sistema. Ao contrário, a maior 
parte das lesões afeta os três sistemas, apesar de os distúrbios cognitivos 
tenderem a ser os mais proeminentes em termos de sintomatologia (Lezak, 
1995). Por isso, é extremamente necessário avaliar os sintomas com base nos 
três processos e na interação que estabelecem entre si. 
 
 
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A avaliação neuropsicológica normalmente se estrutura em uma série de 
testes e subtestes. E, conforme vimos no tópico anterior, existe uma 
preocupação permanente com: objetividade, precisão, validade e interpretação 
dos dados. Essa preocupação ocorre em razão das questões de ordem 
emocional que afetam a avaliação, e que podem alterar os resultados. Essa 
constatação também aponta para a questão central do presente estudo, ou seja, 
que a análise qualitativa na avaliação neuropsicológica envolve categorias que 
a quantificação não engloba e nem dá conta. Sendo assim, durante a avaliação 
neuropsicológica e ao analisar os resultados, o profissional deve se respaldar 
numa teoria psicológica que ofereça recursos para lidar com fatores emocionais 
e ambientais que afetam o comportamento. Tais fatores devem ser 
constantemente ponderados diante da necessidade de uma atividade avaliativa, 
sob pena de reduzir o processo a uma ótica limitada, apresentando apenas os 
resultados dos testes. 
Cronbach (1996) afirma que os métodos de coleta de informações devem 
variar de um extremo psicométrico a um extremo impressionista. Os 
impressionistas consideramo observador, no caso o psicólogo, como um 
instrumento sensível e inclusive indispensável (Cronbach, 1996). Conforme já 
mencionado, a avaliação neuropsicológica não é apenas a aplicação de testes e 
sim a interpretação cuidadosa dos resultados somada à análise da situação atual 
do sujeito e ao contexto em que vive (Mäder, 1996). A complexidade intrínseca 
às funções cerebrais, à investigação e ao diagnóstico das disfunções mentais 
requer um enfoque integrado de avaliação, que implica o somatório de todos os 
dados do indivíduo, desde a história clínica e as observações de conduta, até 
dados levantados pelos testes padronizados, incluindo os dados neurológicos ou 
médicos gerais. 
Um estilo impressionista de avaliação busca a descrição individualizada. 
O psicólogo tenta ser um observador sensível que percebe as deixas através de 
todos os meios possíveis e cria uma interpretação integrada. Para este 
 
 
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examinador, até um teste focalizado é uma oportunidade de estudar a pessoa 
como um todo. O impressionista não se satisfaz com uma estimativa numérica 
do nível de capacidade (Cronbach, 1996). Ele quer saber como a pessoa 
expressa sua capacidade, que tipos de erros comete e por que. Enquanto o 
examinador psicométrico prefere um método uniforme, impessoal, o 
impressionista prefere a flexibilidade (Cronbach, 1996). Para tanto, 
paralelamente ao registro quantitativo das respostas, o neuropsicólogo deve 
fazer registros qualitativos da responsividade do paciente, reconhecimento de 
seus próprios erros, respostas emocionais e características de execução das 
tarefas (Capovilla, 2007). 
O impressionista observa aquilo que a pessoa considera importante 
relatar e também seu tom emocional (Cronbach, 1996). Dessa forma, ele 
permanece atento às reações do indivíduo, ao fazer seu relato. Ele prefere 
procurar o que é significativo no comportamento e no discurso do sujeito, 
conforme o observa trabalhando. Quanto ao discurso, cabe aqui empregar o 
conceito de Chomsky de estrutura profunda, onde o profissional busca os 
significados implícitos nas sentenças do indivíduo. Portanto, listar variáveis 
antecipadamente é uma restrição inaceitável para o psicólogo impressionista. A 
resposta livre fornece informações não sistemáticas, mas abrange questões que 
a lista de verificação ignora (Cronbach, 1996). Sendo assim, esta forma de 
avaliar pode ser relacionada como um importante aspecto nos processos de 
avaliação psicológica, sobretudo, porque foge das medidas dos testes 
psicométricos. Pode-se dizer, então, que o estilo impressionista considera uma 
descrição individual que passa a fazer parte da avaliação integrada. 
Além da importância de se levar em conta o estilo impressionista, o 
psicólogo deve ter cuidado com as inúmeras variáveis que influenciam o 
desempenho dos indivíduos avaliados. Quanto à avaliação das funções mentais, 
é importante ressaltar que a organização cerebral está muito além das 
simplificações e abstrações decorrentes na análise dos instrumentos 
 
 
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empregados, pois raramente um teste ou subteste é específico de uma função 
mental independente. Por exemplo, ao estudar a denominação de objetos 
representados em imagens, explora-se também a atenção seletiva, percepção e 
agnosia visual, recursos lexicais, memória de trabalho, etc. Outro exemplo são 
os processos de memória, que dependem de processos de percepção 
(Sternberg, 2008). O que lembramos depende em parte do que percebemos. 
Dessa forma, os processos de pensamento dependem em parte dos processos 
de memória, uma vez que não se pode refletir sobre aquilo que não é lembrado. 
Sternberg (2008) ainda ressalta que não são só os processos cognitivos 
que se relacionam entre si. Os processos não cognitivos, como a motivação, por 
exemplo, também interagem com os cognitivos. Essa é a razão pela qual 
aprendemos melhor quando estamos motivados para aprender. Em 
contrapartida, nossa aprendizagem talvez seja reduzida se estivermos 
chateados com alguma coisa e não conseguirmos nos concentrar na tarefa de 
aprendizagem em questão. Portanto, os neuropsicólogos não devem estudar os 
processos cognitivos apenas de forma isolada, mas também em suas interações 
uns com os outros e com os processos não cognitivos. Toda interpretação fora 
deste contexto funcional determinado pode conduzir a interpretações errôneas e 
distorcidas (Tabaquim, 2003). 
Thiers, Argimon e Nascimento (2005) apontam algumas variáveis que 
devem ser consideradas no momento de interpretação dos dados, tais como: 
fatores motivacionais, distúrbios afetivos e efeitos medicamentosos. Quanto aos 
fatores motivacionais, algumas questões são importantes, como o interesse do 
sujeito em mostrar-se pior do que realmente se encontra, simulando um déficit 
para obter dispensa remunerada do trabalho. Neste caso, é importante investigar 
a que se deve a avaliação e em que momento ela é realizada. 
No que se refere aos distúrbios afetivos, Thiers, Argimon e Nascimento 
(2005) compara pacientes depressivos com pacientes hiperativos. O primeiro 
 
 
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29 
grupo pode mostrar-se menos interessado no ambiente externo em geral, 
produzindo poucas respostas, ou respostas qualitativamente empobrecidas, e o 
segundo grupo pode produzir muitas respostas, em ritmo acelerado, e 
apresentar talvez até o mesmo número de erros que o primeiro grupo. Enquanto 
os erros do primeiro grupo se caracterizariam pela ausência ou lentidão das 
respostas, no segundo grupo os erros poderiam estar relacionados à má 
interpretação das perguntas devido à pressa de responder logo, e passar para 
outras atividades. 
Sendo a avaliação neuropsicológica um exame intensivo do 
comportamento, deve valorizar não só as capacidades intelectuais em termos de 
desempenho individual, mas também o que se poderia chamar de uma 
“competência social” caracterizada pela capacidade de autonomia das principais 
condutas socializadas e pela qualidade dos fatores relacionais, espécie de 
maturidade social (Marcelli, 1998). 
Em muitas situações, as observações da conduta do paciente fora da 
situação de teste, o emprego de entrevistas estruturadas ou semiestruturadas 
são capazes de oferecer dados muito valiosos que não se poderiam obter de 
outra forma, e, portanto, não se devem menosprezar as informações da família, 
escola ou de profissionais ligados à condição do sujeito que está sendo avaliado. 
Portanto, a avaliação neuropsicológica deve preocupar-se com questões de vida 
diária do indivíduo (visão ecológica), uma vez que estas colaboram no 
entendimento do seu desempenho nos espaços em que vive e exercita sua 
rotina. Nesse sentido, o profissional obtém informações como: a capacidade do 
paciente de se cuidar, de reconhecer suas limitações, de interessar- se por 
atividades produtivas e/ou prazerosas, etc. 
Assim, muitas vezes faz-se necessária a informação de familiares, 
amigos, conhecidos e outros. Essas informações geralmente podem revelar 
dados mais confiáveis, claros e significativos. No entanto, os dados fornecidos 
 
 
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pelo “informante” também padecem de certo subjetivismo (Dalgalarrondo, 2008), 
que o psicólogo deve levar em consideração. Sendo assim, é importante verificar 
se esses dados não estão sendo subestimados ou superestimados 
(Dalgalarrondo, 2008) pelo informante. 
 
Ainda no que se referem às variáveis, estas podem ser definidas pelas 
características do paciente como também da lesão, especialmente da etiologia, 
fazendo com que a avaliação adquira determinadas particularidades. Por 
exemplo, uma lesão cerebral pode alterar profundamente a capacidade de um 
indivíduo para compreender e utilizar a linguagem. No entanto, os psicólogos 
muitas vezes testam os pacientes com listas de palavras e imagens, ignorandoos problemas contextuais, e concluem que a incapacidade de identificar palavras 
ou imagens isoladas é prova de uma perda de memória específica (Rosenfiel, 
1994). 
Sendo assim, é importante o neuropsicólogo estar atento a algumas 
variáveis que podem interferir no desempenho de um indivíduo, como, por 
exemplo, as citadas por Lezak (1995): a natureza, a extensão e a localização da 
lesão; as características físicas, de gênero e de idade da pessoa; as 
individualizadas neuroanatômicas e fisiológicas; e a história psicossocial. Esta 
última refere-se às concepções, aos valores, às crenças referentes à cultura em 
que o indivíduo está inserido, e até mesmo às ações concretas do sujeito, ou 
seja, o seu comportamento. 
Tabaquim (2003) também citou alguns pontos importantes a serem 
considerados na avaliação neuropsicológica. Por parecem mais amplos, 
provavelmente englobam muitas, senão todas, as variáveis já mencionadas. 
 
 
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31 
Vale destacar que o autor teve o cuidado de explicar brevemente cada item. São 
eles: 
a) Histórico de vida: No processo avaliativo é fundamental considerar 
o início do problema, os sintomas e a evolução da história, os dados de 
personalidade e as alterações subsequentes à lesão/disfunção. 
b) Histórico médico: Os dados do diagnóstico neurológico podem dar 
sentido a certas defasagens neuropsicológicas. As informações pelas técnicas 
de neuroimagem são muito importantes e devem ser valorizadas neste processo 
de análise neuropsicológica. 
c) Observação da conduta: Muitas vezes, os dados obtidos na 
anamnese e na observação do comportamento do sujeito têm mais significância 
do que as pontuações obtidas nos testes neuropsicológicos. 
d) Semiologia quantitativa do exame neuropsicológico: A pontuação 
de um subteste adquire valor quando correlacionada com outros achados, 
quanto à similaridade e complementaridade, mas também no contexto global dos 
dados obtidos em toda a investigação neuropsicológica. 
e) Semiologia qualitativa do exame neuropsicológico: As pontuações 
dos subtestes, que compõem uma bateria neuropsicológica ou uma seleção de 
testes, devem enriquecer com a maior e mais ampla valorização quantitativa 
possível. 
f) Testes complementares: No emprego de uma bateria 
neuropsicológica, o examinador deve conhecer as limitações dela e, partindo dos 
problemas específicos, eleger os testes complementares mais adequados ao 
núcleo patológico do indivíduo. 
g) Grupo-controle: As variáveis características das manifestações 
neuropsicológicas das lesões/disfunções cerebrais são de naturezas distintas, e 
 
 
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sua incidência pode determinar problemas diversos que requeiram normatização 
de grupos-controle. 
Segundo Dalgalarrondo (2008), é na entrevista inicial que se faz a 
anamnese, ou seja, são colhidos todos os dados necessários para um 
diagnóstico pluridimensional do paciente, o que inclui os dados 
sociodemográficos, a queixa ou o problema principal e a história dessa queixa, 
os antecedentes mórbidos somáticos e psíquicos pessoais, contendo os hábitos 
e o uso de substâncias químicas, os antecedentes mórbidos familiares, a história 
de vida do paciente, englobando as várias etapas do desenvolvimento somático, 
neurológico, psicológico e psicossocial e, finalmente, a avaliação das interações 
familiares e sociais do indivíduo. Alinda de acordo com Dalgalarrondo (2008), o 
primeiro relato deve ocorrer de forma predominantemente livre, para que o 
paciente expresse de forma espontânea seus sintomas e sinais. 
Os profissionais que realizam a avaliação neuropsicológica também 
devem estar atentos à diferença entre “traços” e “estados” do sujeito. Em relação 
à ansiedade, por exemplo, a intensidade dos sentimentos ansiosos (o presente 
estado da pessoa) muda dia a dia. Nesse caso, estado é o modo, ou melhor, a 
situação em que o sujeito está naquele determinado momento. Já o traço, 
segundo Cronbach (1996), normalmente é concebido como uma média ou 
estado típico; se é assim, ele reflete não apenas as suas características, mas 
também os estresses habitualmente presentes em seu ambiente. A capacidade 
é quase sempre considerada como um traço moderadamente estável, mas o 
nível de desempenho é transitório (Cronbach, 1996). Dessa forma, o objetivo da 
avaliação clínica na avaliação neuropsicológica não é determinar em que nível 
se situa um desempenho, mas que estratégia o sujeito utiliza para alcançá-lo 
(Marcelli, 1998). 
É importante salientar que os instrumentos de avaliação, em especial os 
testes, informam o desempenho do sujeito num dado momento (Cronbach, 
 
 
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1996), ou seja, no exato momento da sua aplicação. Diante disso, o psicólogo 
deve considerar que a avaliação envolve variadas etapas, em diferentes 
momentos. Portanto, ao longo da avaliação é importante verificar as mudanças 
qualitativas do indivíduo, tais como o uso de fármaco, a realização de tratamento 
psicológico e/ou fonoaudiológico, entre outros. O acompanhamento dessas 
mudanças colabora na identificação de questões referentes aos aspectos 
positivos e negativos da evolução do problema e serve como referência para o 
planejamento da reabilitação neuropsicológica. Além disso, é fundamental que a 
avaliação focalize não somente as áreas deficitárias, como também as 
habilidades preservadas, que são potenciais para reabilitação (Capovilla, 2007). 
A avaliação neuropsicológica encontra-se ligada a um estudo intensivo do 
comportamento, por isso, é fundamental associar a avaliação quantitativa com 
os dados qualitativos expressos – ou não – pelo sujeito. Somente dessa forma, 
a avaliação cumprirá com seu objetivo de traçar um perfil do funcionamento 
psicológico do indivíduo, com especial ênfase em aspectos cognitivos, e 
compreender a participação das variáveis emocionais, ambientais e 
neurológicas na configuração deste perfil, a fim de formular hipótese diagnóstica, 
que resultará na indicação terapêutica (Lezak, 1995). 
 
 
A avaliação neuropsicológica 
 
 
 
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O exame neuropsicológico consiste na avaliação das manifestações 
cognitivas e comportamentais de diferentes patologias cerebrais. 
As funções cognitivas se organizam como sistemas funcionais complexos 
ou como rede de conexões, as quais dependem, para sua realização, da ação 
conjunta de diversas regiões cerebrais conectadas entre si. Toda função mental 
complexa é efetuada mediante a atividade combinada de ambos os hemisférios, 
sendo que cada um deles oferece a contribuição que lhe é peculiar para a 
construção dos processos mentais. 
Os recursos utilizados na avaliação são diversos e baseados em material 
desenvolvido em laboratórios de neuropsicologia, neurologia e psicometria. O 
exame cognitivo tem sido amplamente utilizado para avaliar os distúrbios 
cognitivos na epilepsia, as alterações do raciocínio em quadros psiquiátricos, os 
 
 
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distúrbios de aprendizagem, da fala e da cognição após acidente vascular 
cerebral (AVC), os estudos sobre o envelhecimento normal e o patológico, etc. 
O exame é constituído de tarefas e de testes que examinam as funções 
cognitivas separadamente e estabelecem uma correlação entre a função 
avaliada e as áreas cerebrais envolvidas. Os resultados permitem um raciocínio 
associativo entre as habilidades preservadas e as alteradas. Entre elas estão: 
memória, capacidade de aprendizagem, atenção, linguagem, cálculo, raciocínio 
abstrato e juízo crítico, funções práxicas, habilidades visuo-construtivas e 
funções gnósicas. 
O processo diagnóstico envolve a eliminação sucessiva de possibilidades. 
Cabe ao neuropsicólogo formular as hipóteses a partir da queixa do paciente e 
das informações dos familiares, de sua impressão inicial a respeito do paciente 
e do conhecimentoprévio da afecção orgânica, e no decorrer do exame, 
corroborar ou não suas hipóteses. Está indicado para pacientes com supostas 
alterações cerebrais e fornece informações sobre a cognição, as características 
da personalidade, o comportamento social, o estado emocional e o ajustamento 
às limitações do sujeito. O potencial para o indivíduo viver de maneira autônoma 
e independente também pode ser aferido por essas avaliações. A informação 
sobre os pontos fortes e fracos do comportamento pode ser utilizada para 
determinação da competência e para o aconselhamento, tanto do paciente 
quanto dos familiares. 
Os objetivos da avaliação são: 
• Estabelecer ou não a presença de uma disfunção cognitiva; 
• Auxiliar no diagnóstico diferencial entre os vários quadros 
demenciais; 
• Acompanhar o curso da disfunção e /ou o(s) efeito(s) do tratamento 
medicamentoso, cirúrgico ou de reabilitação; 
 
 
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• Pesquisar e comparar os indivíduos com outros de igual 
escolaridade e faixa etária ou consigo mesmo; pesquisar populações definidas 
com o intuito de objetivar o desempenho cognitivo esperado; 
 • Documentar o déficit com objetivo forense. 
Ao se empreender uma avaliação, o exame exige uma clara 
caracterização da faixa etária do indivíduo, do gênero e do nível sócio-econômico 
e cultural. 
Esses resultados serão comparados com uma amostra constituída pelo 
grupo controle, composta por sujeitos pareados para as mesmas variáveis 
citadas acima. 
 
Instrumentos de avaliação 
 
De forma geral, os testes neuropsicológicos são organizados em baterias 
fixas ou flexíveis. As baterias fixas são aplicáveis em pesquisa, em protocolos 
específicos para investigação de uma determinada população. Já as baterias 
flexíveis são mais apropriadas para a investigação clínica e são elaboradas no 
momento da consulta, com testes que se correlacionam com a queixa do 
paciente ou de um familiar ou para a avaliação de uma patologia específica. 
A escolha dos instrumentos de avaliação neuropsicológica obedece a 
alguns princípios básicos e possibilita uma investigação fidedigna e livre de 
distorções, fornecendo confiabilidade e objetividade na compreensão do quadro 
clínico apresentado. De modo geral, deve-se optar por testes que: 
- estejam validados e adaptados para uso na população brasileira; 
- utilizem material de fácil acesso aos profissionais; 
 
 
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- possam se adequar ao objetivo do estudo; 
- respeitem a formação profissional do aplicador, visto que alguns 
testes são de uso exclusivo de psicólogos, conforme resolução do Conselho 
Federal de Psicologia, dentre eles as Escalas Wechsler; 
- tenham alta sensibilidade e especificidade. A sensibilidade se 
refere à capacidade de um teste em classificar como positivo, indivíduos que 
realmente apresentam o distúrbio em questão. A especificidade se refere à 
capacidade de um teste em produzir resultados negativos confirmando que o 
paciente efetivamente não apresenta o distúrbio em questão. A sensibilidade 
mede a capacidade de reação do teste em um paciente doente, enquanto a 
especificidade mede a não reação do teste em não portadores da doença. 
Segundo Lezak, um bom teste deve obedecer a três princípios básicos: 
adaptabilidade, viabilidade e utilidade. 
Escolhidos os instrumentos, deve-se empreender a aplicação. 
 
Limitações e Vantagens da utilização dos instrumentos da avaliação 
neuropsicológica 
 
A avaliação pode ser muito útil na medida em que provê medidas 
padronizadas e comparáveis ao longo da evolução do quadro e que alguns 
testes claramente se correlacionam com determinadas estruturas cerebrais. No 
entanto, os testes do exame neuropsicológico possuem algumas limitações 
básicas que necessitam ser consideradas. 
Uma delas refere-se ao fato de que o que é testado não corresponde à 
queixa que o paciente trouxe inicialmente. O paciente pode se queixar de ao ler 
alguma coisa, não conseguir reter o que leu, enquanto no exame será pedido a 
 
 
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ele que memorize uma lista de palavras e que copie desenhos. Para aproximar 
o momento do exame da situação aonde usualmente aparece a dificuldade do 
paciente, existe uma tendência mundial a se utilizar testes ecológicos; isto é, 
testes que testam a queixa do paciente a partir da simulação de situações do 
dia-a-dia. Outra grande dificuldade se refere às limitações do próprio sujeito 
avaliado como, por exemplo, a presença de analfabetismo e/ou de perdas 
sensoriais. Da mesma forma, os escores quantitativos das tabelas utilizadas 
como referência não levam em consideração os aspectos qualitativos das 
incapacidades do indivíduo e, ao fornecerem apenas números, podem deixar de 
lados aspectos importantes observados nas dificuldades e nos erros cometidos. 
 
Interpretação dos resultados 
 
Na etapa de interpretação dos resultados obtidos na avaliação 
neuropsicológica, deverão ser levadas em consideração diversas variáveis 
intervenientes que podem impactar nos escores e nos resultados obtidos pelo 
paciente. 
Todos os estudos fazem referência à escolaridade. Quanto maior a 
escolaridade melhor o desempenho esperado nos testes. Além disso, a carência 
de instrumentos adaptados à nossa realidade torna muito difícil o 
estabelecimento de um padrão de normalidade para o nosso meio. A maioria dos 
testes neuropsicológicos é importada e validada para uma outra população 
(diga-se, de passagem, com escolaridade média superior à da população 
brasileira). Desta forma deve-se considerar a escolaridade e a possibilidade de 
resultados falso-negativos e falso-positivos, a motivação e o interesse do 
paciente, as interferências externas como excesso de barulho ou iluminação 
precária, o uso de medicamentos, bem como adaptações plausíveis dos testes. 
 
 
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Igualmente necessário é o estabelecimento do funcionamento pré-mórbido do 
paciente e de sua eficiência cognitiva anterior a uma patologia ou evento. 
Muitas vezes, essas respostas não são presumíveis à primeira avaliação 
e só por meio da avaliação seriada e do acompanhamento criterioso desses 
pacientes, a longo prazo, será possível obter dados mais fidedignos e tomar 
decisões mais acertadas. 
 
 
Protocolo Básico 
 
 
Um protocolo básico de investigação neuropsicológica deve conter testes 
de: 
- Orientação; 
- Atenção; 
 
 
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- Percepção; 
- Inteligência geral; 
 - Raciocínio; 
- Memória visual e verbal de curto e longo prazo; 
- Flexibilidade mental; 
- Linguagem; e 
- Habilidades visuo-construtivas e práxicas. 
 
A partir dos resultados dessa investigação inicial, é possível incluir um ou 
outro teste, com o objetivo de se aprofundar no domínio cognitivo que se quer 
melhor investigar. Alguns testes cobrem ou pretendem avaliar vários domínios 
cognitivos, como o Mini exame do estado mental (Folstein, 1975)-(5) enquanto 
outros avaliam apenas uma única função cognitiva. 
O tempo necessário para o exame varia entre 2 a 4 horas, dependendo 
da habilidade do profissional e da disposição do paciente, em dias diferentes. Os 
testes atentivos devem vir no início das sessões, logo após devem ser aplicados 
os testes de memória, e os outros, lembrando sempre de intercalar tarefas 
verbais e não verbais. 
 
Avaliação Cognitiva 
 
 
 
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A-Testes de eficiência intelectual 
 
Um dos testes mais utilizados para avaliação de inteligência geral está 
contido em uma ou outra versão da Escala de Inteligência Wechsler em suas 
várias versões, algumas revisadas mais de uma vez e que contempla todas as 
idades (WAIS, WISC, WAIS-R, WISC-R, WISC III, WPPSI, WMS, WMS-R, 
WAIS-NI). Estas baterias são constituídas de breves sub-testes que fornecem 
escores de várias tarefas cognitivas,

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