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9175 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 Contemporânea Contemporary Journal 3(7): 9175-9193, 2023 ISSN: 2447-0961 Artigo PRÁTICAS INCLUSIVAS NA ESCOLA REGULAR: ESPALHANDO LIBRAS NO AR INCLUSIVE PRACTICES IN REGULAR SCHOOL: SPREADING LIBRAS IN THE AIR DOI: 10.56083/RCV3N7-095 Recebimento do original: 26/06/2023 Aceitação para publicação: 24/07/2023 Rosiane Sousa Pereira Mestra em Ensino Instituição: Escola Dom Lino Vombommel Endereço: Rua São Lucas, 1444, Novo Horizonte, Santarém – PA E-mail: rosiane.sp1@gmail.com Maria de Fátima da Silva Carvalho Especialista em Educação Especial Inclusiva Instituição: Escola Dom Lino Vombommel Endereço: Rua São Lucas, 1444, Novo Horizonte, Santarém – PA E-mail: fatima_viegas@yahoo.com.br Rosivane Sousa Pereira Mestra em Educação Inclusiva Instituição: Escola Dom Lino Vombommel Endereço: Rua São Lucas, 1444, Novo Horizonte, Santarém – PA E-mail: rosiaee@gmail.com RESUMO: O presente trabalho visa apresentar os efeitos obtidos através de um projeto educacional inclusivo denominado de “Espalhando Libras no Ar”, que propôs disseminar o ensino da Língua Brasileira de Sinais para alunos e professores ouvintes, do 1º ao 9º ano do ensino fundamental, de uma escola regular da rede pública municipal de Santarém no estado do Pará, com intuito de estimular e possibilitar a comunicação entre surdos e ouvintes no ambiente escolar e fora dele. A abordagem foi constituída a partir dos referenciais teóricos legais sobre a educação de surdos na perspectiva bilíngue e pesquisadores da área como, Hattge (2014), Lopes e Fabris (2013); VeigaNeto (2001, 2011); Pereira (2023), etc. A pesquisa, de 9176 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 abordagem qualitativa, apresenta os resultados obtidos com a aplicabilidade do projeto em um contexto educacional no qual o pesquisador é inerentemente inerente. Os resultados obtidos mostram que as relações educacionais e comunicativas entre alunos surdos e professores/ouvintes na escola regular inclusiva tornaram-se mais efetivas entre surdos e ouvintes, a partir da execução do projeto, possibilitando a inclusão do aluno surdo, a relação acessível em Libras, bem como a valorização e o respeito à cultura surda dentro e fora do ambiente escolar. PALAVRAS-CHAVE: Projeto Inclusivo, Libras, Comunicação, Surdo e Audição. ABSTRACT: The present work aims to present the effects obtained through an inclusive educational project called "Espalhando Libras no Ar", which proposed to disseminate the teaching of the Brazilian Sign Language to students and hearing teachers, from the 1st to the 9th year of elementary school, from a regular school of the municipal public network of Santarém in the state of Pará, with the aim of stimulating and enabling communication between deaf and listeners in the school environment and outside it. The approach was constituted from the legal theoretical benchmarks on the education of deaf people in the bilingual perspective and researchers in the area such as, Hattge (2014), Lopes and Fabris (2013); VeigaNeto (2001, 2011); Pereira (2023), etc. The qualitative research presents the results obtained with the applicability of the project in an educational context in which the researcher is inherently inherent. The results obtained show that the educational and communicative relations between deaf students and teachers/listeners in the inclusive regular school have become more effective between deaf and listeners, from the execution of the project, making possible the inclusion of deaf students, the accessible relationship in Libras, as well as the appreciation and respect of deaf culture within and outside the school environment. KEYWORDS: Inclusive Project, Libras, Communication, Deaf and Hearing. 9177 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 1. Introdução O objetivo da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva é assegurar uma educação de qualidade a todos os alunos, tenham eles necessidades especiais ou não, uma vez que a realidade que se mostra aponta para falhas no sistema educacional no que diz respeito à garantia do direito à educação para todos os cidadãos. A política procura enfrentar esse paradigma ao oportunizar o acesso a uma educação especial pautada na inclusão e no desenvolvimento pleno do indivíduo. Contudo, essa política vai de encontro com a realidade escolar atual, na qual falta recursos humanos, físicos, tecnológicos e estruturais que garantam o sucesso de sua aplicação. Diante desse prisma, mudanças, adaptações e avanços, em todos os cenários, são primordiais para a efetivação dessa política e o desenvolvimento de propostas educacionais que possibilitem caminhos pedagógicos e administrativos, acessíveis aos alunos inclusos na escola regular. A elevação do índice de alunos com deficiência nas escolas públicas da Educação Básica reflete diretamente em mudanças estruturais, pois não se trata apenas de incluir o aluno no ambiente escolar, mas sim oferecer todo o suporte que ele precisa, sendo vital que a escola possua uma estrutura que garanta o direito de participação e aprendizagem de todos os alunos. Em 2008, houve um marco importante no desenvolvimento do processo de inclusão dos alunos da Educação Especial, a implementação da PNEEPI, por intermédio do decreto nº 6571/2008, “apresentando os referenciais nacionais para a construção de sistemas educacionais e organização de escolas inclusivas, definindo o público-alvo da Educação Especial e delimitando a natureza do atendimento educacional especializado AEE no processo de inclusão escolar” (HOSTINS; JORDÃO, 2015, p. 4), como mecanismo de condução das ações inclusivas nas escolas brasileiras. 9178 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 2. Práticas Inclusivas na Escola Regular: Incluir é Participar A Educação Inclusiva faz parte de um movimento mundial em defesa do direito aos alunos com deficiência, de terem acesso à educação formal sem nenhum tipo de discriminação, garantindo-lhe uma educação igualitária, com respeito, igualdade, equidade e acessibilidade curricular. No Brasil o processo de Educação Especial na perspectiva Inclusiva toma forma com a Constituição Federal de 1988, no artigo 208, III, onde garante o Atendimento Educacional Especializado aos deficientes, preferencialmente na rede regular de ensino e segue com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva 2008, a qual garante o direito à matrícula de alunos especiais no Ensino Regular em todos os níveis de ensino, no entanto, ainda hoje a realidade parece um pouco distante da legalidade, e fazer um paralelo entre o legal (leis) e o real (realidade) não é “proceder a uma crítica radical à inclusão em geral e à inclusão educacional, significa conhecer, analisar e problematizar as condições para a sua própria emergência” (VEIGA-NETO; LOPES, 2011, p. 125). Para implementação das diretrizes legais e garantia da inclusão dos alunos com deficiência, transtornos do espectro Autista e altas habilidades/superdotação, a equipe de professores da Sala de Recursos Multifuncionais da escola regular inclusiva pesquisada, denominada de Escola Municipal de Ensino Fundamental “Santa Terezinha”, localizada no município de Santarém no estado do Pará, apresentou entre as propostas de seu Plano de Ação, um projeto educacional inclusivo intitulado, Edificando Caminhos para a Educação Inclusiva: Incluir é Participar! Na perspectiva de uma escola edificada em ações inclusivas “a transformação nas práticas escolares precisa estar atrelada às necessidades, anseios e desejos dos alunos com deficiência, como afirmam Lopes e Fabris (2013, p. 70), pois “dessa forma, a palavra inclusão passa aabarcar as relações interpessoais, além do estar junto (entendido como condição 9179 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 mínima necessária, mas não suficiente para as ações de inclusão)”. É, portanto, saber lidar com as diferenças e não permitir que essas “diferenças” transformem o espaço escolar num ambiente de desigualdade e de exclusão. Na proposta apresentada à gestão escolar (equipe pedagógica e administrativa), foram sugeridas ações inclusivas para possibilitar o envolvimento e participação de toda a Comunidade Escolar no processo educacional inclusivo da escola pesquisada. O objetivo principal do projeto, bem como suas ações, visou promover a inclusão e acessibilidade através do Atendimento Educacional Especializado - AEE, com: Formação em serviço aos professores; palestras para alunos e professores do ensino comum; rodas de conversa com a família e equipe gestora e oficinas inclusivas; levando toda a comunidade escolar às ações, reflexões e práticas colaborativas, possibilitando assim sua atuação inclusiva frente aos alunos com deficiência. Nesse viés, com enfatiza Veiga-Neto (2001): Com isso não quero dizer que essas dificuldades existem apenas num suposto mundo das ideias e que, por isso, seriam mais facilmente removidas do nosso caminho. Ao contrário, tais dificuldades são muito "duras" na medida em que se assentam em práticas discursivas e não-discursivas bastante coesas e estáveis, que têm necessariamente uma base material e que mantêm entre si um nexo imanente. Falar em imanência significa dizer que essas práticas não mantêm relações causais simples entre si - situação em que bastaria fazermos uma mudança nas causas, para obtermos uma mudança nos seus efeitos (VEIGA-NETO, 2001, p.24). O “Projeto Edificando Caminhos para Educação Inclusiva: Incluir é Participar!”, desenvolveu-se no decorrer do ano 2022, organizado em quatro etapas: Formação em serviço aos professores; Palestras para alunos e professores do ensino comum; Rodas de conversa com a família e equipe gestora e Oficinas Inclusivas (Libras e Braille). A primeira etapa ocorreu na Semana Pedagógica da escola (janeiro de 2022), tendo como público-alvo os professores do ensino comum. Nesse encontro, foram apresentadas orientações e sugestões para o processo de 9180 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 ensino e aprendizagem dos alunos público-alvo da Educação Especial, matriculados na referida escola. O ponto de partida surgiu da realidade e especificidade de cada aluno, alinhando algumas possibilidades de adaptações curriculares e pedagógicas para atender as peculiaridades do aluno com deficiência. Como suporte às orientações repassadas aos professores do ensino comum, foi elaborado material de apoio com informações específicas de cada aluno incluso, relatando suas dificuldades, habilidades e necessidades adaptativas. Além disso, foi criado grupo de whatsapp (Orientações do Atendimento Educacional Especializado) para troca de informações, dúvidas e sugestões entre os professores do currículo comum e do AEE, possibilitando assim, o ensino inclusivo. A segunda etapa (abril/2022) foi a realização de um encontro/ palestra com os alunos e professores do 6º ao 9º ano. A ação foi alusiva ao “Abril Azul”, abordando a temática “Escola Inclusiva: ações e práticas colaborativas”, enfatizando informações sobre inclusão escolar, Autismo e a Lei 10.436/2002, a lei da Língua Brasileira de Sinais. Inicialmente foram abordados conceitos e pré-conceitos referentes às pessoas com deficiência, definições sobre autismo e surdez. Em seguida, foi realizada uma “roda de conversa” com a participantes, respondendo às dúvidas, questionamentos e repassando orientações sobre ações e práticas inclusivas a serem fortalecidas no ambiente escolar. Para concluir, deu-se início às aulas de Libras para a comunidade escolar, com possibilidade de difusão e estímulo da comunicação entre os surdos e ouvintes, pois como afirma Pereira (2023, p. 1132), “a regulamentação da Libras como língua oficial para o ensino bilíngue, proposta pela Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, ainda não é garantia de ensino acessível aos surdos pois ainda não se tornou realidade em grande parte das escolas públicas, com alunos surdos inclusos”, no entanto, tal realidade pode ser transformada se forem implementadas ações inclusivas 9181 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 no “chão da escola”. Nessa conuntura, percebeu-se a necessidade de buscar estratégias que pudessem mudar esse cenário, e assim, deu-se início ao ensino dessa Língua Brasileira de Sinais para que todos os alunos e professores (ouvintes) da escola, fossem estimulados a aprendizagem, valorização e respeito sobre a Libras, bem como, o estímulo para que passassem a se comunicar com os alunos surdos inclusos na escola. A terceira etapa, (ocorrida em agosto de 2022) surgiu a partir da necessidade de pais/responsáveis e escola em geral, em conhecer os direitos legais da pessoa com deficiência, não só no âmbito escolar como social. Nesse intuito, a reunião/palestra contou com uma advogada representante da Educação Especial na OAB Santarém/Pará, para falar sobre a legislação e os direitos das pessoas com deficiência, na ocasião apresentou a rede de apoio existente em Santarém que desenvolve ações conjuntas e realizam encaminhamentos que possibilitem a acessibilidade aos direitos constituídos. A quarta etapa foi desenvolvida durante todo o ano, ocorreu com encontros em sala de aula (a cada quinzena), com temáticas variadas sobre a inclusão, noções do código braille e sua importância para a pessoa cega, e mini aulas em Libras, para estimular e fortalecer a inclusão comunicativa entre surdos e ouvintes no ambiente escolar e familiar. Para concluir as ações de 2022, foram realizadas exposições de materiais pedagógicos acessíveis e atividades práticas de Libras e Braille na Feira do Conhecimento proposta pela escola. Nessa última etapa, foi evidente a participação e interesse dos alunos em geral, de conhecer e aperfeiçoar as aprendizagens adquiridas no decorrer do ano sobre as Práticas Inclusivas estimuladas durante a execução do projeto “Edificando Caminhos para a Educação Inclusiva”. 9182 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 3. Projeto Edificando Caminhos Para Educação Inclusiva: Fortalecendo Ações Inclusivas Para dar continuidade às ações desenvolvidas durante o ano de 2022, o “Projeto Edificando Caminhos para Educação Inclusiva: Incluir é Participar!”, manteve as propostas inclusivas já desenvolvidas e incorporou novas ações. Entre elas, uma palestra/roda de conversa na semana pedagógica ocorrida em janeiro/2023, intitulada: “Elaboração de atividades adaptadas ao aluno com deficiência”, na qual foi apresentado aos professores o público-alvo da Educação Especial matriculados no corrente ano, apresentando especificamente o educando, ano/série, sua deficiência específica, bem como a descrição de suas habilidades e as dificuldades, enfatizando estratégias educacionais inclusivas para atender o aluno, principalmente no que tange às adaptações curriculares e de recursos pedagógicos acessíveis. Em seguida, a palestra deu espaço a uma roda de conversa com os professores, equipe pedagógica e gestão escolar, para ouvir os anseios, dúvidas e trocas de experiências e sugestões para a condução de práticas educacionais inclusivas que possibilita caminhos para a edificação da escola inclusiva no lócus pesquisado. Com base nos dados, foi elaborado pela equipe de professores especializados no AEE, um material pedagógico orientador sobre cada educando e suas especificidades, sendo entregues de forma impressa aos professores do ensino comum, para que o tomassem como apoio àssuas escolhas e adaptações pedagógicas curriculares. Além disso, os professores do AEE (da sala de recursos da própria escola), se colocaram a disposição para dar o apoio e orientações (grupo de WhatsApp e pessoalmente na SRM, que funciona nos turnos matutino e vespertino) necessárias para que os professores da sala de aula comum, passassem a conduzir o ensino e aprendizagem dos alunos inclusos, de forma adequada, humanizada e com 9183 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 equidade, dando aos alunos com deficiência a educação de qualidade que tem direito. Além da proposta educacional de apoio aos professores em parceria com a equipe pedagógica e gestão escolar democrática, foram retomadas as ações para o envolvimento e participação da família no processo inclusivo. Como afirmam Pereira e Pinto (2021) Somente através das mudanças nas práticas gestoras desenvolvidas, desde os sistemas de gestão educacional à gestão escolar inclusive e principalmente, a gestão escolar democrática, é que se poderá percorrer o caminho de construção da Escola Inclusiva que caminha ao encontro das necessidades singulares apresentadas pelos estudantes (PEREIRA; PINTO, 2021, p.3326). Nesse aspecto, foi realizado no mês de março/2023 um novo encontro familiar com os pais e responsáveis dos alunos do Atendimento Educacional Especializado, realizado nas dependências da escola. O encontro contou também com a participação da equipe pedagógica e gestora, que iniciou o encontro falando de suas práticas enquanto gestão escolar inclusiva, ressaltando os desafios para a efetivação dos seus objetivos educacionais e a importância de manter a parceria e apoio da família para que o processo de ensino e aprendizagem dos educandos inclusos possam ser efetivados. As ações visam implementar metas e estratégias propostas no PME de Santarém (2015/2025), no que tange a EDUCAÇÃO ESPECIAL/INCLUSIVA, propondo 4.17-Promover parcerias com instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o poder público, a fim de favorecer a participação das famílias e da sociedade na construção do sistema educacional inclusivo (SANTARÉM, PME, p.93). Assim, a gestão escolar apresentou a equipe de professores e mediadores do AEE/2023, que estariam responsáveis pelo acompanhamento dos seus filhos no corrente ano, enfatizando as práticas a serem 9184 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 desenvolvidas na SRM pautadas na PNEEI (2008) e seus objetivos específicos que visam: o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais, garantindo: • Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior; • Atendimento educacional especializado; • Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; • Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar; • Participação da família e da comunidade; • Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e • Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008, p.08). Após as apresentações, a roda de conversa foi conduzida pelos professores do AEE, abordando algumas temáticas da proposta educacional inclusiva, entre elas, a concepção familiar a respeito do atendimento educacional especializado. Na concepção da maioria dos familiares, o AEE ainda é compreendido como um reforço escolar, pautado na revisão de atividades curriculares desenvolvidas na sala de aula comum. Essa concepção, de acordo com Zibetti; Pansini & Souza (2012), é subentendida Quando algumas crianças não apresentavam o desempenho esperado pela escola, no ritmo estabelecido com base em um padrão de normalidade considerado ideal, estas eram tidas como “anormais”, portadoras de algum transtorno. Assim, as explicações dominantes sobre o fracasso escolar entre crianças em fase de alfabetização, durante muito tempo, voltaram-se para as chamadas disfunções psiconeurológicas da aprendizagem da leitura e da escrita (Zibetti,Pansini & Souza, 2012,p.238). Para quebrar esse paradigma no contexto educacional inclusivo, buscou-se ouvir as famílias, trazendo à tona os embasamentos legais a respeito da real função do AEE e as práticas educacionais inclusivas desenvolvidas na escola pesquisada. 9185 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 Na roda de conversa, ocorreram momentos de dúvidas sobre o desempenho e capacidades educacionais dos filhos, suas dificuldades e conquistas, bem como, o anseio e expectativa familiar para que o educando possa ter uma vida autônoma. Após a roda de conversa, foi realizado um lanche especial como agradecimento aos participantes, ressaltando a importância vital da família nas ações do processo educacional inclusivo, na escola regular de ensino. Filhos no corrente ano, enfatizando as práticas a serem desenvolvidas na SRM pautadas na PNEEI (2008) e seus objetivos específicos que visam o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais, garantindo: • Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior; • Atendimento educacional especializado; • Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; • Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar; • Participação da família e da comunidade; • Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e • Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008, p.08). Após as apresentações, a roda de conversa foi conduzida pelos professores do AEE, abordando algumas temáticas da proposta educacional inclusiva, entre elas, a concepção familiar a respeito do atendimento educacional especializado. Na concepção da maioria dos familiares, o AEE ainda é compreendido como um reforço escolar, pautado na revisão de atividades curriculares desenvolvidas na sala de aula comum. Essa concepção, de acordo com Zibetti; Pansini & Souza (2012), é subentendida Quando algumas crianças não apresentavam o desempenho esperado pela escola, no ritmo estabelecido com base em um padrão de normalidade considerado ideal, estas eram tidas como “anormais”, portadoras de algum transtorno. Assim, as explicações dominantes sobre o fracasso escolar entre crianças em fase de alfabetização, durante muito tempo, voltaram-se para as chamadas disfunções 9186 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 psiconeurológicas da aprendizagem da leitura e da escrita (Zibetti, Pansini & Souza, 2012, p.238). Para quebrar esse paradigma no contexto educacional inclusivo, buscou-se ouvir as famílias, trazendo à tona os embasamentos legais a respeito da real função do AEE e as práticas educacionais inclusivas desenvolvidas na escola pesquisada. Na roda de conversa, ocorreram momentos de dúvidas sobre o desempenho e capacidades educacionais dos filhos, suas dificuldades e conquistas, bem como, o anseio e expectativa familiar para que o educando possa ter uma vida autônoma. Após a roda de conversa, foi realizado um lanche especial como agradecimento aos participantes, ressaltando a importânciavital da família nas ações do processo educacional inclusivo, na escola regular de ensino. 4. Ações Inclusivas em Língua de Sinais: Espalhando Libras no Ar Em abril/2023, ocorreu a terceira ação inclusiva proposta no projeto. A ação pautou-se na legislação a respeito da Língua Brasileira de Sinais – Libras, por fazerem parte do público-alvo da educação especial atendidos na escola, dois alunos surdos que fazem uso da Libras em sua comunicação. A ação propôs dar continuidade ao ensino da Libras, iniciada em 2002 durantes as etapas do projeto desenvolvidas nas salas de aula, levando em consideração as legislações que propõem o desenvolvimento de ações de Educação Inclusiva para o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de expressão e comunicação, a partir da lei 10.436/02, pois A busca pela consolidação da educação inclusiva/bilíngue precisa primar pela elaboração e pela aplicação de propostas de ensino que 9187 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 contemplem uma educação para todos, com qualidade, equidade e respeito às diferenças, enfatizando sua cultura e a legislação que garante o uso da Libras como meio legal de comunicação e expressão, bem como sua difusão no espaço escolar regular (PEREIRA, 2023, P1136). Nessa projeção, “é imprescindível saber conviver com as diferenças e não permitir que essas ‘diferenças’ transformem o espaço escolar num ambiente de desigualdade e de exclusão” (Pereira, 2023, p.1135), nesse viés propôs-se a execução de um subprojeto intitulado: “Espalhando Libras no Ar”, que teve como objetivo principal, disseminar a Língua Brasileira de Sinais para toda a comunidade escolar, estimulando e possibilitando a comunicação entre surdos e ouvintes no ambiente escolar e fora dele. Nessa etapa, foram aprofundadas as ações anteriores sobre o ensino da Libras na própria escola, tendo como público-alvo nesta etapa, todos os alunos e professores do 1º ao 9º ano do ensino fundamental, que compõem a clientela da escola. A execução deu-se primeiramente com a elaboração e impressão de imagens fotográficas de alguns participantes (alunos, professores, equipe gestora e pedagógica, entre outros funcionários) que foram representados em um Alfabeto em Libras, no qual cada participante fez de forma datilológica cada letra do alfabeto, descritas também na língua portuguesa. Em seguida, o alfabeto fotográfico foi colocado na exposição, pendurado “no Ar”, para que todos da comunidade escolar pudessem ter acesso ao Alfabeto Humano em Libras, inclusivo e participativo. 9188 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 Imagem 1 - Alfabeto Datilológico em Libras representado pela comunidade escolar: gestão, coordenação pedagógica, profissionais de apoio, alunos e professores Fonte: arquivo pessoal dos autores (2023) A exposição do alfabeto compôs o espaço do refeitório da escola, onde foi desenvolvida a ação temática, A Semana da Libras: “Espalhando Libras no Ar”. A proposta educacional bilíngue, ocorreu durante a última semana do mês de abril de 2023, nos turnos matutino e vespertino, com cronograma específico para atender as 28 turmas e seu respectivo professor do horário, com a duração de aproximadamente uma hora cada momento. A ação foi planejada e desenvolvida pelos professores e mediadores1 do AEE, com participação especial de dois alunos surdos2 que estudam na escola, os quais apresentaram-se em Libras, ensinaram o alfabeto datilológico e o sinal da escola em Libras, o qual foi criado pelos alunos surdos e os professores do AEE (sendo um professor surdo e a professora ouvinte) para representar e a identificar a escola na comunidade surda do município de Santarém/PA. 1 Podemos afirmar que o mediador escolar – termo utilizado na nossa pesquisa – contribui diretamente para o processo de escolarização das crianças com deficiência. A presença do mediador na sala de aula pode colaborar para a inserção da criança na escola, atuando como uma ponte entre o aluno com deficiência e os outros sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem (SANTOS, 2020, p.177). 2Um dos alunos surdos, cursa o 7º ano no turno matutino e ingressou na escola no ano corrente (2023) e está iniciando seus primeiros contatos com a língua de sinais, por esse motivo, sua participação direta nas atividades do ensino da Libras foi mais sucinta. Já o aluno surdo mais atuante, estuda há três anos na escola pesquisada, portanto, com comunicação mais fluente em Libras e faz parte de ações para o ensino da Língua Brasileira de Sinais, de anos anteriores sendo participante direto do projeto atual “Espalhando Libras no Ar”, no qual atua como “professor mirim”, no ensino da Língua Brasileira de Sinais. 9189 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 O desenvolvimento do projeto trouxe à tona os artigos e as projeções da lei 10.436 de 24 de abril de 2002, a Lei da Libras, a qual completou “a maioridade de 21 anos”, e a minoria da comunidade escolar conhece e faz uso da língua de sinais. “A crítica é necessária, porque ainda é a realidade das escolas do município de Santarém-Pará, onde a implementação do ensino de Libras, tradução e interpretação curricular, bem como a comunicação entre os alunos surdos e professores/alunos ouvintes continuam sendo desempenhadas pelo professor do AEE” (PEREIRA, 2023, p.1132). O que se percebe ainda hoje, é que a comunicação com o aluno surdo, só ocorre entre os profissionais do AEE, reforçando a inclusão que não inclui de fato e de direito. Contudo, ao “espalhar Libras no ar”, tem-se a possibilidade de levar o conhecimento da língua de sinais a todos, quebrando as barreiras comunicativas e tornando a inclusão efetiva, acessível e participativa, propiciando a inserção dos alunos surdos no seu espaço de direito, com valorização e respeito. Mudar essa realidade se faz necessária para que os caminhos da educação inclusiva sejam edificados em todos os aspectos, principalmente comunicativos (como no caso dos alunos com surdez), evidenciando que a comunicação entre surdos e ouvintes no ambiente escolar é possível, mas para isso, torna-se vital que a comunidade escolar tenha acesso ao ensino e aprendizagem da língua de sinais para que a comunicação, socialização e inclusão escolar ocorra de fato. Vale ressaltar, que todas as ações propostas e executadas, não seriam possíveis se não houvesse o apoio da gestão escolar inclusiva e da coordenação pedagógica, dando autonomia para a equipe de profissionais do AEE implementarem as práticas educacionais inclusivas para edificar os caminhos da verdadeira escola que inclui, participa e promove a inclusão. Essas estratégias colaborativas e participativas entre gestão democrática inclusiva (gestores e pedagogas) e profissionais do AEE, 9190 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 representam “os alicerces” fundamentais para se edificar os caminhos da escola inclusiva, e nesse sentido, é imprescindível “analisar o movimento Todos Pela Educação, buscando compreender suas condições de proveniência e emergência, bem como seus efeitos no cenário educacional brasileiro na atualidade” (Hattge, 2014, p.30), versando sobre a inclusão escolar dos alunos com deficiência, inseridos e/ou inclusos na escola regular de ensino. Além deles, todos os profissionais que fazem parte da escola, bem como os professores do ensino comum, alunos em geral e familiares, compõem todo esse cenário educativo que busca incansavelmente atuar com práticas inclusivas, não só na perspectiva de incluir o aluno com deficiência no ambiente escolar, mas de incluir todos em uma única educação, a “Educação para Todos”. 5. Considerações Finais Na prática, tem-se constatadoque a integração insere, mas não incluem e nem trabalha a diversidade; a própria forma de ensinar é ineficaz, no sentido de garantir que todos tenham acesso a um ensino de qualidade e igualitário no reconhecimento das diferenças. Em se tratando do conceito de inclusão, também levanta vários questionamentos, entre eles, a falta de mais conhecimento dos sujeitos envolvidos no processo educacional sobre o verdadeiro sentido da inclusão. Por fim, outro ponto de destaque refere-se às metodologias de ensino ainda muito ultrapassadas, metodistas, pouco atrativas e excludentes, bem distantes do almejado ensino inclusivo. No entanto, demonstra que ações efetivas de inclusão escolar necessitam de apoio, colaboração e envolvimento de todos. É vital extinguir a concepção de que o aluno com deficiência é que tem que se adequar a escola, para o fato primordial, de que é a Escola e seus 9191 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 componentes é quem deve adequar-se ao aluno, objetivando dar-lhes condições de uma educação de qualidade com acessibilidade Quanto ao ensino, difusão e uso da Libras entre os pares e a comunidade escolar majoritariamente ouvinte, foi perceptível o envolvimento e participação dos professores (além dos demais funcionários) e alunos em geral, na interação comunicativa em Libras com os alunos surdos, colocando em prática seus conhecimentos da língua na comunicação efetiva entre ouvintes e alunos surdos. Outro efeito obtido, refere-se ao estímulo e desenvolvimento cognitivo dos alunos surdos ao passarem a ter espaço e inserção nas atividades em sala de aula em interação com todos, na qual a comunicação em Língua de Sinais deixou de ser barreira para se tornar ensino e aprendizagem constante. Isso porque os alunos ouvintes tiram suas dúvidas e aprendem novas palavras com o próprio colega surdo, através de suas interações sociais e escolares. Contudo, vale ressaltar que os efeitos se tornaram gratificantes e enriquecedores para todos (gestão escolar, professores do AEE, familiares, etc.) e principalmente para o aluno surdo que passou a ter sua língua e cultura, valorizada e respeitada no ambiente escolar, edificando-se com essas ações, novos caminhos para a Escola Inclusiva. 9192 Revista Contemporânea, v. 3, n. 7, 2023. ISSN 2447-0961 Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988. BRASIL. Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Presidência da República, Casa Civil: Brasília, 2002. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial, Câmara de Educação Básica – Conselho Nacional de Educação, Brasília, 2009. 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