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Introdução A pele é o maior órgão do corpo, responsável por determinar as características das raças e manter a pelagem, importante em várias espécies. Além de ser uma barreira contra lesões físicas, químicas e microbiológicas, a pele é sensível a diferentes estímulos, como calor, frio, dor, coceira e pressão. Por estar constantemente exposta, a pele está sujeita a diversas agressões, sendo a dermatologia veterinária uma parte significativa dos atendimentos em clínicas de animais de companhia, representando de 30 a 75% dos casos. A pele também reflete condições internas do organismo, sendo chamada de "espelho do organismo", o que aumenta a importância da sua avaliação na prática clínica veterinária. Funções da pele: Proteção contra perdas: mantém um ambiente interno adequado e evita a perda de água, eletrólitos e macromoléculas. Proteção contra lesões externas: defende contra danos físicos, químicos ou microbiológicos, com a ajuda da flora bacteriana e fúngica natural. Produção de estruturas queratinizadas: como pelos, unhas e camada córnea, que também contribuem para a proteção e mobilidade. Flexibilidade: permite movimentos variados, especialmente em mamíferos, contribuindo para a adaptação e sobrevivência. Termorregulação: regula a temperatura corporal através do manto piloso, vasos sanguíneos e glândulas sudoríparas. Reservatório: armazena eletrólitos, água, vitaminas, ácidos graxos, carboidratos e proteínas, entre outros nutrientes. Imunorregulação: regula a imunidade celular e humoral para controlar infecções e inibir o crescimento de tumores. Pigmentação: a melanina na pele determina a cor dos pelos e protege contra os raios solares, absorvendo e difundindo a radiação ultravioleta. Secreção: glândulas sudoríparas e sebáceas mantêm e lubrificam a pele, regulam a temperatura e influenciam odores. Produção de vitamina D: a ativação cutânea da vitamina D é essencial para sua utilização pelo organismo. Identificação: características individuais das narinas podem ser usadas para identificar animais, similar às impressões digitais humanas. Percepção: a pele é responsável pela sensibilidade ao calor, frio, dor e tato, através de uma rede nervosa especializada. Estrutura da pele A estrutura da pele consiste em três camadas principais: a epiderme (camada superior), a derme (camada intermediária) e o tecido celular subcutâneo ou hipoderme (camada profunda). Epiderme A epiderme, a camada mais externa da pele, é formada por um epitélio estratificado, pavimentoso e ceratinizado, dividido em estrato basal (ou germinativo), estrato espinhoso, estrato granuloso, estrato lúcido e estrato córneo (ou disjunto). A densidade da pelagem influencia a espessura, o tipo de camada córnea e a presença do estrato lúcido. A epiderme é composta por quatro tipos celulares: ceratinócitos, melanócitos, células de Langerhans e células de Merkel. Ceratinócitos migram constantemente para formar os diferentes estratos epidérmicos, com o estrato basal sendo o local de origem das células epidérmicas. A ceratina é o produto da diferenciação dos ceratinócitos basais. A epiderme é uma estrutura dinâmica renovada continuamente pela descamação do estrato córneo. Alguns autores consideram a diferenciação final da epiderme em estrato córneo como uma forma especializada de apoptose. Estrato basal: As células do estrato basal, dispostas em uma única fileira, são predominantemente cúbicas ou cilíndricas. Esta camada, localizada acima da membrana basal, é o ponto de separação entre a derme e a epiderme. Devido à sua intensa proliferação celular, é comum observar células em mitose e apoptose nesta região. O índice mitótico é maior em áreas com poucos pelos, devido à necessidade de reposição do estrato córneo. Os melanócitos, responsáveis pela produção de melanina, estão presentes no estrato basal, onde também se encontram nas bainhas radiculares externas e nos ductos das glândulas sebáceas e sudoríparas. O pigmento melanina, essencial para proteção contra os raios ultravioletas, é produzido a partir do aminoácido tirosina pela ação da enzima tirosinase. Os melanócitos transferem melanossomas, que contêm melanina, para os ceratinócitos através de um processo chamado secreção citócrina. Além disso, as células de Merkel, encontradas apenas no estrato basal, funcionam como mecanorreceptores nos coxins tilotríquios. Estrato espinhoso: O estrato espinhoso, localizado acima do estrato basal, consiste em células pavimentosas unidas por pontes intercelulares. Neste estrato estão as células de Langerhans, que atuam como apresentadoras de antígeno, e os linfócitos T epidermotrópicos, formando o tecido linfóide associado à pele. Estrato granuloso: Formado por células romboides ou pavimentosas com grânulos de cerato-hialina, o estrato granuloso pode ser encontrado em várias camadas, dependendo da região do corpo. Esta camada está ausente ou é fina em algumas áreas da pele, como na mandíbula e na região temporal. Estrato lúcido: Composto por células pavimentosas, translúcidas e anucleadas, o estrato lúcido ocorre apenas em áreas mais espessas da pele, como coxins e plano nasal. Alguns autores consideram que o estrato lúcido é um artefato de refração de células córneas jovens. Estrato córneo: Formado por várias camadas de células ceratinizadas e anucleadas, o estrato córneo varia em espessura dependendo da região do corpo. A ceratina, uma proteína composta por microfibrilas, é essencial para a formação de uma barreira impermeável na pele. Derme A derme, de origem mesodérmica, está separada da epiderme pela membrana basal. Na pele humana, é dividida em derme papilar (ou superficial) e derme reticular (ou profunda), interdigitando-se com a epiderme através das papilas dérmicas e epidérmicas. Em cães e gatos, onde não há cristas da rede e papilas dérmicas, essa terminologia é imprópria. A derme dessas espécies é mais corretamente dividida em superficial e profunda. Composta principalmente por tecido conjuntivo, incluindo fibras entrelaçadas, elementos celulares dérmicos e apêndices epidérmicos como folículos pilosos e glândulas anexas. Nela estão presentes vasos sanguíneos, vasos linfáticos, nervos e músculo liso (músculo eretor do pelo). Pelos e folículos Os pelos são estruturas filiformes constituídas por células queratinizadas produzidas pelos folículos pilosos. Compostos por uma haste livre e uma raiz intradérmica, conectam-se aos folículos pilosos junto à glândula sebácea e ao músculo eretor do pelo. Desenvolvem-se a partir dos folículos pilosos, sem formação de novos após o nascimento. Nos filhotes, o tipo de pelo produzido difere do pelame do adulto, que é substituído posteriormente. Existem dois tipos de pêlos: primários e secundários. Os primários possuem uma glândula sebácea e músculo eretor, emergindo individualmente por um poro, enquanto os secundários são acompanhados apenas pela glândula sebácea, emergindo em grupos pelo mesmo poro. Os pelos lisos têm folículos retos, enquanto os crespos têm conformação espiral. A haste dos pelos é composta pela cutícula externa, córtex e medula. A camada cortical contém pigmento determinante da cor, enquanto a medula, menos compacta, pode ter pigmento, mas não influencia a cor. A cutícula é composta por células cornificadas. Os pelos são importantes na termorregulação, percepção sensorial e proteção contra raios solares. Sua capacidade de regular a temperatura corporal depende de espessura, comprimento e densidade. A inclinação e direção do crescimento facilitam a movimentação dos animais. Glândulas anexas Glândulas Sebáceas: Presentes em toda a pele, exceto nos coxins e no plano nasal, as glândulas sebáceas desembocam nos folículos pilosos. Secretam sebum, uma substância que mantém a pele macia e hidratada, formando uma camada protetora emulsificada que também envolve os pelos, conferindo-lhes maciez e brilho. O sebum atua como uma barreira física e química contra patógenos. As glândulas sebáceas são influenciadas pela nutrição e por hormônios, como os andrógenos, quecausam aumento, e os estrógenos e glicocorticóides, que levam à redução. Glândulas Sudoríparas: Classificadas atualmente como epitriquiais e atriquiais, as glândulas sudoríparas estão envolvidas na regulação da temperatura corporal e na secreção de feromônios. As epitriquiais estão presentes na pele recoberta por pelame, sendo maiores e mais numerosas nas junções mucocutâneas e em outras regiões específicas. Não são inervadas e possuem função antimicrobiana. Já as atriquiais são exclusivas dos coxins palmoplantares, sendo fortemente inervadas e encontradas apenas em carnívoros domésticos. Glândulas Especializadas dos Carnívoros Domésticos: Incluem as glândulas perianais, os sacos anais, as glândulas das orelhas e as glândulas da cauda. As glândulas perianais são glândulas sudoríparas que se desenvolvem desde o nascimento nas faces interna e externa do ânus, também encontradas no prepúcio e na cauda. Nos cães, a glândula supracaudal está localizada na face dorsal da cauda e é visível em cerca de 5% dos machos, estando relacionada ao reconhecimento olfatório. Nos felinos, há uma concentração de glândulas sebáceas na região dorsal da cauda, conhecida como órgão supracaudal. A testosterona estimula essas glândulas. Vascularização da Pele A circulação sanguínea na pele é crucial para sua saúde e função. O sistema vascular cutâneo é complexo, composto por três níveis interconectados: o plexo profundo, subdérmico ou subcutâneo; o plexo intermediário ou cutâneo; e o plexo superficial ou subpapilar. Em cães e gatos, o principal suprimento vascular da pele vem da artéria cutânea direta, que corre paralelamente à pele e envia ramificações para os plexos intermediário e superficial. O plexo profundo é especialmente importante, fornecendo sangue para a pele sobrejacente. Nas áreas onde há músculo cutâneo, o plexo subdérmico fica tanto superficial quanto profundo. O plexo subdérmico irriga o bulbo e o folículo piloso, as glândulas tubulares e partes mais profundas dos ductos, além do músculo eretor dos pelos. Ramos desse plexo ascendem até a derme, formando o plexo intermediário ou cutâneo, localizado no nível das glândulas sebáceas. O plexo superficial é irrigado por raízes do plexo intermediário e situa-se na camada externa da derme, irrigando as papilas epidérmicas. Embora menos desenvolvido em cães e gatos em comparação com humanos, macacos e suínos, o sistema vascular cutâneo desses animais desempenha um papel vital na manutenção da saúde da pele e na regulação térmica. Músculo Eretor do Pelo e Inervação Cutânea O músculo eretor do pelo, encontrado em toda a superfície da pele coberta por pelos, é responsável pela piloereção, controlada pela epinefrina. Além de regular a temperatura corporal e o esvaziamento das glândulas sebáceas, ele desempenha um papel importante na termorregulação. As fibras nervosas cutâneas desempenham várias funções essenciais na pele. Elas têm ação sensitiva e regulam o tônus vasomotor e a secreção glandular. Além disso, estão associadas a órgãos sensitivos da pele, como os discos pilares e os corpúsculos de Pacini, Meissner e Ruffini. Essas fibras nervosas são cruciais para a percepção sensorial da pele, incluindo toque, calor, frio, pressão, dor e prurido, além de contribuir para a saúde e o funcionamento adequado da epiderme. Hipoderme A hipoderme, também conhecida como tecido celular subcutâneo ou panículo adiposo, é a camada mais profunda e geralmente mais fina da pele. É composta principalmente por adipócitos, células cheias de gordura. Na parte superior, se relaciona com a derme profunda através de projeções que penetram na derme, formando a papila adiposa ou derme papilar, criando assim a junção dermo-hipodérmica que envolve folículos pilosos, glândulas sudoríparas e vasos sanguíneos, protegendo essas estruturas. Funcionalmente, a hipoderme atua como um depósito de reserva de nutrientes, contribui para o isolamento térmico, protege contra pressões e traumatismos externos e facilita o deslizamento da pele sobre as estruturas subjacentes.