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Óptica Física e Geométrica Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.ª Cláudia Adriana de Sousa Revisão Textual: Maria Cecília Andreo Óptica da Visão Óptica da Visão • Conhecer a estrutura do olho humano; • Compreender o processo de visão das cores; • Compreender o processo de acomodação visual; • Descrever os defeitos de visão: miopia, hipermetropia e presbiopia. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • O Olho Humano; • A Visão Colorida; • Acomodação Visual; • Defeitos da Visão: Miopia, Hipermetropia e Presbiopia. UNIDADE Óptica da Visão O Olho Humano Nesta unidade, aplicaremos os conceitos aprendidos nas unidades anteriores para entendermos o processo da visão. O olho humano é um fantástico instrumento óptico responsável pela captação da luz e formação de imagens dos objetos que estão à nossa volta. Vamos começar descrevendo a parte externa do olho humano. Figura 1 – Parte externa do olho humano Fonte: Adaptada de Getty Images A esclera, também chamada de esclerótica, é a parte branca do olho que confere estabilidade mecânica ao olho e o reveste externamente. A esclerótica tem uma abertura circular que é fechada pela córnea. A córnea é uma membrana transparente que tem a função de refratar a luz, de modo que ela possa ser focalizada na retina. A córnea tem um índice de refração de aproximadamente 1,38 e é responsável pelo maior desvio necessário pela luz. A primeira camada que a luz atinge é a córnea. A íris é a parte colorida do olho, e na sua parte central fica a pupila, um orifício cir- cular que controla a quantidade de luz que penetra no olho. Em ambientes iluminados, a pupila se contrai, deixando passar pouca luz (miose), e em ambientes escuros, ela se dilata, para entrar mais luz (midríase). Figura 2 – (A) Pupila em midríase (dilatada) e (B) em meiose (contraída) Fonte: Adaptada de Getty Images As pálpebras protegem nossos olhos do excesso de luz, poeira ou poluentes, além de auxiliar na produção e no espalhamento de lágrimas, evitando o ressecamento dos olhos, mantendo a córnea umedecida. A conjuntiva é uma membrana que recobre a parte interna da pálpebra e a esclera. 8 9 O limbo é uma linha entre a córnea e esclera. O globo ocular tem a forma aproximada de uma esfera de cerca de 25 mm de diâme- tro, é revestido externamente pela esclera (exceto na região da córnea), e internamente, no fundo do olho, pela retina. A retina é uma fina película composta de células sensíveis à luz, que se comunicam com o cérebro através do nervo óptico. No centro da retina temos uma região em que a visão é mais nítida, essa região é a fóvea. No ponto em que o nervo óptico se liga à retina há um ponto no qual não há formação de imagens. Esse ponto é chamado de ponto cego. Devido aos movimentos constante dos nossos olhos, e também ao nosso cérebro, não percebemos esse ponto cego. Entre a esclera e a retina existe uma membrana fina, a coroide, levemente aderida à retina. No centro da retina temos a mácula, responsável pela visão nítida. Córnea Íris Pupila Cristalino Humor aquoso Conjuntiva Nervo óptico Mácula Retina Coroide Esclera Humor vítreo Figura 3 – Representação esquemática do globo ocular Fonte: Adaptada de Getty Images O cristalino funciona como uma lente convergente, biconvexa, com índice de re- fração que varia de 1,41, na região central, a 1,39, nas bordas. Os músculos ciliares, ligados ao cristalino, promovem uma mudança na forma do cristalino, alterando a sua distância focal. Esse processo é chamado de acomodação visual e será visto em detalhes mais adiante. Na Figura 3, podemos perceber que o cristalino está entre o humor aquoso e o humor vítreo, substâncias gelatinosas transparentes que preenchem o globo ocular. O cristalino é composto de várias camadas finas e transparentes. 9 UNIDADE Óptica da Visão Cristalino Equador Superfície posterior Cécula epitelial Cápsula Córtex Núcleo Superfície anterior Figura 4 – Estrutura do cristalino Fonte: Adaptada de Getty Images Importante! A córnea, o humor aquoso, o humor vítreo e o cristalino são as estruturas transparentes do olho. Apresentam índices de refração diferentes e esse sistema óptico é convergente. A visão Agora que conhecemos a estrutura do olho humano, vamos entender o processo de formação de imagens na retina e como conseguimos enxergar um objeto. Vimos que o olho humano forma um sistema convergente, composto dos meios transparentes, que refrata os raios luminosos e forma na retina uma imagem real, inver- tida e menor. Figura 5 – A imagem formada na retina é real, invertida e menor Fonte: Adaptada de repositorio.utfpr.edu.br 10 11 Os nervos ópticos comunicam a retina ao cérebro, e o impulso nervoso gerado pela retina é levado ao cérebro pelo nervo óptico. Figura 6 – O nervo óptico Fonte: Adaptada de healthinfo.org.nz A Visão Colorida A retina é a parte do olho que, ao receber luz, a transforma em impulsos elétricos que serão decodificados pelo cérebro. Esse processo, na retina, é feito por dois tipos de fotorreceptores: os cones e os bastonetes. Os nomes referem-se à forma desses fotorre- ceptores, como podemos ver na Figura 7. Figura 7 – Os cones e os bastonetes Fonte: Adaptada de pt.khanacademy.org 11 UNIDADE Óptica da Visão Os cones concentram-se no centro da retina e são estimulados pela luz mais intensa; eles são responsáveis pela nossa visão das cores. Existem três tipos de cones, sensíveis às cores azul, vermelha e verde. O cone que capta na faixa do vermelho é chamado de L (“long”, longo); o cone M (“medium”, médio) capta ondas na faixa do verde; e o cone S (“short”, curto) detecta comprimentos na faixa do azul. As combinações dessas três cores e das diferentes intensidades luminosas geram todas as cores que conhecemos. Esse sistema é chamado de RGB (do inglês: Red, Blue e Green). As pessoas que não conseguem captar as cores normalmente são chamadas de daltônicas. Para saber mais sobre o daltonismo, acesse: https://bit.ly/3dgl9Sh Figura 8 – Comprimentos de ondas detectados pelos cones e pelos bastonetes Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons Os bastonetes registram apenas a ausência ou a presença de luz, mas não detectam cores. Eles detectam pequenas intensidades luminosas, por isso são responsáveis pela visão noturna ou visão em ambientes pouco iluminados. Acomodação Visual A luz entra nos nossos olhos passando primeiro pela córnea; ela é responsável por cerca de 70% do desvio necessário para que a imagem seja formada na retina. Esse des- vio promovido pela córnea é fixo, ou seja, é sempre o mesmo, esteja o objeto observado longe ou perto. O desvio restante é feito pelo cristalino, a lente convergente dos nossos olhos, e varia de acordo com a distância do objeto. As distâncias que vamos considerar que enxergamos bem, quando não temos ne- nhum problema de visão, são de 25 cm de distância (ponto próximo – PP) até objetos que estejam a uma distância muito grande dos nossos olhos, chamamos essa distância de infinita (ponto remoto – PR). 12 13 Figura 9 – Dizemos que as arvores que estão muito distantes estão no infi nito Fonte: Getty Images Quando uma pessoa olha para al- guma coisa bem distante, não há necessidade de nenhum esforço de acomodação visual. Para que possamos enxergar objetos a diferentes distâncias ( p variando) com niti- dez, a imagem deve estar focalizada na retina, ou seja, a distância da imagem não se altera, pois depende do tamanho do globo ocular ( ,p é constante). A distância focal do cristalino deve se alterar ( f muda) à medida que p muda. Esse processo é chamado de acomodação visual. i o p p’ Figura 10 – As distâncias envolvidas no processo de formação de imagens na retina Um objeto está a 25 cm de distância dos seus olhos, o nosso ponto próximo, consi- derando o globo ocular com 25 mm de diâmetro, qual é a distância focal do cristalino nessa situação? Qual a sua convergência? 13 UNIDADE Óptica da Visão Para que possamos calcular a distância focal, vamosanotar os dados e colocar todas as medidas na mesma unidade: 25 p cm= , 25 2,5 p mm cm= = ?f = 1 1 1 25 2,5f = + 1 1 10 25f + = 1 11 25f = 11 25f = 2,27 0,0227 f cm m= = Calculamos a convergência, ou vergência, do cristalino, usando a relação: 1 V f = Estando no ponto próximo (25 cm de distância), a vergência será de: 1 1 0,0227 V f = = 44 iV d= Se esse mesmo objeto for afastado até um ponto muito distante, no ponto remoto, onde consideramos a distância infinita, qual será a distância focal do cristalino? p = ∞ , 25 2,5 p mm cm= = ?f = 1 1 1 2,5f = + ∞ Quando dividimos 1 por um número muito grande (tendendo ao infinito), o resultado tende a zero e podemos desprezar esse termo da equação, ficando, então, com: 1 1 2,5f = 2,5 0,025 f cm m= = 14 15 Estando no ponto remoto (distância infinita), a vergência será de: 1 1 0,025 V f = = 40 iV d= Nos exemplos apresentados, podemos perceber a variação da distância focal do cristalino no processo de acomodação visual. Esse processo é promovido por músculos que, ligados ao cristalino, promovem a sua contração ou relaxamento. No ponto remoto, a lente está completamente relaxada e a visão ocorre sem esforço de acomodação. No ponto próximo, o olho normal está sob o máximo esforço de acomodação. A lente tem uma variação de 4,0 dioptrias entre as posições relaxado e contraído do cristalino. Essa variação de vergência entre o ponto próximo e o ponto remoto é cha- mada de amplitude de acomodação. Defeitos da Visão: Miopia, Hipermetropia e Presbiopia O olho humano normal, sem defeitos de visão, é dito emétrope; e quando apresenta alguma anomalia é dito amétrope. Os defeitos da visão mais comuns são a miopia, a hipermetropia e a presbiopia. Vejamos cada uma delas. Miopia Na miopia, a imagem é formada antes da retina. Isso pode ser causado por um alongamento do globo ocular ou por um excesso de convergência. O mío- pe tem o ponto remoto a uma distância finita, tendo dificuldade de enxergar de longe. A lente fica com- pletamente relaxada mesmo estando o objeto a uma distância finita, ou seja, seu ponto remoto está a uma distância menor. A miopia favorece a visão de perto e, em geral, um míope tem o ponto próximo a uma distância inferior a 25 cm. Segundo Guimarães (2016), a função de uma lente “corretora” não é corrigir uma ametropia, mas produ- zir as imagens em uma região em que o usuário tenha acomodação visual. Para a miopia, a lente usada é a lente divergente. Você pode observar nos óculos de um míope que as bordas são mais espessas que o centro. Visão normal Miopia Correção com lente Figura 11 – A miopia Fonte: Adaptada de Getty Images 15 UNIDADE Óptica da Visão Figura 12 – Formação de imagem em uma lente divergente usada para corrigir a miopia Fonte: Getty Images Nas lentes divergentes, a distância focal é negativa e, consequentemente, a vergência também será. A distância focal da lente usada por um míope é igual à distância máxima ( )rd de visão nítida. rf d=− 1 1 r V f d = =− Por exemplo, se uma pessoa enxerga nitidamente até uma distância de 50 cm, qual é a vergência da lente capaz de corrigir a miopia desse olho? Para calcularmos a vergência da lente, devemos expressar a distância máxima dr em metros: 50 0,50 rd cm m= = 1 1 2,0 0,50 i r V d d = − = − =− A vergência é negativa, pois a lente é divergente. Miopia: vicio de refração em que os raios luminosos entram paralelamente ao eixo óptico, sen- do levados a um foco adiante da retina, sendo apenas vistos, claramente, os objetos próximos. Hipermetropia Na hipermetropia, a imagem é formada depois da retina. Isso pode ser causado por um encurtamento do globo ocular ou por uma convergência insuficiente. O ponto próximo de um hipermetrope fica mais distante que os usuais 25 cm e a pessoa tem dificuldade de enxergar objetos próximos. A lente usada na correção é a convergente. 16 17 Visão normal Hipermetropia Correção com lente Figura 13 – A hipermetropia Fonte: Adaptada de Getty Images O hipermetrope deve usar uma lente que conjugue para um objeto a 25 cm do olho uma imagem no ponto onde ele tem a visão nítida. Assim, na equação de Gauss, a dis- tância do objeto será de 25 cm, e a distância da imagem tem o valor da distância que o hipermetrope enxerga com nitidez. Assim, se o ponto próximo for, por exemplo, 50 cm, a lente deverá ter uma convergência dada pela equação: , 1 1 1 V f p p = = + Nesse exemplo, temos: 25 0,25 p cn m= = , 50 050 p cm m= = Substituindo na equação, teremos: 1 1 1 0, 25 0,50 V f = = + 2 1 0,50 V + = 3 0,50 V = 6 iV d=+ A lente usada para corrigir a hipermetropia desse olho é convergente e tem uma vergência positiva. 17 UNIDADE Óptica da Visão Presbiopia A presbiopia resulta da perda da capacidade de acomodação do cristalino, decorrente da idade. Normalmente, a presbiopia começa a se manifestar a partir dos 40 anos de idade. Ela ocorre porque o cristalino ou os músculos ciliares sofrem um enrijecimento e a lente vai perdendo sua amplitude de acomodação. Presbiopia: distúrbio visual que ocorre na velhice, em que se perde o poder de distinguir com nitidez os objetos próximos. A correção da presbiopia é feita da mesma forma que na hipermetropia, com lentes con- vergentes, e muitas vezes o presbita usa óculos somente para visão próxima, os chamados “óculos de leitura para vista cansada”. Figura 14 – Na presbiopia, ou vista cansada, a pessoa tem dificuldade de enxergar de perto Fonte: Getty Images De acordo com os especialistas, os óculos são a quinta invenção mais importante desde que a humanidade descobriu o fogo e inventou a roda. O motivo: pela primeira vez na história, milhões de pessoas puderam ver bem, apesar de terem problemas de visão. Isso pode pa- recer pouco relevante hoje, mas o fato é que, por muitos séculos, simplesmente não havia nenhuma solução para pessoas com problemas de visão – os óculos ainda não tinham sido inventados (ZEISS, 2020). 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Olho humano, a supermáquina https://youtu.be/IDgPSd2OjJ8 Como funciona o olho humano: óptica da visão https://youtu.be/zwGhx-zgYBA Enxergando colorido https://youtu.be/T2hO0qO3qLc Leitura A história dos óculos de suas origens como “pedras de leitura” a acessórios de estilo de vida https://bit.ly/3m231j4 19 UNIDADE Óptica da Visão Referências FERREIRA, A., B. de H. Miniaurélio Século XXI Escolar: o minidicionário da língua portuguesa. 4. ed. rev. e amp. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. GASPAR, A. Física – Ondas – Óptica – Termodinâmica. São Paulo: Ática, 2002. GUIMARÃES, O.; PIQUEIRA, J. R.; CARRON, W. Física. Física térmica, ondas, óptica. 2. ed. 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