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AULA 5 CRIMES CIBERNÉTICOS Profª Juliana Bertholdi A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula daremos sequência ao estudo de tipos penais que tangenciam o meio cibernético, analisando os principais cibercrimes impróprios. TEMA 1 – RACISMO E INJÚRIA RACIAL NA REDE DE COMPUTADORES Para além das ofensas à honra que podem ser promovidas na internet, os despautérios promovidos podem evoluir para prática de racismo, crimes de ódio e de discriminação racial, social, de gênero ou religiosa (conhecidas como cyberthreats). Atualmente, a denúncias de racismo lideram o ranking de crimes virtuais, sendo a rede social Facebook o site com maior incidência desses casos. A ONG Safernet registrou 1517 denúncias de racismo na rede social no ano de 2017, o que representa aproximadamente 58,3% dos registros realizados em toda internet, seguida pelo Twitter com 422 denúncias e o YouTube com 174 denúncias. Tais números revelam a significativa desigualdade racial no Brasil, demonstrando que, não obstante passado quase um século e meio da abolição da escravatura, os afrodescendentes ainda sofrem com seus reflexos nefastos. Com os novos hábitos sociais e a evolução tecnológica, tais reflexos passaram a ser sentidos igualmente nas plataformas on-line – inclusive, de forma mais significativa, visto que, assim como nos crimes contra honra, há um sentimento social de que a prática desses delitos na internet dificilmente geraria qualquer tipo de consequência judicial. Dois são os delitos envolvendo diretamente atitudes racistas, sendo fundamental conhecer a diferença entre ambos, que possuem conceitos e responsabilidades penais próprias. A diferença entre esses crimes está explicada detalhadamente no Portal da Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial, conteúdo que se replica parcialmente abaixo: 1.1 Racismo Inicialmente, cumpre desfazer o imbróglio entre os conceitos de racismo, discriminação e preconceito. Conforme aduz Andreucci (2015, p. 133): a. O termo “racismo” geralmente expressa o conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as raças, entre as etnias, ou ainda uma atitude de hostilidade em relação a determinadas A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 3 categorias de pessoas. Pode ser classificado como um fenômeno cultural, praticamente inseparável da história humana. b. A “discriminação”, por seu tempo, expressa a quebra do princípio da igualdade, como distinção, exclusão, restrição ou preferência, motivado por raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso ou convicções políticas. c. Já o “preconceito” indica opinião ou sentimento, quer favorável, quer desfavorável, concebido sem exame crítico, ou ainda atitude, sentimento ou parecer insensato, assumido em consequência da generalização, apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio, conduzindo geralmente à intolerância. Conclui-se, assim, que o racismo ou o preconceito é que levam à discriminação, sendo o primeiro tipificado em nossa legislação pátria. 1.1.1 Leitura do tipo penal seco – art. 20 da Lei n. 7.716/1989 Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) Pena: reclusão de um a três anos e multa (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) § 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) § 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; (Redação dada pela Lei nº 12.735, de 2012) (Vigência) III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores. (Incluído pela Lei nº 12.288, de 2010) (Vigência) § 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97) (Brasil, 1989). 1.1.2 Comentários gerais A CF/1988, em seu art. 5º, inciso XLII, avalia a prática do racismo como “crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão”. O praticante do racismo, conforme Lei n. 7.716/89, age com o intuito de menosprezar, inferiorizar, de forma genética, determinado grupo étnico, raça ou cor. Não há assim um destinatário específico. A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 4 A Lei n. 7.716/1989 tipifica uma série de delitos resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. O principal dispositivo para tipificação de crimes cibernéticos é o art. 20: praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. 1.1.3 Classificação do tipo penal – art. 20, caput Sujeito ativo: crime comum. Qualquer indivíduo pode praticá-lo; Sujeito passivo: o Estado; Tipo objetivo: vem representada pelos verbos “praticar” (realizar, executar), “induzir” (persuadir, influenciar) e “incitar” (estimular, aguçar); Qualificadora: prática do delito por meio de veículos de comunicação social, incide a qualificadora do segundo parágrafo; Tipo subjetivo: dolo; Consumação: sucede com a prática, indução ou incitação. Crime formal que independe de resultado; Tentativa: cabível na conduta “praticar”; Ação penal: pública incondicionada. 1.1.4 Art. 20, parágrafo 1º Sujeito ativo: crime comum. Qualquer indivíduo pode praticá-lo; Sujeito passivo: sociedade e qualquer indivíduo; Tipo objetivo: divulgar o nazismo, induzindo a discriminação ou o preconceito; Tipo subjetivo: dolo; Consumação: crime formal. Exaure-se com a mera conduta; Tentativa: cabível; Ação penal: pública incondicionada. 1.2 Injúria racial A legislação penal contempla ainda o delito de crime de injúria racial no parágrafo 3º do art. 140, delito este consistente em ofender a dignidade e o decoro A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 5 de uma determinada pessoa, imputando-lhe qualidade negativa com a utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem. Portanto, a diferença entre racismo e injúria qualificada reside no fato de que o preconceito de cor está, sobretudo, no elemento subjetivo do agente, que no primeiro caso age sem um destinatário específico e, no segundo caso, age para ofender a dignidade e o decoro de uma determinada pessoa. TEMA 2 – FALSA IDENTIDADE Aquele que se utiliza da identidade de outrem ou mesmo de identidade fictícia (desde que humana), com o propósito de cometer atos ilícitos, comete o crime de falsa identidade, previsto no art. 307 do Código Penal. No âmbito da internet, tal delito é recorrentemente cometido a fim de ludibriar os internautas a fornecer informações pessoais. Um dos maisrecentes golpes envolve a rede social Instagram: passando-se por amigo ou amiga próxima, o criminoso pratica phishing para obter dados e senhas de suas vítimas. 2.1 Leitura do tipo penal seco – art. 307 do Código Penal Art. 307 – Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. (Brasil, 1940) 2.1.1 Comentários gerais A primeira conduta é atribuir-se ou atribuir a outrem a falsa identidade, ou seja, fazer-se passar ou a terceiro por outra pessoa existente ou imaginária. Identidade, no sentido natural, é o conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa: nome, idade, estado, profissão, qualidade, sexo, defeitos físicos, impressões digitais etc. Vale dizer que o crime se configura quando o agente se atribui identidade e não qualidade qualquer. É indispensável para a caracterização do ilícito que a falsa atribuição de identidade seja praticada para que o agente obtenha vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem. É necessário, assim, que o fato seja ou possa vir a ser juridicamente relevante pois, se não houver a possibilidade de resultar efeito jurídico, não ocorre o ilícito. A lei em vigor não distingue a espécie de vantagem, que poderá ser de caráter patrimonial, social, sexual ou moral. Consuma-se o crime quando o agente irroga, inculca ou imputa a si próprio ou a terceiro a falsa identidade, independentemente da obtenção da vantagem própria ou de outrem ou prejuízo alheio visados. Trata-se de crime formal, que independe de ulteriores consequências" (Mirabete, 1999) 2.1.2 Classificação do tipo penal A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 6 Sujeito ativo: crime comum. Qualquer indivíduo pode praticá-lo; Sujeito passivo: sociedade e qualquer indivíduo; Tipo objetivo: a conduta típica consiste em atribuir a si mesmo ou a outrem falsa identidade, sendo esta constituída não apenas pelo nome mas igualmente por outras características ou condições próprias da personalidade; Tipo subjetivo: dolo e elemento subjetivo do injusto, consistente no fim especial de agir “para obter, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem”; Consumação: crime formal. Exaure-se com a mera conduta; Tentativa: é admitida em situações em que o envio ocorra; Ação penal: pública incondicionada. 2.1.3 Projeto de Lei – Deputado Nelson Marchezan Junior Há um projeto de lei que pretende alterar o crime do art. 307 sob o argumento de que a Lei n. 12.737, de 2012, que dispôs sobre a tipificação penal de delitos informáticos, não tratou especificamente dessa conduta, tendo se debruçado sobre a invasão de dispositivo informático, a interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública e a falsificação de cartão de crédito ou débito [...] faz-se necessário complementar a legislação penal, tipificando o uso de falsa identidade através da rede mundial de computadores. (Brasil, 2014) Tal entendimento, a nosso ver, é equivocado. Senão vejamos a previsão do PL n. 7.758/14: Art. 1º Esta lei tipifica penalmente o uso de falsa identidade na rede mundial de computadores. Art. 2º O art. 307 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único: Art. 307. Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade, inclusive por meio da rede mundial de computadores ou qualquer outro meio eletrônico, com o objetivo de prejudicar, intimidar, ameaçar, obter vantagem ou causar dano a outrem, em proveito próprio ou alheio: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. (Brasil, 2014) Questionamo-nos acerca da relevância de tal construção com base na seguinte reflexão: cumpre, por mais uma vez, criminalizar ou fazer constar os meios de cometimento da conduta delituosa – mais uma vez tipificando técnicas A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 7 em vez de condutas – quando esta já está tipificada em nosso ordenamento jurídico? TEMA 3 – FRAUDE BANCÁRIA – FURTO Não são incomuns as oportunidades em que, por meio de uma série de possíveis recursos eletrônicos, agentes transferem de forma fraudulenta valores de contas bancárias fazendo uso da ferramenta de internet banking. Conforme pesquisa realizada pelo instituto de Synovate, o Brasil é o terceiro país em número de fraudes via internet banking, possuindo em média uma fraude a cada 16 segundos no ano de 2017, conforme dados da Serasa Experian. Segundo o Serasa, as tentativas de fraude mais aplicadas em 2017 foram: Compra de celulares com documentos falsos ou roubados Emissão de cartões de crédito: golpista solicita um cartão de crédito usando uma identificação falsa ou roubada Financiamento de eletrônicos (no varejo): golpista compra eletrônicos usando uma identificação falsa ou roubada Abertura de conta: golpista abre conta em um banco usando uma identificação falsa ou roubada. Compra de automóveis: golpista compra o automóvel usando uma identificação falsa ou roubada Abertura de empresas: golpista usa dados roubados para abrir empresas, que podem servir de "fachada" para a aplicação de golpes no mercado. (Melo, 2018) Por determinado período de tempo, discutiu-se a que tipo penal essas condutas se amoldariam. Assim como se deu na análise do racismo, os crimes de fraude constam em mais de um tipo penal, estando dispostos no art. 171 e seguintes do Código Penal. Outras fraudes estão definidas em diferentes estatutos legais (fraudes fiscais, eleitorais, comerciais). Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça concretizou o entendimento de que a transferência fraudulenta de recursos de contas bancárias por meio da Internet configura o crime de furto qualificado, e não o delito de estelionato1. A questão é muito bem esclarecida pela Min. Laurita Vaz, no CC 67.343- GO: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL E PROCESSO PENAL. FRAUDE ELETRÔNICA NA INTERNET. TRANSFERÊNCIA DE NUMERÁRIO DE CONTA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. FURTO MEDIANTE FRAUDE QUE NÃO SE CONFUNDE COM ESTELIONATO. 1 Nesse sentido os seguintes julgados: CC 67.343-GO, Rel. Ministra Laurita Vaz; CC 86241-PR, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura; CC 86.862-GO, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho; e CC 115.690/DF, Rel. Ministro OG Fernandes, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2011, DJ 28/03/2011). A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 8 CONSUMAÇÃO. SUBTRAÇÃO DO BEM. APLICAÇÃO DO ART. 7º DO CPP. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARANAENSE. 1. O furto mediante fraude não se confunde com o estelionato. A distinção se faz primordialmente com a análise do elemento comum da fraude que, no furto, é utilizada pelo agente com o fim de burlar a vigilância da vítima que, desatenta, tem seu bem subtraído, sem que se aperceba; no estelionato, a fraude é usada como meio de obter o consentimento da vítima que, iludida, entrega voluntariamente o bem ao agente. 2. Hipótese em que o agente se valeu de fraude eletrônica para a retirada de mais de dois mil e quinhentos reais de conta bancária, por meio da “Internet Banking” da Caixa Econômica Federal, o que ocorreu, por certo, sem qualquer tipo de consentimento da vítima, o Banco. A fraude, de fato, foi usada para burlar o sistema de proteção e de vigilância do Banco sobre os valores mantidos sob sua guarda. Configuração do crime de furto qualificado por fraude, e não estelionato. 3. O dinheiro, bem de expressão máxima da ideia de valor econômico, hodiernamente,como se sabe, circula em boa parte no chamado “mundo virtual” da informática. Esses valores recebidos e transferidos por meio da manipulação de dados digitais não são tangíveis, mas nem por isso deixaram de ser dinheiro. O bem, ainda que de forma virtual, circula como qualquer outra coisa, com valor econômico evidente. De fato, a informação digital e o bem material correspondente estão intrínseca e inseparavelmente ligados, se confundem. Esses registros contidos em banco de dados não possuem existência autônoma, desvinculada do bem que representam, por isso são passíveis de movimentação, com a troca de titularidade. Assim, em consonância com a melhor doutrina, é possível o crime de furto por meio do sistema informático. 4. A consumação do crime de furto ocorre no momento em que o bem é subtraído da vítima, saindo de sua esfera de disponibilidade. No caso em apreço, o desapossamento que gerou o prejuízo, embora tenha se efetivado em sistema digital de dados, ocorreu em conta- corrente da Agência Campo Mourão/PR, que se localiza na cidade de mesmo nome. Aplicação do art. 7º do Código de Processo Penal. 5. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal de Campo Mourão - SJ/PR (STJ, 2007). Saiba mais Estudo de caso – Operação Código Reverso Operação da PF que visava desarticular organização criminosa especializada em fraudes bancárias pela internet nos Estados do Tocantins, de São Paulo, Goiás e Pernambuco. O grupo criminoso burlava mecanismos de segurança dos bancos, causando prejuízo estimado de cerca de R$ 10 milhões. A Polícia Federal informou à época que o grupo era constituído de hackers com conexões com criminosos cibernéticos espalhados pelo globo e especialmente concentrados no Leste Europeu. Os hackers acessavam remotamente os computadores das vítimas, realizando transações bancárias eletrônicas fraudulentas como pagamentos, transferências e compras via internet. A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 9 3.1 Leitura do tipo penal seco – art. 155, parágrafo 4º, ii do código penal Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. [...] Furto qualificado § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: [...] II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza (Código Penal, 1940). 3.1.1 Classificação do tipo penal Sujeito ativo: crime comum. Qualquer indivíduo pode praticá-lo; Sujeito passivo: proprietário ou possuidor; Tipo objetivo: a conduta típica consiste em subtrair coisa alheia móvel; Tipo subjetivo: dolo e elemento subjetivo do injusto, consistente no ânimo de assenhoramento definitivo; Consumação: consuma-se com a retirada do bem da esfera de disponibilidade da vítima; Tentativa: admite tentativa; Ação penal: pública Incondicionada. TEMA 4 – FRAUDE BANCÁRIA – ESTELIONATO Como já explanado acima, o estelionato resta caracterizado quando a fraude é usada como meio de obter o consentimento da vítima que, iludida, entrega voluntariamente o bem ao agente. Sobre este delito destaca Nauata (2018): A expressão estelionato vem do latim stellio que é o camaleão que troca de cor para iludir a presa ou passar desapercebido. Quem pratica o estelionato não possui grande dificuldade em se adaptar ao meio em que se encontra, por conta de se disfarçar muito bem e possuir suas artimanhas, ele ilude a vítima com suas fraudes e age de má-fé todo tempo, para que assim chegue ao seu objetivo, ou seja, conseguir vantagem sobre outrem. O estelionato é um dos delitos mais curiosos, entre os crimes contidos no Código Penal Brasileiro, por possuir diversas maneiras de se cometê-lo. Estelionato é um delito muito complicado, pelo trabalho que se tem para diferenciar estelionato de um ato ilícito civil. A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 10 4.1 Leitura do tipo penal seco – art. 171 do Código Penal Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. (Brasil, 1940) 4.1.1 Classificação do tipo penal Sujeito ativo: crime comum. Qualquer indivíduo pode praticá-lo; Sujeito passivo: qualquer sujeito dotado de capacidade – isso porque deve ser capaz para ser ludibriado; Tipo objetivo: obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento; Tipo subjetivo: dolo e elemento subjetivo do injusto, consistente no ânimo de assenhoramento definitivo; Consumação: consuma-se com a retirada do bem da esfera de disponibilidade da vítima; Tentativa: admite tentativa; Ação penal: pública Incondicionada. TEMA 5 – CRIME ECONÔMICOS E A LAVAGEM DE DINHEIRO O delito de “lavagem de dinheiro” recebe a nomenclatura em homenagem ao modus operandi utilizado por organizações mafiosas estado-unidenses que, na década de 20, aplicavam em lavanderias o capital proveniente do comércio criminoso. Assim, utilizamos da expressão para referirmo-nos ao conjunto de operações que visam ocultar a origem do dinheiro ou dos bens resultantes das atividades delitivas, integrando-as no sistema econômico ou financeiro, em operações capazes de converter o dinheiro sujo em dinheiro limpo. Portanto, a lavagem de dinheiro pressupõe a existência prévia de dinheiro ilícito, e, portanto, de um delito anterior. Sendo assim, possui fases extremamente determinadas, que precisam ser identificadas quando da análise da lavagem de capitais. É esse, inclusive, o recente posicionamento do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema: A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 11 PROCESSO PENAL E PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. LAVAGEM DE DINHEIRO E FRAUDE À LICITAÇÃO. FATOS QUE SE AMOLDAM AO ESTELIONATO JUDICIAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. DESCRIÇÃO DA CONDUTA. DEMONSTRAÇÃO DOS ELEMENTOS DO TIPO PENAL IMPUTADO. AUSÊNCIA. INÉPCIA. RECONHECIMENTO. RECURSO PROVIDO. 1. Orienta-se a jurisprudência desta Corte no sentido de que o trancamento da ação penal é medida de exceção, possível somente quando inequívoca a inépcia da denúncia e/ou a ausência de justa causa. 2. As condutas narradas pela denúncia referentes à indicação de terceira empresa para concorrer à licitação e benefício oriundo de prorrogação obtida por meio de decisão judicial, não se amoldam a qualquer figura típica. A participação de terceira empresa em concorrência pública, com ou sem interesse de realmente prestar o serviço, somente seria típica se pela simulação houvesse dano ao erário e o recebimento de valores pela prorrogação judicial do contrato não constitui em si dano ao erário, pois pagamento por serviço prestado. 3. O meio de obtenção da vantagem, por prorrogação a ser obtida em processo judicial, configura o chamado estelionato judiciário, conduta atípica - pois sempre devida a vantagem judicial, mesmo recorrível, em processo contraditório. 4. No tocante à imputação por lavagem de dinheiro, não há mínima descrição da conduta criminosa diante da ausência de especificação quanto à forma de encobrimento da origem ou a dissimulação do dinheiro obtido por crimes prévios. (...) 9. Recurso em habeas corpus provido para trancar a Ação Penal n. 0101008-27.2008.8.05.0001, em curso na 1ª Vara Crime da comarca de Salvador/BA, sem prejuízo de oferecimento de nova peça acusatória, de acordo com as exigências legais (RCH 72062 BA 2016/0154506-5. STJ – Sexta Turma – Relator: Ministro Nefi Cordeiro. Data de Julgamento:12 de junho de 2018). 5.1 Fases para realização do delito O delito de lavagem de dinheiro é um crime de alta complexidade, no qual um indivíduo ou uma organização criminosa podem processar os ganhos obtidos em atividades ilegais, buscando trazer para tais frutos a aparência de licitude. Ou seja, é um método de legitimação do capital espúrio, realizado com objetivo de torná-lo apto para uso. Vejamos as fases que compõem tal processo: a. a primeira delas é a fase da ocultação, na qual há uma tentativa dos agentes de conseguir menor visibilidade do dinheiro oriundo da prática de atividade ilícitas. Para tanto, costuma-se utilizar o sistema financeiro, negócios de condições variadas, enfim, emprega “intermediários” que trocarão os valores ilicitamente recebidos. b. com a posse do dinheiro, tem início a segunda fase: a cobertura, fase de controle, ou ainda, mascaramento. Consistente em desligar os fundos de sua origem, em outras palavras, fazer desaparecer o vínculo entre o agente e o bem precedente de sua atuação. São comuns múltiplas transferências de dinheiro, compensações financeiras, remessas aos paraísos fiscais, superfaturação de exportações, dentre outros. c. finalmente, o dinheiro deve retornar ao circuito econômico, transparecendo a imagem de produto normal de uma atividade comercial, é a chamada fase de integração. Neste momento, há a conversão de dinheiro sujo em capital lícito, adquirindo propriedades e bens, constituindo estabelecimentos lícitos, financiando atividades de terceiros, além de investir parte deste dinheiro na prática de novos delitos (Lustosa, S.d.) A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 12 5.2 Leitura do tipo penal seco – art. 1º da Lei n. 9.613/1998 Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. § 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal: (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) I - os converte em ativos lícitos; II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere; III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros. § 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei n. 12.683, de 2012) I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal; (Redação dada pela Lei n. 12.683, de 2012) II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei. § 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código Penal. § 4º A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa. § 5º A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá- la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime. 5.2.1 Classificação do tipo penal Sujeito ativo: crime comum. Qualquer indivíduo pode praticá-lo, ainda que não seja o autor do crime anterior; Sujeito passivo: o Estado; Tipo objetivo: verificar de acordo com o inciso tratado; Tipo subjetivo: é o dolo e vontade livre de ocultar ou dissimular bens, valores e direitos provenientes de ações penais; Consumação: consuma-se com a simples ocultação ou dissimulação de bens. Basta, assim, que sejam ocultados os valores, não importando que sejam aproveitados; Tentativa: admite tentativa; Ação penal: pública incondicionada. A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 13 Saiba mais 1. STJ – Supremo Tribunal de Justiça. Conflito de Competência 67343 GO 2006/0166153-0. Relatora Ministra Laurita Vaz Min. Laurita Vaz, no CC 67.343- GO. DJ, 11 dez. 2007. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2019. 2. LUSTOSA, D. S. M. Aspectos gerais do crime de lavagem de dinheiro (Lei 9.613/98). Âmbito Jurídico, S.d. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2019. A luno: V anessa G iovana S ilva de S á E m ail: vanessagiovanasa@ gm ail.com 14 REFERÊNCIAS ANDREUCCI, R. A. Legislação penal especial. São Paulo: Saraiva, 2015. AVAST. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2019. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. _____. Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 6 jan. 1989. _____. Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Rio de Janeiro, DF, 31 dez. 1940. _____. Lei n. 9.613, de 3 de março de 1998. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 4 mar. 1998. _____. Lei n. 12.735, de 30 de novembro de 2012. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 3 dez. 2012a. _____. Lei n. 12.737, de 30 de novembro de 2012. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 3 dez. 2012b _____. Lei n. 12.965, de 23 de abril de 2014. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 4 abr. 2014. _____. Lei n. 11.829, de 25 de novembro de 2008. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 nov. 2008. BRASIL. Câmara Legislativa. Projeto de Lei n. 7.758, de 2 de julho de 2014. CÂMARA DOS DEPUTADOS. CPI dos crimes cibernéticos. Brasília: Câmara dos Deputados, 2016. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2019. JUSTINIANO, N. F. Terminologia e tecnologia: um estudo de termos de crimes cibernéticos. Dissertação (Mestrado em Linguística) – UNB – Universidade de Brasília, Brasília, 2017. LEVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. LUSTOSA, D. S. M. Aspectos gerais do crime de lavagem de dinheiro (Lei 9.613/98). Âmbito Jurídico, S.d. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2019. MELO, L. Brasil tem 1 tentativa de fraude a cada 16 segundos em 2017, maior índice em 3 anos, diz Serasa. G1, 6 fev. 2018. Disponível em: . Acesso em: 7 mar. 2019. MIRABETE, J. F. 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