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ARQUIDIOCESE DE SÃO SALVADOR DA BAHIA INTRODUÇÃO À METODOLOGIA FILOSÓFICA
JOCEMIR SOUZA SANTOS
O ENSAIO DE FILOSOFIA E A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.
SALVADOR 2024
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JOCEMIR SOUZA SANTOS
O ENSAIO DE FILOSOFIA E A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.
Artigo Científico apresentado ao Seminário Propedêutico Santa Teresinha do Menino Jesus, Arquidiocese de São Salvador da Bahia, como requisito avaliativo parcial da disciplina Introdução à Metodologia Filosófica, ministrada pelo Professor Esp. Luís Otávio Silva dos Santos.
Orientador: Prof. Esp. Luís Otávio Silva dos Santos Avaliador: Prof. Dr. N.
SALVADOR 2024
O ENSAIO DE FILOSOFIA E A EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA.
RESUMO
Este artigo apresenta uma significativa contribuição no sentido de ampliar a reflexão e as discussões em torno do ensino de Filosofia, da sua identidade de conteúdo curricular e da prática educativa no Ensino brasileiro. Tem como objetivo geral discutir o ensino de Filosofia como uma disciplina filosófica do pensamento, considerando-a um componente fundamental no currículo da escola, desde quando propicia reflexão/formação no processo de aprendizagem. Enfoca a prática docente como elemento importante no processo de construção da identidade da disciplina Filosofia no Ensino brasileiro, pois o professor que se engaja nesse processo revela-se como um verdadeiro agente de mudanças, que através da sua responsabilidade profissional faz com que a permanência da filosofia no currículo do Ensino brasileiro seja profícua. Existe uma diferença entre a filosofia da educação produzida no Brasil e a de outros países ou a sua pretensão de universalidade já a eximiria de buscar qualquer particularidade da experiência do pensar na educação brasileira? Diante dessa questão e dos desafios lançados por uma constituição cultural múltipla e étnica diversificada como a brasileira, a presente pesquisa se propôs a buscar uma resposta à questão mencionada, ao reconstituir histórica e filosoficamente a gênese e o desenvolvimento na filosofia da educação no Brasil. Embora alguns estudos tenham tentado abordar a trajetória da filosofia da educação no Brasil desde os anos 1980, a presente pesquisa procura contribuir para a construção de outro olhar sobre a reconstrução histórica das manifestações da filosofia da educação como campo de ensino, de pesquisa e de pensamento.
Palavras-chave: Filosofia; Prática Docente; Reflexão filosófica.
ABSTRACT
This article makes a significant contribution to expanding reflection and discussions around the teaching of Philosophy, its identity as curricular content and educational practice in Brazilian education. Its general objective is to discuss the teaching of Philosophy as a philosophical discipline of thought, considering it a fundamental component in the school curriculum, as it provides reflection/training in the learning process. It focuses on teaching practice as an important element in the process of building the identity of the discipline Philosophy in Brazilian Education, as the teacher who engages in this process reveals himself to be a true agent of change, who, through his professional responsibility, ensures that the permanence of philosophy in the Brazilian education curriculum is fruitful. Is there a difference between the philosophy of education produced in Brazil and that of other countries or does its claim to universality already exempt it from seeking any particularity in the experience of thinking about Brazilian education? Faced with this question and the challenges imposed by a multiple and ethnically diverse cultural constitution such as Brazil's, the present research set out to seek an answer to that question, historically and philosophically reconstituting the genesis and development in the philosophy of education in Brazil. Although some studies have attempted to address the trajectory of philosophy of education in Brazil since the 1980s, this research seeks to contribute to the construction of another perspective on the historical reconstruction of the manifestations of philosophy of education as a field of teaching, research and thought.
Keywords: Philosophy; Teaching practice; Philosophical reflection.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................6 
DESENVOLVIMENTO.......................................................................................................8 
ANÁLISE..................................................................................................................................13	
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................16	
REFERÊNCIAS........................................................................................................................18	
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1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o enfoque nas condições e possibilidades do ensino de Filosofia adquiriu um grande desenvolvimento, principalmente, quando foi sancionada a Lei nº 11.684 de 2008, que alterou o art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do Ensino brasileiro.
 Contudo, instaura-se nos meios acadêmicos a discussão e reflexão de como se dá a atuação dos professores de Filosofia com relação à elaboração e estruturação do currículo, como também da importância dos instrumentos pedagógicos no ensino de Filosofia, para assim legitimar a sua presença no cotidiano escolar da educação básica.
 A Filosofia é bastante questionada enquanto disciplina. É necessário que os professores se conscientizem de que o seu ensino não deve ser considerado como um conteúdo a mais a ser ensinado, uma disciplina a mais a ser ensinada. 
O ideal é que o professor que tem a responsabilidade de aplicar tal disciplina, tenha em mente o quanto é necessário fazer com os estudantes não fiquem dependentes de livros didáticos, não desmerecendo, mas no sentido de não tender para os tão famosos “decorebas” de ideias e autores, prática tradicional muito presente nas escolas. 
Não existe receita pronta para aplicar a Filosofia, mas é recomendável que se preocupem com a melhor forma de aplicá-la. Recomenda-se a priorização de práticas que favoreçam a formação de jovens capazes de desenvolver seu próprio pensamento e crítica, formando cidadãos capacitados para enfrentar as diversas situações que A Filosofia como possibilidade da experiência filosófica... poderão surgir em suas vidas. Essa disciplina é fundamental na vida de todo ser humano, visto que proporciona a prática de análise, reflexão e crítica em benefício do encontro do conhecimento do mundo e do homem.
 Ministrada quase sempre por professores de outras áreas, a disciplina vive muitas vezes certo descaso e falta de identidade. Na rede pública, muitos professores assumem as aulas para completar carga horária, dada à condição de que não há número suficiente de professores com formação, apesar da oferta. Neste panorama geral, se faz necessária a discussão sobre o currículo da disciplina no Ensino Médio para que haja uma reflexão sobre a Filosofia como uma disciplina curricular, assim como as outras, e, portanto, possui identidade curricular. 
O ensino de Filosofia precisa garantir o seu espaço, que vem sendo duramente reconquistado. É preciso tratar que concepção e que conteúdos de Filosofia devem ser desenvolvidos, sem perder de vista que ela deve ser pensada a partir de uma situação pedagógica de fato. Este artigo consiste em refletir acerca do papel da Filosofia no Ensino brasileiro, que é nada mais do que realizar o aprendizado do pensamento. É mostrar que a principal meta da Filosofia nessa realidade educacional deverá estar na perspectiva de capacitar o estudante à prática filosófica, ao pensar autônomo, através de umsaber articulado, organizado e planejado, mas para tanto, é preciso organizar o seu currículo com identidade própria, para que dessa forma conquiste o respeito e a credibilidade na comunidade escolar. 
2 DESENVOLVIMENTO
Se, por um lado, apresenta-se promissor o futuro da Filosofia no currículo do Ensino Médio; por outro, surge conjuntamente a necessidade da responsabilidade do profissional, para que este permaneça e seja profícuo, principalmente na tentativa de consolidação, através da organização curricular dessa disciplina no contexto escolar. Apesar dos avanços, a Filosofia ainda não ocupa um lugar definido no currículo do Ensino brasileiro, e, para tanto, a própria comunidade escolar contribui para a sua desvalorização, desencadeando problemas como: ensino que não corresponde às expectativas dos estudantes e abordagem fragmentada dos conteúdos. O que leva a constatar a necessidade de a Filosofia conquistar e definir seu espaço no fazer pedagógico da escola. Para Brandão (1992),
Ao longo da história, a capacidade de decisão sobre os currículos ficou fora do alcance não só dos professores, mas também do próprio sistema educativo, à mercê das demandas externas, e foram os interesses e os valores daquelas pessoas que mais meios tem para decidir — as classes e os grupos hegemônicos — que historicamente determinaram a seleção e a organização dos conteúdos escolares. Essa situação de verdadeira amputação da capacidade de argumentação e fundamentação com respeito à função social da escola impediu que os professores fossem conscientes da importância que a seleção e a organização dos conteúdos tem em sua aplicação.(BRANDÂO, 1992, p.112)
Além disso, no Ensino brasileiro, é muito comum a prática orientada pelo estudo dos autores (filósofos), e não pelos problemas da filosofia. Essa prática, geralmente é perpetrada por professores sem preparo e que acabam por desestimular os estudantes a tentarem resolver problemas autonomamente, bitolando-os apenas à interpretação do que disseram os filósofos. O estudante de filosofia é continuamente desestimulado a investigar os problemas filosóficos pelas aulas apenas expositivas, sem propiciar o debate, as quais não tem nenhum planejamento adequado para tal. Capelato (1989) enfatiza:
Do ponto de vista didático, o grande desafio reside em saber como ensinar ou tornar acessível um saber especializado para esse público mais vasto e menos qualificado. Responder a esse desafio não é tarefa simples, uma vez que implica rever certos aspectos de uma tradição filosófica que frequentemente enfatizou a distância existente entre a filosofia e o senso comum.(CAPELATO, 1989, p.79)
É importante observar que, ao ensinar filosofia, a priorização de práticas que favoreçam a formação de jovens capazes de desenvolver seu próprio pensamento e crítica contribui para a formação de cidadãos capacitados para enfrentar as diversas situações que poderão surgir em suas vidas. O Ensino brasileiro é geralmente considerado pelos educadores como uma fase de consolidação do estudante jovem, de sua personalidade e seus desejos. A filosofia apresenta um papel importante e fundamental no sentido de colaboração para essa etapa. 
A crítica suspende a realidade para melhor enxergá-la. Sob essa perspectiva, a filosofia, e a ideia de uma formação pela filosofia, através do desenvolvimento do pensamento crítico promove condições (ainda que indiretas) de intervenção na realidade, nas maneiras dos estudantes se colocarem diante da multiplicidade e da heterogeneidade de fatos, situações, acontecimentos, problemas que os rodeiam. (FOUCAULT, 2005). 
Para esse autor, intervir na realidade significa auxiliar os estudantes, por meio das principais teorias e dos grandes sistemas da tradição filosófica, a [...] descobrir o funcionamento e o sentido das configurações (teorias, ideologias e mitologias, religiosas, científicas, tecnológicas, artísticas); significa interrogar, formular questões e objeções. [...] Intervir reflexivamente significa fazer a crítica dos imaginários da cultura e do imaginário individual (FOUCAULT, 2005, p. 46). 
A questão de como se ensinar nas aulas de Filosofia, além de ser vista como um problema de cunho pedagógico passa, também, nos últimos anos a ser encarada como problema filosófico e político. Essa nova perspectiva, vem enriquecendo os debates e as análises da atividade filosófica. De acordo com Brandão (1992), a atividade filosófica (o filosofar) requer uma atitude que deve ser questionadora, crítica e desconfiada e deve conduzir ao atrevimento de pensar por si mesmo. E ensinar Filosofia é, acima de tudo, dar uma abertura ao pensamento. Nesse sentido, os professores de Filosofia devem ter como premissa fundamental, desenvolver essa atitude em seus alunos, possibilitando que desenvolvam seus pensamentos de forma crítica e atrevam-se a pensar por si próprios. 
O ensino de Filosofia pela história da filosofia ou por temas: pontos e contrapontos Se se pode fazer física sem conhecer os físicos, não se pode fazer Filosofia sem estudar os filósofos. A compreensão do cogito exige o conhecimento de Foucault, a descoberta do caráter “a priori” do espaço supõe que nos coloquemos na escola de Kant. A Filosofia não pode se separar de sua própria história. (AZANHA, 1976, p.58).
 No entanto, para esse autor é evidente que a filosofia não deve se reduzir à história da filosofia. A história da filosofia, apesar de permanecer como disciplina específica, conserva-se filosófica em sua essência, pois não se constrói a história de pensamentos da mesma maneira que a de fatos materiais. 
A docência em filosofia convoca os professores como pensadores, mais do que como transmissores acríticos de um saber que supostamente dominam, ou como técnicos que aplicam estratégias didáticas em qualquer circunstância. Ensinar filosofia seria a atividade em que alguém transmite ao outro determinado conteúdo, neste caso, “de filosofia” ou “filosófico” não perdendo o foco de que aprender filosofia é conhecer a sua história, adquirir uma série de habilidades argumentativas ou cognitivas, desenvolver uma atitude diante da realidade ou construir um olhar sobre o mundo. FOUCAULT afirma (2005):
Já que somos possuidores de raciocínio, a Filosofia não consiste apenas em indagações, mas em pensar com lógica. É, pois, um ato de reflexão metodicamente controlado. Ela busca respostas, mas não é uma conclusão a respeito de nada, e sim, mais apropriadamente, uma colocação de ideias, um verdadeiro debate. (FOUCAULT,2005, p. 13):
O ensino de filosofia precisa estar em comum acordo com a prática do filosofar. É preciso que esse ensino seja filosófico, pois o que une os aprendizes à filosofia é o ato do filosofar. Sendo assim, produzirá atitude de problematizar as afirmações que são tidas como naturais e óbvias. Através do filosofar, levam a pensar. Ensinar filosofia é refletir saberes. (AZANHA, 1976)
A função da filosofia nas escolas é mostrar aos jovens que é preciso questionar o mundo, para que assim possam transformá-lo. Azanha (1976), assim expressa: Passemos agora ao sentido político da disciplina. Ela constitui-se numa forma de organizar, de um impor uma ordem. Podemos falar, assim, de uma disciplina no pensamento, isto é, na imposição de uma ordem ao pensamento. E também cabe esta caracterização à filosofia. O Planejamento para o ensino de filosofia deve considerar atitudes e práticas que levem o estudante a filosofar, a buscar pelo meio do pensamento construir um problema filosófico e, por conseguinte, tentar resolvê-lo.
Como já dissemos anteriormente, a experiência filosófica que pretendemos oferecer aos estudantes tem como objetivo criar uma disciplina, filosófica, no pensamento desses jovens e isso é útil para que eles possam pensar a si mesmos, de forma autônoma. Pensamos em um determinado ensino que dê instrumentos filosóficos para que o pensamento possa se fundamentar em sua liberdade. O que nos levanovamente à nossa ideia de criação de sub-versões. (AZANHA, 1976,p.98).
 Saliente-se que o professor de filosofia trabalha os argumentos filosóficos a partir da tradição e da criatividade dos educandos. A faculdade crítica é, portanto, requerida como capacidade de análise e de compreensão de argumentos clássicos em filosofia e como aptidão para empreender criativamente a fundamentação de posicionamentos sobre os problemas e as soluções tradicionalmente disponíveis. 
Como a única adesão filosoficamente aceitável é a racional, a concepção de argumentação a ser assumida deve se afastar por completo das retóricas, das paixões ideológicas, das crenças religiosas, dos emotivismos e dos achismos, que teimam em rondar as classes de filosofia por má intenção, má formação ou ignorância de professores, sendo esses os perigos do filosofar nas aulas de filosofia. Brandão (1992) escreve sobre os efeitos que pode produzir o ensino de filosofia e afirma:
Dizendo de outro modo, um ensino de filosofia vale pelos efeitos que pode produzir. É certo que, no âmbito das grandes políticas, da educação maior, planejam-se efeitos para a filosofia: fazer de todos cidadãos, mesmo que por cidadãos entendam-se os consumidores no mercado global. Não deixa de ser uma filosofia prática, alheia ao enciclopedismo. Mas, por outro lado, uma filosofia criativa, voltada para os problemas vividos, visando equacioná-los conceitualmente, pode ser potencialmente revolucionária. Pode ser uma arma de produção da autonomia, mesmo no contexto de uma sociedade de controle. (BRANDÃO, 1992, p. 67)
Na verdade, o que se quer é que o estudante seja progressivamente capaz de defender suas próprias ideias, o que envolve uma compreensão rigorosa e profunda dos problemas que procura resolver, bem como uma capacidade para elaborar teorias, por assim dizer, originais e para defendê-las com sólidos argumentos. Para tanto, é necessário criatividade e criticidade. 
Criatividade para descobrir novas ideias, novos argumentos, ou novos problemas, isto é, argumentar inventando novos conceitos. E capacidade crítica para mostrar que sua teoria e seus argumentos são bons mediante a análise de conceitos tradicionalmente filosóficos. É tarefa do professor de filosofia facilitar o desenvolvimento de tais competências, bem como tê-las em mira no posterior processo avaliativo. A presença da Filosofia no currículo escolar do ensino médio traz à tona discussões para os estudantes, que devem direcionar-se numa visão de mundo mais racional, abrangente e equilibrada, como também na orientação para o resgate da dimensão ética do conhecimento e na formação de valores.
 Em se tratando da questão dos conteúdos programáticos, percebe-se uma incerteza e desorientação entre os professores de filosofia no nível médio. Essa discussão é prioritária com relação ao ensino de filosofia, pois há uma percepção de que é necessário pensar uma identidade para a disciplina. Para superar obstáculos que aparecem na organização do currículo de filosofia, é preciso que o professor do ensino médio saiba pesquisar, pois desenvolverá técnicas que, mais tarde, lhe serão úteis no trabalho de docência. 
A discussão aqui implementada só fundamenta que a inserção da Filosofia no nível médio, além de abrir um espaço para o desenvolvimento intelectual dos estudantes, estimula a discussão de conceitos, dando oportunidades de descobrir os ideais que nortearão as suas vidas e o fazer educacional, onde deixa de ser o de memorizar “o conteúdo” e passa a ser de orientá-los na busca de suas necessidades intelectuais, através do desenvolvimento do raciocínio, do questionamento e da investigação. O estudo da Filosofia é uma busca de formar uma geração mais atenta, crítica e apta a discutir, escolher e decidir por si mesma.
3 ANÁLISE
A relação entre Filosofia e seu ensino deu-se de uma forma conflituosa no Brasil. Ora, a postura desse ensino desprezou sua prática ao longo da história. De acordo com Foucault (2005), o ensino de filosofia depara-se com problemas oriundos da maneira como ela foi concebida e conduzida no Brasil, sobretudo, a partir do século XX, com a consolidação da tradição filosófica do método estruturalista, levado a cabo pela missão francesa no Departamento de Filosofia da USP, na década de 1930, afastando o desenvolvimento de uma cultura filosófica no Brasil. Esse ensino acadêmico se preocupou em formar historiadores da filosofia, ou seja, “um bom comentador, não filósofos”. 
Assim, o método não estimulou a produção de um pensamento original, privilegiou-se o que veio de fora e, dessa maneira, dificultou a reflexão autenticamente filosófica. O importante era “ler um filósofo para comentá-lo” e não refletir ou pensar filosoficamente. Para tanto, repensar esse processo e gerar novas bases de reflexão se torna, para o professor de filosofia, um desafio urgente e necessário. Significa superar a tradição que nos vem desde a época colonial e impulsionar um pensamento crítico capaz de despertar a reflexão.
 Compreendemos que o objetivo do professor de Filosofia não é colocar os alunos apenas em contato com a leitura de clássicos da Filosofia, apoiados na história linear, desprovida de conhecimentos filosóficos problematizantes presentes nas sociedades contemporâneas. Filósofos e pesquisadores da contemporaneidade, Capelato (1989) nos lembra que, se não se pode desprezar a história da filosofia, também não se pode sacralizá-la:
A experiência de pensamento filosófica traz em si a marca da necessária remissão à História da Filosofia. Não se pensa filosoficamente sem o recurso a uma história de mais de dois mil e quinhentos anos. Se a criação conceitual deve ser feita sobre o vivido, ela não pode deixar de lado as reflexões já produzidas sobre ele. Mas a remissão à História da Filosofia não pode significar um retorno ao mesmo: essa remissão deve ser essencialmente crítica e criativa, e é aqui que a Filosofia se faz multiplicidade. Retomar um conceito é problematizá-lo, recriá-lo, transformá-lo de acordo com nossas necessidades, torná-lo outro. 
O diálogo com a Filosofia é uma fonte de desvio, de pensar o novo, repensando o já dado e pensado (Foucault, 2005). Nessa perspectiva, não se trata de fazer Filosofia desvinculada de sua história, nem tampouco utilizar-se simplesmente da História da Filosofia imposta à prática pedagógica. Faz-se necessário considerá-la para desenvolver experiência de pensamento para problematizar o existente. Ao professor de Filosofia cabe considerar sua historiografia, ou seja, compreender suas raízes históricas e relacioná-las aos problemas da humanidade presente (FOUCAULT, 2005, p.54). 
Após fundamentarmos a importância da filosofia na educação básica e seu percurso irregular em nossa história da educação, o ensino da Filosofia deve pôr-se como desafio criar com as jovens autênticas experiências de pensamento, em que alunos e professores de filosofia do Ensino Médio se engajem na busca socrática da vida examinada para ser bem vivida. De que se trata ao ensinar filosofia ou filosofar? Como despertar o interesse dos alunos? Existe possibilidade de relacionar as grandes questões da filosofia frente aos fenômenos que despontam nas sociedades contemporâneas? Tais questões constituem condições e possibilidades para pensar o ensino de filosofia. 
Por outro lado, é pertinente investigar, também, o que os professores estão fazendo ante a disciplina de filosofia. Estabelecem relação com o saber? As escolas promovem experiência de pensamento ou meramente continuam a selva do mercado de trabalho das ‘competências’ e ‘habilidades’? Certamente, pensar as condições entre a relação de quem ensina e de quem aprende filosofia é imprescindível à ação educativa e, especificadamente, aos docentes de filosofia da educação básica. Não é nada mais que “uma exigência para o educador interessado em propiciar espaços de pensamento potentes, livres e abertos à transformação de si e dos outros” (Kohan, 2009: 10).
 Recorri a Azevedo (1962) para compreender o que está em jogo ao ensinare aprender filosofia. “Há uma circularidade entre o pensar, por um lado, e o ensinar e aprender, por outro lado. O ensino de filosofia na educação básica brasileira: das origens históricas à experiência de pensamento dade ou do controle e a disciplina, do cuidado ou da ausência, da vida ou da morte, da emancipação ou do embrutecimento”. 
A tensão entre esses polos é condição e possibilidade da filosofia. Há uma relação de forças de pensamento entre aqueles que aprendem e ensinam filosofia. Nesse sentido, pôr em prática a filosofia com pretensões educativas, isto é, o encontro sob o nome de filosofia entre dois pensamentos - um de quem ocupa a posição de ensinante e outro do habita o espaço de aprendiz - é um encontro necessariamente paradoxal, impossível, quando merece esse nome filosofia. Essa condição, longe de ser um impedimento ou um desestimulo para sua prática, é sua potência e uma fonte de inspiração permanente para pensar o sentido da presença da filosofia na prática educacional. 
Quando não percebemos essa posição paradoxal ou impossível da filosofia, damos por fato que ela deve e pode ser ensinada, estamos deixando algo próprio de sua condição e, com isso, uma força para a própria tarefa. Ou, então, corremos o risco de abandonar, sem pensar, a filosofia. O que está em jogo é uma relação paradoxal e necessária entre ensinante e aprendiz. Trata-se de afirmar uma política de pensamento sob o nome de filosofia, porque ensinar e aprender filosofia envolve a questão do valor, de sentido para fazê-lo em meio às forças, tensões, desafios e possibilidades de pensamento. A filosofia não ocupa um lugar específico de um saber ao ser ensinada. Na concepção de Capelato (1989), não se trata de uma questão de disciplina ou de conteúdos, mas o de uma relação com o saber: não ensinamos um conteúdo ao ensinar filosofia, antes propiciamos uma abertura ao saber. 
Assim, o ensino dessa disciplina deverá promover o pensamento filosófico para que os adolescentes e jovens produzam com autonomia. É preciso fazer das aulas de filosofia um lugar de experiência filosófica, permitindo um movimento de provocação ao pensamento dos estudantes. Para caracterizar a aprendizagem filosófica acerca de “aprender filosofia” e “aprender a filosofar” discorremos sobre temas que nos remetem a cujos pontos de vistas apresentam posições contrárias. Para Azanha (1976), não se pode aprender filosofia como se aprende a filosofar, porque não há um saber filosófico aceito como, por exemplo, há um saber matemático, no entanto, aprender a filosofar é desenvolver os talentos filosóficos pelo exercício e uso da própria razão.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista a amplitude das questões colocadas neste artigo, faz-se necessário ressaltar a importância e a necessidade da Filosofia nas escolas, isto porque o papel da educação é levar o estudante à autonomia, à independência e à capacidade de formular as próprias opiniões e a Filosofia propicia essa realidade através dos seus conteúdos que são universais e instigantes, e ainda possibilita o desenvolvimento de habilidades necessárias a um pensar crítico e reflexivo. É preciso propiciar aos estudantes ler e se expressar para que possam tentar modificar o seu entorno, a sua realidade, mas para tal é preciso argumentar, é preciso descobrir sobre “o que” argumentar. 
O papel do professor passa a ser de muita importância porque compete a ele desmitificar o conservadorismo existente no ambiente escolar, principalmente com relação a essa disciplina, como também o “des” compromisso dos estudantes com a Filosofia. É importante que ela passe a ser vista com a devida importância no currículo, já que é obrigatória a sua presença no processo educacional. Se por um lado, apresenta-se promissor o futuro vinculado à reintrodução da Filosofia no currículo do Ensino Médio; por outro, surge conjuntamente a necessidade da responsabilidade do profissional em questão para que este permaneça e seja profícuo. Para tanto, não é indispensável apenas o “assumir” o mercado de trabalho, mas também, estar apto a desenvolver o ensino da disciplina na realidade em que está inserida. 
Ao detectar profissionais de outras áreas assumindo a “cadeira” de Filosofia, só se confirmará que esses não são aptos para ministrar as aulas da referida matéria. É transparente o prejuízo que isto causa para firmar-se o ensino de Filosofia no contexto escolar e para a formação do estudante. Entretanto, este não é o único empecilho para a permanência da Filosofia no currículo brasileiro, ou seja, o da falta de formação. Há a questão do mau profissional que, por falta de compromisso ou mesmo descaso, não contribui para um amadurecimento destas questões e do ensino como um todo. 
O futuro da Filosofia na Educação brasileiraé incerto, porém, a sua permanência no currículo escolar dependerá mais do que nunca da prática responsável do docente, se assim for, apresenta-se com um futuro promissor. A sustentação da Filosofia no Ensino Médio depende das experiências positivas dadas ao cotidiano escolar, pois para ela ser oferecida nesse nível de ensino, houve uma história de luta que não pode ser desconsiderada. É preciso que a sua presença no currículo escolar atenda às demandas sociais, principalmente à expectativa de ampliação de visão de mundo e mudanças sociais. 
Nesta atual sociedade, voltada à tecnologia, parar para pensar é o mesmo que perder tempo. Assim, a tarefa da Filosofia na educação não é nada fácil. É a de convidar o estudante a uma superação das concepções superficiais da sociedade onde está inserido, ensinando-o a pensar de forma racional, abstrata e abrangente sobre a realidade. É estimular o estudante a refletir sobre si mesmo para aprender a se criticar e a também refletir sobre o mundo para compreendêlo e, depois disto, buscar saber qual o seu papel diante do mundo que o cerca e diante do seu próximo. Enfim, dada a longevidade histórica e a importância cultural da Filosofia para a civilização ocidental, de uma coisa há certeza, como disciplina no Ensino Médio ela merece ainda muita atenção por parte dos intelectuais, docentes e pedagogos envolvidos com o processo educacional, sobretudo no Brasil.
5 REFERÊNCIAS
.Azevedo, F. (1950/1962) Na batalha do humanismo: aspirações, problemas e perspectivas. 2 ed. São Paulo: Melhoramentos. 
Azanha, J.M.P. (1976) A questão dos pressupostos do discurso pedagógico. In: Nagle, J. Educação e Linguagem. São Paulo: EDART, pp. 83-98.
Brandão, Z. (1992) A ‘inteligentsia` educacional: um percurso com Paschoal Lemme por entre as memórias e as histórias da escola nova no Brasil. [Tese de doutorado] Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica. 
Capelato, M. H. (1989) Os arautos do liberalismo: imprensa paulista (1920- 1945). São Paulo: Brasiliense. 
Foucault, M. (2005) É inútil revoltar-se? In: Foucault, M. Ditos e Escritos: Ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 
Foucault, M. (1979) Os intelectuais e o poder. In: Foucault, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Editora Graal, pp. 69-78. 
Freire, P. (2005) Pedagogia do Oprimido. 27 ed. S. Paulo: Paz e Terra. 
Gadotti, M. (1987) Pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo: Ática. Martins, J. & Bicudo, M.V. (1983) Estudos sobre Existencialismo, Fenomenologia e Educação. São Paulo: Editora Moraes. 
Saviani, D. (1983) Tendências e correntes da educação brasileira. In: Mendes, D. T. Filosofia da educação brasileira. São Paulo: Civilização Brasileira.
SMITH, Adan.(1790) Teoria dos Sentimentos Morais. Disponível em: https://www.paulogala.com.br/a-teoria-dos-sentimentos-morais-e-o-egoismo-para-adam-smith/#:~:text=Em%20resumo%2C%20a%20teoria%20dos,compartilhados%20dentro%20de%20uma%20sociedade. Acessado em: 17 de set. 2024.
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