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BACIA RECONCAVO

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A bacia do Recôncavo localiza-se no Estado da Bahia, Nordeste do Brasil, ocupando uma área de aproximadamente 11.500 km2. Seus limites são dados pelo Alto de Aporá, a norte e noroeste, pelo sistema de falhas da Barra, a sul, pela falha de Maragogipe, a oeste, e pelo sistema de falhas de Salvador, a leste (Figura 1). O conhecimento que hoje se detém acerca de sua evolução tectono-sedimentar relaciona-se aos esforços exploratórios empreendidos pela PETROBRAS, consolidados em cerca de 5.700 poços e 57.000km de linhas sísmicas. As atividades de prospecção antecedem, no entanto, a criação da Petrobras, tendo se iniciado já em 1937. Sob a égide do antigo Conselho Nacional do Petróleo, a primeira descoberta significativa de óleo data de 1939, em poço perfurado no distrito de Lobato, em Salvador.
A bacia do Recôncavo teve sua origem relacionada ao processo de estiramento crustal que resultou na fragmentação do Gondwana e abertura do Oceano Atlântico. A arquitetura básica da bacia reflete as heterogeneidades do embasamento pré-cambriano sobre o qual atuaram esforços distensionais, resultando em um meio-graben com orientação NE-SW e falha de borda a leste (sistema de falhas de Salvador), com rejeito eventualmente superior a 6.000m1. Sua configuração estrutural é definida principalmente por falhamentos normais planares, com direção preferencial N30°E (Figura 1), que condicionam o mergulho regional das camadas para SE, em direção às áreas mais subsidentes (Figura 2). Taxas de extensão diferenciadas ao longo da bacia são acomodadas através de zonas de transferência com orientação N40W, a exemplo da falha de Mata-Catu. O campo de tensões responsável pela atenuação e ruptura da crosta teria estado ativo entre o Mesojurássico (cerca de 165 Ma) e o Eocretáceo (cerca de 115 Ma) 2.
Estima-se que a seção sedimentar preservada na bacia do Recôncavo possua uma espessura máxima da ordem de 6.900m, no Baixo de Camaçari1. Trata-se, sobretudo, de depósitos acumulados durante o processo distensional juro-cretáceo e relacionados aos estágios pré-rift (Thitoniano? a Eoberriasiano?), sin-rift(Eoberriasiano? a Eoaptiano?) e pós-rift (Neoaptiano?/Eoalbiano?). Registros menos expressivos datam do Permiano, do Neogeno (Mioceno e Plioceno) e do Quaternário (Figura 3).
A sedimentação pré-rift é representada por ciclos fluvio-eólicos (Membro Boipeba da Formação Aliança, formações Sergi e Água Grande), aos quais se intercalam sistemas lacustres transgressivos (Membro Capianga da Formação Aliança e Formação Itaparica). As formações Aliança e Sergi testemunham um amplo sistema aluvial, desenvolvido provavelmente durante o Neojurássico (Andar Dom João), sob clima árido e em fase inicial de flexuramento crustal. Dados paleontológicos indicam que a deposição das formações Itaparica e Água Grande teria ocorrido no Eocretáceo. Ao tempo de deposição destas unidades, particularmente da Formação Água Grande, já se esboçava a configuração atual da bacia do Recôncavo6, sugerindo um incipiente controle tectônico. Não obstante, o limite entre as fases pré-rift e rift tem sido mais recentemente posicionado na discordância que sobrepõe os pelitos lacustres do Membro Tauá da Formação Candeias aos arenitos fluvio-eólicos da Formação Água Grande. Além de uma provável umidificação do clima7, considera-se que esta transgressão lacustre esteja relacionada a um incremento regional nas taxas de subsidência, sob atividade tectônica ainda moderada.
Na fase rift, supõe-se que a sucessão estratigráfica identificada na bacia do Recôncavo tenha sido caracterizada por um estágio inicial de lago profundo, progressivamente assoreado em estágios mais tardios. Os folhelhos, calcilutitos e arenitos turbidíticos do Membro Gomo da Formação Candeias testemunham a fase inicial de incremento batimétrico, resultante da conjugação de um clima mais úmido7 à intensificação da atividade tectônica e estruturação da bacia em áreas plataformais pouco subsidentes, relativamente estáveis, e depocentros com elevadas taxas de subsidência1. Nessa época, como ao longo de todo o Rio da Serra, oscilações do nível do lago relacionadas a variações climáticas podem ter resultado na exposição e erosão destas áreas plataformais. Calcarenitos oolíticos/ oncolíticos associam-se subordinadamente às áreas mais estáveis e rasas.
Na borda oeste da bacia do Recôncavo, a reativação da falha de Paranaguá resultou na escavação do canyon de Taquipe. Os sedimentos que o preencheram (Formação Taquipe) compreendem folhelhos, siltitos, arenitos e, subordinadamente, conglomerados, margas e calcarenitos ostracodais, depositados sobretudo como resultado de fluxos de detritos e correntes de turbidez, a partir da desestabilização das fácies de frente deltaica da Formação Pojuca e, eventualmente, da remobilização de sedimentos mais antigos, pertencentes às formações Marfim e Maracangalha.
O assoreamento da bacia do Recôncavo se encerra com a deposição das fácies fluviais que caracterizam a Formação São Sebastião. Durante o Jiquiá, um novo ciclo tectônico promoveu tanto a criação como a reativação de falhamentos, permitindo a preservação de espessos pacotes vinculados a esta unidade. O caráter agradacional da sedimentação ao final do ciclo de preenchimento da bacia deve-se ao equilíbrio entre as taxas de aporte sedimentar e de subsidência. Neste processo, os registros lacustres limitaram-se progressivamente ao segmento meridional do Baixo de Camaçari.
Conglomerados relacionáveis a leques aluviais sintectônicos (Formação Salvador) são uma feição conspícua na borda leste da bacia, estando relacionados à atuação do sistema de falhas de Salvador durante toda a fase rift(andares Rio da Serra a Jiquiá).
Os depósitos cretáceos mais jovens preservados na bacia do Recôncavo são representados pelos clásticos grossos (conglomerados e arenitos), folhelhos e calcários que caracterizam a Formação Marizal, de idade Alagoas. O contraste entre a suborizontalidade de seus estratos e a estruturação dos depósitos sotopostos permite relacionar sua deposição ao contexto de subsidência termal pós-rift. Em outras bacias da margem continental, no entanto, persistem os esforços distensionais.
A ocorrência de sedimentos terciários é subordinada na bacia, estando representada pelas fácies de leques aluviais pliocênicos que caracterizam o Grupo Barreiras e pelos folhelhos cinza-esverdeados e calcários impuros da Formação Sabiá. Estes últimos testemunham uma incursão marinha de idade miocênica14.
Os principais reservatórios do Recôncavo são de natureza siliciclástica e envolvem fácies fluvio-eólicas (Membro Boipeba da Formação Aliança, formações Sergi e Água Grande), deltaicas (formações Marfim e Pojuca) ou vinculadas a fluxos gravitacionais (Membro Gomo da Formação Candeias e Membro Caruaçu da Formação Maracangalha). 
As características permoporosas desses sedimentos são controladas, basicamente, pela atuação heterogênea dos processos diagenéticos superimpostos, desenvolvidos desde pequenas profundidades, ainda sob influência deposicional, até condições de soterramento elevado. Folhelhos dos membros Tauá e Gomo da Formação Candeias representam os intervalos geradores da bacia.
As principais acumulações de petróleo desta bacia relacionam-se aos depósitos fluvio-eólicos das formações Sergi e Água Grande. Os arenitos fluviais são finos a conglomeráticos e os eólicos muito finos a médios, destacando-se a excelente permoporosidade destes últimos. A infiltração mecânica de argilas durante cheias episódicas representa o principal evento eodiagenético nessas fácies15. Até recentemente, o sistema Água Grande/Sergi do Campo de Água Grande detinha a maior produção acumulada de óleo por campo no Brasil.
>>>>> ULTIMO REGISTRO QUE EU ENCONTREI DE PETROLEO: 
A Bacia do Recôncavo produzia à época da Segunda Rodada de Licitações cerca de 55.000 barris/dia de óleo equivalente.
Arenitos relacionados a fluxos gravitacionais subaquosos, finos a grossos, com boas características permoporosas, constituem os reservatórios associados ao Membro Gomoda Formação Candeias. Suas principais acumulações, exemplificadas pelos campos de Riacho da Barra, Fazenda Bálsamo, Rio do Bu e Cexis, relacionam-se ao último ciclo importante de descobertas exploratórias, empreendido no início da década de 1980.
Arenitos muito finos a finos, notadamente argilosos e com baixas permeabilidades, caracterizam o Membro Caruaçu da Formação Maracangalha. Seu caráter errático tem trazido grandes dificuldades à atividade exploratória e relaciona-se tanto ao processo deposicional que lhes deu origem (fluxos gravitacionais) como à própria evolução tectono-sedimentar da bacia durante o final do Rio da Serra. Nessa época, a ascensão adiastrófica de grandes massas de lamas prodeltaicas, somada à sismicidade ainda atuante na bacia, teria promovido uma intensa fluidização de parte dos depósitos gravitacionais para a constituição dos arenitos maciços que caracterizam o Membro Pitanga. Os arenitos Caruaçu detêm a maior reserva de gás não associado da bacia, concentrada principalmente nos campos de Miranga Profundo e Jacuípe.
Os reservatórios deltaicos do Grupo Ilhas são representados por arenitos muito finos a finos, com boas características permo-porosas. Conforme a magnitude dos eventos progradacionais, sua geometria externa varia de lenticular a lençol, refletindo o grau de amalgamação de lobos sigmoidais em uma superfície ampla, com baixos gradientes deposicionais. Estes reservatórios encerram importantes acumulações de óleo e gás associado, a exemplo dos campos de Miranga, Araçás, Taquipe e Fazenda Imbé.
A bacia do Recôncavo apresenta um registro fossilífero relativamente diversificado, que inclui ostracodes, palinomorfos, foraminíferos, conchostráceos, bivalves e gastrópodes, além de restos vegetais, como âmbar, troncos silicificados de coníferas, e vertebrados. Os primeiros fósseis descritos consistiam em moluscos bivalves, escamas e fragmentos ósseos do peixe Lepidotes, ossos de crocodilianos e supostas vértebras de dinossauros, coletados em 1859 por Samuel Allport nas vizinhanças de Salvador. Posteriormente, importantes descobertas foram realizadas em diversos afloramentos, hoje clássicos, na orla da baía de Todos os Santos, tendo sido objeto de numerosos estudos.
A ictiofauna (Figura 4) ocorre principalmente nos estratos do Grupo Santo Amaro, nas formações Itaparica, Candeias e Maracangalha, andares Rio da Serra-Aratu (Berriasiano ao Barremiano). É composta, em sua maioria, por Osteichthyes, sendo os peixes pré-barremianos caracterizados por uma baixa diversidade genérica. Os actinopterígios aparecem em grande número e a associação é formada por semionotídeos, amiídeos e diversos teleósteos. Os semionotídeos, representados por Lepidotes, são registrados por escamas, fragmentos de ossos e exemplares completos (Lepidotes roxoi). É o gênero mais freqüente permitindo correlações entre diversas bacias de ambiente lacustre.
Os ostracodes (Figura 5) constituem o principal grupo fóssil descrito na bacia, o que se justifica tanto pela diversidade, abundância e preservação da microfauna, como por seu elevado potencial bioestratigráfico. A bacia do Recôncavo reúne, por excelência, o principal registro desse grupo no Brasil. O arcabouço biocronoestratigráfico do Neojurássico/Eocretáceo de bacias da margem continental brasileira traz como principal referência a distribuição estratigráfica dos ostracodes identificados no Recôncavo31. Na bacia, as características da microfauna de ostracodes recuperada na seção rift são um reflexo da própria história do seu preenchimento e, portanto, de sua evolução tectônica.

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