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Aluno: Nathan Favaro Moreira Caso Clínico (Interferentes em exames bioquímicos) 1. Identificação do Paciente e Histórico Clínico ● Idade e Sexo : Feminino, 45 anos ● Queixas Principais : Fadiga persistente, dor muscular, náuseas e episódios ocasionais de dor abdominal. ● História Médica Pregressa : Paciente apresenta histórico de uso regular de estatinas há 3 anos para controle de dislipidemia. Também relata o uso ocasional de paracetamol para cefaleia e faz suplementação de vitamina C (1g/dia) e biotina (10 mg/dia) para fortalecimento das unhas e cabelos. ● Estilo de Vida : Nega tabagismo e consumo regular de álcool, porém relata ingestão frequente de alimentos ricos em proteínas e suplementação proteica por musculação. 2. Exame Físico ● Estado Geral : Paciente em bom estado geral, levemente fadigado, mas orientado e com sinais específicos dentro dos parâmetros normais. ● Exame Abdominal : Sensibilidade leve à palpação na região epigástrica, sem sinais de icterícia ou outras alterações significativas. ● Exame Musculoesquelético : Dor muscular, especialmente nas pernas. 3. Resultados de Exames Laboratoriais Exame Resultado Referência Creatinina 1,4 mg/dL 0,6 - 1,2 mg/dL AST (TGO) 82 U/L 8 - 48 U/L ALT (TGP) 68 U/L 7 - 55 U/L CK (Creatina Quinase) 620 U/L 30 - 200 U/L Colesterol Total 210 mg/dLpara não diabéticos, 40 mg/dL, Triglicerídeos: 40 mg/dL (para mulheres) Triglicerídeos 210 mg/dL 160 mg/dL) associado a um risco maior de doenças ateroscleróticas. ○ Triglicerídeos elevados (210 mg/dL) também são um fator importante para o risco de aterosclerose e pancreatite. ○ HDLbaixo (40 mg/dL) indica um fator protetor cardiovascular insuficiente, já que o HDL é conhecido por ajudar na remoção do colesterol das artérias. ● Risco Cardiovascular : ○ O perfil lipídico do paciente é indicativo de risco cardiovascular elevado, especialmente devido aos altos níveis de LDL e triglicerídeos, bem como ao baixo nível de HDL. 5. Conclusão e Diagnóstico Provável O diagnóstico provável é dislipidemia mista (colesterol total elevado, LDL elevado, triglicérides elevadas e HDL baixo), associada a um risco cardiovascular aumentado . O histórico familiar de doenças cardiovasculares, a hipertensão e o sobrepeso têm prejudicado para o risco elevado desse paciente. Conduta e Manejo 1. Mudança no Estilo de Vida : O paciente deve ser orientado a adotar uma dieta balanceada, com restrição de gorduras saturadas e carboidratos orgânicos, e aumentar a ingestão de fibras e gorduras saudáveis (ômega-3). A prática regular de atividade física (pelo menos 150 minutos semanais) é essencial para o controle dos níveis lipídicos. 2. Terapia Medicamentosa : Considere o início de estatinas , como atorvastatina e rosuvastatina, para reduzir os níveis de LDL e diminuir o risco cardiovascular. Caso os triglicerídeos continuem elevados, considere o uso de fibratos ou niacina. 3. Monitorização Regular : Reavaliar os níveis lipídicos após 3 meses de intervenção. O paciente também deve ser monitorado quanto ao controle da pressão arterial, que pode ser otimizado com ajustes na medicação anti-hipertensiva. 4. Educação Cardiovascular : Orientar o paciente sobre a importância de manter o controle do colesterol, pressão arterial e peso corporal, além de realizar exames regulares para monitorar as condições metabólicas e cardiovasculares. Conclusão Final A paciente de 52 anos apresenta sintomas relacionados a dislipidemia, com níveis elevados de colesterol total, LDL (colesterol ruim) e triglicerídeos, além de HDL (colesterol bom) baixo. Ela tem fatores de risco importantes para doenças cardiovasculares, como hipertensão controlada com medicação, sobrepeso, uma dieta rica em gorduras saturadas e carboidratos, e histórico familiar de infarto e AVC. Embora a paciente ainda não tenha sinais clínicos evidentes de aterosclerose avançada (como xantelasma ou arco senil), seu perfil lipídico sugere um risco cardiovascular significativo. A ausência de exercícios físicos também contribui para o quadro. Os resultados dos exames confirmam a dislipidemia mista, com colesterol e triglicerídeos elevados e HDL abaixo do ideal, o que aumenta o risco de doenças cardíacas. A conduta inicial inclui mudanças no estilo de vida, como uma dieta balanceada (reduzindo gorduras saturadas e carboidratos refinados) e aumento da atividade física, além do uso de estatinas (como atorvastatina e rosuvastatina) para controlar o colesterol LDL. Se os triglicerídeos continuarem elevados, o uso de fibras pode ser considerado. O acompanhamento regular será essencial para monitorar a eficácia do tratamento e a saúde cardiovascular da paciente. Referências ● Colégio Americano de Cardiologia. Diretrizes de Tratamento do Colesterol da AHA / ACC/Multisociety de 2018. Journal of the American College of Cardiology, 2018; 71(1): 1-47. Disponível em : https://doi.org/10.1016/j.jacc.2017.11.005 . ● Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz de Dislipidemia da Sociedade Brasileira de Cardiologia 2020 . Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2020; 115(6): 1060-1092. Disponível em : https://doi.org /10.5935 / abc .20200146 . ● Goff, DC, et al. Diretriz ACC/AHA de 2013 sobre avaliação de risco cardiovascular . Circulação, 2014; 129(25): S49-S73. Caso Clínico: Hiperbilirrubinemia/Icterícia Identificação do Paciente e Histórico Clínico ● Idade: 36 anos ● Sexo: Feminino ● Queixa Principal: Icterícia progressiva há 5 dias associada à coloração amarelada da pele e mucosas. ● História Médica Prévia: Sem comorbidades relevantes. Nega histórico de doenças hepáticas, uso crônico de álcool ou medicamentos. ● História Familiar: Sem histórico familiar significativo de doenças hepáticas ou hemato-oncológicas. ● Estilo de Vida: Não fuma, consome bebidas alcoólicas esporadicamente, dieta rica em gorduras e carboidratos simples, sedentária. Exame Físico ● Estado Geral: Mulher em boas condições gerais, com sinais evidentes de icterícia, especialmente nas escleróticas dos olhos e na pele, de coloração amarelada. ● Peso: 68 kg (IMC: 26,3 kg/m² - sobrepeso) ● Sinais Vitais: ○ PA: 130/85 mmHg ○ FC: 82 bpm ○ Temperatura: 36,5°C ○ FR: 18 irpm ● Exame Cardiovascular: Sem sopros cardíacos, ritmo regular. Pulsos periféricos simétricos. ● Exame Abdominal: ○ Abdômen plano, não distendido. ○ Palpação: Fígado palpável a 2 cm abaixo do rebordo costal, consistência firme e com borda irregular. ○ Esplenomegalia leve (baço palpável 2 cm abaixo do arco costal). ○ Ausência de sinais de ascite. ● Exame Neurológico: Sem alterações. ● Outros Achados: ○ Pele: Amarelada, com icterícia bem evidente nas escleróticas e face. ○ Sem sinais de xantelasma ou arco senil. Resultados de Exames Laboratoriais e de Imagem Exame Resultado Referência Bilirrubina Total 4,5 mg/dL 0,1 - 1,2 mg/dL Bilirrubina Direta 2,8 mg/dL 0 - 0,3 mg/dL Bilirrubina Indireta 1,7 mg/dL 0,1 - 0,8 mg/dL AST (TGO) 65 U/L 5 - 40 U/L ALT (TGP) 70 U/L 7 - 56 U/L Fosfatase Alcalina 220 U/L 30 - 120 U/L Albumina 3,5 g/dL 3,5 - 5,2 g/dL Hemograma Hemoglobina: 13,0 g/dL Hematócrito: 39% Gama-GT 180 U/L 9 - 48 U/L Exames de Imagem: ● Ultrassonografia abdominal: Fígado aumentado de tamanho, com bordas irregulares. Não há sinais de obstrução biliar visíveis. Vesícula biliar com paredes normais e sem cálculos. Esplenomegalia moderada. Discussão do Caso A paciente apresenta icterícia com hiperbilirrubinemia (aumento tanto da bilirrubina direta quanto indireta), o que sugere um quadro de icterícia hepática, possivelmente relacionado a uma doença hepática crônica, como a cirrose hepática. A hepatomegalia palpável e bordas irregulares do fígado, associadas à esplenomegalia, indicam a possibilidade de hipertensão portal, que é um achado comum em pacientes com cirrose. O aumento da AST e ALT sugere necrose hepatocelular. A fosfatase alcalina também está elevada, indicando obstrução biliar intra-hepática ou colestase. O aumento da gama-GT pode reforçar a presença de doenças hepáticas colestáticas. A albumina ligeiramente reduzida e o hematócrito dentro da normalidade são consistentes com um quadro de doença hepática crônica, mas sem sinais de descompensação aguda. A ultrassonografia abdominal não revela sinais evidentes de obstrução biliar extra-hepática, mas a hepatomegalia e a esplenomegalia são compatíveis com hipertensão portal secundária à cirrose hepática. Possíveis Diagnósticos Diferenciais: 1. Hepatite viral crônica (como hepatite B ou C): A paciente não relata histórico de contato com fatores de risco para hepatite viral, mas isso deve ser investigado com exames específicos. 2. Cirrose hepática: A história clínica, exames laboratoriais e achados ultrassonográficos são sugestivos de cirrose hepática, que é o diagnóstico mais provável. 3. Doenças colestáticas intra-hepáticas: Doenças como colangite esclerosante primária, hepatite autoimune ou doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) também podem estar associadas a esse quadro. Conclusão e Diagnóstico Provável A paciente de 36 anos apresenta um quadro de icterícia progressiva, com aumento da bilirrubina total e direta, o que sugere um problema hepático. A presença de hepatomegalia (fígado aumentado e com bordas irregulares) e esplenomegalia (baço aumentado) indica possível hipertensão portal, frequentemente associada à cirrose hepática. Além disso, o aumento das enzimas hepáticas como AST, ALT e fosfatase alcalina, assim como o aumento da gama-GT, sugerem uma lesão no fígado e uma possível obstrução biliar intra-hepática ou colestase. A albumina ligeiramente baixa éconsistente com doença hepática crônica. O diagnóstico mais provável para a paciente é cirrose hepática, uma condição em que o fígado é progressivamente danificado e fibroso. Isso é reforçado pelos achados clínicos e de imagem, como o aumento do fígado e do baço. No entanto, é importante considerar também diagnósticos diferenciais, como hepatites virais crônicas (que a paciente não tem histórico de risco) e doenças colestáticas intra-hepáticas. O tratamento inicial deve focar na investigação mais profunda da função hepática, considerando testes para hepatites virais e outras doenças hepáticas, além de um possível acompanhamento de cirrose hepática. Conduta e Manejo 1. Confirmação Diagnóstica: ○ Realizar exames sorológicos para hepatites virais (HBV, HCV) e testes para anticorpos anti-músculo liso e anti nucleares (caso se suspeite de hepatite autoimune). ○ Considerar biópsia hepática ou elastografia hepática para avaliar o grau de fibrose hepática e confirmar o diagnóstico de cirrose. 2. Manejo Clínico: ○ Controle de sintomas: Monitorar os níveis de bilirrubina e avaliar sinais de encefalopatia hepática. ○ Controle da hipertensão portal: Considerar o uso de betabloqueadores para prevenção de varizes esofágicas. ○ Avaliação nutricional: Orientar a paciente sobre a importância de uma dieta balanceada, com baixo teor de sódio para evitar ascite e com monitoramento de função hepática. 3. Encaminhamentos: ○ Encaminhar para acompanhamento com hepatologista e/ou gastroenterologista para investigação adicional e manejo adequado. 4. Educação em Saúde: ○ Orientar sobre abstinência de álcool, controle do peso e prática de exercícios físicos. ○ Monitoramento contínuo para avaliação de complicações da cirrose, como varizes esofágicas e ascite. Referências American Association for the Study of Liver Diseases (AASLD). (2018). "Diagnosis and Treatment of Cirrhosis: AASLD Guidelines." Hepatology. National Institutes of Health (NIH). (2020). "Liver Disease: Cirrhosis, Hepatitis, and Other Hepatic Disorders." Schiff, E.R., et al. (2011). "Schiff's Diseases of the Liver". 11th Edition, Wiley-Blackwell. Mayo Clinic. (2021). "Jaundice (Icterus) and Liver Disease." Merrill, M., et al. (2019). "Clinical Hepatology: Principles and Practice of Hepatobiliary Diseases." UpToDate. (2023). "Evaluation of jaundice in adults."