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SISTEMAS LINEARES Murilo Fraga da Rocha Transformadas de Fourier Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Representar os sinais não periódicos pela integral de Fourier. Relacionar as propriedades da transformada de Fourier. Interpretar a conexão entre as transformadas de Fourier e Laplace. Introdução Um sinal representa a variação de uma grandeza como função de uma variável independente. Ele pode ser periódico ou não periódico, ou seja, o sinal pode ou não se repetir em determinado período. O cientista francês Jean Baptiste Joseph Fourier desenvolveu uma técnica de análise matemática que demonstra que uma onda periódica pode ser representada por um somatório de ondas senoidais com am- plitudes, frequências e fases específicas. Hoje, essa análise é fundamental nas ciências matemáticas e nas engenharias. Fourier também desenvolveu uma integral que permite a transformação de sinais no domínio do tempo para o domínio da frequência e vice-versa. Neste capítulo, você vai ver como representar sinais não periódicos pela integral de Fourier, relacionando as propriedades da transformada de Fourier. Além disso, você vai aprender a interpretar a conexão entre as transformadas de Fourier e Laplace. Representação de sinais não periódicos pela integral de Fourier Um sinal é um fenômeno físico variante no tempo que se aplica à transferência de informação. São exemplos de sinais: a voz humana, os campos elétricos gerados por transmissores de rádio ou televisores e as variações na intensi- dade de luz no interior de uma fi bra óptica em uma rede de telefonia ou de computadores. Um sinal que não contém informação útil é denominado ruído. Esse tipo de sinal é sempre indesejável. Os sinais são modificados por sistemas. Quando um ou mais estímulos ou sinais de entrada são aplicados a uma ou mais entradas do sistema, ele produz uma ou mais respostas ou sinais de saída em suas saídas. Na Figura 1, você pode ver, em forma de diagrama de blocos, um sistema com uma única entrada e uma única saída (ROBERTS, 2010). Figura 1. Diagrama de blocos de um sistema simples. Fonte: Adaptada de Roberts (2010). Os sinais podem ser de vários tipos. Os sinais contínuos no tempo, por exemplo, são sinais analógicos, enquanto os sinais discretizados no tempo são sinais digitais. Um sinal contínuo no tempo é definido em cada instante de tempo para algum intervalo temporal. Um sinal discretizado pode ter apenas valores pertencentes a um conjunto discreto. Em um conjunto discreto de valores, a magnitude da diferença tomada entre dois valores é maior do que um dado número positivo. A transformada de Fourier é utilizada para representar um sinal não periódico de tempo contínuo como uma superposição de senoides complexas. Devido à não periodicidade e à continuidade de um sinal de tempo, é necessária a superposição de senoides complexas que utilizam frequências que variam de –∞ a +∞. Então, para representar sinais não periódicos contínuos no tempo, a trans- formada de Fourier de um sinal de tempo contínuo utiliza a equação a seguir: Na qual: Transformadas de Fourier2 Você pode considerar, então, que a equação de x(t) expressa que o sinal no tempo é representado pela superposição de senoides ponderadas assim: Na análise de sinais e sistemas, os sinais são descritos (o mais detalhada- mente possível) por funções matemáticas. O sinal é o fenômeno físico pro- priamente dito que contém a informação, e a função é a descrição matemática desse sinal. Rigorosamente, os dois conceitos são distintos, porém a relação entre um sinal e a sua função matemática, que o descreve, é tão estreita que os dois termos (“sinal” e “função”) são usados de maneira intercambiável em análise de sinais e sistemas (ROBERTS, 2010). Um sinal x(t) é dito periódico se para alguma constante positiva T0 o sinal puder ser descrito pela seguinte equação: x(t) = x(t + T0), para todo t. O menor valor de T0 que satisfaz a condição de periodicidade da equação é o período fundamental de x(t). A Figura 2 demonstra um sinal periódico com período 2. Figura 2. Sinal periódico com período 2. Fonte: Lathi (2008). Já a Figura 3 mostra um sinal periódico com período 1. Figura 3. Sinal periódico com período 1. Fonte: Lathi (2008). 3Transformadas de Fourier Um sinal é não periódico se ele não possui um período. Os sinais da Figura 4 são todos não periódicos. Figura 4. Sinais não periódicos. Fonte: Lathi (2008). Pela definição, um sinal periódico x(t) permanece não alterado quando deslocado no tempo por um período. Por essa razão, um sinal periódico deve começar em t = −∞. Se ele começar em algum instante de tempo finito, como t = 0, o sinal deslocado no tempo x(t + T0) começaria em t = T0 e x(t + T0) não seria o mesmo que x(t). Portanto, um sinal periódico, por definição, deve começar em t = −∞ e continuar para sempre, como mostrado na Figura 5. Figura 5. Sinal periódico começando em t = −∞. Fonte: Lathi (2008). Transformadas de Fourier4 As séries de Fourier são ferramentas utilizadas para representar sinais e funções periódicas ou que tenham interesse apenas em intervalos finitos. Para representar sinais e funções que não são periódicas e que têm interesse sobre todo o eixo x, é necessário utilizar uma ferramenta matemática que é derivada das séries de Fourier: as integrais de Fourier (HSU, 2012). A integral de Fourier de uma função f(x) é uma função a ela relacionada de acordo com as equações a seguir. É possível verificar a consistência dessas relações com o uso da função δ(x). Essa função é descrita nas equações a seguir. A integral de Fourier de uma função f(x) é uma função a ela relacionada de acordo com as equações a seguir: Propriedades da transformada de Fourier A diferenç a relevante entre um sinal perió dico e um sinal aperió dico é que o perió dico se repete em um tempo fi nito T0 denominado perí odo fundamental. O sinal vem se repetindo sempre com esse mesmo perí odo fundamental e continua a se repetir a cada perí odo fundamental, indefi nidamente. Um sinal aperió dico nã o possui um perí odo fi nito. Ele pode repetir um padrã o vá rias vezes em certo tempo fi nito, poré m nã o ao longo de todo o tempo. 5Transformadas de Fourier A transiç ã o entre a sé rie de Fourier e a integral de Fourier, que também pode ser chamada de transformada de Fourier, é obtida por meio da determinaç ã o da forma da sé rie de Fourier para um sinal perió dico e, entã o, admitindo-se que o perí odo fundamental tende ao infinito. Se o perí odo fundamental tende ao infinito, o sinal nã o pode se repetir em um tempo finito. Portanto, deixa de ser perió dico (ROBERTS, 2010). A transformada de Fourier tem vá rias propriedades importantes, como você pode ver a seguir. Considere que dois sinais possuem as transformadas de Fourier representadas pelas seguintes equações: F(x(t)) = X( f ) ou X( jω) e F(y(t)) = Y( f ) ou Y( jω) Entã o, as propriedades seguintes se aplicam, nã o importando as formas dos sinais. Deslocamento no tempo e na frequê ncia Considere que t0 é qualquer constante real e que z(t) = x(t – t0). Entã o, a transformada de Fourier de z(t) é Z( f ) = e–j2ft0. Assim, X( f ) e a propriedade de deslocamento no tempo podem ser defi nidas como a equação a seguir: ou Portanto, deslocar o sinal no tempo equivale a multiplicá -lo pelo nú mero complexo e–j2ft0. A expressã o da transformada de Fourier fica de acordo com a equação a seguir: Transformadas de Fourier6 Redimensionamento da escala do tempo Considere que a é qualquer constante real diferente de zero e que z(t) = x(at). Entã o, a transformada de Fourier de z(t) é Z( f ) = (1/|a|)X( f/a), e a propriedade de redimensionamento da escala de tempo é descrita pelas seguintes equações: ou Redimensionamento da escala da frequê ncia Considere que a é qualquer constante real diferente de zero e que z(t) = x(at). Entã o, a transformada deFourier de z(t) é Z( f ) = (1/|a|)X( f/a), e a propriedade de redimensionamento da escala de frequência é descrita pelas seguintes equações: ou Transformada de um conjugado A propriedade da conjugaç ã o é descrita como: ou Com essa propriedade, você pode descobrir outra caracterí stica ú til da transfor- mada de Fourier de sinais de valor real. Se x(t) é de valor real, entã o x(t) = x*(t). A transformada de Fourier de x(t) é X( f ), e a transformada de Fourier de x*(t) é X*(–f ). Portanto, se x(t) = x*(t), logo X( f ) = X*(–f ). Em outras palavras, se o sinal no domí nio do tempo é de valor real, sua transformada de Fourier possui 7Transformadas de Fourier a seguinte propriedade: o comportamento para frequências negativas equivale ao conjugado complexo do comportamento para as frequências positivas. Por conseguinte, se você sabe a forma funcional na frequência positiva da transformada de Fourier de um sinal de valor real, conhece també m a forma funcional na frequência negativa. Esse comportamento é aná logo à propriedade previamente observada, em que as amplitudes harmô nicas da transformada de Fourier complexa de um sinal real ocorrem nos pares conjugados complexos (ROBERTS, 2010). Dualidade multiplicaç ã o-convoluç ã o Considere que a convoluç ã o entre x(t) e y(t) é dada pela seguinte equação: A transformada de Fourier de z(t) é Z( f ) = X( f )Y( f ). Então, a propriedade da convoluç ã o no domí nio do tempo é descrita pelas equações a seguir: ou A transformada de Fourier de z(t) é Z( f ) = X( f )Y( f ). Então, a propriedade da convoluç ã o no domí nio da frequência é descrita pelas equações a seguir: ou Transformadas de Fourier8 Conexão entre as transformadas de Fourier e Laplace Quando se estende a sé rie de Fourier à s transformadas de Fourier, o perí odo fundamental de um sinal perió dico aumenta até o infi nito, fazendo as fre- quências discretas kf0 na série de Fourier se fundirem em um contí nuo de frequências f na transformada de Fourier. Esse procedimento permite duas defi niç õ es alternativas da transformada de Fourier, que você pode ver nas equações a seguir: ou Assim, você pode considerar que a transformada de Laplace é um modo poderoso para se caracterizar um sistema. Se você simplesmente generalizar a transformada de Fourier direta pela substituiç ã o das senoides complexas por exponenciais complexas, vai obter a transformada de Laplace, como definido pela equação a seguir: A equação define a transformada de Laplace direta, sendo que a variá vel s pode ter valores em qualquer lugar do plano complexo; ela possui uma parte real e uma parte imaginá ria. Considere que s é representada como s = σ + jω. Logo, para o caso especial em que a parte real de s (σ) é zero e a transformada de Fourier da funç ã o x(t) existe no sentido estrito, a transformada de Laplace direta é equivalente à transformada de Fourier direta. Usando s = σ + jω na transformada de Laplace direta, você obtém a equação a seguir: 9Transformadas de Fourier Uma forma de demonstrar a transformada de Laplace é determinar que ela é equivalente a uma transformada de Fourier do produto da funç ã o x(t) por um fator de convergê ncia exponencial real da forma e–σt, como mostra a Figura 6. Figura 6. Demonstração da transformada de Laplace. Fonte: Roberts (2010). A integral da Figura 6 nã o converge, e a transformada de Fourier determi- nada por essa té cnica é denominada transformada de Fourier generalizada, da qual o impulso faz parte. Você pode verificar que, para instantes t > 0, esse fator de convergê ncia é o mesmo na transformada de Laplace e na transfor- mada de Fourier generalizada. Poré m, na transformada de Laplace, o limite, à medida que σ tende a zero, nã o é calculado. Considere a transformada de Fourier em função de ω. As funç õ es GF ( � ) = GL ( � ) correspondem matematicamente à mesma funç ã o. A conversã o de uma forma para a outra entre as transformadas de Fourier representadas na forma ω e a transformada de Laplace equivale simplesmente a um processo de troca de argumentos funcionais entre s e jω. Assim, nã o são necessários os subscritos F e L. Você pode simplesmente escrever G( jω) = G(s) para s → jω. Esse é o principal motivo pelo qual a forma em ω da transformada de Fourier de uma funç ã o x(t) foi escrita com a notaç ã o funcional X( jω) em lugar de X(ω) (ROBERTS, 2010). Transformadas de Fourier10 O par de transformadas de Laplace torna-se o par de transformadas de Fourier Fonte: Roberts (2010). HSU, H. P. Sinais e sistemas. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. LATHI, B. P. Sinais e sistemas lineares. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. ROBERTS, M. J. Fundamentos em sinais e sistemas. Porto Alegre: AMGH, 2010. Leituras recomendadas CARVALHO, J. M.; GURJÃO, E. C.; VELOSO, L. R. Análise de sinais e sistemas. São Paulo: Elsevier, 2015. GIROD, B.; RABENSTEIN, R.; STENGER, A. Sinais e sistemas. Rio de Janeiro: LTC, 2003. KREYSZIG, E. Matemática superior para engenharia. 9. ed. São Paulo: LTC, 2009. v. 2. LATHI, B. P. Modern digital and analog communication systems. 3. ed. New York: Oxford University Press, 1998. 11Transformadas de Fourier Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.