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1
2
ORDEM ECONÔMICA E
FINANCEIRA
3a EDIÇÃO/2024
1. INTRODUÇÃO 3
1.1. EVOLUÇÃO DO ESTADO E ORDEM
ECONÔMICA 3
1.2. SEPARAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA E DA
ORDEM SOCIAl 3
1.3. MEIOS DE ATUAÇÃO DO ESTADO 4
2. PRINCÍPIOS GERAIS DA ORDEM ECONÔMICA 5
3. DA POLÍTICA URBANA 10
4. DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA
REFORMA AGRÁRIA 12
5. DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 13
6. MONOPÓLIO DOS CORREIOS NO BRASIL E A
ADPF 46 16
7. QUEBRA DO MONOPÓLIO DA UNIÃO SOBRE
RADIOISÓTOPOS PARA PESQUISA E USO MÉDICO
(EC 118/2022) 18
3
1. INTRODUÇÃO
“A intervenção do Estado na economia
sobressaiu-se no século XX, sobretudo pelos efeitos da
Primeira Guerra Mundial e pela perda das crenças
ainda existentes na manutenção do Estado Liberal.
Nesse período o Estado adquiriu postura mais
intervencionista; deixou de ser omisso, observando o
que as Encíclicas Papais tanto insistiam. Os freios e
contrapesos da teoria de Montesquieu também não
serviram ao propósito de evitar maiores transtornos à
economia da época. A Revolução Industrial evidenciou
problemas que o liberalismo não resolvia e sua
manutenção só agravaria ainda mais a situação” .1
Dessa forma, o Estado percebeu a necessidade
de uma maior intervenção nos direitos econômicos e
sociais dada sua relevância. Para Gomes Canotilho, os
direitos econômicos podem ser entendidos como:
“Conjunto de preceitos e instituições jurídicas
que, garantindo os elementos definidores de
um determinado sistema econômico, instituem
uma determinada forma de organização e
funcionamento da economia e constituem, por
isso mesmo, uma determinada ordem
econômica.”
1.1. EVOLUÇÃO DO ESTADO E ORDEM
ECONÔMICA2
Partindo da ideia de Estado de Direito,
podemos identificar, segundo a doutrina, uma tríplice
vertente: liberal, social e pós-social. No Estado Liberal
percebe-se uma evidenciação do indivíduo,
delineando-se um Estado não intervencionista, dentro
2 Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional.
Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022.
1 Saleme, Edson R. Direito constitucional. Disponível em: Minha
Biblioteca, (5th edição). Editora Manole, 2022.
da perspectiva de “intervenção mínima”.
Diante das novas necessidades sociais, surge
a teorização do Estado Social, evidenciando-se o grupo
e colocando a questão social como preocupação
principal do Estado. Norberto Bobbio assevera que a
proteção dos direitos sociais requer uma atuação
estatal, de forma ativa, diferente da solicitada (ou não
solicitada) durante o Estado Liberal, produzindo tal
organização dos serviços públicos, que teria sido a
responsável pelo surgimento do próprio Estado Social.3
O Estado Pós-Social é baseado em
movimentos sociais, em um primeiro momento
pode-se afirmar que os institutos clássicos do direito de
propriedade e a autonomia da vontade privada eram
suficientes para regulamentar a atividade econômica,
até porque o capitalismo primitivo pregava a
autorregulação, sem qualquer interferência do Estado
na economia. A partir do século XX, no entanto, a
situação começa a ser repensada, especialmente diante
das constantes situações de abuso do poder
econômico. Surge, então, “clima” propício para a
constitucionalização da economia. Nesse sentido, o
art. 170, caput, da CF/88 estabelece que a ordem
econômica, tendo por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça
social.
1.2. SEPARAÇÃO DA ORDEM
ECONÔMICA E DA ORDEM SOCIAl
◾Antecedentes Históricos:
Para compreendermos a magnitude dessa
separação na Constituição de 1988, é crucial
observarmos os antecedentes históricos. A primeira
Constituição brasileira a tratar sistematicamente da
ordem econômica e social foi a de 1934, influenciada
3 Norberto Bobbio, A era dos direitos, p. 72.
4
pela Constituição de Weimar de 1919. Antes disso, a
Constituição do México, em 1917, já havia abordado a
ordem econômica de maneira pioneira.
A Constituição de 1937 manteve as
disposições sobre a ordem econômica e social, mas
simplificou a abordagem, abolindo o uso de títulos
específicos. As constituições subsequentes, de 1946,
1967 e a Emenda Constitucional n. 1/69, seguiram a
estrutura da de 1934, agregando a ordem econômica e
social em um único título.
◾I Inovação na Constituição de 1988:
A grande inovação ocorre com a Constituição
de 1988, que quebra a tradição ao separar de forma
distinta a ordem econômica da ordem social. Essa
mudança estrutural é uma resposta às transformações
sociais e econômicas que o país vivenciou ao longo do
tempo.
A ordem econômica, agora, recebe atenção
específica no Título VII, enquanto a ordem social é
tratada em um título próprio, o Título VIII. Essa
separação não apenas reflete uma organização mais
detalhada da Constituição, mas também sugere uma
abordagem mais focada e específica para lidar com as
questões sociais e econômicas.
◾ Desvinculação de Temas na Ordem
Social:
É crucial notar que a Constituição de 1988 não
apenas separou as ordens econômica e social, mas
também reorganizou alguns temas. Direitos que antes
eram garantidos na ordem social, como os direitos dos
trabalhadores, foram deslocados para o Título II, que
trata dos direitos e garantias fundamentais, mais
especificamente, os direitos sociais.
Essa reorganização busca dar maior destaque
e proteção aos direitos sociais, ressaltando sua
importância na estrutura constitucional.
1.3. MEIOS DE ATUAÇÃO DO ESTADO
◾Atuação Direta do Estado:
Quando falamos em atuação direta, estamos
nos referindo ao envolvimento direto do Estado na
economia de um país. Isso pode ocorrer de duas
maneiras principais: através do regime de monopólio
ou da participação ativa com as empresas do setor
privado.
1. Regime de Monopólio:
● O Estado, em algumas situações, pode
assumir o controle exclusivo de
determinadas atividades econômicas.
Isso ocorre no que chamamos de
regime de monopólio, no qual o Estado
é o único fornecedor de determinados
bens ou serviços.
● Essa abordagem pode ser adotada em
setores estratégicos, como
fornecimento de energia, água,
transporte público, entre outros.
2. Participação com Empresas Privadas:
● O Estado também pode atuar
diretamente na economia ao se
associar ou participar ativamente com
empresas do setor privado. Isso pode
ocorrer por meio de parcerias
público-privadas (PPPs) ou participação
acionária em empresas estratégicas.
◾ Atuação Indireta do Estado:
Por outro lado, a atuação indireta do Estado
busca garantir a prevalência do princípio da livre
concorrência e evitar práticas prejudiciais à economia,
como cartéis e dumping.
5
1. Princípio da Livre Concorrência:
O Estado, ao promover a livre concorrência,
busca criar um ambiente econômico saudável,
incentivando a competição entre as empresas. Isso
geralmente leva a maior eficiência e melhores
condições para os consumidores.
2. Combate a Abusos:
O Estado, por meio de órgãos reguladores e
legislação específica, trabalha para evitar abusos
econômicos, como a formação de cartéis (acordos entre
empresas para controlar preços e limitar a
concorrência) e práticas de dumping (venda de
produtos a preços artificialmente baixos para
prejudicar a concorrência).
2. PRINCÍPIOS GERAIS DA ORDEM
ECONÔMICA
O art. 170 da Constituição Federal apresenta
as bases da ordem econômica, define seus objetivos e
os princípios que devem ser respeitados em seu
âmbito.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes
princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - DEFESA DO CONSUMIDOR;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive
mediante tratamento diferenciado conforme
o impacto ambiental dos produtos e serviços e
de seus processos de elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e
sociais;
VIII -busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas
de pequeno porte (EPP) constituídas sob as
leis brasileiras e que tenham sua sede e
administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre
exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos
públicos, salvo nos casos previstos em lei.
Interessante termos em mente que a
Constituição de 1988, inova e passa a tratar da
ordem social em título próprio, desvinculando-a da
ordem econômica, que, por sua vez, recebe matérias
sobre o sistema financeiro nacional (Título VII). Alguns
temas da ordem social que eram assegurados nas
Constituições anteriores, como os direitos dos
trabalhadores, foram deslocados para o Título II, que
trata dos direitos e garantias fundamentais (direitos
sociais).4
São princípios da ordem econômica e
financeira, comentados por Sylvio Motta :5
1. Soberania Nacional: “este princípio
complementa o contido no inciso I do artigo
primeiro de nossa Constituição. Enquanto lá se
impõe que nosso Estado seja politicamente
soberano, aqui se exige que esta soberania
engloba também a esfera econômica, não no
sentido de excluir a atividade econômica
estrangeira no território nacional – o que é
atualmente inviável e contrário aos mais
básicos postulados de coexistência das nações
5 Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha
Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021.
4 Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional.
Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022.
6
–, mas no sentido de fortalecer a economia
interna, fazendo-a preponderar sobre os
investimentos estrangeiros, na atividade
econômica desenvolvida em nosso Estado;”
Importante salientar que trata-se de
fundamento da República Federativa do Brasil
(art. 1º, I, da CF) e, segundo o professor Pedro
Lenza, quando previsto como princípio da
ordem econômica visa evitar a influência
descontrolada de outros países em nossa
econômia.
2. Propriedade Privada: “o respeito à
propriedade privada é princípio basilar de
qualquer Estado capitalista” (corolário dos
direitos individuais previstos no art. 5º, XXII,
XXIV, XXV, XXVI, CF);
Ao instituir a propriedade privada como
princípio da ordem econômica, o constituinte
assegurou a propriedade privada dos meios de
produção.
3. Função social da propriedade: A função social
da propriedade (art. 5.º, XXIII) se desdobra em
política urbana (arts. 182 e 183), no âmbito da
política agrícola e fundiária, bem como da
reforma agrária (arts. 184 a 191).6
4. Livre concorrência: “a livre concorrência
decorre diretamente da liberdade de iniciativa,
considerada, como dito, um dos fundamentos
da ordem econômica brasileira. A respeito
convém lembrar que “ofende o princípio da
livre concorrência lei municipal que impede a
instalação de estabelecimentos comerciais do
mesmo ramo em determinada área”, nos
6Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional.
Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022.
termos da Súmula Vinculante nº 49;”
O art. 173, § 4.º, dispõe que a lei reprimirá o
abuso do poder econômico que vise à
dominação dos mercados, à eliminação da
concorrência e ao aumento arbitrário dos
lucros. Nesse contexto, para se ter um bom
exemplo, lembramos o entendimento do STF
que declarou inconstitucional a proibição ou
restrição, por meio de lei municipal, do
transporte individual de passageiro por
motoristas cadastrados em aplicativos (e.g.
Uber, Cabify, 99 Táxi, Lyft etc.) , vejamos a7
decisão da Corte:
Ementa: Direito constitucional. Recurso
Extraordinário. Repercussão Geral. Transporte
individual remunerado de passageiros por
aplicativo. livre iniciativa e livre concorrência.
(...)
6. Recurso extraordinário desprovido, com a
fixação das seguintes teses de julgamento: “1. A
proibição ou restrição da atividade de
transporte privado individual por motorista
cadastrado em aplicativo é inconstitucional,
por violação aos princípios da livre iniciativa
e da livre concorrência; e 2. No exercício de
sua competência para regulamentação e
fiscalização do transporte privado individual de
passageiros, os Municípios e o Distrito Federal
não podem contrariar os parâmetros fixados
pelo legislador federal (CF/1988, art. 22, XI)”.(RE
1054110, Relator(a): ROBERTO BARROSO,
Tribunal Pleno, julgado em 09/05/2019,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL -
MÉRITO DJe-194 DIVULG 05-09-2019 PUBLIC
06-09-2019)
5. Defesa do consumidor: “a defesa do
consumidor, além de ser princípio da ordem
7Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional.
Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022
7
econômica, é também direito fundamental
individual, nos termos do art. 5º, XXXII, o que
autoriza a intervenção do Estado no domínio
econômico amparado por tal finalidade;”
Estamos diante da consagração, nas relações
de consumo, do princípio da vulnerabilidade,
tendo o constituinte considerado que o
consumidor é a parte mais fraca da relação. A
proteção ao consumidor se implementa, dentre
tantos instrumentos, pelo CDC (Lei n. 8.078/90),
e, apenas para recordar, o STF entendeu a sua
aplicação nas relações entre instituições
financeiras e seus usuários:
🚨JÁ CAIU
Na prova para Promotor de Justiça do MPE-PR (Ano:
2023; banca própria) foi considerada correta a seguinte
assertiva: “São princípios que regem a atividade
econômica, soberania nacional, propriedade privada,
função social da propriedade e a defesa do
consumidor”.
“... As instituições financeiras estão, todas elas,
alcançadas pela incidência das normas
veiculadas pelo Código de Defesa do
Consumidor. ‘Consumidor’, para os efeitos do
Código de Defesa do Consumidor, é toda
pessoa física ou jurídica que utiliza, como
destinatário final, atividade bancária, financeira
e de crédito. Ação direta julgada improcedente”
(ADI 2.591-ED, Rel. Min. Eros Grau, j. 14.12.2006,
DJ de 13.04.2007).
Finalmente, lembramos que o STF, apreciando
o tema 210 da repercussão geral, fixou a
seguinte tese no tocante ao transporte aéreo:
“nos termos do art. 178 da Constituição da
República, as normas e os tratados
internacionais limitadores da responsabilidade
das transportadoras aéreas de passageiros,
especialmente as Convenções de Varsóvia e
Montreal, têm prevalência em relação ao
Código de Defesa do Consumidor” (RE 636.331,
j. 25.05.2017, DJE de 13.11.2017).8
6. Defesa do meio ambiente: “este dispositivo foi
alterado pela EC no 42, de 2003, justamente
para autorizar um tratamento mais benéfico,
inclusive tributário, conforme o impacto
ambiental da atividade econômica;”
De acordo com o art. 225, caput, todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.9
7. Redução das desigualdade regionais e
sociais: ”a redução das desigualdades, mais
que princípio da ordem econômica, é um dos
objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil (CF, art. 3º, III);”
Esse princípio é implementado por diversos
instrumentos, como a criação de regiões
administrativas (art. 43), a lei que institui o
plano plurianual (art. 165, § 1.º), a possibilidade
de concessão de incentivos fiscais na forma do
art. 151, I, o fundo de erradicação da pobreza,
que teve o seu prazo prorrogado por tempo
indeterminado nos termos da EC n. 67, de
22.12.2010 etc.10
10Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional.
Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022
9Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional.
Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022
8Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional.
Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022
8
8. Busca do pleno emprego: “princípio que
decorrediretamente do outro fundamento da
ordem econômica, o trabalho humano, além de
constituir um direito fundamental de segunda
geração;”
9. Tratamento favorecido para as empresas de
pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sua sede e
administração no País: “o dispositivo foi
alterado pela EC nº 6/1995. Na sua redação
original, era assegurado tratamento favorecido
para as empresas brasileiras de capital nacional
de pequeno porte; o art. 171, I, revogado pela
mesma emenda, conceituava como brasileira a
empresa constituída sob nossas leis e com sede
e administração no país. Com a alteração
constitucional, o tratamento favorecido
permanece, mas agora ele é dirigido a todas as
empresas de pequeno porte, seja seu capital
nacional ou estrangeiro, desde que sejam
constituídas sob as nossas leis e tenham sua
sede e administração no país. Não se encontra
mais expressa no texto constitucional a
conceituação de empresa brasileira, mas os
critérios que serviam para sua definição –
constituição sob a lei pátria e sede e
administração no Brasil – são agora requisitos
para a obtenção do tratamento favorecido, de
acordo com a nova redação do art. 170, IX.”
O art. 173, CF, dispõe sobre as
hipóteses em que se autoriza ao Estado atuar
diretamente na área econômica:
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta
Constituição, a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado só será permitida
quando necessária aos imperativos da
segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da
empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias que explorem
atividade econômica de produção ou
comercialização de bens ou de prestação de
serviços, dispondo sobre:
I - sua função social e formas de fiscalização
pelo Estado e pela sociedade;
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das
empresas privadas, inclusive quanto aos
direitos e obrigações civis, comerciais,
trabalhistas e tributários;
III - licitação e contratação de obras, serviços,
compras e alienações, observados os princípios
da administração pública;
IV - a constituição e o funcionamento dos
conselhos de administração e fiscal, com a
participação de acionistas minoritários;
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e
a responsabilidade dos administradores.
§ 2º As empresas públicas e as sociedades de
economia mista não poderão gozar de
privilégios fiscais não extensivos às do setor
privado.
§ 3º A lei regulamentará as relações da empresa
pública com o Estado e a sociedade.
§ 4º - lei reprimirá o abuso do poder
econômico que vise à dominação dos
mercados, à eliminação da concorrência e ao
aumento arbitrário dos lucros.
§ 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade
individual dos dirigentes da pessoa jurídica,
estabelecerá a responsabilidade desta,
sujeitando-a às punições compatíveis com sua
natureza, nos atos praticados contra a ordem
econômica e financeira e contra a economia
popular.
🚨JÁ CAIU
Na prova para Juiz de Direito do TJ-RJ (Ano: 2023;
9
VUNESP) foi considerada incorreta a seguinte assertiva:
ressalvados os casos previstos na Constituição, a
exploração direta de atividade econômica pelo Estado
somente será permitida quando necessária aos planos
nacionais e regionais de desenvolvimento”.
Dessa forma, fica claro que “a exploração de
atividade econômica pelo poder público deve estar
condicionada ao princípio da subsidiariedade; na ordem
econômica revela-se o entendimento de que o Estado
intervém na economia de forma excepcional,
supletivamente; no âmbito federativo, com a
valorização das esferas de poder local, ou seja,
valorizando, ao máximo, o poder municipal como
unidade da Federação; e na participação popular,
incentivando os cidadãos a se manifestarem em
diversas decisões locais, por meio da opinião na
tomada de decisões governamentais. ”11
A intervenção direta do Estado é realizada por
meio das empresas públicas e sociedades de economia
mista. A intervenção indireta por sua vez está
regulamentada no art. 174, CF:
Art. 174. Como agente normativo e regulador da
atividade econômica, o Estado exercerá, na
forma da lei, as funções de fiscalização,
incentivo e planejamento, sendo este
DETERMINANTE para o setor público e
INDICATIVO para o setor privado.
§ 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do
planejamento do desenvolvimento nacional
equilibrado, o qual incorporará e
compatibilizará os planos nacionais e regionais
de desenvolvimento.
§ 2º A lei apoiará e estimulará o
cooperativismo e outras formas de
associativismo.
§ 3º O Estado favorecerá a organização da
11 Saleme, Edson R. Direito constitucional. Disponível em:
Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Manole, 2022.
atividade garimpeira em cooperativas, levando
em conta a proteção do meio ambiente e a
promoção econômico-social dos garimpeiros.
§ 4º As cooperativas a que se refere o
parágrafo anterior terão prioridade na
autorização ou concessão para pesquisa e
lavra dos recursos e jazidas de minerais
garimpáveis, nas áreas onde estejam
atuando, e naquelas fixadas de acordo com o
art. 21, XXV, na forma da lei.
Sendo assim, “apesar de o texto
constitucional de 1988 ter consagrado uma economia
descentralizada, de mercado, autorizou o Estado a
intervir no domínio econômico como agente normativo
e regulador, com a finalidade de exercer as funções de
fiscalização, incentivo e planejamento indicativo ao
setor privado, sempre com fiel observância aos
princípios constitucionais da ordem econômica. ”12
🚨JÁ CAIU
Na prova para Promotor de Justiça do Estado de
Pernambuco (FCC - 2022), considerando o
entendimento do STF e a Constituição federal foi tida
como correta a alternativa que apontava: “a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão
às microempresas e às empresas de pequeno porte,
assim definidas em lei, tratamento jurídico
diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação
de suas obrigações administrativas, tributárias,
previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou
redução destas por meio de lei.”
Na prova para Procurador do Estado de Rondônia
(CESPE - 2022), foi assinalada como correta, a despeito
dos princípios e valores que tutelam a ordem
econômica, a alternativa que trouxe: ”A função social da
12Moraes, Alexandre D. Direito Constitucional. Disponível em:
Minha Biblioteca, (38th edição). Grupo GEN, 2022.
10
propriedade refere-se à utilização racional no uso da
propriedade privada, sob pena de expropriação.”
3. DA POLÍTICA URBANA
A política urbana, é competência dos
municípios, que devem efetivá-la por meio do plano
diretor, e está regulamentada nos arts. 182 e 183 da CF.
O art. 182, CF, é regulamentado pelo Estatuto
da Cidade (Lei n. 10.257, de 10.07.2001). O dispositivo
estabelece a obrigatoriedade do Plano Diretor para
cidades com mais de 20 mil habitantes, in litteris:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano,
executada pelo Poder Público municipal,
conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem
por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da
cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes.
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara
Municipal, obrigatório para cidades commais
de 20 mil habitantes, é o instrumento básico
da política de desenvolvimento e de
expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua
função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade
expressas no plano diretor.
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos
serão feitas com prévia e justa indenização
em dinheiro.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal,
mediante lei específica para área incluída no
plano diretor, exigir, nos termos da lei federal,
do proprietário do solo urbano não
edificado, subutilizado ou não utilizado, que
promova seu adequado aproveitamento, sob
pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;II -IPTU progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante
títulos da dívida pública de emissão
previamente aprovada pelo Senado Federal,
com prazo de resgate de até 10 anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os
juros legais.
O § 2º, do art. 182, também é de extrema
importância, uma vez que prevê que a propriedade
urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais do plano diretor.
O § 4º, do art. 182, por sua vez, estabelece
uma ordem para a aplicação das sanções aos
proprietários que não utilizarem seus imóveis de
acordo com sua função social. Conforme ensina Sylvio
Motta :13
“Nos termos da Lei no 10.257/2001,
considera-se subutilizado o imóvel cujo
aproveitamento seja inferior ao mínimo
definido no plano diretor ou em legislação
dele proveniente.
A constituição da obrigação dá-se mediante
notificação ao proprietário para utilizar, edificar
ou parcelar seu imóvel, devendo ser averbada
no Registro de Imóveis competente.
Os prazos para que o proprietário cumpra a
obrigação, também fixados na lei específica,
não poderão ser inferiores a:
1. 1 ano, a contar da ciência da
notificação, para que seja protocolado o projeto
no órgão municipal competente;
2. 2 anos, a contar da aprovação do
projeto, para que se iniciem as obras de
execução.
Em empreendimentos de grande porte, em
caráter excepcional, lei municipal específica
13 Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha
Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021.
11
poderá prever a conclusão do projeto em
etapas, assegurando que o projeto protocolado
e aprovado abranja todo o empreendimento.
A obrigação de parcelar, edificar ou utilizar tem
natureza real, vinculando-se ao imóvel, não ao
seu proprietário, de modo que é transferida
junto com aquele em caso de transmissão por
ato inter vivos ou causa mortis em data
posterior à notificação.”
O art. 183, da Constituição Federal trata do
usucapião constitucional urbano:
Art. 183. Aquele que possuir como sua área
urbana de até 250m2, por 5 anos,
ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua
família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que
não seja proprietário de outro imóvel urbano
ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso
serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a
ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao
mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão
adquiridos por usucapião.
“A usucapião é forma originária de aquisição de
propriedade imóvel, que se efetiva mediante sua
ocupação mansa e pacífica, sem oposição do titular
do domínio, por determinado período de tempo. No
caso da usucapião pró-moradia, este período é de 5
anos” . Mais três requisitos são impostos pela14
Constituição para que se configure essa hipótese da
usucapião, conforme ensina Sylvio Motta :15
a. que o imóvel seja utilizado para a moradia
15Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha
Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021.
14Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha
Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021.
do possuidor ou de sua família. A Carta não
veda que haja exploração de outra natureza do
imóvel, apenas exige que o imóvel seja utilizado
como moradia para o possuidor ou sua família.
Com isso, percebe-se que apenas pessoas
físicas podem se valer dessa hipótese de
usucapião;
b. que o possuidor não seja proprietário de
qualquer outro imóvel urbano ou rural;
c. que não se trate de um imóvel público, pois o
§ 3º do art. 183 declara que os imóveis públicos
não serão adquiridos por usucapião,
consagrando a imprescritibilidade dos imóveis
públicos.
🚨JÁ CAIU
Na prova para Juiz do Estado de Pernambuco (FGV -
2022), foi contada a seguinte história: “João,
proprietário de terreno no centro da cidade de Pouso
Feliz, subutiliza-o, sem edificar ou parcelar, mantendo-o
abandonado, com vegetação aleatória, acúmulo de
água, entre outras situações que deixam claro o não
cumprimento do princípio da função social.” a questão
pedia para que se assinalasse a alternativa correta que
indicava que a melhor a ser tomada seria: “o Município
onde está localizado o terreno deverá intimar João a
edificar, parcelar ou utilizar o terreno, sob pena de
estipulação de alíquotas progressivas de IPTU”.
Na prova para Defensor Público do Estado do Paraná
(Instituto AOCP - 2022), foi assinalada como correta a
alternativa que trouxe: “o Poder Público Municipal,
mediante lei específica, para área incluída no Plano
Diretor, pode determinar, nos termos de lei federal, que
proprietário de solo urbano não edificado, subutilizado
ou não utilizado promova seu adequado
aproveitamento, sob pena de, sucessivamente:
parcelamento ou edificação compulsórios, IPTU
12
progressivo no tempo e desapropriação com
pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal,
com prazo de resgate de até 10 anos.”
4. DA POLÍTICA AGRÍCOLA E
FUNDIÁRIA E DA REFORMA
AGRÁRIA
Em primeiro lugar, é importante conceituar
política agrícola e reforma agrária, para isso
utilizaremos os conceitos apresentados pelo professor
Alexandre de Moraes :16
POLÍTICA AGRÍCOLA REFORMA AGRÁRIA
A política agrícola será
planejada e executada na
forma da lei, com a
participação efetiva do
setor de produção,
envolvendo produtores e
trabalhadores rurais, bem
como dos setores de
comercialização, de
armazenamento e de
transportes, levando em
conta, especialmente, os
seguintes preceitos: os
instrumentos creditícios e
fiscais; os preços
compatíveis com os
custos de produção e a
garantia de
comercialização; o
incentivo à pesquisa e à
A Constituição
Federal concedeu à União
a competência para
desapropriar por
interesse social, para fins
de reforma agrária, o
imóvel rural. Reforma
agrária deve ser
entendida como o
conjunto de notas e
planejamentos estatais
mediante intervenção do
Estado na economia
agrícola com a finalidade
de promover a repartição
da propriedade e renda
fundiária. Esse
procedimento
expropriatório para fins
de reforma agrária deverá
16 Moraes, Alexandre D. Direito Constitucional. Disponível em:
Minha Biblioteca, (38th edição). Grupo GEN, 2022.
tecnologia; a assistência
técnica e extensão rural; o
seguro agrícola; o
cooperativismo; a
eletrificação rural e
irrigação; a habitação para
o trabalhador rural.
respeitar o devido
processo legal, havendo
necessidade de vistoria e
prévia notificação ao
proprietário, uma vez que
haverá privação de bens
particulares,20 sendo
considerada modalidade
de
“desapropriação-sanção”.
O tema está regulamentado nos arts. 184 a
191, CF.
Art. 184. COMPETE À UNIÃO desapropriar por
interesse social, para fins de reforma
agrária, o imóvel rural que não esteja
cumprindo sua função social, mediante
prévia e justa indenização em títulos da
dívida agrária, com cláusula de preservação do
valor real, resgatáveis no prazo de até 20 anos,
a partir do 2° ano de sua emissão, e cuja
utilização será definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão
indenizadas em dinheiro.
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de
interesse social, para fins de reforma agrária,
autoriza a União a propor a ação de
desapropriação.
§ 3º Cabe à LC estabelecer procedimento
contraditório especial, de rito sumário, para o
processo judicial de desapropriação.
§ 4º O orçamento fixará anualmente o volume
total de títulos da dívida agrária, assim como o
montante de recursos para atender ao
programa de reforma agrária no exercício.
§ 5º São ISENTAS DE IMPOSTOS federais,
estaduais e municipais as operações de
transferência de imóveis desapropriados
para fins de reforma agrária.
13
Conforme conclui Sylvio Motta: “É fácil
perceber que todo o art. 184 denota a importância que
a Constituição outorga à função social da propriedaderural, estabelecendo, minuciosamente, as formas de
intervenção do Estado na propriedade improdutiva. ”17
O art. 185, CF, prevê as propriedades
insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma
agrária, na sequência o art. 186 analisa se o bem de
produção rural está ou não cumprindo a sua função
social:
Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação
para fins de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural,
assim definida em lei, desde que seu
proprietário não possua outra;
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento
especial à propriedade produtiva e fixará
normas para o cumprimento dos requisitos
relativos a sua função social.
Art. 186. A função social é cumprida quando a
propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam
as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores.
Saltando para o art. 191, CF, este
possui elevada importância, uma vez que dispõe sobre
o usucapião constitucional rural:
Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de
17 Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha
Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021.
imóvel rural ou urbano, possua como seu, por
5 anos ininterruptos, sem oposição, área de
terra, em zona rural, não superior a 50
hectares, tornando-a produtiva por seu
trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não
serão adquiridos por usucapião.
⚠ ATENÇÃO
“A grande diferença desta modalidade especial
de usucapião, comparativamente à usucapião
pró-moradia, é, além da área máxima muito superior –
cinquenta hectares –, a exigência de que o possuidor,
com o seu trabalho ou o de sua família, torne a
propriedade rural produtiva, pois é esta justamente sua
finalidade. ”18
5. DO SISTEMA FINANCEIRO
NACIONAL
O art. 192, CF que dispõe sobre o sistema
financeiro nacional, foi alterado por meio da EC n.
40/2003, a qual manteve o caput, mas revogou todos os
seus incisos.
Art. 192. O sistema financeiro nacional,
estruturado de forma a promover o
desenvolvimento equilibrado do País e a servir
aos interesses da coletividade, em todas as
partes que o compõem, abrangendo as
cooperativas de crédito, será regulado por leis
complementares que disporão, inclusive, sobre
a participação do capital estrangeiro nas
instituições que o integram.
18 Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha
Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021.
14
Para Edson Ricardo Saleme , “basicamente, o19
artigo determina seja referido Sistema estruturado de
forma a promover o desenvolvimento equilibrado do
País e a servir aos interesses da coletividade, em todas
as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas
de crédito. Mantém a lei complementar para regular
sobre a participação do capital estrangeiro nas
instituições que o integram.”
◾Conceito e Classificação dos Sistemas
Financeiros
O SFN, segundo Lenza, é dividido em dois
sistemas financeiros regulados pela Constituição.
Primeiramente, o Sistema Financeiro Público, que lida
com as finanças e orçamentos públicos (arts. 163 a
169). Em segundo lugar, o Sistema Financeiro
Parapúblico, também conhecido como Sistema
Financeiro Nacional, desconstitucionalizado pela
Emenda Constitucional 40/2003.
Esse último abrange uma variedade de
instituições financeiras, como as creditícias, sejam
públicas ou privadas, e aquelas voltadas para seguro,
previdência privada e capitalização, todas sob controle
estrito do Poder Público (art. 192).
No contexto, o Banco Central desempenha
um papel crucial, atuando como elo entre essas duas
ordens financeiras (arts. 164 e 192).
◾ Alterações no Artigo 192 pela EC n.
40/2003
A EC n. 40/2003 trouxe mudanças
significativas, principalmente no artigo 192. Antes, este
artigo estabelecia regras específicas, como a taxa de
juros reais limitada a 12% a.a., por exemplo.
No entanto, com a emenda, várias dessas
regras foram retiradas, incluindo a já mencionada taxa
19 Saleme, Edson R. Direito constitucional. Disponível em:
Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Manole, 2022.
de juros. Essa decisão, embora tenha gerado críticas de
diversos setores, foi respaldada pelo STF, que via o
antigo § 3.º do art. 192 como uma norma de eficácia
limitada, dependente de lei complementar.
◾Impactos da EC n. 40/2003 e a Nova
Sistemática
Os impactos dessa emenda foram
significativos. A taxa de juros reais, antes limitada a 12%
a.a., foi desconstitucionalizada. Isso, infelizmente,
trouxe a perda de importantes regras presentes no art.
192.
A Suprema Corte, em 2008, reforçou essa
posição, indicando que a norma do § 3.º do artigo 192
tinha sua aplicação condicionada à edição de lei
complementar.
A reforma, conforme o relator à PEC n. 53,
buscou superar as dificuldades de regulamentação do
art. 192, permitindo a aprovação de uma nova lei
estruturadora do sistema financeiro nacional.
◾Exemplo Atual: LC n. 179/2021 e
Autonomia do Banco Central
Um exemplo mais recente que podemos
explorar é a Lei Complementar n. 179/2021. Esta lei
definiu os objetivos do Banco Central do Brasil,
trazendo mudanças significativas, como sua autonomia
e as regras para nomeação e exoneração de seus
dirigentes.
O Banco Central agora é caracterizado como
uma autarquia de natureza especial, destacando-se por
sua autonomia técnica, operacional, administrativa e
financeira, além da estabilidade durante os mandatos
de seus dirigentes.
◾Composição e Nomeação da Diretoria
Colegiada
15
A Diretoria Colegiada do Banco Central do
Brasil é composta por 9 membros, sendo um deles o
Presidente. Esses membros são nomeados pelo
Presidente da República, devendo ser brasileiros
idôneos, de reputação ilibada e com notória capacidade
em assuntos econômico-financeiros.
Para garantir a independência e equilíbrio, a
nomeação do Presidente e dos Diretores passa por
aprovação do Senado Federal, mediante voto secreto
após arguição pública (art. 52, III, “d”).
◾Mandatos e Recondução
Os mandatos do Presidente e dos Diretores
do Banco Central têm a duração de 4 anos, mas
seguem uma escala específica:
● 2 Diretores iniciam seus mandatos em
março do primeiro ano do mandato do
Presidente;
● 2 Diretores iniciam seus mandatos em
janeiro do segundo ano do mandato do
Presidente;
● 2 Diretores iniciam seus mandatos em
janeiro do terceiro ano do mandato do
Presidente;
● 2 Diretores iniciam seus mandatos em
janeiro do quarto ano do mandato do
Presidente.
O Presidente e os Diretores podem ser
reconduzidos uma vez, desde que não
consecutivamente, mediante decisão do Presidente da
República.
◾Exoneração e Critérios para Autonomia
A autonomia do Banco Central é claramente
definida. O Presidente e os Diretores só podem ser
exonerados pelo Presidente da República nos seguintes
casos:
● A pedido;
● Em caso de enfermidade que
incapacite para o cargo;
● Por condenação, transitada em julgado
ou proferida por órgão colegiado, por
ato de improbidade administrativa ou
crime com pena que proíba
temporariamente o acesso a cargos
públicos;
● Por comprovado e recorrente
desempenho insuficiente para alcançar
os objetivos do Banco Central.
◾Questionamentos sobre a Autonomia
A autonomia do Banco Central, especialmente
sua não vinculação ao Presidente da República e
mandatos não coincidentes, tem sido alvo de debates.
Diferentes visões, como a dos autores da ADI 6.696, que
destacam a retirada do controle sobre a política
econômica, contrastam com a perspectiva de
organizações como a OCDE e o Banco Mundial, que
defendem a preservação da política monetária de
interferências políticas de curto prazo.
O STF, ao julgara ADI 6.696, concluiu pela
constitucionalidade da LC n. 179/2021, afirmando que a
autonomia do Banco Central atende ao princípio da
liberdade de conformação legislativa do Congresso
Nacional.
◾Desafios e Propostas de Alteração
No cenário político, o atual Presidente, em
seu terceiro mandato, questionou a autonomia do
Banco Central, especialmente em relação à política
fiscal da taxa de juros. Em 2023, foi apresentado o
Projeto de Lei Complementar (PLP) n. 19/2023,
buscando revogar a autonomia assegurada em 2021.
Esse projeto, ainda pendente, propõe a transformação
16
do Banco Central em uma autarquia de natureza
especial subordinada ao Presidente da República.
📌 OBSERVAÇÃO
Interessante que um dos incisos revogados do
art. 192 é o que tratava da previsão de taxa de juros
reais de 12% ao ano, o STF entendia que o revogado §
3.º do art. 192, que fixava as taxas dos juros reais não
superiores a 12% a.a., era norma constitucional de
eficácia limitada, dependente de lei complementar para
sua aplicação prática.
A EC n. 40, de 29.05.2003 (PEC n. 53/99 da CD
e n. 21/97 do SF), ao tratar do Sistema Financeiro
Nacional, alterou a redação do inciso V do art. 163 e do
caput do art. 52 do ADCT, revogando todos os incisos e
parágrafos do art. 192, permitindo a sua
regulamentação por mais de uma lei complementar e
não por apenas uma lei complementar como era antes.
Em razão dessa nova sistemática, a já
desprestigiada taxa de juros reais de 12% a.a.
desconstitucionaliza-se, infelizmente, assim como as
importantes regras que constavam do referido art. 192.
Cabe destacar a Súmula Vinculante nº 7/2008,
com o seguinte teor: “a norma do § 3º do artigo 192 da
Constituição, revogada pela Emenda Constitucional n.
40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao
ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei
complementar”.20
6. MONOPÓLIO DOS CORREIOS
NO BRASIL E A ADPF 4621
◾Contextualização da ADPF 46
A Abraed questionou a existência do
21 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®).
Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 751
20 Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional.
Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022
monopólio constitucional dos Correios para entrega de
correspondências, alegando violação de princípios
como livre-iniciativa, livre exercício de profissão e livre
concorrência. O debate girava em torno da
possibilidade das empresas de distribuição, criadas
para atender demandas logísticas, realizarem a entrega
de encomendas.
◾Argumentos da Abraed
A autora baseou seus argumentos em
diversos princípios constitucionais, incluindo:
● Livre-iniciativa (Art. 1º, IV)
● Livre exercício de qualquer ofício,
trabalho ou profissão (Art. 5º, XIII)
● Livre concorrência (Art. 170, IV)
● Inexistência de monopólio
constitucional postal, pois a suposta
exceção não estava no Art. 177
◾Dispositivos Constitucionais e Legais em
Questão
A Constituição trata do serviço postal em dois
dispositivos:
● Art. 21, X: Compete à União manter o
serviço postal e o correio aéreo
nacional.
● Art. 22, V: Compete privativamente à
União legislar sobre serviço postal.
A Lei n. 6.538/78 estabelece o monopólio
estatal sobre atividades postais, incluindo recebimento,
transporte e entrega de cartas e cartões-postais.
◾ Decisão do STF na ADPF 46
Em 5 de agosto de 2009, o STF julgou
improcedente a ADPF 46 por 6 votos a 4. O Ministro
Eros Grau, cujo voto prevaleceu, considerou o serviço
postal como público e não uma atividade econômica
17
estrita. Destacou que a imunidade à livre concorrência
é inerente à prestação de serviços públicos, incluindo o
postal. Ele enfatizou que a atuação subsidiária do
Estado é necessária para garantir uma existência digna
a todos.
◾ Desdobramentos Jurídicos
● RE 667.958 (Tema 527 da
Repercussão Geral): Debate sobre a
possibilidade de entes federados,
empresas e entidades públicas ou
privadas entregarem guias de
arrecadação tributária ou boletos de
cobrança sem o intermédio dos
Correios.
● Imunidade Tributária da ECT: Dois
julgados reconhecem a imunidade
tributária da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos em relação ao
ICMS e ao IPVA, mesmo em atividades
fora do monopólio postal.
“EMENTA: Recurso extraordinário com
repercussão geral. Imunidade recíproca.
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
Peculiaridades do Serviço Postal. Exercício de
atividades em regime de exclusividade e em
concorrência com particulares. Irrelevância.
ICMS. Transporte de encomendas.
Indissociabilidade do serviço postal. Incidência
da Imunidade do art. 150, VI, ‘a’, da
Constituição. Condição de sujeito passivo de
obrigação acessória. Legalidade. 1. Distinção,
para fins de tratamento normativo, entre
empresas públicas prestadoras de serviço
público e empresas públicas exploradoras de
atividade econômica. 2. As conclusões da ADPF
46 foram no sentido de se reconhecer a
natureza pública dos serviços postais,
destacando-se que tais serviços são exercidos
em regime de exclusividade pela ECT. 3. Nos
autos do RE n. 601.392/PR, Relator para o
acórdão o Ministro Gilmar Mendes, ficou
assentado que a imunidade recíproca
prevista no art. 150, VI, ‘a’, CF, deve ser
reconhecida à ECT, mesmo quando
relacionada às atividades em que a empresa
não age em regime de monopólio. 4. O
transporte de encomendas está inserido no rol
das atividades desempenhadas pela ECT, que
deve cumprir o encargo de alcançar todos os
lugares do Brasil, não importa o quão pequenos
ou subdesenvolvidos. 5. Não há
comprometimento do status de empresa
pública prestadora de serviços essenciais por
conta do exercício da atividade de transporte de
encomendas, de modo que essa atividade
constitui conditio sine qua non para a
viabilidade de um serviço postal contínuo,
universal e de preços módicos. 6. A imunidade
tributária não autoriza a exoneração de
cumprimento das obrigações acessórias. A
condição de sujeito passivo de obrigação
acessória dependerá única e exclusivamente de
previsão na legislação tributária. 7. Recurso
extraordinário do qual se conhece e ao qual se
dá provimento, reconhecendo a imunidade da
ECT relativamente ao ICMS que seria devido no
transporte de encomendas” (RE 627.051, Rel.
Min. Dias Toffoli, j. 12.11.2014, Pleno, DJE
de11.02.2015).
“EMENTA: TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE RECÍPROCA
DA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E
TELÉGRAFOS. IPVA. 1. A jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal orienta-se no sentido
de que a imunidade recíproca deve ser
reconhecida em favor da Empresa Brasileira
de Correios e Telégrafos, ainda que o
patrimônio, renda ou serviço desempenhado
pela Entidade não esteja necessariamente
relacionado ao privilégio postal. 2.
Especificamente com relação ao IPVA, cumpre
reafirmar o quanto assentado na ACO 789/PI,
Redator para o acórdão o Ministro Dias Toffoli,
ocasião na qual foi confirmada a outorga da
18
imunidade recíproca para o fim de afastar a
incidência sobre os veículos de propriedade da
requerente. 3. Ação Cível Originária julgada
procedente” (ACO 879, Rel. Min. Marco Aurélio,
red.p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j. 26.11.2014,
DJE de 10.02.2015).
7. QUEBRA DO MONOPÓLIO DA
UNIÃO SOBRE RADIOISÓTOPOS
PARA PESQUISA E USO MÉDICO
(EC 118/2022)22
◾Antecedentes: Monopólio da União (Art.
177, V, da CF/88): O texto original de 1988, por receio
de uso indevido da tecnologia nuclear após os
incidentes em Chernobil (Ucrânia, 1986) e Goiânia
(Brasil, césio-137, 1987), estabeleceu o monopólio da
União sobre atividades nucleares, incluindo
radioisótopos (Art. 177, V, da CF/88).
◾Flexibilização do Monopólio pela EC n.
49/2006: A EC n. 49/2006 trouxe uma flexibilização ao
permitir a produção, comercialização e utilização de
radioisótopos com meia-vida inferior a duas horas sob
o regime de permissão (Art. 21, XXIII, "b" e "c"). Essa
mudança visava principalmente os radioisótopos
utilizadosem exames de imagem, como na tomografia
por emissão de pósitrons (Pet) e de fótons simples
(Spect).
◾Desafios Identificados pela EC n.
118/2022: Apesar dos avanços, surgiu uma dificuldade
prática. A concentração da produção de radioisótopos
de meia-vida curta em dois órgãos estatais (IPEN e IEN)
nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro resultava em
22 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®).
Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 751
encarecimento e dificuldade de acesso a hospitais
distantes.
◾ Necessidade de Universalização: PEC
100/2007 e EC n. 118/2022: O Senador Álvaro Dias, ao
justificar a PEC 100/2007, identificou a necessidade de
quebrar o monopólio para outros radioisótopos
essenciais na medicina nuclear. A EC n. 118/2022 veio
em resposta, permitindo a produção, comercialização e
utilização de todos os radioisótopos de uso médico por
agentes privados sob o regime de permissão.
◾Impactos Positivos e Universalização:
Com a quebra do monopólio, a oferta de
procedimentos de medicina nuclear tornou-se mais
acessível. Radioisótopos agora podem estar disponíveis
a todos os serviços de saúde, facilitando o acesso dos
pacientes. Essa mudança visa universalizar a oferta dos
procedimentos, uma vez que a fonte produtora estará
mais próxima dos serviços de saúde.
⚠ATENÇÃO: É importante ressaltar que a EC n.
118/2022 não afeta o regime de monopólio estatal em
outras áreas, como agricultura e indústria, onde a
produção de radioisótopos continua sob controle
exclusivo do Estado. Agentes privados nessas áreas
estão autorizados apenas à comercialização e utilização
sob regime de permissão estatal.

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