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1 2 ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA 3a EDIÇÃO/2024 1. INTRODUÇÃO 3 1.1. EVOLUÇÃO DO ESTADO E ORDEM ECONÔMICA 3 1.2. SEPARAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA E DA ORDEM SOCIAl 3 1.3. MEIOS DE ATUAÇÃO DO ESTADO 4 2. PRINCÍPIOS GERAIS DA ORDEM ECONÔMICA 5 3. DA POLÍTICA URBANA 10 4. DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA 12 5. DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 13 6. MONOPÓLIO DOS CORREIOS NO BRASIL E A ADPF 46 16 7. QUEBRA DO MONOPÓLIO DA UNIÃO SOBRE RADIOISÓTOPOS PARA PESQUISA E USO MÉDICO (EC 118/2022) 18 3 1. INTRODUÇÃO “A intervenção do Estado na economia sobressaiu-se no século XX, sobretudo pelos efeitos da Primeira Guerra Mundial e pela perda das crenças ainda existentes na manutenção do Estado Liberal. Nesse período o Estado adquiriu postura mais intervencionista; deixou de ser omisso, observando o que as Encíclicas Papais tanto insistiam. Os freios e contrapesos da teoria de Montesquieu também não serviram ao propósito de evitar maiores transtornos à economia da época. A Revolução Industrial evidenciou problemas que o liberalismo não resolvia e sua manutenção só agravaria ainda mais a situação” .1 Dessa forma, o Estado percebeu a necessidade de uma maior intervenção nos direitos econômicos e sociais dada sua relevância. Para Gomes Canotilho, os direitos econômicos podem ser entendidos como: “Conjunto de preceitos e instituições jurídicas que, garantindo os elementos definidores de um determinado sistema econômico, instituem uma determinada forma de organização e funcionamento da economia e constituem, por isso mesmo, uma determinada ordem econômica.” 1.1. EVOLUÇÃO DO ESTADO E ORDEM ECONÔMICA2 Partindo da ideia de Estado de Direito, podemos identificar, segundo a doutrina, uma tríplice vertente: liberal, social e pós-social. No Estado Liberal percebe-se uma evidenciação do indivíduo, delineando-se um Estado não intervencionista, dentro 2 Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022. 1 Saleme, Edson R. Direito constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Manole, 2022. da perspectiva de “intervenção mínima”. Diante das novas necessidades sociais, surge a teorização do Estado Social, evidenciando-se o grupo e colocando a questão social como preocupação principal do Estado. Norberto Bobbio assevera que a proteção dos direitos sociais requer uma atuação estatal, de forma ativa, diferente da solicitada (ou não solicitada) durante o Estado Liberal, produzindo tal organização dos serviços públicos, que teria sido a responsável pelo surgimento do próprio Estado Social.3 O Estado Pós-Social é baseado em movimentos sociais, em um primeiro momento pode-se afirmar que os institutos clássicos do direito de propriedade e a autonomia da vontade privada eram suficientes para regulamentar a atividade econômica, até porque o capitalismo primitivo pregava a autorregulação, sem qualquer interferência do Estado na economia. A partir do século XX, no entanto, a situação começa a ser repensada, especialmente diante das constantes situações de abuso do poder econômico. Surge, então, “clima” propício para a constitucionalização da economia. Nesse sentido, o art. 170, caput, da CF/88 estabelece que a ordem econômica, tendo por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social. 1.2. SEPARAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA E DA ORDEM SOCIAl ◾Antecedentes Históricos: Para compreendermos a magnitude dessa separação na Constituição de 1988, é crucial observarmos os antecedentes históricos. A primeira Constituição brasileira a tratar sistematicamente da ordem econômica e social foi a de 1934, influenciada 3 Norberto Bobbio, A era dos direitos, p. 72. 4 pela Constituição de Weimar de 1919. Antes disso, a Constituição do México, em 1917, já havia abordado a ordem econômica de maneira pioneira. A Constituição de 1937 manteve as disposições sobre a ordem econômica e social, mas simplificou a abordagem, abolindo o uso de títulos específicos. As constituições subsequentes, de 1946, 1967 e a Emenda Constitucional n. 1/69, seguiram a estrutura da de 1934, agregando a ordem econômica e social em um único título. ◾I Inovação na Constituição de 1988: A grande inovação ocorre com a Constituição de 1988, que quebra a tradição ao separar de forma distinta a ordem econômica da ordem social. Essa mudança estrutural é uma resposta às transformações sociais e econômicas que o país vivenciou ao longo do tempo. A ordem econômica, agora, recebe atenção específica no Título VII, enquanto a ordem social é tratada em um título próprio, o Título VIII. Essa separação não apenas reflete uma organização mais detalhada da Constituição, mas também sugere uma abordagem mais focada e específica para lidar com as questões sociais e econômicas. ◾ Desvinculação de Temas na Ordem Social: É crucial notar que a Constituição de 1988 não apenas separou as ordens econômica e social, mas também reorganizou alguns temas. Direitos que antes eram garantidos na ordem social, como os direitos dos trabalhadores, foram deslocados para o Título II, que trata dos direitos e garantias fundamentais, mais especificamente, os direitos sociais. Essa reorganização busca dar maior destaque e proteção aos direitos sociais, ressaltando sua importância na estrutura constitucional. 1.3. MEIOS DE ATUAÇÃO DO ESTADO ◾Atuação Direta do Estado: Quando falamos em atuação direta, estamos nos referindo ao envolvimento direto do Estado na economia de um país. Isso pode ocorrer de duas maneiras principais: através do regime de monopólio ou da participação ativa com as empresas do setor privado. 1. Regime de Monopólio: ● O Estado, em algumas situações, pode assumir o controle exclusivo de determinadas atividades econômicas. Isso ocorre no que chamamos de regime de monopólio, no qual o Estado é o único fornecedor de determinados bens ou serviços. ● Essa abordagem pode ser adotada em setores estratégicos, como fornecimento de energia, água, transporte público, entre outros. 2. Participação com Empresas Privadas: ● O Estado também pode atuar diretamente na economia ao se associar ou participar ativamente com empresas do setor privado. Isso pode ocorrer por meio de parcerias público-privadas (PPPs) ou participação acionária em empresas estratégicas. ◾ Atuação Indireta do Estado: Por outro lado, a atuação indireta do Estado busca garantir a prevalência do princípio da livre concorrência e evitar práticas prejudiciais à economia, como cartéis e dumping. 5 1. Princípio da Livre Concorrência: O Estado, ao promover a livre concorrência, busca criar um ambiente econômico saudável, incentivando a competição entre as empresas. Isso geralmente leva a maior eficiência e melhores condições para os consumidores. 2. Combate a Abusos: O Estado, por meio de órgãos reguladores e legislação específica, trabalha para evitar abusos econômicos, como a formação de cartéis (acordos entre empresas para controlar preços e limitar a concorrência) e práticas de dumping (venda de produtos a preços artificialmente baixos para prejudicar a concorrência). 2. PRINCÍPIOS GERAIS DA ORDEM ECONÔMICA O art. 170 da Constituição Federal apresenta as bases da ordem econômica, define seus objetivos e os princípios que devem ser respeitados em seu âmbito. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - DEFESA DO CONSUMIDOR; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII -busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte (EPP) constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. Interessante termos em mente que a Constituição de 1988, inova e passa a tratar da ordem social em título próprio, desvinculando-a da ordem econômica, que, por sua vez, recebe matérias sobre o sistema financeiro nacional (Título VII). Alguns temas da ordem social que eram assegurados nas Constituições anteriores, como os direitos dos trabalhadores, foram deslocados para o Título II, que trata dos direitos e garantias fundamentais (direitos sociais).4 São princípios da ordem econômica e financeira, comentados por Sylvio Motta :5 1. Soberania Nacional: “este princípio complementa o contido no inciso I do artigo primeiro de nossa Constituição. Enquanto lá se impõe que nosso Estado seja politicamente soberano, aqui se exige que esta soberania engloba também a esfera econômica, não no sentido de excluir a atividade econômica estrangeira no território nacional – o que é atualmente inviável e contrário aos mais básicos postulados de coexistência das nações 5 Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021. 4 Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022. 6 –, mas no sentido de fortalecer a economia interna, fazendo-a preponderar sobre os investimentos estrangeiros, na atividade econômica desenvolvida em nosso Estado;” Importante salientar que trata-se de fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, I, da CF) e, segundo o professor Pedro Lenza, quando previsto como princípio da ordem econômica visa evitar a influência descontrolada de outros países em nossa econômia. 2. Propriedade Privada: “o respeito à propriedade privada é princípio basilar de qualquer Estado capitalista” (corolário dos direitos individuais previstos no art. 5º, XXII, XXIV, XXV, XXVI, CF); Ao instituir a propriedade privada como princípio da ordem econômica, o constituinte assegurou a propriedade privada dos meios de produção. 3. Função social da propriedade: A função social da propriedade (art. 5.º, XXIII) se desdobra em política urbana (arts. 182 e 183), no âmbito da política agrícola e fundiária, bem como da reforma agrária (arts. 184 a 191).6 4. Livre concorrência: “a livre concorrência decorre diretamente da liberdade de iniciativa, considerada, como dito, um dos fundamentos da ordem econômica brasileira. A respeito convém lembrar que “ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área”, nos 6Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022. termos da Súmula Vinculante nº 49;” O art. 173, § 4.º, dispõe que a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. Nesse contexto, para se ter um bom exemplo, lembramos o entendimento do STF que declarou inconstitucional a proibição ou restrição, por meio de lei municipal, do transporte individual de passageiro por motoristas cadastrados em aplicativos (e.g. Uber, Cabify, 99 Táxi, Lyft etc.) , vejamos a7 decisão da Corte: Ementa: Direito constitucional. Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. Transporte individual remunerado de passageiros por aplicativo. livre iniciativa e livre concorrência. (...) 6. Recurso extraordinário desprovido, com a fixação das seguintes teses de julgamento: “1. A proibição ou restrição da atividade de transporte privado individual por motorista cadastrado em aplicativo é inconstitucional, por violação aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência; e 2. No exercício de sua competência para regulamentação e fiscalização do transporte privado individual de passageiros, os Municípios e o Distrito Federal não podem contrariar os parâmetros fixados pelo legislador federal (CF/1988, art. 22, XI)”.(RE 1054110, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 09/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-194 DIVULG 05-09-2019 PUBLIC 06-09-2019) 5. Defesa do consumidor: “a defesa do consumidor, além de ser princípio da ordem 7Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022 7 econômica, é também direito fundamental individual, nos termos do art. 5º, XXXII, o que autoriza a intervenção do Estado no domínio econômico amparado por tal finalidade;” Estamos diante da consagração, nas relações de consumo, do princípio da vulnerabilidade, tendo o constituinte considerado que o consumidor é a parte mais fraca da relação. A proteção ao consumidor se implementa, dentre tantos instrumentos, pelo CDC (Lei n. 8.078/90), e, apenas para recordar, o STF entendeu a sua aplicação nas relações entre instituições financeiras e seus usuários: 🚨JÁ CAIU Na prova para Promotor de Justiça do MPE-PR (Ano: 2023; banca própria) foi considerada correta a seguinte assertiva: “São princípios que regem a atividade econômica, soberania nacional, propriedade privada, função social da propriedade e a defesa do consumidor”. “... As instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das normas veiculadas pelo Código de Defesa do Consumidor. ‘Consumidor’, para os efeitos do Código de Defesa do Consumidor, é toda pessoa física ou jurídica que utiliza, como destinatário final, atividade bancária, financeira e de crédito. Ação direta julgada improcedente” (ADI 2.591-ED, Rel. Min. Eros Grau, j. 14.12.2006, DJ de 13.04.2007). Finalmente, lembramos que o STF, apreciando o tema 210 da repercussão geral, fixou a seguinte tese no tocante ao transporte aéreo: “nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor” (RE 636.331, j. 25.05.2017, DJE de 13.11.2017).8 6. Defesa do meio ambiente: “este dispositivo foi alterado pela EC no 42, de 2003, justamente para autorizar um tratamento mais benéfico, inclusive tributário, conforme o impacto ambiental da atividade econômica;” De acordo com o art. 225, caput, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.9 7. Redução das desigualdade regionais e sociais: ”a redução das desigualdades, mais que princípio da ordem econômica, é um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (CF, art. 3º, III);” Esse princípio é implementado por diversos instrumentos, como a criação de regiões administrativas (art. 43), a lei que institui o plano plurianual (art. 165, § 1.º), a possibilidade de concessão de incentivos fiscais na forma do art. 151, I, o fundo de erradicação da pobreza, que teve o seu prazo prorrogado por tempo indeterminado nos termos da EC n. 67, de 22.12.2010 etc.10 10Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022 9Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022 8Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022 8 8. Busca do pleno emprego: “princípio que decorrediretamente do outro fundamento da ordem econômica, o trabalho humano, além de constituir um direito fundamental de segunda geração;” 9. Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País: “o dispositivo foi alterado pela EC nº 6/1995. Na sua redação original, era assegurado tratamento favorecido para as empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte; o art. 171, I, revogado pela mesma emenda, conceituava como brasileira a empresa constituída sob nossas leis e com sede e administração no país. Com a alteração constitucional, o tratamento favorecido permanece, mas agora ele é dirigido a todas as empresas de pequeno porte, seja seu capital nacional ou estrangeiro, desde que sejam constituídas sob as nossas leis e tenham sua sede e administração no país. Não se encontra mais expressa no texto constitucional a conceituação de empresa brasileira, mas os critérios que serviam para sua definição – constituição sob a lei pátria e sede e administração no Brasil – são agora requisitos para a obtenção do tratamento favorecido, de acordo com a nova redação do art. 170, IX.” O art. 173, CF, dispõe sobre as hipóteses em que se autoriza ao Estado atuar diretamente na área econômica: Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade; II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da administração pública; IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários; V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos administradores. § 2º As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado. § 3º A lei regulamentará as relações da empresa pública com o Estado e a sociedade. § 4º - lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. § 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular. 🚨JÁ CAIU Na prova para Juiz de Direito do TJ-RJ (Ano: 2023; 9 VUNESP) foi considerada incorreta a seguinte assertiva: ressalvados os casos previstos na Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado somente será permitida quando necessária aos planos nacionais e regionais de desenvolvimento”. Dessa forma, fica claro que “a exploração de atividade econômica pelo poder público deve estar condicionada ao princípio da subsidiariedade; na ordem econômica revela-se o entendimento de que o Estado intervém na economia de forma excepcional, supletivamente; no âmbito federativo, com a valorização das esferas de poder local, ou seja, valorizando, ao máximo, o poder municipal como unidade da Federação; e na participação popular, incentivando os cidadãos a se manifestarem em diversas decisões locais, por meio da opinião na tomada de decisões governamentais. ”11 A intervenção direta do Estado é realizada por meio das empresas públicas e sociedades de economia mista. A intervenção indireta por sua vez está regulamentada no art. 174, CF: Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este DETERMINANTE para o setor público e INDICATIVO para o setor privado. § 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento. § 2º A lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo. § 3º O Estado favorecerá a organização da 11 Saleme, Edson R. Direito constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Manole, 2022. atividade garimpeira em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros. § 4º As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão prioridade na autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de minerais garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas de acordo com o art. 21, XXV, na forma da lei. Sendo assim, “apesar de o texto constitucional de 1988 ter consagrado uma economia descentralizada, de mercado, autorizou o Estado a intervir no domínio econômico como agente normativo e regulador, com a finalidade de exercer as funções de fiscalização, incentivo e planejamento indicativo ao setor privado, sempre com fiel observância aos princípios constitucionais da ordem econômica. ”12 🚨JÁ CAIU Na prova para Promotor de Justiça do Estado de Pernambuco (FCC - 2022), considerando o entendimento do STF e a Constituição federal foi tida como correta a alternativa que apontava: “a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei.” Na prova para Procurador do Estado de Rondônia (CESPE - 2022), foi assinalada como correta, a despeito dos princípios e valores que tutelam a ordem econômica, a alternativa que trouxe: ”A função social da 12Moraes, Alexandre D. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (38th edição). Grupo GEN, 2022. 10 propriedade refere-se à utilização racional no uso da propriedade privada, sob pena de expropriação.” 3. DA POLÍTICA URBANA A política urbana, é competência dos municípios, que devem efetivá-la por meio do plano diretor, e está regulamentada nos arts. 182 e 183 da CF. O art. 182, CF, é regulamentado pelo Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257, de 10.07.2001). O dispositivo estabelece a obrigatoriedade do Plano Diretor para cidades com mais de 20 mil habitantes, in litteris: Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades commais de 20 mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. § 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios;II -IPTU progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até 10 anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. O § 2º, do art. 182, também é de extrema importância, uma vez que prevê que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais do plano diretor. O § 4º, do art. 182, por sua vez, estabelece uma ordem para a aplicação das sanções aos proprietários que não utilizarem seus imóveis de acordo com sua função social. Conforme ensina Sylvio Motta :13 “Nos termos da Lei no 10.257/2001, considera-se subutilizado o imóvel cujo aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou em legislação dele proveniente. A constituição da obrigação dá-se mediante notificação ao proprietário para utilizar, edificar ou parcelar seu imóvel, devendo ser averbada no Registro de Imóveis competente. Os prazos para que o proprietário cumpra a obrigação, também fixados na lei específica, não poderão ser inferiores a: 1. 1 ano, a contar da ciência da notificação, para que seja protocolado o projeto no órgão municipal competente; 2. 2 anos, a contar da aprovação do projeto, para que se iniciem as obras de execução. Em empreendimentos de grande porte, em caráter excepcional, lei municipal específica 13 Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021. 11 poderá prever a conclusão do projeto em etapas, assegurando que o projeto protocolado e aprovado abranja todo o empreendimento. A obrigação de parcelar, edificar ou utilizar tem natureza real, vinculando-se ao imóvel, não ao seu proprietário, de modo que é transferida junto com aquele em caso de transmissão por ato inter vivos ou causa mortis em data posterior à notificação.” O art. 183, da Constituição Federal trata do usucapião constitucional urbano: Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até 250m2, por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. “A usucapião é forma originária de aquisição de propriedade imóvel, que se efetiva mediante sua ocupação mansa e pacífica, sem oposição do titular do domínio, por determinado período de tempo. No caso da usucapião pró-moradia, este período é de 5 anos” . Mais três requisitos são impostos pela14 Constituição para que se configure essa hipótese da usucapião, conforme ensina Sylvio Motta :15 a. que o imóvel seja utilizado para a moradia 15Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021. 14Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021. do possuidor ou de sua família. A Carta não veda que haja exploração de outra natureza do imóvel, apenas exige que o imóvel seja utilizado como moradia para o possuidor ou sua família. Com isso, percebe-se que apenas pessoas físicas podem se valer dessa hipótese de usucapião; b. que o possuidor não seja proprietário de qualquer outro imóvel urbano ou rural; c. que não se trate de um imóvel público, pois o § 3º do art. 183 declara que os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião, consagrando a imprescritibilidade dos imóveis públicos. 🚨JÁ CAIU Na prova para Juiz do Estado de Pernambuco (FGV - 2022), foi contada a seguinte história: “João, proprietário de terreno no centro da cidade de Pouso Feliz, subutiliza-o, sem edificar ou parcelar, mantendo-o abandonado, com vegetação aleatória, acúmulo de água, entre outras situações que deixam claro o não cumprimento do princípio da função social.” a questão pedia para que se assinalasse a alternativa correta que indicava que a melhor a ser tomada seria: “o Município onde está localizado o terreno deverá intimar João a edificar, parcelar ou utilizar o terreno, sob pena de estipulação de alíquotas progressivas de IPTU”. Na prova para Defensor Público do Estado do Paraná (Instituto AOCP - 2022), foi assinalada como correta a alternativa que trouxe: “o Poder Público Municipal, mediante lei específica, para área incluída no Plano Diretor, pode determinar, nos termos de lei federal, que proprietário de solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado promova seu adequado aproveitamento, sob pena de, sucessivamente: parcelamento ou edificação compulsórios, IPTU 12 progressivo no tempo e desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até 10 anos.” 4. DA POLÍTICA AGRÍCOLA E FUNDIÁRIA E DA REFORMA AGRÁRIA Em primeiro lugar, é importante conceituar política agrícola e reforma agrária, para isso utilizaremos os conceitos apresentados pelo professor Alexandre de Moraes :16 POLÍTICA AGRÍCOLA REFORMA AGRÁRIA A política agrícola será planejada e executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como dos setores de comercialização, de armazenamento e de transportes, levando em conta, especialmente, os seguintes preceitos: os instrumentos creditícios e fiscais; os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização; o incentivo à pesquisa e à A Constituição Federal concedeu à União a competência para desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural. Reforma agrária deve ser entendida como o conjunto de notas e planejamentos estatais mediante intervenção do Estado na economia agrícola com a finalidade de promover a repartição da propriedade e renda fundiária. Esse procedimento expropriatório para fins de reforma agrária deverá 16 Moraes, Alexandre D. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (38th edição). Grupo GEN, 2022. tecnologia; a assistência técnica e extensão rural; o seguro agrícola; o cooperativismo; a eletrificação rural e irrigação; a habitação para o trabalhador rural. respeitar o devido processo legal, havendo necessidade de vistoria e prévia notificação ao proprietário, uma vez que haverá privação de bens particulares,20 sendo considerada modalidade de “desapropriação-sanção”. O tema está regulamentado nos arts. 184 a 191, CF. Art. 184. COMPETE À UNIÃO desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até 20 anos, a partir do 2° ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. § 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. § 3º Cabe à LC estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. § 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício. § 5º São ISENTAS DE IMPOSTOS federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. 13 Conforme conclui Sylvio Motta: “É fácil perceber que todo o art. 184 denota a importância que a Constituição outorga à função social da propriedaderural, estabelecendo, minuciosamente, as formas de intervenção do Estado na propriedade improdutiva. ”17 O art. 185, CF, prevê as propriedades insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária, na sequência o art. 186 analisa se o bem de produção rural está ou não cumprindo a sua função social: Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Saltando para o art. 191, CF, este possui elevada importância, uma vez que dispõe sobre o usucapião constitucional rural: Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de 17 Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021. imóvel rural ou urbano, possua como seu, por 5 anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a 50 hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. ⚠ ATENÇÃO “A grande diferença desta modalidade especial de usucapião, comparativamente à usucapião pró-moradia, é, além da área máxima muito superior – cinquenta hectares –, a exigência de que o possuidor, com o seu trabalho ou o de sua família, torne a propriedade rural produtiva, pois é esta justamente sua finalidade. ”18 5. DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL O art. 192, CF que dispõe sobre o sistema financeiro nacional, foi alterado por meio da EC n. 40/2003, a qual manteve o caput, mas revogou todos os seus incisos. Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram. 18 Motta, Sylvio. Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (29th edição). Grupo GEN, 2021. 14 Para Edson Ricardo Saleme , “basicamente, o19 artigo determina seja referido Sistema estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito. Mantém a lei complementar para regular sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.” ◾Conceito e Classificação dos Sistemas Financeiros O SFN, segundo Lenza, é dividido em dois sistemas financeiros regulados pela Constituição. Primeiramente, o Sistema Financeiro Público, que lida com as finanças e orçamentos públicos (arts. 163 a 169). Em segundo lugar, o Sistema Financeiro Parapúblico, também conhecido como Sistema Financeiro Nacional, desconstitucionalizado pela Emenda Constitucional 40/2003. Esse último abrange uma variedade de instituições financeiras, como as creditícias, sejam públicas ou privadas, e aquelas voltadas para seguro, previdência privada e capitalização, todas sob controle estrito do Poder Público (art. 192). No contexto, o Banco Central desempenha um papel crucial, atuando como elo entre essas duas ordens financeiras (arts. 164 e 192). ◾ Alterações no Artigo 192 pela EC n. 40/2003 A EC n. 40/2003 trouxe mudanças significativas, principalmente no artigo 192. Antes, este artigo estabelecia regras específicas, como a taxa de juros reais limitada a 12% a.a., por exemplo. No entanto, com a emenda, várias dessas regras foram retiradas, incluindo a já mencionada taxa 19 Saleme, Edson R. Direito constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th edição). Editora Manole, 2022. de juros. Essa decisão, embora tenha gerado críticas de diversos setores, foi respaldada pelo STF, que via o antigo § 3.º do art. 192 como uma norma de eficácia limitada, dependente de lei complementar. ◾Impactos da EC n. 40/2003 e a Nova Sistemática Os impactos dessa emenda foram significativos. A taxa de juros reais, antes limitada a 12% a.a., foi desconstitucionalizada. Isso, infelizmente, trouxe a perda de importantes regras presentes no art. 192. A Suprema Corte, em 2008, reforçou essa posição, indicando que a norma do § 3.º do artigo 192 tinha sua aplicação condicionada à edição de lei complementar. A reforma, conforme o relator à PEC n. 53, buscou superar as dificuldades de regulamentação do art. 192, permitindo a aprovação de uma nova lei estruturadora do sistema financeiro nacional. ◾Exemplo Atual: LC n. 179/2021 e Autonomia do Banco Central Um exemplo mais recente que podemos explorar é a Lei Complementar n. 179/2021. Esta lei definiu os objetivos do Banco Central do Brasil, trazendo mudanças significativas, como sua autonomia e as regras para nomeação e exoneração de seus dirigentes. O Banco Central agora é caracterizado como uma autarquia de natureza especial, destacando-se por sua autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira, além da estabilidade durante os mandatos de seus dirigentes. ◾Composição e Nomeação da Diretoria Colegiada 15 A Diretoria Colegiada do Banco Central do Brasil é composta por 9 membros, sendo um deles o Presidente. Esses membros são nomeados pelo Presidente da República, devendo ser brasileiros idôneos, de reputação ilibada e com notória capacidade em assuntos econômico-financeiros. Para garantir a independência e equilíbrio, a nomeação do Presidente e dos Diretores passa por aprovação do Senado Federal, mediante voto secreto após arguição pública (art. 52, III, “d”). ◾Mandatos e Recondução Os mandatos do Presidente e dos Diretores do Banco Central têm a duração de 4 anos, mas seguem uma escala específica: ● 2 Diretores iniciam seus mandatos em março do primeiro ano do mandato do Presidente; ● 2 Diretores iniciam seus mandatos em janeiro do segundo ano do mandato do Presidente; ● 2 Diretores iniciam seus mandatos em janeiro do terceiro ano do mandato do Presidente; ● 2 Diretores iniciam seus mandatos em janeiro do quarto ano do mandato do Presidente. O Presidente e os Diretores podem ser reconduzidos uma vez, desde que não consecutivamente, mediante decisão do Presidente da República. ◾Exoneração e Critérios para Autonomia A autonomia do Banco Central é claramente definida. O Presidente e os Diretores só podem ser exonerados pelo Presidente da República nos seguintes casos: ● A pedido; ● Em caso de enfermidade que incapacite para o cargo; ● Por condenação, transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, por ato de improbidade administrativa ou crime com pena que proíba temporariamente o acesso a cargos públicos; ● Por comprovado e recorrente desempenho insuficiente para alcançar os objetivos do Banco Central. ◾Questionamentos sobre a Autonomia A autonomia do Banco Central, especialmente sua não vinculação ao Presidente da República e mandatos não coincidentes, tem sido alvo de debates. Diferentes visões, como a dos autores da ADI 6.696, que destacam a retirada do controle sobre a política econômica, contrastam com a perspectiva de organizações como a OCDE e o Banco Mundial, que defendem a preservação da política monetária de interferências políticas de curto prazo. O STF, ao julgara ADI 6.696, concluiu pela constitucionalidade da LC n. 179/2021, afirmando que a autonomia do Banco Central atende ao princípio da liberdade de conformação legislativa do Congresso Nacional. ◾Desafios e Propostas de Alteração No cenário político, o atual Presidente, em seu terceiro mandato, questionou a autonomia do Banco Central, especialmente em relação à política fiscal da taxa de juros. Em 2023, foi apresentado o Projeto de Lei Complementar (PLP) n. 19/2023, buscando revogar a autonomia assegurada em 2021. Esse projeto, ainda pendente, propõe a transformação 16 do Banco Central em uma autarquia de natureza especial subordinada ao Presidente da República. 📌 OBSERVAÇÃO Interessante que um dos incisos revogados do art. 192 é o que tratava da previsão de taxa de juros reais de 12% ao ano, o STF entendia que o revogado § 3.º do art. 192, que fixava as taxas dos juros reais não superiores a 12% a.a., era norma constitucional de eficácia limitada, dependente de lei complementar para sua aplicação prática. A EC n. 40, de 29.05.2003 (PEC n. 53/99 da CD e n. 21/97 do SF), ao tratar do Sistema Financeiro Nacional, alterou a redação do inciso V do art. 163 e do caput do art. 52 do ADCT, revogando todos os incisos e parágrafos do art. 192, permitindo a sua regulamentação por mais de uma lei complementar e não por apenas uma lei complementar como era antes. Em razão dessa nova sistemática, a já desprestigiada taxa de juros reais de 12% a.a. desconstitucionaliza-se, infelizmente, assim como as importantes regras que constavam do referido art. 192. Cabe destacar a Súmula Vinculante nº 7/2008, com o seguinte teor: “a norma do § 3º do artigo 192 da Constituição, revogada pela Emenda Constitucional n. 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei complementar”.20 6. MONOPÓLIO DOS CORREIOS NO BRASIL E A ADPF 4621 ◾Contextualização da ADPF 46 A Abraed questionou a existência do 21 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 751 20 Lenza, Pedro. Esquematizado - Direito Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (26th edição). Editora Saraiva, 2022 monopólio constitucional dos Correios para entrega de correspondências, alegando violação de princípios como livre-iniciativa, livre exercício de profissão e livre concorrência. O debate girava em torno da possibilidade das empresas de distribuição, criadas para atender demandas logísticas, realizarem a entrega de encomendas. ◾Argumentos da Abraed A autora baseou seus argumentos em diversos princípios constitucionais, incluindo: ● Livre-iniciativa (Art. 1º, IV) ● Livre exercício de qualquer ofício, trabalho ou profissão (Art. 5º, XIII) ● Livre concorrência (Art. 170, IV) ● Inexistência de monopólio constitucional postal, pois a suposta exceção não estava no Art. 177 ◾Dispositivos Constitucionais e Legais em Questão A Constituição trata do serviço postal em dois dispositivos: ● Art. 21, X: Compete à União manter o serviço postal e o correio aéreo nacional. ● Art. 22, V: Compete privativamente à União legislar sobre serviço postal. A Lei n. 6.538/78 estabelece o monopólio estatal sobre atividades postais, incluindo recebimento, transporte e entrega de cartas e cartões-postais. ◾ Decisão do STF na ADPF 46 Em 5 de agosto de 2009, o STF julgou improcedente a ADPF 46 por 6 votos a 4. O Ministro Eros Grau, cujo voto prevaleceu, considerou o serviço postal como público e não uma atividade econômica 17 estrita. Destacou que a imunidade à livre concorrência é inerente à prestação de serviços públicos, incluindo o postal. Ele enfatizou que a atuação subsidiária do Estado é necessária para garantir uma existência digna a todos. ◾ Desdobramentos Jurídicos ● RE 667.958 (Tema 527 da Repercussão Geral): Debate sobre a possibilidade de entes federados, empresas e entidades públicas ou privadas entregarem guias de arrecadação tributária ou boletos de cobrança sem o intermédio dos Correios. ● Imunidade Tributária da ECT: Dois julgados reconhecem a imunidade tributária da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos em relação ao ICMS e ao IPVA, mesmo em atividades fora do monopólio postal. “EMENTA: Recurso extraordinário com repercussão geral. Imunidade recíproca. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Peculiaridades do Serviço Postal. Exercício de atividades em regime de exclusividade e em concorrência com particulares. Irrelevância. ICMS. Transporte de encomendas. Indissociabilidade do serviço postal. Incidência da Imunidade do art. 150, VI, ‘a’, da Constituição. Condição de sujeito passivo de obrigação acessória. Legalidade. 1. Distinção, para fins de tratamento normativo, entre empresas públicas prestadoras de serviço público e empresas públicas exploradoras de atividade econômica. 2. As conclusões da ADPF 46 foram no sentido de se reconhecer a natureza pública dos serviços postais, destacando-se que tais serviços são exercidos em regime de exclusividade pela ECT. 3. Nos autos do RE n. 601.392/PR, Relator para o acórdão o Ministro Gilmar Mendes, ficou assentado que a imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, ‘a’, CF, deve ser reconhecida à ECT, mesmo quando relacionada às atividades em que a empresa não age em regime de monopólio. 4. O transporte de encomendas está inserido no rol das atividades desempenhadas pela ECT, que deve cumprir o encargo de alcançar todos os lugares do Brasil, não importa o quão pequenos ou subdesenvolvidos. 5. Não há comprometimento do status de empresa pública prestadora de serviços essenciais por conta do exercício da atividade de transporte de encomendas, de modo que essa atividade constitui conditio sine qua non para a viabilidade de um serviço postal contínuo, universal e de preços módicos. 6. A imunidade tributária não autoriza a exoneração de cumprimento das obrigações acessórias. A condição de sujeito passivo de obrigação acessória dependerá única e exclusivamente de previsão na legislação tributária. 7. Recurso extraordinário do qual se conhece e ao qual se dá provimento, reconhecendo a imunidade da ECT relativamente ao ICMS que seria devido no transporte de encomendas” (RE 627.051, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 12.11.2014, Pleno, DJE de11.02.2015). “EMENTA: TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE RECÍPROCA DA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. IPVA. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal orienta-se no sentido de que a imunidade recíproca deve ser reconhecida em favor da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, ainda que o patrimônio, renda ou serviço desempenhado pela Entidade não esteja necessariamente relacionado ao privilégio postal. 2. Especificamente com relação ao IPVA, cumpre reafirmar o quanto assentado na ACO 789/PI, Redator para o acórdão o Ministro Dias Toffoli, ocasião na qual foi confirmada a outorga da 18 imunidade recíproca para o fim de afastar a incidência sobre os veículos de propriedade da requerente. 3. Ação Cível Originária julgada procedente” (ACO 879, Rel. Min. Marco Aurélio, red.p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j. 26.11.2014, DJE de 10.02.2015). 7. QUEBRA DO MONOPÓLIO DA UNIÃO SOBRE RADIOISÓTOPOS PARA PESQUISA E USO MÉDICO (EC 118/2022)22 ◾Antecedentes: Monopólio da União (Art. 177, V, da CF/88): O texto original de 1988, por receio de uso indevido da tecnologia nuclear após os incidentes em Chernobil (Ucrânia, 1986) e Goiânia (Brasil, césio-137, 1987), estabeleceu o monopólio da União sobre atividades nucleares, incluindo radioisótopos (Art. 177, V, da CF/88). ◾Flexibilização do Monopólio pela EC n. 49/2006: A EC n. 49/2006 trouxe uma flexibilização ao permitir a produção, comercialização e utilização de radioisótopos com meia-vida inferior a duas horas sob o regime de permissão (Art. 21, XXIII, "b" e "c"). Essa mudança visava principalmente os radioisótopos utilizadosem exames de imagem, como na tomografia por emissão de pósitrons (Pet) e de fótons simples (Spect). ◾Desafios Identificados pela EC n. 118/2022: Apesar dos avanços, surgiu uma dificuldade prática. A concentração da produção de radioisótopos de meia-vida curta em dois órgãos estatais (IPEN e IEN) nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro resultava em 22 Lenza, Pedro. Direito constitucional. (Coleção esquematizado®). Disponível em: Minha Biblioteca, (27th edição). Editora Saraiva, 2023. p. 751 encarecimento e dificuldade de acesso a hospitais distantes. ◾ Necessidade de Universalização: PEC 100/2007 e EC n. 118/2022: O Senador Álvaro Dias, ao justificar a PEC 100/2007, identificou a necessidade de quebrar o monopólio para outros radioisótopos essenciais na medicina nuclear. A EC n. 118/2022 veio em resposta, permitindo a produção, comercialização e utilização de todos os radioisótopos de uso médico por agentes privados sob o regime de permissão. ◾Impactos Positivos e Universalização: Com a quebra do monopólio, a oferta de procedimentos de medicina nuclear tornou-se mais acessível. Radioisótopos agora podem estar disponíveis a todos os serviços de saúde, facilitando o acesso dos pacientes. Essa mudança visa universalizar a oferta dos procedimentos, uma vez que a fonte produtora estará mais próxima dos serviços de saúde. ⚠ATENÇÃO: É importante ressaltar que a EC n. 118/2022 não afeta o regime de monopólio estatal em outras áreas, como agricultura e indústria, onde a produção de radioisótopos continua sob controle exclusivo do Estado. Agentes privados nessas áreas estão autorizados apenas à comercialização e utilização sob regime de permissão estatal.