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O tecnólogo e a tecnologia Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer o papel do tecnólogo. � Determinar a relação entre o tecnólogo e a tecnologia. � Perceber as vantagens para o desenvolvimento tecnológico, em fun- ção do papel do tecnólogo. Introdução Os avanços científicos e tecnológicos e sua difusão e uso pelo setor produtivo e pela sociedade, em geral, têm representado desafios rele- vantes a profissionais das mais diversas áreas, no Brasil e no mundo. Com exigências cada vez maiores em termos de produtividade e qualidade de produtos e serviços, o mercado de trabalho tem demandado profissio- nais criativos, inovadores, críticos, com competência para realizar ações que oportunizem resoluções de problemas, integrando conhecimento científico à sua aplicação prática. A construção desse perfil profissional ocorre de forma multifatorial, e, muito embora possa incluir características de personalidade e experi- ências de vida, é moldada de forma decisiva pela formação acadêmica, representada sobretudo pelo percurso no Ensino Superior. No Brasil, a legislação do Ensino Superior estabelece que sua com- posição é constituída por cursos de graduação, sequenciais e de pós- -graduação. A graduação abrange os bacharelados, as licenciaturas e os cursos tecnólogos. Este último tem como propósito formar profissionais focados no mercado e com grande especialidade na área de formação. Neste capítulo, você conhecerá um pouco mais sobre o papel do tecnólogo, como ele se relaciona com a tecnologia e de que forma contribui decisivamente para o desenvolvimento tecnológico. O tecnólogo Mudanças sociais, econômicas e tecnológicas acompanham a humanidade desde seus primórdios, com impactos sobre o mundo do trabalho e as relações que dele derivam. Nos últimos anos, observamos relevantes transformações que culminaram, muitas vezes, na eliminação de postos de trabalho com a introdução de novas tecnologias, na reestruturação dos setores produtivos e organizacionais das empresas e na flexibilização das relações (TESSER, 2011). Como consequência, o perfil profissional demandado também se reconfigura: cada vez mais, a exigência é por profissionais com competências mais com- plexas, capazes de promover os avanços necessários. No Brasil, os cursos superiores de tecnologia (CSTs) surgem como uma das principais respostas do setor educacional às necessidades e às demandas sociais. Respaldados pela LDB de 1961, as primeiras experiências relacionadas à formação de tecnólogos surgiram no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970, inicialmente voltadas às engenharias de operação. De lá para cá, entre avanços e retrocessos, a formação de tecnólogos disseminou-se para as mais diversas áreas, com o número de cursos crescendo de forma exponencial, principalmente a partir da década de 1990. Os CSTs, portanto, foram estruturados para atender às tendências do desen- volvimento tecnológico e de novos nichos do mercado de trabalho, tornando-se um trunfo para a educação, uma vez que os egressos de tais cursos podem ser mais facilmente absorvidos pelo setor produtivo (FILIPAK, 2002). Mas, afinal de contas, o que caracteriza a formação de um tecnólogo? Essa modalidade de curso superior possui particularidades que a diferen- ciam dos demais cursos de graduação. De acordo com Smaniotto e Mercuri (2007), a principal distinção reside no fato de que os cursos de tecnologia são mais especializados quando comparados aos cursos tradicionais de graduação, atendendo às reais necessidades de desenvolvimento tecnológico local ou regional. Em consequência disso, a duração dos CSTs também acaba sendo menor: devem possuir o mínimo de 1.600 horas, divididas geralmente em dois ou três anos, dependendo da estrutura curricular prevista para a formação do perfil profissional desejado. Outra importante característica é a proporção entre teoria e prática e entre ciência e tecnologia, tanto na formação do estudante quanto no desempenho de suas atividades profissionais: o tecnólogo é um profissional não só mais ligado à prática do que à teoria, como também mais próximo da tecnologia do que da ciência. O tecnólogo e a tecnologia2 Embora existam diferenças significativas, há também semelhanças entre os CSTs e os demais cursos de graduação: o ingresso, a formação acadêmica exigida para docência, as avaliações institucionais e dos cursos seguem a mesma legislação do ensino superior. Ou seja, apesar de suas especificidades, um CST é um curso de graduação e, como tal, deve ser inserido no âmbito da educação superior no que se refere à discussão de seus propósitos e às mudanças que deve proporcionar nos seus estudantes a partir dessa experiência de formação (SMANIOTTO; MERCURI, 2007). De forma complementar, Reis e Reis (2012) destacam que a formação de tecnólogos busca trabalhar a prática como ferramenta para a construção do conhecimento, viabilizando meios para mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes na resolução de problemas. Trata-se, portanto, de uma formação mais dinâmica e prática, mas que não deve ser confundida com superficialidade, pois propõe profundidade, conhecimento focado e contextualizado, autonomia e educação continuada. Para além disso, é preciso considerar que o tecnólogo deve ser o produto de uma formação básica e conceitual que estimule o pensamento reflexivo, a autonomia intelectual, a capacidade empreendedora, a capacidade de interagir e pensar de forma interdisciplinar e, sobretudo, a compreensão global do processo tecnológico. O tecnólogo, portanto, é o profissional: � formado por curso de nível superior de graduação, no âmbito dos CSTs; � de nível superior de graduação, apto a desenvolver, de forma plena e inovadora, atividades em uma determinada área profissional; � com formação específica voltada para: ■ aplicação, desenvolvimento e difusão de tecnologias; ■ gestão de processos de produção de bens e serviços; ■ desenvolvimento da capacidade empreendedora; � que verticaliza competências adquiridas em outros níveis da educação profissional, fundamentando-se em bases científicas e instrumentais; � que mantém as suas competências em sintonia com o mundo do trabalho; � especializado em segmentos de uma determinada área profissional; 3O tecnólogo e a tecnologia � com potencial para ampliar sua área de atuação por meio de estudos em outros cursos de graduação ou em cursos de pós-graduação (aper- feiçoamento, especialização, mestrado e doutorado) (FILIPAK, 2002). Com o propósito de aprimorar e fortalecer os CSTs, o Ministério da Educação encarrega- -se, periodicamente, da atualização do Catálogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia (CNCST). Essa atualização, prevista no art. 5º, § 3º, inciso VI do Decreto nº. 2006/5.773 (BRASIL, 2006), e na Portaria nº. 2006/1.024, é imprescindível para assegurar que a oferta desses cursos e a formação dos tecnólogos acompanhem a dinâmica do setor produtivo e as demandas da sociedade. Em sua terceira edição (BRASIL, 2016), divulgada em 2016, o CNCST elencou 134 denominações de cursos, divididos em 13 eixos tecnológicos: Ambiente e Saúde; Controle e Processos Industriais; Desenvolvimento Educacional e Social; Gestão e Negócios; Informação e Comunicação; Infraestrutura; Militar; Produção Alimentícia; Produção Cultural e Design; Produção Industrial; Recursos Naturais; Segurança; Turismo, Hospitalidade e Lazer. Em relação a cada curso, o CNCST destacada importantes informações relacionadas a um conjunto de oito descritores: � Denominação do curso: corresponde à denominação pela qual devem ser identi- ficados os CSTs ofertados pelas instituições de educação superior. � Eixo tecnológico: corresponde aos 13 eixos tecnológicos que estruturam a orga- nização dos CSTs. � Perfil profissional de conclusão: corresponde ao elenco de ações que o egresso do CST, no seu exercício profissional, é capaz de realizar. � Infraestrutura mínimarequerida: corresponde à infraestrutura mínima necessária para o funcionamento do curso. � Carga-horária mínima: corresponde à carga horária mínima do curso, que, no caso dos CSTs, é estabelecida em 1.600, 2.000 e 2.400 horas. � Campo de atuação: corresponde aos locais em que o profissional poderá desem- penhar suas atribuições. � Ocupações CBO associadas: corresponde às ocupações constantes na Classifica- ção Brasileira de Ocupações (CBO) associadas aos cursos oferecidos no catálogo. Trata-se de ocupações que o profissional graduado em um CST pode exercer ou tem relação direta com o perfil profissional do egresso, fornecendo perspectivas de inserção profissional. � Possibilidades de prosseguimento de estudos na pós-graduação: corresponde às possibilidades de continuidade de estudos em cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu, coerentes com o itinerário formativo do graduado. As possibilidades sinalizadas no catálogo, no entanto, são meramente indicativas e não esgotam todo o leque de possibilidades de verticalização possíveis. O tecnólogo e a tecnologia4 As atribuições dos tecnólogos, de acordo com a legislação que regulamenta sua formação, são as seguintes: analisar dados técnicos; desenvolver estudos; orientar e analisar projetos; supervisionar e fiscalizar serviços técnicos dentro de suas áreas de competência; prestar consultoria, assessoria, auditoria e perícias; exercer o ensino, a pesquisa, a análise, a experimentação e o ensaio; e conduzir equipes de instalação, montagem, operação, reparo e manutenção de equipamentos. De acordo com Machado (2008), a atuação profissional de tecnólogos possui múltiplas finalidades, incluindo: viabilizar projetos de processos e produtos; oferecer suporte à tomada de decisões e à definição de estratégias; orientar o manejo de equipamentos e instrumentos; tornar mais racionais, eficientes e rentáveis os processos produtivos e os serviços; fazer avançar a funcionalidade, a produtividade e a qualidade dos processos e produtos sem comprometer sua integridade e usabilidade; promover a otimização dos processos e sua visibilidade; contribuir para a sustentabilidade econômica, ambiental e social dos empreendimentos; e aprimorar ações de preservação, proteção, prevenção, segurança e ergonomia. Compreendendo a natureza dos CSTs e as atribuições inerentes aos profis- sionais, torna-se mais fácil perceber que o tecnólogo é um profissional com condições de disputar as melhores oportunidades de trabalho e renda, devido à sua formação focada e alinhada às demandas sociais. Além disso, trata-se de um profissional de importância ímpar ao desenvolvimento econômico, social e organizacional, considerando-se sua convergência com uma variável de relevância inegável: a tecnologia. A relação entre tecnólogo e tecnologia Quando falamos em tecnologia, estamos nos referindo ao conjunto de princípios e processos de ação e de produção, envolvendo instrumentos que decorrem da aplicação do conhecimento científico, de diversos saberes e da experiência acumulada pela humanidade (MACHADO, 2008). Ou seja, basicamente, sem- pre que usamos nosso conhecimento para alcançar algum propósito específico, estamos usando tecnologia. Com base nessa compreensão, a importância da tecnologia torna-se clara: nós a aplicamos em quase tudo que o fazemos em nosso dia a dia, seja no trabalho, na comunicação e no transporte, seja na aprendizagem e na gestão de negócios. Os produtos que você utiliza para sua higiene pessoal pela manhã, 5O tecnólogo e a tecnologia os recursos que viabilizam seu lazer, até os equipamentos que você emprega para ler este texto, todos eles incluem aspectos tecnológicos. Dessa forma, não é exagero dizer que a tecnologia é determinante para condições e padrões da vida humana: se for bem aplicada, proporciona inegáveis benefícios à humanidade; se for incorretamente utilizada, pode provocar danos severos. No âmbito organizacional, empresas dos mais diversos segmentos fazem uso da tecnologia para se manterem competitivas, criando novos produtos e serviços ou aprimorando seus processos. Em um contexto global de acirrada competitividade, essa estratégia pode representar uma relevante forma de se destacar frente à concorrência, ampliar os negócios, e, em situações mais extremas, é crucial para a própria sobrevivência da empresa. A tecnologia, portanto, cumpre um importante papel na condição da vida humana e na resolução dos problemas que afetam a existência natural e social. Constitui-se de formas mais ou menos sistemáticas de planejar, desenvolver e avaliar processos, produtos e serviços, tendo por referência os resultados almejados. Para que isso seja possível, os avanços tecnológicos devem ser fundamentados em pesquisas e recursos diversos, reunindo conjuntos de técnicas que organizem de modo lógico as coisas, as atividades e as funções. Considerando-se que a tecnologia inclui a aplicação prática dos recursos, as variáveis envolvidas devem ser sistematicamente observadas, compreendidas, transmitidas e utilizadas (MACHADO, 2008). Tecnologia como aliada de clínicas de estética A cada dia, mais produtos e equipamentos são criados e melhorados em prol da beleza. Com procedimentos menos ou mais invasivos, há inúmeros tipos de tratamentos para as mais variadas necessidades de homens e mulheres. Lasers e radiofrequência proporcionam resultados cada vez mais efetivos na busca da estética corporal. Outro avanço tecnológico são os cosmecêuticos, cada vez mais modernos em nanotecnologia, lipossomas e outras formas que lhes conferem poder de permear ainda mais facilmente na pele. Entretanto, quando falamos na tecnologia como aliada de clínicas de estética, não nos referimos apenas aos equipamentos e às substâncias utilizadas. A tecnologia pode auxiliar em diversas frentes: por exemplo, quando uma clínica dispõe de um sistema integrado de gestão, torna-se possível mensurar resultados, gerar relatórios, mapear público-alvo, criar relacionamento com clientes, manter as contas em dia e o agendamento organizado, entre muitas outras possibilidades. O tecnólogo e a tecnologia6 Tecnologia é conhecimento, mas nem todo conhecimento é tecnologia. De acordo com Barbieri (2004), tecnologia é um conjunto de conhecimentos de diferentes tipos, científicos e outros, que pode ser utilizado em qualquer ramo de atividade. Todas as tecnologias, da engenharia civil à biotecnologia, da administração à estética e à cosmética, devem ser racionais, utilizando a melhor ciência básica disponível, e devem contribuir para modificar a realidade de uma forma eficiente. Artefatos tecnológicos devem apresentar eficiência, confiabilidade, durabilidade, segurança, disponibilidade, rentabilidade, facili- dade para o usuário ou algum outro atributo não-cognitivo. Fica evidente, com base em tais noções, que a tecnologia deve ser sistematicamente desenvolvida, tendo seus efeitos práticos em perspectiva. Ora, considerando-se que a formação em CST envolve o estudo sistemático do conhecimento — afinal de contas, estamos nos referindo a uma graduação — com ênfase na prática a que se refere, as articulações entre os tecnólogos e a tecnologia se torna evidente. O papel da tecnologia na formação do tecnólogo, inclusive, está expresso na legislação que regulamenta a oferta de cursos tecnológicos no Brasil. De acordo com o Parecer CNE/CP nº. 29/2002, que trata das Diretrizes Curri- culares Nacionais no Nível de Tecnólogo (BRASIL, 2002), a formação dos tecnólogos tem como objetivo [...] capacitar o estudante para o desenvolvimento de competências profissio- nais que se traduzam na aplicação, no desenvolvimento (pesquisa aplicada e inovação tecnológica) e na difusão de tecnologias, na gestão de processos de produção de bens e serviços e na criação de condições para articular, mobi- lizar e colocar em ação conhecimentos, habilidades, valores e atitudes para responder, de forma original e criativa, com eficiência e eficácia,aos desafios e requerimentos do mundo do trabalho (BRASIL, 2002, documento on-line). Para tanto, o art. 2º do Projeto de Resolução do Parecer no 29/2002 (BRA- SIL, 2002) define que os CSTs deverão: � incentivar o desenvolvimento da capacidade empreendedora e da compreensão do processo tecnológico, em suas causas e efeitos; � incentivar a produção e a inovação científico-tecnológica e suas res- pectivas aplicações no mundo do trabalho; � desenvolver competências profissionais tecnológicas, gerais e espe- cíficas, para a gestão de processos e a produção de bens e serviços; � propiciar a compreensão e a avaliação dos impactos sociais, econômicos e ambientais resultantes da produção, da gestão e da incorporação de novas tecnologias; 7O tecnólogo e a tecnologia � promover a capacidade de continuar aprendendo e de acompanhar as mudanças nas condições de trabalho, bem como propiciar o prossegui- mento de estudos em cursos de pós-graduação; � adotar a flexibilidade, a interdisciplinaridade, a contextualização e a atualização permanente dos cursos e seus currículos; � garantir a identidade do perfil profissional de conclusão de curso e da respectiva organização curricular. Dessa forma, podemos constatar que a própria definição da estrutura curricular dos CSTs deve privilegiar sua convergência com os elementos tecnológicos, o que, evidentemente, refletirá nas competências desenvolvidas pelos tecnólogos. Assim, a relação entre a tecnologia e o tecnólogo se estabe- lece à medida que o tecnólogo estuda, pesquisa, analisa, desenvolve, avalia e aperfeiçoa recursos diversos. Conforme mencionam Reis e Reis (2012), os CSTs se propõem a oferecer condições para o desenvolvimento tecnológico nas mais diversas áreas, principalmente no setor industrial brasileiro. A tecnologia é disseminada por meio de serviços, como assessoria técnica e tecnológica, ensaios laboratoriais, pesquisa aplicada, difusão de informação tecnológica e, principalmente, educação profissional, que possui o intuito de formar uma massa crítica capaz de pensar e repensar continuamente o processo produtivo. Isso implica considerar que os tecnólogos possuem um papel relevante para o desenvolvimento do próprio País, em termos produtivos, sociais e econômicos. De acordo com Machado (2008), os tecnólogos podem se envolver com os seguintes tipos de tecnologia: 1. Tecnologias físicas: quando suas atividades se concentram sobre proces- sos mecânicos, térmicos e eletromagnéticos presentes no funcionamento das ferramentas, máquinas, equipamentos, mecanismos e instalações. 2. Tecnologias simbólicas: relacionadas aos processos e modos de per- cepção e compreensão humana, envolvendo modelos teóricos relativos à concepção da realidade natural e social. Inclui símbolos, códigos, indicadores, parâmetros, conceitos, bancos de dados, etc. 3. Tecnologias de organização e de gestão: quando se dedicam a processos e modos de vida, de trabalho e de produção, do acompanhamento e con- trole dos meios e dos resultados das mais diversas atividades humanas. Assim como ocorre na formação do tecnólogo, que é predominantemente voltada à prática, a tecnologia é orientada para fins práticos e resolutórios. O conhecimento tecnológico, embora multifacetado e abrangente, unifica-se em O tecnólogo e a tecnologia8 seu objeto: os meios de conceber, organizar, gerenciar e executar o trabalho nas mais diversas áreas profissionais e nas atividades lúdicas e de consumo próprio. Considerando-se que é atribuição do tecnólogo contribuir para o desenvolvimento local ou regional, a tecnologia consiste no mecanismo para que isso se torne viável. O fato é que não há país desenvolvido sem ciência e tecnologia. Os tecnó- logos possuem um papel crucial em quaisquer circunstâncias, inclusive – e especialmente – em tempos de crise. Em um mundo no qual inovação e evolução tecnológica estão na ordem do dia, os tecnólogos, que atuam em praticamente toda a cadeia produtiva, são peças fundamentais para a modernização, e o Brasil precisa reconhecer essa importância. Desenvolvimento tecnológico: vantagens e importância da atuação do tecnólogo A sociedade moderna é altamente dependente dos recursos tecnológicos. Para que você compreenda melhor essa relação de dependência, imagine-se vivendo sem energia elétrica, automóvel, internet e celular. Assustador, não é? O desenvolvimento tecnológico trouxe facilidades, conexão, conforto, acesso ao conhecimento, melhoria na qualidade e na expectativa de vida. Observe como, no âmbito da saúde, avanços tecnológicos, como antibióticos, vacinas, próteses, marcapassos, transplantes e exames de imagem, contribuem para que vivamos mais, e melhor. Muito embora o desenvolvimento tecnológico seja percebido como po- sitivo por aqueles que se beneficiam dele, há alguns efeitos perversos, que não podemos deixar de considerar. Nesse sentido, podemos mencionar o surgimento de grandes desigualdades sociais, que ocasionaram a classificação das nações em primeiro, segundo e terceiro mundo, conforme seu grau de desenvolvimento tecnológico. Além disso, outro relevante impacto provocado pelo avanço da tecnologia consiste na degradação da natureza. Não por acaso, o conceito de sustenta- bilidade surgiu e ganhou forças como o grande ideal de países e nações no século XXI. No entanto, a humanidade, também por meio da tecnologia, conseguiu mensurar os danos causados e formular alternativas para viabilizar sua sobrevivência (RODRIGUES; RODRIGUES, 2015). O fato é que o desenvolvimento tecnológico não ocorre em um vácuo: é influenciado ao mesmo tempo em que influencia o contexto social, cultu- ral, político e econômico. E, numa sociedade tão densamente tecnológica, 9O tecnólogo e a tecnologia conforme mencionado por Machado (2008), mais tecnólogos — com mais e melhor formação científica e tecnológica — serão necessários para melhorar as condições de vida e de trabalho e resolver, inclusive, os problemas decor- rentes das desigualdades nas disputas e decisões relacionadas à criação e à utilização de tecnologias. Considerando que existem interesses sociais contraditórios e que a produção tecnológica permeia tais aspectos, tornou-se urgente que essas questões sejam tratadas muito além do âmbito acadêmico e profissional. Nesse sentido, os profissionais da área tecnológica e científica — notadamente os tecnólogos — detêm um poder e uma responsabilidade que extrapolam o exercício mera- mente técnico da sua profissão, os quais devem ser exercidos considerando-se os problemas sociais, ecológicos e éticos gerados pela produção tecnológica (JACINSKI; SUSIN; BAZZO, 2008). Nos últimos anos, os grandes avanços do conhecimento científico, as modernas tecnologias e seus processos de produção não são facilmente com- preendidos, de modo que se faz necessária uma maior integração entre a realidade social/organizacional e a educação superior. Os CSTs, com sua dinâmica e ênfase nas demandas do mercado, revelam-se uma importante opção para que as conquistas científicas e tecnológicas sejam acessíveis de forma abrangente. Para tanto, o tecnólogo deverá receber uma sólida formação, com fundamentos tecnocientíficos e uma compreensão teórica e prática das atividades que executará, tornando-o apto a desenvolver, de forma plena, uma determinada área profissional (JUCÁ; OLIVEIRA; SOUZA, 2010). A formação de tecnólogos pressupõe o desenvolvimento de competências profissionais que, conceitualmente, não podem se limitar ao conhecimento. Para fins do Parecer CNE/CP nº. 29/2002, “[…] alguém tem competência profissional quando constitui, articula e mobiliza valores, conhecimentos e habilidades para a resolução de problemas não só rotineiros, mas também inusitados em seu campo de atuação profissional” (BRASIL, 2002, documento on-line). Machado (2008) reforça essas noções ao mencionar que a incorporação de inovações tecnológicas pelo processo produtivo e as mudanças na organização das formas de trabalhar e nas relaçõesprofissionais requerem uma qualificação profissional superior para atividades de maior complexidade. Nesse sentido, considerando-se que o tecnólogo corresponde a uma profissão de nível superior amparada na tecnologia, seu papel se torna indiscutivelmente importante para que os novos desafios sejam enfrentados com eficiência e eficácia. O tecnólogo e a tecnologia10 É preciso considerar, também, que o conhecimento se torna obsoleto com muita rapidez, porém o profissional precisa ser capaz de continuar dando res- postas eficazes aos novos desafios. Por essa razão, a formação profissional se torna cada vez mais importante, sobretudo por estar intimamente relacionada às contínuas e profundas transformações sociais ocasionadas pela velocidade com que têm sido gerados novos conhecimentos científicos e tecnológicos, sua rápida difusão e seu uso pelo setor produtivo e pela sociedade em geral (JUCÁ; OLIVEIRA; SOUZA, 2010). Destaca-se novamente a importância do tecnólogo, não apenas como um profissional apto a acompanhar o mundo em constante transformação, mas também enquanto agente de mudança. Com sua formação voltada para a aplicação, o desenvolvimento e a difusão de tecnologias, associada à capacidade empreendedora, o tecnólogo possui inegável potencial para fomentar o desenvolvimento tecnológico, contribuindo não apenas com seu contexto local e regional, mas também com a sociedade de forma ampla. Um excelente exemplo histórico que demonstra a importância dos inves- timentos em formação tecnológica para o desenvolvimento social e nacional nos é fornecido pela Alemanha. No século XIX, após sua unificação política, a Alemanha passou a investir na criação de um amplo sistema de ensino tecnológico. Como consequência, a qualificação profissional proporcionou ao país, no início do século XX, a liderança em alguns ramos industriais que mais demandavam conhecimento especializado, como a indústria química, por exemplo (BRASIL, 2002). Contemporaneamente, o desenvolvimento tecnológico e a inovação de um país continuam dependendo, em grande parte, da formação de recursos humanos capacitados, bem como de investimentos consistentes, contínuos, de longo prazo e de porte. A Coreia do Sul é outro exemplo do sucesso da aplicação dessa concepção. O país investiu na formação de profissionais, em nível de graduação, habilitando-os para atuar em diversos segmentos do desenvolvimento tecnológico. As inovações geradas produziram o retorno desejado, e o setor produtivo assumiu o papel de financiamento e execução das pesquisas, sustentando, hoje, cerca de 75% dos investimentos, nível encontrado apenas nos países desenvolvidos (FELIPE, 2007). No caso do Brasil, a ampliação da participação brasileira no cenário global, bem como o fortalecimento do mercado interno, dependerão fundamental- mente de uma capacitação tecnológica que proporcione aos profissionais competências para perceber compreender, criar, produzir e adaptar insumos, produtos e serviços. Na medida em que as tecnologias de ponta apresentam uma conexão cada vez mais estreita com o conhecimento científico, o papel 11O tecnólogo e a tecnologia do tecnólogo, de quem se espera uma aptidão para a aplicação da tecnologia associada à capacidade de contribuir para a pesquisa, torna-se ainda mais estratégico (BRASIL, 2002). Ainda que, ao longo das últimas três décadas, tenhamos observado importantes avanços na formação tecnológica brasileira, boa parte das tecnologias industriais utilizadas atualmente são importadas. Em certa medida, esse fator pode afetar a competitividade internacional das nossas empresas, e até mesmo comprometer seu desempenho no mercado interno. O fato é que a tecnologia, enquanto saber que se aprende, é decisiva para a atuação de empresas e para o desenvolvimento econômico do País, e os tecnólogos possuem um papel fundamental nisso. O desenvolvimento tecnológico tem afetado profundamente o homem, o meio ambiente e as instituições, de uma forma sem precedentes na história da humanidade. As novas tecnologias alteram hábitos, valores e tradições, que até pouco tempo atrás pareciam imutáveis. Nesse contexto, os tecnólogos têm desempenhado um papel decisivo, e, certamente, contribuirão de forma ainda mais significativa para os avanços que ainda estão por vir. BARBIERI, J. C. (org.). Organizações inovadoras: estudos e casos brasileiros. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. BRASIL. Decreto nº. 5.773, de 9 de maio de 2006. Dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 10 maio 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/ pdf/legislacao/decreton57731.pdf. Acesso em: 19 maio 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Catálogo nacional de cursos superiores de tecnologia. 3. ed. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2016. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=44501-cncst-2016- 3edc-pdf&category_slug=junho-2016-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 19 maio 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Parecer nº. 29/2002. Diretrizes curriculares nacionais gerais para a educação profissional de nível tecnológico. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 13 dez. 2002. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/cp29. pdf. Acesso em: 15 maio 2019. FELIPE, M. S. S. Desenvolvimento tecnológico e inovação no Brasil: desafios na área de biotecnologia. Novos estudos — CEBRAP, São Paulo, n. 78, p. 11–14, jul. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/nec/n78/02.pdf. Acesso em: 18 maio 2019. O tecnólogo e a tecnologia12