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Tema 02 – JULGAMENTO CONFORME O 
ESTADO DO PROCESSO – PARTE II 
 
Para obtermos uma solução judicial em relação a uma pretensão, logo 
imaginamos todo o curso do processo, ou seja, a apresentação da inicial, a citação, a 
contestação, neste meio há apresentação e produção de provas, após teremos a 
manifestação judicial em relação ao que lhe foi apresentado, para que ao final, pelo 
menos na primeira instância, seja proferida uma sentença de mérito. Contudo, referida 
marcha processual pode ser feita de uma outra maneira, dependendo da situação do 
bem jurídico, como é o caso das tutelas de urgência e evidência, mas, temos outras 
situações, como é o caso do julgamento conforme o estado do processo, situação na 
qual iremos verificar neste capítulo. 
 
JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO 
 
É perfeitamente possível que o pedido seja julgado de forma parcial. O Código 
de Processo Civil de 2015 rompeu a ideia de que não seria possível o julgamento 
fracionado do mérito, pois na sistemática do novo código, o julgamento antecipado de 
mérito é perfeitamente possível. 
A decisão proferida, que antecipa uma parte do pedido, pode ser atacada por 
meio de recurso de agravo. Vejamos essas questões na legislação. 
O julgamento antecipado parcial de mérito está localizado no art. 356 do 
Código de Processo, oportunidade em que veremos as suas disposições a seguir: 
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos 
pedidos formulados ou parcela deles: 
I - mostrar-se incontroverso; 
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 
355 . 
§ 1º A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a 
existência de obrigação líquida ou ilíquida. 
§ 2º A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação 
reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, 
independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa 
interposto. 
§ 3º Na hipótese do § 2º, se houver trânsito em julgado da decisão, a 
execução será definitiva. 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art355
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art355
 
 
 
 
§ 4º A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente 
o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a 
requerimento da parte ou a critério do juiz. 
§ 5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por 
agravo de instrumento. 
 
Analisando as disposições do art. 356, podemos ver que o juiz decidirá 
parcialmente o mérito quando um ou mais pedidos formulados ou uma parcela deles 
se mostrarem incontroversos, ou seja, não restarem dúvidas quanto a sua existência 
e razão, não necessitando de dilação probatória para que o juízo seja feito. 
Outra questão que nos chama atenção no art. 356, é a disposição do inciso II, 
do art. 356, que deixa claro que o juiz decidirá o mérito quando o pedido estiver em 
condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355 do Código de Processo 
Civil. As disposições do art. 355 serão vistas a seguir: 
Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença 
com resolução de mérito, quando: 
I - não houver necessidade de produção de outras provas; 
II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver 
requerimento de prova, na forma do art. 349 . 
 
Poderá, conforme disposição do inciso II, do art. 356, quando não houver 
necessidade de produção de outras provas, e também se o réu for revel (não 
apresentar contestação por exemplo), ocorrer o efeito previsto no art. 344 do Código 
de Processo Civil e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349 do mesmo 
diploma legal. 
Podemos nos perguntar, como iremos saber se será necessária, ou não, a 
produção de outras provas? Vamos nos fazer algumas perguntas. 
- Todo o procedimento tem produção de prova? 
- Qual a finalidade da prova? 
Provas são situações que vão se mostrar necessárias, quando no processo 
houver controvérsia acerca de questões fáticas. Isso se aplica a situações em que 
estamos discutindo fatos. Se há controvérsia em relação a ocorrência de fatos no 
processo, demanda produção de prova, caso contrário, não faz sentido a produção de 
prova. 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art344
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art349
 
 
 
 
Ex: O autor ajuíza uma ação contra uma empresa de plano de saúde. O autor, 
no momento da assinatura do plano de saúde, assinou inúmeros formulários. O autor, 
levou o contrato para análise de um advogado, e o profissional alertou o autor sobre 
a existência de uma cláusula abusiva (que não respeita os limites e princípios 
contratuais). Feito isso, o autor ingressou com uma ação em desfavor da empresa de 
plano de saúde. 
Feita a citação, a empresa de plano de saúde (réu), informou no processo que 
não há no que se falar em cláusula abusiva, e apresentou os seus argumentos para 
desconstituir a narrativa do autor. 
Neste interim, o processo foi para a mesa do juiz, para que o mesmo pudesse 
decidir. Neste caso, seria necessária a produção de provas? As partes se 
controvertem acerca dos fatos? 
No presente caso não seria necessária a produção de prova, pois não temos 
aqui uma discussão sobre fatos (coisas da vida, que acontecem no dia a dia). Em 
relação aos fatos, as partes estão concordes, pois existe a relação contratual entre o 
autor, e o plano de saúde. O que realmente está sendo discutido no caso é uma 
questão de direito e não de fato. 
Uma matéria de direito significa dizer que “o juiz conhece”, não sendo 
necessária prova para convencê-lo da existência da situação. Aqui no exemplo, o juiz 
avaliará a petição inicial do autor, e a contestação do réu, e após poderá decidir, sem 
a necessidade de produção de provas. Aqui, poderá decidir que a cláusula do contrato 
é abusiva, ou não. 
Vamos imaginar agora uma outra situação. 
O autor ajuíza uma ação dizendo que estava andando de carro em uma 
avenida, quando o réu passou correndo inadvertidamente no meio da avenida, sendo 
que o semáforo estava fechado para o mesmo, e tendo em vista tal situação, o autor 
teve que desviar do réu, colidindo o carro com outro que estava ao lado, e neste 
sentido, requer o autor que seja ressarcido pelo réu pelas despesas em relação ao 
veículo que foi batido, pois o réu não poderia atravessar a rua com o sinal vermelho. 
O réu, recebendo a inicial, rebate o que o autor trouxe dizendo que não estava 
correndo no meio da avenida, e que estava na faixa de pedestres, e que o sinal estava 
 
 
 
 
verde, e não vermelho para a travessia de faixa, dizendo que a versão do autor é 
mentirosa, e a do réu que é a verdadeira. 
O juiz no caso conhece o direito, conhece as leis, contudo não sabe sobre os 
fatos. O juiz no caso, nunca irá saber o que realmente ocorreu na situação, com base 
apenas em conhecimento jurídico, ele precisará no caso de provas em relação ao que 
de fato ocorreu, e ao final valorar para verificar quem estava de fato falando a verdade 
na situação. Há controvérsia no caso. 
Marcus Vinicius Rios Gonçalves, em relação ao julgamento antecipado parcial 
de mérito nos esclarece o seguinte: 
Concluída a fase postulatória, pode acontecer que não seja possível 
promover o julgamento imediato de todos os pedidos, mas que alguns 
deles estejam em condições de julgamento. O CPC autoriza o juiz a 
proferir o julgamento de mérito parcial, de um ou alguns dos pedidos, 
ou parte deles, sem pôr fim ao processo ou à fase de conhecimento, 
que devem prosseguir porque os demais pedidos ou parte deles 
precisam ser instruídos. Essa possibilidade não existia no CPC 
anterior, que não admitia a cisão do julgamento do mérito. Todos os 
pedidos, na lei anterior, deviam ser julgados ao mesmo tempo na 
sentença, ainda que no curso do processo um deles ficasse 
incontroverso ou não necessitasseno procedimento para ajustá-lo às 
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e 
deveres processuais, antes ou durante o processo. 
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções 
previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de 
inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em 
manifesta situação de vulnerabilidade. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
 
 
 
 
possibilidade de aplicarmos ou não, a regra dos elementos constitutivos de um 
negócio jurídico material para o âmbito dos negócios jurídicos processuais. 
No campo do direito material, por exemplo, sabemos que para constituir um 
negócio jurídico de acordo com a teoria da “Escada Ponteana” e com os preceitos do 
Código Civil, há de se obedecer a alguns requisitos, como a capacidade dos agentes, 
a licitude do objeto, dentre outros fatores. A pergunta aqui seria se no campo dos 
negócios jurídicos processuais conseguiríamos aplicar regras de direito material a sua 
essência, e se seria possível aplicarmos os preceitos de existência, validade e 
eficácia, de acordo com a teoria da “Escada Ponteana” no que se refere aos negócios 
jurídicos processuais. 
Pedro Henrique Nogueira nos alerta sobre o seguinte: 
É preciso perceber, de início, que o negócio jurídico não é e não fora 
conceito exclusivo do direito privado. É possível tratar o negócio 
jurídico como categoria geral, o que, por óbvio, não afasta o seu 
estudo particular no contexto de cada disciplina específica a partir dos 
diversos setores do ordenamento jurídico, conforme suas respectivas 
exigências e peculiaridades. Negócio jurídico é um conceito lógico-
jurídico, integrante da Teoria Geral do Direito.32 
 
Sendo então o negócio jurídico parte da Teoria Geral do Direito, podemos 
afirmar que há aqui possibilidade de customização de alguns preceitos vindos do 
direito material para o direito processual, uma vez que este último ramo do direito, 
possui suas próprias especificidades e características. 
Abre a possibilidade então de pensarmos em qual tipo de regime jurídico 
iremos aplicar aos negócios jurídicos processuais. Pedro Henrique Nogueira nos 
explica que essa resposta terá que ser dada à luz do direito positivo, pois a disciplina 
que se impõe aos negócios jurídicos processuais não é algo preestabelecido.33 
 O autor citado exemplifica essa situação, a partir da análise da regra presente 
no artigo 486, do antigo CPC de 1973, no qual elucidava que “os atos judiciais, que 
 
32 NOGUEIRA. Pedro Henrique. Negócios jurídicos processuais. 4 ed. Rev., ampl e atual. 
Salvador. Ed. JusPodivm, 2020, p. 176 
33 NOGUEIRA. Pedro Henrique. Negócios jurídicos processuais. 4 ed. Rev., ampl e atual. 
Salvador. Ed. JusPodivm, 2020, p. 187. 
 
 
 
 
não dependem de sentença, ou em que esta for meramente homologatória, podem 
ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil34, e é o que 
podemos verificar também, na disposição do § 4º, do artigo 966, do CPC 2015. 
Se por um acaso o negócio jurídico processual contiver alguma falha, a própria 
lei processual nos remete a lei civil para efetuar a resolução do problema. 
Podem ocorrer momentos em que a disposição presente no §4º do dispositivo 
em comento, não conseguirá enquadrar certas situações, e por isso teremos que nos 
socorrer nas regras presentes no direito material35. 
Para ilustrar essa situação, podemos trazer o seguinte exemplo: 
Em uma audiência de saneamento compartilhado do feito, uma pessoa 
jurídica convenciona que produzirá determinada prova testemunhal, invertendo ônus 
que seria da outra parte, porque seu preposto viu os fatos e poderia contribuir com a 
produção da prova sem qualquer prejuízo. Entretanto, a pessoa jurídica ignorava que, 
quando se obrigou perante a outra parte e o juiz, aquele preposto, que estava de 
férias, já havia falecido. Nesse exemplo, verifica-se que a única razão para a 
celebração do negócio era o fato de que o preposto estaria vivo para prestar seu 
depoimento. Materialmente, o exemplo trata claramente de um objeto impossível, 
previsto no artigo 166, inciso II, do Código Civil de 2002, uma vez que, em tese, é 
impossível um morto depor. Acontece que o sistema de validades do Código de 
Processo Civil simplesmente não oferece solução para essa situação, porque não há 
previsão genérica de invalidade de negócio jurídico36. 
 
34 NOGUEIRA. Pedro Henrique. Negócios jurídicos processuais. 4 ed. Rev., ampl e atual. 
Salvador. Ed. JusPodivm, 2020, p. 187. 
35 NOGUEIRA. Pedro Henrique. Negócios jurídicos processuais. 4 ed. Rev., ampl e atual. 
Salvador. Ed. JusPodivm, 2020, p. 188. 
 
36 Exemplo retirado da dissertação de mestrado de ANDRIOTTI, Rommel. Validade dos 
Negócios Jurídicos Processuais: Uma abordagem material e instrumental / Rommel 
Andriotti. – 2019. 237 f. Dissertação de mestrado (pós-graduação stricto sensu) – 
 
 
 
 
De acordo com a situação exposta, não há que se falar em resolução do 
problema com normas de direito processual, e sim, com normas de direito material, e 
o que conseguimos observar no final, é um diálogo, necessário, entre dois ramos do 
Direito, que é o Diálogo das Fontes37. 
 
Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo (FADISP), Mestrado em Função Social do 
Direito, com concentração em Direito Civil, 2019. p. 68. 
37 A Teoria do Diálogo das Fontes visa propiciar uma aplicação mais harmoniosa e 
consentânea das normas do ordenamento jurídico a partir da concepção de que há 
situações nas quais elas se complementam e influenciam. Os postulados da teoria do 
diálogo das fontes auxiliam na substituição da visão que levava com exacerbada dureza 
e inflexibilidade a aplicação dos critérios clássicos de solução de antinomias. 
É preciso, pois, uma visão moderna do ordenamento jurídico, que seja tanto objetiva 
para impedir aplicações normativas subjetivas e ilógicas, mas aberta para permitir a 
porosidade do sistema e o diálogo entre suas fontes, estabelecendo premissas sistêmicas 
gerais e confiáveis. 
Até porque se torna cada vez menos possível ao estudioso a pretensão de saber todo o 
regramento jurídico de seu país, dada a multiplicação caleidoscópica das leis. Esse 
fenômeno foi tratado de forma sublime pelo jurista argentino Ricardo Luís Lorenzetti, 
autor da alegoria conhecida como Big Bang Legislativo, em que se aduz haver uma perda 
da centralidade da legislação dita codificada, cujo nome o autor critica, já que uma 
imensidão de normas é editada dia após dia, tratando de temas cada vez mais específicos 
e, portanto, afastando muitas vezes as normas gerais, notadamente os códigos. Como, 
então, aplicar premissas gerais em um sistema cada vez mais assimétrico? Aquele autor 
responde: a nova baliza para o jurista é a constitucionalização do Direito Privado. Ele 
diz: “os códigos perderam sua centralidade, porquanto esta se desloca 
progressivamente. O Código é substituído pela constitucionalização do Direito Civil, e o 
ordenamento codificado pelo sistema de normas fundamentais” - ANDRIOTTI, Rommel. 
Validade dos Negócios Jurídicos Processuais: Uma abordagem material e instrumental / 
Rommel Andriotti. – 2019. 237 f. Dissertação de mestrado (pós-graduação stricto sensu) 
– Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo (FADISP), Mestrado em Função Social 
do Direito, com concentração em Direito Civil, 2019. p. 65. 
 
 
 
 
Quanto ao Diálogo das fontes, podemos afirmar que há três tipos de diálogos 
possíveis, conforme explica Claudia Lima Marques38, que seriam: um diálogo 
sistemático de coerência, o diálogo sistemático de complementaridade ou 
subsidiariedade e o diálogo das influências reciprocas sistemáticas.Rommel Andriotti nos explica cada um desses diálogos da seguinte forma: 
Há um diálogo sistemático de coerência porque realmente uma lei 
serve de base conceitual para a outra. Por exemplo, quando no Código 
de Processo Civil se consigna “contrato de adesão”, a compreensão 
do que seja isso demanda, necessariamente, que se recorra a 
dispositivos de leis civis materiais, no caso o art. 54 da Lei n. 
8.078/90145, ou os arts. 423 e 424 do Código Civil de 2002. 
Podemos identificar também a presença de diálogos sistemáticos de 
complementaridade, porque realmente os princípios de um sistema 
são aplicáveis, no que couber, ao outro, e vice-versa. 
Também se aplica o diálogo das influências recíprocas sistemáticas 
nos negócios jurídicos processuais, pois existe uma redefinição do 
campo de atuação de uma lei pela outra. Assim, a definição da 
vulnerabilidade no Código de Defesa do Consumidor pode sofrer 
influências finalísticas do Código de Processo Civil, de modo que 
determinados consumidores não sejam considerados vulneráveis para 
os fins de utilização de negócios jurídicos processuais. Ademais, 
conclusões jurisprudenciais utilizadas para o sistema de negócios 
jurídicos podem ser transpostas, no que couber, para o âmbito dos 
negócios jurídicos processuais. Existem, pois, influências recíprocas 
sistemáticas que justificam a utilização do Diálogo das Fontes39. 
 
Podemos ir um pouco mais além em relação aos negócios jurídicos 
processuais. Podemos afirmar sobre a existência dos três planos do negócio jurídico 
processual. 
Os negócios jurídicos processuais, conforme vimos até aqui, são atos 
voluntários humanos, que possuem a intenção de regular certa situação de cunho 
 
38 BENJAMIN, Antonio Herman V.; BESSA, Leonardo Roscoe; MARQUES, Claudia Lima. 
Manual de direito do consumidor, cit., 135. 
39 ANDRIOTTI, Rommel. Validade dos Negócios Jurídicos Processuais: Uma abordagem 
material e instrumental / Rommel Andriotti. – 2019. 237 f. Dissertação de mestrado (pós-
graduação stricto sensu) – Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo (FADISP), 
Mestrado em Função Social do Direito, com concentração em Direito Civil, 2019. p. 68. 
 
 
 
 
 
procedimental. Algumas perguntas e questionamentos nos vem a mente quando 
pensamos, por exemplo, em quem seriam as partes de um negócio jurídico 
processual, ou quais seriam os seus elementos constitutivos. 
O que define a existência de um negócio jurídico de cunho procedimental? E 
sua validade, como posso analisá-la? Ou pior, como consigo verificar se esse negócio 
jurídico é de fato eficaz? 
São perguntas que merecem respostas, e que conseguiremos responder a 
partir da análise dos três planos do negócio jurídico, só que agora com ênfase no 
direito processual, conforme a seguir. 
 
Em relação ao plano da existência 
 
Como já sabemos, no plano da existência estão os pressupostos para um 
negócio jurídico, ou seja, os seus elementos mínimos, enquadrados por alguns 
autores dentro dos elementos essenciais do negócio jurídico40, que são os 
pressupostos de existência, quais sejam: agente, vontade, objeto e forma. 
Consoante com o que vimos até aqui, podemos utilizar regras aplicadas ao 
direito material, para o direito processual, respeitando as suas especificidades. Se 
aplicarmos tais regras, precisamos antes de tudo, analisar se o acontecimento de fato 
ocorreu, ou se realmente existiu. 
É o que alerta Pedro Henrique Nogueira: 
o plano da existência traça os limites entre o que é e o que não é 
jurídico. Somente a partir daí é que se poderá cogitar da validade, 
invalidade, eficácia ou ineficácia do ato jurídico. Só se cogita da 
nulidade, anulabilidade ou outro tipo de invalidade, ou de ineficácia 
daquilo que juridicamente existe. É algo que não pode ser disposto 
pelo legislador41. 
 
 
40 TARTUCE, Flávio. Direito civil. 16. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 
2020. v. 1: Lei de Introdução e parte geral, p. 426. 
41 NOGUEIRA. Pedro Henrique. Negócios jurídicos processuais. 4 ed. Rev., ampl e atual. 
Salvador. Ed. JusPodivm, 2020, p. 206. 
 
 
 
 
Os negócios jurídicos processuais, assim como os negócios jurídicos em 
geral, são oriundos de fatos humanos voluntários, o que decorre naturalmente de uma 
declaração de vontade, que é o primeiro elemento de um negócio jurídico processual. 
Em decorrência disso e observando o processo em si, essa manifestação de 
vontade deverá ser formalizada respeitando os atos do processo, ou seja, se há um 
procedimento em curso, o destinatário dessa manifestação de vontade deverá ser 
notificado. Essa exigência não se aplica aos negócios extraprocedimentais, já que 
esses atos entram no mundo jurídico com a simples manifestação de vontade 
(renúncia ao direito litigioso feita em documento extrajudicial), gerando inclusive, de 
regra, as situações jurídicas processuais correspondentes42. 
Podemos dizer que o primeiro elemento de um negócio jurídico processual é 
a manifestação de vontade, que ocorrerá dentro um procedimento, e que necessitará 
de uma notificação ao destinatário, para que este conheça o seu ato de vontade. 
Em relação ao segundo elemento integrante do negócio jurídico processual, 
no que tange ao plano da existência, está o autorregramento da vontade, que consiste 
no poder de escolha da categoria jurídica ou das situações jurídicas que configurarão 
a sua eficácia. 
Pedro Henrique Nogueira nos explica que no processo: 
o autorregramento da vontade é bem mais restrito do que nas relações 
de direito privado. Em muitos dos negócios processuais, inclusive, os 
efeitos já estão todos pré-estabelecidos na norma processual (o efeito 
jurídico-processual da desistência do recurso é a extinção do 
procedimento recursal e o trânsito em julgado do capítulo da decisão 
que fora recorrido; não há como o recorrente modificar, com sua 
vontade, esses efeitos). Isso, contudo, não lhe retira o caráter 
negocial, porque há, nessas situações, liberdade de escolha, embora 
em grau mínimo (pode a parte escolher entre desistir ou não, ou entre 
desistir do recurso no todo ou em parte)43. 
 
 
42 NOGUEIRA. Pedro Henrique. Negócios jurídicos processuais. 4 ed. Rev., ampl e atual. 
Salvador. Ed. JusPodivm, 2020, p. 207. 
43 NOGUEIRA. Pedro Henrique. Negócios jurídicos processuais. 4 ed. Rev., ampl e atual. 
Salvador. Ed. JusPodivm, 2020, p. 208. 
 
 
 
 
 
 
O autorregramanto, conforme sugere Pedro Henrique Nogueira, seria o objeto 
do negócio jurídico processual. 
O que faz um negócio jurídico ser qualificado como processual, será o 
procedimento existente no qual ele se faz integrante. 
Em síntese, o plano da existência nos negócios jurídicos processuais será 
qualificado a partir da manifestação de vontade das partes integrantes de um 
procedimento já existente, e que vise o autorregramento de situações processuais. 
Os agentes serão as partes do processo, a vontade será manifestada por essas 
partes, o objeto será o autorregramento de situações jurídico-processuais e sua forma 
será definida a partir dos parâmetros de um processo. 
Feita a análise do plano da existência do negócio jurídico processual, 
podemos analisar agora o plano da validade no tópico seguinte. 
 
Em relação ao plano da validade dos negócios jurídicos processuais 
 
Os elementos do plano da existência, precisam agora ganhar suas 
respectivas qualidades, e para isso precisamos verificar os requisitos objetivos e 
subjetivos estabelecidos no sistema processual, no qual determina se esses 
elementos irão, ou não, entrar no plano da validade dos negócios jurídicos 
processuais. 
Em termos subjetivos, exige-se, como nos atos processuais em geral, a 
capacidade processual e a capacidade postulatória para as postulações, e, em 
relação aos negócios jurídicos processuais judiciais, a competência e 
imparcialidade44. Exigências como essas, de ordem subjetiva, não se aplicam a 
diversos atos-fatos processuais, uma vez que elesnão ingressam no plano da 
validade. 
 
44 NOGUEIRA. Pedro Henrique. Negócios jurídicos processuais. 4 ed. Rev., ampl e atual. 
Salvador. Ed. JusPodivm, 2020, p. 208. 
 
 
 
 
Quanto aos termos objetivos, é exigido o respeito ao formalismo do processo, 
como uma petição inicial apta, ou formalidades da citação. Também, será necessário 
que do vício resulte um prejuízo, ou seja, que essa falha impeça a obtenção da 
finalidade do ato. 
Podemos citar como exemplo, um recurso objeto de desistência ou renúncia 
formulada em instrumento particular (fora dos autos) deve seguir o regime de direito 
processual quanto aos requisitos de validade, ele se podendo dizer quanto ao 
compromisso, celebrado na pendência do processo45. 
Importante destacar também, que regras sobre invalidade por vício da 
vontade nos negócios jurídicos civis se aplicam aos negócios jurídicos processuais, 
quer nos procedimentais, quer nos extraprocedimentais. 
Destaca-se também o posicionamento de Flávio Tartuce, que entende que 
os negócios jurídicos processuais estão mais submetidos à teoria das 
nulidades do Código Civil do que à teoria das invalidades processuais, 
especialmente pelo fato de serem expressões da autonomia privada. 
Sendo assim, é importante relembrar o estudo dos requisitos de 
validade, que constituem elementos essenciais do negócio jurídico, 
compondo o segundo degrau da Escada Ponteana46. 
 
O segundo degrau da “Escada Ponteana” mencionada por Flávio Tartuce, 
consiste no local em que podemos verificar quatro elementos, que seriam: a 
capacidade do agente, liberdade da vontade ou do consentimento, licitude, 
possibilidade e determinabilidade do objeto e adequação das formas. 
Nos negócios processuais, conforme vimos, existem elementos subjetivos, 
que são a capacidade postulatória, a competência e a imparcialidade, e os elementos 
objetivos, que consistem no formalismo do processo, ou seja, o meio apto a se fazer 
valer suas intenções no procedimento, sendo claro que tanto os elementos subjetivos, 
 
45 NOGUEIRA. Pedro Henrique. Negócios jurídicos processuais. 4 ed. Rev., ampl e atual. 
Salvador. Ed. JusPodivm, 2020, p. 209. 
 
46 TARTUCE, Flávio. O Novo CPC e o Direito e o Direito Civil. 2 ed. rev., e ampl. – Rio de 
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. p. 105. 
 
 
 
 
quanto os objetivos, ambos estão sujeitos as invalidades processuais e nas nulidades 
do Código Civil, por serem expressões de autonomia privada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016. 2 ed. 
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processual civil, parte geral e processo de conhecimento. 17 ed. Salvador. Ed. Jus 
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ampl e atual. Salvador. Ed. JusPodivm, 2020 
TARTUCE, Flávio. O Novo CPC e o Direito e o Direito Civil. 2 ed. rev., e ampl. 
– Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. 
TARTUCE, Flávio. Direito civil. 16. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: 
Forense, 2020. v. 1: Lei de Introdução e parte geral.de outras provas. Em caso de 
incontrovérsia, o juiz apenas podia conceder tutela antecipada. 
O CPC atual permite que o julgamento do mérito seja cindido em 
momentos diferentes. 
Estabelece o art. 356 que o juiz decidirá parcialmente o mérito quando 
um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles mostrar-se 
incontroverso ou estiver em condições de imediato julgamento, nos 
termos do art. 355. Imagine-se, por exemplo, que o autor formule duas 
pretensões na petição inicial. 
O réu, em contestação, impugna apenas os fatos em que se funda 
uma delas, tornando necessária a produção de provas, sem impugnar 
a outra. O juiz decidirá parcialmente o mérito, julgando a pretensão 
incontroversa, por decisão interlocutória, e determinará o 
prosseguimento do processo para a produção de provas em relação à 
outra pretensão. O processo só terá uma sentença, já que ela é o ato 
que lhe põe fim ou encerra a fase de conhecimento. Todavia, o mérito 
poderá ser apreciado não apenas na sentença, mas em decisões de 
mérito, proferidas em caráter interlocutório. Serão decisões 
interlocutórias de mérito as que, no curso do processo e antes da 
sentença, julgarem parcialmente as pretensões formuladas. A decisão 
pode dizer respeito a algumas dessas pretensões, quando houver 
cumulação, ou a parcela de uma delas. Esse julgamento antecipado 
parcial de mérito é feito por decisão interlocutória e não sentença, e o 
recurso cabível será o de agravo de instrumento (art. 1.015, II). 
Mas é feito em caráter definitivo e em cognição exauriente. 
Proferido o julgamento parcial, a parte poderá liquidar ou executar 
desde logo a obrigação reconhecida. Se houver agravo, e enquanto 
 
 
 
 
houver recurso pendente, a execução será provisória; se não, será 
definitiva. O art. 515, I, inclui entre os títulos judiciais a decisão 
proferida no processo civil que reconhecer a exigibilidade do 
cumprimento de obrigação, seja essa decisão interlocutória, seja 
sentença. Interposto o agravo, haverá sempre a possibilidade de 
retratação da decisão de mérito. Em razão da possibilidade de um dos 
pedidos ou parte dele ser julgado antes da sentença, por decisão 
interlocutória de mérito, o art. 502 denomina coisa julgada material a 
autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito 
(decisão aqui em sentido amplo, abrangendo sentenças e decisões 
interlocutórias) não mais sujeitas a recurso, e o art. 503 estabelece 
que a decisão que julga total ou parcialmente o mérito tem força de lei 
nos limites da questão principal expressamente decidida. 
É também por essa razão que o CPC prevê o cabimento de ação 
rescisória contra decisão de mérito (expressão que abrange as 
sentenças e decisões interlocutórias de mérito). O prazo para exercer 
o direito à rescisão continua sendo de dois anos, mas a contar do 
trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. Portanto, 
se houver mais de uma decisão de mérito, os dois anos não contarão 
do trânsito em julgado de cada uma delas, mas da última (art. 975).12 
 
Renato Montans, em relação ao julgamento antecipado parcial do mérito, nos 
traz o seguinte: 
O sistema processual brasileiro adotou definitivamente a teoria dos 
capítulos das decisões, permitindo haver julgamento fragmentado da 
causa. 
 
Assim, o magistrado decidirá parcialmente o mérito quando um ou 
mais dos pedidos, ou parcela deles, recair em uma destas hipóteses: 
 
I - Julgamento antecipado por incontroversibilidade Premissa 
fundamental: conforme dito, o Brasil sempre viveu sob a égide do 
princípio da unicidade do julgamento, ou seja, a decisão definitiva 
sobre o conflito somente poderia se dar em um único momento, por 
uma única decisão (sentença). Seria inconcebível imaginar o 
desmembramento da decisão para diversos momentos do 
procedimento. 
 
Aceitavam-se, na égide do CPC/73, poucas situações previstas em 
procedimentos especiais, como na prestação de contas e na divisão e 
demarcação de terras. 
 
Em 2002, o legislador estabeleceu uma ruptura nesse paradigma ao 
criar mais uma modalidade de tutela antecipada, acrescendo ao art. 
273 (do CPC/73) o § 6º, que assim estabelecia: “A tutela antecipada 
 
12 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8 Ed. São 
Paulo. Saraiva, 2017. p. 590. 
 
 
 
 
também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos 
cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso”. 
 
Assim, por exemplo, o autor ingressa em juízo para a cobrança de R$ 
1.000,00 contra determinado réu a respeito de certa relação jurídica 
entre eles avençada. Ao ser citado, este réu confessa a existência da 
dívida, mas se defende aduzindo que o valor, em verdade, é de R$ 
800,00. Este valor, conforme art. 374, II e III, do CPC/2015 é 
incontroverso. 
 
Contudo, como ainda existem R$ 200,00 “controvertidos”, o 
magistrado deveria prosseguir a demanda analisando integralmente o 
objeto litigioso para proferir sentença única. Esta sentença estava 
ainda sujeita a recurso de apelação, bem como os recursos de estrito 
direito. 
 
O longo itinerário do processo e a não fruição pelo autor do valor que 
lhe é devido decorrem do fato de que o sistema brasileiro não admite 
a fragmentação da lide para sua resolução em momentos distintos. 
Dessa forma, no caso apresentado, mesmo o réu confessando oitenta 
por cento do pedido, todo esse pedido seria levado a julgamento final 
e submetido ao efeito suspensivo da apelação. 
 
Esta realidade mudou com a Lei n. 10.444/2002, permitindo a tutela 
antecipada pelo incontroverso. Dessa forma, se um dos pedidos 
cumulados, ou parcela de um pedido, se mostrar incontroverso, 
poderá o magistrado antecipar esta fração de lide”. Afinal, se o direito 
poderá ser antecipado por mera verossimilhança (CPC/73, art. 273) 
com muito mais razão a tutela antecipada pode ser concedida com 
base em casos de incontrovérsia fática. 
 
O que está maduro para que seja julgado será. O que depender ainda 
de provas (porque ainda controverso) será levado adiante. 
 
Quando do advento do novo regramento e a despeito de a criação 
legislativa ter inserido a regra no procedimento da tutela antecipada, 
parcela da doutrina defendia o posicionamento de que a regra, em 
verdade, constituía um verdadeiro julgamento antecipado parcial do 
mérito. 
 
Assim, tínhamos duas correntes. 
 
Uma primeira corrente defendia tratar-se de tutela antecipada. O 
argumento dessa doutrina tinha como ponto principal a opção do 
legislador. 
Ademais, aplicar-se-ia o art. 273, § 4º, do CPC/73, e, portanto, a 
despeito de se tratar de prova mais forte que a verossimilhança, 
constituía decisão revogável pela decisão final. Entendia ainda que o 
magistrado, após a concessão da tutela, poderia verificar alguma 
matéria de ordem pública (de ofício ou a requerimento), revogando o 
 
 
 
 
que tivesse sido decidido. Esta tese era defendida por Athos Gusmão 
Carneiro, Teori Zavascki e José Roberto dos Santos Bedaque. 
 
Uma segunda corrente defendia tratar-se de julgamento antecipado 
parcial do mérito. E isso porque a decisão da parte incontroversa é 
conferida com base em cognição exauriente (ficta ou presumida) que 
não pode ser revogada por posterior decisão, pois não haveria novos 
elementos aptos a modificar o entendimento do magistrado. 
 
Constituem, portanto, duas decisões de mesma hierarquia, sem 
nenhum vínculo de subordinação entre elas. Esta corrente era 
defendida por Luiz Guilherme Marinoni e Cassio Scarpinella Bueno. 
 
O CPC/2015 decidiu (corretamente) alocar essa regra como uma 
hipótese de julgamento antecipado parcial do mérito em decorrência 
da irrevogabilidade dessa decisão pela nova sistematização da tutela 
antecipada, que hoje é concedida exclusivamente com o pressuposto 
da urgência (tutela provisória de urgência). 
 
O direito veiculado no pedido pode tornar-se incontroverso em três 
situações: 
 
a) reconhecimento jurídico do pedido (CPC/2015, art. 487, III, a). Se a 
parte reconhece que o direito pertence ao autor, dispensa-sea 
instrução probatória, pois tornam-se os fatos incontroversos e, 
portanto, sem necessidade de dilação probatória. Trata-se de uma 
modalidade de cognição exauriente ficta, pois haverá conhecimento 
total sobre o objeto cognoscente, sem que tenha havido a 
profundidade necessária de análise; 
 
b) revelia (CPC/2015, art. 344). A revelia gera a presunção de 
veracidade dos fatos. É pacífico o entendimento de que o efeito 
material da revelia gera presunção relativa, pois o autor pode não 
conseguir provar a juridicidade do seu direito ou mesmo o magistrado 
pode verificar a sua inexistência. De toda sorte, a revelia é um grande 
passo à procedência do pedido do autor. Aqui, diferentemente do 
reconhecimento jurídico do pedido, a cognição judicial é exauriente 
presumida, pois o magistrado se contenta com aquilo que foi 
demonstrado pelo autor, desconsiderando os argumentos que o réu 
poderia ter trazido já que, no momento oportuno, não o fez; 
 
c) não cumprimento do ônus da impugnação específica (CPC/2015, 
art. 341). Uma terceira situação constitui o não cumprimento do ônus 
da impugnação específica. Essa hipótese é a mais difícil de constatar 
na prática, pois o réu nem confessou, nem deixou de se defender: 
apenas se defendeu mal, ou seja, não cumpriu o seu dever de 
apresentar fatos impeditivos, modificativos ou extintivos. Constitui 
situação em que há contestação, mas não há defesa. 
 
Algumas questões importantes: 
 
 
 
 
 
i) a aplicação dessa regra somente será possível quando os pedidos 
cumulados forem independentes entre si. Dessa forma, numa ação de 
rescisão do contrato com perdas e danos, sendo o réu revel 
exclusivamente quanto às perdas e danos, não poderá o magistrado 
antecipá-la, pois se em sentença final constatar a não rescisão do 
contrato, as perdas e danos não serão devidos. Esse exemplo 
constitui caso clássico de cumulação própria sucessiva, ou seja, os 
pedidos guardam entre si relação de prejudicialidade ou 
preliminaridade; 
 
ii) parcela da doutrina, com razão, assevera que a incontrovérsia se 
encontra nos fatos (causa de pedir) e não no pedido. Portanto, 
tecnicamente falando, é a causa de pedir que torna apta a antecipação 
de parcela da demanda; 
 
iii) não havendo recurso, a efetivação dessa parcela do mérito será 
feita por execução definitiva (não cumprimento provisório), pois não 
haverá futura decisão apta a ratificá-la ou infirmá-la. Portanto, às 
naturais limitações impostas a esse tipo de execução não se aplica a 
regra do art. 356 do CPC/2015. Tanto o cumprimento da decisão como 
sua eventual liquidação poderão ser formalizados em autos 
suplementares (em não sendo processo eletrônico) a requerimento da 
parte ou do juiz; 
 
iv) a decisão da parte incontroversa constitui uma decisão 
interlocutória com conteúdo de mérito e desafia o recurso de agravo 
de instrumento; 
 
v) a decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a 
existência de obrigação líquida ou ilíquida. Nesse caso, se poderá 
proceder à liquidação parcial, independentemente de caução, ainda 
que a decisão tenha sido recorrida. Com o trânsito em julgado, essa 
decisão se torna definitiva; 
 
vi) esta decisão, por ser definitiva, está apta a fazer coisa julgada 
material e possui prazo de contagem próprio para eventual ação 
rescisória (FPPC, Enunciado 336); 
 
vii) a sentença não pode alterar a decisão interlocutória de mérito 
transitada em julgada. São duas decisões de mesma hierarquia sem 
vínculo de subordinação entre si. Aliás, segundo o Enunciado n. 125 
da II Jornada de Direito Processual Civil (CJF): “A decisão parcial de 
mérito não pode ser modificada senão em decorrência do recurso que 
a impugna”.13 
 
 
13 Sá, Renato Montans de. Manual de direito e processo civil. 5 ed. – São Paulo. Saraiva 
Educação. 2020. p. 743. 
 
 
 
 
Elpídio Donizetti nos explica sobre o julgamento antecipado parcial de mérito. 
Vejamos: 
 
Assim como pode ocorrer a extinção parcial do processo, poderá o juiz 
julgar antecipadamente o mérito de forma não integral. Isso pode 
ocorrer em duas hipóteses: quando houver vários pedidos cumulados 
e um ou parte deles se mostrar incontroverso; ou quando o(s) 
pedido(s) estiver(em) maduro(s) o suficiente para apreciação judicial 
(art. 356, I e II). 
A incontrovérsia consiste na ausência do confronto de afirmações em 
torno de um fato alegado pelo autor, seja porque o réu não se 
desincumbiu do ônus da defesa especificada, seja pelo fato de ter 
reconhecido a procedência do pedido com a sua respectiva 
fundamentação, ou mesmo em decorrência de eventual transação 
acerca de determinado pedido, ainda que anteriormente tenha sido 
impugnado pelo réu. 
Quando a demanda contiver pedidos cumulados19 e um ou parte 
deles se mostrar incontroverso, pode o juiz decidir parcela da lide, 
prosseguindo o processo quanto ao remanescente. Nesse caso, a 
decisão tem feição de sentença, porém, como não põe fim ao processo 
ou a alguma de suas fases, será impugnável por agravo de 
instrumento (art. 356, § 5º). 
Em outras palavras, é como se no processo existissem duas 
“sentenças”, sendo a primeira referente à parte incontroversa, 
impugnável por agravo de instrumento, e a segunda referente ao 
mérito como um todo, que seguirá a regra da impugnação por meio de 
apelação. Vale ressaltar que mesmo existindo duas (ou até mais) 
“sentenças”, a decisão que julga antecipada e parcialmente o mérito 
não dependerá de ulterior confirmação: ela já é definitiva e pode 
resultar em coisa julgada material antes mesmo de o processo ser 
extinto. 
Na segunda hipótese (art. 356, II), se os pedidos estiverem em 
condições de julgamento, ou seja, se não houver necessidade de 
produção de provas ou se o réu deixar de contestar algum dos pedidos 
e incorrer na revelia quanto a um deles, também será possível o 
julgamento antecipado parcial do mérito. Nesse caso, a decisão não 
pode concluir pela improcedência de um dos pedidos por suposta 
ausência de provas, já que o fundamento para a decisão parcial é 
justamente a desnecessidade de instrução para determinados 
pedidos. Nesse sentido: STJ, AgRg no AREsp 47.339, Rel. Min. 
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16.04.2013. 
A decisão que julgar parcialmente o mérito pode reconhecer a 
existência de obrigação líquida ou ilíquida (art. 356, § 1º). Se houver 
liquidez, a decisão poderá ser, desde logo, executada, ainda que 
esteja pendente de recurso. O cumprimento definitivo depende, por 
óbvio, do trânsito em julgado da decisão proferida nos termos do 
 
 
 
 
dispositivo em comento. O cumprimento provisório, por outro lado, 
poderá ser realizado independentemente do trânsito em julgado.14 
 
Analisando o art. 355 do Código de Processo Civil, percebemos que em um 
dos seus incisos, mais precisamente o inciso II, no qual prevê que se o réu for revel, 
o juiz julgará antecipadamente o pedido, com resolução de mérito. Contudo, há um 
efeito previsto no art. 344, que é mencionado no inciso II do art. 355, que precisamos 
entender. 
O efeito presente no art. 344 é a presunção de veracidade das alegações de 
fato formuladas pelo autor. 
Quando o réu é revel, em regra ocorre a presunção de que o que o autor disse 
na petição inicial é verdade, contudo nem sempre isso acontece. Pode ocorrer do réu 
ser revel e não ocorrer a situação de considerar o que o autor narrou na petição inicial 
ser considerado. 
Quando que essa situação poderia ocorrer? 
Causa que verse sobre direitos indisponíveis (direito de uma criança por 
exemplo). Apesar de se ter a revelia, em uma situação em que o réu não apresentar 
contestação, não ocorrerá o efeito da revelia. Regra, se eu tenho revelia, presume-se 
o que o autor disse na inicial é verdade. Exceção: direitos indisponíveis. 
Exemplo de revelia, mas que o pedido do autor não é acolhido: 
Autor ajuíza uma ação em face de um fraudador de investimentos (pirâmide 
financeira). Contudo, o autor não traz nos autos qualquer tipo de comprovação de 
transferênciado dinheiro para o fraudador. Neste caso, o réu foi citado para responder 
as acusações do autor, contudo, o réu não responde, e não apresenta contestação. 
Há aqui a presunção de verdadeira a alegação do autor? Neste caso, o juiz irá dizer 
que há um problema, pois não há qualquer tipo de evidência da ocorrência de fraude, 
ou qualquer outro tipo de comprovação em relação ao que ocorreu. Não há prova 
sobre o ocorrido. 
 
 
14 Donizetti, Elpídio. Curso Didático de direito processual civil. 20 ed. São Paulo. Atlas, 
2017. p. 637. 
 
 
 
 
REVELIA 
 
Revelia é a falta de apresentação de contestação dentro do prazo legal. 
Renato Montans nos explica acerca da revelia, conforme podemos conferir a 
seguir: 
A revelia não ocorre simplesmente quando a parte não apresenta 
contestação (ou a apresenta fora do tempo), mas também quando não 
se cumpre o ônus da impugnação específica (CPC/2015, art. 341) ou 
não sana a falha de representação quando intimada a fazê-lo 
(CPC/2015, art. 76, II). 
Ademais, há entendimento no STJ de que ocorre revelia quando se 
apresenta contestação fora da comarca do juízo, em local distante e 
errado (STJ, REsp 847.893/SP). 
Nos juizados especiais cíveis (Lei n. 9.099/95, art. 20) incide também 
revelia quando “não comparecendo o demandado à sessão de 
conciliação ou à audiência de instrução e julgamento, reputar-se-ão 
verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o contrário 
resultar da convicção do juiz. 
Não se pode confundir revelia com confissão ficta. Revelia é um fato 
e a confissão ficta é um efeito. 
 
EFEITOS 
 
Há dois principais efeitos decorrentes da revelia. Um denominado 
efeito material e outro processual. 
- O efeito material é a presunção243 de veracidade dos fatos alegados 
(CPC/2015, art. 344). Desse efeito gera-se outro periférico: a 
possibilidade de julgamento antecipado do mérito (CPC/2015, art. 355, 
II). Aqui há de se destacar um ponto. Sabe-se que os fatos 
incontroversos, como o caso, independem de prova (CPC/2015, art. 
374, III). Todavia, o fato de prescindir de dilação probatória não pode 
autorizar a necessária procedência do pedido em favor do autor. 
A presunção é relativa. Do contrário, seria permitido ao autor formular 
toda sorte de pedidos e, em virtude da não resistência, fosse o réu 
onerado na condenação de pedido inexequível (como uma dívida de 
bilhões ou mesmo exigir determinada prestação que exija certo 
conhecimento técnico que o réu não possui). 
Não se pode esquecer que o autor possui o ônus de demonstrar os 
fatos constitutivos do seu direito (CPC/2015, art. 373, I). Assim 
entende Vicente Greco Filho: “Na realidade, o art. 319 [atual 344] 
dispensa efetivamente o autor de prova, desde que o réu não conteste 
a ação, mas os fatos por ele alegados hão de passar pelo crivo da 
plausibilidade ou verossimilhança”. 
É exatamente por isso que, sempre que possível, o legislador não 
perde a oportunidade de deixar consignado, quando possível em lei, 
que a confissão ficta somente se aplica quando o contrário não resultar 
da prova dos autos (Lei n. 9.099/95, art. 20). 
 
 
 
 
Como bem observa a doutrina, é necessário também analisar a revelia 
sob a ótica da igualdade substancial. Assim, quando o juiz proceder 
uma análise sociológica do réu chegar à conclusão de que ele não 
teve condições de se defender levando em conta seu grau de 
esclarecimento e a possibilidade de acesso à justiça, poderá elidir os 
efeitos da revelia. 
Há casos outros que os efeitos da revelia não serão sentidos: 
 
a) citação ficta (edital ou hora certa), já que o curador nomeado 
promove a defesa do réu revel (arts. 72, II, e 341, parágrafo único, 
CPC/2015); 
 
b) assistente simples que ingressa no processo para ajudar o revel, 
sendo considerado substituto processual do assistido (CPC/2015, art. 
121, parágrafo único); 
 
c) se o litisconsórcio for unitário, apenas um deles apresentar defesa 
(CPC/2015, art. 345, I; CC, art. 213); 
 
d) se o direito posto em juízo for indisponível (CPC/2015, art. 345, II). 
Ainda que seja extremamente difícil divisar o que são direitos 
indisponíveis dos que não são, é possível colher no ordenamento 
algumas situações como os direitos da personalidade, as ações que 
versam sobre o estado das pessoas e algumas situações de direito de 
família e contra o Poder Público. Assim, a paternidade 
necessariamente deve ser provada a despeito de não haver resposta 
(RT 672/199); 
 
e) se a inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei 
considere indispensável para o ato (CPC/2015, arts. 345, III, e 406). 
“Prova substancial é a que sem a qual o direito não chega a se 
constituir no plano material. Como exemplo veja o art. 108 do CC: “
Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à 
validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, 
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis 
de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País; 
 
f) se as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis 
ou estiverem em contradição com prova constante dos autos. Aqui se 
deseja evitar presunções sem fundamento ou completamente 
implausíveis. Constitui uma nova situação trazida pelo CPC/2015 em 
seu art. 345, IV. A inverossimilhança dependerá de cognição 
exauriente, assim, a revelia (no plano material) apenas será utilizada 
como regra de julgamento (e não de instrução) no momento de 
prolação da sentença. A contradição entre a alegação e as provas, ao 
contrário, é possível em certos casos que se proceda à sua análise 
prima facie, de modo que poderá à revelia ser decretada de imediato; 
 
g) Quando a defesa versar sobre matéria exclusivamente de direito. 
Já que no Brasil se adota majoritariamente a teoria da substanciação, 
que estabelece a preclusão sobre a matéria de fato e não a de direito. 
 
 
 
 
Não obstante o art. 336 fale em exposição “de fato e de direito”, 
essa regra deve ser interpretada com o sistema, permitindo, por 
exemplo, que o réu apresente contestação intempestiva ou mesmo 
petição autônoma alegando que no caso se aplica o Código de Defesa 
do Consumidor e não o Código Civil; 
h) Quando o réu reconvir sem apresentar contestação (o que se 
apresenta possível conforme o art. 343, § 6º, CPC), desde que as 
alegações trazidas na reconvenção tornem os fatos controvertidos 
(STJ, REsp 1.335.994). 
 
Ademais, a revelia afasta a coisa julgada sobre as questões 
prejudiciais, já que o art. 503, § 1º, II, exige que tenha havido 
contraditório prévio e efetivo. 
Por fim, a despeito da revelia, o magistrado é livre para a apreciação 
do quantum debeatur em ação de indenização, ainda que o autor 
tenha deduzido valor. Isso porque o prejuízo deve ser aferido com 
base nas alegações e provas trazidas, não se autorizando o 
enriquecimento sem causa (STJ, REsp 1.520.659). 
 
- O efeito processual consiste na não intimação dos atos do processo 
para o réu revel (CPC/2015, art. 346). Seu prazo passa a fluir da data 
de publicação do ato decisório no Diário Oficial249. Se o réu revel 
comparecer nos autos, poderá movimentar o processo, mas no estado 
em que ele se encontra, não podendo praticar os atos já consumados 
(em atenção ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito). Será 
doravante intimado dos atos, sendo-lhe facultada a produção de 
provas (Enunciado n. 231 da Súmula do STF) desde que tenha 
ingressado no processo em momento oportuno. Nessa ocasião, 
poderá produzir provas contrárias às alegações trazidas pelo autor. 
Assim estabelece o art. 349 do CPC/2015, ao asseverar: “Ao réu 
revel será lícita a produção de provas, contrapostas às alegações do 
autor, desde que se faça representar nos autos a tempo de praticar os 
atos processuais indispensáveis a essa produção”. 
Já entendeu o STJ que o prazo para apelação do réu revel não conta 
da intimação da parte contrária (que está nos autos), mas da 
publicação da sentença em cartório. 
Apenas se não tiver advogado constituídonos autos (advogado ou 
defensor público), sofrerá os efeitos processuais da revelia (art. 346, 
CPC/2015). Assim, o réu que simplesmente não compareceu no 
processo e, portanto, não se defendeu sofrerá o efeito processual da 
revelia. Mas o réu que contratou advogado, sendo que este está 
devidamente constituído nos autos, mas não apresentou defesa ou a 
fez extemporaneamente, não sofrerá os efeitos processuais da revelia. 
Contudo, mesmo nos casos em que os efeitos processuais da revelia 
forem sentidos, há situações que não podem deixar de se intimar o réu 
revel dada a especialidade do tema. É o que ocorre na intimação para 
comparecimento a audiência de instrução e julgamento para 
depoimento pessoal (art. 381, CPC) ou exibição de documento ou 
coisa (art. 398, CPC). 
 
 
 
 
A revelia gera outro efeito processual, que é a possibilidade de 
julgamento antecipado parcial do mérito (art. 355, II, CPC).15 
Vamos imaginar outra situação. Um determinado réu é citado para apresentar 
defesa. Na defesa apresentada pelo réu, é alegado que o autor é parte ilegítima, e 
também é alegado que existe um defeito na representação. Neste caso, o juiz irá 
apreciar as preliminares alegadas pelo réu, afastando, ou acolhendo a alegação de 
ilegitimidade. Se o juiz acolher as preliminares, o processo pode ser extinto sem 
resolução de mérito. Contudo, pode ocorrer o contrário. Pode juiz entender que o caso 
não é de ilegitimidade, irá o juiz afastar a primeira preliminar, e irá avaliar a segunda 
preliminar alegada, que seria o defeito na representação. Intima o autor para 
regularizar a situação, e após haverá o prosseguimento normal do processo. 
No caso, o juiz olhará para a totalidade dos pedidos, e fixará todos os pontos 
controvertidos do caso. Como que funciona esta fase? 
A fixação dos pontos controvertidos é uma atividade judicial, em que o juiz 
delimita qual é a parte do processo que será julgada. Seria como uma atividade de 
organização do juiz. 
Elpídio Donizetti em relação a organização do processo, nos esclarece o 
seguinte: 
Na fase do saneamento propriamente dita, se houve necessidade de 
providências preliminares, já foram elas adotadas. Assim, se o réu 
alegou fato impeditivo, modificativo, extintivo ou preliminares, sobre 
eles foi ouvido o autor. Igualmente, já houve determinação para sanar 
eventual irregularidade, como a incapacidade das partes e o defeito 
de representação. Lembre-se que, como a audiência de conciliação 
atualmente ocorre antes da apresentação da defesa pelo réu, a fase 
saneadora somente ocorrerá se não for obtida composição ou se a 
audiência não se realizar. 
Continuando. Tomadas as providências preliminares, se for o caso, e 
não ocorrendo extinção ou julgamento antecipado do mérito,21 o juiz 
vai sanear o feito, ou seja, expungido de alguma circunstância que 
inviabilize o processo, a fim de não se perder tempo com a produção 
de provas em um feito que, desde logo, pode ser anulado ou extinto 
sem resolução do mérito. 
O saneamento e a organização do processo tomaram rumos distintos 
no Código de 2015. Anteriormente falava-se em audiência preliminar, 
 
15 Sá, Renato Montans de. Manual de direito e processo civil. 5 ed. – São Paulo. Saraiva 
Educação. 2020. p. 733. 
 
 
 
 
na qual o juiz poderia sanear o processo após esgotar o juiz os meios 
suasórios para conciliar as partes. 
Como a audiência com vistas à conciliação não ocorre mais nesta 
fase, o juiz deverá, conforme o caso, adotar as seguintes providências 
(art. 357): 
I – resolver as questões processuais pendentes, se houver; 
II – delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade 
probatória, especificando os meios de prova admitidos; 
III – definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373; 
IV – delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do 
mérito; 
V – designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento. 
O inciso I determina que caberá ao juiz delimitar as questões 
processuais pendentes. Evidentemente, não se submeterá à 
preclusão a decisão saneadora que não tratar de vício processual 
insanável, de ordem pública.22 No entanto, deve-se entender que a 
decisão saneadora (denominada, atecnicamente, de “despacho 
saneador” no CPC/1973), ao determinar o prosseguimento da 
demanda, implica juízo positivo de admissibilidade da ação, bem como 
de regularidade da relação processual. Com efeito, verificado 
determinado vício que impeça o alcance de uma sentença de mérito, 
caberá ao juiz determinar a sua regularização na decisão saneadora, 
sob pena de extinção do processo. 
Superado o juízo de regularidade processual, caberá ao julgador 
delimitar quais questões serão objeto de produção probatória (inciso 
II), bem como os meios de prova cabíveis. Além disso, identificará as 
questões de direito relevantes para o julgamento do mérito. Tais 
providências são essenciais ao saneamento, uma vez que concretiza 
o exercício do contraditório por toda a fase instrutória, garantindo 
previsibilidade às partes sobre o que devem debater, visto que o 
conteúdo da discussão fundamentará a futura sentença. 
Intimadas as partes do despacho saneador, têm elas o direito de pedir 
esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de cinco dias. 
Esse pedido não deve ser confundido com a interposição de embargos 
de declaração. A hipótese aqui aventada é mais ampla que a aludida 
modalidade recursal. Deve ser entendida, portanto, como simples 
petição que garante o amplo debate sobre a questão saneadora, 
evitando incongruências que possam, futuramente, impedir o efetivo 
exercício do contraditório. 
No mesmo prazo do pedido de esclarecimentos ou até antes do 
saneamento, as partes também podem apresentar ao juiz, para 
homologação, as questões de fato e de direito a que se referem os 
incisos II a IV (art. 357, § 2º). Ou seja, autor e réu podem definir quais 
provas serão produzidas e como o ônus será distribuído. Trata-se de 
inovação que integra a relação consensual entre as partes e o juiz, 
diminuindo o protagonismo deste último e, sobretudo, permitindo a 
participação das partes na condução do processo. 
Ao que tudo indica, o art. 357, § 2º, do CPC/2015 adota uma visão 
moderna que prima pela integração consensual. Abre-se a 
possibilidade de transportar, para o Brasil, avanços da legislação 
 
 
 
 
processual de outros países, como no caso da França, onde a ideia 
da contratualização do processo permite a celebração de ajustes entre 
as partes e o juiz, a respeito da forma de condução do processo e do 
momento para a prática de determinados atos processuais. Com isso, 
fica abandonado um esquema vertical e impositivo do relacionamento 
entre partes e juiz, em prol de uma postura horizontal e consensual 
entre os sujeitos processuais. 
Se a causa for complexa, o juiz poderá designar audiência para que o 
saneamento seja feito em cooperação com as partes. Nesse caso, se 
o processo demandar dilação probatória, as partes que ainda não 
indicaram as testemunhas deverão fazê-la nesta audiência. Por outro 
lado, se desnecessária a realização desta audiência, as partes 
indicarão suas testemunhas em prazo comum não superior a quinze 
dias, contado da intimação do despacho saneador. 
O encerramento da fase saneadora pode significar duas coisas: ou os 
pedidos estão prontos para serem julgados ou eles ainda precisam ser 
submetidos à instrução probatória. Explico. Se a matéria a ser julgada 
for unicamente de direito ou, sendo de direito e de fato, este já se 
encontrar comprovado por documento, não haverá necessidade de se 
produzir qualquer outra prova. Se, no entanto, houver necessidade de 
prova oral, perícia ou inspeção judicial, o juiz somente julgará os 
pedidos quando essas provas forem realizadas.16 
 
 
Elpídio Donizetti ainda nos traz um quadro esquemático que nos faz entender 
como de fato ocorre a fase saneadora do processo, conforme podemos conferir a 
seguir no esquema17: 
 
 
16 Donizetti, Elpídio. Curso Didáticode direito processual civil. 20 ed. São Paulo. Atlas, 
2017. p. 639. 
17 Donizetti, Elpídio. Curso Didático de direito processual civil. 20 ed. São Paulo. Atlas, 
2017. p. 640. 
 
 
 
 
 
Marcus Vinicius Rios Gonçalves também nos traz alguns alertas sobre a 
organização do processo por parte do juiz. Vejamos as considerações: 
Não sendo caso de julgamento antecipado, total ou parcial do mérito, 
e tomadas as providências preliminares, o juiz proferirá decisão de 
saneamento e organização do processo. Como já houve a audiência 
de conciliação ou mediação, em regra não será designada nova 
audiência para conciliação e saneamento do processo. O saneamento 
e a organização do processo devem ser feitos por decisão 
interlocutória, na qual o juiz resolverá as questões processuais 
pendentes, se houver; delimitará as questões de fato sobre as quais 
recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova 
admitidos; definirá a distribuição do ônus da prova, delimitará as 
questões de direito relevantes para a decisão de mérito e designará, 
se necessário, audiência de instrução e julgamento. Mas se a causa 
apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, o juiz 
deverá designar audiência para o saneamento do processo, em 
cooperação com as partes. Trata-se de mais uma aplicação do 
princípio da cooperação. A finalidade dela é permitir que o juiz, se for 
o caso, convide as partes a integrar ou esclarecer as suas alegações, 
trazendo-lhe maiores elementos para que possa promover o 
saneamento e a organização do processo, decidindo sobre as 
questões controvertidas e sobre as provas necessárias. A ideia é que 
haja uma cooperação e atuação conjunta dos sujeitos do processo e 
 
 
 
 
que sejam prestados os esclarecimentos necessários para que ele 
possa ter um desenvolvimento mais adequado. Proferida a decisão 
saneadora, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou 
solicitar ajustes, no prazo comum de cinco dias, findo o qual a decisão 
se torna estável. Em princípio, contra ela não cabe agravo de 
instrumento, salvo se decidir algumas das questões constantes do rol 
estabelecido no art. 1.015 do CPC (por exemplo, se o juiz promover a 
redistribuição do ônus da prova — art. 1.015, XI —, ou excluir um 
litisconsorte — art. 1.015, VII). Por isso, nos termos do art. 1.009, § 
1º, ela não fica acobertada pela preclusão, e as questões por ela 
resolvidas poderão ser suscitadas como preliminar de apelação (salvo 
se o juiz, no saneamento, decidir algum dos temas elencados no art. 
1.015, quando então o prejudicado deverá agravar, sob pena de 
preclusão). Dentro em cinco dias da intimação da decisão saneadora, 
as partes podem pedir ao juiz esclarecimentos ou solicitar ajustes, que 
ele estará autorizado a fazer. Depois do prazo, a decisão se torna 
estável, o que significa que, embora não preclusa, não poderá ser 
alterada pelo juiz, só podendo ser reexaminada pelo órgão ad quem, 
se suscitada como preliminar de apelação ou nas contrarrazões. 
 
Ocorre, na fase de saneamento e organização do processo, mais um 
exemplo do poder de influência das partes no procedimento. 
Estabelece o art. 357, § 2º, que “As partes podem apresentar ao 
juiz, para homologação, delimitação consensual das questões de fato 
e de direito a que se referem os incisos II e IV (isto é, os fatos sobre 
os quais recairá atividade probatória ou as questões de direito 
relevantes para a decisão de mérito); se homologada, a delimitação 
vincula as partes e o juiz”. Amplia-se o poder de disposição das 
partes, mas sempre com a fiscalização e o controle judicial. Trata-se 
de mais uma aplicação do princípio da cooperação dos sujeitos do 
processo para que ele tenha um desenvolvimento mais eficiente. 
Ao promover o saneamento, o juiz deliberará sobre as provas 
necessárias para a instrução do processo. Se autorizar a prova 
testemunhal, já designará data para a audiência de instrução e 
julgamento, concedendo às partes o prazo não superior a 15 dias para 
arrolar testemunhas (se for designada a audiência para saneamento e 
organização do processo, na hipótese do art. 357, § 3º, o rol de 
testemunhas já deve ser levado pelas partes à audiência), no máximo 
10, sendo três, no máximo, para a prova de cada fato. O juiz poderá, 
ainda, limitar o número de testemunhas, levando em conta a 
complexidade da causa e os fatos a serem demonstrados. Se 
determinar perícia, deverá observar o disposto no art. 465 e, se 
possível, fixar calendário para a sua realização.18 
 
 
18 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8 Ed. São 
Paulo. Saraiva, 2017. p. 591. 
 
 
 
 
Conforme pudemos conferir, a organização do processo pelo juiz será 
fundamental para que o caso seja apreciado da devida forma, evitando-se assim, 
prováveis inconsistências durante o julgamento do caso, e também ao final. 
Se não for o caso de extinção do processo, nem julgamento antecipado, o 
processo passa à etapa de saneamento e organização do processo, na qual o juiz 
exerce essa atividade de organização, com o fim de preparar o processo para a fase 
instrutória. 
As hipóteses estão contempladas no art. 357, do Código de Processo Civil, 
conforme podemos conferir a seguir: 
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, 
deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do 
processo: 
I - resolver as questões processuais pendentes, se houver; 
II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade 
probatória, especificando os meios de prova admitidos; 
III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373 ; 
IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do 
mérito; 
V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento. 
§ 1º Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir 
esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) 
dias, findo o qual a decisão se torna estável. 
§ 2º As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, 
delimitação consensual das questões de fato e de direito a que se 
referem os incisos II e IV, a qual, se homologada, vincula as partes e 
o juiz. 
§ 3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de 
direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja 
feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for 
o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações. 
§ 4º Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, 
o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze) dias para que as 
partes apresentem rol de testemunhas. 
§ 5º Na hipótese do § 3º, as partes devem levar, para a audiência 
prevista, o respectivo rol de testemunhas. 
§ 6º O número de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 
(dez), sendo 3 (três), no máximo, para a prova de cada fato. 
§ 7º O juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta 
a complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados. 
§ 8º Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o juiz 
deve observar o disposto no art. 465 e, se possível, estabelecer, 
desde logo, calendário para sua realização. 
§ 9º As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1 
(uma) hora entre as audiências. 
 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art373
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art465
 
 
 
 
Vejamos um exemplo. 
A parte ajuíza uma ação contra uma cia área, contando que fora viajar par ao 
exterior, e o voo estava agendado para o dia x, contudo, o voo não saiu no dia 
marcado, por conta de um atraso de voo. Neste caso, a parte solicitou na ação todos 
os gastos que teve com o atraso. 
A cia área fez uma defesa de mérito indireta, dizendo que realmente o voo 
tinha atrasado, pelo motivo de que na região do aeroporto, um vulcão estava quase 
entrando em erupção, soltando uma grande quantidade de fumaça, e isso levou a 
impossibilidadede qualquer voo no aeroporto na data marcada. Há aqui uma 
excludente do dever de indenizar no presente caso. 
O juiz ao analisar o caso, perguntou ao autor, se o mesmo gostaria de produzir 
algum tipo de prova. 
Vamos pensar. No presente caso a cia área negou alguma alegação do autor? 
A princípio não, pois tudo que foi narrado realmente aconteceu, mas a cia alegou, na 
realidade, outra situação, um evento natural. 
O autor aqui deveria ter ficado quieto, pois a cia área não chegou a rebater 
todos os fatos do autor, contudo, não foi isso o que ocorreu. Em nosso exemplo, o 
autor informou ao juízo, que gostaria de produzir provas. 
No caso, não deveria o autor ter alegado o interesse na produção de prova, 
pois, considerando a regra de direito processual, a incumbência do ônus probatório é 
do réu. 
Se os documentos trazidos na inicial, e na contestação forem suficientes para 
a devida avaliação do juiz sobre o caso, poderá o mesmo julgar o caso, sem a 
necessidade de verificação de outras provas. As partes irão também manifestar o 
interesse em comprovar o que estão alegando. 
Elpídio Donizetti nos esclarece o seguinte, a respeito da necessidade de 
produção de prova: 
Se o processo chegou a essa fase é porque os elementos de prova, 
sobretudo documentos, apresentados na fase postulatória não foram 
suficientes para formar a convicção do juiz, a fim de que pudesse ele 
compor o litígio, com o acolhimento ou rejeição do pedido do autor. 
Sendo assim, urge conceder às partes oportunidade de provarem 
alegações, ou seja, o fato constitutivo do direito do autor, ou eventual 
fato impeditivo, modificativo ou extintivo, arguido pelo réu. 
 
 
 
 
“Toda prova há de ter um objeto, uma finalidade, um destinatário, e 
deverá ser obtida mediante meios e métodos determinados. A prova 
judiciária tem como objeto os fatos deduzidos pelas partes em juízo. 
Sua finalidade é a formação da convicção em torno dos mesmos fatos. 
O destinatário é o juiz, pois é ele que deverá se convencer da verdade 
dos fatos para dar solução jurídica ao litígio”. 
Cabe às partes indicar, na petição inicial e na contestação, os meios 
de prova de que se quer utilizar para demonstrar suas alegações (arts. 
319, VI, e 336). A rigor, na petição inicial, o autor apenas manifesta a 
intenção de produzir provas, sem indicação precisa dos meios. Faz-se 
um pedido, um protesto genérico. Ocorre que, ao propor a ação, o 
autor não sabe de quais provas vai necessitar para demonstrar a 
verdade dos fatos por ele alegados; aliás, pode ser que sequer vá 
necessitar de provas, como, por exemplo, na hipótese de ocorrência 
de revelia ou de reconhecimento da procedência do pedido. 
Os meios probatórios somente são individualizados no saneamento 
(art. 357, II), após o juiz delimitar as questões de fato sobre as quais 
recairá a atividade probatória. 
Pode ainda o juiz determinar as provas necessárias ao julgamento do 
mérito (art. 370), sem, no entanto, quebrar o princípio da isonomia. 
Nesse caso, seu poder de determinar a produção de provas de ofício 
restringe-se à complementação de provas produzidas pelas partes, 
como, por exemplo, a audição de testemunha referida e o 
esclarecimento sobre determinados aspectos da perícia. 
Saliente-se que a prova tem por objetivo formar a convicção do juiz. E 
para tanto, em princípio, serve a perícia, o documento ou o 
testemunho. Não estabelece o Código qualquer critério valorativo da 
prova. O nosso sistema é o do livre convencimento fundamentado ou 
da persuasão racional (art. 371), de forma que o depoimento de uma 
testemunha pode infirmar um documento ou uma perícia.19 
 
A seguir podemos trazer algumas decisões em que o Judiciário aplica a regra 
de organização do processo, para que a prestação jurisdicional seja prestada da 
devida forma. Vejamos algumas delas: 
 
APELAÇÃO CÍVEL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. REPARAÇÃO DE 
DANOS. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. AUSÊNCIA DE 
DESPACHO SANEADOR COM INTIMAÇÃO PARA 
ESPECIFICAÇÃO DE PROVAS. SENTENÇA QUE JULGOU 
IMPROCEDENTE O PEDIDO POR INEXISTÊNCIA DE PROVA. 
CERCEAMENTO DE DEFESA CONFIGURADO. PRELIMINAR 
ACOLHIDA. 1. O art. 355 do Código de Processo Civil ( CPC) delimita 
as hipóteses de julgamento antecipado da lide: quando não houver 
necessidade de produção de outras provas ou quando ocorrer a 
 
19 Donizetti, Elpídio. Curso Didático de direito processual civil. 20 ed. São Paulo. Atlas, 
2017. p. 641. 
 
 
 
 
presunção de veracidade na revelia. 2. O juiz deverá, nos demais 
casos, em decisão de saneamento e de organização do processo: 1) 
resolver as questões processuais pendentes, se houver; 2) delimitar 
as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, 
especificando os meios de prova admitidos; 3) definir a distribuição do 
ônus da prova; 4) delimitar as questões de direito relevantes para a 
decisão do mérito; e 5) designar, se necessário, audiência de instrução 
e julgamento, conforme determina o art. 357 do Código de Processo 
Civil. 3. Na hipótese, a sentença de improcedência faz menção 
expressa à falta de comprovação dos fatos alegados na inicial, do que 
se depreende que o julgamento antecipado da lide não poderia ter 
ocorrido. 4. A ausência de despacho saneador gerou prejuízo à defesa 
da apelante, já que não lhe foi oportunizada a produção de outras 
provas que poderiam, em tese, demonstrar a veracidade de suas 
alegações. 5. Preliminar de cerceamento de defesa acolhida. Recurso 
conhecido e provido.20 
 
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. IMISSÃO DE POSSE. 
EMBARGOS DE TERCEIRO. PRELIMINAR DE NULIDADE DO 
PROCESSO. SANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO FEITO. 
CERCEAMENTO DE DEFESA. VIOLAÇÃO AO ART. 357, DO CPC E 
AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. 1. A partir do 
advento do CPC de 2015, a decisão de saneamento e de organização 
do processo é, na sua maior parte, irrecorrível por agravo de 
instrumento. O único tópico passível de recurso imediato por agravo 
de instrumento é aquele tópico da decisão de saneamento que se 
refere à distribuição do ônus da prova, tal como previsto no art. 357, 
inciso III, c/c o art. 1.015, inciso XI, ambos do CPC. 2. Proferida a 
decisão de saneamento, abre-se às partes a possibilidade de 
requererem esclarecimentos ou solicitar ajustes. Não o fazendo em 5 
(cinco) dias, o § 1º do art. 357, do mesmo diploma legal, dispõe que a 
decisão de saneamento se torna estável, impedindo o juízo 
processante de modificar aquilo que foi ali decidido. Ou seja, não 
podem ser incluídas novas questões para além daquilo que foi definido 
na decisão de saneamento, bem como não podem ser excluídas 
provas cuja necessidade foi proclamada naquela decisão. O juízo se 
vincula àquilo, que é uma garantia não só para as partes como 
também para o julgador. 3. Tendo sido a respeitável sentença 
proferida em desarmonia com o que restou decidido por ocasião do 
saneamento e da organização do processo, culminou em violação não 
só ao § 1º do art. 357, do CPC, mas, mais ainda, em violação ao 
princípio do devido processo legal. 4. Recurso da Mundial Center 
 
20 TJ-DF 07120398120218070001 DF 0712039-81.2021.8.07.0001, Relator: LEONARDO 
ROSCOE BESSA, Data de Julgamento: 23/02/2022, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: 
Publicado no DJE : 16/03/2022. 
 
 
 
 
Atacadista S/A provido. Sentença cassada. Demais recursos 
prejudicados.21 
PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE 
FAZER C/C COMPENSATÓRIA POR DANO MORAL. ALEGAÇÃO 
DE NEGATIVAÇÃO INDEVIDA EM VIRTUDE DA NEGATIVA DE 
QUALQUER RELAÇÃO JURÍDICA COM O BANCO RÉU. PARCIAL 
PROCEDÊNCIA. APELO DO BANCO RÉU SUSCITANDO 
NULIDADE DA SENTENÇA POR CERCEAMENTO DE DEFESA. 
SUBSIDIARIAMENTE, PRETENDE A REFORMA INTEGRAL DO 
JULGADO OU, AO MENOS, A REDUÇÃO DA VERBA 
COMPENSATÓRIA. AUSÊNCIA DE PROLATAÇÃO DE DECISÃO 
SANEADORA COM A APRECIAÇÃO DO TEMPESTIVO PEDIDO DE 
PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL FORMULADO PELA PARTE RÉ. 
CERCEAMENTO DE DEFESA CARACTERIZADO PELO 
JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. NULIDADE CUJA 
DECLARAÇÃO SE IMPÕE. PROVIMENTO.Na espécie, após 
requerer tempestivamente a produção de prova pericial grafotécnica, 
a parte ré foi surpreendida com a prolatação de sentença de parcial 
procedência dos pedidos autorais. Com efeito, nota-se que o pedido 
de produção de prova pericial sequer foi analisado, circunstância 
caracterizadora de error in procedendo, pois o correto seria proferir 
decisão de saneamento e de organização do processo, oportuno 
momento processual no qual o juízo resolveria as questões 
processuais pendentes, delimitaria as questões de fato sobre as quais 
recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova 
admitidos, definiria a distribuição do ônus da prova, observado o artigo 
373 do NCPC, delimitaria as questões de direito relevantes para a 
decisão do mérito e designaria, se necessário, audiência de instrução 
e julgamento, tudo na forma expressamente prevista no artigo 357 e 
seus incisos do NCPC, sendo nítida a inaplicabilidade, in casu, da 
regra do julgamento antecipado do mérito, pois, embora revel, o banco 
réu requereu a produção de prova (artigo 355, II, in fine, do NCPC), 
conforme lhe é permitido pela regra prevista no artigo 349 do NCPC. 
A toda evidência, o desrespeito a tal regra configura notório prejuízo à 
parte ré que viu seu direito de defesa cerceado. Violação dos 
princípios do contraditório e da ampla defesa, constitucionalmente 
protegidos. Jurisprudências do E. STJ e desta E. Corte. Provimento do 
apelo para declarar a nulidade da sentença e determinar o 
prosseguimento do processo com o proferimento de decisão de 
 
21 TJ-DF 00305295420158070018 DF 0030529-54.2015.8.07.0018, Relator: ARNOLDO 
CAMANHO, Data de Julgamento: 01/12/2021, 4ª Turma Cível, Data de Publicação: 
Publicado no PJe : 22/01/2022. 
 
 
 
 
saneamento e de organização do processo, com a análise do pedido 
da pare ré de produção de prova pericial grafotécnica.22 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO – EMBARGOS À EXECUÇÃO – 
CÉDULA DE CRÉDITO RURAL PIGNORATÍCIA E HIPOTECÁRIA – 
SANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO. 1. 
INSURGÊNCIA ATINENTE AO INDEFERIMENTO DA PROVA ORAL 
– MATÉRIA NÃO PREVISTA NO ROL DO ART. 1.015 DO CPC – 
URGÊNCIA NÃO IDENTIFICADA – TEMA REPETITIVO Nº 998 – 
RECURSO NÃO CONHECIDO NESSE PONTO. 2. EXIBIÇÃO DE 
DOCUMENTOS – AUSÊNCIA DE APRECIAÇÃO – DECISÃO CITRA 
PETITA – NULIDADE PARCIAL – DECLARAÇÃO DE OFÍCIO – 
TEORIA DA CAUSA MADURA – POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO 
ANALÓGICA – ART. 1.013, § 3º, III, DO CPC – ANÁLISE IMEDIATA 
DO REQUERIMENTO EXIBITÓRIO – EXAME DA FINALIDADE E 
UTILIDADE DA PROVA PRETENDIDA EM VISTA DOS LIMITES 
OBJETIVOS DA DEMANDA E DAS PECULIARIDADES DOS 
EMBARGOS À EXECUÇÃO – IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO 
AMPLA DOS CONTRATOS FIRMADOS ENTRE AS PARTES E 
CONSEQUENTE EXIBIÇÃO DE TAIS INSTRUMENTOS E DEMAIS 
DOCUMENTOS CORRELATOS – AUTONOMIA DO TÍTULO 
EXECUTIVO – AUSÊNCIA DE VINCULAÇÃO COM QUALQUER 
OUTRO CONTRATO ENVOLVENDO AS PARTES – INUTILIDADE E 
IMPERTINÊNCIA DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS ALHEIOS AO 
TÍTULO – POSTULAÇÃO EXIBITÓRIA DEFERIDA EM PARTE. 3. 
POSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA DO CDC E INVERSÃO DO ÔNUS 
PROBATÓRIO – TOMADA DE CRÉDITO PARA FOMENTO DE 
ATIVIDADE AGROPECUÁRIA – RELAÇÃO DE INSUMO – 
PRODUTOR RURAL – CDC INAPLICÁVEL – PRECEDENTES DO 
STJ – NÃO IDENTIFICADA VULNERABILIDADE TÉCNICA, 
JURÍDICA OU ECONÔMICA (FINALISMO MITIGADO) – ADEMAIS, 
AUSÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA E HIPOSSUFICIÊNCIA. 
Decisão anulada parcialmente e de ofício, com julgamento imediato 
com base no art. 1.013, § 3º, III, do CPC. No mais, recurso 
parcialmente conhecido e parcialmente provido. (TJPR - 14ª C.Cível - 
0056702-13.2021.8.16.0000 - Cambé - Rel.: DESEMBARGADORA 
THEMIS DE ALMEIDA FURQUIM - J. 14.02.2022)23 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DO CONSUMIDOR. FATO 
DO PRODUTO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. DECISÃO DE 
 
22 TJ-RJ - APL: 01482042220168190001, Relator: Des(a). CLEBER GHELFENSTEIN, Data 
de Julgamento: 10/02/2022, DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 
11/02/2022 
23 TJ-PR - AI: 00567021320218160000 Cambé 0056702-13.2021.8.16.0000 (Acórdão), 
Relator: Themis de Almeida Furquim, Data de Julgamento: 14/02/2022, 14ª Câmara 
Cível, Data de Publicação: 14/02/2022 
 
 
 
 
SANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO QUE NÃO DELIMITOU AS 
QUESTÕES DE FATO SOBRE AS QUAIS RECAIRÁ A ATIVIDADE 
PROBATÓRIA. NULIDADE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. 
Segundo o inciso XI do artigo 1.015 do Código de Processo Civil, 
qualquer decisão que verse sobre redistribuição do ônus da prova é 
agravável. 2. Nos termos do artigo 357 do Código de Processo Civil, 
na decisão de saneamento e organização do processo, deverá o Juiz 
resolver as questões processuais pendentes, delimitar as questões de 
fato sobre as quais recairá atividade probatória, especificando os 
meios de prova admitidos, definir a distribuição do ônus da prova, 
delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito e 
designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento. 3. 
Configura cerceamento de defesa e ofensa ao devido processo legal 
a ausência de efetivo saneamento do processo, sem a delimitação das 
questões de fato sobre as quais deveria recair a atividade probatória 
e a especificação dos meios de prova admitidos. 4. Agravo de 
instrumento conhecido e provido.24 
 
APELAÇÃO CÍVEL. COMPRA E VENDA. VÍCIO REDIBITÓRIO. 
AUTOMÓVEL. DEFEITOS GRAVES. NECESSIDADE DE 
AVERIGUAR A PREEXISTÊNCIA E A CIÊNCIA DAS PARTES. 
PROTESTO PELA PRODUÇÃO DE PROVAS ORAIS NA PETIÇÃO 
INICIAL. REVELIA DA PARTE RÉ. JULGAMENTO ANTECIPADO. 
IMPROCEDÊNCIA POR FALTA DE PROVAS. AUSÊNCIA DE 
SANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO. 
CERCEAMENTO DE DEFESA CONFIGURADO. SENTENÇA 
CASSADA. 1. É cediço que a compra de automóvel usado exige 
cautelas do adquirente quanto à verificação das suas condições, daí 
porque a necessidade de revisão e troca de itens sujeitos a desgaste 
pelo uso não seria, em princípio, fato extraordinário ou imprevisível. 
Entretanto, possuindo o automóvel defeitos graves que lhe 
comprometem o desempenho, segurança e valor, demandando 
retífica do motor e substituição da embreagem, mostra-se pertinente 
aprofundar a instrução probatória para permitir às partes 
demonstrarem a época de seu surgimento e ciência, ou não, de ambos 
os contratantes, quanto à sua existência. 2. Não há como se afirmar, 
peremptoriamente, que as provas orais requeridas na petição inicial 
seriam irrelevantes para a solução do litígio, haja vista que a 
configuração do vício redibitório não desconsidera a presença de 
elemento subjetivo, atinente à ciência das partes quanto à sua 
existência. Ademais, a própria sentença admitiu a necessidade de 
produção da prova pericial, sem, contudo, que tivesse sido 
regularmente oportunizada a sua produção, mediante expresso 
saneamento e organização do feito. 3. Não tendo sido realizado o 
saneamento e a organização do feito, com a delimitação das questões 
 
24 TJ-DF 07244575420218070000 DF 0724457-54.2021.8.07.0000, Relator: EUSTÁQUIO 
DE CASTRO, Data de Julgamento: 07/12/2021, 8ª Turma Cível, Data de Publicação: 
Publicado no DJE : 13/12/2021. 
 
 
 
 
controvertidas e distribuição do ônus da prova, configura cerceamento 
de defesa o julgamento de improcedência por falta de prova dos fatos 
constitutivos do direito do autor, mormente quando, sendo os réus 
revéis, havia legítima expectativa processual de que se aplicassem os 
efeitos da revelia quanto ao ônus probatório. 3. Apelo provido. 
Sentença cassada.25 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO MONITÓRIA – CÉDULA DE 
CRÉDITO BANCÁRIO – DECISÃO DE SANEAMENTO E 
ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO QUE DEFERIU OS PEDIDOS DE 
APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, DE 
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E DE EXIBIÇÃO DE 
DOCUMENTOS, POR PARTE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA 
AUTORA – IRRESIGNAÇÃO DO DEMANDANTE – PRETENDIDO 
RECONHECIMENTO DA INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE 
CONSUMO – REJEIÇÃO – CRÉDITO ADQUIRIDO POR PRODUTOR 
RURAL QUE NÃO SE DESTINA À AQUISIÇÃO DE INSUMOS 
AGRÍCOLAS – CONDIÇÃO DE CONSUMIDOR FINAL 
RECONHECIDA, O QUE AUTORIZA A INCIDÊNCIA DAS NORMAS 
DOCDC – PRECEDENTES – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – 
AUSÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE DO DIREITO AFIRMADO PELO 
RÉU/EMBARGANTE – CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO 
FORMALIZADA PARA QUITAÇÃO DE ANTERIOR CÉDULA RURAL 
PIGNORATÍCIA ENCARGOS DO PERÍODO DE NORMALIDADE 
QUE OBSERVAM, EM PRINCÍPIO, O QUE ESTABELECE A 
LEGISLAÇÃO DO CRÉDITO RURAL – HIPOSSUFICIÊNCIA 
TÉCNICO-PROBATÓRIA DO CONSUMIDOR QUE, MUITO EMBORA 
RECONHECIDA, NÃO AUTORIZA A INVERSÃO DO ÔNUS DA 
PROVA, NA CASUÍSTICA – APARENTE DESNECESSIDADE DE 
PRODUÇÃO DE OUTRAS PROVAS QUE NÃO A DOCUMENTAL JÁ 
COLIGIDA – DESNECESSIDADE E INUTILIDADE, POR 
CONSEGUINTE, DA DETERMINAÇÃO DE EXIBIÇÃO DE NOVOS 
DOCUMENTOS – MEDIDAS AFASTADAS – DECISÃO 
PARCIALMENTE MODIFICADA – RECURSO PROVIDO EM PARTE. 
(TJPR - 14ª C. Cível - 0063222-86.2021.8.16.0000 - Bandeirantes - 
Rel.: JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU 
ANTONIO DOMINGOS RAMINA JUNIOR - J. 09.05.2022)26 
 
 
25 TJ-DF 07253982920208070003 DF 0725398-29.2020.8.07.0003, Relator: ARNOLDO 
CAMANHO, Data de Julgamento: 03/02/2022, 4ª Turma Cível, Data de Publicação: 
Publicado no DJE : 16/02/2022. 
26 TJ-PR - AI: 00632228620218160000 Bandeirantes 0063222-86.2021.8.16.0000 
(Acórdão), Relator: Antonio Domingos Ramina Junior, Data de Julgamento: 09/05/2022, 
14ª Câmara Cível, Data de Publicação: 09/05/2022 
 
 
 
 
Após verificarmos como o Judiciário lida com as questões relacionadas a 
organização do processo, podemos a seguir ver outras decisões, que analisam a 
questão da necessidade, ou não de produção de prova. Vejamos os julgados: 
 
APELAÇÃO. Ação declaratória de inexistência de título c.c. 
cancelamento de protesto e indenização por danos morais. Sentença 
de procedência. Inconformismo da ré. Juntada de documentos nas 
razões de apelação. Não conhecimento diante da preclusão. 
Documentos de fácil acesso, que poderiam ter sido juntados 
oportunamente. Apresentação extemporânea. Impossibilidade de 
conhecimento por não se tratar de documentos novos, a teor da 
disposição contida no art. 435 do CPC. Cerceamento de defesa. 
Inocorrência. Provas documentais suficientes ao julgamento da lide. 
Desnecessidade da produção de prova testemunhal. Protesto indevido 
por dívida paga. Danos morais "in re ipsa" em razão do protesto 
irregular. Quantum indenizatório mantido em R$ 5.000,00, atendendo 
os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. A autora 
permaneceu com o protesto indevido por 48 meses. Sentença 
mantida. Recurso desprovido.27 
 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - PRELIMINARES DE NULIDADE 
PARCIAL DO PROCESSO E DE CERCEAMENTO DE DEFESA - 
REJEIÇÃO - AÇÃO DE COBRANÇA - CONTRATO DE LOCAÇÃO - 
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS FIADORES - RENÚNCIA 
AO BENEFÍCIO DE ORDEM. Não se há de falar em nulidade parcial 
do processo ou em cerceamento de defesa, ante a regular 
apresentação de contestação pela parte requerida/apelante e ante a 
desnecessidade de produção de provas outras para o deslinde da 
controvérsia. É solidária a responsabilidade do locatário e de seu 
fiador, notadamente quando este renuncia ao benefício de ordem 
previsto nos art. 827 e 828 do Código Civil. Buscando os 
autores/locadores o recebimento de valores inadimplidos, cuja 
obrigação de pagamento recai sobre o locatário e também, de forma 
solidária, sobre sua garantidora, competia aos devedores comprovar 
o cumprimento da obrigação por eles assumida, a teor do disposto no 
artigo 373, II, do CPC.28 
 
 
27 TJ-SP - AC: 10029081320218260637 SP 1002908-13.2021.8.26.0637, Relator: Régis 
Rodrigues Bonvicino, Data de Julgamento: 27/01/2022, 21ª Câmara de Direito Privado, 
Data de Publicação: 27/01/2022. 
28 TJ-MG - AC: 10313120007189002 Ipatinga, Relator: José de Carvalho Barbosa, Data 
de Julgamento: 03/02/2022, Câmaras Cíveis / 13ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 
03/02/2022. 
 
 
 
 
Apelação. Ação declaratória de resolução de promessa de compra e 
venda c./c. restituição de quantias pagas. Compromisso de compra e 
venda de bem imóvel. Atraso na entrega do imóvel. Rescisão 
contratual a pedido dos promitentes compradores. Sentença de parcial 
procedência, declarando a resolução do contrato e devolução dos 
valores desembolsados a título de preço. Recurso da ré que não 
merece prosperar. Argumentos preliminares que devem ser afastados. 
Cerceamento de defesa que não se verifica. Desnecessidade de 
produção de prova pericial e oral. Alegação de atraso por caso fortuito 
e força maior em razão da pandemia de Covid-19. Construção civil que 
não foi paralisada durante a pandemia, por ser classificada como 
serviço essencial. Prazo de tolerância fixado em 180 dias úteis para a 
conclusão das obras. Cláusula abusiva. Prazo de tolerância que não 
pode superar 180 dias corridos. Aplicação do tema 1 do IRDR nº 
0023203-35.2016.8.26.0000. Atraso na entrega do imóvel verificado. 
Restituição que deveria ocorrer de forma integral (Súmula 543 do 
STJ), e não apenas em relação aos valores pagos a título de preço, 
mas não do valor indicado como pago a título de entrada. Ausência de 
recurso pelos compradores. Proibição da reformatio in pejus. 
Pretensão de aplicação de cláusula penal afastada. Restituição em 
parcela única (Súmula 2 deste Tribunal). Rescisão contratual por culpa 
exclusiva da ré. Juros de mora desde a citação (art. 405 do CC). 
Correção monetária desde cada desembolso. Precedentes. 
Sucumbência corretamente estabelecida. Sentença mantida. 
Honorários majorados. RECURSO DESPROVIDO.29 
 
O art. 357 vai muito além do artigo 331 do Código de Processo Civil de 1973, 
que tratava apenas da audiência preliminar, que ficou praticamente esquecida. Não 
tínhamos saneadores, mas meros modelos. 
A ideia atual é: sanear e organizar. Por isso o juiz precisa especificar os fatos 
objeto de prova, o meio de prova e as questões de direito que se mostrem relevantes 
para o processo. 
Em sequência as partes podem pedir esclarecimentos no prazo comum de 5 
dias (processo cooperativo). Depois, esta decisão se torna estável (preclusão). 
O parágrafo segundo do art. 357 traz interessante regra: “delimitação 
consensual das questões de fato e de direito”. 
 
29 TJ-SP - AC: 10158442220218260071 SP 1015844-22.2021.8.26.0071, Relator: L. G. 
Costa Wagner, Data de Julgamento: 31/05/2022, 34ª Câmara de Direito Privado, Data 
de Publicação: 31/05/2022. 
 
 
 
 
As partes podem acordar sobre a condução da fase instrutória, ajustando os 
fatos a provar, por exemplo. A proposta não obriga à homologação, mas, sendo 
homologada, obriga os sujeitos do processo (negócio jurídico processual). 
Em relação ao negócio jurídico processual, importante trazermos algumas 
contribuições de Pedro Henrique Nogueira, que nos explica o conceito de negócio 
jurídico processual: 
Fato jurídico voluntário em cujo suporte fático, descrito em norma 
processual, esteja conferido ao respectivo sujeito o poder de escolher 
a categoria jurídica ou estabelecer, dentre os limites fixados no próprio 
ordenamento jurídico, certas situações jurídicas processuais. Como 
obervou Fredie Didier Jr., “no negócio jurídico, há escolha da categoria 
jurídica, do regramento jurídico para uma determinada situação”30 
 
 
Dentro da conceituação do autor citado, verificamos que há a possibilidade de 
realizarmos negócios jurídicos processuais, o que confere as partes, a viabilidade de 
escolha de certas situações jurídicas processuais. 
É o que podemos constatar no Código de Processo Civil de 2015, mais 
especificamente em seu art. 190, no qual viabilizou a possibilidade da realização de 
negócios jurídicos processuais31. 
Há aqui um campo fértil para discutirmos os negócios jurídicos de âmbito de 
direito processual, o que acarreta, naturalmente, em alguns questionamentos sobre a 
 
30 NOGUEIRA. Pedro Henrique. Negócios jurídicos processuais. 4 ed. Rev., ampl e atual. 
Salvador. Ed. JusPodivm, 2020, p. 175. 
31 Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às 
partes plenamente capazes estipular mudanças

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