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tg.J!iWPensamento 
Criminológico 
VOLUME 1 
VOLUME 2 
VOLUME 3 
VOLUME 4 
VOLUME 5 
VOLUMf6 
VOLUME 7 
VOLUME 8 
VOLUME 9 
VOLUME 10 
VOLUME 11 
Crimino~a Cri1Q~",'1: 
Introdução à Cri~,_; 
A/essandro Baratta 
Difíceis GanhQs ·f_~f;.:110 
engrenagem de controle total sobre a força de trabalho se voltou, assim, 
progressivamente, contra o domínio capitalista que a bavia montado e colo­
cado em ação. As mesmas posturas rígidas, as mesmas máquinas, as mes­
mas linhas de montagem, as mesmas sucessões hierárquicas que haviam 
a alienação, a e a subordinação do corpo ao valor, 
pcrmitiam agora, à classe exercitar um cfctivo cm 
relação ao sistema produtivo. Quero dizer com isso que, dentro ou (ora da 
produção, dentro ou (ora dos espaços definidos do controle, as resistências 
nascem exatamente onde os poderes se apóiam, nutrindo-se daquelas 
mesmas características que fazem deles poderes "eficazes". 
Ora, as tecnologias do controle que vimos descrevendo nessas páginas 
parece.r~.am quase consumar estas margens de resistência, porque substitu­
em lugares, indivíduos e relações subjetivas reais por simulacros, i1uxos de 
dados e números, estatísticas e não-lugares, com respeito aos quais é difícil 
a de resistência. A tabela e o 
das áreas ele risco da 
com base 
com base no grupo 
são alguns exemplos de atuanals que tornar 
qualquer resistência porque a anulam na sua dimensão subjetiva, isto é, de­
sestruturam aqueles sujeitos e aquelas formas de interação social que as tec­
nologias disciplinares pretendiam transformar e regular. Em outras palavras: 
A classificação atuarial, com o seu sujeito sem centro, parece elimi­
nar, antecipadamente, a possibilidade de uma identidade, de um auto­
conhecimento crítico e de uma intersubjetividade. Ao invés de cons-
134 
truir as pessoas, as práticas atuariais as desmantelam . 
Todavia, talvez seja possível considerar tudo isso não como a submissão 
definitiva das resistências da parte de um poder de controle que refinou os 
próprios instrumentos de domínio, mas sim como a demonstração de uma 
radical fetração do poder, de uma drástica perda de controle sobre as dinâmi­
cas sociais. A atuarialização, a vigilância, o internamento, as limitações de 
acesso não impedem as resistências, simplesmente procuram ignorá-Ias, 
colocando as práticas de controle num plano diverso, onde no lugar de sujei­
tos reais encontramos imagens deformadas. 
134 J. Simon, "The Ideological Effect of Actuarial Practices", in La,v anel Society 
RevielV, II, 411988, p. 795. 
111 
Então, é aqui que podemos identificar um nexo singular entre estratégias 
de c?l1trole do excesso e formas de domínio do capital sobre a multidão pós­
fordIsta. Do mesmo modo que o comando do capital sobre a força de traba­
lho se ~esenvolve sob a forma de simulacro, como contínua imposição de 
~ategonas que não compartilham nada com o caráter social e cooperativo da 
for?a. de trab~lIho a que pretendem aplicar-se (trabalho e não-trabalho, pro­
dutivIdade e Improdutividade, emprego e desemprego), o controle do exces­
so se desenvolve através da imposição de categorias virtuais e transcenden-
.tais ~omo a classe perigosa, o clandestino, o sujeito de risco, o fotograma 
e a Identidade biométrica. 
/ Se, c~mo j~í foi dito muitas vezes, a consolidação das relações produti~as 
p~s-fordlstas representa a resposta a uma ofensiva operária que tinha preju­
dIcado o processo da acumulação capitalista e a realização da mais-valia, 
p~d~m~s pensar que a mesma dinâmica esteja ocorrendo na passagem da 
dIscIplIna para o controle. Agora, os sujeitos, a própria matéria sobrc as 
as tecnologias disciplinares puderam se exercitar no 
cedem a uma multidão que que cnnl procura se retirar 
dos espa(,;os delimitados da para 110 tecido social em seu 
conjunto. O que vem~s.então não é mais a definição disciplinar de espaços e 
t~mpos de cOl:trole dlstmtos dos espaços e dos tempos do não-controle, mas 
SIm _o exp~odll- d~ uma obsessão quase dese'sperada de vigilância total, de 
gestao do impreVIsto, de antecipação do possível. 
Quando afirmamos que o controle pós-fordista assume progressivamen­
te a forma de um simulacro, não pretendemos desmaterializá-lo, nem mes­
mo.subestimar a violência que o inspira e as conseqliências factuais que daí 
den~an:' As novas estratégias de segregação urbana, de destruição do espa­
ço publIco, de encarceramento de massa e de limitação do acesso à informa­
ção são fenômenos extremamente reais. Produzem sofrimento, isolamento, 
desespero, chegando mesmo, muitas vezes, a -impor aquela "morte bioaráfi­
ca" a ~~e eu m~ refe~ia nas p:-imeiras páginas. É impossível negá-lo. Ado excesso. 
114 
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talidade"89, Como se acenava nas pagm delo da soberania para uma prática 
çle uma lógica do poder centra~~ ,1:0 l:~ode croverno", A ciência de governo 
t' da nOV'l ClenCI,l o c 
do poder que se nu le " 
concepção do po el g 1 d f" a "governamentalidade como ,. "um Foucau t c lllC t' , desse momento aovernar 
' , '- "fica que, a par 11 , b 
aias práticas e 1l1stltmçoes, slgm d 'es que derivam do novo con-
o , 'd fvamente os po er , 
um Estado e exercitar pro UI" potencialidades produtivas e 1l1-' , Tará maXllnIZar as , 
ceito de soberama slgm lC _ ' d 11esse meio tempo meeamsmos 
d opulaçao atlVan o , 
centivar o bem-estar a p , ' a estatística social, os recensea-'fi -o dos resultados, tms como deven lcaça , . 1 
ntabilidade naCIOna , , ' 
mentos, a co 'A '. d d r influir mediante estrategms h' " d conSClenChl e po e, A 
A aquisição lstonca a Iações e sobre os fenome-
' 1 d ocessos~obre as popu " 
de governo raCIOna os pr 'I 'a constituição de novos re-f . 11am (eterm1l1a 
nos econômicos q~e,os c?n Oll , lomerados de saber e de poder, q,ue 
crimes de práticas' , lStO e, de novos
d 
ag _ saúde a sexualidade, a hlgle-
o 'd erno' a pro uçao, a poder. Assim, pode finalmente consumar-se a superação do suplí­
cio em toda a sua teatralidade destrutiva, e o alvorecer de uma penalidade silen­
ciosa, discreta, que age com sistemática regularidade na penumbra das institui­
ções totais. A penalidade torna-se, portanto, um processo mediante o qual 
produzem-se indivíduos cuja utilidade - tanto como singularidades quanto 
como partes de uma população produtiva - se realiza no trabalh0
94
. 
No entanto, o corpo permanece no centro. As diversas técnicas do poder 
se exercem sobre o corpo, nele imprimindo as suas marcas. Sobre o corpo 
93 Esta foi a definição que Foucault deu aos ::lpar::ltos de segurança 
ministrada no College de France no dia 5 de abril de 1978: "Pó r em prática de mecanis­
moS de segurança ['H] mecanismos ou modos de intervenção do Estado cuja função 
é garantir a segurança dos fenómenos naturais, dos processos económicos e 
dos processos intrínsecos à população, torna-se o objetivo principal da raeio­
nalidade governamental" (citado em G. Burehell, "Governmental Rationality.An 
Introduction", in Burchell, Gordon e Miller (cds.), The FOllcault Effect, cit., p.19). 
94 "O corpo deve ser não mais marcado, mas sim adestrado e corrigido; o seu 
tempo deve ser medido e plenamente utilizado; as suas forças, continuamente 
aplicadas ao trabalho" (Foucault, I corsi ai College de France, cit., p. 40). 
87 
se consuma a violência espetacular do suplício de Damien, que ocupa as 
primeiras páginas de Vigiar e punir; sobre o corpo se fundam agora as tec­
nologias disciplinares que anunciam o fim daquele suplício. O mesmo corpo 
sobre o qual se materializava a ilimitada potência destrutiva e aniquiladora do 
poder soberano agora se torna objeto peculiar do poder "governamental", o 
núcleo sobre o qual convergem os novos saberes reguladores (as ciências 
biológicas, a estatística, a medicina, a psiquiatria, a criminologia), as novas 
instituições (escolas, quartéis, hospitais, hospícios, prisões), os novos regi­
mes de práticas (a investigação, a pesquisa, o exame, a terapia, a sentença). 
A racionalidade do biopoder disciplinar e "governamental" certamente se 
constrói, como se disse mais de LIma vez, sobre uma idéia produtiva do 
poder. Mas esta produtividade não se explica se não se leva em conta um 
elemento fundamental (que permanece enquanto tal até a crise do sistema de 
produção fordista). Os dispositivos de poder e de controle devem ser ativados 
produtivamente porque existe uma improdutividade social difusa à qual é 
pre~iso pôr um fim, uma latente dispersão de recursos que deve ser contida, 
uma carência de cooperação produtiva que deve ser recuperada. As relações 
capitalistas de excedem a de trabalho, convocam-na para for­
mas de cooperação em relação ;lS quais ela se revela inadequada, 
da, de-socializada, carente. Para rCI1'lediar essas carências, o sistema capi­
talista teve de inventar "métodos de poder capazes de ampliar as forças, as 
atitudes, a vida em geral, sem, no entanto, tornar mais difícil o assujeitamento"95. 
A prisão e as demais instituições disciplinares materializam uma nova 
concepção do espaço e do tempo aplicada aos corpos e ü população. A sin­
cronização dos gestos, a regulação das ll'Rlssas de indivíduos na indústria, a 
relação corpo-máquina, são aspectos que exemplificam a racionalidade eco­
nômica peculiar que se afirma com a emergência da produção industrial e se 
consolidará com o desenvolvimento do capitalismo fordista. As tecnologias 
do controle disciplinar exprimem esta racionalidade, traduzindo-a em moda­
lidades específicas do punir96. As linhas desta evolução se articularão, simul­
taneamente, seja na fábrica, onde os princípios científicos de organização do 
trabalho conferirão à direção o papel de propulsão e de governo da produtí-
95 Foucault, La volontli di sapere, cit., pp. 124- I 25. 
96 "O tempo dos homens deve ser oferecido ao aparato de produção; é necessário 
que este possa utilizar o tempo de vida, o tempo de existência dos homens. É por 
isso e sob esta forma que o controle se exercita" (M. Foucault, "La verità c le 
forme giuridiche", in Archivio Foucault, /l, Poteri, p. 1 
88 
. d f'b " a onde as políticas keynesianas de regulação da 
'dade sep fora a a uC,,' d d . t ão 
VI, .' d d definirão as coordena as a 111 ervenç-
relação entre economm e socle a e 
•• 97 
tatal noS processos SOCiaiS . . . d 
es . I 70 das \'chções entre economia e socleda e e , - d empresa legu aça ,. c I' DJreçao a , • 
contro e 1;;, '.' disjJositivos cm condições de mItigar 
~ 'luto-constituem como ' ' . 
da em que se .' f " 'i. . as de suprir determinadas faltas, de lI1tegrar o que 
determmadas tl1SU IClcnCl", lfi aur'lrem como dispositivos de 
.. " t' momento em que se COI I::> ' 
é deflCltano, a e o .~. a for '1 de trabalho no confronto com a or-
disciplinanzcnlo das cm enclCls~, A j:b " ~'l eleve ser crovernada "cientifica­
ganização capitalista da produçao. ,\ ~ll~' .' ~ l' d deve ser gover-
" ,', ~ ias de produtividade, a soclec à e ' 
mente para suprir à carenc 'f" t ~ s cal'e~llCJ"lS de inclusão devidas aos 
. '1" t~" )a1'a f'lzer [ell c", " 
nada "Clentl leamen e I "d" . deve ser' ti'atado "cientificamente" para 
. . d 'cado' o esvlO ' , 
deséqmlíbnos ~o n:el ~'. l' . ';' e inteGração que se produzem quando 
d' carenClaS de SOCla IzaçdO b 
reme tar as, . . falham De um ponto de vista interno à econo-
as outras praticas de goveln~. 1 'e'lo' cjue se 1)ossa sintetizar deste modo a 
. l't' '1 elo controle soela , Cl t . . I' mia po i IC, _' ~ .. " .. , .. , Jrúticas do controle cltSClP mar 
simbiose entre produçao, proCt;S~O~ SOCI,11S t; I 
durante o forc!Jsmo. 
que se 'de e formas 
. '1 ' : peruuntar quaIs 
~e~sa:1 ~ura, e do domínio b se constituem a partir d? esgotament~. d~ 
de raCIOnalidade . 1 . d strial do capitalIsmo e da transfor-
d· d 1cerramento do CIC o 111 u 
for lsmo, o el , f 'd' .t' em multidão. Isto é, chegamos ao 
mação da força de trabalho pos: or ,;~. das de croverno se recortam no hori-
t d perountar que novas pIU IC I::> 
momen o e b .' d' 'ê lcia para um regime do excesso. 
zonte da passagem de um regIme cl Cal I 
".,. b"'r" O controle como nao-sa... ., ., _ 
. .,. 'd' no )ara o pós-fordismo, marcada pela ti ansfol mel 
A tranSlçao do for lS\ I" ~ !f dão determina mudanças 
- d f ' 'i de trabalho contemporanea em mLl I, . . .. 
çao a OlÇ, .' r d' de "governamental" e dos diSpOSItiVOS 
signifícati vas no terreno da 1 aCIOna.I:1 
. 
de controle que asseguram a sua vlgenela. 
I . reSI)ectiva-
d · . r . overnamental no qua se Situam, 
97 A respeito do complexo ISClp lI1ar-g _ '. velfarista da sociedade, 
. - I ,', da produçao e o governo " . 
mente, a orgamzaçao tay ~!lsta. '" ~d' de' "Na fábrica, o taylorismo radicaliza Clen-
Lazzarato escreve com multa plOplle a.. (, . duç'lo aoS esquemas sensO-
d - d corpo a orgal1lsmo sua le , d -
tifícamente a re uçao o . . o ula 'ão em processos de repro uçao, 
motores). O welfare articula e dlssemma li P p. ~ .,. da família das mulheres e 
d .' - (controle e mstltulÇàO , , 
multiplicando as figuras a sUJelçao . Lavoro 
'd d' e da velhIce das da sau e, a 
immateríale, cit., p. 121). 39 
o excesso negativo é representado como um conjunto de subjetividades 
que excedem a lógica "governamental", uma vez que acentuam a contradi­
ção entre uma cidadania social ainda baseada 110 trabalho e uma esfera pro­
dutiva que cada vez tem menos necessidade de trabalho vivo. O excesso 
poslflVO se por seu turno, como conjunto de subjetividades que exce­
dem a racionalidade porque a entre uma 
potencialidade produtiva ilimitada c cooperativa e um arranjo das relações de 
produção que cria obstáculos à autonomia do comando capitalista, impondo 
às de produção lima valorização baseada na competição, 
Quando falo ele exclusão ele desemprego, de marginalidade, refec 
rindo esses termos a aspectos de um excesso negCllivo, procuro evidenciar 
dois pólos de uma contradição que parece insolúvel nas condições atuais, De 
um lado, observamos uma sociedade cujas dinâmicas de inclusão são medi­
adas pelo trabalho entendido como emprego, como ocupação a tempo pleno, 
garantida, continuada e cm resumo, uma sociedade que continua a 
subordinar a titularidade dos direitos de cidadania e, em última 
direito ii existência à concl trabalhador trabalhadora, De outro 
emerge uma estrutura das de que se funda 
exatamente na redução e na precarização do trabalho, 
O acesso à renda, ii cidadania, à integração social e à própria existência 
é, em outras palavras, subordinado ü satisfação de um requisito que desapa­
rece progressivamente do horizonte de possibilidades da constituição mate­
rial pós-fordista, Vejo aqui uma primeira vertente da contraclição, que as 
atuais estratégias de controle se dispõem a conter, reprimir ou inibir devido 
às suas conseqüências potencialmente subversivas da ordem social: a con­
tradição entre os requisitos que a constituição formal da cidadania requer 
abstratamente,e os recursos que a constituição material pós-fordista pre­
dispõe concretamente, 
QtJãndo falo de trabalho imaterial, de intelectualização da produção, de 
trabalho lingüístico e de general imellect, referindo-os a aspectos cio e:rcesso 
positivo, procuro delinear as características de lima contradição ulterior, 
mas em tudo complementar à precedente, Refiro-me ü contradição entre 
uma força de trabalho que possui, potencialmente, capacidades e atitudes 
produtivas que permitiriam superar o comando e a organização capitalista cio 
trabalho e um sistema de relações de produção que, ao contrário, se impõe 
de fora, como domínio puro e comando parasitário, A contradição se define 
aqui como excesso da atividade enquanto cooperação social produtiva 
autônoma - sobre o traballzo - enquanto produção hetero-dirigida de mais-
90 
cI . 'cI I enraizando-se . como conflito entre um potencial cle pro utlVl ac e qu~, ,'., . 
valIa, . d 'JO vivo (comunicação, invençao, criatiVidade), 
diretamente nas atitudes o cOIl , r d'lde vazia de empresa 
/ 'fl"IO o comando capitalista, e uma raCIOna Ipara a vigilância e para 
a limitação do acesso, Nas páginas que se seguem pretendo oferecer alguns 
primeiros elementos de descrição destas tecnologias, confelindo particular aten­
ção àqueles contextos em que me parece que elas começam a se manifestar de 
forma mais definida: o cárcere atuarial 102 , a metrópole punitiva, a rede, 
tOO T. Matbiesen, The Viewer Society: Michel Foucault's Panopticon Revisited, in 
Theoretical Crilllinology, 1-2, 1997, pp, 215-234, 
lOl R, 
285-307, 
Post-Panopticism, in ECOIlOllly (/Iul Society, vol. 29, 2, 2000, pp, 
Hl2 O termo "aluarial", como veremos nas páginas que se seguem, remete aos 
e às eCOn0l111CaS das empresas de seguro, Trata-se 
de uma filosofia de cio risco e do 
93 
o risco aprisionado - Já é quase um lugar-comum colocar a crise do 
fordismo por volta da primeira metade dos anos 1970, mais precisamente 
em 1973, ano em que explode a crise do petróleo. rígidas 
assim se prestam, obviamente, a muitas críticas, a primeira das quais é a que 
afirma não ser nunca sociologicamente individualizar o momento 
em se determinam dramáticas ou pas-
sagens de paradigma. Se de um lado esta crítica parece completamente razo­
ável com aos fenômenos econômicos,~ do outro - no que concerne 
às mutações ocorridas nas estratégias penais contemporâneas - não o é. Em 
outras palavras, ocorre um momento de ruptura, claramente identificável 
neste caso, que coincide exatamente com o período em que, embora de 
modo discutível, tendemos a situar a crise do sistema fordista. E existe tam­
bém um lugar onde esta ruptura ocorreu: os Estados Unidos. 
Durante o segundo pós-guerra, a população carcerúfÍa dos Estados Uni-
dos uma tendência constante à queda sobretudo, du-
rante os anos favorecida dc diversos fatores. O 
"clima moral" toler~mle que se dos direitos ci o 
menta do Estado social e a introdução de formas de controle alternativas ao 
cárcere certamente desempenharam um papel importante nessa direção. 
Porém, na metade dos anos 1970 ocorreu lima radical inversão de tendência. 
A população carcerária começa a crescer, primeiro gradualmente e depois de 
forma acelerada. Passa-se de 400.000 presos em 1975 para 750.000 em 
1985, chegando-se à cifra de mais de dois milhões em 1998 e esse cresci­
mento ainda não dá sinal de que vai parar. 
O aprisionamento atingiu níveis jamais alcançados no arco de toda a his­
tória dos Estados Unidos, superando até mesmo os da África do Sul da 
época do apartheid e da Rússia pós-comlll1ista. Nos Estados Unidos a média 
de prisioneiros é cinco vezes superior à da Europa. E se acrescentarmos aos 
detetltos todos aqueles que estão sujeitos a alguma forma de controle penal 
extra-carcerário ou para-carcerário (medidas alternativas, probatiol1 ou parole), 
verificamos que a população americana "penalmente controlada" conta, em 
seu conjunto, com cinco milhões de indivíduos, 
Seria inútil procurar nas taxas de criminalidade uma causa possível deste 
processo de prisão em massa. A criminalidade nos Estados Unidos parece 
ter seguido uma trajetória de substancial estabilidade no curso das últimas 
décadas, para depois diminuir significativamente a partir da segunda metade 
dos anos 1990. Um outro dado que não deve ser desprezado é que cerca de 
um milhão - i.e., a metade dos presos americanos são acusados ele crimes 
94 
não violentos e, por menos graves: delitos contra a prop:ie~a­
de, contra a ordem pública, delitos que envolvem o consumo de substanCIas 
e, no caso dos violações da disciplina sobre a 
o emer!le daí nos info"rma claramente que o 1l1-
~ Estados Unidos mais a uma lFl1dan-
çada 
Se atentarmos para a 
também em que 
das de da nova 
de controle do que à 
Os afro-americanos constituem 12% da norte-americana, mas 
já há dez anos eles representam a maioria absoluta da sua população 
Em 1950, ela era constituída de 66% de brancos e 32% de negros. Quarenta 
inverteram: os brancos representam pouco 
a cerca de 60l,/0. Se 
anos 
número ficamos que, 
os brancos detídos a entre os 
nos essa relação a quase 7.000 por 1 Vale dizer que a 
probabilidade de um afro-americano terminar na prisão é mais de sete ve~es 
superior à de um branco. Traduzido em termos ainda mais claros, UI1; afro­
americano em três, na faixa etária compreendida entre 18 e 35 anos, esta preso 
ou submetido a alguma medida alternativa ao cárcere. Estes dados nos falam 
de uma guerra declarada à população negra pelo sistema repressivo norte­
america;o. De fato, para fornecer uma legitimação pública ao encar~eram.e:1to 
de massa dos negros americanos, foi usada uma autêntica retónca l1uhtar 
(war on crime, lv~r Oll drllgs, zero tolerallce)I03. /' 
Esses dados devem ainda ser cruzados com os relativos à composição de 
classe da população prisional, e o resultado disso é revelador. A expansão.do 
sistema penal coincidiu, com um timing que se pode dizer quase p~rfelto, 
com a progressiva demolição do Estado social. Ao aumento vertlc~l do 
encarceramento eorrespondeu, no mesmo período e com a mesma l:ap:de~, 
uma redução também vertical do amparo às famílias pobres, da aS~lstencw 
social e da ajuda aos desempregados. Por exemplo, apenas no per;odo que 
se estende de 1993 a 1998 registrou-se uma queda de 44% do' numero de 
10:1 Ver J. l\1iller, Search um! Destro)'. Aji-icC//!-AmericC/11 .Males iI! the 
Justice System. Cambridge, Cambridge Univcrsity Press, 1996. 
95 
famílias que recebem o amparo público para filhos dependentes (AFDC), 
principal forma de subsídio aos pobres concedida pelo we(fare dos Estados 
Unidos, Estudos recentes demonstram, além disso, que o aumento da seve­
ridade penal foi mais profundo exatamente nos estados norte-americanos 
que primeiro se mobilizaram para reduzir as medidas de weifare (por exem­
plo, Texas, Califórnia, Lousiana, Arizona) 104, O fato de a população carcerária 
ser constituída cm sua imensa maioria por pobres, desempregados c subem­
pregados não é nenhuma novidade; ao contrário, trata-se de uma constante 
histórica que os recentes acontecimentos americanos serviram apenas para 
evidenciar, O que mudou, porém, e de modo significativo, foi a relação entre 
instituições sociais e instituiçõespt?nais na gestão da pobreza. 
As "populações problemáticas", vale dizer o sllIplus de força de trabalho 
determinado pela reestruturação capitalista pós-fordista, são geridas cada vez 
menos pelos instrumentos de regulação "social" da pobreza e cada vez mais 
pelos dispositivos de repressão penal do desvio. Deriva daí aquela transição "do 
Estado social ao Estado penal" dc que fala Lo'lc \Vacquant, quando definc "a 
irresistível ascensão do Estado penal americano" como uma cle 
ela miséria funcional pela da salarial 
e sub-remunerada", que se desenrola paralelamente à "concomitante reformulação 
dos programas sociais no sentido punitivo"los. O mesmo \Vacquant nos adver­
te, porém, que estas tendências não dizem respeito apenas aos Estados Unidos 
e que um novo "sentido comuru penal neoliberal" se difunde progressivamente 
também na Europa. Não é difícil identificar os traços que parecem aproximar o 
grande internamento europeu ao norte-ameríçano. Nos últimos dez anos as 
taxas de aprisionamento aumentaram em cerca de 40% na Itália, Inglatena e 
França, 140% em POltugal, 200% na Espanha e nos Países Baixos, Os únicos 
países onde foi registrada uma ligeira contra-tendência foram a Alemanha, a 
Áustria e a Finlândia. 
Mas indo além dos aspectos quantitativos, eloqUentes ao demonstrar que o 
encarceramento aumentou em todos os países europeus com uma rapidez que 
pouco tem a invejar dos Estados Unidos, também aqui o aspecto mais significa­
tivo é representado pela composição da população carcerária. Se é verdade que 
nos Estados Unidos o cárcere tende a se tornar cada vez mais "negro" e "po­
bre", os mesmos fenômenos também são observáveis nas prisões da Europa, 
104 B. Western e K. Beckett, "Governing Social Marginality: Welfare, Incarcerntion, 
and lhe Transformatiol1 of State Policy", in D. Garlund Mass lmprisollment, 
SocialCauses alld Londres, 200 I, pp, 35-50. 
105 L. Wacquant, Parola d'ordine: tolleranza zero, p.70. 
96 
_ ., 'esentados em todos os sistemas carcerários 
Os nligrantes. estao supel-lep~ 19~0 té hoje o percentual de migrantes no 
europeus. Na ltálm, por eX~l:lplo, e d laSO! l)'lra 30%. Esse dado é efetiva-
1 - . erana passou e 10." 
total da popu açao CaIC t'l clue os miGrantes constituem apenas 
, t se levarmos em con , 'b ~ mente preocupan e , '.' ' 106 Como no resto da Europa, 
d l' ão reSidente no paIs . . 
cerca de 2% a popu clÇ, tIos I11Í Gr'lntes é acompanhado, slste-
'I' I' , enclfceramen o C. b ' ' , 
também na Ita la o 1Ipel-' 1 t dos ,leSell1!Jreoados. Emerge da!, . . . , 1 "-depene en es eu, b . . 
matlcamente, pelo c os to;uco '. d . "três terços": um terço de 1l11l-
. d'C ética de um carcere os ' 
assim, a Imagem lam,a.eficazmente o paradigma disciplJfmr'-ce 
controle sobre os sujeitos com um sistema de socialização atum·ial dos riscos 
que afetam as populações em seu conjunto. É a partir desta instalação 
biopolítica que se compreende o nascimento dos sistemas sanitários nacio­
nais, da previdência social, das legislações sobre acidentes de trabalho. Em 
todos esses casos uma lógica securitária ióforma e racionaliza os dispositi­
vos biopolíticos de regulação da população lll
. O que hoje me parece decidi­
damente novo é o modo pelo qual a tecnologia securitária se conjuga às 
novas estratégias de controle. Enquanto na tradução welfarista as técnicas 
securitárias um mecanismo de regulação orientado para a 
dos riscos coJetivos alimentavam 1'Or111:1S ele social 
fundadas l1a na c na as técnicas atuarillis 
de controle contemporâneas operam cxatamente na elireção oposta, limitan­
do, neutralizando· e desestruturando formas da interação social percebidas 
como de risco. Ao combinar sistematicamente estratégias políticas que alí­
mentam a construção social de um imaginário da insegurança, do risco e da 
ameaça criminal proveniente do "estrangeiro", as tecnologias atuariais se 
revelam, ao mesmo tempo, um instrumento de contenção da força de traba­
lho excedente e um dispositivo simbólico de desconstrução dos elos sociais 
da multidão pós-fordista. 
O encarceramento de massa, sustentado por retóricas de guerra, inva­
são e assédio, permite atribuir ao excesso negativo a fisionomia da nova 
classe perigosa e de de-socializar a multidão pós-fordista, substituindo os 
laços de cooperação por aquilo que Pat O'Malley define como "novo 
prudencialismo", um regime de desconfiança universal que impede o reco-
III É a François Ewald que devemos os estudos mais significativos sobre a rela­
ção entre a emergência da lógica atuarial e o nascimento do Estado social. F. 
Ewald, L'État-Providence. Paris, 1 F. Ewald, "Norms, Discipline and 
the Law", in 30, 1 pp. 136-161: F. "Insurancc anel 
Risk", in BUfchell, Gordon & Miller The Fo/{colllr pp. J 97-210. 
100 
nhecimento recíproco dos indivíduos como parte de uma mesma força de 
trabalho social 112 • 
Estes processos de construção social da diversidade ~on~o alg.o de risco 
(dos lugares, das situações, dos indivídl:os e d~ gr~pos ll1telfos: l~scl:evem 
novas hierarquias na superfície da multIdão e lmpoem ~lOvas dlstan~Jas no 
seu interior. Desse modo, a multiplicidade, a mistura de 11l1guagens, a Irredu­
tibilidade das em suma, todas aquelas características que nos 
permitem definir a força de trabalho contemporâne.a como lI.ma l.nllltidã~, 
são redefinidas pelas estratégias de controle como fontes de ll1cer teza pe!­
manente, fobia do diferente e pânico pelo imprevisível I 13. 
Hoje, a conservação da ordem social parece invocar, insist~ntemente, a 
implementação de uma estratégia de controle capa~ de d~sartlcular ex~lta­
mente aquelas formas de socialização e de cooperaçao socwl que antes 1?~a 
necessário alimentar uma vez que constituíam o fundamento da produtlvl­
d;de fordista. E isso acontece porque hoje aquelas formas de coo.per~çã.o 
escapam constantemente ao controle, fogem de qualquer cartografia .dISCI­
plinar e assumem a de eventos de risco, que devem ser eVitados 
a prcçol14 
112 Ver em particular P. Q'Malley, "Risk, Crime and Pru.dentialism R~v.isited", i~: K. 
Stenson e R. Sullivan (eds.), Crime, Risk and JustIce. The Pollt/cs of CI /lne 
Contral in Liberal Del1locracies. Devon, Willan, 2001, pp. 89-103. 
113 Para uma descrição dos processos de construção do "estrangeiro" e da, s~a 
função quanto à reproduç,ão,de um~ incerteza ex.istencial que legitil:1a o dOll111110, 
ver Z. Bauman La società dell'incertezza, tmd. It. Bolonha, II Mulmo, 1999. 
114 Neste conte~to insere-se também o processo de "normaJizaç~o da, e.!:le~g31c~:'.' a 
que assistimos na sociedade contemporânea. Estamos nos refenndo a]a slstemàtlc.~ 
recolocação de "emergências" criminais que permitem, ao mesmo temp?, construll 
as novas classes perigosas (dar-lhes uma fisionomia reconhecível: pedofilos, sat~-. 
nistas fundamentalistas islâmicos, hackers, albaneses, nômades elc.) e prod~Zll 
consel~so social em torno de novas medidas repressivas. Pode-se f~lar de .. nor~ahz~-
em dois sentidos: porque estas são cada vez ma~s frequent.e~" I~las 
sobretudo porque, uma vez cessadas (isto é, desapareei~ias do cenáno mass-mldmt1co, 
seu único plano de existência), as medidas repressivas adotadas p~ra fazer-lhes 
I· d f·t d r mitação das liberdades que frente permanecem em norma Izan o os e elos e I ... " ,." 
daí derivam. Ver em pm1icular L. Blisset Project, Nemici delta Stato. C.mlllllalt 110S1l1 
Ilella società di comrallo. Roma, Derive Approdl, 1999, e o meu 
11 " . 19 2000 pp. 99-102. towle de! contro o , ll1 " 
101 
A metrópole punitiva - constante na literatura 
contemporânea, a cidade parece set candidata a representar o 
das de controle mais das 
na 
cada vez mais 
nar
116
• As práticas abandonam certamente o cárcere mas não 
para difundir-se além do seu perín;'etro no interior do espaço urb;no, como 
outros dele 17, mas 
a tornar a 
de punitiva, l1ias sim se transforma, mesma, em dispositivo de viailância 
m~dal.id>ade de .uma repressão que exerce, uma vez, não m~s sobr~ 
?s mdtvlduos smgulares, mas sobre~c1asses inteiras de sujeitos. E ainda mais­
Importante, a cidade não parece fu:ucionar como um mecanismo orientado 
par~ ~e~erminar, nos indivíduos, a ~ntcríorização de valores disciplinares, n 
a~ulS1çao de modelos de comportanãento regulados, a obediência a estilos de 
VJda pr~-co~sti.tllí~os. Perpassada rior uma multidão produtiva que foge às 
categonas dlsclplmares de normalidade e patologia social, conformidade c 
. . . operosidade e periculosidade, abarcando todas, mas sem se deixar 
identificar com nenhuma delas,·a cldade pós-disciplinar aquilo que, 
com talvez dcfí~ir como uma "ordem' sem nprma" I IR. A 
e punire, 
116 M D . C' , /. . aVls, ata { I quarzo. IndagclIrdo sul jiltllro ii! Los 
Manifestolibri, 1999. trad. ir. Roma, 
117 
por exemplo, S. Cohen, Puni tive City: Notes on lhe DispersaI of 
Social Contrai", in COl1temporarv 3, 1979, pp. 
118 Z B . 
. auman. Work COllslllnerislIl,and rhe NeIV Poor. Buckingham, 
University 2001, p. 85. 
102 
nova arquitetura urbana e as políticas de controle que nela se apóiam - quer 
se chame tolerância zero ou Ileiglzbollrhoodwatch, ou ainda vigilância ele-
trônica ou - alimentam uma social totalmente 
individuais de uma 
de classes de indivíduos defini-
As 21.000 tele-cflmcras de circuito fechado que cstão instaladas nos 
territórios urbanos da as torres direcionais de Los (mu-
nidas de sensibilidade à umidade e à 
dos movimentos e, em casos, de escuta"l 
biométrica das identidades nas 
os detectores de metais que, 
procedem a sistemáticas imateriais"120, enfim 
todos estes dispositivos de não configuram um único, enorme e 
O na realidade, os 
"o 
atual ( ... ] mas sim 
Pelo contrário, as classificações atumiais produzidas por esses processos 
que, por sua vez, as inspiram) não têm tanto a função de dete~tm~ pop~laçõ~s 
a serem disciplinadas, reguladas ou "normalizadas"; sua funçao e mUlt? maIs 
a de diferenciar as possibilidades de acesso a (ou de fuga de) determmadas 
zonas da cidade. 
Em outras palavras, estas tecnologias se erigem como proteção dos guetos 
"voluntários" (centros comerciais, parques temáticos, aeroportos, gated 
C01ll11111llities) e "involuntários" guetos propriamente ditos) que compõem 
a cidade pós-fordista, garantindo o respeito aos critérios que regulam os 
fluxos de entrada ou saída de uns e outros. Desse modo, elas "indicam" as 
l7o-go-areas disseminadas pela metrópole e assinalam visualmente que existe 
119 M. Davis, Geografí"e della pOlira. Los . l'illlllwgÍnario colletivo dei 
disastro. Milão, Feltrinelli, 1999, p. 382. do T.: brasileira. do 
medo. Los Angeles e a jábricaçâo de 11m desastre. Rio de Janeiro, Record, 2001, 
tradução de Aluízio Pestana da Costa]. 
120 o. Sforia políticadei filo Spil/Clto, trau. it. Verona, Ombrecorte, 200l. 
121 D. Lyon, SlIrveillollce MOI/flOriu!! Li{e. Opcn 
University Press, 2001, p. 54. 
103 
uma diferença fundamental entre "aqueles que la 'd d / 
o aviso llo-go-area como 'eu _ " I Cl a e pos-moderna, lêem 
nao quero entrar'" e "aqueles para q 
se traduz por 'eu não posso sair'''122. uem no go 
A metrópole ) / f 'd' , I os- 01 lsta Isola no seu interior es d I 
desarticulam violentamente as l11uitíd-' . , " paços e rec usão que 
ficial ente aquilo q I f ' oes, leplOduzlI1do uma separação arti­
ue c e lI11J~l~S C~:11~ :xcesso negativo e excesso positivo, 
, clSPOSslbIlldadesdemo"Í'l' t' -
aSSIm criada uma escol a soc· ai ,,' v .1 en o e lI1teraçao: 
I, ,menSlll a vel de 'lcOl'do c . 
acesso aos lugares simbolicamente e/ou e ' " om a c~pacldade ele 
.. .,. conomlcamente valonzados"'2:> A 
deíll1ltlvamente de envernar as vest~s d " / ,'" 
para transformar-se num apanto d I::> e, O espaço publIco 
observ1veis ii ,I' t; " O' " e captura e vigilância de populações 
 I . uili'1I1Cl'U ,~ ~'l 
de massa, v , 
no das 
externas lJue mostram de '", , 
/ ' de um espaço imperial virtualmellte livre de front '_ _ ~ ~~lclnte d o ur ano que, em slmblOse mortal" Com o 
 ," 'ice. IlpUsonment, Clt., pp, 82-J20 
, que em 1980 Dano Mclossí 'fia _ ' 
e prenunciava a das de ple loLlJaVa ~stes, desenvolvil~entos 
como substitutos das d UI bana e de guetlzação 
'I . e controle através do Cf D ~" 
I Per uno studio clelle cI'. ," Oltre 
ventcsimo secolo'" r., I contlOllo socmle ncl dei 
, , 111 LlI questIone 1 
pp,277-361. 
104 
A reestruturação das cidades de acordo com linhas de fortificação e 
perímetros de segurança dá consistência plástica à separação entre classes 
perigosas e classes laboriosas que constitui o único terreno colocado à 
disposição dos dispositivos de controle para conter o excesso da multidão. A 
segregação dos migrantes nas cidades européias, a reclusão da força de 
trabalho afro-americana, hispano-americana e oriental nas metrópoles dos 
Estados Unidos e, em geral, a instituição de zonas urbanas de acessibilidade 
diferenciada alimentam um regime da cujo objetivo é a 
desestruturação da multidão, a ruptura daqueles laços de empatia e cooperação 
que, do ponto de vista do domínio, representam um perigo extremo. O efeito 
é a segmentação da multidão através de uma ecologia do medo que, na cidade, 
se materializa na figura do estrangeiro, do imigrante, do desempregado, do 
dependente de drogas, 
A contenção do excesso negativo alimenta a sua construção social como 
classe perigosa, como entidade imprevisível. Aí se evidencia o crepúsculo 
ele um poder disciplinar que cultivava a ambição ele produzir sujeitos úteis, e 
o alvorecer de um poder de controle que se limita a vigiar CUjaS 
de vida não consegue colher. Em 
o visto no contexto da social, é, 
mais projetado do que material mais temido do que 
mais evitado do que contrastado, mais prevenido do que suprimido, 
Trata-se de uma esfera sociocognitiva completamente renovada, que 
emerge do conflito bem delineado entre territórios governados e "ou-
. , 125 
tros pengosos' , 
A atribuição de uma função de controle ao espaço - dissociada das carac­
terísticas individuais dos sujeitos, separada das formas específicas da interação 
entre eles, indiferente às modalidades de socialização concreta dos indivídu­
os e fundada sobre a construção social de perigos cujas características fo­
gem a toda e qualquer compreensão precisa - evidencia até que ponto a 
lógica do risco é o resultado de uma perda de contato sobre o real da parte 
dos aparelhos de controle. Eles operam como pura inibição de processos de 
interação que não governam, renunciando a qualquer função positiva, produ­
tiva e transformadora. 
A rede imbricada Nesse meio tempo, a economia da rede reclama no­
vas formas de controle à altura das transformações que perpassaram a pro-
125 M,Lianos e and the End of Dcviancc, Thc InsLÍ­
tutional Environment", in TÍle British ]ollmal 2,2000, p, 274_ 
105 
o 
produtividade informatizada, o 
da 
representa o âmbito de máxima da 
no qual se concretiza (ou se virtualiza) 
mas também um terreno de conflito 
procura agora assegurar comando 
que lhe 
além do trabalho [ ... J suas 
que estão acontecendo 
cativos elo comunicativo 
por que o controle se em torno da 
. do quanto e do como tcr acesso, com base em quais requisitos e 
com qUalS à às informações, à inovação, ao saber. O controle 
se exercita não tanto mais sobre o uso concreto de determinados recursos _ 
são 
torar, Controlar e censurar a comunicação e mais preci-
samente os comportamentos dos novos trabalhadores do imaterial 
sujeitos que se apropriam elo e da capacidade de inova~ 
adquirindo cada vez mais autonomia da organização do coman­
do, e cujo uso das redes e do computador pode, a qualquer momen­
to, tornar disfuncional, transformar-se em sabotagem, conexão das 
lutas, "desobediência civil eletrônica" 127. 
aqui, ~~rém, emergem algumas insanáveis, que 
revelam a vulnerabIlidade e a estranheza das formas do domínio na sua rela­
çã~ com a nova de trabalho imaterial: de um lado, apenas o acesso 
ul1lversal potencialmente indiscriminado e horizontalmente cO-dividido às 
. ..,. -:- aos d~dos, ao~. ao espaço virtual permite à produtividade 
lmgmstlca e Imatenal expnmIr-se plenamente; cle outro lado, exatamente o 
acesso e esta generalizada parecem minar os próprios fundamen­
tos da. expropriaç.ão e da valorização capitalista dos novos fatores produti­
vos, VIsto que pnvam ele sentido os mesmos conceitos de e 
Technology a /1(1 CirclI irs 
Univcrsity or Illinois 
Projcct, Nemici dei/o Stato, cit., p. 15. 
127 
106 
of Slrugg/e in High-
1999, p. 122. 
"propriedade". No momento em que estende o domínio para além da 
esfera do real, projetando-o sobre a dimensão virtual, o capital lança, paradoxal-
mente, as bases para a própria continuamente novas 
frentes em que se materializa o excedente da de trabalho 
Por os trabalhadores do imaterial devem ser de 
ter acesso a que possam colocar em a exclusividade de 
uma relacionada aos de tratamento dos dados. O aCesso 
a determinados informáticos deve ser subordinado à posse de uma 
capaz de individualizar ou que demonstrem contar 
com os requisitos que assegurem ao sistema um uso e não arris-
cado dos Voltam assim à mente as de Deleuze: 
Nas sociedades decontrole [ ... ] o essencial não é nem uma firma 
nem um número, mas uma cifra: a cifra é uma uma vez 
que as sociedades disciplinares são reguladas por palavras d.e ordem 
l ... I. A do controle é feita de cifras que assmalam o 
. encontramos mais diante 
e 
amostras 
Estas estratégias de controle preventivo não no entanto, escapar 
de uma contradição constitutiva, que as leva ao limite do paradox~. EI~s 
pretendem estabelecer um reginle da previsibilidade absoluta, d.a anteclpaçao 
e da categorização, ali onde a produtividade da multidão se basew exatamente 
no oposto, i.e., na imprevisibilidade, no inédito, no que não se repete. Por 
outro lado, porém, estas estratégias não podem manter-se sempre ~ora. dos 
processos de comunicação e troca que animam os fluxos da prod~çao Virtu­
al, configurando-se, conseqüentemente, como limite imposto ao livre desen­
rolar destes mesmos fluxos. Uma vez mais, porérn, este limite não pode ser 
empurrado até se tornar imposição de uma verdadeira disciplina, porque esta 
esgotaria os requisitos da própria produtividade. 
A co-divisão horizontal de informações e o acesso indiscriminado aos 
não-lugares nos quais elas são produzidas representam hoje as formas mais 
128 G. Delcuze, "La soeietà dei controllo", in G. Deleuze, POW]J(l rlers, trad. it. 
Macerata, Quodlibet, 2000, p. 239 lN. do T.: edição brasileira COllversações, 1972-
1990. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992, tradução de Peter Pál Pelbart). Para uma 
resenha dos problemas de controle causados pelo desenvolvimento da rede, ver 
D. Thomas e B. Loader (eds.) Cybercrime. U/lV Enforcemcnl, ScclLriry {/nd Surl'eIl­
lance iI! the blj:or11wtioll Age. Nova Iorque, Routledge, 2000. 
107 
graves de atentado à apropriação capitalista dos meios de produção, e as 
n~vas estratégias de controle tentam, em meio a contradições e paradoxos, 
dl~por desta apropriação. Compreende-se, assim, por que não é exagerado 
afIrmar que "a Internet é o mais importante bode expiatório dos nossos tem­
pos, a mãe de todas as novas emergências, ajihad que pressupõe e justifica 
toda e qualquer guerra local"129. 
Tudo isso nos reporta, significativamente, aos albores do modo de pro­
dução capitalista, quando na Inglaterra, na transição entre os séculos XVIII 
e XIX, foi exatamente a difusão das manufaturas, das máquinas, dos esto­
ques de mercadorias e dos negócios o que constituiu o pressuposto do nas­
cimento da polícia moderna: 
Es~es h~veres - constituídos por estoques, por matérias-primas, por 
obJetos Importados, por máquinas, por oficinas - estão diretan:'lente 
expostos ao roubo. Toda essa população de pobres, de desemprega­
dos, de pessoas que procuram trabalho, tem agora um contato dire­
to, físico, com as fortunas, com a riqueza. O roubo de navios, o 
das e dos ues, os tornam-se 
normais na no fina! do E exatamente o 
grande problema do poder na Inglaterra nesta época é promover 
mecanrsmos de controle que permitam proteger esta nova forma 
. I d' 130 matena a nqueza . 
Se essas novas exigências de controle determinaram o nascimento de 
uma polícia como nós a conhecemos hoje e alimentaram formas de oraani­
zação do trabalho no interior da fábrica fordista em que, ao lado do Obj:tivo 
da máxima produtividade, encontrava-se o do máximo controle sobre os 
comportamentos operários, hoje talvez assistamos a uma evolução. Uma 
renovada necessidade de controle se manifesta diante das novas formas de-' 
produção da riqueza social e das novas possibilidades de apropriação dos 
recursos: "enquanto a era que está chegando ao término se caracterizava 
pelo controle da troca de bens, a nova era se caracteriza pelo controle da 
troea de conceitos"13l. 
Nel11ici dello Stato, cit., p. 11. 
!30 Foucault, "La verità e le forme giuridiche", cit., p. 146. Sobre o nascimento da 
polícia e sobre as transformações atuais ver ainda Palidda, Polida postoderna. 
del /lUOVO cOlltrollo cit. 
131 J. Rifkin, L'era dell'acesso. La 
Mondadori, 2000, p. 76. 
della New trad. ir. 
108 
Emergem, assim, progressivamente, um controle preventivo - porque, 
diferentemente da riqueza material, a riqueza imaterial só pode ser recupera­
da quando alguém se tenha apropriado ou feito uso dela -, 1..111: contt:o~e 
difuso - porque, diferentemente dos recursos materiais, os recursos lmatenms 
não se localizam num espaço determinado, constituindo antes fluxos, 
éter e um controle atuarial - porque, diferentemente dos sujeitos da pro­
dução material, situáveis e disciplinarmente num espaço produ­
tivo definido, a multidão pós-fordista é uma entidade irredutível às formas de 
singularização típicas da produção fordista e às .conceituais qu: se 
baseiam nelas. A produtividade fundada no saber dos IIlUltos excede, enfIm, 
o domínio fundado no nilo-saber do poder. 
Novas resistências 
Em La volontà di saperc, Foucault se detém· nas formas de resistência 
que emergem na sociedade do controle biopolítico. Essas resistên~ia~ não se 
enraízam, afirma ele, num "lugar da Grande Recusa", não delIneIam um 
"ânimo de revolta", nem sequer um "foco de todas as rebeliões" sobre as 
uma "lei pura do revolucionário". Elas se 
espontâneas. selvagens, as, concertadas, estressantes, 
irredutíveis, pontas ao compromisso, interessadas ou sacrificiais"132 . 
As resistências ao governo do excesso estão em processo constante. 
Embora nem sempre seja possível dar-lhes um nome, ou consig~m n~mear­
se como tais, elas se desenvolvem numa molecuraridade de conflItos difusos. 
É exatamente isso que, com o declínio da fábrica fordista e a implosão do 
reaime de controle disciplinar, Foucault nos sugere, para dizer o menos, 
da~uele lugar da "grande recusa" á qual associamos ,a forma l:ist~ri~a _da 
resistência e da insurgência operárias. Oriundos do penmetro de mstltUlço~s 
disciplinm:es fechadas, os conflitos que surgem em tor~)o .d~s novas estrate­
gias de controle pós-fordista se caracterizam pela multlpl:cl~ade_ de fOfl;1as, 
pela irredutibilidade a qualquer práxis hegemôl:ica, pela hlbndaçao cont1l1ua 
das práticas e pela amplitude com que se mal1lfestam. 
Todo dispositivo de controle é constituído por um c~nj~nto de práticas, 
estratégias e discursos que dão corpo a uma economia l~terna e a uma 
racionalidade específica do domínio. As resistências se localizam exatamen­
te naquela economia e naquela racionalidade para sabotá-las, subtraí-las, torná-
132 Foucault, "La volontà di , cit., p. 85. 
109 
Não se 
por dentro, quase um axiOlTHl daquilo que 
do nexo 
11J 
convém frisar, de que exista uma 
e resistências, como 
formas de rebelião que 
ao contrário, de 
se 
mos, permitia a da seu enraizamento no espaço físico e 
nas ~'eJ~ções de p~der-saber que lhe conferiam vigor. Esta resistência podia 
expnmIr-se como exodo dos lugares do controle, isto é, como desejo de retirar­
~e ~esta localização (evasão do cárcere, fuga da ou da instituição psiqui­
~tr~ca), como desestrtltllraçlío por dentro (sabotagem industrial, prática do ob­
JctlVO, fO~'mas "atípicas" de greve), ou como prflxis de reapropriaçâo do espaço 
~m:a destll1á-lo a um uso distinto do imposto pelo domínio (prMÍcas anti-psiqui-
../ atncas, ocupação das fábricas, comunidades anárquicas). 
Os mesI~o~ mecanismos ela organização disciplinar que tornaram possí­
vel a grandIOSIdade do taylorismo nos anos Sessenta e Setenta representa­
ra~l. o elemento de força de uma classe que começava a dar vida a 
pratIcas de auto-valorização dentro e contra o capital. Toda aquela preciosa 
133 .A~nd~t segundo ~oucault, é sempre no interior das relações de poder que as 
reslstenclas se constituem. Não existe uma exterioridade absoluta da resistência 
a~ poder, visto que as r.elações de poder são dispersas, difusas e "ubíquas". É 
este. um dos pontos mais controversos (mas, na minha opinião, também mais 
fascll1antes) da aná.lise foucaultiana, sobre o qual se mede a difícil relação entre 
Foucault e o marXIsmo ortodoxo, pela recusa, por parte do filósofo de 
toda representação estática, monolítica e vertical dos aparelhos de

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