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nais de saúde foram conta- minados, e os hospitais, sem condições adequadas de infra- estrutura, ajudaram a propagar a doença. De acordo com Sokol, na epi- demia de 1995 em Kikwit, na República Democrática do Congo, a relação entre o hos- pital e mortes de ebola era tão clara que gerou um boato de que os médicos estavam as- sassinando os pacientes que haviam roubado diamantes de minas locais. Já na epidemia de Uganda, moradores acreditam que pes- soas brancas roubavam parte do corpo das vítimas para lu- crar. Médicos ocidentais eram vistos como suspeitos e acredi- tava-se que estavam trazendo a doença. Em janeiro de 2002, um grupo de especialistas teve que fugir da vila de Mekambo, no Gabão, ao ser ameaçado por moradores. Estigma A desconfiança em relação aos profissionais estrangeiros vem desde o início do século XX, quando os colonizadores des- prezavam os costumes locais. Quando houve uma epidemia de doença do sono no então Congo Belga, os moradores, obrigados a tomar remédios de cuja eficácia duvidavam, se re- voltaram. Além da desconfiança em re- lação a profissionais de saúde, há ainda a questão do estigma que aqueles que se curam do ebola carregam. Apesar de não existir um remédio em uso para a doença, o corpo dos pacien- tes pode reagir sozinho e com- bater o vírus. Em epidemias anteriores, afir- ma Sokol, alguns sobreviven- tes não foram aceitos de volta em sua comunidades. Outros não conseguiram mais encon- trar trabalho ou foram abando- nados por seus parceiros. Após a epidemia de 2000/2001 em Uganda, as casas de alguns sobreviventes foram queima- das. “É contra esse passado com- plexo historicamente, cultural- mente e socialmente que os especialistas em ética terão que tomar uma decisão. As normas de ética médica, como a permissão para tratamento, também podem ser diferentes lá, e existe o perigo de transpor normas ocidentais para cultu- ras diferentes”, afirma. Exercícios 1. Impressionados com a notícia do poder arrasador com que o vírus Ebola vem dizimando uma certa população na África, alguns alunos de um colégio sugeriram medidas radicais para combater o vírus desta terrível doença. Considerando-se que este agente infeccioso apresenta características típicas dos demais vírus, assinale a alternativa que contenha a sugestão mais razoável: a) impedir, de alguma maneira, a replicação da molécula de ácido nucléico do vírus. b) alterar o mecanismo enzimático mitocondrial para impedir o seu processo respiratório. c) injetar nas pessoas contaminadas uma dose maciça de bacteriófagos para fagocitar o vírus. d) cultivar o vírus in vitro, semelhante à cultura de bactérias, para tentar descobrir uma vacina. e) descobrir urgentemente um potente antibiótico que possa destruir a sua membrana nuclear. 2. As possibilidades de que as pessoas possam adquirir certas doenças não são iguais para todas. Existem vários fatores que contribuem para que alguns indivíduos ou parcelas da população tenham maior possibilidade de adquirir determinadas patologias. Sobre esses fatores, é CORRETO afirmar: a) a imunização através de vacinas e soros é um dos fatores que minimizam de maneira significativa a manifestação de determinadas doenças, visto que há a introdução de organismos atenuados no indivíduo humano. b) a presença de parasitas, como protozoários, fungos, bactérias ou vírus, pode agravar a saúde humana, uma vez que estes organismos são intracelulares facultativos e as barreiras imunológicas os combatem. c) um dos fatores que conduzem ao agravo à saúde humana está relacionado ao risco biológico, tais como a desnutrição, a idade, as tendências genéticas e a existência de outras doenças. d) a população humana depende de uma fonte de alimentos que serve de matéria-prima para a manutenção metabólica e para a obtenção de energia em nível primário de proteínas. 3. O gráfico a seguir ilustra, de maneira hipotética, o número de casos, ao longo de 20 anos, de uma doença infecciosa e transmissível (linha cheia), própria de uma região tropical específica, transmitida por meio da picada de inseto. A variação na densidade populacional do inseto transmissor, na região considerada, é ilustrada (linha pontilhada). Durante o período apresentado não foram registrados casos dessa doença em outras regiões. Sabendo que as informações se referem a um caso típico de endemia, com um surto epidêmico a cada quatro anos, percebe-se que no terceiro ciclo houve um aumento do número de casos registrados da doença. Após esse surto foi realizada uma intervenção que controlou essa endemia devido a) à população ter se tornado autoimune. b) à introdução de predadores do agente transmissor. c) à instalação de proteção mecânica nas residências, como telas nas aberturas. d) ao desenvolvimento de agentes químicos para erradicação do agente transmissor. e) ao desenvolvimento de vacina que ainda não era disponível na época do primeiro surto. 4. Como resultado de um esforço para a melhoria da saúde pública, em 2006, o Ministério da Saúde lançou o combate ao rotavírus, introduzindo nos postos de saúde a vacinação de crianças contra esta infecção. Depois de 30 anos de pesquisa, começam a ser distribuídas vacinas para barrar o maior causador de diarreia infantil aguda. Para que se sintetizem as vacinas, é importante conhecer as propriedades dos vírus (partículas que infectam eucariontes), os quais a) possuem organização celular. b) apresentam metabolismo próprio. c) não sofrem mutações no seu material genético. d) carregam organelas citoplasmáticas. e) contêm moléculas de ácidos nucléicos. 5. O controle do alastramento deste vírus é problemático, não só devido às facilidades de transporte no mundo, mas, também, porque as vacinas produzidas para combatê- lo podem perder a sua eficácia com o tempo. Essa perda de eficácia está associada à seguinte característica dos vírus: a) sofrer alterações em seu genoma com certa frequência b) inibir com eficiência a produção de anticorpos pelo hospedeiro c) destruir um grande número de células responsáveis pela imunidade d) possuir cápsula protetora contra a maioria das defesas do hospedeiro TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Ação à distância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo das massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades que marcaram esses cem últimos anos, aparece a verdadeira doença do progresso... O século que chega ao fim é o que presenciou o Holocausto, Hiroshima, os regimes dos Grandes Irmãos e dos Pequenos Pais, os massacres do Camboja e assim por diante. Não é um balanço tranquilizador. Mas o horror desses acontecimentos não reside apenas na quantidade, que, certamente, é assustadora. Nosso século é o da aceleração tecnológica e científica, que se operou e continua a se operar em ritmos antes inconcebíveis. Foram necessários milhares de anos para passar do barco a remo à caravela ou da energia eólica ao motor de explosão; e em algumas décadas se passou do dirigível ao avião, da hélice ao turborreator e daí ao foguete interplanetário. Em algumas dezenas de anos, assistiu-se ao triunfo das teorias revolucionárias de Einstein e a seu questionamento. O custo dessa aceleração da descoberta é a hiperespecialização. Estamos em via de viver a tragédia dos saberes separados: quanto mais os separamos, tanto mais fácil submeter a ciência aos cálculos do poder. Esse fenômeno está intimamente ligado ao fato de ter sido neste século que os homens colocaram mais diretamente em questão a sobrevivência do planeta. Um excelente químico pode imaginar um excelente desodorante, mas não possui mais o saber que lhe permitiria dar-se conta de que seu produto irá provocar um buraco na camada de ozônio. O equivalente tecnológico da separação dos saberes foi a linha de montagem. Nesta, cada um conhece apenas uma fase do trabalho. Privado da satisfação dever o produto acabado, cada um é também liberado de qualquer responsabilidade. Poderia produzir venenos sem que o soubesse - e isso ocorre com frequência. Mas a linha de montagem permite também fabricar aspirina em quantidade para o mundo todo. E rápido. Tudo se passa num ritmo acelerado, desconhecido dos séculos anteriores. Sem essa aceleração, o Muro de Berlim poderia ter durado milênios, como a Grande Muralha da China. É bom que tudo se tenha resolvido no espaço de trinta anos, mas pagamos o preço dessa rapidez. Poderíamos destruir o planeta num dia. Nosso século foi o da comunicação instantânea, presenciou o triunfo da ação à distância. Hoje, aperta-se um botão e entra- se em comunicação com Pequim. Aperta-se um botão e um país inteiro explode. Aperta- se um botão e um foguete é lançado a Marte. A ação à distância salva numerosas vidas, mas irresponsabiliza o crime. Ciência, tecnologia, comunicação, ação à distância, princípio da linha de montagem: tudo isso tornou possível o Holocausto. A perseguição racial e o genocídio não foram uma invenção de nosso século; herdamos do passado o hábito de brandir a ameaça de um complô judeu para desviar o descontentamento dos explorados. Mas o que torna tão terrível o genocídio nazista é que foi rápido, tecnologicamente eficaz e buscou o consenso servindo-se das comunicações de massa e do prestígio da ciência. Foi fácil fazer passar por ciência uma teoria pseudocientífica porque, num regime de separação dos saberes, o químico que aplicava os gases asfixiantes não julgava necessário ter opiniões sobre a antropologia física. O Holocausto foi possível porque se podia aceitá-lo e justificá-lo sem ver seus resultados. Além de um número, afinal restrito, de pessoas responsáveis e de executantes diretos (sádicos e loucos), milhões de outros puderam colaborar à distância, realizando cada qual um gesto que nada tinha de aterrador. Assim, este século soube fazer do melhor de si o pior de si. Tudo o que aconteceu de terrível a seguir não foi se não repetição, sem grande inovação. O século do triunfo tecnológico foi também o da descoberta da fragilidade. Um moinho de vento podia ser reparado, mas o sistema do computador não tem defesa diante da má intenção de um garoto precoce. O século está estressado porque não sabe de quem se deve defender, nem como: somos demasiado poderosos para poder evitar nossos inimigos. Encontramos o meio de eliminar a sujeira, mas não o de eliminar os resíduos. Porque a sujeira nascia da indigência, que podia ser reduzida, ao passo que os resíduos (inclusive os radioativos) nascem do bem-estar que ninguém quer mais perder. Eis porque nosso século foi o da angústia e da utopia de curá-la. Espaço, tempo, informação, crime, castigo, arrependimento, absolvição, indignação, esquecimento, descoberta, crítica, nascimento, vida mais longa, morte... tudo em altíssima velocidade. A um ritmo de STRESS. Nosso século é o do enfarte. (Adaptado de Umberto Eco, Rápida Utopia. VEJA, 25 anos, Reflexões para o futuro. São Paulo, 1993). 6. A respeito da aceleração tecnológica e científica, considere o texto a seguir. “Em séculos passados, o homem não tinha meios de proteger-se contra doenças causadas por vírus e bactérias porque o avanço científico ainda não havia identificado os causadores dessas moléstias e a humanidade não possuía vacinas contra elas. Atualmente, muitas dessas moléstias já estão controladas, entretanto, para outras, como o ebola, o desenvolvimento de vacinas foi infrutífero, pois o material genético do ...(I)... é altamente ...(II)... .” Para completá-lo corretamente, basta substituir (I) e (II), respectivamente, por a) vírus - mutagênico b) verme - mutagênico c) protozoário - mutagênico d) vírus - estável e) protozoário - estável GABARITO 1: [A] 2: [C] Soros são constituídos de anticorpos específicos prontos que são introduzidos no indivíduo. Vacinas contêm microrganismos atenuados que, após serem introduzidos no organismo, induz a produção de anticorpos específicos que tornam o organismo imune a determinadas doenças. 3: [E] Como a população de insetos transmissores continuou estável até o final do período estudado, a intervenção que controlou a doença não está relacionada com o controle dos insetos vetores. Como no terceiro ciclo houve um aumento no número de casos registrados da doença, a população não deve ter se tornado autoimune. Portanto, o controle da doença após o terceiro ciclo deve ter se dado pelo desenvolvimento de vacina que ainda não estava disponível na época do primeiro surto da doença. 4: [E] 5: [A] 6: [A]