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PRÁTICA DE ENSINO: IDENTIDADE DOCENTE E SEUS DESAFIOS APRESENTAÇÃO Professora Daislene Rodrighero de Carvalho ➢ · Licenciatura Plena em Pedagogia (UNIESP-BIRIGUI/SP.). ➢ . Especialista em Tecnologias Aplicadas à Ead (UniFCV). ➢ · Especialista em Psicopedagogia Institucional (UniCESUMAR). ➢ · Especialista em EAD e as Novas Tecnologias (UniCESUMAR). ➢ · Especializanda em Gestão Educacional (UniCESUMAR) ➢ · Tutor Educacional (UniFCV). ➢ · Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/7121786122659913 Ampla experiência na modalidade de ensino a distância (Ead), voltadas para a área da Educação (licenciaturas e áreas afins). Atualmente atuo nessa modalidade no Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV), sendo com embasamento na Tutoria Educacional e, por fim, atuo como professora conteudista. APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto com você, construir nosso conhecimento sobre a prática de ensino: identidade docente. Vamos descobrir a identidade docente, sobre seus reais valores, pensamentos e pensadores, assim como auxiliá-lo nos desafios que a formação implica para a sua profissionalização. Na unidade I abordaremos a temática sobre a construção da Identidade Docente, entre a teoria e a prática, como o papel social do professor, sua identidade, os aspectos do saberes da docência e a práxis pedagógica. Já na unidade II, vamos abordar sobre a formação de professores como um projeto político, contextualizando, assim, a importância da formação inicial e continuada, a importância do projeto político pedagógico frente à formação e atuação do professor. Depois, na unidade III, vamos tratar da contribuição da pedagogia de Paulo Freire para a formação do docente: agente que aprende e ensina. E, por fim, na unidade IV vamos abordar sobre os desafios da docência para o uso das tecnologias digitais, dentre o papel da formação do docente para o uso das tecnologias, apontando, assim, sobre tecnologias digitais e seus diferentes usos. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigada e bom estudo! UNIDADE I A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DOCENTE – ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA Professor Especialista Daislene Rodrighero de Carvalho Plano de Estudo: ● O papel social do professor; ● A identidade do professor; ● Os saberes da docência; ● A práxis pedagógica. Objetivos de Aprendizagem: Proporcionar aos alunos e alunas uma reflexão sobre a importância da identidade docente que o/a auxilie no entendimento dos desafios que a formação implica para a sua profissionalização. INTRODUÇÃO Olá, caro (a) aluno (a), é com muita alegria que irei conduzi-lo pelo caminho do conhecimento, iremos refletir sobre assuntos muito importantes para sua formação profissional e, no final da unidade, deixarei algumas sugestões de filmes e livros. Espero que goste! O tema da nossa unidade é: O papel social do professor- entre a teoria e a prática, como o nome da unidade já sugere, estudaremos sobre vários aspectos teóricos e práticos que fazem parte do trabalho docente. Você refletirá sobre o quanto nossa profissão é importante para a mudança de vida das pessoas e perceberá que temos um grande poder em nossas mãos, mas para fazer isso será necessário possuir alguns saberes específicos e eu irei ajudá-lo a percebê-los, distingui-los e compreendê-los. Aprenderemos também sobre a identidade docente e sobre quais são os aspectos que contribuem para que ela seja formada e, para finalizar, ver sobre a práxis pedagógica, que é uma ação docente reflexiva e que visa transformar a realidade. Bons estudos! 1 O PAPEL SOCIAL DO PROFESSOR https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/black-teacher-protective-face-mask-teaching- 1798363267 Vamos começar essa unidade refletindo um pouco sobre nossa sociedade e as mudanças que têm e estão ocorrendo com o passar dos anos. Segundo o dicionário Michaelis (2021), dentre outras definições, alguns dos significados da palavra mudança são: 1 Ação ou efeito de mudar; muda, mudamento. [...] 6 Modificação ou alteração de sentimentos, ideias ou atitudes.[...]. Utilizaremos essas duas definições citadas, pois estão mais próximas do nosso campo de estudo e reflexão. A outra palavra que iremos pensar no significado é sociedade: [...] 2 SOCIOL Agrupamento de pessoas que vivem em um território comum, interagindo entre si, seguindo determinadas normas de convivência e unidas pelo sentimento de grupo social; coletividade. [...] 4 Ambiente humano ao qual o indivíduo se encontra integrado. [...].6 Relacionamento entre indivíduos que vivem em comunidade ou em grupo; convivência (MICHAELIS, 2021). Sendo assim, mudança social é um fenômeno relacionado a uma mudança de ideias, pensamentos, atitudes, hábitos e costumes que são inseridos ou deixam de fazer parte com o passar do tempo, de um determinado grupo social que convive no mesmo espaço, seguindo normas comuns a todos, e é ela que movimenta o desenvolvimento das sociedades. Seus impactos podem durar por gerações ou serem vistos apenas num futuro longínquo; alguns exemplos que possibilitam o acontecimento dessas mudanças são as https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/black-teacher-protective-face-mask-teaching-1798363267 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/black-teacher-protective-face-mask-teaching-1798363267 guerras e revoluções, desenvolvimento das tecnologias, crescimento populacional, desastres naturais, econômicos, geográficos, culturais, religiosos e movimentos sociais como: o movimento feminista, estudantil, negro, trabalhista, ambientalista, LGBTQIA+ (sigla que significa: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros, Queer, Intersexo, Assexual e mais), entre outros. Todos esses movimentos são formados por um grupo de indivíduos que defendem uma causa, pode ser para buscar a transformação de algo dentro da sociedade sejam elas mudança de valores, pensamento, atitudes e luta por direitos para que nossa sociedade seja mais justa, igualitária e democrática. Veja algumas imagens ilustrativas relacionadas a alguns dos movimentos citados: Figura 1 - Goiânia, Goiás, Brasil - 30 De Maio De 2019: Pessoas Segurando Cartaz Na Demonstração. Foto tirada Durante Manifestação a favor da Educação Ocorrida em Goiânia v ID da foto stock livre de direitos: 1965705043 Figura 2 - Goiânia, Goiás / Brasil - 24 de agosto de 2019: Multidão segura cartazes escritos em português em protesto pela proteção da floresta amazônica https://www.shutterstock.com/pt/photos ID da foto stock livre de direitos: 1486957508 Figura 3 - São Paulo, SP, Brasil - 03 de junho de 2018: Pessoas na Parada do Orgulho LGBT na Avenida Paulista em São Paulo em um dia ensolarado ID da foto stock livre de direitos: 182763742 Além de todas as mudanças e transformações que ocorrem pelos diversos motivos citados acima, a troca de informações hoje ocorre em tempo real, as tecnologias e seus avanços mudaram totalmente a maneira das pessoas pensarem e se relacionarem, temos mudanças profundas de valores e atitudes, o que era considerado politicamente correto no passado, hoje não é mais, tudo é questionado a todo momento, https://www.shutterstock.com/pt/photos https://www.shutterstock.com/pt/photos temos novos pontos de vista e maneiras de se relacionar e viver; com isso a sociedade moderniza-see desenvolve-se, questionando maneiras de pensar que excluem esse ou aquele determinado grupo. Com essas transformações os alunos também mudam, os de antigamente não são os mesmos de hoje, nem serão os de amanhã, Tardif diz que os jovens de hoje percebem que “se aprende na escola, sim, mas também se aprende muito fora dela” (TARDIF, 2011, p. 143). Cabe ao professor ser flexível, estar atento a essas transformações, compreendê-las sem pré-julgamentos e incluí-las no dia-dia da sala de aula, trazendo assuntos atuais para debates, temas da realidade próxima de onde seus alunos vivem e também ouvir seus anseios e dificuldades, a fim de discutir e mostrar diferentes pontos de vista que leve o discente a ascender na sociedade, compreendendo que deve lutar pelos seus direitos, a fim de ocorrer uma transformação social para termos uma sociedade mais justa e igualitária. Segundo Freire (2000, p. 67) “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Podemos perceber com essa citação de Freire, como a educação tem um papel central na mudança da sociedade, na mudança de pensamentos, fazendo com que os discentes saiam do pensamento de senso comum, em que o que é levado em consideração são os saberes informais do cotidiano como: crenças, hábitos, preconceitos e tradições passados de geração em geração, a fim de que consigam ter um pensamento crítico, ou seja, em que a pessoa tem a capacidade de avaliar, discernir e refletir sobre as situações sem aceitar o que lhe é imposto. Reflitamos agora com esta citação de Gadotti (2003) , dizendo que a sociedade muda através do professor e não, apesar da existência dele, pois é uma classe insubstituível e de valor inestimável para o desenvolvimento dela. Assim se pode imaginar um futuro para a humanidade sem professores. Eles não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Eles fazem fluir o saber, porque constroem sentido para a vida das pessoas, da humanidade e buscam, numa visão emancipadora, um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis (GADOTTI, 2003, p. 20). Dessa forma, percebemos a poderosa arma que o docente tem em mãos, ser professor hoje é diferente, não é nem mais fácil, nem mais difícil do que antigamente, pois é necessário ir moldando-se e reconstruindo-se, numa ação/reflexão constante sobre a prática, incluir novas tecnologias, novos métodos de ensino e ter uma boa relação professor-aluno também é imprescindível com respeito e diálogo. Para que isso aconteça, é necessário que o professor participe continuamente de atividades de formação continuada, em que em paralelo com as funções de docente também se coloca em lugar de discente, porque conhecimento não é estático, sendo assim professor é um ser que está sempre em transformação e, para tanto, é necessário garantir uma constante atualização teórica e prática e isso se refletirá na melhor formação dos alunos. Segundo Perrenoud (1993, p. 200): Atualizar-se, rever conceitos e (re) significar a prática pedagógica para poder responder às demandas sociais fazem parte das propostas de formação continuada. Porém, conhecer as novas teorias, estar ciente dos avanços na Ciência da Educação e poder discutir as tendências pedagógicas atuais, são conhecimentos que irão contribuir não somente na prática pedagógica em sala de aula do professor. Ou seja, professores precisam ser profissionais dinâmicos e críticos, precisam ter a consciência que sempre serão aprendentes de algum assunto e também compreender que não existe conhecimento absoluto, assim como não existe ignorância absoluta também, pois tudo está em constante transformação, já que todas as pessoas têm conhecimento sobre algum assunto e é ignorante sobre outro. Podemos ilustrar o trecho acima com esta afirmação de Paulo Freire: “Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso, aprendemos sempre” (FREIRE, 1989, p. 20) e assim conseguimos compreender a importância de não pensar no professor como figura superior ao seu aprendiz, pois experiências pessoais de vida e interesses diferentes fazem-nos crescer e saber mais ou menos sobre algum assunto que tenhamos interesse. Portanto, o professor precisa se colocar numa postura humilde, de um ser que está em aprendizado constante, e não num pedestal, onde sente ser o detentor de todo saber acumulado historicamente, colocando-se numa posição daquele que transmite conhecimento, mas tendo a postura de ser aquele que comunica saberes relativos a outros que também tem saberes relativos, guiando-os no caminho a ser traçado e conduzindo o discente a chegar as suas conclusões com independência, tornando-o sujeito ativo de sua aprendizagem, ocorrendo, assim, uma troca de informações em que um e outro são modificados constantemente. Vamos agora ler o que Freire (1996, p. 25-26) escreveu acerca desse assunto: Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender” [...] Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa, e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível – depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar. Segundo o autor quando eu ensino algo a alguém eu aprendo e quem está aprendendo também ensina algo a mim; assim não há maneira de sair de uma aula do mesmo jeito que entrou, pois nas relações aprendemos e somos transformados, basta que todos sejam escutados com respeito e tenha suas opiniões validadas, a fim de um diálogo que gere uma troca de informações, em que, ambas partes, evoluam em sua maneira de pensar. Também deixa bem claro que é preciso, segundo ele, "trabalhar maneiras, caminhos e métodos de ensinar”, falando, assim, sobre a importância de uma metodologia e didática adaptadas àquela realidade, a fim de alcançar o objetivo pretendido. De acordo com Cury (2003, p. 127): “a exposição interrogada gera a dúvida, a dúvida gera o estresse positivo, e este estresse abre as janelas da inteligência. Assim formamos pensadores, e não repetidores de informações”. Postura imprescindível para o ser humano no mundo de hoje, pois seres pensadores transformam sociedades, retomando aqui o conceito de sair do senso comum e chegar ao senso crítico. O professor precisa, então, fazer com que seus alunos enxerguem na educação uma ponte para ascender na sociedade, em que o ensino é utilizado como instrumento de luta, transformação social e mudança de vida, ou seja, deve ensinar o aluno a validar seu próprio ponto de vista, o que não significa ensinar soluções, mas, sim, colaborar para que o aluno construa conceitos e aplique-os nas situações do cotidiano, esse é papel social do professor, munir os alunos de instrumentos para libertação, fazendo-os vislumbrar e desejar novas formas de viver, almejando um futuro melhor de crescimento pessoal e profissional, mudando sua realidade. Charlot afirma isso quando diz que: “Ensinar é, ao mesmo tempo, mobilizar a atividade dos alunos para que construam saberes e transmitir-lhes um patrimônio de saberes sistematizados legados pelas gerações anteriores de seres humanos” (CHARLOT, 2008, p. 25). Percebemos, então, como o ofício de ser professor tem uma grande importância na sociedade e para finalizar deixe-os com essa frase de Malala Yousafzai, dita em seu discurso na ONU em 2013: “Que possamos pegar nossos livros e canetas. São as armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo”. 2 A IDENTIDADE DO PROFESSOR https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/conference-discussion-talking-sharing-ideas- concept-380394427 Neste tópico, refletiremos sobre como formamos nossa identidadedocente percebendo-a como algo que não é fixo, mas mutável, porque é um processo de construção do sujeito, levando em consideração nossas experiências pessoais enquanto alunos, modelos de professores que tivemos enquanto aluno, comunidades de trabalho e as condições de trabalho ofertadas, interação com colegas de profissão, ideologias pessoais e reflexão constante da prática ajudam-nos a formar nossa identidade profissional docente, pois ela é formada tanto por experiências pessoais quanto pelo reconhecimento profissional em uma sociedade. Deixo-os primeiramente com esta citação de Paulo Freire: Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática (FREIRE, 1991, p. 58). Refletindo com as palavras lidas acima do educador Paulo Freire, podemos iniciar nossos estudos compreendendo que educador é um ser em constante transformação, que vai sendo moldado com experiências vividas na prática, numa constante ação/reflexão, a partir da significação social da profissão. Proença e Mello (2009, p. 58) https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/conference-discussion-talking-sharing-ideas-concept-380394427 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/conference-discussion-talking-sharing-ideas-concept-380394427 salientam que “o fato de passar por um curso de formação não faz com que alguém venha a ser professor” em consonância com o exposto acima, podemos compreender e concluir que nos tornamos professor ao longo de nossa experiência, e isso não acontece ao nos formarmos e receber um título. Ao formar-se como professor, podemos compreender que dedicamos um tempo, estudando em algum curso superior, conhecemos as teorias, as legislações, temos conhecimento sobre algum assunto específico e o queremos ensinar para alguém; já quando digo que me tornarei professor, precisamos ter a compreensão de que seremos um profissional em constante formação, pois a prática pedagógica forma-nos e transforma-nos a cada dia, porque torno-me cada vez melhor de acordo com as experiências que vou adquirindo, informações que troco com os colegas de profissão, exemplos que vejo e incluo em minha prática, formações que participo e reflito sobre a prática e na prática, enfim a identidade docente é formada a partir das muitas variáveis a que somos expostos e desenvolve-se tanto no individual quanto no coletivo. Garcia (2010, p. 18) afirma que nossa identidade profissional surge de um processo de construção e podemos confirmar no trecho abaixo: Não surge automaticamente como resultado da titulação, ao contrário, é preciso construí-la e modelá-la. E isso requer um processo individual e coletivo de natureza complexa e dinâmica, o que conduz à configuração de representações subjetivas acerca da profissão docente. O assunto identidade tem grande importância porque está diretamente relacionado à compreensão das pessoas e das suas relações com o mundo, Pimenta (1997) confirma que ela não é um dado imutável, mas um processo de construção do sujeito, ou seja, formamos nossa identidade porque existimos e interagimos com os outros em determinados contextos, só sou como sou devido a experiências que vivi. De acordo com Dubar (1998, p. 136), nossa identidade profissional é construída através das “reivindicações de pertença e de qualidades para e por si próprias”, o que permite que cada um de nós se conheça através das “histórias que cada um conta a si mesmo sobre o que é” e “ se encarna nas ‘figuras’, nos papéis, nos ofícios”. Ou seja, é necessário realmente incorporar a identidade do ser professor, é acreditar na importância de seu papel para a sociedade, crer que se pode fazer a diferença em determinada comunidade de trabalho e realmente “abraçar” tudo o que vêm junto com a carreira docente. De acordo com os autores Beijaard, Meijer e Verloop, as representações pessoais sobre o ser professor “determinam fortemente o modo como ensinam, a maneira como se desenvolvem enquanto professores e suas atitudes em relação às mudanças educacionais” (2004, p. 108). Ou seja, me modifico e fico melhor quanto mais reflito em minha prática e percebo que sou um bom professor, quando tenho segurança no que faço e acredito na metodologia de ensino que utilizo e ao surgimento de novos métodos e reformas na educação não me acanho, mas, sim, tento inseri-las no meu modo de trabalho sempre fazendo meu melhor. Segundo Pimenta (1996), a identidade docente é construída pelo significado que cada professor dá para sua profissão, sendo ator e autor, a partir de seu valores, sua história de vida, modo de situar-se no mundo, de seus saberes, anseios e angústias. Identidade docente evolui paulatinamente a partir de experiências pessoais e coletivas, quanto a tudo o que sou, a maneira em que vivo, meus valores e crenças pessoais sendo algo que se desenvolve durante a vida toda, não é algo fixo, mas mutável, a partir de experiências relacionais com outros docentes. Identidade pode ser compreendida respondendo à pergunta: Quem sou eu neste momento e quem eu quero ser? Podemos compreender, então, que se o docente não criar uma identificação com a docência, e se ao aprender a ser professor ele não alcançar o nível de reflexão necessária para a construção de sua identidade ela não ocorrerá. De acordo com Dubar “a aprendizagem experiencial permite por ela própria a implementação da reflexividade, isto é, a construção duma identidade reflexiva que devolve sentido a uma prática onde se tem sucesso” (DUBAR, 2006, p. 158). Reafirmando essa compreensão, André (2001, p. 66) afirma que: A importância de uma atitude reflexiva no trabalho docente é o domínio, pelo professor, de procedimentos de investigação científica como registro, sistematização de informações, análise e comparação de dados, levantamento de hipóteses e verificação, por meio dos quais poderá produzir e socializar o conhecimento pedagógico (ANDRÉ, 2001, p. 66). Nóvoa relata que a identidade não é um dado adquirido, uma propriedade ou um produto. Para o autor, “a identidade é um lugar de lutas e de conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e de estar na profissão” (NÓVOA, 1992, p.16). Podemos concluir, então, que a maneira como desenvolvo minha relação com a docência recebe influência de tudo que tenho a minha volta, nossas interações sociais desde a infância, experiências vividas e com os modelos ideais que tivemos de professor. Assim, o professor só se torna professor quando está exercendo a prática docente em sala de aula que é onde podemos ampliar e realmente começar a construir nossa identidade profissional num processo contínuo. 3 OS SABERES DA DOCÊNCIA https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-happy-students-applauding-their-lecturer- 1937720896 Caro (a) aluno (a), para chegar ao curso superior você já teve aula com muitos professores, em vários níveis de ensino diferentes e é um costume de que observemos suas práticas e os rotulamos como: Ah! Esse sabe o conteúdo, mas não sabe ensinar, ou seja, não tem uma boa didática (só sabe para ele), esse não domina muito o conteúdo, fica perdido na explicação, não responde perguntas com propriedade, mas é tão compreensivo e humano que faz com que toda a sala torne-se amiga dele e releve, e tem sempre aquele que não gosta de um relacionamento pessoal mais próximo e está sempre com feição fechada e tem também aquele a quem aguardamos ansiosos pelo dia de sua aula, porque para você ele é o melhor professor do mundo. Com certeza ao ler esse parágrafo, você lembrou-se de alguns professores que passaram na sua vida, não é? Mas...E o que quero dizer com tudo isso? Quero que você reflita um pouco, porque você provavelmente já chegoua esse curso com uma ideia prévia de como deve ser, ou não, um bom professor e alguns deles inspiraram-lhe positiva ou negativamente também e você teve exemplos de como gostaria de ser um dia ou como não seria de jeito nenhum. Segundo Salgueiro (2001, p. 89) “torna-se necessário um grande esforço para construir a competência docente capaz de responder aos novos desafios”. Pois os novos https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-happy-students-applauding-their-lecturer-1937720896 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-happy-students-applauding-their-lecturer-1937720896 desafios da atualidade, fazem com que seja necessário aliar teoria e prática, organizar e diversificar os conteúdos, fazer adaptações de acordo com as necessidades da turma, compreender a realidade que cerca seus alunos, elogiar as conquistas, demonstrar carinho e atenção para que o ambiente seja agradável e exista respeito mútuo entre outras competências, já que “Educar é guiar os alunos em uma jornada interior em direção a um modo mais sincero de ver e estar no mundo” (PALMER, 2012, p. 22). Sendo assim, reflitamos agora sobre o termo docência segundo Tardif e Lessard: [...] como uma forma particular de trabalho sobre o humano, ou seja, uma atividade em que o trabalhador se dedica ao seu ‘objeto’ de trabalho, que é justamente um outro ser humano, no modo fundamental da interação humana (TARDIF e LESSARD, 2005, p. 8). Os saberes da docência são os saberes específicos que um professor precisa possuir sendo: um conjunto de habilidades, conhecimentos, competências e atitudes que o professor deve dominar para ser realmente um bom professor. Segundo Tardif (2011, p. 60), o saber engloba “[...] os conhecimentos, as competências, as habilidades (ou aptidões) e as atitudes dos docentes, ou seja, aquilo que foi muitas vezes chamado de saber, de saber-fazer e de saber ser”. Mas não basta só saber o conteúdo e não ter a didática necessária “saber, saber-fazer e saber-ser” conforme Tardif disse, para que os alunos se interessem pela matéria e aprendam, é necessário que o professor saiba fazer e saiba ser professor. Garcia (2010) afirma que o conceito de desenvolvimento profissional é um processo de longo prazo, vindo de oportunidades e experiências que produzem os métodos de aprender a ensinar. O professor é e será sempre um construtor desses saberes, pois a ação docente demanda ação e reflexão contínua, aliando teoria à prática, sendo, então, uma prática bastante reflexiva e não apenas uma aplicação de técnicas, pois o professor adquire experiências e competências na sala de aula. Severino e Pimenta (2009) delineiam três espécies de saberes da docência: 1. A experiência (como aluno e como professor); 2. O conhecimento específico (da disciplina a ser ensinada em suas relações com a contemporaneidade); 3. Os saberes pedagógicos aqueles (“ligados à explicitação do sentido da existência humana individual, com sensibilidade pessoal e social”) (SEVERINO e PIMENTA, 2009, p. 13). Observe a figura 1, nela podemos perceber que esses saberes não são saberes separados, um está intrinsecamente ligado ao outro, plurais e mesclados ao mesmo tempo. Figura 1 – Saberes da docência Fonte: Pimenta (2012). Percebemos mediante este conceito, que não basta que os futuros docentes saibam apenas o conteúdo, pois é indispensável saber também como o aluno aprende, como organizar situações de aprendizagens significativas, como avaliar o desenvolvimento, porque se deve ensinar esse ou aquele conteúdo e qual a sua relevância para a formação do aluno. Iniciaremos explanando sobre o saber da experiência como aluno e como professor, conforme foi citado acima, quem já ouviu a expressão que diz: Ensinar se aprende ensinando! Pense sobre isso e reflita com o que será explanado agora a partir da ideia de Dewey: “Não é suficiente insistir na necessidade da experiência, nem inclusive da atividade na experiência. Tudo depende da qualidade da experiência que se tenha” (DEWEY, 1938, p. 27). Ou seja, segundo o pensamento do autor a qualidade das experiências é mais importante do que a quantidade, e podem ser divididas em duas vertentes: o quanto agradável ela foi para o sujeito tanto como aluno, quanto para professor e quais efeitos que tais experiências trarão para mim, a fim de que possam ser refletidas e utilizadas em ações posteriores a ela. Também devemos levar em consideração o que aquela experiência fez ou faz com que eu refletisse e mudasse algo em minha prática docente? Tardif diz que esses saberes não provêm das instituições de formação nem dos currículos. [...] não se encontram sistematizados em doutrinas ou teorias” (2011, p. 48- 49). Assim,podemos entender que o professor tem duas funções: a de ser produtor e a de ser sujeito, construindo experiências que agregam para sua prática docente. Continuemos com o pensamento do referido autor dizendo que as experiências “[...] fornecem aos professores certezas relativas a seu contexto de trabalho na escola de modo a facilitar sua integração” (2011, p. 50). Sobre o conhecimento específico, Amaral (2005) explica que: O domínio de conteúdo pode ser compreendido como o saber que o professor tem sobre o objeto de estudo e que orienta na mediação do aprendizado de seu aluno. Nessa orientação o professor partiria do conhecimento prévio do aluno, de sua realidade, a fim de ampliá-lo. Assim o aluno é entendido como indivíduo capaz de construir seu conhecimento (AMARAL, 2005,p. 22). A sabedoria popular diz que para ensinar bem, basta conhecer bem a matéria, mas nós sabemos e estamos vendo que não é necessário apenas isso, pois temos outros conhecimentos tão importantes quanto esse como: conhecer o contexto dos alunos onde se ensina, compreender seu reconhecimento social perante determinada comunidade e também saber como se ensina, ou seja, qual a melhor metodologia a ser utilizada para que eu atinja os objetivos propostos. Magnusson, Krajcih e Borko (2003) dizem que o conhecimento do conteúdo inclui a forma que se organiza os conteúdos para serem ensinados, os problemas que surgem, ou os imprevistos e também os diferentes interesses e habilidades que cada aluno possui. Então, conhecimento de conteúdo vai muito além do próprio conteúdo em si, não basta ser um professor conhecedor dos conteúdos e tê-los na “ponta da língua”, mas, sim, ser aquele professor que consegue articular o conhecimento que tem, com a maneira correta de apresentá-los, respeitando a individualidade de cada um e suscitando o interesse do aluno. Para confirmar o que foi dito acima leia o pensamento deste grande pesquisador: (...) os professores executam essa façanha de honestidade intelectual mediante uma compreensão profunda, flexível e aberta do conteúdo; compreendendo as dificuldades mais prováveis que os alunos terão com essas ideias (...); compreendendo as variações dos métodos e modelos de ensino para ajudar os alunos em sua construção do conhecimento; e estando abertos para revisar seus objetivos, planos e procedimentos na medida em que se desenvolve a interação com os alunos. Esse tipo de compreensão não é exclusivamente técnica, nem somente reflexiva. Não é apenas o conhecimento do conteúdo, nem o domínio genérico de métodos de ensino. É uma mistura de tudo isso e é, principalmente, pedagógico (SHULMAN, 1992, p. 12). Schulman elucida exatamente sobre o assunto a ser refletido aqui, podemos perceber que só o conhecimento do conteúdo, das metodologias e uma boa didática ainda são insuficientes para que o aluno aprenda, e é necessário mesclar tudo isso tornando um âmbito pedagógico, que é mais abrangente. Então, compreendemos, assim, que o professor além de conhecer bem o conteúdo que leciona, precisa ter esse conhecimento pedagógico que nada mais é do que levar em consideração os outros fatoresenvolvidos no processo de aprendizagem e suas implicações para que ela aconteça ou não. O que nos leva ao terceiro saber: O saber pedagógico. O saber pedagógico está relacionado ao uso de técnicas, métodos e ferramentas que utilizaremos para conduzir o processo de ensino e aprendizagem nas nossas salas de aulas, mas ele vai muito além disso, pois o professor precisa saber articulá-los com a interação social, a experiência e ter uma boa relação professor- aluno. É necessário utilizar várias ferramentas e estratégias pedagógicas para que a construção do saber seja mais dinâmica e significativa, afinal cada estudante é de uma maneira e o aprendizado se dá de forma individual. Sendo assim, também podemos chamar o saber pedagógico de conhecimento prático, conforme afirma Grillo (2005, p. 105): “[...] trata-se do conhecimento prático, um tipo especial de conhecimento, idiossincrático, que vai sendo construído pelo professor ao articular saberes, esquemas e referenciais assumidos da sua experiência”. Então, podemos dizer que o saber pedagógico é o mesmo que conhecimento prático, é saber-fazer e para saber-fazer é necessário que você compreenda seu eu individual integralmente, nas esferas: intelectual, emocional e espiritual, ou seja, só se aprende a saber-fazer de verdade quando existe esse autoconhecimento. Bacich e Moran nos explicam da seguinte forma: As pesquisas atuais da neurociência comprovam que o processo de aprendizagem é único e diferente para cada ser humano, e que cada pessoa aprende o que é mais relevante e o que faz sentido para si, o que gera conexões cognitivas e emocionais (BACICH; MORAN, 2018, p. 2). Percebemos, então, que para exercer o ofício do magistério, é necessário ter um olhar refinado para que cada aluno aprenda e segundo Palmer (2012) devemos nos perguntar: “Quem é o eu que ensina”? Ou seja, que qualidade da minha personalidade contribui, ou não, na maneira de me relacionar com os meus alunos, colegas e meu mundo? Para o referido autor ocorre um entrelaçamento dos aspectos intelectuais, sociais, emocionais e espirituais na constituição do Eu professor. Quando o docente consegue trabalhar de forma “mais inteira”, ou seja, se dedicando em todos os seus aspectos, ele consegue proporcionar ao aluno um aprendizado integral, “Pode ajudar a deixar todos mais inteiros” (PALMER, 2012, p. 80). Ainda segundo Palmer (2012), os aspectos intelectuais referem-se à maneira como pensamos sobre o ensino e a aprendizagem. A forma e o teor dos nossos conceitos sobre como as pessoas sabem e aprendem, da natureza dos nossos alunos e das nossas matérias”. Por emocionais, o autor (2012, p. 20) entende que é “o modo como nós e os nossos alunos sentem quando ensinamos e aprendemos, sentimentos que podem aumentar ou diminuir as trocas entre nós”. Por espirituais, referem-se “às diversas maneiras como lidamos com nosso eterno desejo de estarmos conectados à grandiosidade da vida, um desejo que dá vida ao amor e ao trabalho, principalmente, a esse trabalho chamado magistério” (PALMER, 2012, p. 21). Compreendemos aqui, como as características próprias do professor como ser humano são relevantes e podem fazer a diferença na vida dos seus alunos. Ainda segundo Palmer (2012): O magistério, como qualquer atividade verdadeiramente humana, emerge da subjetividade de cada um, para o bem ou para o mal. Enquanto eu ensino, projeto a condição da minha alma nos meus alunos, na minha matéria e em nossa maneira de estarmos juntos.(PALMER, 2012, p. 18) Já vimos que a identidade docente está sempre em construção no início dessa unidade, e o saber pedagógico ou conhecimento prático estão sempre em construção conosco também, pois o ser professor sempre se renova, reflete, melhora e transforma- se na sua prática. Podemos concluir que para que tenhamos domínio do saber pedagógico e exerçamos uma prática docente de excelência, são necessários conhecimentos muito além daqueles adquiridos nos cursos superiores, de formação continuada, pós- graduação etc. Porque segundo Tardif: [...] um saber é sempre ligado a uma situação de trabalho com outros (alunos, colegas, pais, etc.), um saber ancorado numa tarefa complexa (ensinar), situado num espaço de trabalho (a sala de aula, a escola), enraizado numa instituição e numa sociedade (TARDIF, 2011, p. 15). Deixo-os com essa reflexão. 4 A PRÁXIS PEDAGÓGICA https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/teacher-his-pupils-work-on-programable-695764750 Caro (a) aluno (a), chegamos ao último tópico desta unidade; já refletimos sobre o papel social do professor, sobre como sua identidade docente é formada e sobre os saberes necessários para exercer esse ofício. Agora estudaremos sobre a práxis pedagógica, ou seja, sobre a prática em si associada à teoria, quais são as ações necessárias na prática e sobre a prática que é preciso que o professor faça para chegar ao seu objetivo: a aprendizagem do aluno. Para iniciar vamos ler esta citação que diz: Ter em consideração as características do pensamento prático do professor obriga-nos a repensar, não só a natureza do conhecimento acadêmico mobilizado na escola e dos princípios e métodos de investigação na e sobre a acção, mas também o papel do professor como profissional e os princípios, conteúdos e métodos da sua formação (PÉREZ GÓMEZ, 1995, p. 104). Ou seja, o referido autor quer nos dizer que, o professor precisa ter o conhecimento acadêmico, mas é necessário também possuir o pensamento prático, deve conseguir articular ambos rapidamente com criatividade refletindo sobre a prática e na prática, para fazer as intervenções necessárias. Segundo Alarcão (2003) esse seria o professor reflexivo, numa escola reflexiva, em desenvolvimento e aprendizagem, organizada como um grupo onde alunos, https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/teacher-his-pupils-work-on-programable-695764750 professores e comunidade têm papéis ativos na construção do processo educativo. A definição de escola reflexiva para ela é: Organização que continuadamente se pensa a si própria, na sua missão social e na sua organização e se confronta com o desenrolar da sua actividade num processo heurístico simultaneamente avaliativo e formativo (ALARCÃO, 2003, p. 83). Pimenta e Ghedin (2002) apontam que essa reflexão docente é um processo coletivo e prático, em que a teoria tem um papel importantíssimo, pois essa teoria precisa proporcionar aos professores perspectivas de análise para que possam compreender contextos e informações históricas, sociais, culturais e organizacionais. Ou seja, embasamento teórico sobre determinados conteúdos, como também informações sobre si mesmos, enquanto professores, diante de sua atuação docente, transformando e aprimorando suas capacidades (PIMENTA; GHEDIN, 2002, p. 26). Morin, Ciurana e Motta (2003, p. 24) complementam esse pensamento ao afirmarem: Uma teoria não é o conhecimento, ela permite o conhecimento. Uma teoria não é uma chegada, é a possibilidade de uma partida. Uma teoria não é uma solução, é a possibilidade de tratar um problema. Uma teoria só cumpre o seu papel cognitivo, só adquire vida, com o pleno emprego da atividade mental do sujeito. E é essa intervenção do sujeito que confere[...] seu papel indispensável. Quando o professor exerce uma práxis pedagógica consciente, percebe que teoria e a prática são indissociáveis, para produzir mudanças, se utilizar somente o prático, sujeito e objeto se separam, transformando nossa consciência dos fatos e das coisas, mas não sobre os fatos e as coisas. A esse respeito, Konder (1992, p. 116) afirma: Práxis e teoria são interligadas, interdependentes. A teoria é um momento necessário da práxis; e essa necessidade não é um luxo: é uma característica que distingue a práxis das atividades meramente repetitivas, cegas, mecânicas, “abstratas”. [...] a práxisé a atividade que, para se tornar mais humana, precisa ser realizada por um sujeito mais livre e mais consciente. Cabe ao professor se colocar num papel consciente e politizado, adquirindo a consciência de professor intelectual, sendo aquele que analisa criticamente a natureza do seu trabalho e percebe as contradições entre o que ele pratica e os resultados dessa prática. Durante o trabalho docente, o professor age sobre suas experiências, cria e enfrenta desafios do cotidiano e baseado neles constrói seus conhecimentos. Ainda segundo Konder (1992, p. 11), a ação docente é um trabalho que: Pode ser considerado um processo que ao mesmo tempo se reafirma e se supera a si mesmo: ele só é possível mediante a repetição mecânica de determinadas ações, porém simultaneamente leva o sujeito a enfrentar problemas novos e o incita a inventar soluções para tais problemas. Com isso o trabalho abre caminho para o sujeito humano refletir, no plano teórico, sobre a dimensão criativa de sua atividade, quer dizer, sobre a práxis. No trabalho se encontra, por assim dizer, o caroço da práxis; mas a práxis vai além do trabalho (KONDER, 1992, p. 11). O professor nas diversas ocorrências cotidianas, enfrenta situações complexas, em que é necessário que encontre respostas imediatas e criativas, articulando o saber que possui com suas vivências, identifica-se aí a práxis da ação docente, pois a ação é feita, visando atingir um objetivo proposto. Vázquez (1977, p. 187) nos diz que: O resultado ideal, que se pretende obter, existe primeiro idealmente, como mero produto da consciência, e os diversos atos do processo se articulam ou estruturam de acordo com o resultado que se dá primeiro no tempo, isto é, o resultado ideal. Ou seja, práxis é uma atividade humana feita intencionalmente, a fim de transformar uma realidade, um produto da consciência, um ideal. Para isso, é necessário que o saber teórico e o saber prático sejam articulados, para alcançar um objetivo, considerando que teoria e prática não estão distantes, mas, sim, caminham juntas com uma intencionalidade. Veja como Zanella define intencionalidade: “Aqui está de forma clara o princípio da intencionalidade – a consciência é sempre consciência de alguma coisa. Não há consciência pura de um lado e objetos de outro” (ZANELLA, 2007, p. 8). Nesse caso, professor e aluno (objetos), fundamentam-se e refletem sobre a realidade ao seu redor, leem o mundo criticamente, problematizando e questionando as coisas que ocorrem e por que ocorrem (consciência). Ou seja, o objeto puro não atinge a intencionalidade e nem a consciência sozinha atinge também. É necessário utilizar a práxis: A práxis é, na verdade, atividade teórico-prática; ou seja, tem um lado ideal, teórico e um lado material, propriamente prático, com a particularidade de que só artificialmente, por um processo de abstração, pode se separar, isolar um do outro (VÁZQUEZ, 1977, p. 241). Para finalizar deixo-o(a) com esta citação de Paulo Freire: “A teoria sem a prática vira 'verbalismo', assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade” (FREIRE, 1996, p. 25) e desejo que você tenha compreendido bem os conceitos estudados até aqui e consiga realizar uma ótima práxis em suas aulas, a fim de transformar a realidade de seus alunos! SAIBA MAIS O estudo da história é fundamental, pois por meio dela sabemos o que os homens foram e fizeram, e isso nos ajuda a compreender o que podemos ser e fazer, ela ajuda na conscientização dos homens para construir um mundo melhor e uma sociedade mais justa (NEVES; COSTA, 2002). Fonte: NEVES, F. M. COSTA, C. J. A importância da história da educação para a formação dos profissionais da educação. Teoria e Prática da educação, 2012. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/18570. Acesso em: 15 out. 2021. #SAIBA MAIS# REFLITA Karnal Leandro (2003) nos ajudará a refletir sobre o ensino da História “Eu diria que ensinar História é uma atividade submetida a duas transformações permanentes: a do objeto em si e da ação pedagógica. O objeto em si (o “fazer histórico”) é transformado pelas mudanças sociais, pelas novas descobertas arqueológicas, pelo debate metodológico, pelo surgimento de novas documentações e por muitos outros motivos. A ação pedagógica muda porque mudam seus agentes: mudamos professores, mudam os alunos, mudam as convenções de administração escolar e mudam os anseios dos pais”. Fonte: 8 Vícios do Professor e do Ensino de História. Ensinar História, 2015. Disponível em: https://ensinarhistoria.com.br/8-vicios-do-professor-e-do-ensino-de-historia/. Acesso em: 14 out. 2021. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) aluno (a), chegamos ao término da unidade I, foi um grande prazer ajudá- lo a construir esses conhecimentos. Aprendemos como o professor tem um papel social muito importante na transformação da sociedade em que atua e na vida de seus alunos, vimos que a identidade profissional docente começa a ser construída antes de nos formarmos, pois carregamos exemplos de professores que tivemos e que ela é formada durante toda nossa carreira, sendo mutável. Refletimos sobre os saberes docentes, que são aqueles saberes necessários para se tornar um bom professor: saberes da experiência que são aqueles que adquirimos tanto nas experiências como aluno e como docente; o conhecimento específico que é aquele adquirido enquanto estamos em formação, ou seja , o que é preciso saber para lecionar aquela disciplina; e, por último, vimos sobre o saber pedagógico, que também podemos chamar de conhecimento prático, que são aqueles conhecimentos sobre metodologias, técnicas e ferramentas que utilizamos em sala de aula, é saber articular tudo isso as outras variáveis que incidem sobre a aprendizagem: a interação, a experiência e uma boa relação professor-aluno. LIVRO • Título: Professora, sim; tia, não: cartas a quem ousa ensinar • Autor: Freire, Paulo. • Editora: Paz e Terra. • Sinopse: Educadores são responsáveis pela transformação social, em Professora, sim; tia, não, o maior educador brasileiro denuncia que a troca da palavra “professora” por “tia” para designar “pessoa que ensina” é uma armadilha ideológica. Nas dez cartas que compõem o livro, o autor analisa as qualidades verdadeiras e autênticas das virtudes éticas que educadores progressistas precisam ter e praticar, se querem ser agentes de transformação social. FILME/VÍDEO • Título: MUCIZE • Ano: 2015. • Sinopse: Enviado por sua família a uma cidade remota nas montanhas, o professor Mahir ajuda os moradores locais a construir uma escola e faz renascer neles a esperança. REFERÊNCIAS ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003. AMARAL, N. F. Monografia. O bom professor sob a ótica do próprio professor. 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QUAESTIO - Revista de Estudos de Educação, v. 9, n. 1, p. 101-122, 2007. UNIDADE II A FORMAÇÃO DE PROFESSORES COMO UM PROJETO POLÍTICO Professora Esp. Daislene Rodrighero de Carvalho Plano de Estudo: • Contexto histórico e político da formação de professores; • A importância da formação inicial e continuada; • A importância do Projeto Político Pedagógico frente à formação e atuação do professor; • O papel do pedagogo frente à formação continuada dos professores e os aspectos que envolvem o processo de ensino e de aprendizagem. Objetivos de Aprendizagem: • Contextualizar historicamente a formação dos professores; • Compreender a influência da formação inicial e continuada aos docentes; • Estabelecer a importância do Projeto Político Pedagógico para a atuação do professor. INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), continuaremos nossos estudos com a Unidade II - A formação dos professores com um projeto político. Espero que você leia atentamente a unidade e compreenda os conceitos explicitados. Nesta unidade, levo você a refletir sobre o contexto histórico e político da formação de professores. Faremos uma retrospectiva sobre os caminhos traçados na formação de professores, desde o início dela na Grécia até chegar aos dias atuais no Brasil, compreenderemos também a importância da formação inicial e continuada para uma carreira docente de sucesso. Você será levado a refletir e compreender sobre o que é o Projeto Político Pedagógico (PPP), qual sua função na escola, como ele é produzido e a importância do professor na construção dele e para finalizar, estudaremos sobre o papel do pedagogo na instituição escolar e qual é sua função e importância na organização da formação dos professores. Bons estudos! 1 CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Caro (a) aluno (a), iniciamos os estudos dessa unidade refletindo sobre a formação dos professores em seu contexto histórico e político. É necessário saber qual foi a evolução da história da educação para compreender melhor os rumos tomados pela educação no presente. O início da organização social e educativa remete aos tempos da Grécia antiga, principalmente, da cidade de Esparta e Atenas, essa organização serviu de modelo para as sociedades por muitos séculos. Em Esparta tinha-se o foco em códigos de condutas de militares, devido ao seu poder militar e caráter guerreiro, eles estimulavam as competições entre os alunos e tinham uma disciplina rígida. Já em Atenas o foco era o conhecimento, exercitavam a palavra, a retórica e a polêmica, como herança dessa educação surgiram os sofistas mestres da retórica e da oratória (arte de se comunicarde forma persuasiva, ou de bem argumentar). A profissão de professor existe há mais de 25 séculos e iniciou-se com o filósofo Grego Sócrates, que foi professor de Platão. Naquela época, Sócrates ensinava em lugares públicos como ginásios e praças, onde fazia perguntas que provocavam seus discípulos, obrigando-os a pensar, valorizando os conhecimentos prévios e suas experiências. Figura 1 - Filósofo grego antigo conversando com estudantes ID do vetor stock livre de direitos: 1779577568 O primeiro modelo de educação no Brasil vem dos jesuítas, que eram contra a reforma e seu currículo era centrado na Teologia cristã, Filosofia, artes sacras e nas línguas e esteve presente por mais de 200 anos. No Brasil, a formação de professores começou a ser uma preocupação após a proclamação da independência, ocorrida em 07 de setembro de 1822 e intensificou-se depois da proclamação da República ocorrida em 15 de novembro de 1889, em que era parte do projeto de construção de uma nação. Para compreendermos melhor sobre o histórico de formação de professores, iremos dividi-los em três grandes períodos: Primeiro período: Foi originada como a criação das escolas normais e presença das concepções iluminista e positivista na educação, que se estende no período de 1890 a 1930. Elas foram pioneiras no quesito formação docente no Brasil, mas não obtiveram bons resultados, um dos motivos para essa falta de sucesso foi que a população trazia consigo marcas totalmente agrárias, marcas da escravidão e pouco interesse e incentivo para a carreira no magistério. https://www.shutterstock.com/pt/vectors Tanuri (1979, p. 22) afirma que: “nenhum aproveitamento notável tinham elas produzido até então”, sendo assim a escola normal era ainda uma instituição “quase completamente desconhecida”. As ideias iluministas defendiam que a escola deveria ser laica, livre e de qualidade para todos, as ideias positivistas rejeitavam a formação dada pela igreja, porque passavam apenas conhecimentos restritos, a fim de não formar seres pensantes. Para Oliveira (2010): O objetivo maior do positivismo pretendido inicialmente por Augusto Comte e posteriormente por seus seguidores era promover uma reforma intelectual da sociedade, a reforma positiva do modo de pensar uma vez que a filosofia positiva era a única capaz de responder às exigências que o saber científico impunha à sociedade como um todo [...].(OLIVEIRA, 2010, p. 07) Segundo período: Os ideais escolanovistas eram de uma escola gratuita, democrática e universal, com seus ideais marcados pelo “Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova” de 1932, onde foram documentadas (escrito) por 26 professores para validar “o projeto educacional que defende, apresentando-o como o mais adequado para a reconstrução do país segundo o ideal republicano” (XAVIER, 2002, p. 3). Esse documento, segundo Ghiraldelli Jr. (1994, p. 42) foi como um divisor de águas, conforme descreve: [...] serviu como um divisor de águas entre católicos e liberais. Na tentativa de influenciar as diretrizes governamentais, os liberais vieram a público, em 1932, com o célebre Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova‟, um longo documento dedicado ao governo e à nação que pautou‐se em linhas gerais, pela defesa da escola pública obrigatória, laica e gratuita e pelos princípios pedagógicos renovados [...]. (GHIRALDELLI JR.,1994, p. 42) O país passava por uma grande mudança, em que estavam acontecendo processos de industrialização e urbanização, resultando no êxodo rural (quando as pessoas migram da zona rural para a zona urbana, a fim de garantirem sua sobrevivência) e o período exigia competências e habilidades técnicas. A partir da década de 1930, com o Governo de Getúlio Vargas esse modelo educacional ganhou força, era centrada no aluno que fazia busca ativa e significativa pelo conhecimento por meio de experiências e exigia um novo perfil do professor, com conteúdo científico e preparação didático-pedagógica. Segundo Saviani (2008), o professor configurava como um estimulador e orientador da aprendizagem, na qual o próprio aluno deveria buscar uma iniciativa principal, em uma forma de aprendizagem decorrente de uma ação espontânea de um ambiente estimulador a ser estabelecido entre os alunos e professores. Para tanto, Saviani (2008) afirma que o professor precisaria trabalhar de forma direcionada, com grupos pequenos de alunos, para facilitar as relações interpessoais e estimular, assim, a atividade educativa, em um ambiente rico de materiais didáticos, estímulos pedagógicos, biblioteca de classe, entre outros. E, finalmente, o terceiro período, que estendeu-se de 1961 até 2001, sob a influência da concepção pedagógica produtivista, em que uma nova lei entrou em vigor no ano de 1946, que definiu como competência da União fixar “as diretrizes e bases da educação nacional”. Mas, a Lei de Diretrizes e Bases só foi promulgada em 1961. Saviani (2011, p. 34), discorre sobre a não criação de um Lei de Diretrizes e Bases da Educação após o golpe civil militar em 1964 “[...] o golpe visava garantir a continuidade da ordem socioeconômica que havia sido considerada ameaçada no quadro político presidido por João Goulart, as diretrizes gerais, em vigor, não precisavam ser alteradas”. A educação foi ajustada a partir da Lei N.º 5540 de 28 de novembro de 1968, alterou a estrutura da organização da educação superior no país que atendeu duas demandas opostas: A dos professores e estudantes e dos grupos ligados ao regime civil-militar. A primeira foi atendida com a autonomia universitária, a indissociabilidade entre ensino e pesquisa, a abolição da cátedra e a eleição da universidade como forma prioritária de organização do ensino superior. O atendimento da segunda ocorreu por meio do regime de crédito, da matrícula por disciplina, cursos semestrais, cursos de curta duração e a organização fundacional (SAVIANI, 2011, p. 32). A Lei 5.692/71 alterou o ensino de 1 º e 2 º grau, o segundo grau passou a ter caráter profissionalizante, o 1 º grau tornou-se o ensino fundamental de 8 anos, obrigatório na faixa etária dos 7 aos 14 anos e o 2 º grau assumiu um caráter técnico. Devido a essas mudanças a formação dos professores precisou ser alterada, eles que eram habilitados por meio do curso normal, passaram a realizar sua formação a nível de 2º grau em curso profissionalizante que ficou popularmente conhecido como magistério. Regulamentou-se, então, as licenciaturas curtas: Art. 29. A formação de professores e especialistas para o ensino de 1º e 2º graus será feita em níveis que se elevem progressivamente, ajustando-se às diferenças culturais de cada região do País, e com orientação que atenda aos objetivos específicos de cada grau, às características das disciplinas, áreas de estudo ou atividades e às fases de desenvolvimento dos educandos. Art. 30. Exigir-se-á como formação mínima para o exercício do magistério: a) no ensino de 1º grau, da 1ª à 4ª séries, habilitação específica de 2º grau; b) no ensino de 1º grau, da 1ª à 8ª séries, habilitação específica de grau superior, ao nível de graduação, representada por licenciatura de 1º grau obtida em curso de curta duração; c) em todo o ensino de 1º e 2º graus, habilitação específica obtida em curso superior de graduação correspondente a licenciatura plena. § 1º Os professores a que se refere a letra a poderão lecionar na 5ª e 6ª séries do ensino de 1º grau se a sua habilitação houver sido obtida em quatro séries ou, quando em três mediante estudos adicionais correspondentes a um ano letivo que incluirão, quando for o caso, formação pedagógica. § 2º Os professores a que se refere à letra b poderão alcançar, no exercício do magistério, a 2ª série do ensino de 2º grau mediante estudos adicionais correspondentes no mínimo a um ano letivo. § 3° Os estudos adicionais referidos nos parágrafos anteriorespoderão ser objeto de aproveitamento em cursos ulteriores (BRASIL, 1971). O que podemos perceber por essa retrospectiva é o aumento da importância ao processo de formação de professores no decorrer dos anos, sendo um pré-requisito fundamental para a construção de um sistema educativo de qualidade. Percebendo, assim, também a sua relação com o meio de produção econômico. Em 1996 houve uma nova regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação- LDB Lei nº. 9.394 de 1996: Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: I- Associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço; II- Aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades (BRASIL, 1996). Assim, vemos o conceito de formação continuada, que é considerada como uma capacitação em serviço. O Art. 62 nos diz que o profissional precisa adequar sua formação, em que se faz necessário possuir um curso superior em licenciatura, admitindo como formação mínima para atuar na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a formação em nível médio na modalidade normal. Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal (BRASIL, 1996). É válido ressaltar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 9.694/96 já sofreu diversas alterações, inclusive uma muito significativa neste art. 62, haja vista que mudou-se a nomenclatura do que era antes chamado série, agora denomina-se como ano. Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal (BRASIL, 2017). No Art. 62 atual diz que para atuar na Educação Infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental e não nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, como está na redação datada em 1996. Porém, ainda descrevendo sobre o contexto histórico. Analisando os artigos 64-66 veremos que: Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado. Parágrafo único – O notório saber, reconhecido por universidade com curso de doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de título acadêmico BRASIL, 2017). A LDB fala a respeito do espaço ocupado pela formação continuada nas políticas públicas educacionais, em que é direito do docente e também um meio de valorização da carreira do magistério. Em seu Art. 67 são relatados elementos que regem a valorização do magistério como: Piso salarial profissional, progressão funcional, condições adequadas de trabalho e aperfeiçoamento profissional continuado. Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público: I- Ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; II- Aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim; III- Piso salarial profissional; IV- Progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho; V- Período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho; VI- Condições adequadas de trabalho (BRASIL, 2017). Isso foi uma grande vitória para os profissionais da educação, pois abriu espaço para a formação continuada entre as políticas públicas e definiu que os sistemas de ensino seriam responsáveis pelo desenvolvimento e pela oferta dela. 2 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA ID da foto stock livre de direitos: 785109361 Caro (a) aluno (a), neste tópico da unidade, continuaremos a estudar sobre a importância da formação inicial e continuada. Quero começar parabenizando-o por sua disposição e dedicação com sua formação, isso é início para ser um ótimo docente! Uma boa formação inicial é imprescindível para formar uma base sólida em que o professor se apoiará para exercer seu cargo, ela define-se como uma política pública e é adquirida a partir de estudo de renomados autores da educação, pesquisas sobre o âmbito escolar, história da educação, políticas públicas, compreensão de seu papel na sociedade e muito mais. A formação inicial proporciona também um alinhamento entre teoria e prática nos estágios supervisionados, primeiro observação e depois o estágio profissional exercendo a função docente (GADELHA, 2020). Mas, já é sabido que a formação de um professor está longe de acabar nessa formação inicial, porque o professor se forma também no dia a dia da sala de aula e nos momentos de estudos coletivos ou individuais. De acordo com Freire (2001, p. 27) “Não haveria educação se o homem fosse um ser acabado”. Todos somos seres inacabados, ainda mais o professor, pois se depara em sala de aula com muitos desafios e sempre precisa continuar estudando para conseguir superá-los e alcançar o objetivo que é a aprendizagem do aluno. A formação privilegia a construção de saberes e competências básicas necessárias para desenvolver uma boa prática, incluindo a construção da parceria professor e aluno e levando em consideração o nível de ensino em que se leciona, que https://www.shutterstock.com/pt/photos aproxima o graduando ao mundo da escola. Além disso, essa formação permite aos docentes analisar suas práticas docentes, para buscar sempre novos conhecimentos (GADELHA, 2020). Nesse contexto, de acordo com Pimenta (1997): Dada a natureza do trabalho docente, que é ensinar como contribuição ao processo de humanização dos alunos historicamente situados, espera-se da licenciatura que desenvolva nos alunos conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que lhes possibilitem permanentemente irem construindo seus saberes- fazeres docentes a partir das necessidades e desafios que o ensino como prática social lhes coloca no cotidiano. Espera-se, pois, que mobilize os conhecimentos da teoria da educação e da didática necessários para a compreensão do ensino como realidade social, e que desenvolva neles a capacidade de investigar a própria atividade para, a partir dela, constituírem e transformarem os seus saberes-fazeres docentes, num processo contínuo de construção de suas identidades como professores.(PIMENTA, 1997, p. 18) Durante a formação inicial, os alunos (futuros docentes) constroem novas habilidades para chegar aos devidos fins, que é construir saberes e saberes docentes também, num processo de reflexão contínua, articulando os saberes e passando também pelos desafios cotidianos. Ens e Donato (2011, p. 83) definem que a atividade de ensinar constrói-se a partir de conhecimentos específicos e necessários que são adquiridos e construídos na formação inicial e na formação que acontece durante toda a vida profissional. Ou seja, começa-se na formação inicial o aprendizado de conhecimentos específicos e inerentesa essa atividade, mas durante o exercício da docência, continuo me formando constantemente. Isso pode ser observado nas palavras de Paulo Freire (2001, p. 10): “Quanto mais me capacito como profissional, quanto mais sistematizo minhas experiências, quanto mais me utilizo do patrimônio cultural, que é patrimônio de todos e ao qual todos devem servir, mais aumenta minha responsabilidade com os homens”. Destaca-se que uma boa formação inicial contribui para formar bons professores, responsáveis e conscientes de seu papel perante a sociedade, que é o de saber e conseguir ensinar esse saber para alguém (LIMA; ANDRADE; COSTA, 2020). Diante disso, evidencia-se que não basta ter apenas o conhecimento sobre o conteúdo, conhecimento de técnicas, metodologias, conhecer as linhas pedagógicas e afins, mas, que o professor precisa adquirir na formação habilidades e atitudes para se tornar um profissional reflexivo. “O processo de formação deve dotar os professores de conhecimentos, habilidades e atitudes para desenvolver profissionais reflexivos ou investigadores” (IMBERNÓN, 2011, p. 41). Para ser um profissional reflexivo é necessário que se reflita, parece redundante, mas não é; pois na correria que os professores são obrigados a trabalhar, devido, muitas vezes, a pouca valorização profissional e baixos salários, acaba não sobrando tempo para essa reflexão, e é nesse aspecto que veremos a importância da formação continuada realizada no ambiente escolar. Figura 2 - Grupo de Professores Trocando Experiências ID da foto stock livre de direitos: 197725715 Nesse contexto, é possível destacar: O lócus (local) da formação a ser privilegiado é a própria escola; isto é, é preciso deslocar o lócus da formação continuada de professores da universidade para a própria escola de primeiro e segundo graus. Todo processo de formação continuada tem que ter como referência fundamental o saber docente, o reconhecimento e a valorização do saber docente (CANDAU, 1996, p. 143). Na citação acima, o autor esclarece que a formação continuada deve acontecer na escola, tendo como referência o saber docente e sua valorização do, pois têm opiniões e reflexões a serem externadas, devido ela estar no centro do processo https://www.shutterstock.com/pt/photos ensino/aprendizagem, enxergando as dificuldades que não colaboram para que ela aconteça. Corroborando essa perspectiva, é possível destacar que a formação continuada deve estar alinhada com o desempenho profissional do professor, em que as escolas sejam lugares de referência, um local de credibilidade para os programas de formação estruturarem-se, considerando problemas e projetos de ação reais e da comunidade em que estão inseridos, não apenas em torno de conteúdos acadêmicos (NÓVOA, 1992). Chegamos aqui a um ponto crucial da formação continuada, ela deve ser direcionada para resolver os problemas daquela comunidade e pensar em soluções que visem superá-los, como fazer, porque fazer e de que maneira resolver, não deve se limitar em torno de conteúdos acadêmicos em que o professor, muitas vezes, estuda assuntos que não condizem com a realidade que está vivendo. A formação continuada é essencial para um bom desempenho do professor, frente ao cenário complexo em que está inserida (GADELHA, 2020). Nóvoa (1995) nos diz que o desenvolvimento profissional deve abranger três dimensões: pessoal, profissional e organizacional. Para o autor, é possível estruturar da seguinte forma: Pessoal: Estimular reflexões críticas e autônomas, ter espaço de interação entre profissional e pessoal; Profissional: Aqui o professor é tido como autor e produtor de seu conhecimento profissional, sendo reflexivo e responsável pela sua formação; Organizacional: Voltado para a ideia de que formação e trabalho devem caminhar juntos, pois o desenvolvimento profissional e pessoal está ligado também ao desenvolvimento da instituição em que atua (NÓVOA, 1995). Ter acesso a uma boa formação continuada e permanente garante ao professor desenvolver-se profissionalmente ao mesmo tempo em que cria sua identidade e isso está relacionado à qualidade da aprendizagem. A formação continuada possibilita uma capacitação pessoal e profissional dos docentes, que reflete em uma ampliação e aprimoramento de suas práticas pedagógicas, como na utilização de novas metodologias e práticas de ensino (MUNCK; BORGES, 2020). O professor precisa sair do papel de mero expectador e assumir as rédeas de sua formação, indicando os desafios enfrentados e qual tipo de formação o ajudaria a superar esta ou aquela dificuldade, pois para resolver um problema é necessário estudá-lo a fundo, debruçar-se sobre suas origens, compartilhar saberes e experiências com os outros docentes da escola para chegarem a uma solução comum a todos, afinal todos são parte de uma mesma escola, inserida numa mesma comunidade. 3 A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO FRENTE À FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO PROFESSOR O Projeto Político Pedagógico (PPP) mostra-nos a visão macro do que a escola pretende alcançar, é um plano de intenções produzido pela escola, nele contém o que temos a intenção de fazer, de realizar, quais são os objetivos metas e desafios que queremos alcançar, tanto nas questões pedagógicas quanto nas administrativas. Ele é uma direção, um rumo para as futuras ações da escola, ele é democrático e definido coletivamente pelo qual todos têm um compromisso, baseado no presente e planejando como queremos que seja o futuro. Portanto, o PPP pode ser considerado um instrumento norteador dos processos de formação de uma Instituição escolar, com significação dos conteúdos e do processo de ensino-aprendizagem (FERREIRA; BORGES JÚNIOR, 2020). Figura 3 - União De Todos Os Envolvidos Na Elaboração Do Projeto Político Pedagógico ID da foto stock livre de direitos: 1390432772 Diante dessa nossa discussão, é possível evidenciar Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente (GADOTTI, 1994, p. 579). https://www.shutterstock.com/pt/photos Assim, o PPP é político porque tem o direcionamento, as escolhas de caminhos para formar cidadãos conscientes, críticos e reflexivos o termo político aqui, nada tem a ver com partido ou doutrina conforme nos fala Vasconcellos (2002, p. 20): “[...] Ser político significa tomar posição nos conflitos presentes na Polis, significa, sobretudo, a busca do bem comum. Não deve ser entendido no sentido estrito de uma doutrina ou partido”. Ele também é pedagógico porque é o meio pelo qual a escola define os objetivos, atividades pedagógicas e as ações que fará, a fim de alcançar os objetivos educacionais. Segundo Veiga (1995, p, 13): “[...] Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade”. Assim, ao construí-lo, é necessário que se tenha em mente que a escola é um lugar de grande diversidade cultural no corpo docente e discente, onde existem pessoas de várias etnias, religiões, raças e classes sociais, que faz a gestão da escola ser um processo complexo; e o Projeto Político Pedagógico mostra-nos uma visão global da sociedade em que a escola está inserida, ele é o retrato fiel da identidade da escola, portanto ele é dinâmico e deve ser adaptado às condições sociais, econômicas e políticas da realidade que cerca a escola. De acordo com Vasconcellos (2002): A identidade se constrói na alteridade e não na confusão de ideias, posicionamentos e personalidades. Cada instituição deverá traçar o seu caminho; porém, este caminho poderá ser tanto mais interessante quanto maior a oportunidade de diálogo com outros sujeitos tambémposicionados. (VASCONCELLOS, 2002, p. 17) Luck (2008) corrobora esse posicionamento, afirmando que: Entende-se que a natureza humana básica - sua vocação primeira - consiste na necessidade de a pessoa ser ativa em associação com seus semelhantes, desenvolvendo seu potencial. Isto é, o ser humano se torna uma pessoa e desenvolve sua humanidade na medida em que, pela atuação social, coletivamente compartilhada, canaliza e desenvolve seu potencial ao mesmo tempo que contribui para o desenvolvimento da cultura do grupo em que vive, com o qual interage e do qual depende para construir sua identidade pessoal (LUCK, 2008, p. 61). A questão da identidade apontada pelos autores é de extrema importância para melhor articulação das ações desenvolvidas pela escola, e o diálogo necessário entre agentes escolares e da comunidade, para que ele seja elaborado possibilita uma maior aproximação e compreensão da realidade que cerca aquela instituição escolar. A LDB 9.394/96 em seu artigo 13 estabelece que “Os docentes incumbir-se-ão de: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino”. Contudo, conforme já explicitado anteriormente, é necessário que a construção do PPP não seja vista como uma obrigação. Você, futuro(a) professor(a) precisa ter a consciência de que ele deve ser um aprofundamento do trabalho em equipe, pois a divisão rígida entre o trabalho docente e trabalho gestor precisa se dissipar, porque hoje você pode ser professor(a) e no futuro assumir um cargo de coordenação. O ponto de vista que nos interessa reforçar é que a escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as normas e exerce o controle técnico e burocrático. A luta da escola é pela descentralização em busca de sua autonomia e qualidade (VEIGA, 1995, p. 18). A autonomia e a qualidade ficam comprometidas quando o poder é centralizado, conforme lemos nas palavras de Veiga (1995), o poder centralizador deve ser substituído pela descentralização, em que todos os envolvidos participam coletivamente e contribuem para o sucesso da escola. Para que o professor compreenda sua importância nesse processo é necessário que, além da formação inicial, que forneça uma base de conhecimentos, é necessária a formação continuada, a qual mostra-se indispensável e que pode criar momentos de reflexão sobre a prática. Estrela (2002, p. 153) nos confirma isso dizendo que: [...] “ introduzir os professores em formação inicial ou contínua em metodologias simples de investigação, tornando-os crescentemente autônomos na sua capacidade de análise e de tomada de consciência crítica no real em que operam”. Como já citado algumas vezes, o professor precisa ser criativo e reflexivo. A realidade de uma escola é sempre diferente da realidade enfrentada por outra e, o próprio PPP, pode fazer uma previsão da organização pedagógica para qual o professor precisará estar preparado, nenhum curso superior o preparará para isso e nesse caso será necessário que juntamente com seus pares, vocês realizem uma formação coletiva em contexto. Na proposta dessa formação, os educadores buscarão estudar alternativas que contribuam para a melhoria do trabalho, e os temas a serem pesquisados, refletidos e debatidos, são definidos conforme o PPP da escola; tornando-os assim participantes ativos desse processo. Finalizamos assim este tópico com as palavras de Imbernón (2000) A escola deve abrir suas portas e derrubar suas paredes não apenas para que possa entrar o que passa além de seus muros, mas também para misturar-se com a comunidade da qual faz parte. Trata-se “simplesmente”, de romper o monopólio do saber, a posição hegemônica da função socializadora, por parte dos professores, e construir uma comunidade de aprendizagem no próprio contexto. (IMBERNÓN, 2000, p.95) Avalie como é necessário que isso reflita para a comunidade, que seja algo que atinja o meio social a que está inserida. 4 O PAPEL DO PEDAGOGO FRENTE À FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES E OS ASPECTOS QUE ENVOLVEM O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM ID da foto stock livre de direitos: 1443609116 Caro(a) aluno (a), refletiremos agora sobre o papel do pedagogo frente à formação continuada e os aspectos que envolvem o processo de ensino-aprendizagem. Já é sabido que professor é um ser em constante formação e a aprendizagem contínua colabora para o desenvolvimento docente e da sociedade em geral. De acordo com Nóvoa (2017), as propostas de formação continuada devem atender a dinamicidade presente no século XXI, favorecendo a reflexão contínua sobre a prática e baseadas nas necessidades que surgem no cotidiano. A respeito disse, Alarcão (2007) nos chama a atenção dizendo que: Falaremos então de uma nova forma de estar na profissão e de viver a profissão assumindo que, perante a imprevisibilidade, a constante mudança e a exigência dos contextos de atuação, a formação ao longo da vida surge como um imperativo inquestionável.(ALARCÃO, 2007, p. 13) Nóvoa (1992) nos diz ainda que é necessário investir positivamente nos saberes que o professor detém, trabalhando e desenvolvendo-os de um ponto de vista teórico e conceptual, para que esses saberes tornem-se práticas pedagógicas mais significativas e primordiais, a fim de atender às demandas da sociedade atual. https://www.shutterstock.com/pt/photos O papel do pedagogo na formação continuada é o de planejar e acompanhar a execução dos processos, sejam eles didáticos, políticos, pedagógicos ou sociais; ele é um articulador e condutor do processo de formação continuada, contribuindo para uma prática reflexiva coerente planejando ações coletivas. Nesse contexto, Franco (2012, p. 110) esclarece-nos alguns pontos sobre o papel do pedagogo: O pedagogo será́ aquele profissional capaz de mediar teoria pedagógica e práxis educativa e deverá estar comprometido com a construção de um projeto político voltado à emancipação dos sujeitos das práxis na busca de novas e significativas relações sociais desejadas pelos sujeitos. Libâneo (1999) ratifica essa compreensão: O Pedagogo assume a tarefa de orientar a prática educativa de modos conscientes, intencionais, sistemáticos, para finalidades sociais e políticas cunhadas a partir de interesses concretos no seio da prática social, ou seja, de acordo com exigências concretas postas à humanização num determinado contexto histórico social. Junto a isso formula e desenvolve condições metodológicas e organizativas para viabilizar a atividade educativa nos âmbitos da escola e extra escola.(LIBÂNEO, 1999, p. 135) Para ser um bom profissional, em qualquer área, é necessário ter o domínio de conhecimentos pertinentes para garantir eficiência em sua ação, a fim de alcançar os resultados esperados; com os pedagogos isso não é diferente, é necessário que se busque uma formação teórica boa, para saber articular saberes práticos que formarão a base para o desempenho de sua profissão. Dominar um método científico permite entender o trabalho pedagógico escolar em sua dinamicidade teórica e prática, diante de suas particularidades, mas também de sua totalidade e complexidade, possibilitando, ainda, compreender as diversas determinações que constituem e engendram o espaço escolar e interferem no trabalho social da escola (SÁ, 2006). Se o pedagogo possuir uma boa base de conhecimentos, ele é capaz de realizar uma análise para os problemas, e vê-los além do imediatismo, mostrando níveis mais profundos de compreensão. Ele é apontado, então, como o profissional que reúne as condições de refletir, juntamente com os professores, os enfoques das práticas, confrontando com a teoria e o contexto social e cultural dos discentes. Hagemeyer (2006) fala-nos que é por meio da: [...] interação entre a consciência e as circunstâncias,entre pensamento/conhecimento e realidade sócio-cultural, que se configura a possibilidade de atuação do profissional pedagogo/professor. O caráter mediador de articulação entre os dois pólos, o teórico e o prático, é realizado pelo caráter mediador do trabalho pedagógico.(HAGEMEYER, 2006, p. 37) A todo momento, novas tecnologias e linguagens são introduzidas no contexto escolar, onde ocorre a reelaboração dos currículos, as maneiras de ensino e aprendizagem, a estrutura escolar, e as diversidades sociais e culturais tornam-se mais evidentes. Imbernón (2010, p. 72) afirma que “contemporaneamente, o que tenho visto e vivido no meu contexto profissional é uma formação continuada de cima para baixo, padronizada, implementada por especialistas na qual se desconsidera o conhecimento que o professor amealhou na sua trajetória”. Diante disso, é possível avaliar que: [...] as ações de formação continuada são ações didáticas, elas próprias consistem de um processo de ensino, de modo que tudo o que queremos que aconteça nas escolas em termos de mudança de atitude dos professores na sala de aula, deve acontecer também nas ações de formação continuada (LIBÂNEO, 1999, p. 40). Em concordância com ele, Mizukami (2003, p. 74) afirma ser preciso possibilitar oportunidades reais e apropriadas de aprendizagem profissional, que devem estar inseridas na organização de seu trabalho diário, o que estimulará competências de investigar, experimentar, consultar e avaliar. Nessa maneira de analisar, o papel do pedagogo é de suma importância para dar suporte ao desenvolvimento coletivo e individual tendo como ponto de partida os saberes, experiências e os problemas do cotidiano da escola. Fazendo dessa maneira o papel do professor muda, conforme dito por Nóvoa: “os professores não são apenas consumidores, mas também produtores de saber; não são apenas executores, mas também criadores de instrumentos pedagógicos; não são apenas técnicos, mas são também profissionais críticos e reflexivos” (NÓVOA, 1992, p. 31). Sendo assim, o trabalho ativo e intencional do pedagogo aliado com o projeto político pedagógico da escola colabora para que o professor tome consciência sobre sua ação e atuação. Pinto (2011, p. 153) afirma que “a atuação do pedagogo junto aos professores só faz sentido, se não perder de vista seu fim último, a melhoria da aprendizagem dos alunos”. Então, o objetivo da mediação do pedagogo é a melhoria das práticas docentes e como consequência a qualidade do processo de ensino e aprendizagem. SAIBA MAIS Paulo Freire é um dos intelectuais brasileiros mais referenciados do mundo — está entre os 100 mais citados em estudos e o seu livro mais famoso, Pedagogia do Oprimido, é a terceira obra mais citada em trabalhos acadêmicos da área de humanas. Ao redor do globo, o educador é tido como referência mundial em qualidade de ensino e já foi homenageado em diversos países. O Centro Paulo Freire Finlândia é um espaço dedicado à discussão da obra do escritor brasileiro. Existem, também, centros de estudos semelhantes em outros países como África do Sul, Áustria, Alemanha, Holanda, Portugal, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá. Fonte: FREIRE, Paulo. Paulo Freire: o que diz a filosofia do educador brasileiro? Politize, 2021. Disponível em: https://www.politize.com.br/paulo-freire/. Acesso em: 14 out. 2021. REFLITA O foco de atuação do licenciado é sim a docência, mas isso não impede que ele realize outras atividades relacionadas a sua habilidade, como consultorias, pesquisas e também o serviço público por meio de concursos que exigem apenas a graduação. Pense nisso! Fonte: QUER ser professor? Veja 7 curiosidades dos cursos de licenciatura. São Judas, 2021. Disponível em: https://www.usjt.br/blog/quer-ser-professor-veja-7-curiosidades-dos-cursos-de-licenciatura/ Acesso em: 15 out. De 2021. #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno (a), chegamos ao final de mais uma unidade, a qual trouxe-nos reflexões sobre como política, história e educação andam lado a lado; uma não existe sem a outra. Voltamos no tempo para aprender onde surgiram os primeiros professores no mundo e no Brasil, quais foram seus caminhos traçados pela educação em nosso país desde o tempo dos Jesuítas, vimos sobre os três grandes períodos da evolução da formação de professores. Compreendemos que é de suma importância para o desenvolvimento da educação, passamos pelos períodos de formação no magistério, a escola nova com o Manifesto do Pioneiros e a concepção pedagógica produtivista, ressaltamos sobre alguns artigos da LEI LDB 9394/96 e baseamo-nos nela para compreender sobre os processos. Foi abordado sobre o papel da formação inicial e continuada na carreira do professor; e quais foram suas implicações para executar boas práticas pedagógicas. Vimos sobre a construção do Projeto Político da Escola, ressaltamos que ele é muito mais que um documento; é um norte para a escola nos aspectos pedagógicos e para gestores, que é montado com a ajuda de todos os membros envolvidos na instituição escolar : docentes, discentes, gestão e comunidade; refletirmos sobre sua importância e implicações para o futuro. E, por fim, falamos sobre a função do pedagogo na instituição escolar, como ele pode vir a contribuir na formação continuada dentro da escola e qual a sua importância. Foi um prazer ajudá-lo(a) a construir esses conhecimentos! Até a próxima unidade! LEITURA COMPLEMENTAR A formação dos professores precisa estar alinhada com o Projeto Político Pedagógico, cada vez mais, valorizando uma educação transformadora. O artigo ‘Os Modelos de Formação de Professores/as da Educação Básica: quem formamos?’ escrito por Camila Lima Coimbra, da Universidade Federal de Uberlândia, discute como identificar o lugar – ou os lugares – da formação de professores/as para a Educação Básica no Brasil. Disponível em: https://www.scielo.br/j/edreal/a/xJnsTVj8KyMy4B495vLmhww/?format=pdf&lang=pt . Acesso em: 07 dez. 2021. LIVRO • Título: Qualidade do Ensino e Formação do Professorado Uma Mudança Necessária. • Autor: Francisco Imbernón. • Editora: Cortez Editora. • Sinopse : Este livro tem como objetivo ajudar o leitor a refletir sobre questões relacionadas com a educação. Está dividido em duas partes. Na primeira, são analisadas a figura do professor, a escola e a qualidade do ensino. A segunda trata dos professores e sua formação como elemento essencial na qualidade da educação em todos os âmbitos, para ser conduzida até os novos aspectos, como a criação de redes de formação. FILME/VÍDEO • Título: Preciosa • Ano: 2009. • Sinopse.O filme conta a trajetória de Claireece “Preciosa” Jones, uma garota negra que sofre abusos e violências pelos pais. Pobre, ela por uma série de discriminações por ser analfabeta e acima do peso. Com muita coragem e a ajuda de uma educadora que acredita na sua possibilidade de mudança, Preciosa dá a volta por cima. REFERÊNCIAS ALARCÃO, I. Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2007. BRASIL. Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências. MEC. Ensino de 1º e 2º grau. Brasília, DF, ago. 1971. BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, nº 248, 23 de dezembro de 1996. BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Conversão da Medida Provisória nº 746, de 2016. Brasília, DF, fev. 2017. CANDAU, Vera Maria Ferrão: Formação Continuada de Professores: Tendências Atuais. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 1996. ENS, R. T.;DONATO, S. P. Ser professor e formar professores: tensões e incertezas contemporâneas. In: ENS, R. T.; BEHRENS, M. A. (Orgs.). Ser professor: formação e os desafios na docência. Curitiba: Champagnat, 2011. ESTRELA, Maria Teresa. 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INTRODUÇÃO Estudante, nesta unidade vamos dialogar sobre a influência de Paulo Freire na educação brasileira sob diferentes pontos de vista: primeiro sobre a formação do educador, em seguida, sobre suas contribuições para o distanciamento da escola tradicional e, por fim, seus preceitos sobre a escola humanizada. Para que tais argumentações sejam mais efetivas, começaremos estudando sobre quem foi Paulo Freire e como este educador foi capaz de deixar um legado tão rico e inovador à educação brasileira. Boa leitura! 1 CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO Imagem do Tópico: Fonte: Cherries/shutterstock A ideia de se discorrer sobre Paulo Freire, filósofo e educador, tanto na sua influência, quanto no marco que deixou na educação brasileira, quando levada à formação docente, apresenta um significado ainda maior e mostra-nos, por fato, que sua contribuição ainda ecoa na educação de nossas crianças e adolescentes. A contribuição de Freire está sempre ligada a uma mudança severa na visão dos conceitos de educação, ensino, que nortearam por anos a formação docente. Em sua história de mais de meio século, o Brasil passou por profundas mudanças políticas, sociais, econômicas com grandes reflexos na educação. O que Paulo Freire fez foi iniciar um movimento pela visão de uma educação libertadora com repercussão em diversos países, assim como defendem Gumiero e Araújo (2018): São indiscutíveis as contribuições e a presença ativa do educador Paulo Freire na vida educacional, política e cultural do país e a sua influência na educação em vários países do mundo. Desde a sua participação do início do Movimento de Cultura Popular (MCP), em Recife/PE, Freire assumiu importantes cargos, tais como: presidente da Comissão Nacional de Cultura Popular e a coordenação do Programa Nacional de Alfabetização (PNA), então promovido pelo Ministério da Educação. (GUMIERO;ARAÚJO,2018, p.3) Mas, apenas no começo de 1963 que o nome de Paulo Freire passou a ecoar com grande destaque em território nacional, por conta de seu método inovador de alfabetização de adultos, cujo sucesso levou ao amplo uso pela Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Norte. O que se observou nos anos seguintes foi a popularização de sua metodologia pela maioria dos movimentos educativos que adotavam práticas mais populares. Seus métodos abusavam da conexão da didática com práticas cotidianas, defendendo a necessidade de uma conscientização que com o uso de seu método,o qual defende a busca por uma sociedade mais justa, seria viável, alcançável (SCOCUGLIA, 1999). Vale ressaltar que o contexto político brasileiro sempre influenciou a atuação de Paulo Freire e com a queda da ditadura de Vargas, a Campanha de Educação de Adultosfoi capaz de manter a política por ele instituída, que, embora centralizadora, tinha por objetivo e diretrizes o estabelecimento dos critérios gerais a serem aplicados por seus estados e municípios. A campanha tinha por objetivo “[...] estender às massas letradas o domínio das técnicas elementares de leitura, a escrita e os rudimentos de cálculo, além de noções básicas de higiene, saúde e conhecimentos gerais” (GUMIERO; ARAÚJO, 2018, p. 04). A aplicação do material didático da Campanha de Educação de Adultos começou a ser aplicado na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, mesmo que a princípio, com o uso de folhas mimeografadas (uma forma de reprodução de folhas que utilizava a pressão de uma matriz e álcool). Mas pouco tempo depois materiais estruturados foram disponibilizados, como: ● A cartilha Ler - primeiro guia de leituras; ● Saber - segundo guia de leituras; ● Caderno de Aritmética; ● Malária; Tuberculose; ● Maria pernilonga; ● Tirar leite com ciência; ● Uma das melhores frutas do mundo; ● Lindaura vai fazer manteiga; o grão de ouro; Terra cansada, além de outros (BEISIEGEL, 2010 apud GUMIERO; ARAÚJO, 2018, p. 04). Com esses materiais, o objetivo imediato seria de proporcionar o domínio da leitura e escrita, em adolescentes e adultos, o que também incluiu sua capacitação em conhecimentos gerais, saúde e higiene. Naquele primeiro momento, as orientações foram, de acordo com Freire (1959): [...] acerca das relações entre o homem, a educação e a sociedade. Considerava o homem um ser de relações, aberto para o mundo, que dialoga com os outros homens, distingue o ontem do hoje e do amanhã, o aqui do ali, mantém relações com o ‘mundo natural’, que não é criação sua, mas ao qual confere uma significação que varia ao longo da história e o ‘mundo da cultura’, que é criação sua, [...]. (FREIRE 1959, p. 8-9 apud GUMIERO; ARAÚJO, 2018, p. 04): O que Freire desejava ressaltar era, naquele momento, que a relação do homem com a educação e a sociedade, em geral, não deveria ser passiva, ou seja, o homem deve se deixar marcar e marcar ao mesmo tempo. Nesse sentido, o homem deve prevalecer em sua relação com sua realidade, sobre seus outros mundos, como um criador de culturas, e na humanidade que realiza com os outros homens. De acordo com Beisiegel (1982 - 2008): Em seus estudos e nas suas práticas pedagógicas, Freire também considera suas reflexões sobre as modalidades de consciência e sobre as características de uma educação comprometida com o processo de conscientização: “[...] uma consciência que não percebe nem pode perceber, claramente, pelo menos, o que há nas ações humanas de respeito a desafios e a questões que a vida apresenta ao homem”.(BEISIEGEL, 1982-2008, p. 81 apud GUMIERO; ARAÚJO, 2018, p. 04) A segunda, a consciência transitiva, ingênua em seu primeiro momento, e que se caracterizava por sua simplicidade ao interpretar problemas, ao idealizar o passado, ao subestimar o homem comum, uma consciência crítica, como afirma Freire (1959) [...] se caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas, pela substituição de explicações mágicas por princípios causais, pela recusa a posições quietistas, pela segurança na argumentação, o gosto pelo debate, uma maior dose de racionalidade, pela apreensão e receptividade a tudo que é novo e pela aceitação da massificação como um fato. (FREIRE, 1959, p. 30-31 apud GUMIERO; ARAÚJO, 2018, p. 05) O ponto focal desse modelo de educação seria a construção de personalidades democráticas, em que o diálogo agia como o cimento, a solda no processo educativo. Portanto, Freire apresenta o diálogo como um componente intrínseco para a promoção da democracia. SAIBA MAIS Saiba mais sobre a história das primeiras experiências de alfabetização de Paulo Freire para a educação de adultos em um excelente documentário. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5y9KMq6G8l8. Acesso em: 07 dez. 2021. #SAIBA MAIS# A simplicidade também era destaque no método de alfabetização de Freire, para a construção de uma prática educativa de forma a retirar de palavras comuns como aluno, escola, classe e professor, seus significados inaceitáveis e, ao mesmo tempo, domesticadores da educação brasileira tradicional, dessa forma: [...] as classes eram substituídas pelos ‘círculos de cultura’; os ‘alunos’, pelos ‘participantes do grupo de discussões’; os ‘professores’ cediam lugar aos ‘coordenadores de debates’. De igual modo, a ‘aula’ era substituída pelo ‘debate’ ou ‘diálogos’ entre educador e educandos e o ‘programa’, por ‘situações existenciais’ (GUMIERO; ARAÚJO, 2018, p. 05). De acordo com o procedimento desenhado por Freire, existia um formato específico de introdução dos adultos analfabetos ao estudo da cultura, com a aplicação das fichas de cultura, em que cada uma das 10 fichas apresentava uma cena específica, https://www.youtube.com/watch?v=5y9KMq6G8l8 um desenho, ou pintura, ou fotografia. De acordo com Freire (1963 apud GUMIERO; ARAÚJO, 2018, p. 05) essas fichas mantinham o seguinte conteúdo: 1. A primeira tinha como tema ‘O homem diante da natureza e da cultura’. Ela reproduzia a figura de um casal de costas para o espectador, contemplando uma paisagem com casas, coisas construídas pelo homem, pássaros, animais, árvores etc. 2. A segunda reproduzia a figura de um índio atirando uma flecha num pássaro que voa. 3. A terceira ficha apresentava a figura de um caçador armado de espingarda. 4. A quarta reproduzia a figura de um gato caçando um rato. 5. A quinta, a figura de uma mulher debaixo de uma tenda de palha, fazendo louças de barro. 6. A ficha seis apresentava um prato, uma moringa e uma panela de barro, produzidos por uma mulher. 7. Na sete, viam-se dois cantores tocando viola, com um rádio ao lado. 8. A oitava ficha reproduzia a figura de um vaqueiro do Nordeste. 9. A nona, apresentava a figura de um gaúcho de bombachas. 10. E a ficha número dez mostrava um grupo de adultos dialogando num ‘círculo de cultura’. Além de uma sequência didática lógica, cada ficha continha seu significado, seu objetivo, como identificar objetos na cultura e na natureza, por exemplo, ou mudanças de atitude, autoconsciência. Para Freire, esses debates, oferecidos pelas fichas, deveriam girar em torno da aquisição da experiência humana pela dimensão cultural, que vem da comunicação escrita como a melhor via para se somar às experiências acumuladas. Um grande destaque do método proposto por Freire estava na sua abordagem quase que artesanal do ensino, em que era conduzido um estudo sobre a vida da comunidade que receberia o trabalho. Nesse estudo, informações sobre a região, costumes locais e sobre os futuros alunos, mas se expandia ao ponto de incluir usos e costumes locais, religião e política. A necessidade do estudo se via na prática ao permitir a melhor escolha das palavras, que poderiam carregar significados diferentes na região, ou seja, estabeleceram um universo vocabular mínimo, que, de acordo com Beisiegel (2010): Levantado esse ‘universo vocabular’, procedia-se à seleção das ‘palavras geradoras’. Os mecanismos da linguagem escrita eram estudados por meio do progressivo desdobramento das ‘palavras geradoras’ em sílabas e, quando fosse necessário, em vogais que, reunidas depois, pelos próprios educandos, possibilitavam, em novas associações, a formação de novas palavras.(BEISIEGEL, 2010 apud GUMIERO; ARAÚJO, 2018, p. 06) Essas palavras geradoras eram escolhidas e com elas os coordenadores de debates passariam a buscar as situações existenciais típicas dos alunos-alvo do estudo, da metodologia. Uma palavra escolhida geraria uma representação gráfica relativa a algo comum da rotina dos alunos específicos, como, por exemplo, um martelo, que passaria a ser tratado no uso cotidiano dos alunos,como em um reparo de uma cerca. De fato, tal método buscava responder às reivindicações por uma educação capaz de se adaptar ao desenvolvimento de uma relação positiva com as mudanças socioeconômicas e políticas. Mas vale ressaltar que o modelo buscava formar agentes que trabalhassem pela mudança social, capazes de substituir a figura da autoridade na educação, por outra, em que o educador estivesse mais próximo do educando e trabalhando seus conteúdos através das experiências da vida real. 2 O PROFESSOR E O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM Imagem do Tópico: Fonte: Natursports/Shutterstock Na educação brasileira existem poucos nomes tão valorados como o de Paulo Freire, ao ponto de ser reconhecido internacionalmente por sua metodologia de alfabetização de adultos. Freire desenvolveu o pensamento pedagógico e tinha como maior objetivo, fazer com que os alunos fossem seres pensantes e conscientes, capazes de promover sua própria libertação. Sobre Paulo Freire, que criticava a ideia de que ensinar restringia-se apenas em transmitir o saber, temos que, de acordo com Zluhan e Raitz, (2014, p. 432, apud LIRA et al., 2019, documento on-line). [...] para ele o dever do docente é garantir, possibilitar, promover, gerar e manter os conhecimentos de mundo e da vida. Para este autor, não valia a concepção de que o aluno necessita só de condições facilitadoras para o auto aprendizado, prevendo assim, para o professor, um papel diretivo e informativo, pois media a relação entre o aluno e o conhecimento, mas não como verdade absoluta, mesmo porque ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas. Os homens são educados entre si mediados pelo mundo. Freire apresentou a premissa de que a cultura do aluno não deveria ser vista, e nem era, melhor ou pior que a do professor, o que representou, naquele momento, que https://www.shutterstock.com/pt/g/demarfa o professor, além do aluno, também deveria aprender neste método de ensino e aprendizagem, não apenas o aluno, o que representou “[...] uma das grandes inovações da pedagogia freiriana, considerar que o sujeito é fruto da criação cultural, nunca é individual” (RUGUT, OSMAN, 2013, apud LIRA et al., 2019, documento on-line). Portanto, podemos concluir que o processo de ensino e aprendizagem freiriano valorizava a cultura do aluno como fator preponderante para o progresso da conscientização, mesmo que, a princípio, o método fosse destinado a adultos. Esse método se propôs a encontrar e validar as palavras-chave dos alunos, também chamadas de palavras geradoras, capazes de promover as experiências da vida comum desses alunos. Grande parte do conceito que Freire adotou no desenvolvimento dessa abordagem para a educação de adultos está centrada no fato de que o ser humano é um ser inacabado, ou seja, está sempre construindo sua história, aprendendo, ensinando (LIMA; BRAGA, 2016). Para Paulo Freire (1987, p. 43 apud LIRA et al., 2019, documento on-line), o ensino deve valorizar: [...] o homem, desenvolva suas capacidades e corresponda com a própria natureza do ser humano que é de se humanizar dentro da sociedade, configurando-se participante e principalmente transformador de uma realidade injusta e discriminatória. Mas, o processo pedagógico que permite tal humanização depende de que sejam modificadas as relações socioculturais dentro da prática pedagógica vigente e, com isso, deve passar a manter tanto o docente quando o discente, como figuras ativas no processo, para que tanto as significações quanto as ressignificações sejam mútuas. Assim, vale destacar que Paulo Freire considera esse processo com um foco maior na concepção da educação plena, em que o ato de educar deve representar o depósito do saber no aluno, mas onde se faz necessário complementar tal consideração, como o pensamento e o conhecimento (LIMA; BRAGA, 2016). O complemento dessa educação plena significa falar da realidade estática, passada, mas sem a inquietação e em que o educador posiciona-se como um agente responsável por encher os alunos de seu conteúdo, sua narrativa. Para a educação em massa, desafios como a exclusão, desfragmentação e desarticulação das comunidades escolares, Freire apresenta mais uma contribuição quando desenvolve um projeto de uma educação libertadora, em que eleva em importância o uso do recurso de aprendizagem pela leitura, e pela escrita, sem deixar de lado a politização do educando. Para Freire, ao observar sua atuação e construções metodológicas, a educação não é neutra, pois deve se originar das diferentes realidades, de seus significados, e cujas diferentes reflexões tendem a transformar, lhe dar forma. Nessa perspectiva, frisa-se que: [...] que o espaço da sala de aula precisa ser democrático, dialógico e criativo para poder fluir e a escola possa se tornar viva. Afinal, é possível aprender a ser democrata com métodos que produzam o autoritarismo. Neste contexto, a educação precisa ser compreendida ao mesmo tempo como um ato político, como um ato de conhecimento e como um ato criador e mais eficaz (LIRA et al., 2019, documento on-line). Portanto o ato de educar deve despertar a indagação, a constatação e estimular a intervenção, pois se trata de um ato de se apropriar de diferentes conhecimentos, trocar saberes, sejam empíricos, do mundo, e o mais importante: as vivências e experiências. Para Freire a verdadeira aprendizagem deve transformar o educando, pois ele deve reconstruir os saberes que lhe são transmitidos por seus educadores (LIMA; BRAGA, 2016). De acordo com sua ressignificação esse educando pode crescer, o que nos leva a compreender que para a verdadeira aprendizagem existem certas condições que permitirão tornar tais alunos em seus reais construtores e reconstrutores do saber. Essa questão de o educando ser o seu próprio ponto focal, ser o ator principal do enredo de sua própria educação perdura nos dias de hoje, e não tira a importância do educador, apenas o coloca em uma posição em que consegue ser muito mais efetivo: na posição de mediador dessa aprendizagem. Assim, o aluno passa a ser visto como indivíduo, e não como o objetivo de uma estatística, de uma política pública, pois ele é parte do processo ensino-aprendizagem para esta concepção progressista. A sociedade atual aceitaria melhor um Paulo Freire vivo, do que a sociedade de seu tempo? Estes conceitos e conclusões nos permitem compreender que o maior trabalho de Paulo Freire não foi necessariamente sua metodologia, mas sim demonstrar onde deveriam estar às importâncias, os valores, no processo pedagógico que necessitava ser problematizador e transformador, o que mais uma vez permitiu-se visualizar o porquê esta educação não deveria ser neutra. E de acordo com Dunham (2018, apud LIRA et al., 2019, documento on-line): E nessa perspectiva, a teoria da aprendizagem é a construção humana para interpretar um conhecimento específico chamado de aprendizagem. Representa o ponto de vista de um autor sobre como interpretar as variáveis em relação a esta temática. Sobre o impacto de Freire na formação docente, temos a estrutura de sua proposta de trabalho em que seria possível atuar com alunos, mesmo que portassem alguma dificuldade de aprendizagem de forma a melhorar suas técnicas de ensino com o ressignificado dentro desse processo educativo, que apresentou como método de avaliação os seguintes parâmetros: -Verificar como as principais teorias da aprendizagem influenciam no processo educacional brasileiro, considerando os aspectos epistemológicos, sociais e políticos da inter-relação do indivíduo; -Discutir questões que envolvam dificuldades de aprendizagem e técnicas de intervenção e prevenção; -Caracterizar e discutir temáticas voltadas aos modelos das teorias da aprendizagem humana e suas nuances; -Analisar asconcepções da aprendizagem, identificando quais modelos são determinantes para que a mesma se desenvolva (LIRA et al., 2019, documento on-line). Esta metodologia apresenta seu maior destaque no fato de que o processo de aprendizagem pode ser definido de forma sintética, no que diz respeito à forma com que os alunos adquirem novo conhecimento, e no quesito processo avaliativo, (MERRIAM, 2017, apud LIRA et al., 2019, documento on-line). [...] deve-se considerar que este deve ser um processo global, dinâmico, pessoal, gradativo, acumulativo e contínuo. O professor em sala, deve fazer uso desse processo para melhor desenvolver seu ato de ensinar e respaldar o de aprender na busca de ressignificar a aprendizagem (MERRIAM, 2017, apud LIRA et al., 2019, documento on-line). Dentro dessa estrutura, dessa metodologia, o educador também pode envolver o educando no processo avaliativo transferindo-lhe a responsabilidade pela aprendizagem, até mesmo, ao definir os tamanhos dos grupos e estabelecer diálogos que contribuam para o desenvolvimento individual, sempre com a observação do professor. 3 AS CONTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE Imagem do Tópico: Fonte: ESB Professional/Shutterstock Podemos estabelecer que uma das maiores contribuições de Freire, foi em mostrar ao educando que ele tem por responsabilidade uma eterna busca por conhecimento, o que permite a evolução de seus métodos pedagógicos ao mesmo tempo em que se torna um professor de maior significância na sua capacidade de mediador do processo de ensino-aprendizagem de seus educandos. Segundo Freire (2006, p. 29 apud SILVA; BARBOSA, 2019, p. 166), “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Assim sendo, fica demonstrado que enquanto ensina o professor necessita sempre estar buscando meios para constatar o que aprende e ensina.” Pois, o professor que nada aprende, pouco é capaz de ensinar. E, esse saber do docente, deve ser pautado em um contexto, uma realidade como a base que forma o seu conhecimento, assim como de seu aluno. https://www.shutterstock.com/pt/g/ESB+Professional SAIBA MAIS O professor aprendendo com os alunos é um conceito que ainda desperta receio e medo em muitos docentes, mas é parte vital ao processo de ensino-aprendizagem humanizado, com isso recomendo o artigo do IFPB sobre “Ser professor é aprender com os alunos, pois eles têm muito a ensinar”. Fonte: NETO, A. G. Ser Professor é aprender com os alunos, pois eles têm muito a ensinar, 2016. Disponível em: https://www.ifpb.edu.br/joaopessoa/noticias/2016/10/201cser-professor-e-aprender-com- os-alunos-pois-eles-tem-muito-que-ensinar201d. Acesso em: 16 out. 2021. #SAIBA MAIS# Portanto, seguir os ensinamentos de Freire significa ao professor jamais deixar de ser educando, que em seu caso podemos nomear pesquisador, pois deve estar sempre atualizado, se capacitar constantemente, o que o coloca na rota da educação permanente. Somente o professor devidamente capacitado e atualizado pode dar aos alunos seu melhor, conhecimento atual, relevante. É importante que o docente crie o hábito de pesquisar, buscando sempre estar atualizado; buscando sempre a capacitação profissional, a educação permanente, a promoção social, evitando se tornar um profissional obsoleto. A fim de poder conhecer o que ainda não se sabe e transmitir as novidades aos alunos (as), fazendo com que a curiosidade dos mesmos transite da ingenuidade do senso comum à "curiosidade epistemológica", carregada de criticidade (FREIRE, 2006, p. 29, apud SILVA; BARBOSA, 2019, p. 166). Para Teixeira (2017, p. 01 apud SILVA; BARBOSA, 2019, p. 166) podemos compreender que a “Competência só pode ser constituída na prática. Não é só o saber, mas o saber fazer. Aprende-se fazendo, numa situação que requeira esse fazer determinado”. O que nos leva de volta ao que apresenta Freire ao afirmar que o educador deve ser o eterno provocador de situações, que engaja culturalmente a quem estiver em sua sala de aula, em comunhão pelo conhecimento. Para Freire, além de não ser neutra, a educação precisa ser multicultural, ética e dar ao educador e educando o poder de se libertarem, de se transformarem e que tem também a intenção de mudar a consciência de cada indivíduo e, por consequência, de seu meio social (SAUL; SAUL, 2016). Em complementaridade, temos que a proposta de Paulo Freire pensada para a educação vai além das limitações de uma teoria, visto que ela pode ser compreendida como uma forma de compreender o mundo, como se pensar sobre ele, adequando os fatos a partir de uma ação consciente (SILVA; BARBOSA, 2019). Pelo caminho levado, de acordo com os postulados de Freire, a educação precisa ser conscientizadora, praticamente como um ato político, o que significa que o conhecimento, se possível, deve ser isolado, não necessariamente liberta, mas que libertar deve ser o fim da educação. Portanto, o pensamento de Freire apresenta que a finalidade da educação é a libertação social, uma transformação radical, de forma que permita aos educandos sua oportunidade de serem os sujeitos de sua história. De acordo com Freire (2006), existem diversos saberes vitais à prática educativa: Abrange a linguagem multicultural do professor, a importância do educando como parte do processo de construção do conhecimento, entre muitos outros. O autor ressalta a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa e recomenda para que não sejamos demasiadamente crentes de nossas certezas visto que todo novo conhecimento pode superar o já existente.(FREIRE, 2006 apud SILVA;BARBOSA, 2019, p. 167) Dessa forma, Freire acredita que a formação docente deve promover professores que sejam aprendizes pensantes, tal como se espera de seus alunos, e complementa afirmando que o bom professor jamais fica à espera de manuais e guias que lhe digam o que deve ser feito, e que o pensar certo vai nascer de sua comunhão com o educando. Dessa forma, devemos compreender que os professores por profissão, embora estejam, na maioria das vezes, aplicando conhecimentos que foram outrora produzidos por outros, devem assumir uma prática pedagógica de acordo com os significados de seu meio, do meio de seus educandos, em que vale ressaltar que: [...] deter o conhecimento não basta, é importante saber transmitir a alguém, é importante e necessário entender o conhecimento sendo capaz de organizá-lo, reorganizá-lo, elaborar e reelaborá-lo e adaptá-lo sempre que necessário em sala de aula (SILVA; BARBOSA, 2019, p.167). Freire defende que ensinar significa que o educador possui autonomia, dignidade, algo ético e não uma benfeitoria, pois o docente em sua prática colabora seu saber com seus valores, conhecimentos e deve buscar a melhora na qualidade do ensino oferecido, portanto, tal prática é muito mais orgânica do que técnica. De acordo com Gohn (2009, p. 21 apud SILVA e BARBOSA, 2019, p.168), “O professor é visto por Freire como alguém ao lado do aluno, um ser que também busca e também aprende; o aluno passa a ser sujeito das ações educativas e não mais objeto, ele ganha dignidade no processo educativo”. Portanto, o professor necessita de uma formação sólida, mas isso não se resume ao conteúdo científico de suas disciplinas, e sim em sua didática, de suas significâncias, que o levem a uma formação constante (SAUL; SAUL, 2016) e, portanto, existe uma multiplicidade dessa formação, compreendida como: [...] a melhor riqueza do conhecimento, a magnitude de saberes diferentes, de culturas e costumes diferenciados, os quais se valorizados e acatados podem ser uma linha que une o processo de ensino aprendizagem e sejam elos entre o conhecimento científico e o do senso comum (SOARES, 2013, apud SILVA; BARBOSA, 2019, p.168). O educador é o mediador do conhecimento, aquele responsável por abrir o caminho às informações tãoimportantes ao processo de assimilação por parte de seus educandos, dessa forma, esse docente não é estático no processo, deve buscar adaptar sua realidade, suas significâncias, as dos seus educandos, estimulando esses alunos no processo de ensino-aprendizagem. 4 EDUCAÇÃO HUMANIZADA Imagem do Tópico: Fonte: Master1305/shutterstock A educação humanizada vem sendo alvo de inúmeras discussões dentro da educação brasileira, devido a uma latente necessidade de se oferecer ao educando uma formação de maior significância, mas o que se pode concluir inicialmente, que tal construção representa um grande desafio para a escola contemporânea. Esse desafio das escolas contemporâneas reside, em parte, da grande diversidade social que promove muitos entraves, algo complexo de ser contornado, resolvido, assim como define Santos (2020, p. 179) ao afirmar que uma das metas atuais da educação está em “[...] construir, passo a passo, uma educação mais humanizada e humanizadora, com maior significado, onde sejam priorizados com rigor os princípios e valores éticos, tão necessários para a formação da sociedade e da cidadania”. https://www.shutterstock.com/pt/g/Master1305 Na contramão da humanização, de acordo com Freire (1988 apud SANTOS, 2020, p. 180): A desumanização do sujeito é um grave problema, que requer uma atenção especial no contexto em que estamos inseridos. O autor trata da desumanização como um processo negativo que tem levado o indivíduo à ruina [sic] em vários sentidos. Um deles é a sua descaracterização como humano, o que o torna insensível frente a inúmeras situações em que é necessário provar a sua sensibilidade. (FREIRE,1988 apud SANTOS, 2020, p. 180) De forma geral, social, a humanização é um elemento de grande importância à vida cotidiana, capaz de transformar vidas e, com isso moldar o ser humano, visto, nesse contexto, como um diamante bruto, carente de lapidação, em que tal lapidação pode se originar da educação (FREITAS, 2018). Assim, a humanização tem o poder de positivamente modificar a sociedade, se apresentando como uma necessidade de todos os seres humanos. De forma geral, o ser humano produz seus meios de sobrevivência, mas que também produz sua cultura, sua ideologia, seu lado social, o que o torna um ser histórico e social. Mas esse ser humano, social, construtor de sua história, não nasce dessa forma, com tal habilidade, portanto a educação deve atuar para garantir que essa construção ocorra e, que ocorra da forma que permita a evolução de sua sociedade, seu meio. Seja no tempo de Freire ou atualmente, a educação ainda busca seu caminho pela humanização, claro que esse não é o único desafio que a educação brasileira enfrenta, mas vem mostrando-se a montanha mais alta a se ultrapassar (FREITAS, 2018). Nesse sentido, podemos conceber que a educação humanizada deve ser vista como uma educação capaz de além de formar, transformar os educandos, talvez, tornando-os ainda mais humanos, valorizando seus sentimentos, suas emoções, sensações. Para Braga (2015 apud SANTOS, 2020, p.181) [...] as práticas sociais (em especial aquelas realizadas pela via da educação) são capazes de mudar toda uma realidade social. Percebe que o fazer pedagógico como ato de educar se efetiva por meio de ações e de intervenções claras, objetivas e contínuas. Propiciar uma educação autêntica, capaz de promover a dignidade das pessoas de forma que vivam humanamente, é um grande desafio, que requer um conjunto de ações e de intervenções bem estruturadas e planejadas.(BRAGA, 2015 apud SANTOS, 2020, p.181) Podemos conceber, nestes argumentos, a respeito da educação humanizadora, libertadora, conscientizadora que a escola forma opiniões, o que expressa o tamanho considerável que o processo de aprender, pois deve contribuir para que, cada um, educador e educando, aprendam a serem seres humanos. Esse lado humanizador do processo de ensino-aprendizagem nem sempre é conquistado com sucesso, o que pode ser observado nos elevados índices de violência que as estatísticas das cidades brasileiras exibem e que aumentam a cada ano. Nesse sentido, nenhum dos aspectos da vida em sociedade vem contribuindo efetivamente pela humanização do cidadão: nem a escola, nem o lar, a família. Para Santos (2020), o conhecimento e saberes são construídos e estimulados dentro de uma dinâmica social que possui poder de transformar e construir um diálogo dentro do aspecto humanizador, tão necessário a todos. A falta da educação humanística torna extremamente difícil romper o ciclo da violência, sem deixar de lado que o próprio processo educativo se prejudica, pois ambos aspectos estão intrinsecamente associados. Nesse sentido, Paulo Freire considera que tanto o espaço familiar quanto o pedagógico, são ideais para que seja consolidada a humanização, mas ressalta que tal prática precisa ser cotidiana, permanente e contínua (SANTOS, 2020). Apenas com a educação humanizadora em seu melhor desempenho é capaz de oferecer a verdadeira humanização, ou seja, uma educação que torna cada indivíduo resiliente, consciente, pois o mundo majoritariamente capitalista mostra-se cada dia mais egoísta e individualista. Pela visão de Freire, a educação efetivamente humanizadora é aquela capaz de vencer a ideologia de uma escola tradicional transmissora de conteúdo, o que ainda se vê como prática majoritária na educação nacional. Segundo Gôngora (1985 apud SANTOS, 2020, p.182), [...] esse tipo de pedagogia consistia em um caminho cultural em direção ao saber mecânico e superficial. Assim, não eram priorizadas as questões emocionais e humanísticas do sujeito, pontos-chave que a educação humanizada traz hoje e que servem de suporte para lutar e superar as dificuldades para uma aprendizagem muito mais significativa. (GÔNGORA, 1985 apud SANTOS, 2020, p.182) O que se observa da educação na escola tradicional brasileira não oferece o verdadeiro valor à aprendizagem, nem a torna ampla, significativa, capaz de priorizar a afetividade, os valores, os conceitos e princípios morais dos educandos e educadores. Assim, Freire (1982 apud Santos 2020, p.182) acrescenta que “[...] o maior desafio não é transmitir conteúdos escolares, é sobretudo o de se tornar um educador brilhante, que deixa um legado de mestre para o aluno, para a comunidade escolar, para a sociedade em geral e para si mesmo”. Para que a educação seja efetivamente humanizadora, ela precisa ser integral ao ser humano, proporcionando-lhe transformação em todas suas facetas, todos seus aspectos, o que permite a educação humanizadora contribuir para que o indivíduo deixe seu legado de vida e conforme Gadotti (1995): A educação se faz sobretudo com histórias de vida, de maneira que é imprescindível inserir no contexto escolar a ternura, a doçura, o carisma, a coerência, o compromisso, a seriedade e a afetividade. Palavras e expressões que precisam sair do papel e se converter em ações concretas dentro da prática docente, que irá se refletir positivamente dentro e fora da escola. (GADOTTI,1995 apud SANTOS 2020, p.182) Dentre seus destaques na educação, Paulo Freire também contribuiu enormemente para a educação humanizadora, com sua própria caminhada pela educação, o que lhe concede o título de um dos maiores educadores do século XX. E sobre os pensamentos e postulados de Freire podemos compreender que essa educação humanizadora não começa e nem termina no educando, mas começa no educador. SAIBA MAIS Recomendo a leitura do artigo sobre a Educação Humanizada que trata de como implementar essa inovadora (embora não seja recente) metodologia de ensino. Fonte: PAULA, Natáli de. Ensino humanizado: definições, benefícios e como implantar, 2020. Disponível em: https://rubeus.com.br/blog/ensino-humanizado/ Acesso em: 16 out. 2021. #SAIBAMAIS# Dessa forma, o educador precisa buscar que sua formação também seja humanizadora, ou seja, necessita ser um docente proativo, e que para Fagundes (2009 apud Santos 2020, p.182), “[...] a proatividade e a ética são dois elementos essenciais no quesito educação humanizadora, pois esses processos são perfeitamente capazes de transformar a realidade social”. Filosoficamente falando, a educação humanizadora é capaz de abrir as portas do coração e com isso permitir ao educador e educando a construção de uma sociedade elevadamente humanizada. Portanto, educar não mais é simplesmente um ato de se transmitir conteúdos didáticos, pois isso não inclui emoções e sensações. Sendo a educação conduzida como necessita, representa a chave para o progresso da sociedade como um todo, principalmente, um progresso ético, moral, social de cada indivíduo que a constitui. E, dessa forma, devemos compreender que muito do que se espera dessa nova educação, está nos ombros dos docentes que ainda resistem ao modelo, a necessidade de se humanizar o processo de ensino-aprendizagem. Assim, a educação dentro dessa perspectiva humanista resultará de um trabalho de muitos esforços, com criação e recriação de valores e significados; em outras palavras, é um trabalho de doação (SANTOS, 2020). Ainda, segundo Santos (2020), Paulo Freire considera o conhecimento como a capacidade de criar, de se inventar e reinventar; de se aprender. Concluindo, temos que a educação deve ser vista como complexa, para que todos seus atores compreendam que existem várias nuances e pormenores que devem ser endereçados para que seja efetiva, humanizadora e, principalmente: que não seja vista como a transmissão de conhecimento, e sim um profundo processo de mudança do indivíduo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a atuação de toda a vida profissional de Paulo Freire, podemos concluir que necessitamos que a educação seja verdadeiramente humanizadora, mas que infelizmente Paulo Freire partiu sem ver isso ser uma regra. Sem a educação humanizadora, a cada dia percebemos o declínio da sociedade e de como nosso progresso, enquanto seres humanos dependem desta perspectiva. É possível que existam outras formas de se elevar a qualidade social do ser humano sem a educação humanística, mas ainda não foi inventado, e como temos todos os postulados de Freire e outros autores, podemos nos fazer valer e aplicar essa metodologia. Assim, o que falta é uma sociedade que compreenda a vital importância que a escola tem na sociedade e de como deve ser transformada para valorizar as experiências, o indivíduo, seja educador ou educando. LEITURA COMPLEMENTAR A educação humanizadora depende cada vez mais de inovação, inclusão e criatividade. O artigo Gestão Escolar Inclusiva: Desafios E Possibilidades Para A Educação Humanizadora, escrito por Vivian Cristina Alves de Carvalho, Ane Patrícia de Mira, Guilherme Mendes e Tomaz dos Santos, apresenta os desafios de se construir uma escola com estes preceitos, pela perspectiva da gestão. CARVALHO, V. C. A de; MIRA, A. P. de; SANTOS, G. M. T dos. Gestão escolar inclusiva: desafios e possibilidades para a educação humanizadora. Educação em Debate, v. 40, n. 77, p. 91-108, 2018. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/39943/1/2018_art_vcacarvalhoapmira.pdf Acesso em: 16 out. 2021. LIVRO • Título: Educação Como Prática da Liberdade • Autor: Paulo Freire. • Editora: Paz e Terra. • Sinopse: Livro escrito em 1965 onde Freire trabalha a educação de adultos de maneira detalhada e minuciosa, com forte contextualização histórica. Link: disponível em: http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/otp/livros/educacao_pratica_lib erdade.pdf. FILME/VÍDEO • Título: Paulo Freire – Pedagogia libertadora • Ano: 2021 • Sinopse: O vídeo apresenta um breve contexto histórico de Paulo Freire tratando também sobre seus conceitos e metodologias aplicadas aos adultos, mas que foi importante para a busca pela erradicação do analfabetismo brasileiro. WEB • Portal Todos pela Educação é um portal web de uma organização civil independente, sem fins lucrativos, apartidária que tem por objetivo de provocar mudanças que permitam a evolução da educação. Neste site podemos encontrar artigos e iniciativas diversas. • Link do site: https://todospelaeducacao.org.br/. Acesso em: 07 dez. 2021. REFERÊNCIAS GUMIERO, Rosane; ARAÚJO, Kleber de. Contribuições de Paulo Freire e Célestin Freinet ao processo de ensino-aprendizagem. Acta Scientiarum Education, v. 41, p. 1-10, 2019. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciEduc/article/view/41255/pdf .Acesso em: 16 out. 2021. FREITAS, Bruno. Educação Humanizada: O saber e o fazer de cada um compartilhado por todos na arte de educar. Revista Ciências Humanas, v. 19, n. 2, p. 68-91, 2018. LIMA, Maria Socorro Lucena; BRAGA, Maria Margarete Sampaio de Carvalho. Relação ensino-aprendizagem da docência: traços da Pedagogia de Paulo Freire no Ensino Superior. Educar em Revista, n. 61, p. 71-88, 2016. LIRA, Joselma Dantas Braga de. et al. Concepções de Paulo Freire acerca das teorias da aprendizagem. Revista ESPACIOS, v. 40, n. 5, p. 1-10, 2019. Disponível em: http://asesoresvirtualesalala.revistaespacios.com/a19v40n05/19400511.html. Acesso em: 16 out. 2021. SANTOS, Bruno Freitas Santos. Educação como processo de humanização: educação freireana. 2020. Disponível em: https://www.cadernosuninter.com/index.php/intersaberes/article/view/1122. Acesso em: 13 ago. 2021. SAUL, Ana Maria; SAUL, Alexandre. Contribuições de Paulo Freire para a formação de educadores: fundamentos e práticas de um paradigma contra-hegemônico. Educar em revista, n. 61, p. 19-35, 2016. SCOCUGLIA, Afonso Celso. Origens e prospectiva do pensamento político-pedagógico de Paulo Freire. Educação e Pesquisa, v. 25, n. 2, p. 25-37, 1999. SILVA, Karina da; BARBOSA. Viviane Almeida. Paulo Freire: saberes da docência no ensino superior, uma reflexão na prática. Ensino de Ciências e Humanidades, v. 5, n. 2, p. 164-182, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/rech/article/download/6800/4790/. Acesso em: 12 ago. 2021. UNIDADE IV OS DESAFIOS DA DOCÊNCIA PARA DO USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS Professora Esp. Daislene Rodrighero de Carvalho Plano de Estudo: • Contexto histórico e político sobre a relação entre a educação e as tecnologias; • O papel e a formação docente para o uso das tecnologias; • Os desafios da docência no século XXI e as tecnologias digitais; • Tecnologias digitais e seus diferentes usos. Objetivos de Aprendizagem: • Conceituar e contextualizar a inserção das tecnologias na educação; • Compreender a importância na evolução da formação docente para o uso das tecnologias; • Estabelecer a importância do uso das diversas tecnologias digitais na superação dos desafios educacionais. INTRODUÇÃO A sociedade caminha, evolui e se modifica conforme vão surgindo suas novas tecnologias, dessa forma, o estudante de 20 anos atrás não é o mesmo que o estudante de hoje, indiferente de sua idade, pois a atualidade apresenta uma presença muito maior da tecnologia nos mais específicos detalhes da vida em sociedade. Assim, o professor também deve modificar-se conforme a sociedade ao seu redor modifica-se e, com isso, ser este educador tecnológico que o educando tanto necessita para ser liberto pelo conhecimento dentro da sociedade tecnológica. Esta unidade vai trabalhar a integração da tecnologia nas escolas, nos professores, nos processos pedagógicos, e como essa dinâmica é complexa, mas tem o poder de contribuir para a solução de grande parte dos desafios da educação. Bons estudos!1 CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A EDUCAÇÃO E AS TECNOLOGIAS Fonte: PIXABAY, [s.d]]. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/congresso-nacional- bras%c3%adlia-5991196/. Acesso em: 08 dez. 2021. Todo e qualquer aspecto da vida humana evolui junto com as tecnologias que são criadas. Relações sociais, empregos, profissões, alimentação, comportamento de consumo, política, pobreza, riqueza, tudo muda conforme mudam as tecnologias que movem o planeta, e a educação não pode ser diferente. Mas vale ressaltar que tecnologia não significa apenas computadores, máquinas, pois engloba tudo o que o homem é capaz de criar, utilizando diversos recursos naturais, o que faz com que, até mesmo, a linguagem, o pensamento, possam ser classificados como tecnologias, e que passem por evoluções. A humanidade vive sua era mais tecnológica, portanto, sua qualidade de vida e conquistas vem dependendo de como consegue transpor seus desafios, utilizando de suas novas tecnologias. Grande parte dos avanços dos últimos anos vem se concentrando no que chamamos de tecnologias digitais de comunicação e informação, o que antigamente tratávamos por microeletrônica. A educação vem fazendo um uso intenso das tecnologias de Informação e Comunicação, as TIC, e com isso está fazendo uma verdadeira revolução em suas metodologias, sempre reforçando que para o processo de ensino-aprendizagem, as TIC atuam de forma a promover a mediação do processo educacional pedagógico. Segundo Brito e Purificação (2011 apud ARAUJO et al., 2017, p. 924): A necessidade incentiva o impulso às criações tecnológicas, como o ábaco, instrumento utilizado por povos primitivos para auxiliar na contagem, considerado assim o primeiro computador. Na década de 40, em meio a segunda guerra mundial, os computadores modernos surgiram. Nos Estados Unidos, na década de 60, popularizou o microcomputador e este se tornou a principal ferramenta de trabalho. A popularização da internet na década de 1990 não surtiu grandes efeitos apenas socioeconômicos, também mexeu com a dinâmica escolar. Anos antes, a escola já percebia um movimento em direção à informática, mas tal movimento ia muito além do administrativo, sendo que partiram do governo grandes investimentos nesse sentido. Os saltos de desenvolvimento tecnológico dentro da educação foram sendo catalogados, classificados como ondas, em que a primeira foi relativa à programação, na segunda onda a educação apropriou-se da informática básica para, na terceira onda, oferecer o software educativo. A quarta onda trouxe a realidade da internet nas escolas e, com a quinta onda, nasce a aprendizagem colaborativa. A sexta onda é de definição complexa, pois ainda está em pleno desenvolvimento, mas Uma coisa é certa, o uso do computador e da internet na escola para fins educacionais é um passo importante. Para as autoras uma sociedade humana não pode sobreviver se a cultura não for transmitida de geração a geração e é a educação que garante esta transmissão. Para tanto, a escola precisa inserir ferramentas que lhe auxilie na formação mais reflexiva do ser humano na construção de um mundo melhor (ARAÚJO et al., 2017, p. 924). Como invariavelmente a educação é uma questão global para o país, vem do Poder Público as primeiras investidas na aplicação da informática, das TIC nas escolas, em que podemos citar o projeto UCA, Um Computador por Aluno, um projeto de 2005, mas que levou alguns anos para se tornar efetivo, pois tinha o “[...] objetivo de intensificar o uso da tecnologia da informação nas escolas. Após um longo processo de licitação em 2008 o governo efetuou a compra de 150 mil laptops que contemplou 300 escolas brasileiras (ARAÚJO et al., 2017, p. 924). REFLITA A aplicação de tecnologia nas escolas depende de um projeto sistêmico, que seja capaz de compreender todos os atores envolvidos e a eles dar condições de receber a inovação, de compreender sua importância. Fonte: Elaborado pela autora, 2021. #REFLITA# E, embora a iniciativa tivesse grande mérito, acabou mostrando-se um grande desperdício de dinheiro público, pois a grande maioria das escolas não tinha estrutura e muito menos havia capacitado seus professores para incorporar tais equipamentos nos processos de ensino-aprendizagem. Esta experiência demonstrou que as escolas estavam ávidas por tecnologia, mas que a falta de um projeto maior, onde a compra dos computadores fosse parte e não o todo, significou que apenas as empresas, vencedoras do leilão, acabaram por receber alguma vantagem. De acordo com Araujo et al. (2017), devemos ter a educação, não como um fim, e sim como um constante processo, e desta forma as TIC devem entrar neste processo para ampliá-lo, melhorar suas possibilidades, sua qualidade, o engajamento aluno- professor. Porém este contato, principalmente das crianças, com os computadores, deve ser sempre orientado, regrado, de forma que possa contribuir para o ensino- aprendizagem positivamente. A informática oferece à educação uma forma de se trabalhar mais intensamente com questões de raciocínio lógico e a criatividade, impactando na habilidade de pensar, inventar e resolver problemas (SILVA; CORREA, 2014). Porém, esse é um cenário em que não somente o aluno deve ser capacitado no uso do equipamento, nos novos processos de ensino-aprendizagem, mas o professor também, pois caberá sempre ao educador a tarefa de mediar esse aprendizado, tanto quanto os outros já existentes. Sobre a capacitação do professor, Demo (2008, p.134 apud ARAUJO et al., 2017, p. 923), ressalta que “Temos que cuidar do professor, pois todas as mudanças só entram bem na escola se entrarem pelo professor, ele é a figura fundamental”. Não há como substituir o professor. Ele é a tecnologia das tecnologias, e deve se portar como tal. O que se espera de toda evolução conduzida, criada pelo homem, é que encontre seus meios de se integrar na vida em sociedade, o que costuma ocorrer organicamente, embora com muitas influências externas, mas a tecnologia, quando aplicada à educação, não pode esperar que seja adotada ou que cumpra seus objetivos de forma orgânica, com influências indiretas. SAIBA MAIS A Escola nas ondas do Rádio! Devido às restrições sanitárias da Pandemia Covid-19 a educação passou a migrar para tecnologias como as utilizadas pela Educação a Distância, mas em muitas regiões são poucos os que têm equipamentos, seja computadores ou smartphones para aderir a esta modalidade, o que faz com que a educação se volte a tecnologias ainda bastante democráticas como o rádio. Ouça esta entrevista sobre o tema feita pelo jornalista Adriano Faria. Fonte: FARIA, Adriano. Entrevista: uso do rádio para educação durante a pandemia. Rádio Senado, 2020. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/radio/1/conexao-senado/2020/08/04/entrevista-uso- do-radio-para-educacao-durante-pandemia. Acesso em: 14 out. 2021. #SAIBA MAIS# Portanto, as práticas pedagógicas precisam buscar e se apropriar das diferentes tecnologias, desde que exista um processo, um estudo que seja capaz de integrar todos os atores no uso das tecnologias, ou vai acabar promovendo apenas a troca de um equipamento tido obsoleto, por algo novo, “[...] mas sim tornar a tecnologia um recurso eficaz, dentro do ambiente escolar. Para isso uma mudança na postura docente se torna essencial pois a escolha de recursos passa pelo professor e a possibilidade de torná-lo significativo também (ARAÚJO et al., 2017, p. 924). 2 O PAPEL E A FORMAÇÃO DOCENTE PARA O USO DAS TECNOLOGIAS Fonte: PIXABAY, [s.d]. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/sala-de-aula-escola-china- %c3%a1sia-467730/. Acesso em: 08 dez. 2021. Longe do projeto UCA de 1990, no ano de 2021 a tecnologia dos computadores está madura o suficiente para ser menoscustosa, com relação a sua aquisição e utilização, afinal, já se passaram gerações de novos produtos, e as crianças e adolescentes de hoje nasceram com tais tecnologias. Porém, ainda existe uma grande lacuna na aplicação das TIC nas escolas públicas brasileiras. De acordo com censo escolar realizado em 2017 pelo Ministério da Educação, mais da metade das escolas ainda não possuem equipamentos suficiente para projetos escolares digitais: Conforme o censo, a presença de recursos tecnológicos como laboratórios de informática e acesso à internet ainda não é realidade para muitas escolas brasileiras. Apenas 46,8% das escolas de ensino fundamental dispõem de laboratório de informática; 65,6% das escolas têm acesso à internet; em 53,5% das escolas a internet é por banda larga. Além disso, a inclusão dessas tecnologias pela escola e pelo professor enfrenta alguns desafios, pois o modelo escolar brasileiro pode ser descrito como calcado num ensino propedêutico centrado na figura do professor como detentor de um conhecimento (NUNES; KLINSKI 2019, p. 02). A integração das TIC nas escolas depende de profundas modificações no modelo de ensino aplicado, pois o professor precisa ser muito mais do que um transmissor de conhecimento, para um facilitador, um mediador da construção do conhecimento. A didática traz a essa interação TIC - escola um desafio, quase um paradoxo, pois são processos dependentes, um do outro, e ao mesmo tempo é preciso construir um para que seja construído o outro. Essa questão da construção significa que é preciso revisitar as teorias educacionais de forma que se integrem adequadamente à tecnologia, que sejam enaltecidas durante o processo de mudança para o digital (PÚBLIO JÚNIOR, 2018). Nesse sentido, a formação docente torna-se ainda mais desafiadora, pois necessita antever todas as mudanças que a metodologia fará, “[...] como pode ser feita a partir da utilização dessas novas tecnologias, para evitarmos o dualismo entre uma sociedade fundada em informação e conhecimento como mercadoria, versus uma formação crítica para a construção da autonomia.” (NUNES; KLINSKI, 2019, p. 02). Nesse sentido, a escola fará uma completa avaliação do cenário que deseja oferecer, da formação que deseja aprimorar para o educando, quais competências deseja fomentar, quais conceitos, quais conteúdos necessita transmitir em vias digitais, de forma que o currículo escolar seja aprimorado, que o ensino tenha sua qualidade ampliada. O trabalho de se levar tecnologia à educação, principalmente, na forma do uso das TIC faz com que os educadores se empenhem, sempre, na busca de aperfeiçoamento docente, de forma a compreender como potencializar o uso de determinada tecnologia em sua sala de aula. Claro que o efeito desse aprimoramento de formação docente não age apenas na esfera individual de cada professor, e sim no coletivo, uma vez que muitas das capacitações são oferecidas pela própria escola a toda sua comunidade docente. O processo de ensino-aprendizagem, quando aplicadas as TIC, exalta qualquer problema ou deficiência que eventualmente possua, principalmente no que diz respeito à democratização do conhecimento, o que pode ser observado nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) (BRASIL, 1998), quando apresentam que o acesso ou indisponibilidade do acesso à informação constitui fator discriminador. O estudante deve ser conduzido a uma educação tecnológica, científica e com isso sua escola deve se aproximar do seu mundo real, que é altamente tecnológico, voltado aos aparelhos digitais, as mídias digitais. Diante disso, a docência precisa ser colocada em uma perspectiva que possibilite os docentes serem treinados a usufruir melhor desse mundo digital que vivemos. Assim, os PCNs devem ser a base de informação utilizada para que sejam determinados os elementos tecnológicos que assistiram os componentes pedagógicos, de forma a construir um melhor caminho tanto na formação docente quanto na aplicação dessa metodologia. Tal perspectiva é recente e de acordo com Nunes e Klinski (2019): Algumas pesquisas têm sido realizadas tendo como finalidade acompanhar e analisar o impacto da chegada da tecnologia nas escolas e se tem observado que as pessoas disseminam mais o uso de computadores e outras tecnologias. Neste cenário, foram analisados alguns artigos que tem[sic]pesquisas relacionadas com esse campo do saber. (NUNES; KLINSKI, 2019, p. 03) A evolução da internet, em termos de serviços e conteúdo que oferece, tem feito com que seu uso em ambiente pedagógico seja cada vez mais frequente e necessário. Dessa forma, a internet passa a ser vista como aliada do professor, embora, ainda dependa da forma com que a metodologia utilizada fará uso do recurso. O uso da internet como complemento à sala de aula é inevitável e, dessa forma, deve ser feita sua capacitação para que o educador seja capaz de adequadamente incorporar esse elemento, mas é notório que vai muito além de se treinar professores, o próprio modelo pedagógico deve ser modificado de forma que aceite bem a velocidade com que as tecnologias mudam a vida em sociedade. SAIBA MAIS Seja qual for o uso, a internet é uma poderosa ferramenta: capaz de oferecer o melhor em diversão, negócios, pesquisa científica e uma poderosa ferramenta pedagógica. Para saber mais sobre como a internet pode ser destaque no ensino, leia o artigo a seguir: Fonte: PORTELA, Priscila; NÓBILE, Márcia. O uso da internet por estudantes de Ensino Fundamental: reflexão sobre a internet como ferramenta pedagógica. Educação Pública, 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/33/o-uso-da-internet-por-estudantes-de-ensino- fundamental-reflexao-sobre-a-internet-como-ferramenta-pedagogica. Acesso em: 14 out. 2021. #SAIBA MAIS# O facilitador é que grande parte dos professores desejam que suas formações curriculares tenham grande teor tecnológico, eles desejam estar conectados e querem que sua sala de aula seja também conectada, pois sabem que seus alunos são conectados. REFLITA O professor precisa compreender o uso pedagógico de todas as tecnologias que o cerca e que cercam seus estudantes, dessa forma entenderá a relevância de trazer tais tecnologias para a sala de aula. Fonte: Elaborado pela autora (2021). #REFLITA# Essa latente necessidade não é algo novo, embora esteja sendo melhor tratada agora, o que se comprova pelo fato do tema estar sendo mais frequentemente debatido “[...] entre pesquisadores da área da educação, devido a sua importância e complexidade de questões, esse estudo está relacionado aos desafios, as dificuldades e complexidades que envolvem o uso das tecnologias na formação dos docentes”. (NUNES; KLINSKI, 2019, p. 04) Sob a perspectiva de Paulo Freire e a ideia de que a escola deve, com sua prática pedagógica, promover a libertação, humanização, emancipação do educando, as novas tecnologias são mais do que bem-vindas a esse cenário. Assim, os objetivos de Freire podem ser conquistados, inclusive os relativos à formação docente. O que se percebe é que o uso das TIC nas escolas deriva tanto do modelo pedagógico adotado, da formação docente orientada a tais objetos, e da vontade do professor em integrar as ferramentas na realidade de seus alunos. A grande realidade da revolução da educação pela tecnologia é que se trata de um aprendizado global, tanto em termos do desenvolvimento de novas metodologias, quanto da busca dos professores pela capacitação. O aprendizado também está no sentido humanístico do processo de ensino- aprendizagem, pois o aspecto humano precisa se integrar ao tecnológico, assim como ao aspecto social, grupal. 3 OS DESAFIOS DA DOCÊNCIA NO SÉCULO XXI E AS TECNOLOGIAS DIGITAIS Fonte: PIXABAY, [s.d]. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/sala-de-aula-tecnologia-1541042/.Acesso em: 07 dez. 2021. De forma direta, podemos conceber que o maior desafio do docente, do educador moderno está em ser relevante aos seus educandos. E ser relevante significa que não somente sabe utilizar a internet, as diversas tecnologias portadas ao ambiente pedagógico, mas o faz nos termos de seus estudantes, em seu universo. A sociedade moderna em que vivemos é conectada, ou seja, diversas tecnologias e a internet fazem parte integral da vida da esmagadora maioria das pessoas, o que nos diz que em algum grau essa influência tecnológica chega, ou, ao menos, deveria chegar nas escolas. Mas existem complicações de se ter tamanha conectividade em que podemos exemplificar a velocidade com que a informação se transmite, conforme afirma Martino (2014): A circulação de informações encontra nas redes o melhor tipo de arquitetura. A velocidade da circulação de informações significa também que novidades estão presentes o tempo todo, gerando como padrão uma instabilidade constante. Qualquer informação pode ser alterada, completada ou cancelada por uma nova, muitas vezes sem deixar indícios dos caminhos seguidos. Um dos desafios que a sociedade e as instituições de ensino encontram neste momento é a falta de conhecimento e treinamento em mídias digitais de toda comunidade acadêmica. Esse pode ser um dos fatores que têm contribuído para a não utilização adequada das novas tecnologias disponíveis nas atividades de ensino e aprendizagem. (MARTINO, 2014 apud BITTENCOURT; ALBINO, 2017, p. 206). O desafio da docência em acompanhar a evolução tecnológica está na busca por se integrar à realidade de cada educando, de forma que o aprendizado seja melhorado pelo uso das TIC e ao mesmo tempo tenha relevância, cative esse aluno. Atualmente as mais diversas escolas, instituições de ensino, estão pesquisando o uso de mídias variadas, dessa forma, buscando se adaptar às novas tecnologias. Mas, ainda são muitos os que questionam a validade dessa busca, respaldando- se em metodologias clássicas em que existe apenas a transmissão do conhecimento, o que deixa de lado a realidade e as especificidades dos alunos, de seu meio e, com isso, não é mais capaz de entregar uma educação plena. De acordo com Barros (2019), para ser possível melhorar o processo de aprendizagem e também a familiaridade dos alunos com novas tecnologias é necessário o desenvolvimento de competências alinhadas com essas novas tecnologias e comunicações. Se o mundo é conectado, digital, então, existem diversas novas competências e habilidades que há 20 anos não eram nem sequer cogitadas, mas que hoje são tratadas como básicas (PRATA-LINHARES; ARRUDA, 2017). Hoje a tecnologia é incorporada na sociedade em tal nível, que é considerada uma competência básica. O educador pode fomentar as habilidades tecnológicas de seus educandos através do uso de softwares educacionais que oferecem desde cenários, estudos de caso, simulações e soluções de problemas diversos, e conforme Bariani (2011 apud BITTENCOURT e ALBINO 2017, p. 207), ainda podemos perceber grande disparidade “[...] entre o papel interativo do indivíduo desempenhado fora das salas de aula em meio aos ambientes virtuais (os adolescentes “nativos digitais”) e entre o posicionamento usualmente passivo ao qual o estudante é condicionado (na sala de aula)”. REFLITA A realidade de vida de muitos brasileiros ainda os afasta das novas tecnologias. Assim, cabe à escola apresentar esse mundo ao estudante e, com isso, permitir-lhe um total potencial de futuro. Fonte: Elaborado pela autora (2021). #REFLITA # A educação modernizada e modificada pelas TIC é capaz de se converter, de desenvolver novos processos de aprendizagem, de reunir diversas tecnologias, pois o educando está diferente, ele está conectado, uma vez que as metodologias mais aplicadas, as clássicas, foram construídas em uma época em que as TIC estavam em gerações anteriores, rudimentares. Assim, pelas palavras de Bittencourt e Albino (2017, p. 208) a educação carece de coesão, ou seja, “ter em conta a diversidade dos indivíduos e dos grupos humanos, evitando tornar-se um fator de exclusão social, pois o respeito pela diversidade e pela especificidade dos indivíduos constitui, de fato, um princípio fundamental”. Para que a estrutura digital dentro das escolas seja realmente efetiva, é preciso que o Governo e suas políticas promovam o acesso facilitado à internet, aos equipamentos como computadores e laptops. Somente dessa forma, a tecnologia e seus avanços surtem efeitos positivos socialmente. De acordo com Lutz (2014): [...] as novas tecnologias, em especial na área da informática, estão cada vez mais presentes no cotidiano dos alunos, sendo que aqueles que não se adaptarem a essa realidade, correm o risco de serem considerados analfabetos tecnológicos. Portanto, para evitar tal situação, as escolas, com a responsabilidade de preparar e desenvolver o aluno para atuar como cidadão crítico e ativo na sociedade, começam a observar a necessidade de seguir o ritmo do desenvolvimento tecnológico. (LUTZ, 2014 apud BITTENCOURT; ALBINO 2017, p. 209) De forma ampla e generalista as diversas tecnologias modificam costumes, comportamentos, o modo com que as pessoas socializam, interpretam sua realidade, e essa amplitude pode se mostrar desafiadora quando se necessita adaptar os modelos educacionais a essa nova realidade, nova necessidade. Dessa forma, o educando está mudando e se tornando um ávido consumidor de tecnologias, o que não é diferente dentro do ambiente acadêmico. SAIBA MAIS Robótica A evolução da tecnologia apresentou há alguns anos à humanidade a robótica, aplicada em conjunto com a inteligência artificial, e essa revolução está agora também dentro das escolas com cursos de lógica e robótica básica para crianças de todas as idades. Para saber mais sobre isso, recomendo a leitura do artigo a seguir. Fonte: ROBÓTICA educacional: o que é, como funciona e importância. Fundação Instituto de Administração, 2021. Disponível em: https://fia.com.br/blog/robotica-educacional/. Acesso em: 14 out. 2021. #SAIBA MAIS# A existência de diversas tecnologias não pode ser vista pela instituição de ensino como um problema e, sim, como a oportunidade de se apresentar, transmitir o conhecimento de maneiras mais envolventes, condizentes com a realidade do aluno, o que podemos complementar com os dizeres de Bitencourt e Albino (2017, p. 209), ao afirmar que “Há algum tempo as mídias digitais estão disponíveis para a utilização em vários locais, como: empresas, supermercados, em casa, em terminais de agência bancária, para compra de ingressos de shows, teatros e cinema e tantos outros”. Porém, a realidade é que o ambiente acadêmico ainda faz pouco uso do potencial que as TIC têm a oferecer a qualquer modelo educacional que pretenda ser moderno. As tecnologias estão transformando a sociedade, o que significa que as instituições estão buscando aplicar modelos educacionais construídos para uma sociedade que não existe mais. 4 TECNOLOGIAS DIGITAIS E SEUS DIFERENTES USOS Fonte: PIXABAY, [s.d]. Disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/ipad-escola-filho-kahoot-3765920/. Acesso em: 08 dez. 2021. Quando a tecnologia é bem desenvolvida, embora inicialmente seja destinada a uma aplicação específica, seu design permite que sejam criadas derivações com aplicações diferentes. Essa adaptabilidade das tecnologias é algo que a educação vem se fazendo valer há anos, o que se comprova pela evolução da Educação a Distância, que deixou de utilizar os correios como canal de envio de conhecimento, para dentro da internet utilizar as mais diversas tecnologias possíveis. Dessa forma, dentro dessa sociedade da informação acelerada, a escola observaseu meio e tenta integrar toda e qualquer tecnologia relevante aos alunos e passível de ser convertida dentro do processo de ensino e aprendizagem. Vale ressaltar que não é apenas a escola que busca ou que deve buscar se adaptar às novas tecnologias, “Nesta nova fase o professor também terá que se adaptar, compreendendo que o uso do computador não é mais apenas um luxo ou algo que ele não goste.” (BADALOTTI, 2017, p. 18). O impacto da tecnologia não é superficial na educação, uma vez que ao apresentar sua capacidade de mudar a sociedade, as tecnologias passam a ser exigidas em empregos, em relações sociais, o que implica na necessidade da escola fornecer um currículo que forme adequadamente este novo cidadão, que o torne um ser consciente do mundo ao seu redor, mas conectado, tecnológico. O primeiro ponto do currículo escolar que as tecnologias tendem a modificar é na interdisciplinaridade, pois ao incorporar diversos temas em suas apresentações mais modernas, é fato que se entrará no domínio de alguma nova tecnologia. Desta forma, as escolas precisam estar constantemente repensando seu processo de ensino- aprendizagem, pois: Ela não poderá mais ser uma instituição que apenas detém o conhecimento e o transmite. A nova escola terá que incentivar e trabalhar a capacidade de análise, resolução de problemas, ao aprende-a-aprender e, principalmente, adaptar-se às novas formas de trabalhar com os alunos, ou seja, trabalhar em equipes. Não poderá mais pensar em uma escola apenas que visa à memorização. (BADALOTTI, 2017, p.18). A escola passa a ser uma consumidora de tecnologia e deve trabalhar para que seu educando faça bom uso dos recursos e que tais recursos coloquem estes alunos em contato com o mundo, uma das maiores vantagens da internet. Assim, os alunos de escolas que investem em metodologias tecnológicas têm maior possibilidade de compartilhar suas experiências, sua cultura com outros alunos e suas outras culturas, experiências. REFLITA Se determinada tecnologia faz parte do dia a dia do aluno, deve fazer parte de sua experiência pedagógica! Fonte: Elaborado pela autora (2021). #REFLITA # Quando se trata de tecnologia o que o consenso apresenta por conceito, exemplo, são máquinas, equipamentos, mas softwares também são tecnologias e vem passando por grandes revoluções e evoluções nos últimos anos, o que inclui os Softwares Educacionais (SILVA; LEITE FILHO, 2020). Os softwares educacionais fazem com que a aplicação da informática nas escolas seja muito mais proveitosa, focada, pois apresentam inúmeras atividades, estimulam a criatividade das crianças, oferecem acesso a desenhos, histórias e, com o uso da internet, permitem estender ainda mais a sala de aula, colocando o aluno em contato com um mundo muito maior que sua comunidade. Mas com relação ao professor, os softwares educacionais necessitam de integração na metodologia da escola assim como estarem dentro das habilidades, do conhecimento do professor que vai usar tal recurso (MAZIERO; ANDRADE; RUBIO, 2020). Badalotti (2017) também defende que o bom uso dos softwares educacionais depende da capacidade de percepção do professor em utilizar e relacionar a tecnologia a sua proposta educacional. Por meio dos softwares podemos ensinar a aprender, simular, estimular a curiosidade ou, simplesmente, produzir trabalhos com qualidade. A respeito das características e aplicabilidades, os softwares podem ser classificados em grandes grupos: ● Tutoriais: são os softwares que apresentam conceitos e instruções para realizar algumas tarefas em específico; geralmente possuem baixa interatividade. Os conceitos se limitam ao enfoque da equipe de desenvolvimento, o que, muitas vezes, não coincide com a necessidade e abordagem da orientação do professor. ● Exercitação: são os que possibilitam atividades interativas por meio de respostas às questões apresentadas. Com esses softwares, os professores podem inicialmente apresentar conceitos dos seus conteúdos disciplinares, na sala de aula sem tecnologia e, por fim, efetuar exercitações sobre tais conceitos no computador. ● Investigação: neste grupo encontramos as enciclopédias. Por meio desses programas podemos localizar várias informações a respeito de assuntos diversos. ● Simulação: nada melhor do que podermos visualizar digitalmente grandes fenômenos da natureza, ou fazer diferentes tipos de experimentos em situações bastante adversas. ● Jogos: são os softwares de entretenimento, indicados para atividades de lazer e diversão. Com certeza, os jogos apresentam grande interatividade e recursos de programação muito sofisticados. ● Abertos: são os de livres produções. O que será elaborado dependerá muito da criatividade do usuário. Oferecem várias ferramentas, as quais podem ser relacionadas conforme o objetivo a ser atingido. Dentre eles podemos citar: os editores de textos, os bancos de dados, as planilhas eletrônicas, os programas gráficos, softwares de autoria, softwares de apresentação e de programação (TAJRA, 2000, p. 61 apud BADALOTTI, 2017, p.19). A Internet tem promovido diversos avanços nas metodologias da educação, se mostrando ao mesmo tempo um componente pedagógico poderoso, com severo e positivo impacto na pesquisa, e também um elemento que deve ser utilizado com grande cautela, para que seja efetivo no ensino-aprendizagem. SAIBA MAIS A aplicação de tecnologia na educação vem se intensificando nos últimos anos, o que atraiu um olhar mais atento das grandes empresas de tecnologia como a Microsoft e a Google. A Google apoia a educação digital com sua plataforma educacional ao Google Classroom que você pode conhecer em detalhes pela indicação seguir: Fonte: SAIBA o que é Google Classroom. Grupo Escolar, s. d. Disponível em: https://www.grupoescolar.com/pesquisa/saiba-o-que-e-o-google-classroom.html. Acesso em: 16 out. 2021. #SAIBA MAIS# Mas vale ressaltar que o professor precisa integrar-se com a ferramenta, ter boa habilidade de uso para que seja capaz de potencializar os efeitos e alcançar os objetivos pedagógicos, mesmo sendo um componente curricular que está deixando de ser um acessório e passando a ser padrão no ensino. O fato é que, de acordo com Badalotti (2017): Escolas conectadas à internet conseguem atingir novos horizontes. Essas escolas têm a oportunidade de acessar grandes bibliotecas pelo mundo, antes apenas acessadas fisicamente. Os alunos, através desta conexão com a internet, podem estar ligados ao contexto atual, podendo se transformar em pessoas ativas e críticas na sociedade. (BADALOTTI, 2017, p. 21) A escola deve tomar diversos cuidados quando integra em suas metodologias tecnologias variadas. A internet, por exemplo, exige um perfil diferente do professor clássico, aquele focado apenas na transmissão de conteúdo. Dessa forma, se a escola dominar a aplicação de recursos tecnológicos como a internet, terá uma metodologia de ensino poderosa, engajadora, libertadora. A internet, quando bem utilizada, dá ao educador e educando, uma poderosa ferramenta que pode aprimorar a comunicação e expressão do aluno, ampliando sua visão de mundo, inclusive com a integração às redes sociais, onde o estudante pode dialogar e trocar experiências com outros estudantes seja qual for à distância entre eles. CONSIDERAÇÕES FINAIS A sociedade atual está praticamente submersa em tecnologia, o que deveria representar uma enorme facilidade da incorporação de grande parte dessas tecnologias no desenvolvimento de novas metodologias de ensino, mas existe uma grande barreira a ser vencida: a formação docente, a incorporação da tecnologia na capacitação do professor. Podemos atribuir essa dificuldade ao fato de que a formação da maioria dos docentes vêm de escolas tradicionais, clássicas, onde o alunonão era, nem de longe, um protagonista de seu aprendizado, e onde uma educação inclusiva, esclarecedora, libertadora, estava mais nos conceitos e livros do que na prática pedagógica. A maioria dos professores são ávidos consumidores de tecnologias, das mesmas tecnologias que apresentam resistência em aplicar na sala de aula, como o uso da internet e das redes sociais, portanto a educação poderá se renovar assim que vencer essa barreira, aplicando novas formas de capacitar seus educadores, engajar esses professores nas inovações tecnológicas. LEITURA COMPLEMENTAR A pandemia apresentou uma nova realidade de vida às pessoas, o que impactou severamente muitos aspectos da vida em sociedade e repercutiu na educação, incentivando o uso das tecnologias como a internet na transmissão do conhecimento, na interação entre professor e aluno. Faço a sugestão de leitura do artigo “Tecnologia E Educação: Limites E Possibilidades Para A Aprendizagem No Ensino Remoto” escrito por Flávia Grecco Resende. RESENDE, Flávia Grecco. Tecnologia E Educação: Limites E Possibilidades Para A Aprendizagem No Ensino Remoto. Estudos e Negócios Academics, n. 2, p. 68-74, 2021. Disponível em: http://portalderevistas.esags.edu.br:8181/index.php/revista/article/view/50/43. Acesso em: 16 out. 2021. LIVRO • Título: Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação • Autor: BACICH, Lilian (Org). • Editora: Penso. • Sinopse: “Ensino híbrido: personalização e tecnologia da educação é um livro feito por professores para professores. Resultado das reflexões dos participantes do Grupo de Experimentações em Ensino Híbrido desenvolvido pelo Instituto Península e pela Fundação Lemann, este livro apresentar aos educadores possibilidades de integração das tecnologias digitais ao currículo escolar, de forma a alcançar uma série de benefícios no dia a dia da sala de aula, como maior engajamento dos alunos no aprendizado e melhor aproveitamento do tempo do professor para momentos de personalização do ensino por meio de intervenções efetivas.” FILME/VÍDEO • Título: O poder da tecnologia na educação: João Gabriel Alkmim at TEDxLacador • Ano: 2014 • Sinopse: Neste vídeo para o TED, o prof. João Gabriel Alkmim trata do poder da tecnologia na Educação. • Link: https://www.youtube.com/watch?v=b5TdZ_ox99A. Acesso em: 13 de Setembro de 2021. WEB • A PORVIR é uma plataforma focada em inovação educacional, e através do link a seguir trabalha forte no tema da tecnologia para a educação, uma leitura rica e completa sobre o tema. • Link do site: https://tecnologia.porvir.org/aplicacao-na-pratica/. Acesso em: 13 set. 2021 REFERÊNCIAS ARAUJO, Sérgio Paulino de; VIEIRA, Vanessa Dantas; KLEM, Suelen Cristina dos Santos; KRESCIGLOVA, Silvana Binde. Tecnologia na educação: contexto histórico, papel e diversidade. III Seminário de Pesquisa do CEMAD, fev. 2017. Disponível em: http://www.uel.br/eventos/jornadadidatica/pages/arquivos/IV%20Jornada%20de%20Did atica%20Docencia%20na%20Contemporaneidade%20e%20III%20Seminario%20de%2 0Pesquisa%20do%20CEMAD/TECNOLOGIA%20NA%20EDUCACAO%20CONTEXTO %20HISTORICO%20PAPEL%20E%20DIVERSIDADE.pdf. Acesso em: 21 ago. 2021. BADALOTTI, Greisse Moser. Educação e tecnologias. Indaial: UNIASSELVI, 2017. BARROS, Renata. Tecnologias e Educação: possibilidades de produção de conhecimento. 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Destacamos também sobre o papel social do professor, sua identidade, os saberes da docência e a práxis pedagógicas, pontuamos, assim, o que é preciso saber para lecionar uma disciplina; e, podemos destacar, sobre o saber pedagógico, que também podemos chamar de conhecimento prático, que são aqueles conhecimentos sobre metodologias, técnicas e ferramentas que utilizamos em sala de aula, é saber articular tudo isso as outras variáveis que incidem sobre a aprendizagem: a interação, a experiência e uma boa relação professor/aluno. Aprendemos sobre a reflexão de como política, história e educação andam lado a lado, uma não existe sem a outra. Voltamos no tempo para aprender onde surgiram os primeiros professores no mundo e no Brasil, quais foram seus caminhos traçados pela educação em nosso país desde o tempo dos Jesuítas, vimos ainda sobre os três grandes períodos da evolução da formação de professores. Também compreendemos a importância do docente para o desenvolvimento da educação, passamos pelos períodos de formação no magistério, a escola nova com o Manifesto do Pioneiros e a concepção pedagógica produtivista, ressaltamos sobre alguns artigos da LEI LDB 9394/96 e nos baseamos nela para compreender sobre os processos de ensino. Além disso, refletimos sobre as contribuições de Paulo Freire, podemos concluir que necessitamos que a educação seja verdadeiramente humanizadora, mas que, infelizmente, Paulo Freire partiu sem ver isso ser uma regra e não como algumas exceções. Sem a educação humanizadora, a cada dia percebemos o declínio da sociedade e de como nosso progresso, como seres humanos, depende dessa perspectiva. E, por fim, aprendemos que a maioria dos professores são ávidos consumidores de tecnologias, das mesmas tecnologias que apresentam resistência em aplicar na sala de aula,como o uso da internet e das redes sociais. Portanto, a educação poderá se renovar assim que vencer essa barreira, aplicando novas formas de capacitar seus educadores, engajando esses professores nas inovações tecnológicas. A partir de agora, acreditamos que você já está preparado para seguir em frente, aplicando os conhecimentos adquiridos ao longo desta disciplina em sua futura jornada docente. Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigada!