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BIOFÍSICA E FISIOLOGIA Mariluce Ferreira Romão Visão geral da função renal Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Citar as principais estruturas do sistema renal. � Descrever suas principais funções. � Definir os processos renais básicos: filtração glomerular, reabsorção tubular e secreção tubular. Introdução O sistema urinário é constituído por dois rins, dois ureteres, uma bexiga urinária e uma uretra — que tem três segmentos no sexo masculino e um segmento no sexo feminino. Depois de filtrar o plasma do sangue, os rins permitem a reabsorção tanto de água quanto de solutos para a corrente sanguínea. O que resta dessa reabsorção forma a urina, que passa pelo ureter até chegar à bexiga urinária, sendo eliminada por meio da uretra. A nefrologia é o estudo científico dos aspectos morfológicos e patoló- gicos dos rins. A especialidade médica que cuida do aparelho urogenital masculino é conhecida como urologia. O médico especialista nessa área é chamado de urologista. Neste capítulo, você vai estudar as principais estruturas do sistema renal e os processos renais básicos: filtração glomerular, reabsorção tubular e secreção tubular. Estruturas do sistema renal A urina é produzida nos rins. Os rins estão localizados ao nível da décima primeira e da décima segunda costelas, laterais em relação à coluna vertebral e retroperitoneais, ou seja, atrás do peritônio. A margem côncava é observada medialmente e a neurovascularização e o ureter transitam nessa região, co- nhecida como hilo renal. Os rins recebem irrigação das artérias renais, que são ramos diretos da aorta abdominal; as veias renais são tributárias da veia cava inferior. Os rins recebem, em média, de 20 a 25% do débito cardíaco (sangue bombeado para o coração, por minuto), pesam em torno de 0,4% do peso total do corpo, ou 120–170 gramas, cada um (SILVERTHORN, 2017). A Figura 1 apresenta a estrutura do sistema urinário (a) e a relação dos rins com o peritônio (b). Figura 1. (a) Estruturas do sistema urinário. (b) Relação dos rins com o peritônio. Fonte: Silverthorn (2017, p. 592). A unidade funcional dos rins é o néfron. Uma unidade funcional é iden- tificada como a menor constituição estrutural que exerce todas as funções de determinado órgão. Em secção transversa nos rins é possível identificar o córtex externo e a medula interna. Em torno de 80% dos néfrons de cada rim têm localização quase completa na região cortical, chamados de néfrons corticais, enquanto os 20% restantes são conhecidos como néfrons justamedulares, porque penetram na medula internamente. Cada néfron é fragmentado e, em cada compartimento, é observada uma relação direta com vasos sanguíneos especializados (SILVERTHORN, 2017). As artérias renais se ramificam até o nível das arteríolas no córtex, formando um sistema porta — duas redes de capilares em série, organizadas uma após a outra. No sistema porta dos rins, o sangue passa das artérias renais para uma arteríola, conhecida como aferente. A partir da arteríolas aferentes, o sangue Visão geral da função renal2 flui diretamente para o glomérulo, que representa a primeira rede de capilares enovelada. Dos glomérulos, o sangue vai para uma arteríola chamada de efe- rente, e, a partir dela, passa para a segunda rede de capilares, denominada de capilares peritubulares, que, por sua vez, envolvem o túbulo renal. Os vasos que penetram nos capilares peritubulares são identificados como vasos retos. Por último, os capilares peritubulares confluem nas vênulas e veias menores, emitindo o sangue para fora dos rins, pelas veias renais (SILVERTHORN, 2017). Veja, na Figura 2, detalhes da estrutura interna do rim. Figura 2. (a) Anatomia interna do rim. (b) e (c) Vascularização renal. Fonte: Silverthorn (2017, p. 592). (a) (b) (c) A prioridade funcional do sistema porta renal é filtrar o sangue nos capi- lares glomerulares e reabsorver o fluido de volta para o sangue nos capilares peritubulares. As forças que impulsionam os fluidos no sistema porta renal são similares às forças que regem o filtrado de água e moléculas para a re- gião externa dos capilares sistêmicos, considerando outros tecidos corporais (SILVERTHORN, 2017). O túbulo renal é constituído por uma única camada de células epiteliais interconectadas, localizadas nas proximidades da sua superfície apical. As superfícies apicais possuem dobras, chamadas de microvilosidades, en- 3Visão geral da função renal quanto a superfície basal epitelial polarizada fica disposta sobre uma lâmina ou membrana basal. As células são dispostas de forma bem “íntima”, entretanto, com certa permeabilidade iônica (SILVERTHORN, 2017). O néfron começa em uma estrutura sem preenchimento, com forma de globo, denominada cápsula de Bowman, que é o envoltório do glomérulo. O revestimento interno do glomérulo é aderido ao epitélio da cápsula de Bowman, de maneira que o líquido filtrado dos capilares consegue passar de forma direta para a região interna do túbulo. Juntos, o glomérulo e a cápsula de Bowman são conhecidos como corpúsculo renal. Da cápsula de Bowman, o fluido filtrado vai para o túbulo proximal e para um segmento em forma de grampo que vai até a medula e depois volta para a região cortical — a alça de Henle. A alça de Henle se divide em um ramo descendente fino e um ramo ascendente segmentar grosso. O filtrado vai até os túbulos distais, que, por sua vez, drenam para o ducto coletor. Um túbulo distal com seu respetivo coletor constituem o néfron distal. Os ductos coletores transitam pelo córtex e chegam até a medula, drenando para a pelve renal. A urina passa pelo ureter para ser excretada (SILVERTHORN, 2017). Visualize detalhes dessas estruturas na Figura 3. Figura 3. Anatomia do néfron associada à irrigação sanguínea. Fonte: Silverthorn (2017, p. 593). (a) (b) (c) Visão geral da função renal4 O néfron é contorcido e se dobra, posteriormente, sobre si próprio, proje- tando a parte distal do ramo ascendente da alça de Henle entre as arteríolas aferente e eferente. Nesse local, identifica-se o aparelho justaglomerular. A relação próxima entre o ramo ascendente e as arteríolas favorece a conexão parácrina entre essas duas estruturas, que representa aspecto essencial para a autorregulação dos rins (SILVERTHORN, 2017). Veja mais detalhes na Figura 4. Figura 4. Anatomia do néfron associada à irrigação sanguínea. Fonte: Silverthorn (2017, p. 593). (a) (b) As moléculas sinalizadoras parácrina e autócrina chegam até suas células-alvo por difusão, por meio do líquido intersticial. Como a distância é um fator limitante para a difusão, o alcance efetivo dos sinais parácrinos é restrito às células vizinhas. Um bom exemplo de molécula parácrina é a histamina, uma substância química liberada por células danificadas (SILVERTHORN, 2017, p. 168). 5Visão geral da função renal Anatomia externa dos rins Um rim adulto dentro dos padrões da normalidade tem um comprimento em torno de 10 a 12 cm, uma largura de 5 a 7 cm e uma espessura de, aproxi- madamente, 3 cm de espessura, com uma massa em média, de 135 a 150g. Medialmente, a margem é côncava, na qual é encontrada uma região chamada de hilo renal (Figuras 2a e 2c). Pelo hilo emerge dos rins o ureter junto com a neurovascularização. Os rins são envolvidos por três camadas (Figuras 2a e 2b). Considerando a estratificação de superficial para profunda, identifica-se, superficialmente, a fáscia renal; em localização intermediária está a cápsula adiposa; e mais profunda e intimamente aderida ao rim está a cápsula fibrosa. A fáscia renal é uma lâmina fina de tecido conjuntivo denso não mode- lado, que fixa os rins tanto à parede abdominal posterior quando às outras estruturas próximas; em relação ao peritônio, tem localização profunda. A cápsula adiposa protege os rins contra traumas e ajuda a mantê-lo posicio- nado na cavidade abdominal. A cápsula fibrosa é um envoltório de superfícielisa e transparente de tecido conjuntivo denso não modelado, que é contínuo com o revestimento superficial do ureter. A Figura 5 ilustra essas estruturas em secção transversa (a) e coronal (b) do abdome. A nefroptose, condição também conhecida como rim flutuante, consiste no des- locamento inferior (uma espécie de “queda”) do rim. Ela ocorre quando o rim desliza de sua posição normal porque não está bem fixado no lugar pelos órgãos adjacentes ou por seu revestimento de tecido adiposo. A doença se desenvolve mais frequentemente em pessoas muito magras, com cápsula adiposa ou fáscia renal deficiente. É uma condição perigosa porque o ureter pode torcer e bloquear o fluxo de urina, e o retorno de urina impõe pressão sobre o rim, danificando o tecido renal. O ureter torcido também provoca dor. A nefroptose é 10 vezes mais comum em mulheres do que em homens e é muito comum na população geral — aproximadamente 25% das pessoas têm algum grau de enfraquecimento das faixas fibrosas que mantêm o rim no lugar (TORTORA; DER- RICKSON, 2016, p. 991). Visão geral da função renal6 Figura 5. Revestimentos e posicionamento dos rins: (a) Secção transversa do abdome; (b) secção coronal do abdome. Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 990). (a) (b) 7Visão geral da função renal Anatomia interna dos rins Internamente nos rins é possível identificar uma região periférica, com colo- ração vermelho-clara, chamada de córtex renal, e uma área central castanho- -avermelhada, denominada medula renal. A medula renal é formada por estruturas em formato de cone, conhecidas como pirâmides. A extremidade mais larga de cada pirâmide é chamada de base e fica voltada para a região cortical, enquanto a sua região mais estreita, ou ápice, está voltada para o hilo, e também pode ser chamada de papila renal (TORTORA; DERRICKSON, 2016). O córtex renal se estende da cápsula fibrosa até as bases das pirâmides e se projeta nos espaços entre elas. Essa região é dividida em zona cortical externa e zona justamedular interna. As partes corticais renais estendidas entre as pirâmides são chamadas de colunas renais. O córtex e as pirâmides juntos são considerados o parênquima, ou porção funcional dos rins. Dentro do parênquima, são encontradas as unidades funcionais dos rins, que repre- sentam, em média, 1 milhão de estruturas microscópicas chamadas de néfrons (TORTORA; DERRICKSON, 2016). O filtrado que é formado pelos néfrons é drenado para os ductos coletores que, por sua vez, são estendidos a partir das papilas renais das pirâmides. Dos ductos coletores o filtrado drena para os cálices menores, que são estruturas com formato de taça, e passam para os e cálices renais maiores. Cada rim possui de 8 a 18 cálices renais menores, e entre 2 ou 3 cálices renais maiores. A urina drenada para o cálice renal menor vem dos ductos coletores das papilas renais e vai para um cálice renal maior. Uma vez que o filtrado entra nos cálices, torna-se urina, porque não pode mais ocorrer reabsorção. A urina passa dos cálices renais maiores para a pelve renal e, em seguida vai para o ureter até chegar na bexiga urinária (TORTORA; DERRICKSON, 2016). O seio renal é um espaço interno, no qual se expande o hilo, que abriga parte da pelve renal, dos cálices, bem como vasos sanguíneos e inervação. A gordura auxilia na estabilização da posição dessas estruturas no seio renal (TORTORA; DERRICKSON, 2016). Acompanhe uma ilustração da anatomia interna dos rins na Figura 6. Visão geral da função renal8 Figura 6. Anatomia interna dos rins: (a) secção coronal dos rins, com ênfase no parênquima; (b) secção coronal dos rins, com ênfase no hilo, seio renal e pedículo (estruturas que entram e saem dos rins). Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 991). (a) (b) 9Visão geral da função renal Funções renais Os rins possuem funções essenciais no sistema urinário. Os demais cons- tituintes do sistema urinário representam, basicamente, vias de transição e áreas responsáveis por armazenamento. A seguir, estão descritas as funções dos rins segundo Tortora e Derrickson (2016). � Regulação da composição iônica do sangue: os rins auxiliam na regulação dos níveis de vários íons no sangue. Os mais importantes são o sódio (Na+), o potássio (K+), o cálcio (Ca2 +), o cloreto (Cl–) e o fosfato (HPO4 2–). � Regulação do pH do sangue: os rins são responsáveis pela excreção de quantidades variáveis de hidrogênio (H+) para a urina, preservando os bicarbonatos (HCO3 –), que estão relacionados com o tamponamento de H+ no sangue. As duas ações auxiliam na regulação pH do sanguíneo. � Regulação do volume de sangue: pela eliminação da urina, os rins ajudam no ajuste do volume sanguíneo. Quando o volume sanguíneo se eleva, aumenta também a pressão arterial e, em contrapartida, se o volume do sangue se reduz, a pressão arterial também diminui. � Regulação da pressão arterial: outra forma de os rins auxiliarem no controle da pressão arterial é devido à secreção da enzima renina, que, por sua vez, aciona o sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAA), que você pode visualizar na Figura 7. A elevação da renina ocasiona o aumento da pressão arterial. � Manutenção da osmolaridade do sangue: em relação à regulação da perda de água e de solutos na urina, os rins conseguem manter uma osmolaridade sanguínea relativamente, constante, em torno de 300 miliosmóis por litro (mOsm/l). � Produção de hormônios: o calcitriol, produzido nos rins, é a forma ativa da vitamina D, que auxilia na manutenção da homeostase do cálcio. Já a eritropoietina, também produzida nos rins, está relacionada com a produção de eritrócitos. Veja mais sobre ambas nas Figura 8 e 9, respectivamente. Visão geral da função renal10 Figura 7. Regulação da secreção de aldosterona pela via renina-angiotensina-aldosterona (RAA). Fonte: Tortora e Derrickson (2016, p. 644–673). � Regulação do nível sanguíneo de glicose: de modo semelhante ao fígado, os rins utilizam a glutamina (aminoácido) na gliconeogênese (síntese de novas moléculas de glicose). Assim, ajudam a disponibilizar glicose no sangue, agindo na prevenção de desajustes na glicemia. � Excreção de escórias metabólicas e substâncias estranhas: pela urina, os rins excretam escórias metabólicas, ou seja, substâncias que não possuem utilidade no corpo. A amônia e a ureia resultam da desaminação dos aminoácidos; a bilirrubina resulta da degradação da hemoglobina; a creatinina é resultado do fosfato clivado, sobretudo de creatina, nas fibras musculares, e o ácido úrico tem origem na degradação de ácidos nucleicos. Fármacos e toxinas ambientais também são escórias do metabolismo, eliminadas na urina. 11Visão geral da função renal Figura 8. Funções da calcitonina, paratormônio e calcitriol (setas laranjas) na homeostasia do cálcio. Fonte: Tortora (2016, p. 644–673). Figura 9. Formação e destruição das hemácias e reciclagem dos componentes da hemoglobina. Fonte: Tortora (2016, p. 644–673). Visão geral da função renal12 Processos renais: filtração glomerular, reabsorção tubular e secreção tubular Em média, os rins excretam 1,5 litros de urina por dia. Um volume maior do que 99% do líquido que os néfrons recebem precisa retornar ao sangue, para evitar a desidratação corporal rápida. Portanto, os rins são responsáveis pelos processos de filtração, reabsorção e secreção, executados pelos néfrons, como mostra a Figura 10 (SILVERTHORN, 2017). A filtração sinaliza a movimentação de líquido do sangue para o néfron. Trata-se de um evento que acontece, somente, no corpúsculo renal, devido aos envoltórios dos capilares glomerulares e da cápsula de Bowman, que permite o fluxo de fluidos. Quando o filtrado chega ao espaço interno do néfron, ele passa a fazer parte do meio externo em relação ao corpo, da mesma maneira que as substâncias no espaço intersticial interno também passam a compor o meio externo. Por isso, o que é filtrado nos néfrons, exceto o que passa porreabsorção, é excretado na urina (SILVERTHORN, 2017). Após o filtrado deixar a cápsula de Bowman, ele é modificado pelos pro- cessos de reabsorção e secreção. A reabsorção transporta substâncias encontradas no filtrado do es- paço interno tubular para o sangue, passando pelos capilares peritubulares (SILVERTHORN, 2017). A secreção é responsável pela remoção seletiva de moléculas presentes no sangue, adicionando-as ao filtrado dentro dos túbulos. Apesar de a secreção e a filtração glomerulares moverem substâncias do sangue para o lúmen tubular, a secreção tem maior seletividade, utilizando, em geral, proteínas de membrana no transporte de moléculas pelo epitélio tubular (SILVERTHORN, 2017). Não confunda secreção com excreção. Lembre-se dos prefixos: Se- significa “à parte”, indicando a separação de algo de sua fonte. No néfron, os solutos secretados se movem do plasma para o lúmen tubular. Ex- significa “fora” indicando algo fora ou externo ao corpo. Excreção refere-se à remoção de uma substância do corpo. Além dos rins, outros órgãos realizam processos de excreção, incluindo os pulmões (CO2) e os intestinos (alimentos não digeridos, bilirrubina) (SILVERTHORN, 2017, p. 596). 13Visão geral da função renal Figura 10. Função do néfron. Fonte: Silverthorn (2017, p. 595). Visão geral da função renal14 Em torno de 180 litros de líquido com as mesmas características do plasma sanguíneo, praticamente isosmóticos (pressão osmótica igual), são filtrados para a cápsula de Bowman por dia — em média 300 mOsm. Conforme o filtrado vai fluindo pelo túbulo proximal, em torno de 70% do seu volume total é reabsorvido, permanecendo 54 litros no túbulo. A reabsorção acontece no momento em que as células do túbulo proximal movem os solutos para a parte externa do lúmen, fator determinante da reabsorção osmótica de água. Saindo do túbulo proximal, o filtrado sai com osmolalidade igual à do filtrado no momento em que entrou. Por isso, o principal aspecto funcio- nal do túbulo proximal é a reabsorção isosmótica de água e solutos. O fil- trado que sai do túbulo proximal atravessa a alça de Henle que, por sua vez, é considerada o principal lugar de produção de urina diluída. Atravessando a alça de Henle, os solutos são mais reabsorvidos do que a água, de ma- neira que o filtrado vai se tornando hiposmótico, quando comparado com o plasma sanguíneo. Quando o filtrado deixa a alça de Henle, tem em torno de 100 mOsm, com volume diminuído de 54 L/dia para 18 L/dia. Assim, o maior volume do filtrado na cápsula de Bowman já foi reabsorvido para os capilares (SILVERTHORN, 2017). Da alça de Henle, o filtrado vai para o túbulo distal e desemboca no ducto coletor. Nesses locais, é regulado o balanço de sal e de água, com o auxílio de vários hormônios. Tanto a reabsorção quanto a secreção (com menor con- tribuição) definem a constituição final do filtrado. Ao final, no ducto coletor, o filtrado possui um volume de 1,5 L/dia, com osmolalidade variando entre 50 a 1.200 mOsm. O volume e a osmolalidade da urina ao final vão depen- der da necessidade corporal de conservação ou excreção de água e soluto (SILVERTHORN, 2017). A seguir e mais adiante, na Figura 11, um resumo dos processos de filtração, reabsorção, secreção e excreção: � Filtração: ocorre no corpúsculo renal à medida que o líquido passa dos capilares do glomérulo para dentro da cápsula de Bowman. � Reabsorção e a secreção: ocorrem ao longo do restante do túbulo, transferindo material entre o lúmen e os capilares peritubulares. A quantidade e a composição das substâncias que são reabsorvidas e secretadas variam nos diferentes segmentos do néfron. � Excreção: o filtrado que permanece no lúmen, no final do néfron, é excretado como urina. A quantidade de qualquer substância excretada na urina reflete o resultado do seu manejo durante a sua passagem através do néfron. 15Visão geral da função renal Figura 11. Movimento de solutos através do néfron. Fonte: Silverthorn (2017, p. 596). A perda de proteínas plasmáticas na urina causa edema. Em algumas doenças renais, os glomerulares capilares são danificados e se tornam tão permeáveis que as proteínas plasmáticas entram no filtrado glomerular. Como resultado, o filtrado exerce uma pressão coloidosmótica, que puxa a água para fora do sangue. Nessa situação, a pressão de filtração efetiva (PFE) aumenta e mais líquido é filtrado. Ao mesmo tempo, a pressão coloidosmótica do sangue diminui, porque as proteínas plasmáticas estão sendo perdidas na urina. Como a quantidade de líquido que é filtrada dos capilares sanguíneos para os tecidos em todo o corpo é maior do que a quantidade que retorna por meio da reabsorção, o volume sanguíneo diminui, e o volume de líquido intersticial aumenta. Assim, a perda de proteínas plasmáticas na urina causa edema, que nada mais é do que um volume anormalmente elevado de líquido intersticial (TORTORA; DERRICKSON, 2016, p. 1001). Visão geral da função renal16 Para finalizar, o sistema urinário, bem como os pulmões no sistema respi- ratório, utiliza o princípio do equilíbrio ou balanço de massas na manutenção da homeostase. A constituição da urina é alterada frequentemente, destacando a função renal na regulação de água e íons, seguida da excreção. Os rins são responsáveis pela filtração do plasma ao nível dos capilares e pela reabsorção e secreção, que sofrem interferência tanto de interações moleculares quanto de moléculas, que transitam nas membranas das células dos túbulos (SIL- VERTHORN, 2017). SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Anatomia e fisiologia. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Leituras recomendadas MAURER, M. H. Fisiologia humana ilustrada. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. WIDMAIER, E. P.; RAFF, H.; STRANG, K. T. Vander: fisiologia humana: os mecanismos das funções corporais. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. 17Visão geral da função renal