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CURSO DE EXTENSÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR PROFESSOR: Dr. Ataliba Dias Ramos (juiz federal da justiça militar) DISCIPLINA: MÓDULO 3 BREVE APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR: Olá pessoal! Eu sou o professor Ataliba Ramos, juiz federal da justiça militar, atualmente titular da Auditoria da 12ª Circunscrição Judiciária Militar (12ª CJM), com sede em Manaus – AM. Atuo com jurisdição nos estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre, ou seja, uma das maiores competências territoriais do mundo! Rsrs. Na minha jornada acadêmica, sou Mestrando em Direito Constitucional no Instituto Brasileiro de Direito Público (IDP) em Brasília - DF, pós-graduado em Aplicações Complementares às Ciências Militares pela então Escola de Administração do Exército (ESAEx) - atualmente Escola de Formação Complementar do Exército (ESFCEx) – em Salvador – BA, bem como em Direito Público pela Faculdade Fortium de Brasília - DF. Sou bacharel em Direito pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro e autor de diversos artigos jurídicos que tratam do Direito Militar e coautor das obras: Direito Administrativo Militar - Coleção Sinopses para Concursos, da Editora Juspodivm e Perspectivas da Justiça Militar Contemporânea, da Editora Lumen Juris. Na minha jornada profissional, não comecei, evidentemente, no cargo de juiz federal da justiça militar. Iniciei minha carreira como 3º Sargento de Saúde do Exército Brasileiro (isso mesmo, nada a ver com minha área de atuação hoje) e conquistei o 1º lugar da minha Turma (CFS 2000). Na sequência, no ano de 2007, fui aprovado em 1º lugar do Brasil no concurso para o Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro, na especialidade Direito (QCO Dir), conquistando o 1º lugar da minha Turma na minha especialidade (CFO 2008). Como oficial da ativa, cheguei até o posto de capitão e assumi a chefia da Assessoria Jurídica do Comando de Operações Terrestres (COTER) até que, em 2016, após dificílimo concurso de provas e títulos, tomei posse no cargo de juiz auditor substituto da justiça militar (nome do cargo à época). Em 2021, fui promovido ao meu cargo atual (juiz federal da justiça militar). Como professor, leciono em diversos Cursos Preparatórios para concursos no ramo de Direito Militar, sendo um dos coordenadores do “Direito Militar no Zoom”. Além disso, dou aula em diversos Cursos de Pós Graduação em Direito Militar. Deixo como indicação o meu instagram: @prof.atalibaramos (onde posto dicas de direito administrativo militar, penal militar e processual penal militar, além de algumas bobagens do cotidiano) Feita essa breve apresentação, vamos falar do tema que será abordado no presente módulo (módulo 3): noções sobre procedimentos de investigação criminal (atos de polícia judiciária militar). O objetivo da nossa disciplina é: identificar o modo de atuação da polícia judiciária militar (atuação do encarregado do IPM) e os instrumentos à sua disposição para consecução das suas finalidades, com supedâneo no CPPM, bem como as suas fases e etapas. Identificar a competência da polícia judiciária militar e da polícia de segurança. INTRODUÇÃO Então pessoal, considerando o objetivo no presente módulo, vamos estudar o Inquérito Policial Militar (IPM), o Auto de Prisão em Flagrante (APF), a Instrução Provisória de Deserção (IPD) e a Instrução Provisória de Insubmissão (IPI). Lembrando que o presente material de apoio complementa os slides que já foram disponibilizados a vocês junto com as videoaulas do presente módulo. Feito esse esclarecimento, vamos entrar na matéria, mas, antes de falarmos de cada instituto acima, teceremos breves considerações acerca da autoridade de polícia judiciária militar, órgão competente para conduzir todos os procedimentos investigativos na persecução de um crime militar. DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR Segundo o doutrinador Jorge Cesar de Assis, a previsão constitucional da polícia judiciária militar é implícita no art. 144 §4º CF/88. Art. 144 ... 4º - às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. Cabe esclarecer que a Polícia do Exército e a Polícia da Aeronáutica não são polícia judiciária militar, mas sim polícia administrativa militar. O ilustre Célio Lobão confirma essa informação (2010, p.45). Isso não significa que um militar da PE, por exemplo, não possa realizar atividade de polícia judiciária militar. A polícia judiciária militar é exercida nos termos do art. 8º do CPPM, pelas autoridades elencadas no artigo 7º e parágrafos do mesmo códex, conforme suas respectivas circunscrições. Atentem para o fato de que a nomenclatura de diversos cargos ali elencados se encontra desatualizada. Nessa toada, a doutrina castrense traz a seguinte classificação das autoridades de polícia judiciária militar: a) Originária (art. 7º, caput do CPPM) b) Delegada (parágrafos do art. 7º do CPPM) A polícia judiciária militar não pode ser exercida por praças, especiais ou não, mas tão somente por oficiais. Por derradeiro, cabe apontar que as atribuições da polícia judiciária militar elencadas no artigo 8º do CPPM não constituem um rol taxativo, haja vista que é possível que sejam realizadas outras atividades em busca do descobrimento da verdade possível de ser alcançada (para não usarmos a expressão busca da verdade real que, segundo alguns estudiosos, não existe). Alguns exemplos de atribuições de polícia judiciária militar atípicas no CPPM: a) representação pela interceptação telefônica b) representação para a prisão temporária (doutrina minoritária admite) c) adoção de medidas da Lei Maria da Penha d) medidas da Lei do Crime Organizado e) medidas da Lei de Proteção às Testemunhas f) etc Dito isso, passemos aos procedimentos de investigação dos crimes militares. DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR (ART 9º AO 28 DO CPPM) O IPM pode ser definido como um procedimento administrativo realizado pela polícia judiciária militar com a finalidade de apurar o fato (crime militar) e a autoria, para fornecer elementos necessários à propositura da ação penal militar. É uma peça informativa que tem por objetivo formar o convencimento do titular da Ação Penal Militar (membro do MP/MPM), para oferecer a denúncia. Finalidade do IPM: Cícero Coimbra traz uma crítica à finalidade expressa no CPPM (alinhada à acusação). Entende que deve ser a busca da verdade real, luisc Marcador de texto sendo um instrumento do Estado democrático de Direito. Invoca as lições de Luís Flavio Gomes. Por essa linha de pensamento, o inquérito policial militar, ao mesmo tempo em que serve para colher subsídios para a propositura da ação penal, tem função de filtro, a fim de que não sejam oferecidas denúncias infundadas. Pois bem. As características do IPM são praticamente as mesmas do IP. Para maiores aprofundamentos, indico a leitura do Manual de Processo Penal de Renato Brasileiro. Isso posto, considerando o objetivo do nosso curso, trarei aqui as principais características do IPM, que são: a) Escrito (art. 21 do CPPM). OBS: processo eletrônico. b) Sigiloso (art. 16 do CPPM) c) Inquisitivo d) Oficialidade: significa dizer que todos os atos relativos ao IPM devem ser praticados por agentes públicos, ou seja, não há qualquer possibilidade de particulares conduzirem o IPM. e) Obrigatoriedade: é obrigatória a instauração de um IPM quando há a ocorrência de um crime militar. f) Oficiosidade: determina que a autoridade militar deve agir de ofício – sem qualquer requerimento – quando tiver conhecimento da prática de um delito militar (art. 10 “a” do CPPM) Vamos continuar analisando alguns artigos do CPPM que tratam do IPM.Art. 10. O inquérito é iniciado mediante PORTARIA: a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito de jurisdição ou comando haja ocorrido a infração penal, atendida a hierarquia do infrator; luisc Marcador de texto Nesse caso ocorre a notitia criminis direta (a autoridade conhece o fato por sua própria atuação investigativa. b) por determinação ou delegação da autoridade militar superior, que, em caso de urgência, poderá ser feita por via telegráfica ou radiotelefônica e confirmada, posteriormente, por ofício; Nesse caso ocorre a notitia criminis indireta (a autoridade tomou ciência do fato porque houve determinação ou delegação de autoridade superior). Jorge Cesar de Assis – com o avanço das telecomunicações, em caso de urgência, pode-se delegar por meio de fax, e-mail, com confirmação posterior. Hoje acrescento: WhatsApp. c) em virtude de requisição do Ministério Público; O MPM pode requisitar diretamente à autoridade militar. QUESTÃO: E se a autoridade militar não atender à requisição? Requisição é ordem. Pode configurar crime de prevaricação (se presente o elemento subjetivo do tipo) ou desobediência (controvertido). OBS: Recusa de Diligências pelo Encarregado do IPM: a autoridade militar encarregada do IPM não pode deixar de realizar diligência requisita pelo Juiz Federal ou pelo Promotor de Justiça Militar, pois requisição é uma ordem. No entanto, a autoridade pode deixar de realizar diligências requeridas pelo indiciado e pelo ofendido, salvo para atender à diligência referente ao exame de corpo de delito. É o que se extrai do art. 315, parágrafo único, do CPPM d) por decisão do Superior Tribunal Militar, nos têrmos do art. 25*; Obs: Quando o IPM é instaurado por decisão do STM, estamos diante de sua competência originária. Coimbra destaca que se trata de “decisão” e não requisição. O STM, se for o caso, remeterá os autos ao MPM e, este sim, poderá requisitar IPM. e) a requerimento da parte ofendida ou de quem legalmente a represente, ou em virtude de representação devidamente autorizada* de quem tenha conhecimento de infração penal, cuja repressão caiba à Justiça Militar; Vamos analisar agora o artigo 14 do CPPM. Assistência de procurador Art. 14. Em se tratando da apuração de fato delituoso de excepcional importância ou de difícil elucidação, o encarregado do inquérito poderá solicitar do procurador-geral a indicação de procurador que lhe dê assistência*. Apesar de o artigo mencionar a indicação de Procurador, nada impede que seja um Promotor de Justiça, obviamente. Jorge Cesar de Assis entende que este artigo está mitigado pela CF/88, pois o MP não exerce a função de assistente do IPM, já que pode requisitar sua instauração e acompanhar seu desenvolvimento, intervindo quando julgar necessário. Pode, portanto, ORIENTAR e não assistir o encarregado do IPM. Leciona ainda que qualquer membro MPM, ao tomar conhecimento de IPM de excepcional importância ou de difícil elucidação, pode acompanhar de oficio o caso. O PGJM também pode nomear um membro do MPM nesses casos. Célio Lobão e Claudio Amim lecionam que o pedido de assistência deve ser feito ao PGJM. Nada falam sobre a expressão “assistência”. Por sua vez, Cícero Coimbra entende que o MPM pode atuar de oficio, bem como em outras hipóteses além das duas elencadas no artigo. O E. STM tem precedente em que se fez menção expressa ao artigo em estudo: O art. 14 do CPPM estabelece a possibilidade de participação do Ministério Público Militar na investigação procedida na fase inquisitorial. (Superior Tribunal Militar. Habeas Corpus nº 0000197- 11.2013.7.00.0000. Relator(a): Ministro(a) CLEONILSON NICÁCIO SILVA. Data de Julgamento: 21/11/2013, Data de Publicação: 05/12/2013) Vamos analisar agora o artigo 15 do CPPM, que trata do encarregado do inquérito policial militar. Art. 15. Será encarregado do inquérito, sempre que possível, oficial de posto não inferior ao de capitão ou capitão-tenente; e, em se tratando de infração penal contra a segurança nacional, sê-lo-á, sempre que possível, oficial superior*, atendida, em cada caso, a sua hierarquia, se oficial o indiciado. Vejam que A LEI PERMITE QUE SEJA UM OFICIAL SUBALTERNO. Vide “sempre que possível”. Inclusive pode ser um Oficial Temporário. Jorge Cesar de Assis entende que a Infração penal contra a segurança nacional é apurada pela Polícia Federal, já que, com a CF/88, a competência para processar e julgar tais delitos é da justiça federal. Noutro giro, Claudio Amin e Célio Lobão entendem que a expressão “infração penal contra a segurança nacional” se refere a crimes contra a segurança externa (arts. 136 a 148 do CPM). Logo, a competência é sim da justiça militar e, portanto, deve ser instaurado IPM. luisc Marcador de texto Veremos agora o artigo 18 do CPPM: Detenção de indiciado Art. 18. Independentemente de flagrante delito, o indiciado poderá ficar detido, durante as investigações policiais, até trinta dias, comunicando-se a detenção à autoridade judiciária competente. Êsse prazo poderá ser prorrogado, por mais vinte dias, pelo comandante da Região, Distrito Naval ou Zona Aérea, mediante solicitação fundamentada do encarregado do inquérito e por via hierárquica. QUESTÃO: Esse artigo ainda tem vigência após a CF/88? Prevalece na doutrina castrense que SIM. Mas só tem aplicação em caso de crimes propriamente militares. Jorge Cesar de Assis, Célio Lobão, Cláudio Amin, Cícero Coimbra, Guilherme Nucci, por exemplo, são adeptos dessa posição. CF/88 Art. 5 (...) LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; OBS: JCA e Nucci chamam de o instituto do art. 18 de detenção cautelar. Lobão e Loureiro Neto chamam de prisão cautelar. Ocorre que o legislador não definiu o que seria “crime propriamente militar”. Cabe aqui lembrar as diversas posições encontradas na doutrina acerca do conceito de crime propriamente militar: luisc Marcador de texto luisc Marcador de texto luisc Marcador de texto a) Teoria Clássica – com origem no Direito romano. O crime propriamente militar é aquele que só pode ser cometido por militar (é o “crime do soldado”). O crime impropriamente militar pode ser praticado por qualquer pessoa, civil ou militar. Adotada por Lobão e JCA b) Teoria Topográfica – prestigiada entre os autores de Direito Penal comum. O crime propriamente militar é aquele só previsto no CPM ou previsto de maneira diversa (art. 9º, I do CPM). O crime impropriamente militar é previsto tanto no CPM e CP. c) Teoria Tricotômica (Amin e Ione de Souza Cruz) – crime propriamente militar é aquele que só pode ser cometido por militar. Crime tipicamente militar é aquele só previsto no CPM (ex: insubmissão). Crime impropriamente militar é previsto tanto no CPM e CP. d) Teoria de Jorge Alberto Romeiro – o crime propriamente militar é aquele cuja ação só pode ser proposta contra o militar. Lobão critica essa “Nova Teoria”, mas Cícero Coimbra a adota, fazendo a ressalva de que se deve observar o princípio “tempus regit actum”. Vejamos o prazo de duração do IPM: Prazos para terminação do inquérito Art 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte dias, se o indiciado estiver preso, contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver solto, contados a partir da data em que se instaurar o inquérito. QUESTÃO: O prazo de conclusão do IPM é penal ou processual penal? luisc Marcador de texto luisc Marcador detexto luisc Marcador de texto luisc Marcador de texto luisc Marcador de texto Quando o investigado está solto, não há controvérsia de que se trata de prazo de natureza processual. Quando o investigado está preso, há controvérsia na doutrina: 1ªCorrente: Prazo de direito material. O dia do início inclui-se no cômputo do prazo – art. 10, CP. Além disso, prazos materiais são fatais e improrrogáveis (Nucci). Essa tese é boa para prova de Defensoria Pública. 2ª Corrente (majoritária): mesmo quando o investigado está preso ele continua sendo prazo processual (Denilson Feitosa, J. F. Mirabete, Renato Brasileiro). Não se pode confundir o prazo da prisão cautelar, que tem natureza material, com o prazo do inquérito que tem natureza processual. JCA – destaca que o prazo é contado na forma do art. 3º “a” CPPM c/c art. 798 §1º CPP. Não se computa o dia do começo, mas se inclui o dia do vencimento. Essa posição prevalece na doutrina. Acerca do prazo do IPM, o E. STM já se manifestou no seguinte sentido: EMENTA. HABEAS CORPUS. PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DA ASSINATURA DIGITAL ELETRÔNICA. REJEIÇÃO. TRANCAMENTO DE IPM. NULIDADE. EXCESSO DE PRAZO. DENEGAÇÃO DA ORDEM. UN NIME. (...) O prazo legal para o término da investigação é impróprio, inexistindo consequência processual se inobservado quando solto o réu. Precedentes do STF. Ausente qualquer ilegalidade ou abuso de poder no prosseguimento do IPM. Ordem denegada. Unânime. (Superior Tribunal Militar. Habeas Corpus nº 7000393- 80.2018.7.00.0000. Relator(a): Ministro(a) MARCUS VINICIUS OLIVEIRA DOS SANTOS. Data de Julgamento: 14/08/2018, Data de Publicação: 30/08/2018) luisc Marcador de texto luisc Marcador de texto luisc Retângulo No mesmo sentido o STF: "Ementa: Processual penal militar. Recurso ordinário em habeas corpus. Trancamento de inquérito policial. Inadequação da via eleita. 1. O trancamento da ação penal (e do inquérito policial) só é possível quando estiverem comprovadas, de plano, a atipicidade da conduta, a extinção da punibilidade ou a evidente ausência de justa causa. 2(...). 4. "O prazo legal para término da investigação é impróprio, inexistindo consequência processual se inobservado o lapso temporal, quando solto o réu" (RHC 117.966, Relª. Minª. Cármen Lúcia). 5. Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento." (RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS nº 145379. Relator Min. ROBERTO BARROSO. Julgado em 07/03/2018.) Pet 7612/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/03/2019 (Info 933). Lembrando que, em caso de investigado solto, o prazo poderá ser prorrogado por mais vinte dias pela autoridade militar superior, desde que não estejam concluídos exames ou perícias já iniciados, ou haja necessidade de diligência, indispensáveis à elucidação do fato. O pedido de prorrogação deve ser feito em tempo oportuno, de modo a ser atendido antes da terminação do prazo. Ademais, não podemos confundir essa prorrogação de praz com a realização de diligências complementares por requisição do MPM ou do juiz (art. 26, I e II do CPPM): HABEAS CORPUS. INQUÉRITO POLICIAL MILITAR. JUSTA CAUSA PARA O INDICIAMENTO. EXCESSO DE PRAZO. 1. A limitação temporal para a conclusão do inquérito policial militar, prevista na Lei Processual luisc Marcador de texto Penal Militar, não alcança a fase de diligências requeridas pelo Ministério Público, repercutindo somente em relação à autoridade policial, que, ainda assim, conta com a previsão legal de dilação de prazo (art. 20, § 1º, do CPPM). 2. (...) Ordem conhecida e denegada. Decisão unânime. (Superior Tribunal Militar. Habeas Corpus nº 0000075-56.2017.7.00.0000. Relator(a): Ministro(a) ARTUR VIDIGAL DE OLIVEIRA. Data de Julgamento: 18/05/2017, Data de Publicação: 30/05/2017) Prosseguindo, nos termos do art. 22 do CPPM, o inquérito será encerrado com minucioso relatório, em que o seu encarregado mencionará as diligências feitas, as pessoas ouvidas e os resultados obtidos, com indicação do dia, hora e lugar onde ocorreu o fato delituoso. Em conclusão, dirá se há infração disciplinar a punir ou indício de crime, pronunciando-se, neste último caso, justificadamente, sobre a conveniência da prisão preventiva do indiciado, nos termos legais. Assim, o encarregado do IPM deve indicar: a) se há infração disciplinar (RDM, RDE, RDAer) b) se há indício de crime (não precisa tipificar. Isso cabe ao MPM) c) se há necessidade de decretação de prisão preventiva (art. 254 c/ 255 do CPPM) O princípio da indisponibilidade está consagrado no art. 24 do CPPM, que preconiza: Art. 24. A autoridade militar não poderá mandar arquivar autos de inquérito, embora conclusivo da inexistência de crime ou de inimputabilidade do indiciado. Na sistemática do CPPM, para que haja arquivamento do IPM: apenas o Juiz Federal pode determinar o arquivamento do IPM (ou qualquer outra peça luisc Marcador de texto luisc Marcador de texto informativa), sendo que deve necessariamente existir requerimento do MPM. Vejam o artigo 397 do CPPM. Instauração de novo inquérito Art 25. O arquivamento de inquérito não obsta a instauração de outro, se novas provas aparecerem em relação ao fato, ao indiciado ou a terceira pessoa, ressalvados o caso julgado e os casos de extinção da punibilidade. Pela dicção do CPPM, não há DESARQUIVAMENTO de IPM, mas instauração de novo inquérito. Mas há doutrinador que dá o nome de desarquivamento (JCA, Cícero). Fazer o link com o art 397 CPPM. Súmula 524 STF – “Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas”. JCA citando Mirabete: “a decisão de arquivamento é submetida à cláusula rebus sic stantibus” Devolução de autos de inquérito Art. 26. Os autos de inquérito não poderão ser devolvidos a autoridade policial militar, a não ser: I — mediante requisição do Ministério Público, para diligências por ele consideradas imprescindíveis ao oferecimento da denúncia; II — por determinação do juiz, antes da denúncia, para o preenchimento de formalidades previstas neste Código, ou para complemento de prova que julgue necessária. Em relação à aplicabilidade ou não do inciso II (suposta afronta ao sistema acusatório, já que o juiz estaria interferindo nas investigações), o E. STM já se manifestou: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. REJEIÇÃO DE DENÚNCIA. ART. 303, 'CAPUT', DO CPM. Preliminar de inconstitucionalidade do art. 26, inciso II, do CPPM, suscitada pelo MPM, e, em consequência, de nulidade da prova pericial requisitada pela Magistrada a quo. No processo penal vigora o princípio da verdade real como fundamento da sentença. Só excepcionalmente o juiz penal se satisfaz com a verdade formal, quando não disponha de meios para assegurar a verdade real (Doutrina). Preliminar que se rejeita. Unânime. (...) Unânime. (Superior Tribunal Militar. Recurso em Sentido Estrito nº 0000065- 16.2012.7.02.0102. Relator(a): Ministro(a) MARCUS VINICIUS OLIVEIRA DOS SANTOS. Data de Julgamento: 09/05/2013, Data de Publicação: 17/05/2013) O parágrafo único do artigo 26, preconiza que, em qualquer dos casos, o juiz marcará prazo, não excedente de vinte dias, para a restituição dos autos. O MPM já impetrou Mandado de Segurança questionando tal previsão, ocasião na qual o E. STM decidiu pela validade do referido regramento, senão vejamos: EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO DO MAGISTRADO A QUO. REVOGACÃO DE ATO JURISDICIONAL QUE CONFERIA AO MPM ATRIBUIÇÃO PARA ESTABELECER PRAZO PARA DILIGÊNCIAS INDISPENSÁVEIS AO OFERECIMENTO DA DENUNCIA. ART. 26 DO CPPM. PREVISÃO DE COMPETÊNCIA DO JUIZ-AUDITOR PARA DETERMINAÇÃO DE PRAZO COMPLEMENTAR PARA DILIGÊNCIAS. SEGURANÇA DENEGADA.FALTA DE AMPARO LEGAL. (...) Compete ao Juiz Federal da Justiça Militar, na qualidade de supervisor das investigações, o controle dos procedimentos investigatórios criminais. Assim, o representante do Ministério Público Militar há de requerer ao magistrado competente a devolução dos autos à autoridade policial, cabendo ao juízo decidir sobre a eventual possibilidade de prorrogação de prazo, a teor do parágrafo único do art. 26 do CPPM, haja vista a falta de previsão legal para instituição da "Central de Inquéritos".(MS nº 7000907- 33.2018.7.00.0000. Relator(a): Ministro(a) FRANCISCO JOSELI PARENTE CAMELO. Data de Julgamento: 13/02/2019, Data de Publicação: 06/03/2019) Nos termos do artigo 27 do CPPM, se, por si só, for suficiente para a elucidação do fato e sua autoria, o auto de flagrante delito constituirá o inquérito, dispensando outras diligências, salvo o exame de corpo de delito no crime que deixe vestígios, a identificação da coisa e a sua avaliação, quando o seu valor influir na aplicação da pena. A remessa dos autos, com breve relatório da autoridade policial militar, far-se-á sem demora ao juiz competente, nos termos do art. 20 do mesmo códex. Por fim, cabe trazer os casos em que o IPM é dispensável. Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo de diligência requisitada pelo Ministério Público: a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou outras provas materiais; b) nos crimes contra a honra, quando decorrerem de escrito ou publicação, cujo autor esteja identificado; c) nos crimes previstos nos arts. 341 e 349 do Código Penal Militar. Com efeito, se o inquérito visa apurar o fato delituoso e sua respectiva autoria, se estes já estiverem demonstrados de alguma forma, será dispensável a sua instauração. É o que ocorre nestas hipóteses do artigo 28, esclarecendo que os artigos 341 e 349 do CPM, tipificam: - Desacato à autoridade judiciária militar; Desobediência à decisão judicial É isso aí pessoal! Passemos ao próximo tema. AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE Para o sucesso da persecução criminal é de fundamental importância que o local de crime seja mantido inalterado, o que se designa como preservação do local de crime. Tem-se por premissa que as perícias em geral, para uma análise perfeita, exigem que o estado do local do crime não seja modificado, observando-se, ademais, que comportamento não adequado poderá encontrar subsunção no disposto no art. 352 e seu parágrafo único, do Código Penal Militar. Para o fiel cumprimento da Lei, o estado e a situação das coisas no local de um crime (ou quando há indícios de um possível crime), não devem ser alterados. Havendo vítima necessitando de socorro, este deve, obviamente, ser prestado, vez que a vida e a incolumidade da pessoa deve ser preservada. No entanto, tal assistência deve ser dada com a interferência mínima necessária, no local e nas coisas. Para socorrer a vítima, o trajeto deve ser feito de maneira que menos altere o local sem que isso importe em perda de tempo para o socorro. Feitas essas breves considerações, impende salientar que a prisão em flagrante, de modo geral, possui fases bem destacadas, de fundamental importância para o desenvolvimento que se segue. São fases da prisão em flagrante: • captura do autor; • condução coercitiva à presença da autoridade; • lavratura do auto de prisão em flagrante; • recolhimento à prisão. Nos termos do § 2º do art. 247 do CPPM, em caso de a autoridade militar verificar a manifesta inexistência de infração penal militar ou a não participação da pessoa conduzida, relaxará a prisão, desde que o auto de prisão ainda não tenha sido encerrado e a prisão não tenha sido comunicada à autoridade judiciária. Em se tratando de infração penal comum, remeterá o preso à autoridade civil competente. Caso o auto de prisão em flagrante seja, por si só, suficiente para a elucidação do fato e sua autoria, o auto de prisão em flagrante delito substituirá o inquérito, dispensando outras diligências, salvo o exame de corpo de delito no crime que deixe vestígios, a identificação da coisa e sua avaliação, quando o valor influir na aplicação da pena. No auto de prisão em flagrante delito, é possível identificar o papel bem definido de algumas pessoas, na seguinte conformidade: Lavratura do auto Art. 245. Apresentado o prêso ao comandante ou ao oficial de dia, de serviço ou de quarto, ou autoridade correspondente, ou à autoridade judiciária, será, por qualquer dêles, ouvido o condutor e as testemunhas que o acompanharem, bem como inquirido o indiciado sôbre a imputação que lhe é feita, e especialmente sôbre o lugar e hora em que o fato aconteceu, lavrando-se de tudo auto, que será por todos assinado. “ATORES” ENVOLVIDOS EM UM APF Presidente do auto de prisão em flagrante delito - pessoa com autoridade de polícia judiciária militar (originária ou delegada) responsável pela lavratura do auto de prisão, assim como pela observância de sua liturgia (separação das partes, entrevista para formação de convicção, adoção de medidas previstas no art. 12 do CPPM, caso ainda não tenham sido adotadas etc.). Pelo art. 245 do CPPM, no âmbito da administração militar, a presidência do auto de prisão recairá sobre comandante, originariamente, ou quem o represente, como o oficial de dia, de serviço ou de quarto. Escrivão - auxiliar do Presidente do auto de prisão em flagrante, digitador e guardião dos autos. As regras de designação de escrivão em auto de prisão em flagrante delito estão no art. 245, §§ 4º e 5º, do CPPM. - se o preso for oficial: o escrivão será um capitão, capitão-tenente, primeiro ou segundo-tenente. - se o preso for praça ou civil – o escrivão será um subtenente, suboficial ou sargento. Em casos em que não se possa observar essas regras, qualquer pessoa (Cabo, Soldado ou mesmo um civil). Condutor - pessoa que encaminha o preso ao Presidente do auto de prisão em flagrante, geralmente responsável por dar a voz de prisão ao conduzido, a ser ratificada pelo Presidente, bem como pela observância, em primeiro momento, dos direitos do preso, especialmente o direito a permanecer calado (art. 5º, LXIII, CF) e ao de não produzir prova autoincriminatória (art. 296, § 2º, CPPM). Qualquer militar ou civil pode dar a voz de prisão, no entanto, o condutor precisa ser mais antigo ou superior do preso. Caso a pessoa que deu a voz de prisão seja civil ou militar mais moderno que o flagranteado, deverá solicitar militar mais antigo para a condução. Quem deu a voz de prisão e todas as pessoas que presenciaram o crime deverão ser levados ao presidente do flagrante, mesmo que não sejam o condutor Preso ou indiciado - pessoa que cometeu, em tese, o crime militar e que será conduzida à presença da autoridade de polícia judiciária militar (vide arts. 302 a 306 do CPPM); Testemunha - pessoa que presenciou o crime praticado pelo preso ou alguma situação de interesse da apuração (vide arts. 347 a 364 do CPPM). Caso a testemunha seja criança ou adolescente, é recomendável que se consulte o MPM para que se verifique a possibilidade de atuação de equipe especializada em depoimento sem dano, nos termos da Lei n. 13.431/2017. Testemunha instrumentária - pessoa que não presenciou o crime praticado pelo preso, nem uma situação de interesse da investigação, mas que presencia um ato procedimental sendo praticado (ex.: testemunha de leitura do auto de prisão para o preso analfabeto). Ofendido - pessoa que sofreu as consequências do crime praticado com a lesão, ou ameaça de lesão, a algum bem jurídico seu. Em alguns casos, não haverá registro da versão do ofendido, por se tratar de pessoa jurídica ou porimpossibilidade outra (morte, internação etc.) (recomenda-se a leitura dos arts. 311 a 313 do CPPM); Caso o ofendido seja criança ou adolescente, é recomendável que se consulte o MPM para que se verifique a possibilidade de atuação de equipe especializada em depoimento sem dano, nos termos da Lei n. 13.431/2017 Passemos a ver como fica a situação de prisão em flagrante em caso de crimes permanentes. CRIMES PERMANENTES Nos crimes permanentes, assim considerados aqueles cuja consumação se prolonga no tempo (o sequestro e o cárcere privado, por exemplo), considerar- se-á o agente em flagrante delito, até que cesse sua atividade criminosa. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA A audiência de custódia é uma medida de controle judicial que atribui à autoridade de polícia judiciária, responsável pela prisão de uma pessoa, o dever de apresentá-la à autoridade judiciária, para deliberar sobre a legalidade da medida constritiva de liberdade. No âmbito da Justiça Militar da União, está disciplinada, atualmente, na Resolução nº 228, de 26 de outubro de 2016. No que tange à audiência de custódia, o procedimento da polícia judiciária militar deve ser o de informar a prisão, nos termos da lei, aguardar a designação da audiência pelo juízo e, uma vez designada, efetuar a condução do preso à presença do juiz, nos termos da alínea h, do artigo 8º, CPPM. Passemos agora, a analisar o procedimento de persecução criminal daquele que muitos denominam de “crime militar por excelência”, qual seja: a deserção. PROCEDIMENTO EM CRIMES DE DESERÇÃO: DA DESERÇÃO EM GERAL O procedimento no crime de deserção é marcado pela celeridade e simplificação dos atos processuais. O início da persecução penal se dá por meio da instrução provisória de deserção (IPD). A celeridade é compreensível, pois, conforme Cláudio Amin (2020, p. 172): Na quase totalidade dos casos não se discute a questão da existência do delito, ou seja, o réu geralmente admite que não possuía autorização para se ausentar. Assim a controvérsia se restringe à justificativa da ausência, isto é, a defesa procura demonstrar que o réu se encontrava, por exemplo, em dificuldades financeiras, passando por problemas depressivos, resultando, quando aceito o motivo, num decreto absolutório, com fundamento na inexigibilidade de conduta diversa, seja como causa supralegal de exclusão da culpabilidade, seja pelo estado de necessidade exculpante, previsto no artigo 39 da Legislação Penal Castrense. Vejamos, então, o rito no CPPM, começando pela parte geral aplicável aos réus oficiais e praças: Termo de deserção. Formalidades Art. 451. Consumado o crime de deserção, nos casos previsto na lei penal militar, o comandante da unidade, ou autoridade correspondente, ou ainda autoridade superior, fará lavrar o respectivo termo, imediatamente, que poderá ser impresso ou datilografado, sendo por ele assinado e por duas testemunhas idôneas, além do militar incumbido da lavratura. § 1º A contagem dos dias de ausência, para efeito da lavratura do termo de deserção, iniciar-se-á a zero hora do dia seguinte àquele em que for verificada a falta injustificada do militar. § 2º No caso de deserção especial, prevista no art. 190 do Código Penal Militar, a lavratura do termo será, também, imediata. O delito de deserção consuma-se com mais de oito dias de ausência, com exceção do delito de deserção especial (art. 190 do CPM). O período de oito dias é o chamado período de graça. Assim, são contados 8 dias, tendo como termo inicial o dia seguinte ao da ausência. A contar do primeiro momento do nono dia está caracterizado o delito de deserção. Exemplo: Em 5 de março de 2020, o militar falta à sua Organização Militar. - 06 de março às 00:00 inicia-se a contagem do prazo de graça. - 14 de março às 00:00 consuma-se o delito de deserção. No primeiro momento do dia 14 o crime está consumado. Assim que houver a consumação do delito, a autoridade militar (comandante da unidade, ou autoridade correspondente, ou ainda autoridade superior) deverá lavrar o TERMO DE DESERÇÃO, que deverá também ser assinado por duas testemunhas idôneas. OBS: Na deserção especial (art. 190 CPM) não há que se falar em período de graça. OBS: NÃO haverá termo de deserção nos delitos descritos nos artigos 188, IV (militar que consegue a exclusão do serviço ativo ou situação de inatividade, criando ou simulando incapacidade), 193 (favorecimento a desertor) e 194 (omissão de oficial), todos do Código Penal Militar. É importante destacar que o termo de deserção é peça coercitiva que autoriza a prisão do desertor (art. 452 do CPPM), independentemente de prévia ordem judicial, em razão de autorização constitucional prevista no artigo 5º, LXI, da Constituição Federal, que autoriza a prisão nos crimes propriamente militares sem a prévia ordem da autoridade judiciária. De acordo com o artigo 453 do CPPM “o desertor que não for julgado dentro de sessenta dias, a contar do dia de sua apresentação voluntária ou captura, será posto em liberdade, salvo se tiver dado causa a retardamento do processo. ” Como se vê, trata-se de uma prisão ex vi legis (prisão por força da lei). Todavia, a jurisprudência do E. STM, bem como a do E. STF vêm afastando tal possibilidade. De fato, é firme o posicionamento tanto da doutrina quanto da jurisprudência no sentido de que a liberdade é a regra no Brasil, devendo o investigado/indiciado ficar preso cautelarmente somente nos casos em que estiverem presentes os requisitos que autorizam a decretação de uma prisão preventiva. Nesse sentido, trago um dentre diversos precedentes do STF: A prisão processual prevista no dispositivo inscrito no art. 453 do CPPM não prescinde da demonstração da existência de situação de real necessidade, apta a ensejar, ao Estado, quando efetivamente configurada, a adoção – sempre excepcional – dessa medida constritiva de caráter pessoal, a significar que a Justiça Militar deve justificar, em cada caso ocorrente, a imprescindibilidade da medida constritiva do “status libertatis” do indiciado ou do acusado, sob pena de caracterização de ilegalidade ou de abuso de poder na decretação de prisão meramente processual.(HC 112487, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 24/09/2013) Assim, no momento em que o Juízo converte a segregação cautelar em prisão preventiva, e devidamente a fundamenta, não se impõe prazo para a sua manutenção, desde que presentes os seus pressupostos autorizadores. É dizer: o indiciado pelo crime de deserção poderá ficar preso até mesmo por prazo superior a 60 dias, desde que ainda presentes os requisitos da prisão preventiva. O STM já confirmou esse entendimento: EMENTA: HABEAS CORPUS. DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. CRIME DE DESERÇÃO. PRISÃO CAUTELAR. CONVERSÃO. PGJM. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO WRIT. PRISÃO EX LEGE. NÃO OCORRÊNCIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DA CUSTÓDIA PREVENTIVA. REJEIÇÃO. DECISÃO POR UNANIMIDADE. MÉRITO. (...) In casu, não há de falar em expiração do prazo de 60 (sessenta) dias, constante do art. 453 do CPPM, fator que poderia ensejar discussão acerca da eventual perda de objeto. Preliminar rejeitada por unanimidade. No momento em que o Juízo converte a segregação cautelar em prisão preventiva, e devidamente a fundamenta, não se impõe prazo para a sua manutenção, desde que presentes os seus pressupostos autorizadores. A melhor exegese doutrinária segue a linha de que a prisão cautelar deve estar obrigatoriamente comprometida com a instrumentalização do processo criminal. Trata-se de medida de natureza excepcional, que não pode ser utilizada como cumprimento antecipado de pena, ao passo que o juízo que se faz, para sua decretação, não é deculpabilidade, mas de periculosidade. Vige no Ordenamento Jurídico brasileiro o princípio da duração razoável da prisão cautelar, o qual impõe, nessa medida constritiva da liberdade, a observância de prazo razoável, não bastando, para sua manutenção, a presença da estrita tipicidade legal. Quando ficar demonstrada a exigência de manutenção do encarceramento processual, para o crime de deserção, até o recebimento da denúncia, outra exegese não há senão a de que estar-se-ia a criar regra jurídica genérica, obstando a soltura de todo indiciado, sob a espera do implemento da condição de procedibilidade, o que se mostra irrazoável. Concessão da ordem. Decisão por unanimidade (Superior Tribunal Militar. HABEAS CORPUS nº 7000085-39.2021.7.00.0000. Relator(a): Ministro(a) LEONARDO PUNTEL. Data de Julgamento: 18/03/2021, Data de Publicação: 29/03/2021) Assim, na prática, apesar de o artigo 453 do CPPM determinar a manutenção da prisão do desertor no prazo de 60 dias, os juízes somente mantêm presos quando presentes os requisitos do artigo 254 e uma das hipóteses do artigo 255, ambos do CPPM. Por exemplo, quando o suposto desertor se apresenta na Organização Militar, via de regra é posto em liberdade por ocasião de sua audiência de custódia, já que revela querer resolver sua pendência perante a administração e o serviço militar. Por outro lado, quando o suposto desertor é capturado, via de regra os juízes o mantêm preso após a Audiência de Custódia, já que há grave risco de, em sendo posto em liberdade, cometer uma segunda deserção. Ora, vê-se que em momento algum o agente revelou ânimo de colaborar com a resolução de sua pendenga, sendo certo que somente se apresentou perante a Justiça Militar em razão de sua captura pela autoridade de polícia judiciária militar. Pois bem. O nosso módulo tem como foco trazer a vocês as noções sobre procedimentos de investigação criminal (atos de polícia judiciária militar). Desse modo, não é o nosso foco falar, neste momento, sobre a fase processual. Todavia, a fim de deixar o material de apoio de vocês um pouco mais completo, vou tecer breves comentários sobre o processo de rito especial do crime em análise. “PROCESSO” DE DESERÇÃO DE OFICIAL Consumado o delito de deserção, o Comandante da Organização Militar fará lavrar o termo de deserção e ordenará a sua publicação em Boletim Interno da Organização Militar. Será também acompanhado da parte de ausência (documento que foi confeccionado 24 horas depois do começo da contagem da ausência do militar). Outra importante medida administrativa com a ocorrência da deserção é a agregação do oficial, que ficará nessa situação até trânsito em julgado do processo de deserção. QUESTÃO: O que é a agregação? Agregação é a situação na qual o militar da ativa deixa de ocupar vaga na escala hierárquica de seu Corpo, Quadra, Arma ou Serviço (art. 80 da Lei 6.880/80 – Estatuto dos Militares). É extremamente importante vocês atentarem para esse detalhe! Esclareço que, com a agregação, o oficial desertor não perde a condição de militar, porém deixará de ocupar vaga na escala hierárquica de seu Corpo, Quadra, Arma ou Serviço. Feita a publicação em boletim, a autoridade militar remeterá, em seguida, o termo de deserção ao Juízo competente, juntamente com a parte de ausência, o inventário do material permanente da Fazenda (material que o militar deixou na Unidade Militar) e as cópias do boletim ou documento equivalente e dos assentamentos do desertor (informações profissionais do oficial desertor). Recebido o termo de deserção e demais peças, o juiz mandará autuá-los e dar vista ao membro do MP pelo prazo de 5 dias. O membro do MP terá 3 opções: 1ª) requerer diligências à autoridade militar (ex: a juntada do ato administrativo de agregação); 2ª) requerer arquivamento do autos ao Juiz, que se pronunciará sobre o pedido (súmula 13 do STM: A declaração de extinção de punibilidade em IPI, IPD e IPM deve ser objeto de decisão que, também determinará o arquivamento dos autos.); 3ª) oferecer denúncia. ATENÇÃO: O oficial, que está agregado, poderá ser denunciado pelo MP e o juiz poderá receber a denúncia de plano, independente da captura ou apresentação voluntária do suposto desertor. Essa diferença é fundamental em relação ao processo de deserção de praças, como veremos adiante. FASE PROCESSUAL Recebida a denúncia, o juiz togado determinará a suspensão do processo até que haja a apresentação voluntária do desertor ou a captura dele (art454, §4º, do CPPM). Observem que a apresentação voluntária ou a captura do desertor funciona como condição de prosseguibilidade da ação penal militar contra o oficial, ou seja, para que o processo prossiga, o oficial tem que “aparecer” (seja capturado ou apresentado voluntariamente). Apresentando-se ou sendo capturado o desertor, a autoridade militar fará a comunicação ao Juiz togado, com a informação sobre a data e o lugar onde o mesmo se apresentou ou foi capturado, além de quaisquer outras circunstâncias concernentes ao fato. Em seguida, procederá o juiz togado ao sorteio e à convocação do Conselho Especial de Justiça, expedindo o mandado de citação do acusado, para ser processado e julgado. Reunido o Conselho Especial de Justiça, presentes o MP, o defensor e o acusado, o presidente ordenará a leitura da denúncia, seguindo-se a oitiva das testemunhas arroladas pelo MPM, caso haja. OBS: Na maioria dos casos, o órgão de acusação, em se tratando de crime de deserção, não arrola testemunhas em sua exordial acusatório, o que é de se compreender, pois, via de regra, tal delito pode ser claramente comprovado mediante a prova documental. Por sua vez, a defesa poderá oferecer prova documental e requerer a inquirição de até 3 testemunhas, que serão arroladas dentro do prazo de 3 dias e ouvidas dentro do prazo de cinco dias, prorrogável até o dobro pelo Conselho, ouvido o MPM. Vale lembrar que, em razão do posicionamento firmado pelo Supremo Tribunal Federal nos autos do HC de nº 127900, o interrogatório será o último ato da instrução criminal. Encerrada a instrução processual, serão realizadas as sustentações orais pelo prazo máximo de 30 minutos e com possibilidade de réplica e tréplica por prazo não superior a quinze minutos. Posteriormente, será realizado o julgamento nos termos do artigo 434 a 450 do CPPM. “PROCESSO” DE DESERÇÃO DE PRAÇA COM OU SEM ESTABILIDADE E DE PRAÇA ESPECIAL Agora veremos o procedimento de apuração dos crimes de deserção cometidos por: a) Praça com estabilidade; b) Praça sem estabilidade; e c) Praça especial. Vejamos também alguns conceitos importantes para o desenvolvimento do presente tema: Estabilidade - adquirida pela praça quando ela atinge 10 anos ou mais de serviço ativo (art. 50, IV, “a” do Estatuto dos Militares). Praça especial - são os Guardas-Marinha, os Aspirantes-a-Oficial e os alunos de órgãos específicos de formação de militares (art. 16, §4º, do Estatuto dos Militares). Feitos esses esclarecimentos iniciais, vamos agora ao procedimento. Vinte e quatro horas depois de iniciada a contagem dos dias de ausência de uma praça, o comandante da respectiva subunidade, ou autoridade competente, encaminhará PARTE DE AUSÊNCIA ao comandante ou chefe da respectiva organização, que mandará inventariar o material permanente da Fazenda Nacional, deixado ou extraviado pelo ausente, com a assistência de duas testemunhas idôneas. Decorrido o prazo para se configurar a deserção, o comandante da subunidade, ou autoridade correspondente, encaminhará ao comandante, ou chefe competente, uma parte acompanhada do inventário. O Comandante da Unidade, após receber esses documentos, confecciona oTERMO DE DESERÇÃO, que será publicado em boletim e remetido ao Juízo Militar. Praça sem estabilidade ou Praça Especiais - serão excluídos do serviço ativo. Praças estáveis - serão agregados (assim como ocorre com os oficiais). Recebidos do Comandante da Unidade Militar, ou da autoridade competente, o termo de deserção e a cópia do boletim, ou do documento equivalente que o publicou, acompanhados dos demais atos lavrados e dos assentamentos, o juiz togado mandará autuá-los e dar vista do processo, por 5 (cinco) dias, ao membro do MPM, que requererá o que for de direito, aguardando-se a captura ou apresentação voluntária do desertor, se nenhuma formalidade tiver sido omitida, ou após cumprimento das diligências requeridas. OBS: Para oferecer a denúncia é necessária a presença da seguinte condição: Praça sem estabilidade ou Praça Especial - REINCLUSÃO Praças estável – REVERSÃO Vale destacar que o ato de reinclusão da praça especial ou a praça sem estabilidade não é automático. Assim, a praça somente será reincluída se, submetida a inspeção de saúde, for considerada apta para o serviço militar. A inaptidão reconhecida em inspeção de saúde impede a expedição do ato de reinclusão e, por consequência, obsta o oferecimento de denúncia pelo MPM ante a ausência de uma condição de procedibilidade (ato de reinclusão), resultando no arquivamento dos autos. De acordo com a súmula 8 do STM, tanto a incapacidade temporária como a definitiva para o serviço militar acarreta o arquivamento dos autos. Súmula 8 do STM: O desertor sem estabilidade e o insubmisso que, por apresentação voluntária ou em razão de captura, forem julgados em inspeção de saúde, para fins de reinclusão ou incorporação, incapazes para o serviço militar, podem ser isentos do processo, após o pronunciamento do representante do Ministério Público. O ato de reversão é o ato pelo qual o militar agregado retorna ao respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço tão logo cesse o motivo que determinou sua agregação, voltando a ocupar o lugar que lhe competir na respectiva escala numérica (art. 86 da Lei nº 6880/80). O ato de reversão é condição de procedibilidade para a ação penal para as praças com estabilidade (10 anos ou mais de serviço ativo). Súmula 12 do STM: A praça sem estabilidade não pode ser denunciada por deserção sem ter readquirido o status de militar, condição de procedibilidade para a persecutio criminis, através da reinclusão. Para a praça estável, a condição de procedibilidade é a reversão ao serviço ativo. ATENÇÃO: Lembrem que, quando o desertor é oficial, o MP/MPM oferece a denúncia e aguarda a captura (ou a apresentação voluntária) para prosseguir com a ação penal militar, ao passo que na hipótese de desertor praça o MP/MPM apenas propõe a ação penal militar depois da captura (ou apresentação voluntária) e reinclusão ou reversão ao serviço ativo. É muito importante atentar para esse detalhe! FASE PROCESSUAL Recebida a denúncia, o juiz determinará a citação do acusado. Na sequência, em dia e hora previamente designados, o Conselho Permanente de Justiça realizará a oitiva das testemunhas arroladas pelo Ministério Público (quase não ocorre). Por sua vez, a defesa poderá oferecer prova documental e requerer a inquirição de testemunhas, até o número de três, que serão arroladas dentro do prazo de três dias e ouvidas dentro de cinco dias, prorrogáveis até o dobro pelo Conselho, ouvido o Ministério Público. O interrogatório será o último ato da instrução processual. (STF HC nº 127900). Na Sessão de Julgamento, será realizada a sustentação oral, pelo prazo máximo de trinta minutos, podendo haver réplica e tréplica por tempo não excedente a quinze minutos, para cada Parte, passando o Conselho ao julgamento, observando-se o rito prescrito nos termos do artigo 434 a 450 do CPPM. DICA DE LEITURA: Para melhor visualizar a discussão sobre a necessidade de manutenção do status de militar da ativa para a apuração do crime de deserção, sugiro a leitura do artigo publicado na Edição 28 da Revista do MPM “Condição de prosseguibilidade no crime de deserção: necessidade de uniformização jurisprudencial entre o STM e o STF”, de autoria de Janaína Soares Prazeres Nascimento, disponível em: https://revista.mpm.mp.br/artigo/artigos-ineditos-condicao-de- prosseguibilidade-no-crime-de-desercao-necessidade-de-uniformizacao- jurisprudencial-entre-o-stm-e-o-stf/ Quanto a esse importante tema, podemos ainda considerar que a jurisprudência majoritária do Supremo Tribunal Federal, capitaneada pela Segunda Turma, é firmada no sentido de que “a qualidade de militar é elemento estrutural do tipo penal de deserção, de modo que a ausência de tal requisito impede o processamento do feito” (HC n. 115.754, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe 11.4.2013). Todavia, há julgados da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal nos quais se enfatizou que a condição de militar é exigida apenas no momento do recebimento da denúncia, não importando a posterior exclusão do réu do serviço https://revista.mpm.mp.br/artigo/artigos-ineditos-condicao-de-prosseguibilidade-no-crime-de-desercao-necessidade-de-uniformizacao-jurisprudencial-entre-o-stm-e-o-stf/ https://revista.mpm.mp.br/artigo/artigos-ineditos-condicao-de-prosseguibilidade-no-crime-de-desercao-necessidade-de-uniformizacao-jurisprudencial-entre-o-stm-e-o-stf/ https://revista.mpm.mp.br/artigo/artigos-ineditos-condicao-de-prosseguibilidade-no-crime-de-desercao-necessidade-de-uniformizacao-jurisprudencial-entre-o-stm-e-o-stf/ ativo das forças armadas para o prosseguimento da ação penal. Neste sentido, por exemplo: HC n. 194.276-AgR, Redator para o acórdão o Ministro Alexandre de Moraes, Relatora a Ministra Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 9.8.2021); HC n. 178.791- AgR, Relator o Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 18.6.2020); (HC n. 152.740-AgR, Relator o Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe 25.10.2019). Veja-se que essa é a posição que também prevalece no E. STM. Diante dessa divergência de compreensão entre as Turmas julgadoras, o Ministro Luiz Fux, então Presidente deste Supremo Tribunal, submeteu o tema ao Plenário, em repercussão geral, no Recurso Extraordinário n. 1.325.433- RG/DF. Entretanto, o STF, por maioria, reconheceu inexistente repercussão geral da questão, por não se ter, no caso, matéria constitucional. Tem-se na ementa do acórdão: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TEMA Nº 1.165. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR. CRIME DE DESERÇÃO (ART. 187 DO CPM). REINCORPORAÇÃO AO SERVIÇO MILITAR. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. NOVA DESERÇÃO. PERDA DA CONDIÇÃO DE MILITAR. CRIME PRÓPRIO. CONTROVÉRSIA SOBRE A CONTINUIDADE DA AÇÃO PENAL. AUSÊNCIA DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. CONTROVÉRSIA DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL. INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. É questão infraconstitucional, a ela aplicando-se os efeitos da ausência de repercussão geral, a controvérsia sobre a perda da condição de militar obstar ou não o seguimento da persecução penal pelo crime de deserção, mesmo após o recebimento da denúncia. 2. Recurso extraordinário não conhecido, ante a inexistência de repercussão geral da matéria, nos termos do art. 1.035 do CPC” (Repercussão Geral no RE n. 1.325.433/DF, Relatora a Ministra Rosa Weber, Plenário, DJe 9.9.2022). Nesse cenário, como a pendenga não foi resolvida entre as Turmas do STF, podemos dizer então que ainda é majoritário o entendimento capitaneado pela Segunda Turma do STF no sentido de que “o licenciamento das Forças Armadas também implica a falta de justa causa para o prosseguimento da ação penal em que se imputa ao acusado a prática do crime de deserção” (HC n. 204.997-AgR, Relator o Ministro Edson Fachin, DJe 2.9.2021).Feitas essas aprofundadas considerações, passemos a próximo procedimento especial previsto no CPPM. “PROCESSO” DE INSUBMISSÃO Vejamos esse peculiar tipo penal, somente previsto no CPM e somente praticado por civis: Insubmissão Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentando-se, ausentar- se antes do ato oficial de incorporação: Pena - impedimento, de três meses a um ano. Caso assimilado § 1º Na mesma pena incorre quem, dispensado temporàriamente da incorporação, deixa de se apresentar, decorrido o prazo de licenciamento Consumado o crime de insubmissão, o comandante, ou autoridade correspondente, da unidade para que fora designado o insubmisso, fará lavrar o TERMO DE INSUBMISSÃO, circunstanciadamente, com indicação, de nome, filiação, naturalidade e classe a que pertencer o insubmisso e a data em que este deveria apresentar-se, sendo o termo assinado pelo referido comandante, ou autoridade correspondente, e por duas testemunhas idôneas. O termo, juntamente com os demais documentos relativos à insubmissão, tem o caráter de instrução provisória (IPI), destina-se a fornecer os elementos necessários à propositura da ação penal e é o instrumento legal autorizador da captura do insubmisso, para efeito da incorporação. O comandante ou autoridade competente que tiver lavrado o termo de insubmissão deverá remetê-lo ao Juízo, acompanhado de cópia autêntica do documento hábil que comprove o conhecimento pelo insubmisso da data e local de sua apresentação, e demais documentos Aqui vale colacionar a Súmula 7 do STM, que prevê: “ O crime de insubmissão, capitulado no artigo 183 do CPM, caracteriza-se quando provado de forma inconteste o conhecimento pelo conscrito da data e local de sua apresentação para incorporação através de documento hábil constante dos autos. A confissão do indigitado insubmisso deverá ser considerada no quadro do conjunto probatório. ” Recebido o termo de insubmissão e os documentos que o acompanham, o Juiz togado determinará sua atuação e dará vista do processo, por 5 (cinco) dias, ao MPM, que requererá o que for de direito, aguardando a captura ou apresentação voluntária do insubmisso, se nenhuma formalidade tiver sido omitida ou após cumprimento das diligências requeridas. MENAGEM - O insubmisso terá o quartel por menagem e será submetido à inspeção de saúde. Se incapaz, ficará isento do processo e da inclusão. (Art. 464 CPPM) O ato de incorporação (inclusão às Forças Armadas) é condição de procedibilidade para essa ação penal militar. Incluído o insubmisso, o comandante da unidade, ou autoridade correspondente, providenciará, com urgência, a remessa à auditoria de cópia do ato de inclusão. O Juiz determinará sua juntada aos autos e deles dará vista, por 5 (cinco) dias, ao MP/MPM, que poderá requerer o arquivamento, ou o que for de direito, ou oferecer denúncia, se nenhuma formalidade tiver sido omitida ou após o cumprimento das diligências requeridas. FASE PROCESSUAL - Aplica-se ao procedimento de insubmissão, para sua instrução e julgamento, o previsto no CPPM para o procedimento de deserção (art. 465 do CPPM). CONCLUSÃO É isso aí pessoal! Chegamos ao final do nosso MÓDULO 3. Tivemos a oportunidade de estudar os procedimentos de investigação criminal (atos de polícia judiciária militar). Para maior aprofundamento nos temas, não deixem de ler a doutrina e a jurisprudência castrense, em especial a do E. STM. Aproveito para me despedir de vocês e dizer que foi uma grande satisfação ministrar o presente Módulo! DESEJO BONS ESTUDOS E SUCESSO A TODOS! Prof. Ataliba Ramos