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MATÉRIA 1: O processo de socialização e a formação da personalidade •A cultura humana e a construção do ser social: Ainda antes de nascermos somos seres em relação com o mundo. Primeiro so-mos gerados pelo imaginário materno, cultivados por meio da noção de mundo desse imaginário. Logo ao nascermos, iniciamos nossa jornada social. Somos atravessados pelas demandas familiares, somos frustrados por tais demandas ou temos sanado nossos desejos. Ou seja, nos constituímos na relação com o mundo influenciado pelas relações anteriores a nossa constituição. O sujeito enquanto ser social reflete seu universo psíquico por meio do seu comportamento, expressando sua subjetividade conforme seu modo de agir. Atravessado por suas escolhas e implicações ao mesmo tempo em que se relaciona com o mundo. Genuíno, efetivo, autêntico, assim o ser social é captado e dialética mente integrado ao viver. Possui capacidade inerente de transmutar a própria natureza e a si mesmo sincronicamente. Dessa forma, o ser social se constitui como ser criador, não somente por sua capacidade de pensar, mas também por sua capacidade de agir de forma consciente e racional (BARUS-MICHEL, 2004). • A subjetividade do universo psíquico é a relativização dos papéis sociais: O ser social se constitui de acordo com sua natureza relacional, assim sendo, a partir das relações com outros sujeitos, tomando para si a realidade vivenciada por culturas anteriores ao seu existir. Desfruta da oportunidade de experimentar o manuseio dos instrumentos e dos aprendizados cultivados pelas gerações anteriores, com o objetivo de adaptar, aprimorar ou mesmo perpetuar os conhecimentos. As relações sociais também são prévias e inerentes a todo sujeito. Por exemplo, seu histórico familiar, a história do local em que vive os acontecimentos sociais, entre outros, colocam o sujeito em constante movimento e transformação na construção do ser social. O universo interior de todos os sujeitos se forma de acordo com questões provindas da cultura humana, ou seja, muitas das formas de agir e pensar de todo sujeito surgem de acordo com movimentos vindos de sua relação com o mundo e são importadas para a estruturação do ser social. Assim, o ser social está em constante formação por meio das relações sociais provindas do tempo presente ou do passado. E se disponibiliza por meio da conexão com sua própria subjetividade e com a subjetividade inerente às vivências sociais. Passa adiante sua herança social em progressiva vinculação com o mundo exterior e com a continuidade da movimentação da cultura humana (BARUS-MICHEL, 2004). A subjetividade do universo psíquico e a relativização dos papéis sociais: Como vimos, o sujeito não está alheio aos preceitos sociais. Por estar em constante movimento constitutivo, se disponibiliza subjetiva e intrinsecamente. Articula, combina e se reinventa enquanto ser social, na busca por novas aprendizagens e modos de viver. Portanto, se aproximam reciprocamente os processos de constituição do psiquismo e do ser social, por meio da subjetivação das experiências relacionais. Logo, a dimensão afetiva está ativamente implicada na construção de ambos aspectos do desenvolvimento do sujeito. A personalidade é característica própria e singular de cada sujeito, constituindo uma forma de sentir, pensar e atuar que o torna único e incomparável. Possui três fatores que se entrecruzam em sua constituição: a estruturação genética básica, as influências do meio e o modo como o sujeito interpreta os acontecimentos. A estruturação genética básica se refere às características hereditárias herdadas da família, como os aspectos físicos, a cor da pele, olhos e cabelos, e aspectos emocionais, como tendência a oscilações de humor, fantasias e também transtornos graves, como a esquizofrenia. As influências do meio se referem às contribuições das relações sociais para o desenvolvimento do ser e o modo como o sujeito interpreta os acontecimentos, utilizando suas ferramentas potenciais, reunindo as características genéticas e o seu desen-volvimento social, relacionando de uma forma ao instrumentalizar para uma melhor fluência do seu modo de viver. A personalidade tem seu início estrutural ainda no útero materno. A maneira como a mãe sente e reage sobre a gestação começa a contribuir para a formação da personalidade. Ainda nos primeiros anos de vida, a criança se constitui enquanto sujeito, atribuindo sentido e relacionando seu existir no mundo. O modo como o mundo se apresenta para a criança, no início com a representação da família, seguida da escola e das demais relações sociais, vai definir o desenvolvimento da personalidade da criança. Vygotsky e Alexander (1996) referem sobre uma personalidade social construída conforme as relações ao longo da existência do sujeito. Dessa forma, podemos compreender que a constituição e formação da personalidade é atemporal, pois se desenvolve de acordo com o viver de cada ser. Todas as relações, vivências e percepções do mundo que nos rodeia atribuem significado, influenciando significativamente na formação da personalidade. E esta se coloca na seleção e atuação dos papéis sociais, conforme afinidade e preferências únicas a cada ser social. Sendo os papéis sociais criativos, estão implicados a vivenciar fenômenos transacionais , e dessa forma criam uma flexibilidade de atuação. Tanto a história individual, como os afetos, os valores e a posição que o sujeito ocupa colaboram para a constante formação e desenvolvimento das subjetividades do universo psíquico, assim como refletem a relativização dos papéis sociais (LEONTIEV, 1998). •Processos constituintes do ser por meio do social: Em um processo lento e atravessado por múltiplos fatores, o sujeito se constitui progressivamente e de maneira não linear, desde sua formação biológica até seu posicionamento enquanto ser social. Influenciado por sua hereditariedade histórica, compreende formas diversas de ser, pensar, se comunicar e agir. Desde a necessidade de manutenção da sua existência, em meio a luta para se manter vivo e protegido, assim como a sua família, o sujeito se adapta ao meio em que vive e ainda promove transformações propagando adaptações. É em meio a esse movimento que os sujeitos adquirem um “corpo social”, implicado no desenvolvimento de capacidades especificas para a sobrevivência social (MORIN, 1999). Até mesmo o desenvolvimento de aptidões motoras, a complexidade da linguagem , a afinação dos sentidos como visão, audição, olfato, gustação, tato e principalmente a propriocepção, que é a capacidade de perceber, inter-pretar e reagir a acontecimentos de acordo com as sensações percebidas em seu corpo orgânico, são processos desenvolvidos a partir do viver social. É possível afirmar que nossas habilidades são melhores, ou menos estruturadas, de acordo com nossa participação e implicação como seres sociais. Da mesma forma, pensamentos, sentimentos, emoções e desejos são com-postos diante das relações sociais. Apropriando-se da realidade, por meio das relações com os demais seres sociais, os sujeitos se apropriam da oportunidade do encontro para afinar seu modo de ser e acabam, muitas vezes, constituindo novos modos. Podemos dizer que o desenvolvimento orgânico, moral e emocional são instrumentos , ferramentas para a constituição e articulação do ser social. Cada sujeito escolhe a forma como manuseará cada instrumento e quais passará adiante, dando continuidade, dessa maneira, ao fluxo constante de construção de si e de outros seres sociais. Assim se dá a constituição do ser por meio do social, em um movimento constante de apropriação, trocas e afinações. Algumas conexões promovem mudanças mais profundas e podem tocar com profundidade a constituição do ser, como grandes tragédias e perdas, que podem ser distantes, próximas, coletivas, individuais, reais, eminentes, por exemplo, em questões relaciona-das à segurança, com o aumento da criminalidade, devido a furtos, assaltos, latrocínios e assassinatos, ou só existentes no imaginário de cada sujeito. Outras mudanças podemacontecer sutilmente, sem que exista uma reflexão sobre algum ocorrido, mudança de hábitos ou preferências, como ocorre, por exemplo, com a diminuição da necessidade de sono ao longo dos anos.