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TEORIA DA HISTORIA II Materialismo Histórico Dialético Discente: Pablo Plínio Mosqueiro de Agüiar A capitalização da Mulher O capítulo 7 de "Costumes em Comum", intitulado "A Venda de Esposas", aborda uma prática social complexa e controversa que se desenvolveu na Inglaterra, especialmente entre as classes populares durante os séculos XVIII e XIX. Thompson analisa a venda de esposas não apenas como um ato isolado, mas como parte de um contexto sociocultural e econômico mais amplo, refletindo mudanças nas percepções sobre o casamento, a moralidade e a propriedade. Thompson inicia o capítulo ressaltando que, em 1850, a prática da venda de esposas era considerada tão bárbara que muitos ingleses preferiam ignorá- la. O livro “The Book of Days” (1878) atribuiu a responsabilidade dessa prática à população rural, enquanto representações francesas dos ingleses enfatizavam sua brutalidade (p. 305). Essa visão negativa é contrastada com a análise mais profunda que Thompson propõe. O autor menciona que as fontes disponíveis para estudar a venda de esposas são enigmáticas e opacas. Tanto “The Book of Days” quanto “The Mayor of Casterbridge” retratam a compra direta de esposas sem ritualização (p. 306). Thompson e Menefee, outro pesquisador, coletaram dados sobre o tema, com Thompson encontrando 300 casos e Menefee 387. Ambos redefinem o ritual como uma forma de dados, embora Menefee apresente inconsistências em seu material (p. 307). Thompson rejeitou 50 dos casos que coletou, resultando em 250 casos válidos. Ao comparar suas coletas, observe-se uma sobreposição significativa: cerca de 150 casos se repetem entre os dois autores, totalizando aproximadamente 400 casos únicos (p. 308). O capítulo detalha que havia duas formas principais de realizar a venda de esposas: na praça pública ou na taverna, sendo esta última mais comum entre 1830-1840 (p. 309). A visibilidade da prática começou a chamar a atenção da TEORIA DA HISTORIA II Materialismo Histórico Dialético Discente: Pablo Plínio Mosqueiro de Agüiar classe média e da imprensa no início do século XIX, possivelmente devido às mudanças na consciência social e nos padrões morais (p. 309). Embora a venda de esposas tenha sido praticada antes de 1790, seu silêncio na imprensa sugere uma indiferença generalizada a um traje considerado comum (p. 310). O clímax das vendas parece ter ocorrido na década de 1830, mas os dados devem ser interpretados com cautela, pois o ritual já existia há anos sem o mesmo nível de cobertura midiática (p. 310). A opinião esclarecida da metade do século XIX considerava que a prática era restrita às classes populares, especialmente nas áreas rurais (p. 312). Quando ocorria entre as classes mais altas, era alvo de diversas críticas na imprensa, onde as mulheres eram frequentemente descritas por sua aparência ao invés de suas ocupações (p. 313). As transações muitas vezes envolviam trocas por cerveja, animais ou dinheiro (p. 314). Thompson delineia formas de rituais que caracterizam essas vendas: A venda deveria ocorrer em um local reconhecido socialmente. Um anúncio público precede a venda. A corda era um elemento simbólico essencial. Um leiloeiro poderia ser responsável pela condução do evento. A troca financeira era uma formalidade necessária. Juramentos semelhantes ao casamento foram feitos durante o ritual. Esses elementos indicam uma tentativa de legitimar a prática dentro dos parâmetros sociais da época (p. 315-320). Thompson argumenta que para um cristão moral, a venda de esposas era considerada ilegal e imoral, subestimando o valor do matrimônio (p. 322). No entanto, ele propõe uma reinterpretação: ao invés de ver a venda como uma brutalidade semelhante à venda de gado, sugere-se que ela poderia ser entendida como uma forma de prestação seguida por um novo casamento (p. 323). TEORIA DA HISTORIA II Materialismo Histórico Dialético Discente: Pablo Plínio Mosqueiro de Agüiar O mais curioso era o pré-requisito obrigatório que consistia no consentimento da esposa que era fulcral para validar a venda; muitas vezes o comprador já era um amante predeterminado (p. 323). Isso levanta questões sobre por que as partes envolvidas ainda optaram pelo ritual público da venda quando tinham outras opções como fuga ou abandono. Thompson classifica os dados encontrados em várias categorias: 1. Sem registro da esposa: A venda não era válida se a mulher se opusesse claramente. 2. Com registro: Relatos indicam que algumas esposas estavam satisfeitas com a transação. 3. Sem informação: Casos onde não há esclarecimento sobre o consentimento. 4. Divórcio arranjado: Vendas para parentes. 5. Esposa vendida ao amante: Sem casos explícitos documentados. Essa classificação revela nuances na dinâmica das relações entre os gêneros e das expectativas sociais da época (p. 328-330). O autor menciona uma certa burocracia envolvida no ritual da venda: consentimento da mulher, má conduta do marido e características do comprador eram fatores relevantes (p. 331). Thompson sugere que essa prática pode ter sido uma "tradição inventada", surgindo como resposta às novas necessidades sociais após guerras e separações amorosas (p. 333). As condições para a venda refletem um contexto onde o documento formal não era acessível às classes populares; assim, a venda se torna uma alternativa viável (p. 334). Thompson também abordou críticas feministas ao seu trabalho, confirmando que sua abordagem pode não se alinhar perfeitamente com narrativas tradicionais sobre opressão feminina (p. 344). Ele argumenta que mesmo ao essas redefinições de vendas como consentidas, ainda se tratava da troca de mulheres entre homens. TEORIA DA HISTORIA II Materialismo Histórico Dialético Discente: Pablo Plínio Mosqueiro de Agüiar Por fim, ele conclui que as relações entre os sexos estavam acontecendo por transformações nas comunidades proto-industriais; embora não se possa falar em "direitos" no sentido moderno, as mulheres não eram meros sujeitos passivos na história (p. 346). Em sua análise sobre o método marxista aplicado à economia política, Claus Germer destaca: Que o método de Marx e Engels deve ser compreendido como um todo, onde o materialismo dialético serve como base para a análise social. Esse método permite entender as práticas sociais, como a venda de esposas, dentro de um contexto mais amplo que inclui fatores econômicos e históricos. Ao interligar os 2 textos, a análise das relações de poder é central tanto para Thompson quanto para Germer. Enquanto Thompson revela como as mulheres eram protegidas como mercadorias em um sistema patriarcal, Germer discute como o método dialético pode ser aplicado para entender essas relações dentro do contexto capitalista. A interseção entre "A Venda de Esposas" e "O Método Materialista e Dialético de Marx e Engels" reside na busca por uma compreensão mais profunda das relações sociais e econômicas. Enquanto Thompson foca em um aspecto específico da vida social inglesa do século XIX, Germer oferece uma estrutura teórica que pode ser aplicada para análise semelhante em diferentes contextos históricos. Ambos os textos incentivam uma reflexão crítica sobre normas sociais impostas e propõem métodos para entender melhor as complexidades das interações humanas. Esse entendimento é crucial para contextualizar práticas sociais como a venda de esposas dentro das dinâmicas econômicas e sociais mais amplas. Thomson, revela não apenas uma prática social peculiar, mas também reflete questões profundas sobre identidade, propriedade e autonomia feminina em um período histórico marcado por mudanças sociais significativas. TEORIA DA HISTORIA II Materialismo Histórico Dialético Discente: Pablo Plínio Mosqueiro de Agüiar Referencias: GERMER, C. O método materialista e dialético de Marx eEngels. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, vol. 12, nº 3, pp. 45-76, outubro 2020. THOMSON, E.P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. Cap. 7; pp. 305-348.