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ESTUDO DAS CORES CAPI�TULO 2 – COMO PERCEBEMOS AS CORES? Carolina Carpinelli Caetano Introdução O céu é azul, a banana é amarela, a areia é marrom: no dia a dia nós pensamos e falamos em cor exatamente dessa forma. Mas você já parou para pensar como você vê uma cor? Será que todo mundo ao seu redor percebe uma cor exatamente como você percebe? Algumas vezes as cores possuem signi�icados para você que para outros pode parecer diferente. A percepção de cores vai muito além do fı́sico. Existem vários fatores psicológicos envolvidos nesse processo. A cor pode aumentar a memorização e dar identidade à um projeto de design. Além disso, as cores afetam nosso sistema nervoso e nossas emoções. Elas são as principais aliadas em um processo criativo. Utilizando- as da maneira correta, ou seja, com contrastes interessantes e a harmonia perfeita, é possı́vel destacar, atrair a atenção, despertar desejo de compra, transmitir uma mensagem, dar identidade, agregar signi�icado, entre tantas outras funções que a cor tem dentro de um projeto de design. Seguindo os questionamentos acima e evidenciando sua importância, conceituaremos elementos da harmonia e percepção cromática, abordaremos os principais tipos de harmonização de cores e, na sequência, iremos conhecer algumas teorias sobre percepção das caracterı́sticas da cor e complementariedade. Nossas re�lexões serão guiadas pela abordagem técnica, que será estudada com mais profundidade. Ao �inal do capı́tulo teremos o conhecimento sobre conceitos relacionados à lei de contraste simultâneo das cores e poderemos realizar experimentações de acordo com o tópico estudado. Iremos também, compreender como embasar um trabalho de design em relação à pesquisa cromática, qual sua importância no desenvolvimento de um projeto e como essa atividade pode ser realizada. Conhecer as diversas combinações de cores é essencial para o trabalho de criação e produção de moda. O uso correto do cı́rculo de cores pode ser o ponto inicial para a construção de estampas, peças e looks inovadores. Acompanhe este capı́tulo com atenção, ele será primordial para você ingressar nos estudos acadêmicos da área de design de moda! 2.1. Elementos da harmonia e a percepção cromática Iniciaremos conceituando os termos harmonia e percepção para termos maior clareza nessa re�lexão. Clique nas abas a seguir para conhecer esses conceitos. Harmonia é a combinação de elementos ligados por uma relação de pertinência, que produz uma sensação agradável e de prazer. Percepção é ter consciência, impressão ou intuição de algo. Muito se fala sobre a sensação que a cor nos dá, entretanto há diferenças entre a sensação e percepção cromática. Segundo Pedrosa (2010) a sensação da cor é provocada pela ação da luz sobre o órgão da visão. • • • Harmonia Sensação da cor A percepção da cor é um fenômeno bastante complexo, pois além da sensação há também fatores do cérebro humano que alteram o que se vê. Pedrosa (2010) exempli�ica esse fenômeno por meio de um exemplo comum na vida de todos: um lençol branco. Suponha que coloquemos um lençol branco sob diferentes luzes, uma delas com a cor um pouco amarelada e a outra mais violeta. Se perguntarmos para alguém: Qual a cor do lençol? Quais seriam as respostas? Provavelmente a maioria, ou quase todos, responderia branco. O lençol sempre nos parecerá branco, apesar de, na realidade, por conta da iluminação, estar amarelado ou mais próximo do violeta. Esse exemplo nos mostra que muitas vezes podemos perceber as cores da maneira que elas não são de fato. Nesse caso nós já tı́nhamos a informação de que aquele objeto era branco então o percebemos como branco mesmo não estando branco. Esse fenômeno pode ser chamado de “constância da cor”. Já a percepção envolve elementos fı́sicos e �isiológicos e os dados psicológicos que modi�icam o que se vê. Para Fraser (2007, p. 30) a percepção é um processo que se baseia na ação na probabilidade e na experiência. “A imagem que percebemos é um elemento de um processo - O processo de perceber. Podemos incluir nesse processo todos os elementos constituintes da vida. Assim, concluı́mos que objeto de percepção são parte de uma mesma coisa, incluem-se numa só totalidade”. VOCÊ SABIA? A cromoterapia é um tratamento alternativo que consiste na utilização das cores para curar enfermidade e restaurar o equilıb́rio fıśico e emocional das pessoas. O tratamento cromoterápico é utilizado desde tempos antigos por egıṕcios, gregos, chineses e indianos. Suas aplicações foram comprovadas por experimentações. Goethe realizou estudos sobre as cores, chegando à conclusão que elas possuem um determinado efeito ao corpo humano: o vermelho estimula; o azul suaviza; o amarelo causa alegria e o verde é relaxante. Existem diversas técnicas que podem ser utilizadas como: harmonização, luz do espectro solar, lâmpadas coloridas, alimentação natural, mentalização das cores e o contato com a natureza (SILVA; MONTEIRO, 2006). Percepção da cor Existem três caracterı́sticas principais que correspondem aos parâmetros básicos da cor: a Matiz; o Valor, Luminosidade ou Brilho; e o Croma. A seguir, iremos nos aprofundar nesses três parâmetros tão importantes no âmbito do estudo das cores. 2.1.1 Tom ou tinta Tom ou matiz é o aspecto da cor que possibilita distinguir os diversos tipos de cores, e realizar a sua própria classi�icação conforme a sua tonalidade, como por exemplo, diferenciar um amarelo em amarelo esverdeado ou amarelo alaranjado. Diz respeito a maior ou menor porção de luz que está presente na cor. Quando se acrescenta preto a um certo nuance ele se torna gradativamente mais escuro. Essas gradações que ocorrem podem ser denominadas de escalas tonais. Para se obter escalas tonais mais claras adiciona-se o branco. Considera-se tom a escala do claro ao escuro, de uma certa cor, em relação a uma proporção de cinzas que matiza do branco ao preto. As cores mais claras manifestam mais luz e possuem um elevado valor tonal, ao contrário das cores mais escuras. Clique a seguir para conhecer mais sobre os conceitos de tonalidade e tom. Para Farina et al (2006, p. 70), ao acrescentar branco e preto, ou seja, o cinza, a uma cor, ocorrerá a de�inição de uma tonalidade. “Uma cor com branco nos dará um matiz; uma cor com preto nos dará um sombreado”. Além disso, ao juntar o cinza com uma cor ocorrerá a tonalidade. Tonalidade Tom Tonalidade é a nomenclatura usada no âmbito cromático para categorizar os vermelhos, amarelos, azuis entre outras cores. Ainda que o vermelho e o amarelo sejam duas cores inteiramente distintas, é da combinação dessas duas cores que se dá o laranja. Ao misturarmos amarelo e verde temos de resultado o amarelo esverdeado, entre tantos outros casos. Segundo Farina et al. (2006), tom é a transformação qualitativa da cor e está propriamente relacionado aos comprimentos de onda. Fraser (2007) a�irma que o termo tom ou matiz é a propriedade da cor mais difı́cil de descrever, pois, apesar de todo mundo perceber as cores quase que da mesma maneira, nem sempre elas concordarão que certa cor é exatamente aquela que se trata. 2.1.2 Saturação A saturação diz respeito ao vigor ou palidez e a pureza ou intensidade de uma determinada cor. As cores puras, por exemplo, estão completamente saturadas. A saturação mensura a quantidade de uma certa cor quando ocorre uma fusão de cores, ou seja, quanto mais saturada for a cor de algo, maior sensação de movimento ela transmite. Para Pastoureau apud Farina et al. (2006) a�irmar que a saturação é a faculdade que essa cor tem de se concentrar sobre si mesma não seria errado, entretanto é algo vago. Para o autor, E� , uma maneira de dizer menos abstrusa do que de�inir a saturação como – a dissolução num lı́quido da massa maximal de uma substância colorida – e explicar a ação de saturar pelo fato de – levar uma solução,colorida por uma matéria dissolvida, a conter a maior quantidade possı́vel desse corpo dissolvido (PASTOUREAU apud FARINA, 2006, p. 71). Farina et al. (2006) a�irma ainda que quando não se coloca nem branco, tampouco preto numa cor, porém ela está conforme o comprimento da onda que lhe é correspondente no aspecto solar, haverá uma cor saturada. Ao misturar uma cor na outra, ela perde a sua intensidade e parecerá mais desbotada e opaca. E� por esse motivo que se pode a�irmar que a saturação é a quantidade de cinza que existe dentro de uma cor, ou seja, quanto mais cinza a cor tiver, menos saturada e viva ela será. A saturação pode ser reduzida adicionando cinza. 2.1.3 Luminosidade ou valor A luminosidade é a intensidade da luz que re�lete na superfı́cie onde se encontra a cor, podendo diferenciá-la entre claro, quando se aproxima do branco, e escuro, quando se aproxima do preto. A luminosidade das cores altera verticalmente. As cores podem ser categorizadas em claras e escuras quando se compara a sua luminosidade. A luminosidade é uma propriedade muito importante, pois ela criará sensações relacionadas ao espaço, mediante a cor. Portanto, fragmentos de uma mesma cor com grandes distinções de valor determinam frações distintas no espaço, ao passo que uma alteração gradativa no valor de uma cor dará a percepção de contorno e de continuidade de uma coisa no espaço. Quanto mais se adiciona branco a uma cor, aumenta a sua claridade, dando-lhe um valor mais alto, à proporção que se acrescentar mais preto a uma cor reforça a sua obscuridade, dando-lhe um valor mais baixo. Quanto mais brilhante a cor, dá-se mais a impressão de que o objeto está mais perto do que na verdade está. Segundo Farina et al. (2006, p. 71), “a luminosidade decorre da iluminação, assim como a saturação e a cor. E� por isso que, à noite, na praia, não vemos a areia tão branca como de dia. Quando acrescentamos o preto a uma determinada cor, reduzimos sua luminosidade”. O conceito de luminosidade é muito signi�icativo para a pintura a óleo, já que o sucesso de um pintor está na sua habilidade em distinguir os diversos valores para uma gama de cores e estar apto a executá-las em seu labor, dando profundidade por meio da correção utilização de luzes e sombras. O quadro acima pode ser observado em softwares relacionados à criação de imagens digitais. Ao movimentar o cursor para os lados é possı́vel modi�icar o valor na escala de matiz das cores. Ao movimentar para cima e para baixo é possı́vel modi�icar a saturação, deixando as cores mais puras, intensas ou mais “lavadas”. Movimentando o cursor para cima e para baixo ao lado direito é possı́vel modi�icar a luminosidade da cor, ou seja, você consegue deixar as cores mais claras ou mais escuras. Figura 1 - A �igura ilustra a diferença entre as três dimensões em relação às cores: matiz, saturação e luminosidade. Fonte: Elaborado pela autora, 2019. 2.2 Harmonização Diversos estudos relacionados à sistemas grá�icos foram feitos, porém nenhum dos estudiosos conseguiu se impor como um método internacional de representação das cores. Segundo Pedrosa (2010), conhecemos nesse século a primeira sistematização grá�ica das cores que foi aceita em escala internacional: o diagrama tri- cromático XYZ, ou também chamado de trı́plice estı́mulo. A teoria tricromática a�irmava que o olho humano tem receptores para três cores primárias – vermelho, verde e azul – e as outras cores seriam combinações feitas pelo cérebro. Ela foi recomendada em 1931 pela Comissão Internacional de Iluminação e complementa o sistema RGB (R: red, G: green e B: blue). Como os meios de codi�icação colorimétrica se aperfeiçoaram, as referências às cores tornaram-se mais precisas. Por conta disso se desenvolveu a especi�icidade das três formas de designação das cores: verbal, matemática e a linguagem cromática. A verbal se dá por meio de comparações com elementos naturais, entretanto pode haver uma nomenclatura imprecisa. A matemática é precisa, entretanto subjetiva para o grande público. Já a linguagem cromática é precisa e concreta, mas continua restrita a um número pequeno de pessoas que tenham conhecimento. A di�iculdade na aplicação dos códigos referenciais de cores se dá por conta da falta de conhecimento sobre elementos especı́�icos das mais diversas áreas de aplicação da cor. Isso fez com que se tornasse necessária a adoção de métodos que sensibilizem a ver mais e melhor. 2.2.1 Sistema gráfico de harmonização de cores Os diversos estudos em torno de manifestações cromáticas reconhecem que existem três grupos principais de estı́mulos visuais: um formado pelas cores-luz e dois pelas cores-pigmento. A �igura abaixo representa um cı́rculo de 12 tons. No cı́rculo estão presentes as cores-luz primárias (vermelho, verde e azul-violetado) e as secundárias (magenta, amarelo e ciano) que produzem as terciárias (vermelho- violetado, laranja, amarelo-esverdeado, verde-azulado, azul e violeta). Nesse caso temos sete cores predominantemente frias e cinco cores quentes. O que intriga nessa organização é a relatividade da composição e estrutura, quando observamos a alternância de luminância e re�letância. (PEDROSA, 2010). O laranja e o violeta, habitualmente vistos como cores secundárias, apare¬cem como terciárias, enquanto o azul tirante ao cobalto, que é primária em cor-pigmento opaca, surge como cor terciária. VOCÊ O CONHECE? Israel Pedrosa é um pintor, pesquisador, professor universitário e escritor brasileiro. Foi discıṕulo de Ferrucio Dami e Portinari. Se formou na Escola Superior de Belas-Artes de Paris. Foi professor na Universidade Federal Fluminense. Ele escreveu os principais livros brasileiros sobre teoria das cores: Da cor à cor inexistente e O Universo da Cor. Seu livro Da cor à cor inexistente, publicado em 1977, ganhou o Prêmio Thomas Mann, oferecido pela Embaixada da Alemanha. O pesquisador observou que objetos idênticos de cor branca sob efeito da luz solar, em iguais circunstâncias e intensidade, manifestavam, sem que houvesse interferência externa, cores em diversos matizes. Em fevereiro de 2018 ele faleceu deixando seu grande legado ao estudo das cores. Desde as primeiras descobertas de J. C. Le Blon em 1730, o vermelho, o amarelo e o azul foram adotados como trı́ade primária. Com o desenvolvimento das pesquisas evidenciou-se que o vermelho não é cor primária em cor-pigmento. A trı́ade magenta, amarelo e ciano torna-se a verdadeira geratriz das demais cores-pigmento, com sete cores frias e cinco de cores quentes. “A mistura do vermelho com o azul em cores- pigmento não produz o violeta, o que demonstra que o vermelho não é cor primária (geratriz), mas, pela facilidade do emprego do vermelho já pronto em cor-pigmento opaca, os pintores continuam a utilizar a trı́ade indicada por Le Blon” (Pedrosa, 2010, p. 146). Com o objetivo de estabelecer o maior controle possı́vel sobre as várias manifestações dos fenômenos cromáticos relativas às atividades, Pedrosa (2010) reúne uma série de observações num conjunto esquematizado - um Sistema Grá�ico de Harmonização de Cores. 2.2.2 Círculos de harmonização e módulo de mensuração Dentro do sistema Grá�ico de Harmonização de Cores, desenvolvido por Israel Pedrosa, há dois Cı́rculos de Harmonização. Nos cı́rculos abaixo, as cores complementares estão opostas. Figura 2 - Cı́rculo cromático com 12 cores. Fonte: Elaborado pela autora, 2019. O autor a�irma que os diversos estudos sobre cor ao longo dos anos demonstram que todos os fenômenos cromáticos são regidos basicamente por quatro fatores, listados a seguir. Clique para conferir. Figura 3 - A �igura apresenta dois cı́rculos de harmonização. As cores quentes quando mais claras combinam-se com as cores frias mais escuras e vice-versa, gerando um equilı́brio. Fonte: PEDROSA, 2010, p. 128-129. I. Quantidade Extensão das áreas coloridas. II. QualidadeCaracterı́sticas das cores. III. Forma Caracterı́sticas das áreas coloridas. IV. Posicionamento Relacionamento e integração das áreas coloridas. Os dois cı́rculos estão divididos pela metade horizontalmente. Ao observarmos a metade superior do Cı́rculo 1, partindo de seu maior ı́ndice de crominância, as cores dessaturam-se no sentido central (branco). Ao analisarmos a metade inferior as cores se rebaixam até o centro (preto). Analisando os dois cı́rculos é possı́vel observar que as metades do Cı́rculo 2 complementam as metades do Cı́rculo 1, ou seja, todos os 12 tons se “juntam” formando escalas de dessaturação e de rebaixamento. 2.2.3 Combinação de cores A combinação de cores é uma propriedade que pares de cores têm de se harmonizar. Para realizar uma combinação de cores é necessário mais do que um bom senso estético – existem técnicas que podem ser utilizadas para esse �im. A combinação pode ser feita por meio da integração de cores com relativa proximidade, como o vermelho e a cor de rosa ou até mesmo quando se quer obter contrastes, com cores altamente distintivas, como, o verde e o rosa. Segundo Pedrosa (2010) todas as duplas de cores formam acordes consonantes ou dissonantes. Pode-se a�irmar que toda cor combina com outra, o que não signi�ica que todo grupo de cores forme uma harmonia. O autor cita três métodos principais para a formação do equilı́brio de uma dupla de cores: 1. Intensi�icando ou diminuindo o tom ou a luminosidade de uma das cores. Clique para conhecer as combinações possı́veis. a. Com o magenta em seu estado natural, pode-se tornar o verde mais claro pela mistura com o amarelo, ou mais escuro, com o azul. b. Com o verde em seu estado natural, é possı́vel escurecer o magenta com o azul, ou clareá-lo com o amarelo. a. Com o amarelo em seu estado natural, é possı́vel clarear o azul-violetado pela mistura com o ciano, ou escurecê-lo com o magenta. b. O amarelo não clareia se misturado com qualquer outra cor. Ele poderá escurecer se mistura com a cor vermelha, alaranjando, ou com a cor azul, esverdeando. a. Com a cor vermelha deixada em seu estado natural, é possı́vel clarear o ciano pela mistura com a cor verde, ou escurecê-lo com o magenta. b. E� possı́vel clarear a cor vermelha misturando-a com o amarelo, obtendo o seu escurecimento com o magenta. • • • Magenta + verde Amarelo + azul-violetado Ciano + vermelho 2. Dessaturando ou rebaixando o tom através da mistura com o branco / preto; 3. Utilizando um debrum, ou cercadura das cores. O branco, o preto e o cinza equilibram os tons que envolvem. Para Farina (2000) a combinação de várias cores pode ser uma estratégia que possibilita a potencialização de efeitos de sentido de uma determinada peça, produto ou embalagem. Ao se utilizar da combinação de várias cores pode-se dar um signi�icado mais amplo e/ou complementar à determinado objeto. Assim como não podemos julgar se algo é feio ou bonito, não existem cores impossı́veis de serem combinadas. O que existe é a�inidade, harmonia, semelhança, aproximação, contraste, oposição etc. VOCÊ QUER LER? Esse livro não é apenas um livro. Com autoria de Nelson Bavaresco, coordenador do Sistema de Cores Cecor, o livro Harmonia das Cores aborda os fundamentos da cor e da harmonia cromática. Além disso ele vem inserido, em duas páginas para destaque, o ArmColor de tiras, que permite organizar e visualizar milhares de combinações de cores. O livro também descreve os 24 acordes mapeados pelo Sistema Cecor, informando detalhes da harmonia e o número de combinações feitas por cada um. Nele também há diversas dicas de como tomar decisões dentro de um projeto cromático. (BAVARESCO, 2016) 2.3 Harmonização Cromática A harmonia cromática é o ato de compor as cores de forma harmonizadas entre si causando uma boa impressão visual. Para atingir esse objetivo é imprescindı́vel o conhecimento profundo do cı́rculo cromático e das teorias das cores. Para as cores funcionarem bem em conjunto é preciso saber fazer as escolhas corretas, tecnicamente falando. Abordamos anteriormente os principais conceitos relacionados a percepção da cor. De agora em diante iremos abordar as teorias de harmonização cromática que irão ajudá-lo a tomar decisões relacionadas à combinação de cores e seus fenômenos. 2.3.1 Harmonia de tons ou cromática A harmonia cromática é formada pelo equilı́brio entre a cor dominante, a cor tônica e a cor intermediária. A cor é dominante quando ela ocupa um maior espaço dentro de um conjunto de cores. A cor é considerada tônica quando ela é a mais forte dentro de um conjunto de cores. Em outras palavras, a cor tônica é a cor que se sobressai. A cor é intermediária quando �ica entre dominante a tônica. Na foto à esquerda, do beija-�lor, podemos observar que a cor dominante é o verde, pois ele ocupa maior espaço em relação às outras cores da foto. Nesse caso a cor tônica seria o rosa, pois ela se sobressai. As outras cores presentes na foto podem ser consideradas cores intermediárias. Já na foto à direita com os gelos e as frutas nota-se que a cor dominante é a de fundo, o azul. A cor tônica nesse caso é o vermelho, pois ele se sobressai no conjunto. O laranja seria então, uma cor intermediária. Ao pensarmos no equilı́brio, ou seja, na harmonia cromática, devemos analisar se ela é monocromática ou policromática. A harmonia monocromática se dá a partir de apenas um matiz e sua variação de luminosidade. Já a harmonia policromática se dá pelo equilı́brio entre cor dominante, a cor tônica e a cor intermediária. Figura 4 - Vemos aqui dois exemplos para fazermos uma análise. Busque as cores dominantes, tônicas e intermediárias. Fonte: Chesapeake Images; Sebastian Duda, Shutterstock, 2019. A foto à direita exempli�ica a harmonia monocromática, onde o matiz é azul e vemos apenas variações de luminosidade. Na foto à esquerda podemos ver um caso de harmonia policromática pois temos uma cor dominante, o vermelho, uma cor tônica, o azul, e diversas cores intermediárias. Figura 5 - As fotos acima nos mostram dois exemplos de harmonia. Faça uma análise em relação às cores presentes nas fotogra�ias e perceba como elas funcionam lado a lado. Fonte: iofoto; Le Do, Shuttersock, 2019. VOCÊ QUER LER? O livro de Paula Csillag, intitulado de “Comunicação com Cores. Uma Abordagem cientı�́ica pela percepção visual” transita pelas áreas do design, arte, neurologia e psicologia. Baseada em estudos cientı�́icos realizados pela autora, ela pormenoriza princıṕios que direcionam a aplicação de cores na comunicação visual, derivando de escolhas mais conscientes, que não são unicamente dependentes da intuição ou dom dos criadores. Os assuntos que são desenvolvidos no livro encontram respaldo nos campos do design, publicidade, arquitetura, cinema, fotogra�ia, moda, entre outros. Sendo assim, a obra auxilia pro�issionais que atuam na área da comunicação visual a terem respostas e critérios objetivos de suas escolhas cromáticas. O trabalho de harmonizar cores é uma tarefa complexa, pois elas se in�luenciam mutuamente. Quando colocadas lado a lado podemos evidenciar fenômenos enigmáticos. A seguir estudaremos melhor como se dá a escala cromática e quais os principais tipos de harmonização de cores. 2.3.2 Escala cromática de modo maior ou menor Compreender como realizar a análise de escalas cromáticas é essencial para um artista, designer e até mesmo um publicitário. Mas o que são escalas cromáticas? Quando observamos que há uma variação da mesma cor, pode ser na saturação, no tom ou até mesmo na luminosidade, podemos dizer que estamos observando uma modulação. Quando essa modulação se dá de forma regular, ou seja, em intervalos contı́nuos, podemos dizer que há uma escala cromática. Segundo Farina (2000) nós podemos chamar de escalas cromáticas as que se referem às cores propriamente ditas. Nesse sentido, elas podemser monocromas, que se referem a uma só cor, ou policromas, com modulação simultânea de várias cores. Existem diversas formas de se fazer uma escala monocromática: através da variação de luminosidade, saturação ou do valor. Ela pode ser realizada também, misturando-se um tom com outra cor. A partir do branco pode ser acrescentada uma cor até chegar a uma determinada saturação, chama-se escala de saturação. Já a escala de luminosidade é obtida ao acrescentar a uma cor saturada um "preto". Já a escala que vai da cor branca à cor preta é chamada escala de valor. Farina (2000) também divide as escalas em: baixa, alta e média. Nas baixas usamos valores escuros (muita cor preta, pouca luminosidade), nas médias pouca distância dos tons saturados (cor pura) e nas ditas como altas utilizamos valores claros (muita cor branca e luminosidade). De acordo com Pedrosa (2008) as cores quentes são classi�icadas como pertencentes ao modo maior e as cores frias ao modo menor. VOCÊ SABIA? O site Adobe Color CC é um software que pode te ajudar na escolha da paleta de cores de um projeto. Na busca pela harmonização de cores, você pode utilizar dos esquemas trıáde, complementar, análogas, monocromático, sombras, composto ou complementar. Além disso, você pode também personalizar as combinações da forma que quiser. E� uma ótima ferramenta para testar combinações de cores e compreender melhor a teoria abordada por aqui. Disponıv́el em: . https://color.adobe.com/pt/create/color-wheel/ https://color.adobe.com/pt/create/color-wheel/ 2.3.3 Harmonia consonante No cı́rculo cromático de 12 tons há, de um lado, sete cores que possuem maior a�inidade com a luz, as quais são in�luenciadas pelo amarelo e pelo vermelho; ao passo que do outro lado, estão presentes as cores que se identi�icam mais com a sombra e possuem a�inidade com a cor azul. Cada um desses grupos formam um acorde consoante, pois o caráter harmônico entre eles é devido à a�inidade nos tons que as cores possuem entre si e pela presença de uma cor principal em comum, a qual faz parte deste grupo causando uma variação na estrutura dos tons de todas as outras cores. Harmonia consonante é um conjunto de matizes próximos. São combinações feitas através de cores vizinhas ou com apenas um intervalo. A harmonia nesse caso se dá pela semelhança entre as cores. Harmonia análoga: Utiliza-se uma cor primária combinada com outra(s) cor(es) vizinha(s) no círculo cromático. Temos como Figura 6 - A �igura mostra um exemplo de harmonia análoga. Ela se dá pela utilização de uma cor primária e de cores que estão ao seu lado no cı́rculo cromático. Também é um caso de harmonia consonante. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. • exemplo a combinação do azul com o azul-violetado e do vermelho com o vermelho-alaranjado. 2.3.4 Harmonia dissonante E� um conjunto formado por cores complementares. A harmonia das cores ocorre pela diferença entre as cores. Essa técnica dá um ar muito mais criativo e inovador à combinação de cores, pois se utiliza de cores de alto contraste. São combinações mais complexas. Harmonia triádica: Utiliza-se o triângulo equilátero inserido no círculo cromático. Temos como exemplo a combinação das seguintes cores: roxo, verde e laranja. • Figura 7 - A harmonia triádica se dá na seleção e utilização de cores que estão na posição “triângulo” no cı́rculo cromático. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. Harmonia quadrática: utilizasse um retângulo inserido no círculo cromático. No caso abaixo temos como exemplo a combinação das seguintes cores: roxo, laranja, amarelo e verde. Harmonia complementar ou de contraste: Duas cores opostas no círculo cromático são combinadas. Nesse caso temos como exemplo a combinação do azul com o laranja, que são cores complementares. • Figura 8 - A harmonia quadrática ocorre quando juntamos cores que estão opostas, pela forma de um quadrado, dentro do cı́rculo cromático. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. • Harmonia concordante: Utiliza-se das cores também opostas no círculo cromático, porém com 1 a mais ou a menos. O contraste acaba sendo mais suave do que se utilizarmos as cores complementares. Figura 9 - Harmonia complementar ocorre quando juntamos duas cores opostas, ou seja, duas cores complementares. Toda cor possui uma cor complementar. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. • Harmonia acordante: Quando dentro do círculo cromático se forma ângulos mais fechados que o anterior. Nesse caso utiliza-se das cores também opostas no círculo cromático, porém com 2 a mais ou a menos. Figura 10 - A harmonia concordante é parecida com a complementar, entretanto seleciona-se uma cor abaixo da cor complementar original. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. • Harmonia discordante: No círculo cromático as duas cores estão posicionadas 90 graus. No exemplo abaixo podemos ver o azul combinado ao magenta. Figura 11 - Nesse caso a harmonia acordante se dá pela junção de uma cor com outra cor duas vezes abaixo de sua cor complementar. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. • A harmonia feita a partir de cores complementares são complexas e exigem um olhar diferenciado dependendo de sua aplicabilidade. Como dito são as mais complexas, porém as mais criativas combinações, com resultados inesperados e pouco comuns. 2.3.5 Harmonia assonante Harmonia assonante é um conjunto com mais de duas cores tônicas em que predominam as cores primárias. Figura 12 - A harmonia discordante ocorre quando colocamos lado a lado cores opostas à 90º graus, ou seja, “pula-se” 3 cores no cı́rculo cromático. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. Também se entende por harmonia assonante, uma grande escala harmonizada em que diversas cores tônicas se equiparam em um patamar de saturação e criam, devido uma proximidade de estrutura, um acorde tônico, que se valoriza pela organização de outros acordes que operam como cor dominante e de passagem. Figura 13 - Podemos ver aqui um exemplo de harmonia assonante, no qual vemos as cores primárias vermelho, azul e amarelo. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. Assista ao vı́deo abaixo e aprenda mais sobre o tema. Vimos aqui as mais diferentes formas de harmonização de cores. Existem inúmeras possibilidades de combinações. O designer deve sempre analisar se o projeto pede complexidade ou combinações mais comuns, se requer um signi�icado especı́�ico através das cores e quais possibilidades possı́veis para uma futura paleta. CASO Ao criar uma coleção de moda o estilista busca suas inspirações, de�ine um tema e desenvolve uma coleção. Um elemento muito importante nesse processo é a escolha das cores. Estamos estudando as cores e como elas se comportam lado a lado, mas como se dá esse trabalho na prática? Cada estilista trabalha de uma determinada maneira: não há uma fórmula ou um manual de como fazer tais escolhas. Escolher e combinar as cores é uma decisão complexa que abrange fatores externos que vão além da criatividade, como o mercado e as tendências. Veremos abaixo três exemplos de como se dá a criação de uma cartela de cores na prática, ou seja, no dia a dia no setor de desenvolvimento de produto de moda. Holly Berry: mantém um mínimo de cores e faz algumas injeções esporádicas. Sempre usa preto, marinho, branco e cinza. Mark Eley, da grife Eley Kishimoto: forma uma cartela utilizando o Scotdic como referência para as tecelagens e compra tecido nas cores disponíveis em estoque e tecido cru para tingir. Nicholas Kirkwood, designer de calçados: visita feiras para ver variedades de couro tingido. Trabalha com equilíbrio de cores - escolhe quatro ou cinco cores que ficam bem juntas (RENFREW; RENFREW, 2010). • • • 2.4 Lei do contraste simultâneo das cores e mutações cromáticas Você já reparou que a aparência das cores muda de acordo com seu entorno ou composição? Já mudoua percepção de uma cor por conta da junção com outra cor? Vamos a um exemplo: Você foi à uma loja e experimentou uma blusa azul. Nesse dia você estava vestindo uma calça preta e gostou do conjunto. Ao vesti- la em casa com uma calça branca, reparou que ela parecia menos chamativa sobre o preto. Por que será? Essa percepção é real? VOCÊ O CONHECE? Além de seus trabalhos cientı�́icos e artıśticos, Leonardo Da Vinci foi um dos pioneiros quanto à criação de uma Teoria da Cor. O artista acreditava que as cores são propriedades e caracterıśticas do objeto. Os estudos que ele fez sobre o tema foram escritos e reunidos no livro Tratado da Pintura e da Paisagem – Sombra e Luz, cuja primeira edição só foi publicada depois de 132 anos após a sua morte. Dentro desta obra são tratados diversos assuntos como pintura, perspectiva, desenho, composição, cor, anatomia, natureza, luz e sombra; assim como estudos �ilosó�icos e estéticos. Leonardo Da Vinci foi o primeiro estudioso a pensar sobre esse assunto. Anos depois, embasado em estudos e descobertas anteriores, Michel-Eugène Chevreul escreveu a Lei do Contraste Simultâneo das Cores. Ela foi fruto de diversos estudos em torno das cores. Nesse livro ele mostra suas conclusões a partir de observações visuais de como duas cores podem parecer muito diferentes do que realmente são, se in�luenciando mutuamente. Agora nós iremos conhecer mais a fundo essa teoria e compreender melhor esse fenômeno. 2.4.1 Aspectos históricos Michel-Eugène Chevreul foi um grande cientista na área da quı́mica e seus trabalhos in�luenciaram muito as artes visuais do século XIX e XX. Clique a seguir e conheça mais sobre este cientista, sua história e sua contribuição para o estudo das cores. Segundo Silveira (2015, p. 34), a obra de Chevreul “procura explicar, em bases cientı́�icas, aquilo que muitos pintores já utilizavam intuitivamente.” As leis de Chevreul foram aceitas principalmente por parecerem uma solução dos problemas de harmonia cromática. Ele acabou in�luenciando e facilitando a análise de muitas O quı́mico nasceu em Angers, na França, em 1786 e viveu 103 anos. No ano de 1834, foi contratado para ser quı́mico do “Ateliê de Tinturaria” em Paris, e lá recebeu a missão de aprimorar a qualidade da produção em tapeçaria. Ao iniciar seu trabalho o quı́mico percebeu um grande defeito na qualidade do fornecimento de tintas pretas. Depois de alguns estudos, ele chegou à conclusão que isto poderia não ser apenas um problema quı́mico, o problema poderia não ser de dentro das etapas de tinturaria, mas ser uma situação relacionada à percepção visual dos contrastes simultâneos. Contudo, ele estou mais afundo sobre contrastes e publicou no ano de 1839 a sua famosa obra “Da Lei do Contraste Simultâneo das Cores”. Nesse livro o quı́mico desenvolveu um sistema de cores para a indústria. De acordo com Ventura et al. (2006, p. 43), esse sistema teve grande contribuição para os próximos sistemas a serem elaborados pois ele respeita os limites de cada matiz, variando as suas distâncias ao centro do sistema. “Seu sistema tem como base um cı́rculo cromático com 72 matizes distribuı́dos radialmente. Para cada matiz pode haver variação da saturação (eixo x), e variação do brilho (eixo y). Os nı́veis de saturação e brilho podem ter até 22 variações, que variam de acordo com os limites dos matizes”. obras e artistas. Seus estudos in�luenciaram diversos pintores de sua época como Delacroix, Camille Pissaro, Georges Seurat, Paul Signac, Robert Delaunay, os quais aderiram prontamente às idéias e estudos do quı́mico francês. Silveira (2015) resume nos itens abaixo os principais conceitos advindos das experiências de Chevreul. Clique a seguir para conhecê-los. 1. A certeza da relação mútua entre as cores (não apenas quando colocadas lado a lado). 2. Ao colocarmos uma cor em qualquer suporte devemos pensar na in�luência da c complementar sob a mesma. 3. De�inição de três tipos de contrastes: o simultâneo, o sucessivo e o misto. 4. Colocar branco ao lado de uma cor irá destacá-la. VOCÊ SABIA? Desde que o cinema com cores surgiu foi constatado que as cores possuem um papel essencial para a narrativa de um �ilme. As cores permitem que o espectador tenha sensações, fazendo com que ele acompanhe o desenrolar da história narrada no �ilme. Um bom exemplo é o �ilme O Fabuloso destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet. No �ilme é possıv́el ver uma França muito diferente do que é realmente, pois a composição das cores verde e vermelho ou laranja e azul nos permitem ter uma experiência muito agradável ao assistir, o qual foi o objetivo do diretor. Em Kill Bill Vol. 1 e 2, de Quentin Tarantino, as cores variam de acordo com o clima da cena. Também se nota a presença repetitiva da cor amarela neste �ilme, pois esta foi a cor escolhida pelo diretor para representar a vingança da personagem principal. • • • • 5. Colocar cinza ao lado de uma cor irá torná-la brilhante. 6. O preto apaga todas as cores que lhe são próximas. Tais conceitos são essenciais para a combinação harmônica entre as cores e permeiam a área de artes e design até hoje. Além disso, de todas essas descobertas a partir de seus experimentos, Chevreul também desenvolveu o mais detalhado catálogo de cores conhecido até hoje. Ele possuı́a mais de 20.000 tons classi�icados teoricamente, partindo das cores saturadas e suas misturas até o branco por degradação e o preto por rebaixamento. 2.4.2 Experimentações de contraste simultâneo das cores e mutações cromáticas Chevreul realizou diversas experiências com as cores. A partir de algumas delas ele de�iniu três tipos de contrates: o contraste simultâneo, o contraste sucessivo e o contraste misto. De acordo com Pedrosa apud Silveira (2005), o contraste simultâneo das cores foi de�inido por Chevreul como sendo o que se registra ao observar diversas cores com in�luência recı́proca. Mais especi�icamente, cores complementares aparecem no entorno da forma que guarda a cor pela qual a retina é saturada. Este fenômeno acontece também a partir de estı́mulo subjetivo. A memória, ao ser acionada na construção de paletas para a complementação cromática, estimula a retina e provoca o fenômeno dos contrastes simultâneos. (PEDROSA apud SILVEIRA, 2005, p. 168). Contrastes simultâneos não ocorrem por um estı́mulo objetivo, ou seja, não há resposta �isiológica da retina em relação a uma saturação. Já o contraste sucessivo e misto acontece com base numa imagem fotográ�ica em preto e branco, onde sucedeu a construção da paleta para o processo de complementação cromática do objeto. Pedrosa apud Silveira (2005, p. 168) a�irma que Chevreul explicou o contraste sucessivo e misto das cores como sendo “os fenômenos percebidos a partir da saturação dos olhos pela cor de um objeto durante algum tempo e, deslocando-se em seguida para um anteparo, no qual aparece então a imagem do objeto na sua cor complementar”. Ao acionarmos a memória de uma cor, ocorre a excitação da retina, o que causaria o fenômeno dos contrates simultâneos. A partir daı́, havendo a mudança do olhar, acontece o contraste sucessivo. O contraste misto ocorria quando o nosso olhar desvia para um objeto anteriormente colorido. Este evento depende do fenômeno do contraste simultâneo, o qual depende também da ocorrência da complementação cromática. O contraste simultâneo ocorre quando o olho é sensibilizado por uma cor. Instintivamente, o olho procura um tom complementar a cor já observada, para que esses tons se anulem e ele possa voltar ao seu estado de equilı́brio. A harmonia cromática ocorre quando o olho encontra esse tom complementar e consegue se anular. Já quando o olho não encontra esse tom complementar, ele a projeta em algum tom qualquer, normalmente localizado próximo a cor original. Em outras palavras, a cor assume um pouco do tom complementar de outra. • • Segundo Farina(2000), a cor produz uma sensação de movimento, de expansão e de re�lexão e também de impressão estática. Quando juntamos uma cor a outras, dentro de um espaço bidimensional, poderemos observar que “os valores apresentados por uma determinada cor se alteram quando ela passa a sofrer a in�luência de uma ou mais cores colocadas dentro de um mesmo espaço” (FARINA, 2000, p. 76). VOCÊ QUER VER? No vıd́eo Contrastes Simultâneos: Sol e Lua, produzido pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMa), vemos que o artista Robert Delaunay viveu numa época em que os artistas buscavam apresentar novidades à sociedade e não copiar algo que já foi feito ou reinventar ou renovar algum perıódo artıśtico. O pintor se utilizou bastante da teoria dos contrastes simultâneos, pois veri�ica-se a combinação de cores primárias e secundárias, criando, assim, novas cores, dependendo do modo como o artista as utilizou na obra. Nesta obra, pode-se ver movimento de cores, de luz e de som, devido a essa sobreposição de contrastes apresentada na pintura. Disponıv́el em: . https://www.youtube.com/watch?v=PkzACPGZcVk https://www.youtube.com/watch?v=PkzACPGZcVk A grande di�iculdade ao se harmonizar cores vem da alteração que elas sofrem quando em interação com outras cores. A �igura acima mostra a justaposição de cores e coloca uma cor sobre duas superfı́cies coloridas as comparando. Quando colocada sobre o amarelo, a cor laranja possui aparência muito mais alaranjada se comparado a de superfı́cie vermelha. O roxo também é evidenciado pelo azul e o verde parece muito mais forte no amarelo, se comparado ao que está sobre a superfı́cie azul. Figura 14 - O autor apresente essa justaposição de cores. Analisando os exemplos pode-se observar a in�luência de uma cor na presença de outra. Fonte: PEDROSA, 2008, p. 133. Os fenômenos de contraste estudados por Chevreul são utilizados até hoje pela ciência dentro da denominação genérica de cores de contraste. Tais fenômenos podem parecer simples, mas a causa deles ainda é um mistério para a ciência. Síntese Concluı́mos aqui esse capı́tulo relativo à percepção e harmonização/combinação de cores. Agora você já conhece as principais teorias relacionas à percepção de cores, tom, saturação, luminosidade, cı́rculo cromático, harmonização cromática, e sabe como é importante conhecer os conceitos para aplicá-los em futuros projetos de design através de técnicas. Neste capı́tulo, você teve a oportunidade de: acompanhar a evolução histórica da teoria das cores e a necessidade do estudo contínuo da mesma principalmente na área de projetos em design; agregar repertório visual e compositivo e aprimorar a percepção estética, no pensar e no fazer; conhecer e se aprofundar nas teorias das cores; identificar a relevância da fundamentação teórica e de aplicá-la ao trabalho prático, desenvolvendo o potencial criativo e visões inovadoras; compreender os elementos cromáticos de linguagem no design; estudar sobre a harmonização cromática para tomadas de decisão em projeto de design; aprender sobre a lei do contraste simultâneo das cores e mutações cromáticas e realizar experimentações óticas. • • • • • • • Bibliografia ADOBE COLOR WHEEL. Disponı́vel em: . Acesso em: 19/01/2019. BAVARESCO, N. Harmonia das Cores. São Paulo: Sistema Cecor, 2016 CSILLAG, P. Comunicação com Cores. Uma Abordagem cientı́�ica pela percepção visual. São Paulo: Editora Senai, 2015. FARINA, M. et al. Psicodinâmica das cores em comunicação. 4. ed, São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 2006. https://color.adobe.com/pt/create/color-wheel/ https://color.adobe.com/pt/create/color-wheel/ FRASER, T. O guia completo da cor. São Paulo: Editora Senac, 2007. PEDROSA, I. Da cor a cor inexistente. Rio de Janeiro: Editora Senac, 2010. PEDROSA, I. O Universo da Cor. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2008. RENFREW, E; RENFREW, C. Desenvolvendo uma coleção. Porto Alegre : Bookman, 2010. SILVA, R. C; MONTEIRO, C. F. Cromoterapia: um importante recurso terapêutico para a terapia ocupacional. In: X Encontro Latino Americano de Iniciação Cientı́�ica, 10, São José dos Campos. Anais... São José dos Campos: Universidade do Vale do Paraı́ba, out. 2006. v.13. Disponı́vel em: . Acesso em: 18/01/2019. SILVEIRA, L. M. Introdução à teoria da cor. Curitiba: UTFPR, 2015. THE MUSEUM OF MODERN. Art. 1913 | "Simultaneous Contrasts: Sun and Moon" by Robert Delaunay Paris 1913 (dated on painting 1912). Disponı́vel em: . Acesso em: 12/01/2019. VENTURA, D. F. et al. Espaço de Cores. Revista Psicologia USP. v.17. n.4. São Paulo, dez. 2006. Disponı́vel em: . Acesso em: 18/01/2019. http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006/inic/inic/03/Sa%FAde%20inic%20X008.pdf http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006/inic/inic/03/Sa%FAde%20inic%20X008.pdf https://www.youtube.com/watch?v=PkzACPGZcVk https://www.youtube.com/watch?v=PkzACPGZcVk http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51772006000400003&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51772006000400003&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51772006000400003&lng=pt&nrm=iso