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MARIA LILIANE EDMUNDO PIRES DE ALMEIDA – 202101327578
RELAÇÃO DIALÓGICA E PRESENÇA NA CLÍNICA:
O FLOREAR EM GESTALT-TERAPIA
Rio de Janeiro
2024
MARIA LILIANE EDMUNDO PIRES DE ALMEIDA – 202101327578
RELAÇÃO DIALÓGICA E PRESENÇA NA CLÍNICA:
O FLOREAR EM GESTALT-TERAPIA
Relatório Final do Estágio Supervisionado Específico:
Contratos e Intervenções Iniciais em Gestalt – terapia do
curso de Psicologia da Universidade Estácio de Sá –
Campus Maracanã.
Professora e Orientadora: Christine Pereira Vieira –
CRP05/30809
Rio de Janeiro
2024
Sumário
1. Introdução ......................................................................................................... 4
2. O Encontro Terapêutico na Clínica em Gestalt-Terapia – Nutrindo
Vínculos.............................................................................................................. 6
2.1 Relação Dialógica, Primeiras Entrevistas e Dramatização: Construção Teórica e
Ferramenta Didática nos Pré-atendimentos Clínicos ................................................. 6
2.2 Participação na Jornada do Serviço Escola de Psicologia ..........................................6
3. Os Atendimentos: Vivência na Clínica Gestáltica – O Germinar ............ 10
3.1 Atendimentos Infantis............................................................................................... 10
3.1.1 A Paciente I .....................................................................................................................10
3.1.2 A Paciente II ...................................................................................................................11
3.2 Atendimento Adulto ................................................................................................. 11
3.2.1 A Paciente .......................................................................................................................11
4. Considerações Finais: Reflexões – O Florear ......................................... 13
5. Referência Bibliográfica ................................................................................. 15
6. Apêndice:
Anexo I: Termo de Compromisso de Estágio (parcial)
Anexo II: Foto da Jornada do Serviço Escola de Psicologia 2024.2
Anexo III: Avaliação do Estagiário
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1. Introdução
O objetivo deste trabalho é apresentar um relatório final sobre as situações vivenciadas
na clínica do Serviço Escola de Psicologia (SEP) da Universidade Estácio de Sá - Campus
Maracanã/RJ, na abordagem da Gestalt-terapia (GT), supervisionado pela professora Christine
Vieira Pereira. Por meio da análise de casos e experiências específicas, busca-se evidenciar
como a presença autêntica, a empatia e a capacidade de estar no ‘aqui e agora’ se manifestam
na prática, além de como os elementos e conceitos da abordagem contribuem para o progresso
terapêutico dos clientes atendidos na instituição. Atuei no SEP entre Agosto e Dezembro de
2024, seguindo o que foi lavrado no Termo de Compromisso de Estágio (Anexo I), para a
categoria ‘Estágio Supervisionado Específico: Contratos e Intervenções Iniciais’.
O SEP oferece acompanhamento psicológico gratuito e é destinado à população que
no momento não possui condições de arcar com os custos de um atendimento particular. As
sessões ocorrem em um espaço próprio, planejado para garantir o conforto e a privacidade dos
pacientes. Todos os atendimentos foram agendados com hora marcada, assegurando
organização e disponibilidade adequada de tempo para cada pessoa. Além disso, todo processo
foi conduzido de forma altamente ética, proporcionando um ambiente seguro, acolhedor e livre
de julgamentos, onde o respeito à individualidade é priorizado. Os atendimentos tiveram início
com uma anamnese, que visa compreender as principais demandas e necessidades da pessoa
atendida, permitindo um cuidado mais direcionado. Durante o processo, as supervisões foram
contínuas, ocorrendo todas as Segundas-feiras e conduzida com maestria pela professora e
psicóloga responsável pela abordagem, que me orientou na melhor forma a conduzir cada caso,
garantindo que as sessões oferecidas fossem muito bem aproveitadas e de qualidade, dentro do
tempo disponível para tal, sendo priorizado o bem-estar emocional dos pacientes, mas também
a formação prática acadêmica. Contando também com a colaboração ativa e afetuosa dos
colegas de equipe para o raciocínio terapêutico, mas principalmente compromissados em tornar
o ambiente acolhedor e de crescimento.
Na GT, o encontro terapêutico é um momento muito singular, psicólogo e cliente são
convidados a construírem juntos um vínculo profundo, marcado pela autenticidade da presença
de ambos, em um espaço onde não há isenção e sim ação, movimento. Podemos compará-lo ao
florear na natureza que necessita de um ambiente propício – água, sol, solo fértil – para
acontecer, a pessoa em terapia também precisa de um ambiente seguro, acolhedor e livre de
julgamentos. Crescendo em seu ritmo natural, explorando emoções e se desenvolva de maneira
autêntica. Ambos os processos requerem tempo, paciência e nutrição adequada, sendo regidos
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por ciclos e pelo contato com o ambiente. E assim, nessa dinâmica circular pode acontecer uma
troca autentica e plena, um engajamento que vai além do físico em todas suas nuances (sentidos
humanos), que implica principalmente o emocional e psicológico. Nesse processo, as fronteiras
precisam ser respeitadas, porém, são exploradas cuidadosamente, configuradas e
reconfiguradas conforme o desabrochamento da consciência. Segundo Rodrigues (2011, p.
154), “[...] o terapeuta considera o que se passa nos três tipos de relação que se estabelece:
do terapeuta com ele mesmo, do cliente com ele mesmo e da relação entre os dois.”
Portanto, fica evidenciado que o objetivo deste relatório é documentar de forma
respeitosa e sensível as atividades realizadas durante o estágio no SEP da Universidade Estácio
de Sá, tendo como escopo, também, a discussão dos desafios enfrentados na construção da
relação terapêutica e as estratégias elaboradas em conjunto com a supervisão e apoio teórico
para superá-los.
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2. O Encontro Terapêutico na Clínica em Gestalt-Terapia – Nutrindo Vínculos
A presença e a autenticidade do terapeuta são valorizadas como agentes cruciais para
o desenvolvimento do processo terapêutico, é na relação que é possível construir um dos pilares
fundamentais para a maioria das práticas clínicas. Na GT, abordagem desenvolvida por Fritz
Perls e seus colaboradores na década de 1940, a relação terapeuta-cliente é entendida como um
encontro genuíno, onde ambos participam ativamente e “co-criam” um espaço possível de
ressignificações e experimentações únicas, irrepetíveis. Porém, alguns elementos são
fundamentais para que a relação ocorra de forma legítima, e um deles diz respeito a permissão
para o espanto. Espantar-se na filosofia ("thauma" em grego) é considerado uma experiência
fundamental que leva à reflexão e ao questionamento sobre o mundo. Para Rubem Alves, o
espanto cria um ambiente propício para a curiosidade, para a pergunta e para a significação. “As
respostas nos permitem andar por terras firmes. Mas somente as perguntas nos permitem entrar
pelo mar desconhecido.” (ALVES, 2021, p. 96)
Para acolher alguém é necessário que aceitemos que não conhecemos a pessoa diante
de nós (CARDELLA, 2017, P. 51), ainda segundo a autora, o outro é alguém que escapa, que é
Mistério encarnado e singularizado. Sendo assim, ao aceitar desconhecer, é que permitimos
conhecer. Se é possível fazer uma transposição de conceitos para a clínica gestáltica, podemos
considerar que o ‘espanto’ aproxima-seda noção de ‘mistério’? Podendo ser entendido como o
início de uma “abertura de fronteiras”, de um franco estranhamento?
2.1 Relação Dialógica, Primeiras Entrevistas e Dramatização: Construção Teórica e Ferramenta
Didática nos Pré-atendimentos Clínicos
Logo nos primeiros encontros, antes mesmo de qualquer contato inicial com os clientes
do SEP, ficou em evidência que a temática relação dialógica e a postura fenomenológica seriam
fios condutores e que poderiam possibilitar nos encontros de supervisão da equipe, a criação de
um grupo conciso, potente, onde todos participariam ativamente na construção do
conhecimento mútuo sobre clínica, sobre pessoa, sobre mundo e sobre nós mesmos. A partir
desta consciência, nos alicerçamos no fortalecimento teórico e na orientação para uma trajetória
pautada e assegurada por uma atenção especial ao próprio cuidado com o cuidador, ou seja, o
processo de psicoterapia do terapeuta.
É também tarefa do psicoterapeuta conscientizar-se das próprias feridas e de suas
necessidade de cuidado em seu percurso de vida, disponibilizando-se ao trabalho
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pessoal, a experiência de ser cuidado, para que possa cuidar do outro, sendo sensível
ao seu sofrimento, compartilhando a humanidade comum, reconhecendo os próprios
limites e recursos, minimizando defesas que o impediriam de acolher a alteridade do
paciente, reduzindo-o na solidão por indiferença ou frieza efetiva. (CARDELLA,
2017, p. 63)
Na visão de Beatriz Cardella, o espaço terapêutico é concebido como um ambiente de
acolhimento e encontro genuíno entre terapeuta e cliente, onde a alteridade é respeitada e
valorizada. Esse espaço é mais do que apenas físico; é um “registro ontológico onde o ser do
cliente pode se revelar e se transformar.” O Ethos do terapeuta, ou seja, sua postura ética e
existencial, é fundamental para criar um ambiente de hospitalidade, onde o cliente se sente
acolhido e respeitado em sua totalidade. O terapeuta, segundo Cardella, é visto tanto como um
peregrino quanto como um anfitrião. Como peregrino, ele caminha ao lado do cliente, aberto
às incertezas e às descobertas que surgem no caminho. Como anfitrião, ele oferece um espaço
seguro e acolhedor, onde o cliente pode explorar e cultivar suas potencialidades, onde o
terapeuta facilita, mas não dirige o processo.
No entanto, a autora supracitada alerta para os perigos que podem surgir nesse espaço
terapêutico. Um cuidado essencial é evitar o “engolfamento totalitário”, onde o terapeuta pode,
inadvertidamente, “invadir o espaço do cliente, anulando sua autonomia.” A perda de
espontaneidade é outro risco, que pode ocorrer quando o terapeuta se interpõe excessivamente,
tentando interpretar ou interpelar cada movimento do cliente. Esse excesso pode sufocar o
processo terapêutico, impedindo que o encontro com o outro aconteça de maneira livre e
espontânea.
O empreendimento terapêutico, segundo Jean Clark Juliano, é composto por uma
riqueza provinda da viagem/jornada do terapeuta em conjunto com o cliente, como
acompanhante (raramente como guia), onde há “excitação e susto” no início, pois sabe-se que
não há como sair ileso do percurso: “[...] quando retornar ao ponto de partida, também estará
transformado.” Sobre o papel do terapeuta, Juliano aponta:
A Principal característica do terapeuta [...] é a qualidade de sua presença: uma atitude
descontraída e atenta, inteira, disponível, energizada. Ficando com o fenômeno tal
qual ele se apresenta, tal qual ele é, mais do que aquilo que foi, poderia ou deveria ser.
(JULIANO, 1999, p. 26)
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Antes de iniciar os atendimentos, fez-se necessário o entendimento sobre questões
relacionadas a uma etapa fundamental do processo terapêutico: a primeira entrevista
psicológica. Debateu-se ética, duração, linguagem, história do cliente a ser explorada, etc.
Segundo Marcia Estarque Pinheiro, é no primeiro contato que são estabelecidos vínculos de
suporte fundamentais para o desenvolvimento do processo psicoterapêutico, onde inúmeras
variáveis podem influenciar na primeira interação terapeuta-cliente, onde teoricamente, o foco
são as queixas principais do paciente, ou seja, assuntos que são de grande relevância em seu
histórico de sofrimento. Portanto, não estamos falando de um encontro qualquer.
É preciso lembrar também que o próprio terapeuta está se configurando naquela
primeira troca, evocando referências pessoais para proporcionar um espaço seguro para o
consulente, respeitando seu ritmo e evitando qualquer tipo de conclusões precipitadas.
Alguns clientes esperam um terapeuta caloroso e envolvido com seus temas, outros
entendem uma postura mais próxima como invasiva. Como não existe um manual que
dê conta de todos os tipos de pessoas e do que estas precisam, o terapeuta usa como
recurso a própria relação que está estabelecendo com o cliente como termômetro para
guiar a aproximação possível a cada momento. (ESTARQUE, 2007, p. 142)
Acolher é muito importante, não existe qualquer fórmula pronta para orientar a
primeira entrevista, porém, o terapeuta precisa criar um espaço onde ocorra uma expressão a
partir das potencialidades do cliente, usando-se de sensibilidade e diálogos sinceros, conectados
no ‘aqui e agora’. Deixar de lado questões diagnósticas, adotando sempre uma postura
receptiva, aberta, onde o cliente poderá livremente trazer suas necessidades, preocupações e
sentimentos sem qualquer tipo de pressão.
A dramatização foi uma ferramenta utilizada como método didático tendo grande
relevância no preparo dos estagiários no que tange os atendimentos de triagem e posteriormente
às terapias. O recurso pedagógico possibilitou a observação do preparo por parte do terapeuta
minutos antes do contato com o consulente, além do desenvolvimento semiestruturado
necessário a primeira entrevista no SEP.
A atividade foi realizada pela supervisora de estágio e por uma aluna estagiária que se
encontra em um momento curricular mais avançado. Como espectadora, foi possível notar o
fluir do atendimento, conduzido de forma sensível e hábil na avaliação das necessidades do
cliente de maneira rápida, enquanto oferecia um ambiente acolhedor e seguro. Também foi feita
uma comunicação clara dos acordos necessários, ressaltando a importância da confiança mútua
9
e da responsabilidade do consulente em relação aos horários e à presença, tendo em vista que
muitos aguardam por essa oportunidade.
2.2 Participação na Jornada do Serviço Escola de Psicologia 2024.2: Saúde Mental do Cliente
x Saúde Mental do Estagiário
Durante nossa jornada, tive a oportunidade de compartilhar reflexões sobre a
relevância da própria psicoterapia para o estagiário como base do trabalho terapêutico no
contexto infantil, a partir de leituras que venho fazendo com muita disciplina. Esse momento
foi ainda mais potente com a apresentação de um caso clínico riquíssimo, conduzido de forma
exemplar pela colega Emanuelle Trotta, sob a orientação cuidadosa de nossa supervisora,
Christine Pereira Vieira (Anexo II).
A qualidade e a profundidade do caso apresentado só foram possíveis graças ao suporte
que a colega encontrou em sua própria terapia. Esse exemplo prático reforçou a importância do
equilíbrio entre cuidar e ser cuidado — uma dinâmica essencial para sustentar nossa prática
com sensibilidade e responsabilidade, enquanto nos conectamos de forma genuína às demandas
do cliente e às nossas próprias necessidades emocionais.
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3. Os Atendimentos: Vivência na Clínica Gestáltica – O Germinar
3.1 Atendimentos Infantis
A frase "A criança está no campo e o campo está na criança", a citação de
BOVE (2016), ilustra a relação dialógica entre a criança e seu ambiente, evidenciando como
ela interage mesmo de maneira dependente. Nesse contexto, a participação da família, dos pais,
cuidadores e da escola é fundamentalna empreitada terapêutica infantil, uma vez que esses
atores fazem parte do campo vivencial da criança. Segundo AGUIAR (2018, 1:20:00) é
necessário lidar com os responsáveis, envolvendo os pais no processo terapêutico, enquanto o
terapeuta deve compreender os sintomas que os levaram a buscar ajuda, sem se deixar
"capturar" pelas demandas que eles apresentam. Um dos primeiros passos para toda
psicoterapia é a criação do vínculo, já citado anteriormente. Na psicoterapia infantil não é
diferente, sendo o centro a própria criança, e a sua forma particular de estar no mundo e se
relacionar.
[...]É ela que dá o tom, configura predominantemente o campo da relação terapêutica,
aponta o caminho, traz o que quer e o que pode trazer. Sem a relação dialógica baseada
nesses princípios, as técnicas tornam-se exercícios e o espaço terapêutico, um simples
lugar de recreação. (AGUIAR, p. 201, 2014).
Assim é possível observar nos breves relatos a seguir um pouco das
experiências vivenciadas no estágio com duas crianças.
3.1.1 A Paciente I
Menina de 8 anos foi acolhida considerando-se a complexidade de seu contexto
familiar e os desafios emocionais que enfrenta. A criança apresenta uma sociabilidade saudável,
é curiosa e criativa, mas demonstra dificuldades emocionais associados a recentes mudanças
familiares. No processo terapêutico, a construção do vínculo foi priorizada, utilizando-se
técnicas lúdicas que a permitiram expressar-se de maneira espontânea e adaptativa. A prática
da GT visou promover um espaço seguro onde a criança pudesse processar suas vivências e
desenvolver um autoconhecimento saudável. Com a abordagem focada no presente e no
acolhimento, a terapia explorou as dinâmicas familiares que influenciam seu comportamento,
especialmente a tendência de controle e responsabilidade excessiva, refletida tanto em casa
quanto na escola. O acompanhamento fonoaudiológico, somado ao suporte contínuo da família
e da escola, tem sido central para seu desenvolvimento. Com a continuidade desse suporte
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integrado, a perspectiva é a criança encontre maior equilíbrio emocional e capacidade para lidar
com as demandas de seu ambiente, valorizando suas habilidades criativas e recursos para
crescimento e autocompreensão.
3.1.2 A Paciente II
Menina de 7 anos, iniciou seu processo terapêutico buscando apoio emocional em um
contexto familiar de luto. A perda recente de sua avó materna, com quem tinha uma forte
ligação, tem impactado seu estado emocional, trazendo à tona sentimentos de saudade e tristeza.
O processo terapêutico foi orientado para a criação de um ambiente seguro e acolhedor, onde
pudesse se expressar livremente. Utilizando recursos lúdicos como desenhos e atividades
criativas, buscou-se facilitar a expressão de suas emoções de maneira espontânea e não verbal.
Ao longo das sessões, mostrou-se comunicativa e curiosa, engajando-se com as atividades e
compartilhando suas vivências familiares e sociais.
3.2 Atendimento Adulto
Na perspectiva fenomenológica-existencial, para além de uma reunião de sintomas, a
psicopatologia é percebida como algo complexo que deve ser entendido a partir da
singularidade e totalidade do homem, como um ser em contínuo processo de criação e recriação
de si e do mundo, não se deve partir de pressupostos pois “conhecer o paciente,
fenologicamente, é construí-lo no ato de conhecê-lo” (TÁVORA, 2017, apud TÁVORA, 2009,
pg. 50). Desta forma, segue o relato da experiência vivida no SEP, que se conecta diretamente
com essa introdução trazendo a complexidade do indivíduo em sua totalidade e demonstrando
como cada encontro terapêutico, mesmo que breve, como no caso desta paciente, é uma co-
construção.
3.2.1 A Paciente
Paciente de 32 anos, professora e mãe de uma criança autista, procurou o SEP em razão
de ansiedade, depressão e ideação suicida agravadas pela separação conjugal e sobrecarga
laboral. Anteriormente em tratamento psiquiátrico, interrompeu o uso das medicações. As
sessões iniciais tiveram como foco o acolhimento de suas emoções e orientação sobre a
necessidade de retornar ao acompanhamento com psiquiatra – o que ocorreu prontamente.
Apesar do esgotamento, apresenta uma postura calma e uma comunicação clara e coerente,
refletindo uma capacidade de contato genuíno. Devido ao recesso do SEP que acontece entre
12
semestres, e a complexidade do caso, a consulente foi encorajada a buscar outro serviço de
psicoterapia, sendo cuidadosamente acompanhada nesse processo.
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4. Considerações Finais: Reflexões – O Florear
Fazer o estágio no Serviço Escola de Psicologia na Universidade Estácio de
Sá foi uma etapa fundamental na minha formação como futura psicóloga, pois me proporcionou
experiências práticas que vão além da teoria aprendida em sala de aula. Durante o estágio, foi
possível observar e vivenciar a realidade do trabalho no setting terapêutico, trabalhando
competências essenciais para a prática profissional. Um dos principais aprendizados foi a
necessidade de desenvolver a habilidade de estabelecer vínculos com os pacientes, sempre
protegendo sua confidencialidade, os tratando com dignidade, respeito e livres de preconceitos.
O estágio permite-me praticar a empatia, a escuta e o acolhimento, elementos
fundamentais para a criação de um ambiente seguro e de confiança. Tive a oportunidade de
aplicar técnicas da Gestalt-terapia em situações reais, sob a supervisão da experiente professora
e psicóloga Christine Vieira Pereria, e com a participação ativa da equipe na construção do
raciocínio terapêutico. A relação de respeito mútuo estabelecida foi fundamental para o
desenvolvimento da autoconfiança, para a consolidação do conhecimento teórico e iniciar o
aprimoramento de habilidades, como observação e reflexão crítica. Durante este processo, os
feedbacks preciosos da equipe e da professora “tocaram-me” profundamente, e em alguns
momentos, por estar vivenciando um momento especial na minha vida, uma genuína emoção
se deixava transparecer. Quanto privilégio! As contribuições foram acolhidas com gratidão, não
apenas como sugestões, mas como ferramentas valiosas para meu crescimento pessoal e
profissional, reafirmando a importância do aprendizado contínuo e da humildade.
Atuar na clínica, exige que lidemos com nossas próprias reações e
sentimentos, levando-me a refletir sobre a importância da paciência no “florear” profissional
para que ocorra de forma adequada. Foi preciso começar a desenvolver uma maior consciência
do ‘aqui e agora’, reconhecendo-me e estranhando-me, “umbiligando-me” e “des-umbiligando-
me”, envolvida na autoconsciência, implicada na abordagem gestáltica que tanto passei a
admirar. Compreendi, assim, meu chamado à autenticidade e ao contínuo desenvolvimento
pessoal na prática. Na Gestalt-terapia, onde entende-se que a relação entre terapeuta e cliente é
um espaço dinâmico onde experiências e emoções são exploradas e integradas, a minha própria
psicoterapia vem se mostrando essencial, pois me ajuda a estabelecer esses limites emocionais
de forma mais clara, evitando interferência no estreitamento e cadência terapêutica com os
consulentes.
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Para concluir, a ideia norteadora do presente relatório, refere-se ao “florear”
‘para’ e ‘através de’ uma capacitação contínua (pessoal e profissional), fundamental para
desenvolver habilidades terapêuticas e construção de relações significativas. Observando
sistematicamente o autocuidado, autoconsciência, respaldo teórico, valorização da supervisão,
ética e prática reflexiva. Assim, fazendo jus ao que nos diz Jorge Ponciano, nas primeiras
páginas do seu livro Conceito de Mundo e de Pessoa em Geltalt-terapia: “Diz-se que o caminho
se faz caminhando e eu acrescento: o caminho constrói o caminhante.” Desta forma, estou me
permitindo, pouco a pouco,a um processo de expansão pessoal e convergência de saberes,
essencial para atuar de forma eficaz, sensível, empática e presente no meu fazer profissional.
15
5. Referências:
AGUIAR, Luciana. Gestalt-Terapia com Crianças. Teoria e Prática. São Paulo: Summus,
2014.
AGUIAR, Luciana. Gestalt-Terapia com Crianças. Uso de Telas e Recursos Digitais na
Psicoterapia com Crianças: Ajuda ou Atrapalha? Acesso em: 06/10/2024. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=5JnrI_hWo2M
AGUIAR, Luciana. Gestalt-Terapia com Crianças. Os Três Maiores Desafios do
Psicoterapeuta de Crianças. Acessado em: 29/09/2024. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=3alFxz5f-n8
ALVES, Rubem. Ao Professor com Carinho. São Paulo: Planeta, 2021.
CARDELLA, Beatriz. De volta para casa: Ética e Poética na clínica Gestáltica
Contemporânea. São Paulo: Foca, 2017.
ESTARQUE PINHEIRO, M. C. (2007). A primeira entrevista em psicoterapia. The first
interview in psychotherapy. IGT Na Rede ISSN 1807-2526, 4(7).
FRAZÃO, Lilian Meyer; FUKUMITSU, Karina Okajima (orgs.). Modalidades de
Intervenção Clínica em Gestalt-Terapia. Coleção Gestalt-Terapia: Fundamentos e
Práticas. São Paulo: Summus, 2016, V.3.
FRAZÃO, Lilian Meyer; FUKUMITSU, Karina Okajima (orgs.). Quadros Clínicos
Disfuncionais e Gestalt-Terapia. Coleção Gestalt-Terapia: Fundamentos e Práticas. São
Paulo: Summus, 2017, V.5.
JULIANO, Jean Clark. A Arte de Restaurar Histórias: O Diálogo Criativo no Caminho
Pessoal. São Paulo: Summus, 1999.
PONCIANO RIBEIRO, Jorge. Conceito de Mundo e de Pessoa em Gestalt-Terapia. São
Paulo: Summus, 2011.
RIBEIRO, M.F.R. A Relação Terapêutica como o Experimento em Si. Revista de Gestalt,
ano 1, n. 1, 1991.
RODRIGUES, Hugo Elídio. Introdução à Gestalt-Terapia – Conversando sobre os
fundamentos da abordagem gestáltica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
https://www.youtube.com/watch?v=5JnrI_hWo2M
https://www.youtube.com/watch?v=3alFxz5f-n8
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Anexo I
17
Anexo II
Apresentação Jornada do Serviço Escola de Psicologia 2024.2 – Professora e Orientadora Cristine Pereira,
Alunas Emanuelle Trotta, Divina Silva e Mª Liliane Edmundo representando a equipe de GT – Manhã.
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Anexo III
AVALIAÇÃO DA ESTAGIÁRIA
AVALIAÇÃO DA ESTAGIÁRIA
Estágio curricular interno (x) Estágio curricular externo ( ) Ano: 2024 Semestre letivo:
2024.2
Nome da estagiária: Maria Liliane Edmundo Pires de Almeida
Matrícula: 202101327578
Identificação do estágio: Gestalt-terapia
Local: SEP – UNESA/Campus Maracanã Supervisora: Christine Vieira Pereira - CRP
05/30809
Esferas de Avaliação
Grau
Pontuação
Relatórios
● 0 a 2 para conteúdo dos relatórios parcial
ou final.
● 0 a 1 para conhecimento e uso da estrutura
adequada dos relatórios.
Participação na
supervisão.
0 a 3
Responsabilidade
0 a 3
Relação com o público
interno e externo
0 a 1
Grau Final da Avaliação Final:
SERVIÇO ESCOLA DE PSICOLOGIA – CAMPUS MARACANÃ ψ
NF: ( )
Assinatura da Profa. Supervisora Aluno declara-se ciente