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4 - CICLO COMPLETO DE POLÍCIA NO BRASIL
	O crescimento urbano no Brasil ocorreu e ainda se desenvolve de modo desordenado, sem qualquer tipo de planejamento político, social, geográfico e econômico, originando problemas de toda complexidade, normalmente de ordem social.
A Constituição Federal de 1988 delimita a questão da segurança pública de modo segmentado, conforme previsto em seu Artigo 144, o qual dispõe as obrigações da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Ferroviária Federal, das Polícias Militares e Civis dos Estados. Entretanto, na prática, esta ação exercida pelas instituições a um nível estadual tem se confundido.
Vigente há 30 anos, a proposta descrita em seu artigo 144, tem apresentado algumas disfunções relacionadas a estrutura organizacional determinada, devido à falta de solução de continuidade no processo de atuação funcional junto a sociedade. Essa disfunção tem gerado a demanda por serviços mais ágeis, dinâmicos e com melhor qualidade que o atual modelo.
(Revista de Antropologia Experimental, II. Texto I. 2011).
Segundo a legislação, as Polícias Militares são responsáveis pelo policiamento preventivo e ostensivo, porém utilizam ações de investigações junto aos seus Setores de Inteligência, por outro lado, as Polícias Civis são responsáveis pelas investigações e apurações dos crimes já cometidos, no entanto, emprega seu efetivo de maneira ostensiva, com equipes uniformizadas, inclusive em ações direcionadas a impedir a ocorrência de determinados crimes ou a produção de flagrante de delito. (FILHO, 2010)
A expressão “ciclo completo de polícia” traduz objetivamente a ideia de fusão, ou melhor, de complementariedade, entre os dois eixos que constitucionalmente foram organizados para desempenhar atividades diferentes. 
No ciclo completo, as polícias civis e militares atuariam de forma plena, do início ao término da ocorrência, diminuindo assim a interdependência que existe hoje, onde nenhuma das duas consegue prestar um serviço completo aos cidadãos. Diminuiria a necessidade atual de que o policial tem de deslocar horas para chegar a uma delegacia e ficar tempo indeterminado esperando para ser atendido, chegando em alguns casos a passar praticamente um serviço inteiro com uma única ocorrência, ao invés de policiar as ruas. 
A implementação do ciclo completo de polícia no Brasil exigiria a alteração no artigo 144 da Constituição Federal, através de uma emenda constitucional, especificamente em seus parágrafos § 4º e § 5º que dizem respeito às funções da Polícia Militar e Polícia Civil. O novo modelo a ser criado deveria afirmar que as duas funções podem ser exercidas por uma mesma organização policial. 
4.1 FORMAS DE IMPLEMENTAÇÃO DE CICLO COMPLETO
Não há uma forma ideal de polícia de ciclo completo a ser seguida. Caso fosse alterado, o novo arranjo teria que se adequar a melhor realidade do país. Neste contexto, relatamos abaixo alguns exemplos de policia de ciclo completo que poderiam ser incorporadas em nosso sistema policial em âmbito estadual.
 
4.1.1 UNIFICAÇÃO DAS POLICIAS
Primeiramente a opção seria a junção das Policias Civis e Militares em cada unidade da Federação, criando uma única polícia estadual. Cada polícia estadual estaria incumbida de realizar as funções de policiamento ostensivo, preservação da ordem pública e de polícia judiciária, exercendo dessa forma o ciclo completo. Para que isto ocorra, seria necessário determinar um tempo para que cada unidade da federação se adeque ao novo modelo constitucional. 
Silva Filho (2001, p. 3/4) elenca várias justificativas para a unificação, dentre elas: 
1) As atividades desenvolvidas pela Polícia Militar e pela Polícia Civil não são tão diferentes e distanciadas que precisem de estruturas organizacionais distintas. 
2) As funções ostensivas e investigativas, para obtenção de êxito, devem se interpenetrar desde a fase de planejamento das ações até sua execução. 
3) A divisão de uma área de atuação policial entre dois chefes de diferentes padrões de comportamento profissional, diferentes graus hierárquicos e diferentes salários e submetidos a diferentes normas. 
4) Estruturas distintas atuando no mesmo espaço em busca de solução para o mesmo problema. 
5) A moderna metodologia de diagnóstico dos problemas de uma área, mediante banco de dados de análise criminal, demanda o planejamento de ações diferenciadas para um mesmo padrão de crime, ora através do policiamento ostensivo (uma série de roubos em farmácias da região praticados por assaltantes diferentes), ora através da investigação (quando nessa série de roubos há identificação dos suspeitos)‖. 
6) O custo operacional e administrativo duplicados em razão das duplas estruturas policiais
O caminho mais fácil para essa criação, seria a junção de recursos humanos, materiais e logística das duas instituições, onde todo esse aparato passaria a compor uma nova polícia, que necessariamente receberia um nome alternativo.
	Dessa forma cada estado da federação ficaria incumbido de estabelecer essa nova polícia, criando novos planos de carreira, novos regimentos internos e uma nova hierarquia. Os policiais que já estão na ativa seriam inseridos nesse novo sistema, passando a ocupar cargos e hierarquia mediante critérios estabelecidos de transição instituídos pela legislação estadual.
	Com efeito, não é um processo simples, tal unificação afeta diretamente interesses de autoridades da área e vaidades institucionais. A cultura interna de cada corporação, representa uma grande dificuldade a ser alcançada para conseguir a unificação;
4.2 Ciclo Completo por tipo de crime
	Outra opção para implementação do ciclo completo seria a divisão por tipo penal, desta forma cada polícia ficaria responsável por parte dos crimes e contravenções estabelecidas no código penal, concedendo atribuições ostensivas e investigativas, tanto as policias militar, quanto as polícias civis, atuando ambas na mesma cidade. 
	Alguns pensadores defendem a ideia de que a Polícia Militar ficaria com os crimes de menor potencial ofensivo, cujo a pena máxima não ultrapasse dois anos e a Polícia Civil com os crimes mais violentos como os homicídios e latrocínios.
	No entanto o grande problema dessa organização seria o prestigiamento de uma instituição em relação a outra, tendo em vista que determinados crimes se tornam mais relevantes que outros. 
4.3 Policias Militares e Policias Civis de Ciclo Completo
Uma terceira opção para implementação do ciclo completo seria, que a constituição passasse a estabelecer que as policias civis e militares dos estados, ambas, teriam tanto o segmento fardado, responsável pelo patrulhamento ostensivo quanto o segmento investigativo, responsável pela condução dos inquéritos.
O que ocorreria na pratica seria implementar um setor de investigação nas Policias Militares, e um setor de patrulhamento ostensivo nas Policias Civis, onde cada Estado da Federação ficaria responsável por realizar concursos públicos para completar os cargos de cada instituição, desta forma, mais investimentos em equipamentos e recursos humanos seria necessário. 
A principal critica a esse sistema seria à distribuição das policias entre as cidades, já que não seria conveniente as duas polícias continuarem atuando em um mesmo espaço. Isto porque não iria haver uma completariedade de trabalho entre elas. O fato de ambas as polícias realizarem tanto os trabalhos ostensivos e de investigação na mesma cidade, causaria ainda mais conflito do que o modelo atual. Uma forma de resolver esse problema seria as policias atuarem em cidades distintas. A constituição pode estabelecer que os estados teriam a prerrogativa de distribuir as policias nas cidades que melhor lhe convier, de qualquer maneira, poderia causar grandes divergências políticas, envolvendo prefeitos, vereadores, deputados estaduais.

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