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COACHING E CARREIRA Ana Clara Aparecida Alves de Souza Introdução ao coaching Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar coaching. Reconhecer os antecedentes históricos do coaching, da Idade Média à contemporaneidade, e a evolução da sua base teórica. Identificar as características fundamentais de um coach. Introdução O coaching, como prática de assessoramento, vem sendo difundido de maneira exponencial em alguns países, incluindo o Brasil. Apesar de esse termo ter alcançado bastante popularidade, inclusive tendo sido men- cionado em uma novela de horário nobre no Brasil, muitas pessoas não entendem o que é o coaching. A confusão sobre o termo se dá também pela ausência de diretrizes, regulamentações e legislações claras, que determinem como essa atividade vai se configurar, quais são os seus pressupostos fundamentais e quem pode exercê-la. Dessa forma, no processo de configuração conceitual do coaching, alguns autores fazem reflexões sobre o seu formato enquanto metodo- logia e sobre os elementos indispensáveis à prática. Algumas organiza- ções que oferecem formações em coaching também participam desse processo de conceituação. As características fundamentais de um coach se desenvolvem na busca pelas melhores práticas e pela postura mais adequada no exercício dessa atividade. Neste capítulo, você vai estudar os fundamentos da conceituação de coaching, verificando a origem do termo e seus antecedentes históricos e teóricos. Você também vai identificar as características fundamentais do profissional coach, possibilitando o melhor entendimento sobre a prática do coaching. Conceito de coaching O coaching é uma metodologia que pode ser conceitualizada de diferentes ma- neiras, conforme a abordagem que se dá. Entretanto, alguns elementos serão recorrentes e fundamentais nesse processo de conceituação. Pode-se compreender que coaching diz respeito a uma forma de estabelecer relações de potenciali- zação, por meio das quais o coach — profi ssional que vai conduzir as sessões — estimula o coachee — pessoa que contratou o serviço — a realizar profundas refl exões, por meio das quais serão defi nidos objetivos, bem como as estratégias para alcançá-los. O coaching se relaciona a um estilo de vida por meio do qual se buscam caminhos novos ou renovados, que levem ao alcance de objetivos; nesse processo, também se busca alcançar o autoconhecimento, conforme leciona Whitmore (2012). Conceituar coaching não consiste em apresentar uma sentença ou frase pronta, fechada e inquestionável. Essa conceituação deve ter como premissa a compreensão dos fundamentos e das particularidades da prática de coaching, que a diferenciarão de práticas como mentoring, aconselhamento, consultoria, entre outras. Timothy Gallwey, um famoso treinador de golfe, foi um dos pioneiros na adoção de técnicas diferenciadas de instrução, potencializando a consciência e a responsabilidade de seus treinados por meio do “jogo interno”. As técnicas incorporadas por Gallwey serviram de inspiração para que Whitmore (2012), referência na teorização do coaching, pudesse desenvolver aspectos dessa prática associados ao ambiente organizacional, levando em consideração elementos significativos, como a representatividade do “significado” e do “propósito”. Para além de um serviço, o coaching diz respeito a um estilo de vida adotado pelo coach, que permite que ele estimule no coachee a adoção de um estilo de vida que proporciona empoderamento. Esse empoderamento se dá por meio do exercício de questionamentos efetivos e da identificação de informações potentes e úteis, que levem ao alcance de objetivos. No sentido de ilustrar como ocorre essa relação de estímulo do coach para o coachee, podemos pensar em um objetivo declarado pelo coachee em uma primeira sessão — por exemplo, “emagrecer”. Ao relatar esse objetivo, o coachee será estimulado pelo coach a refletir sobre o motivo dessa demanda, como ela se configurou ao longo do tempo, por que isso é importante, se existiram outros momentos nos quais o coachee buscou atender a esse objetivo, por que não foi possível, quais são as metas de perda de peso em volume e tempo e como se pode começar a buscar isso ao longo da primeira semana após a sessão, por exemplo. Questiona-se quais são as questões fundamentais que potencializam Introdução ao coaching2 esse problema e se o coachee já buscou ajuda de profissionais da área de nutrição e/ou de outras áreas. Então, esse processo, sem ser diretivo e sem determinar o que o coachee vai fazer, mas levando-o à reflexão por meio dos mais diversos questionamentos, vai desenhando um caminho, identificado pelo próprio coachee e pelas informações que ele mesmo detém sobre como esse objetivo poderá ser alcançado. Cabe ao coach potencializar essas reflexões no coachee, para que este esteja mais consciente e pleno a respeito do seu objetivo e do fato de que ele mesmo guarda as respostas necessárias. Nesse processo, outro elemento fundamental do coaching vai se consolidar: a autoconfiança que o coachee vai resgatar em relação a como agir rumo ao atendimento de suas demandas. Cada sessão de coaching terá como foco a busca pela potencialização da consciência e da responsabilidade do coachee; a segurança deste vai se fortalecer à medida que ele for se sentindo protagonista da mudança na condição que ele deseja transformar, conforme aponta Whitmore (2012). Apesar de termos utilizado como exemplo uma demanda pessoal — o emagrecimento —, o coaching é uma metodologia que pode ser usada para diversas necessidades, sejam elas pessoais ou profissionais. A duração de cada sessão e o tempo de assessoramento vão variar conforme os interesses do coachee. Os resultados do coaching surgem a partir do estabelecimento da relação de suporte ao coachee, que será estimulado de maneira a encontrar os meios necessários para alcançar o seu objetivo, melhorando a sua performance e focando no seu potencial. O coach não busca uma posição diretiva, pois compreende que coaching não se trata de ensinar alguém, mas de ajudar alguém a aprender a partir de si, por meio de estímulos, conforme aponta Whitmore (2012). O coaching não se baseia na transmissão de conhecimentos, mas no estí- mulo ao desempenho psicológico do coachee. É preciso que ambos, coach e coachee, tenham essa noção clara, para compreender como o processo de assessoramento deverá ocorrer. Apesar de sua contribuição ao desempenho psicológico do coachee, a prática de coaching não deve ser vista como uma substituta da psicologia, mas, sim, como um meio de contribuir para a refle- xividade do coachee. O profissional coach deve ser sensível e responsável, 3Introdução ao coaching identificando quando o coachee necessita do auxílio de outro profissional para a resolução de problemas. A contribuição do coaching para o desenvolvimento do potencial do coachee somente se dará por meio da adoção de práticas a longo prazo. Tais práticas devem se tornar parte da percepção de mundo do coachee e ser internalizadas como naturais à sua vivência, conforme sugere Whitmore (2012). Fundamentalmente, o coaching consiste na reconfiguração de relaciona- mentos e linguagens. Na perspectiva organizacional, o coaching busca um processo de transformação no estilo de gestão, que não cause prejuízo, por estimular a consciência, o empoderamento e a reflexão de colaboradores, mas que fortaleça o potencial e a responsabilidade dos membros da organização. Esses atributos tendem a ficar adormecidos nos processos convencionais de orientação e treinamento. No contexto organizacional, o coaching pode ser mobilizado para o aten- dimento de uma diversidade de interesses, como: motivação individual e de equipe; delegação de responsabilidades; resolução de problemas; questões de relacionamento; construção de equipes; avaliações; desempenho de tarefas; planejamento e revisão; desenvolvimento de grupos; e trabalho em equipe. Dois elementos são essenciais para a compreensão dos fundamentos do coaching, conforme aponta Whitmore (2012): Primeiro, a consciência, que abrange a atenção, a concentração e a clareza. Considerando esse elemento, o coachee é capaz de captar de forma mais eficiente o que está acontecendo ao seu redor. Ainda, por meio da autoconsciência, ele pode perceber de forma mais clara o que está experienciando em cada situação. O segundo elemento é a responsabilidade. Nessa perspectiva, quando os pensamentos e as ações são apreendidos, assume-se a responsabilidade, e, assim, o comprometimento aumenta, bem como a performance. Introdução ao coaching4 Destacadas essas características que fundamentam o coaching, vale ressaltar as definições dessa prática elaboradas por alguns autores, listadas no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Silva et al. (2018). Autor Definição Parsloe (1995, p. 18) “O coaching é diretamente relacionado com o aprimora- mento imediato de desempenho e o desenvolvimento de habilidades, através de uma forma de tutorial ou instrução”. Whitmore (1992, p. 8) “Coaching é o desbloqueio do potencial de um indivíduo de forma a maximizar seu desempenho. É ajudar o outro a aprender ao invés de ensiná-lo”. Stober & Parry (2005, p. 13) “Coaching é um processo colaborativo que visa facilitar a habilidade de um cliente para autodirigir seu aprendi- zado e crescimento, sendo evidenciado por mudanças significativas na autocompreensão, no autoconceito e comportamento”. Grant (2005, p. 4) “Coaching pode ser compreendido como uma metodo- logia genética usada para aprimorar as habilidades e o desempenho, assim como o desenvolvimento de indiví- duos. É um processo sistematizado no qual indivíduos são ajudados a explorar seus problemas, estabelecer metas, desenvolver planos de ação e agir, monitorar e avaliar seu desempenho de forma a melhor alcançar suas metas”. Milaré & Yoshida (2007, p. 88) “A essência do coaching é ajudar o indivíduo a resolver seus problemas e a transformar o que aprendeu em resultados positivos para si e para a equipe a qual lidera”. Cox, Bachkirova & Clutterbuck (2014, p. 1) “O coaching é um processo de desenvolvimento humano que envolve o uso de interações estruturadas e focadas e de estratégias, ferramentas e técnicas apropriadas para promover mudanças desejáveis e sustentáveis, visando o benefício do indivíduo e, potencialmente, de outros stakeholders”. Quadro 1. Definições de coaching 5Introdução ao coaching Ao realizar buscas na internet sobre coaching, surgirá uma infinidade de informações, o que pode acabar confundindo o leitor. Dessa forma, as reflexões apresentadas neste capítulo podem contribuir para a criação de filtros, que permitam ao leitor identificar fontes confiáveis de informação. A banalização do termo coaching levou ao aparecimento de apropriações não confiáveis do termo e à consequente oferta de produtos e serviços não recomendados. Fique atento! Antecedentes do coaching Há diversas hipóteses sobre a origem do termo coaching. Uma dessas hipó- teses associa o termo coach à palavra carruagem, veículo que passou a ser utilizado na Europa por volta do século XV. Em português, emprega-se o termo cocheiro para designar a pessoa que conduz ou guia a carruagem. Uma segunda hipótese relaciona o termo coach ao esporte, já que esse termo, em inglês, também signifi ca técnico ou treinador, isto é, aquele que vai conduzir os seus treinados ao alcance de um objetivo. No processo de compreensão da origem do termo, pode-se entender o coa- ching como uma metodologia por meio da qual o coach vai orientar o coachee, utilizando diferentes técnicas, conforme lecionam Whitmore (2012) e Silva et al. (2018). Partindo dessa associação com o treinamento, nos esportes, para se chegar à noção contemporânea de facilitação, no ambiente organizacional, o coaching passou por um processo de configuração. A prática manteve a ideia original de direcionamento, mas passou a destacar, de maneira mais assertiva, um estímulo ao desenvolvimento pessoal do indivíduo, por meio da promoção da reflexividade do coachee. A noção contemporânea de coaching não possui uma definição clara, con- forme destacado anteriormente. Isso porque, atualmente, há uma proliferação de formações em coaching e um aumento contínuo no número de pessoas que se declaram profissionais dessa área. Muitos indivíduos oferecem classificações diversas e autorais do que vem a ser a atividade de coaching, promovendo-as por meio de canais na internet. Em meio a essa diversidade de informações, muitas vezes errôneas, os acadêmicos buscam melhor compreender a temática e filtrar as informações propagadas nos diversos meios. Além das dificuldades em definir as origens e conceituar de forma objetiva a prática de coaching, há ainda a indefinição quanto às práticas, às habilidades, Introdução ao coaching6 às características e aos objetivos do profissional dessa área. Muitas técnicas, modelos e ferramentas são incorporados à prática do coaching, que passa a assumir diferentes formas, no que tange à sua metodologia. Fundamentos teóricos do coaching Ao origens do coaching enquanto método disciplinar, tal qual se conhece hoje, remetem ao diálogo com diferentes disciplinas, como fi losofi a, psicologia, ad- ministração, sociologia, entre outras, no processo de construção desse conceito, que segue em constante defi nição. Assim, são diversos os esforços e as classi- fi cações que buscam conceituar o termo coaching. O Quadro 2 traz diferentes abordagens dessa prática, com base na síntese elaborada por Silva et al. (2018). Abordagem Essência do coaching Humanista “O coaching é, acima de tudo, sobre crescimento e mudança do humano”. (Stober, 2006, p. 17) Existencial Abordagem baseada nos três princípios da condição humana: necessidade de relacionamento, incerteza e ansiedade existencial. Seu foco é primariamente na exploração descritiva da visão de mundo do indivíduo, considerando suas preocupações atuais (Spinelli, 2014) Ontológica O coaching ontológico consiste em uma forma de trabalho com indivíduos, baseada no engajamento de três esferas da existência humana: linguagem, emoções e fisiologia (postural corporal) (Sieller, 2014). Transpessoal Nessa perspectiva, o coaching visa a aprimorar a conscientização da dimensão transpessoal da vida e facilitar a experiência de se conectar com os outros, de forma a gerar sentimentos de alegria e completude (Rowan, 2014). Análise transacional Abordagem interacional baseada em diversas noções, tais como os estados do ego, os roteiros de vida e os padrões interacionais (Napper & Newton, 2014). Comportamental “O propósito do coaching é a mudança de comportamento”. (Peterson, 2006, p. 51) Quadro 2. Conceituações do termo coaching (Continua) 7Introdução ao coaching As abordagens apresentadas no Quadro 2 não esgotam as possibilidades de conceituação teórica do coaching, conforme apontam Silva et al. (2018). Na ver- dade, diversos esforços têm sido realizados em diferentes áreas para classificar essa atividade e melhor compreendê-la. Entretanto, é fundamental que o leitor que está explorando o tema busque identificar, nas amplas classificações, os elementos comuns — como a ideia fundamental de que é por meio do auxílio e do assessoramento do coach que o coachee vai encontrar em si o suporte e as informações necessárias à busca pelo seu objetivo. Fica evidenciado nessas classificações que deve ser buscado pelo coach a potencialização do coachee, no que diz respeito ao seu pensamento, desenvolvimento e reflexividade. A consciência, a mudança de comportamento e a reconfiguração de pensa- mentos e práticas perpassam todos esses esforços classificatórios — é nesses elementos centrais que o coaching se configura em essência. Fonte: Adaptado de Silva et al. (2018). Abordagem Essência do coaching Desenvolvimento adulto Coachingé sobre ajudar clientes a amadurecerem (Ives, 2008). Cognitivismo O coaching é, principalmente, sobre o desenvolvimento de pensamentos adaptativos (Ives, 2008). Orientação para metas “Coaching é um processo orientado para metas e soluções”. (Grant, 2006, p. 156) Psicologia positiva “Desviar a atenção do que causa dor para o que energiza e impulsiona as pessoas a seguirem adiante”. (Kauffman, 2006, p. 220) Quadro 2. Conceituações do termo coaching (Continuação) Para saber mais sobre como vem sendo construída a noção de coaching, ao buscar o termo definições de coaching na internet, é possível ter uma noção de como as empresas que oferecem formações buscam classificar essa atividade. Se for acrescentada Introdução ao coaching8 Características fundamentais de um coach Os ambientes sociais em constante mudança têm levado as pessoas e as orga- nizações a buscarem novos sentidos e formas de executar práticas tidas como consolidadas e, muitas vezes, inquestionadas. Nesse processo de reconfi guração e adequação de práticas a essas mudanças ambientais sistemáticas, o coaching tem conquistado espaço ao propor mudanças signifi cativas em questões fun- damentais, como a forma por meio da qual as pessoas refl etem e questionam as suas práticas. Afi nal, ao longo do tempo, deixou-se de fazer perguntas fundamentais, que antes possibilitavam a compreensão das inquietações e dos contextos nos quais os indivíduos se inserem. Nesse sentido, pensar nas características fundamentais de um coach é associar as habilidades desse profissional a elementos essenciais nos processos de autoconhecimento e tomada de consciência e responsabilidade, conforme aponta Whitmore (2012). O treinamento e a formação em coaching, de forma isolada, não serão capazes de garantir que o profissional tenha aquilo que se apresenta como seminal para a prática dessa atividade. Algumas das caracte- rísticas fundamentais de um coach podem ser elencadas; entretanto, deve-se considerar que outras diversas podem se somar, no sentido de atender às questões fundamentais da prática do coaching. O profissional coach deve ser alguém com bom autoconhecimento e ge- renciamento de si, no sentido de poder, na troca com o coachee, potencializar estímulos que o levem a também alcançar essas habilidades. O coach deve ser alguém capaz de estabelecer uma boa comunicação e um bom suporte ao relacionamento com a pessoa que vai assessorar. Esses elementos permitem que se conquiste maior confiança; assim, as reflexões e informações oriundas do coachee podem se intensificar. A capacidade de dar suporte a alguém é fundamental ao coach, dado que, no processo de descobertas do coachee e na execução das estratégias — definidas como caminhos aos objetivos —, será necessário acompanhar de maneira atenta e garantir os ajustes necessários ao processo, conforme aponta Whitmore (2012). à busca a palavra Scielo (“definições de coaching Scielo”), é possível identificar artigos acadêmicos que fazem o esforço de definir e contextualizar essa prática. Isso permitirá ao leitor ampliar a noção de coaching para além deste capítulo e compreender o quanto esse tema vem sendo explorado e debatido. 9Introdução ao coaching Ter paciência e ser um bom ouvinte são atributos que permitirão ao coach ter a capacidade de acalmar o coachee, especialmente em momentos em que surge a pressa para atingir algum objetivo. Nessas horas, o coachee deve estar consciente e sereno quanto às etapas, às ações e ao tempo necessário. Na manifestação de suas urgências, o coachee necessitará que o coach seja capaz de ouvi-lo e de potencializar a sua fala ao interagir, e não apenas silenciar ou concordar de maneira monossilábica com os seus relatos. Os interesses do coachee devem ser respeitados pelo coach, e suas infor- mações devem ser norteadoras das sessões e das decisões que venham a ser tomadas em conjunto. O coach deve evocar no coachee criatividade e inovação, para este pensar sobre as questões apresentadas. O respeito à diversidade é também uma característica fundamental do coach, além da flexibilidade e da capacidade de evitar ser assertivo e diretivo em suas orientações ao coachee. O coach não precisa ser obrigatoriamente alguém da área em que o coachee necessita de auxílio, mas deve ter uma noção geral, baseada na dedicação e no estudo de variadas fontes, buscando compreender como se configura o contexto da atuação do coachee, conforme sugere Whitmore (2012). Se a orientação desejada é relacionada ao universo esportivo, por exemplo, é fundamental que o coach busque informações para melhor compreender o esporte praticado pelo coachee. Se a orientação é sobre uma carreira de alto executivo em uma multinacional, por exemplo, o coach deverá se situar sobre a configuração desse universo. O coach deve atuar como um elevador de consciência do coachee, con- forme leciona Whitmore (2012). Por isso, ele não precisa ter formação na área atendida, mas necessitará de um conhecimento, adquirido em formação, a respeito de como conduzir essa elevação de consciência. Se o coach não acredita plenamente naquilo que defende, o coaching não deverá ser a sua atividade profissional. É claro que ter uma formação na área a que o coachee deseja se dedicar não é um fator prejudicial ao coach; tal formação poderá ajudar ou prejudicar, dependendo da forma como esse conhecimento for abordado pelo coach em sua relação com o coachee. O importante, acima de tudo, é que o protagonismo e a responsabilidade do coachee sejam potencializados. Nesse sentido, Batista e Cançado (2017), ao realizarem uma pesquisa sobre as competências do coach, a partir da percepção de coaches no Brasil, destacaram 14 competências fundamentais a esses profissionais, relacionadas a conhecimentos (C), habilidades (H) e atitudes (A), conforme apresentado no Quadro 3. Introdução ao coaching10 Fonte: Adaptado de Batista e Cançado (2017). Ordem Competências CHA 1 Manter a confidencialidade de informações e dados da atividade de coaching, para garantir um trabalho ético. H 2 Exercitar a escuta ativa, para identificar as necessidades do cliente. H 3 Comunicar-se com o cliente de forma clara e objetiva. H 4 Criar empatia com o cliente, para estabelecer aliança profissional. H 5 Promover a autoanálise (conhecer suas próprias forças e fraquezas), para avaliar os resultados do seu próprio trabalho. A 6 Auxiliar o cliente a adquirir clareza sobre suas próprias motivações, aspirações e compromissos com a mudança. A 7 Auxiliar o cliente na análise de suas respostas inte- lectuais, emocionais e profissionais, para promover o autodesenvolvimento. A 8 Comprometer-se com os objetivos do cliente/organização, a fim de alcançar as expectativas e os resultados. A 9 Estabelecer processos de aprendizagem contínua para aprimoramento do desempenho do cliente. C 10 Auxiliar o cliente a lidar com incertezas e ambiguidades, preparando-o para enfrentar mudanças, contratempos e eventualidades. A 11 Auxiliar o cliente a alinhar suas metas de desempenho individual às metas da organização. C 12 Transmitir uma visão de mundo ampla e global, para estimular a capacidade de reflexão do cliente. C 13 Diagnosticar o funcionamento da organização (papel e expertise de cada unidade da organização), para auxiliar o cliente a trabalhar de forma integrada, para potencializar os resultados organizacionais. C 14 Acompanhar as tendências de mercado, para auxiliar o cliente a lidar com situações novas e inusitadas. C Quadro 3. Competências requeridas para o exercício da profissão coach 11Introdução ao coaching Além dessas características, Weiss (2012) destaca também como característi- cas do coach a escuta habilidosa e sensível, a capacidade de comunicação sensível e franca e a perspicácia de observador do comportamento. Ressalta ainda que o coach deve ter habilidades mínimas de consultoria e conhecimento organiza- cional, não tendo, necessariamente, queser um consultor. O comportamento do coach deve combinar paciência, capacidade de persuasão e confidencialidade. Visando ao melhor entendimento de como o coaching e a atividade do coach têm sido banalizados, os artigos disponíveis nos links a seguir apresentam reflexões e alertas relacionados ao tema. https://qrgo.page.link/3nbmq https://qrgo.page.link/xX7Mj Características negativas no exercício do coaching As características dispensáveis na atividade de coaching são justamente aquelas opostas às características fundamentais. Nesse sentido, um profi ssional coach não deve ser alguém que trabalha a partir de imposições e certezas inquestio- náveis, pois, dessa forma, não permitirá o espaço necessário ao coachee para a identifi cação de suas próprias respostas e caminhos. O coach também não deverá ser alguém que traça um plano de ação para o coachee a partir das suas próprias convicções ou daquilo que, em algum momento, funcionou na sua experiência pessoal. Ele deve compreender o contexto do coachee, desde a sua personalidade até o seu histórico pessoal e as suas vivências acumuladas. Não é papel do coach traçar receitas milagrosas para o coachee, considerando que há uma grande probabilidade de elas não se adequarem a realidades diferentes. Uma pessoa pouco empática não será um bom coach; é necessário sis- tematicamente se colocar no lugar no coachee, para compreender a fundo suas angústias e os sofrimentos associados à demanda apresentada. Nesse exercício, será possível captar questões elementares para a compreensão do objetivo declarado. Introdução ao coaching12 O coach não deve ser uma pessoa convicta de que sabe tudo e que o seu papel é apenas de ensinamento. Ao contrário, no processo de assessoramento, o coach, sendo sensível à troca, vai crescer em conjunto com o coachee e apren- der com essa interação. Sinalizar que estão ambos em construção e evolução nesse processo é fundamental ao estabelecimento da confiança necessária. No processo de conhecimento do coachee, o coach deve perceber até onde a sua expertise pode contribuir para potencializar habilidades e reconhecer que aquele que tem as informações fundamentais, que serão usadas para traçar uma estratégia, é o coachee, e não ele próprio. O coach deve se perceber como um facilitador e estimulador da autoconsciência do coachee. Para compreender como pode ocorrer uma sessão de coaching, recomenda-se ao leitor a busca por vídeos na internet, pois, por meio deles, é possível identificar vários modelos de interação, tanto individuais quanto em grupo. No link abaixo, temos um exemplo de uma sessão de coaching individual. https://qrgo.page.link/s9y5m BATISTA, K.; CANÇADO, V. L. Competências requeridas para a atuação em coaching: a percepção de profissionais coaches no Brasil. Revista de Gestão, [s. l.], v. 24, n. 1, p. 24- 34, 2017. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rege/article/view/131522. Acesso em: 24 jun. 2019. SILVA, L. C. O. et al. Desvendando o coaching: uma revisão sob a ótica da psicologia. Psico- logia: Ciência e Profissão, [s. l.], v. 38, n. 2, p. 363-377, abr./jun. 2018. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1414-98932018000200363&lng= en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 24 jun. 2019. WEISS, A. Coach de ouro: como alcançar o sucesso em uma atividade atraente e rentável. Porto Alegre: Bookman, 2012. WHITMORE, J. Coaching para aprimorar o desempenho. São Paulo: Clio Editora, 2012. 13Introdução ao coaching Leituras recomendadas COSTA, E. S.; BRUM, V. Coaching e mentoring no processo de gestão de carreira: um estudo sobre a ferramenta GROW e a sua aplicabilidade no contexto empresarial. Revista da Carreiras e Pessoas, Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 46-62, jan./abr. 2019. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/ReCaPe/article/view/37233. Acesso em: 24 jun. 2019. PIMENTA, F. F. A transformação através do processo de coaching. In: SPINK, M. J. P.; FIGUEIREDO, P.; BRASILINO, J. (org.). Psicologia social e pessoalidade. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; ABRAPSO, 2011. Introdução ao coaching14
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