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4 - CICLO COMPLETO DE POLÍCIA NO BRASIL O crescimento urbano no Brasil ocorreu e ainda se desenvolve de modo desordenado, sem qualquer tipo de planejamento político, social, geográfico e econômico, originando problemas de toda complexidade, normalmente de ordem social. A Constituição Federal de 1988 delimita a questão da segurança pública de modo segmentado, conforme previsto em seu artigo 144, em que apresenta as instituições de segurança pública no pais como a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Ferroviária Federal, das Polícias Militares e Civis dos Estados e dispõe suas respectivas obrigações. Vigente há 30 anos, a proposta descrita no artigo 144 tem apresentado algumas disfunções relacionadas a estrutura organizacional, devido à falta de solução de continuidade no processo de atuação funcional junto a sociedade. Essa disfunção tem gerado a demanda por serviços mais ágeis, dinâmicos e com melhor qualidade que o atual modelo. Diante do grande problema enfrentado no Brasil no tocante a segurança pública, aliado a baixa resolutividade dos crimes, surge a pergunta qual melhor caminho para reformar as polícias no Brasil? Para essa pergunta já podemos afirmar que o ciclo completo de polícia por si só não resolveria todos os problemas enfrentados na polícia brasileira, mas de certa forma, há um grande desejo de reforma do arcabouço institucional a partir do ciclo completo, já que este padrão advêm do sucesso de outros países como Estados Unidos, Canadá e França, em que a polícia é dividida somente em áreas territoriais, não existindo divisão funcional da policial. Verificamos que no âmbito nacional, contamos com uma Policia Federal de ciclo completo, ela não se restringe às funções de polícia judiciária da União. Suas funções compreendem também em patrulhamento de fronteiras, polícia marítima e aérea. No entanto, temos duas outras polícias de ciclos incompletos na esfera federal, destinadas a proteção de rodovias e ferrovias federais. Como já foi dito, a Polícia Ferroviária Federal, embora tenha previsão constitucional, nunca foi objeto de criação efetiva pela decadência de nossas ferrovias. Em se tratando das rodovias federais, a proteção fica a cargo da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que não é uma polícia de ciclo completo, já que sua função é realizar o patrulhamento ostensivo das rodovias. Para a PRF se tornar uma polícia de ciclo completo, o novo arranjo constitucional teria que atribuir a prerrogativa de investigar os crimes eventualmente ocorridos nas rodovias federais, independentemente de sua natureza, restrita nos locais onde realiza o patrulhamento ostensivo. Atualmente, a PRF já vem realizando a confecção de Termos Circunstanciados de Ocorrências nas rodovias federais, em crimes de menor potencial ofensivo, este procedimento também é feito pelas Polícias Militares dos estados, a qual veremos com mais detalhes no decorrer do artigo. No âmbito estadual, contamos com duas polícias de ciclo incompleto. Segundo a legislação, a Polícia Militar é responsável pelo policiamento preventivo e ostensivo, porém utiliza ações de investigação junto aos seus setores de inteligência e no levantamento de ocorrências para o emprego de efetivo em locais de maior necessidade. (FILHO, 2010) Por sua vez, a Polícia Civil é responsável pela investigação e apuração dos crimes já cometidos. No entanto, também emprega seu efetivo de maneira ostensiva, com equipes uniformizadas, em ações direcionadas a impedir a ocorrência de determinados crimes ou a produção de flagrante de delito (FILHO, 2010). Segundo Maximiano (2002): “A polícia militar e polícia civil tornaram-se organizações concorrentes, praticamente sem nenhuma interação. Diversos fatores contribuíram para que, no limiar do século XXI, a criminalidade se torna uma das grandes preocupações da sociedade brasileira, agravada pela ineficácia das duas corporações. ” A implementação do ciclo completo de polícia no Brasil em âmbito estadual exigiria a alteração no artigo 144 da Constituição Federal através de uma emenda constitucional, especificamente em seus parágrafos § 4º e § 5º que dizem respeito às funções da Polícia Militar e Polícia Civil. No ciclo completo, as polícias civis e militares atuariam de forma plena, do início ao término da ocorrência, atuando desde o inicio da notícia do crime até a acusação pelo Ministério Público, diminuindo assim a interdependência que existe hoje, onde nenhuma das duas consegue prestar um serviço completo aos cidadãos. No entanto, não há uma estrutura ideal de ciclo completo de polícia a ser seguida em, um novo modelo teria que se adequar à realidade e as demandas do país. 4.1 FORMAS DE IMPLEMENTAÇÃO DE CICLO COMPLETO A literatura acerca da temática de ciclo completo de polícia traz diferentes maneiras de organização desse modelo. Segundo Sapori (2016), três opções de implantação de ciclo completo seriam possíveis no âmbito estadual, que passam a ser expostas a seguir. 4.1.1 UNIFICAÇÃO DAS POLICIAS Uma proposta de implantação de ciclo completo seria a junção das Policias Civis e Militares em cada unidade da Federação, criando assim uma única polícia estadual. Cada polícia estadual estaria incumbida de realizar as funções de policiamento ostensivo, preservação da ordem pública e de polícia judiciária, exercendo dessa forma o ciclo completo. Para que isto ocorra, seria necessário a determinaçãode um tempo específico para que cada unidade da federação pudesse se adequar ao novo modelo constitucional. Silva Filho (2001, p. 3/4) elenca várias justificativas para a unificação, dentre elas: 1) As atividades desenvolvidas pela Polícia Militar e pela Polícia Civil não são tão diferentes e distanciadas que precisem de estruturas organizacionais distintas. 2) As funções ostensivas e investigativas, para obtenção de êxito, devem se interpenetrar desde a fase de planejamento das ações até sua execução. 3) A divisão de uma área de atuação policial entre dois chefes de diferentes padrões de comportamento profissional, diferentes graus hierárquicos e diferentes salários e submetidos a diferentes normas. 4) Estruturas distintas atuando no mesmo espaço em busca de solução para o mesmo problema. 5) A moderna metodologia de diagnóstico dos problemas de uma área, mediante banco de dados de análise criminal, demanda o planejamento de ações diferenciadas para um mesmo padrão de crime, ora através do policiamento ostensivo (uma série de roubos em farmácias da região praticados por assaltantes diferentes), ora através da investigação (quando nessa série de roubos há identificação dos suspeitos) ‖. 6) Os custos operacionais e administrativos duplicados em razão das duplas estruturas policiais O caminho mais fácil para essa criação, seria a junção de recursos humanos, materiais e logística das duas instituições, onde todo esse aparato passaria a compor uma nova polícia, que necessariamente receberia um nome alternativo. Dessa forma cada estado da federação ficaria incumbido de estabelecer essa nova polícia, criando novos planos de carreira, novos regimentos internos e uma nova hierarquia. Os policiais que já estão na ativa seriam inseridos nesse novo sistema, passando a ocupar cargos e hierarquia mediante critérios estabelecidos de transição instituídos pela legislação estadual. Com efeito, não é um processo simples, tal unificação afeta diretamente interesses de autoridades da área e vaidades institucionais. A cultura interna de cada corporação, representa uma grande dificuldade a ser alcançada para conseguir a unificação; 4.1.2 Ciclo Completo por tipo de crime Outra opção para implementação do ciclo completo seria a divisão por tipo penal, desta forma cada polícia ficaria responsável por parte dos crimes e contravenções estabelecidas no código penal, concedendo atribuições ostensivas e investigativas, tanto as policias militares, quanto as polícias civis, atuando ambas na mesma cidade. Alguns pensadores defendem a ideia de que a Polícia Militar ficaria com os crimes de menor potencialofensivo, cujo a pena máxima não ultrapasse dois anos e a Polícia Civil com os crimes mais violentos como os homicídios e latrocínios. No entanto, o grande problema dessa organização seria o prestigiamento de uma instituição em relação a outra, tendo em vista que determinados crimes se tornam mais relevantes do que outros, gerando, portanto, fortes oposições das autoridades polícias hierarquicamente superiores. Embora haja críticas a esse modelo organizacional, atualmente é possível verificar uma aproximação às práticas dessa estrutura através dos termos circunstanciados lavrados pela Polícias Militares em alguns estados da federação. O Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCOs) é um procedimento de natureza administrativa, de forma simplificada, previsto no art. 69 da Lei 9.099/95, Lei do Juizado Especial, que registra o resumo da ocorrência de infração penal de menor potencial ofensivo. Neste modelo, podemos destacar algumas vantagens, entre elas: a)a resolução do conflito de forma mais célere, agilizando o atendimento no local da ocorrência, evitando a condução das partes até a Delegacia de Polícia que muitas das vezes é localizadas distante do local da infração. b) a redução do tempo em que o policial militar fica empenhado na ocorrência, podendo voltar mais rápido ao seu trabalho ostensivo. c) aliberaçãodo efetivo da policia civil para as investigações de crimes mais graves. Atualmente, o entendimento do STF sobre a lavratura do termo circunstanciado lavrado pela PM é que poderá ser instaurado por qualquer autoridade policial, como sendo não somente a policia judiciária, mas outros integrantes da segurança pública. Ainda com divergência jurisprudencial e doutrinária, acredita-se que o entendimento que deve prevalecer é que tanto a PM quanto a PRF continuem lavrando os termos circunstanciados, ainda mais considerando o princípio da celeridade e simplicidade que devem ser observados nos Juizados Especiais Criminais. 4.1.3 Policias Militares e Policias Civis de Ciclo Completo Uma terceira opção para implantação do ciclo completo seria o estabelecimento de funções tanto ostensivas quanto investigativas dentro de cada instituição policial, isto é, ambas as polícias, militares e civis, passariam a ter o seguimento fardado responsável pelo patrulhamento quanto o segmento investigativo, responsável pela condução dos inquéritos. A principal critica a esse sistema seria à distribuição das policias entre as cidades, já que não seria conveniente as duas polícias continuarem atuando em um mesmo espaço. Isto porque não haveria uma complementariedade de trabalho entre elas. O fato de ambas as polícias realizarem tanto os trabalhos ostensivos e de investigação na mesma cidade, causaria ainda mais conflito do que o sistema atual. 4.2 Principais Propostas de Emenda Constitucional sobre o Ciclo Completo MAXIMIANO, A. C. A.2002 Teoria Geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. SãoPaulo: Atlas.