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Neuroanatomia Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Aliny Antunes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Sistema Nervoso Periférico v1.1 Sistema Nervoso Periférico • Compreender a organização e divisão do sistema nervoso periférico; • Estudar os nervos cranianos e suas correlações fisiopatológicas; • Definir o conceito de sistema nervoso autônomo, bem como as divisões em sistema nervo- so simpático e sistema nervoso parassimpático. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Sistema Nervoso Periférico (SNP); • Gânglios; • Estrutura dos Nervos e Terminações Nervosas; • Nervos Cranianos; • Sistema Nervoso Autônomo; • Anexo I. UNIDADE Sistema Nervoso Periférico Sistema Nervoso Periférico (SNP) O sistema nervoso central – o cérebro e seu prolongamento caudal da medula espinhal – é conectado à periferia pelo sistema nervoso periférico (SNP), que não está contido dentro de um arcabouço ósseo, portanto, é mais suscetível a traumas. Ao descrevermos a anatomia do SNP, devemos considerar os seus principais com- ponentes: glânglios e nervos. Funcionalmente, o SNP pode ser dividido nos sistemas nervoso autônomo e somático. Ambos podem ser subdivididos ainda mais; o primei- ro, em simpático e parassimpático, e o segundo, em divisões sensoriais e motoras. Assim, tanto o sistema nervoso central quanto o sistema nervoso periférico são cons- tituídos por neurônios (corpos das células nervosas e seus axônios e dendritos) que realizam sinapses (os pontos nos quais um neurônio se comunica com o próximo). O sistema periférico permite que o SNC (cérebro e a medula espinhal) receba e envie informações para outras áreas do corpo, o que nos permite reagir a estímulos em nosso ambiente. Tanto o SNC quanto SNP cooperam o tempo todo para garantir nossas funções vitais. O sistema nervoso periférico deriva de células da crista neural. A crista neural é dividida axialmente nas células da crista neural craniana, vagal, truncal e lombos- sacra. As células da crista neural truncal contribuem para a raiz dorsal da medula espinhal e os gânglios simpáticos. A inervação parassimpática do coração se forma a partir da crista neural vagal. Foi demonstrado que a maioria do sistema nervoso parassimpático, incluindo todos os gânglios da cabeça, provém de células da glia, em vez de células da crista neural. Além das doenças desmielinizantes, as lesões nervosas periféricas também levam a perdas sensitivas e motoras e, por consequência, ocorrem parestesias, atrofias musculares e paralisias de alguns órgãos. Classicamente, as lesões nervosas perifé- ricas são classificadas em: a) neuropraxia – lesão leve com perda motora e sensitiva sem alteração estrutural; b) axonotmese – é comumente vista em lesões por esma- gamento, estiramento ou por percussão. Há perda de continuidade axonal e subse- quente degeneração walleriana do segmento distal. Nesse tipo de lesão, não ocorre perda de célula de Schwann, e a recuperação irá depender do grau de desorganiza- ção do nervo e também da distância do órgão terminal; c) neurotmese – separação completa do nervo, com desorganização do axônio causada por uma fibrose tecidual com consequente interrupção do crescimento axonal. 8 9 Figura 1 – Representação esquemática do sistema nervoso motor somático (SNMS) e do sistema nervoso neurovisceral/autônomo (SNA) que compõe o sistema nervoso periférico (SNP) Fonte: JOTZ, (2017) A origem de ambos (SNMS e SNA) é a partir do sistema nervoso central (SNC). Nos detalhes da imagem é possível verificar uma terminação nervosa do SNA formada por dilatações sinápticas arranjadas em série (a) e a junção neuromus- cular (b) contendo uma grande quantidade de receptores colinérgicos. Além disso, no detalhe (c) é possível observar a condução do potencial de ação (seta) ao longo de um segmento do axônio. Assim, verifica-se que durante a despo- larização cargas positivas se movem pelo fluxo de corrente local para porções adjacentes do citoplasma do axônio que estão negativamente carregadas. 9 UNIDADE Sistema Nervoso Periférico Gânglios Um gânglio é um grupo de corpos celulares de neurônios no SNP. Os gânglios podem ser classificados, na maioria das vezes, como gânglios sensitivos ou gânglios autonômicos, referindo-se às suas funções primárias. O tipo mais comum de gânglio sensitivo é um gânglio da raiz dorsal (posterior) que são dilatações nas raízes posteriores dos nervos espinais, localizadas nos fora- mes intervertebrais, imediatamente proximal à união das raízes anterior e posterior. Esses gânglios contêm os corpos celulares dos neurônios sensitivos primários, princi- palmente em uma área periférica. Tais neurônios sensitivos desenvolvem-se a partir das cristas neurais, dispostas ao longo das margens dorsolaterais do tubo neural. O impulso nervoso passa diretamente do ramo central ao periférico, desviando do corpo celular. Os 2 ramos têm características estruturais de axônios. Os corpos celulares esféricos, em um gânglio sensitivo, variam de 20 a 100 μm de diâmetro. Os grandes neurônios são para propriocepção e tato discriminativo; os de tamanho intermediário relacionam-se com tato, pressão, dor e temperatura; os menores neu- rônios conduzem impulsos para dor e temperatura. Figura 2 – Esquema destacando um segmento de medula Fonte: MARTINEZ, (2014) É possível visualizar, na Figura 2, a emergência das fibras motoras ventral- mente e a chegada das fibras sensitivas dorsalmente. Note que essas raízes se unem, em um ponto imediatamente distal ao gânglio da raiz dorsal, para formar um nervo espinal. 10 11 Figura 3 – Visão dorsal do saco dural (SD) fechado, revestindo a medula espinhal Fonte: TIRAPELLI, (2020) Inferiormente é observado o filamento da dura-máter espinhal (FDE), forma- do pela junção das três meninges. As setas brancas indicam alguns gânglios sensitivos das raízes dorsais dos nervos espinhais. As outras categorias principais de gânglios são as do sistema nervoso autônomo, que é dividido nos sistemas nervosos simpático e parassimpático. Os gânglios da cadeia simpática constituem uma fileira de gânglios ao longo da coluna vertebral que recebem entrada central do corno lateral da medula espinhal torácica e lombar superior. Três outros gânglios autonômicos relacionados à cadeia simpática são os gânglios pré-vertebrais, que estão localizados fora da cadeia, mas têm funções semelhantes. Eles são referidos como pré-vertebrais porque são anterio- res à coluna vertebral. Os neurônios desses gânglios autonômicos são de forma multipolar, com dendri- tos irradiando ao redor do corpo celular, onde são feitas sinapses dos neurônios da medula espinhal. Os neurônios da cadeia, os gânglios paravertebrais e pré-vertebrais se projetam para órgãos da cabeça e pescoço, cavidades torácicas, abdominais e pélvicas para regular o aspecto simpático dos mecanismos homeostáticos. Outro grupo de gânglios autonômicos é o formado pelos gânglios terminais, que recebem informações dos nervos cranianos ou espinhais sacrais e são responsáveis por regular o aspecto parassimpático dos mecanismos homeostáticos. 11 UNIDADE Sistema Nervoso Periférico Conexão clínica As duas categorias principais são: gânglios simpáticos e gânglios parassimpáticos. Um exemplo de gânglio parassimpático é o gânglio ciliar, envolvido na constrição e acomodação da pupila. Os danos no gânglio ciliar ou nos nervos ciliares curtos podem ser causados por lesão ou doença local e resultam em uma pupila tônica , ca- racterizada por fraca resposta da luz pupilar e perda de acomodação. A diminuição da sensibilidade da córnea ocorre frequentemente porque algumas fibras sensoriais aferentes da córnea passam pelos nervos ciliares curtos e pelo gânglio. Esses dois conjuntos de gânglios, simpático e parassimpático, geralmente se pro- jetam para os mesmos órgãos – uma entrada dos gânglios da cadeia e uma entrada de um gânglio terminal – para regular a função geral de um órgão. Estrutura dos Nervose Terminações Nervosas Um nervo contém feixes de fibras nervosas, axônios ou dendritos, cercados por tecido conjuntivo. Cada fibra nervosa é uma extensão de um neurônio cujo corpo celular é man- tido na substância cinzenta do SNC ou nos gânglios do sistema nervoso periférico (SNP). Os nervos periféricos que transportam informações para o SNC são chamados neurônios aferentes ou sensoriais , enquanto os que transmitem impulsos do SNC são conhecidos como neurônios eferentes ou motores . Neurônios aferentes trans- mitem uma variedade de impulsos transmitindo sensações gerais como toque, dor, temperatura e posição no espaço (propriocepção). Alguns também transmitem infor- mações sensoriais mais especiais, como os sentidos especiais do olfato, visão, audi- ção e equilíbrio. Por outro lado, os neurônios eferentes trazem informações nervosas gerais aos órgãos efetores, como músculos esqueléticos, órgãos viscerais e glându- las. Eles são responsáveis por iniciar funções motoras voluntárias e involuntárias, como contração muscular e secreção da glândula. A estrutura de um nervo espinal consiste em feixes paralelos de axônios mielini- zados e não mielinizados envolvidos por várias camadas de tecido conjuntivo. Uma bainha de tecido conjuntivo chamada epineuro envolve cada nervo externamente. Cada feixe de fibras nervosas é chamado fascículo e é cercado por uma camada de tecido conjuntivo chamado perineuro. Dentro do fascículo, cada fibra nervosa individual, com sua mielina, é cercada por tecido conjuntivo chamado endoneuro. Os nervos perifeŕicos apresentam uma irrigação sanguínea abundante, atraveś de vasos longitudinais, vasa nervorum. Os nervos também podem ser classificados como “cranianos” ou “espinhais”, de acordo com a saída do SNC. Os nervos cranianos emergem do crânio (cérebro/ tronco cerebral), enquanto os nervos espinhais saem do SNC pela medula espinhal. Existem 12 pares de nervos cranianos e 31 pares de nervos espinhais, dando um total de 43 nervos emparelhados, formando a base do sistema nervoso periférico. 12 13 Figura 4 Fonte: NOURELDINE, (2019) (A) Representação esquemática da organização do nervo; (B) secção trans- versal de baixa energia do nervo polifascicular mostrando a organização do nervo, com fibras nervosas individuais circundadas por endoneuro, fascícu- los nervosos circundados pelo perineuro e o epineuro de revestimento. O mesoneuro é visível circundando toda a bainha nervosa na periferia, com tecido adiposo (em cima à esquerda). Uma fibra nervosa mielinizada é circundada por uma bainha de mielina. A bai- nha de mielina não faz parte do neurônio, pois é formada por uma célula de apoio. No sistema nervoso central, a célula de apoio denomina-se oligodendrócito; no sis- tema nervoso periférico, chama-se célula de Schwann. A bainha de mielina é uma camada segmentada e descontínua interrompida a intervalos regulares pelos nós de Ranvier. No sistema nervoso central, cada oligodendrócito pode formar e manter bainhas de mielina de até 60 fibras nervosas (axônios). No sistema nervoso periféri- co, existe apenas uma célula de Schwann para cada segmento de uma fibra nervosa. Os axônios menores do sistema nervoso central, os axônios pós-ganglionares da parte autonômica do sistema nervoso e alguns axônios sensitivos finos para recep- ção de dor não são mielinizados. A bainha isola eletricamente o axônio e aumenta a velocidade da condução do impulso nervoso. Os axônios que não possuem essa capa são classificados como não mielinizados. Importante! A quantidade de mielina aumenta desde o nascimento até a idade adulta, e sua pre- sença aumenta muito a velocidade de condução do impulso nervoso. A resposta de um lactente a um estímulo não é tão rápida ou coordenada quanto aquela de uma criança maior ou de um adulto, em parte pelo fato de a mielinização ainda estar em desenvolvi- mento durante o primeiro ano de vida. 13 UNIDADE Sistema Nervoso Periférico Figura 5 – A neuróglia do SNP envolve completamente os axônios e os corpos celulares dos neurônios Fonte: TORTORA, (2016) Observe Um único oligodendrócito mieliniza vários axônios, mas cada célula de Schwann mieliniza apenas um axônio (A); uma única célula de Schwann também pode envolver até 20 ou mais axônios não mielinizados (axônios que não apresentam bainha de mielina) (B); células satélites envolvendo os corpos celulares dos neurônios nos gânglios do SNP (C). Além de fornece- rem suporte estrutural, as células satélites regulam as trocas de substâncias entre os corpos celulares neuronais e o líquido intersticial. As terminações sensitivas gerais estão espalhadas pelo corpo. As que estão situ- adas superficialmente, como as cutâneas, são denominadas ex-teroceptores e res- pondem a estímulos de dor, temperatura, tato e pressão. Já os proprioceptores em músculos, tendões e articulações fornecem informações para ajustes reflexos da ação muscular e para o sentido da posição e do movimento. Nervos Cranianos Os nervos cranianos são nervos periféricos que inervam principalmente estrutu- ras anatômicas da cabeça e pescoço. A exceção é o nervo vago, que também inerva vários órgãos torácicos e abdominais. Os nervos cranianos se originam de núcleos específicos localizados no cérebro. Eles deixam a cavidade craniana através do fora- me (exceto o vago) e se projetam para a respectiva estrutura alvo. Os nervos crania- nos são divididos em três grupos de acordo com o tipo de informação transportada por suas fibras: sensorial, motor ou misto. A maioria dos nervos possui componentes sensoriais e motores. Três dos nervos estão associados aos sentidos especiais do olfato, visão, audição e equilíbrio e pos- suem apenas fibras sensoriais. Outros cinco nervos são principalmente de função motora, mas possuem algumas fibras sensoriais para propriocepção. Os quatro ner- vos restantes consistem em quantidades significativas de fibras sensoriais e motoras. 14 15 Os nervos cranianos são designados pelo nome e pelos algarismos romanos, de acordo com a ordem em que aparecem na superfície inferior do cérebro. Os locais de emergência dos nervos cranianos são dispostos, portanto, na face anterior em uma fileira medial e outra fileira lateral, em relação ao tronco encefálico: Na fileira medial, segue cranialmente o ponto de saída das raízes anteriores dos nervos espinais. Nessa disposição, o nervo oculomotor (III), o nervo abducente (VI) e o nervo hipoglosso (XII) saem do SNC. A fileira lateral forma a continua- ção do sulco posterolateral, a depressão na qual a raiz posterior emerge da medula espinal. No bulbo, portanto, localizam-se no sulco retro-olivar esses locais de saída laterais do nervo glossofaríngeo (IX), do nervo vago (X) e do nervo acessório (XI). Mais cranialmente, estão dispostos os locais de saída do nervo trigêmeo (V) e do nervo facial (VII). O nervo troclear (IV) é uma exceção a esse respeito, porque é o único nervo craniano na face posterior do mesencéfalo que sai do SNC e possui o curso intradural mais longo. Cada nervo está comprometido de forma geral com funções distintas como, por exemplo, o nervo olfativo e o nervo óptico, que são responsáveis pelo sentido do olfato e da visão, respectivamente. O nervo oculomotor é um nervo craniano clássico e, juntamente com o nervo troclear e o nervo abducente, constitui os três nervos cranianos que controlam os movimentos do bulbo do olho (nervos da mus- culatura ocular). Por meio de sua inervação eferente somática geral, quase todos os músculos estriados extrínsecos do olho podem mover o bulbo do olho. Além disso, suas fibras eferentes somáticas gerais são as principais responsáveis pela elevação das pálpebras. As fibras eferentes viscerais gerais inervam os músculos lisos intrín- secos do bulbo do olho. Eles provocam a constrição da pupila (miose) e aumentam a curvatura do cristalino. Figura 6 – Nervo óptico e via da visão Fonte: Van de Graaff (2003) 15 UNIDADE Sistema Nervoso Periférico O nervo trigêmeo é responsávelpelas sensações cutâneas da face e pelo con- trole dos músculos da mastigação. O nervo facial é responsável pelos músculos envolvidos nas expressões faciais, bem como parte do sentido do paladar e da pro- dução de saliva. O nervo vestibulococlear é responsável pelos sentidos da audição e do equilíbrio. O nervo glossofaríngeo é responsável pelo controle dos músculos da cavidade oral e da garganta superior, bem como parte do sentido do paladar e da produção de saliva. O nervo vago é responsável por contribuir para o contro- le homeostático dos órgãos das cavidades torácica e abdominal superior. O nervo acessório da coluna vertebral é responsável por controlar os músculos do pescoço, juntamente com os nervos espinhais cervicais. O nervo hipoglosso é responsável por controlar os músculos da garganta e língua inferiores. A importância do estudo dos nervos cranianos se baseia no fato de que essas de- licadas estruturas são fundamentais para funções básicas do corpo humano, como, por exemplo: olfato, visão, gustação, audição, equilíbrio, dor, deglutição, fala e con- trole da pressão arterial. Conexão Clínica Uma inflamação aguda do nervo óptico (neurite do nervo óptico ou neurite retro- bulbar) é caracterizada, principalmente, por uma perda de visão unilateral poten- cialmente reversível. Os pacientes afetados relatam uma “visão turva”, onde o exa- me do fundo do olho, associada com a avaliação do disco óptico, muitas vezes não resulta em achados patológicos. Em cerca de um terço dos casos, a neurite óptica é o primeiro achado da esclerose múltipla (EM) em pessoas jovens, uma doença autoi- mune relativamente comum do SNC. O aumento da pressão intracraniana (tal como ocorre em um tumor cerebral ou em uma hemorragia cerebral) pode comprimir os nervos ópticos, de ambos os lados. Essa condição é acompanhada por uma estase de sangue venoso, que causa um edema oftalmoscopicamente visível dos discos do nervo óptico que agora protraem o bulbo. É o chamado papiledema. Adicionalmen- te, o quadro completo de uma paresia oculomotora (lesão no nervo oculomotor) caracteriza-se pelos seguintes três sintomas cardinais: ptose palpebral (queda da pálpebra superior) devido ao deficit do músculo levantador da pálpebra superior; desvio mantido do bulbo do olho lateralmente e para baixo, devido ao deficit dos músculos reto superior, reto medial, reto inferior e oblíquo inferior; midríase (di- latação da pupila) devido ao deficit do músculo esfíncter da pupila. Além disso, os pacientes acometidos relatam visão dupla. As seguintes causas devem ser con- sideradas nos casos de paresia oculomotora ou ser excluídas por meio de técnicas de imagem: aneurismas dos vasos intracranianos que seguem nas proximidades do nervo, por exemplo, as Aa. cerebrais posteriores ou Aa. comunicantes posteriores; trombose do seio cavernoso; tumores da base do crânio ou da órbita; fraturas da base do crânio; inflamação das meninges na área da base do cérebro. 16 17 Figura 7 Fonte: Waschke, (2018) Cérebro, tronco encefálico e cerebelo com os locais de saída dos 12 pares de nervos cranianos, que são numerados na sequência de sua saída de ros- tral para caudal em números romanos (I-XII). Vista basal. O primeiro nervo craniano é um prolongamento do cérebro que foi deslocado para frente du- rante o desenvolvimento, o nervo óptico (II) correspondente a uma eversão frontal do diencéfalo. 17 UNIDADE Sistema Nervoso Periférico Importante! Semelhante ao nervo olfatório, o nervo óptico também não é um nervo craniano clás- sico, mas de uma estrutura nervosa central da via visual rodeada pelas meninges e oli- godendrócitos, que está associada ao diencéfalo. Suas fibras exclusivamente aferentes somáticas especiais são axônios agrupados, inicialmente não mielinizados, mas que apresentam uma mielinização em um trajeto posterior, envolvendo as células ganglio- nares multipolares da retina que retransmitem a informação visual e terminam, prin- cipalmente, no corpo geniculado lateral (CGL) do tálamo. O disco óptico, que aparece como um disco amarelado na inspeção do fundo do olho, marca o início do nervo óptico no polo dorsal do bulbo do olho. Em seu trajeto posterior, assumindo uma ligeira “forma de S”, o nervo óptico é, inicialmente, incorporado no corpo adiposo retrobulbar da órbita, passa completamente pelo anel tendíneo comum e, finalmente, chega como o único nervo através do canal óptico, na fossa média do crânio, onde ele se une ao nervo óptico do lado oposto, formando o quiasma óptico, acima da hipófise. Diretamente atrás do bulbo do olho, a artéria e a veia central da retina seguem internamente ao nervo óptico (II) e chegam por essa via até a retina. Sistema Nervoso Autônomo O sistema nervoso autônomo é um sistema eferente visceral, o que significa que envia impulsos motores para os órgãos viscerais. É involuntário por natureza, o que significa que não temos controle consciente sobre ele, atuando sobre a frequência cardíaca, frequência respiratória, pressão arterial, temperatura corporal e outras ati- vidades viscerais que trabalham juntas para manter a homeostase . O sistema nervoso autônomo tem três ramos principais: a divisão simpática, a di- visão parassimpática e entérica. Muitos órgãos viscerais são fornecidos com fibras de ambas as divisões. Nesse caso , um estimula e o outro inibe. Essa relação funcional antagônica serve como um equilíbrio para ajudar a manter a homeostase. A divisão simpática prepara o corpo para lidar com períodos de aumento da ati- vidade física por meio de ações como regular os vasos sanguíneos (frequentemente, mas nem sempre, vasoconstrição), dilatar as pupilas, aumentar a frequência cardíaca e a pressão arterial e diminuir o peristaltismo. Diante do perigo, o sistema nervoso simpático estimula a luta ou fuga. Desse modo, podemos observar respostas como: • Produção de energia (o indivíduo fica extremamente atento com o objetivo de se proteger, ao mesmo tempo em que ocorre a inibição das funções digestivas, incluindo a salivação); • Contração de todos os esfíncteres intestinais e inibição do peristaltismo; • Contração do esfíncter urinário; 18 19 • Vasoconstrição periférica, diminuindo o aporte sanguíneo na pele e no trato gastrintestinal. O sangue é mais direcionado para a musculatura esquelética e também para os pulmões; • Dilatação dos bronquíolos, nos pulmões, o que possibilita maior troca gasosa; • Vasodilatação das artérias coronárias; • Aumento dos batimentos cardíacos, quando estamos com medo (como também aumenta a contração das células cardíacas, e esse é um dos mecanismos que possibilitam maior aporte sanguíneo para a musculatura esquelética, como um preparo para a “luta”); • Dilatação da pupila (ocorre quando a pessoa está com medo) e relaxamento do músculo ciliar, tornando o cristalino mais aplanado, o que possibilita chegar mais luz à retina; • Estímulo da sudorese. A divisão parassimpática ajuda o corpo a economizar energia, possui funções de descanso e digestão, alimentação e reprodução. Isso é realizado por ações que retar- dam o sistema cardiovascular, estimulam a secreção da glândula e aumentam o peris- taltismo. O SNP também está envolvido na excitação sexual e lacrimação (choro). Sendo assim, o sistema nervoso parassimpático promove o retorno às funções vegetativas regulares, proporcionando uma digestão adequada e sensação de calma. Assim, ocorrem: • Dilatação dos vasos sanguíneos que se direcionam ao trato gastrintestinal, cau- sando, portanto, maior afluxo sanguíneo no sistema digestório, que tem grande demanda metabólica; • Aumento da secreção das glândulas salivares e aceleração do peristaltismo, o que, juntamente com o maior fluxo sanguíneo para o sistema digestório, promo- ve a adequada absorção de nutrientes; • Constrição dos bronquíolos; • Controle e regulação dos batimentos cardíacos (principalmente por ramos do nervo vago); • Constrição da pupila e acomodação do cristalino; • Contração da bexiga urinária;• Envolvimento no estímulo do desejo sexual e na ereção dos genitais. O sistema nervoso entérico encontra-se dentro das paredes do trato gastrointes- tinal e consiste nos plexos mioentérico e submucoso. Eles trabalham juntos para controlar o peristaltismo no sistema digestivo. Esse sistema é frequentemente des- crito como o segundo cérebro, porque age de forma independente, sendo apenas influenciado por impulsos do SNA. 19 UNIDADE Sistema Nervoso Periférico Conexão fisiológica O sistema nervoso autônomo, juntamente com o sistema endócrino, mantém a homeostase corporal. O controle endócrino é mais lento e exerce sua influência por meio dos hormônios hematogênicos. O sistema nervoso autônomo funciona, na maior parte do tempo, no nível subconsciente. Não percebemos, por exemplo, que nossas pupilas estão dilatando ou que nossas artérias estão se constringindo. O sistema não deve ser visto como uma parte isolada do sistema nervoso, pois se sabe que ele desempenha um papel com as atividades somáticas na expressão das emoções e que certas atividades autonômicas, como a micção, podem ser mantidas sob controle voluntário. As diversas atividades dos sistemas autônomo e endócrino são integradas dentro do hipotálamo. Os componentes simpático e parassimpático do sistema autônomo cooperam na manutenção da estabilidade do ambiente inter- no. A parte simpática prepara e mobiliza o corpo em uma emergência , quando há exercício intenso e súbito, medo, ou raiva. A parte parassimpática procura conservar e armazenar energia, por exemplo, na promoção da digestão e absorção de alimen- tos ao aumentar as secreções das glândulas do trato gastrintestinal e ao estimular a peristalse. Figura 8 – Esquema com a divisão simpática e a parassimpática do sistema nervoso autônomo Fonte: Martinez, (2014) 20 21 Anexo I 1. Observe as imagens abaixo e explique a relação de controle do sistema nervoso autônomo descrevendo as principais respostas desencadeadas com a atuação dos sistemas nervoso simpático e parassimpático em cada um dos cenários. Figura 9 Fonte: SNELL, (2010) Vamos Praticar Caso Clínico 12 O Gânglio ciliar é um dos gânglios parassimpáticos que está localizado na ca- vidade orbital tendo íntima relação com o nervo óptico recebendo fibras parassim- páticas oriundas do nervo oculomotor. Esse gânglio contém os corpos celulares dos neurônios pupiloconstritores pós-ganglionares, que inervam o músculo esfincteriano da íris. Descreva os sinais apresentados por um paciente que tenha lesionado esse gânglio. Caso clínico 13 A esclerose múltipla é um exemplo de doença desmielinizante do sistema nervo- so. Muitas outras doenças do sistema nervoso também têm a característica patoló- gica comum de destruição das bainhas de mielina das fibras nervosas. Explique o mecanismo fisiopatológico do processo de desmielinização nessa doença e como isso afeta o funcionamento do neurônio. 21 UNIDADE Sistema Nervoso Periférico 2. Observe o esquema de corte transversal de um nervo e faça a identifica- ção das suas bainhas conjuntivas: epineuro (Ep); perineuro (Pe) e endo- neuro (En). Fibra nervosa envolvida pela bainha de mielina (Ba). Figura 10 Fonte: Divulgação 3. Observe a imagem abaixo e identifique os 12 pares de nervos cranianos, destacando os mesmos com cores diferentes na imagem. Figura 11 Fonte: Schmidt, 2014 4. Observe a imagem abaixo, que representa a via visual, e crie legenda para as estruturas enumeradas: 22 23 Figura 12 Fonte: Jotz (2017) 23 UNIDADE Sistema Nervoso Periférico Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Histology at the University of Michigan https://bit.ly/3WSAIIj Resumo de Sistema Nervoso: Histologia, SNC, SNP e Autônomo https://bit.ly/3RppKqj Midríase unilateral: uma complicação da cirurgia de coluna em decúbito ventral GUPTA, P.; ADABALA, V. B.; BARIK, A. K. Midríase unilateral: uma complicação da cirurgia de coluna em decúbito ventral. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 69, n. 3, p. 319-321, 2019. https://bit.ly/33c8nAF Doença de Addison e esclerose múltipla: relato de caso CAZON, K. M. J. et al. Doença de Addison e esclerose múltipla: relato de caso. Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, v. 17, n. 1, p. 35-37, 2019. https://bit.ly/33bHoW7 24 25 Referências COSENZA, M. R. Fundamentos de Neuroanatomia. 4. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2012. TOY, E. C.; ROSS, L. M.; ZHANG H.; PAPASAKELARIOU, C. Casos Clínicos em Anatomia. Porto Alegre: AMGH, 2016. JOTZ, G. P. et al. Neuroanatomia clínica e funcional: anatomia, fisiologia e pato- logia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. MARTIN, J. H. Neuroanatomia: Texto e Atlas. Porto Alegre: AMGH editora, 2014. MARTINEZ, A.; ALLODI, S.; UZIEL, D. Neuroanatomia Essencial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. MENESES, M. S. Neuroanatomia Aplicada. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. NOURELDINE, M.H. A. Fundamentos de Neuroanatomia: Um Guia Clinico. 1 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019 SCHMIDT, A. G.; PROSDÓCIMI, F. Manual de Neuroanatomia Humana – Guia Prático. Rio de Janeiro: Grupo GEN, Roca, 2014. SNELL, R. S. Neuroanatomia Clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. TIRAPELLI, L. F. et al. Anatomia Sistêmica – Texto e Atlas Colorido. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2020. TORTORA, G. J. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Rio de janeiro: Grupo GEN, 2016. VAN DE GRAAFF, K. M. Anatomia humana. Traduzido do original Human Anatomy. 3 ed. Barueri: Manole, 2003. WASCHKE, J.; BÖCKERS ,T.; PAULSEN, F. Sobotta: atlas de anatomia humana. 24. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. 25