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Classes do Verbo
GR0364 - (Uerj)
SOBREVIVEREMOS NA TERRA?
Tenho interesse pessoal no tempo. Primeiro, meu
best-seller chama-se Uma breve história do tempo. Segundo,
por ser alguém que, aos 21 anos, foi informado pelos
médicos de que teria apenas mais cinco anos de vida e que
completou 76 anos em 2018. Tenho uma aguda e
desconfortável consciência da passagem do tempo. Durante
a maior parte da minha vida, convivi com a sensação de que
estava fazendo hora extra.
Parece que nosso mundo enfrenta uma instabilidade
polí�ca maior do que em qualquer outro momento. Uma
grande quan�dade de pessoas sente ter ficado para trás.
Como resultado, temos nos voltado para polí�cos populistas,
com experiência de governo limitada e cuja capacidade para
tomar decisões ponderadas em uma crise ainda está para ser
testada. A Terra sofre ameaças em tantas frentes que é di�cil
permanecer o�mista. Os perigos são grandes e numerosos
demais. O planeta está ficando pequeno para nós. Nossos
recursos �sicos estão se esgotando a uma velocidade
alarmante. A mudança climá�ca foi uma trágica dádiva
humana ao planeta. Temperaturas cada vez mais elevadas,
redução da calota polar, desmatamento, superpopulação,
doenças, guerras, fome, escassez de água e extermínio de
espécies; todos esses problemas poderiam ser resolvidos,
mas até hoje não foram. O aquecimento global está sendo
causado por todos nós. Queremos andar de carro, viajar e
desfrutar um padrão de vida melhor. Mas quando as pessoas
se derem conta do que está acontecendo, pode ser tarde
demais.
Estamos no limiar de um período de mudança
climá�ca sem precedentes. No entanto, muitos polí�cos
negam a mudança climá�ca provocada pelo homem, ou a
capacidade do homem de revertê-la. O derre�mento das
calotas polares ár�ca e antár�ca reduz a fração de energia
solar refle�da de volta no espaço e aumenta ainda mais a
temperatura. A mudança climá�ca pode destruir a Amazônia
e outras florestas tropicais, eliminando uma das principais
ferramentas para a remoção do dióxido de carbono da
atmosfera. A elevação da temperatura dos oceanos pode
provocar a liberação de grandes quan�dades de dióxido de
carbono. Ambos os fenômenos aumentariam o efeito estufa
e exacerbariam o aquecimento global, tornando o clima em
nosso planeta parecido com o de Vênus: atmosfera
escaldante e chuva ácida a uma temperatura de 250 ºC. A
vida humana seria impossível. Precisamos ir além do
Protocolo de Kyoto – o acordo internacional adotado em
1997 – e cortar imediatamente as emissões de carbono.
Temos a tecnologia. Só precisamos de vontade polí�ca. 
Quando enfrentamos crises parecidas no passado,
havia algum outro lugar para colonizar. Estamos ficando sem
espaço, e o único lugar para ir são outros mundos. Tenho
esperança e fé de que nossa engenhosa raça encontrará uma
maneira de escapar dos sombrios grilhões do planeta e,
deste modo, sobreviver ao desastre. A mesma providência
talvez não seja possível para os milhões de outras espécies
que vivem na Terra, e isso pesará em nossa consciência. Mas
somos, por natureza, exploradores. Somos mo�vados pela
curiosidade, essa qualidade humana única. Foi a curiosidade
obs�nada que levou os exploradores a provar que a Terra
não era plana, e é esse mesmo impulso que nos leva a viajar
para as estrelas na velocidade do pensamento, ins�gando-
nos a realmente chegar lá. E sempre que realizamos um
grande salto, como nos pousos lunares, exaltamos a
humanidade, unimos povos e nações, introduzimos novas
descobertas e novas tecnologias. Deixar a Terra exige uma
abordagem global combinada – todos devem par�cipar.
STEPHEN HAWKING (1942-2018) Adaptado de Breves
respostas para grandes questões. Rio de Janeiro: Intrínseca,
2018.
 
Segundo, por ser alguém que, aos 21 anos, foi informado
pelos médicos de que teria apenas mais cinco anos de vida e
que completou 76 anos em 2018. (1º parágrafo, sublinhado)
 
Os verbos sublinhados descrevem dois fatos que podem ser
caracterizados, respec�vamente, como:
a) hipoté�co – realizado
b) inconcluso – eventual
c) con�nuo – momentâneo
d) repe��vo – retrospec�vo
GR0104 - (Famema)
Vossas excelências, ilustríssimos senhores e senhoras, trago
no�cias urgentes de um reino distante. É mister vos alertar,
Vossas Excelências, que nesta estranha terra os habitantes
criaram um país onde os mui digníssimos e respeitáveis
representantes do povo são tratados, imaginem Vossas
Senhorias, como o próprio povo. Insânia! Dirão que as
histórias que aqui relato são meras alucinações de contos de
fada, pois há neste rico reino, que chamam de Suécia, rei,
rainha e princesas. Mas não se iludam! Os habitantes desta
terra já �raram todos os poderes do rei, em nome de uma
democracia que proclama uma tal igualdade entre todos, e o
1@professorferretto @prof_ferretto
que digo são coisas que tenho visto com os olhos que esta
mesma terra um dia há de comer.
Nestas longínquas comarcas, os mui dis�ntos parlamentares,
ministros e prefeitos viajam de trem ou de ônibus para o
trabalho, em sua labuta para adoçar as mazelas do povo. De
ônibus, Eminências! E muitos castelos há pelos quatro cantos
deste próspero reino, mas aos egrégios representantes do
povo é oferecido abrigo apenas em pífias habitações de um
cômodo, indignas dos ilustríssimos defensores dos direitos
dos cidadãos e da democracia.
Este reino está cercado por outros ricos reinos, numa
península chamada Escandinávia, onde também há príncipes
e reis, e onde os representantes do povo vivem como
sobrevive um súdito qualquer. E isto eu também vi, com os
olhos que esta terra há de comer: em um dos povos vizinhos,
conhecido como o reino dos noruegueses, os nobres
representantes do povo chegam a almoçar sanduíches que
trazem de casa, e que �ram dos bolsos dos paletós quando a
fome aperta.
É preciso cautela, Vossas Excelências. Deste reino, que
chamam de Suécia ainda pouco se ouve falar. Mas as no�cias
sobre o igualitário reino dos suecos se espalham. Estocolmo,
6 de janeiro de 2013.
(Um país sem excelências e mordomias, 2014. Adaptado.)
 
“Os habitantes desta terra já �raram todos os poderes do
rei”.
Assinale a alterna�va que expressa, na voz passiva, o
conteúdo dessa oração.
a) Todos os poderes do rei já �raram os habitantes desta
terra.
b) Os habitantes desta terra já �ram todos os poderes do rei.
c) Os habitantes desta terra já foram �rados por todos os
poderes do rei.
d) Todos os poderes do rei já foram �rados pelos habitantes
desta terra.
e) Todos os poderes do rei já são �rados pelos habitantes
desta terra.
GR0514 - (Enem PPL)
Slow Food
A favor da alimentação com prazer e da responsabilidade
socioambiental, o slow food é um movimento que vai contra
o ritmo acelerado de vida da maioria das pessoas hoje: o
ritmo fast-food, que valoriza a rapidez e não a qualidade.
Traduzido na alimentação, o fast-food está nos produtos
ar�ficiais, que, apesar de prá�cos, são péssimos à saúde:
muito processados e muito distantes da sua natureza – como
os lanches cheios de gorduras, os salgadinhos e biscoitos
convencionais etc. etc.
Agora, vamos deixar de lado o fast e entender melhor o slow
food. Segundo esse movimento, o alimento deve ser:”
- bom: tão gostoso que merece ser saboreado com calma,
fazendo de cada refeição uma pausa especial do dia;
- limpo: bom à saúde do consumidor e dos produtores, sem
prejudicar o meio ambiente nem os animais;
- justo: produzido com transparência e hones�dade social e,
de preferência, de produtores locais.
Deu pra ver que o slow food traz muita coisa interessante
para o nosso dia a dia. Ele resgata valores tão importantes,
mas que muitas vezes passam despercebidos. Não é à toa
que ele já está contagiando o mundo todo, inclusive o nosso
país.
Disponível em: www.maeterra.com.br. Acesso em: 5 ago.
2017.
 
Algumas palavras funcionam como marcadores textuais,
atuando na organização dos textos e fazendo-os progredir.
No segundo parágrafo desse texto, o marcador “agora”
a) define o momento em que se realiza o fato descrito na
frase. 
b) sinaliza a mudança de foco no tema que se vinha
discu�ndo. 
c) promoveautoconstruído, e, por isso, não podemos atribuir a forças
transcendentes nem os sucessos nem os fracassos. A
liberdade para forjar sua própria natureza é um dom que
implica riscos. Se com frequência preferimos olhar apenas
para a força de uma vontade, que decidiu explorar o mundo
com as ferramentas da razão, desde a era do Barroco
sabemos que o real comporta um lado escuro, que não pode
ser simplesmente esquecido. Ao lado do racionalismo
triunfante, sempre houve um grito de alerta quanto às trevas
que rondavam as sociedades modernas.
O século XX viu essas trevas ocuparem o centro da
cena mundial e enterrou para sempre a ideia de que o
progresso da civilização iria nos livrar de nossas fraquezas e
defeitos. O século da técnica e dos avanços espetaculares da
ciência foi também o século dos massacres e do
aparecimento da morte em escala industrial. Tudo se passa
como se a par�r de agora não pudéssemos mais esquecer da
besta, que Pico della Mirandola via como uma das
possibilidades de nossa natureza. O monstro, que rondava a
razão, e que por tanto tempo pareceu poder ser por ela
derrotado, aproveitou-se de muitas de suas conquistas para
criar uma nova iden�dade, que nos obriga a conviver com a
barbárie no seio mesmo de sociedades que tanto
contribuíram para criar a imagem iluminada do Ocidente.
(Adauto Novaes (org.). Mutações, 2008. Adaptado.)
 
Dêi�cos: expressões linguís�cas cuja interpretação depende
da pessoa, do lugar e do momento em que são enunciadas.
Por exemplo, “eu” designa a pessoa que fala “eu”. Expressões
como “aqui”, “hoje” devem ser interpretadas em função de
onde e em que momento se encontra o locutor, quando diz
“aqui” e “hoje”.
(Ernani Terra. Leitura do texto literário, 2014. Adaptado.)
 
Verifica-se a ocorrência de dêi�co no seguinte trecho:
a) “O século da técnica e dos avanços espetaculares da
ciência foi também o século dos massacres e do
aparecimento da morte em escala industrial.” (3º
parágrafo)
b) “Diferentemente dos outros seres, o homem pode
cons�tuir a própria face e transitar pelos caminhos mais
elevados, ou degenerar até o nível inferior das bestas.” (1º
parágrafo)
c) “A liberdade para forjar sua própria natureza é um dom
que implica riscos.” (2º parágrafo)
d) “Ao lado do racionalismo triunfante, sempre houve um
grito de alerta quanto às trevas que rondavam as
sociedades modernas.” (2º parágrafo)
e) “Tudo se passa como se a par�r de agora não pudéssemos
mais esquecer da besta, que Pico dela Mirandola via como
uma das possibilidades de nossa natureza.” (3º parágrafo)
GR0375 - (Unicamp)
 
Considerando os sen�dos produzidos pela �rinha, é correto
afirmar que o autor explora o fato de que palavras como
“ontem”, “hoje” e “amanhã”
a) mudam de sen�do dependendo de quem fala.
b) adquirem sen�do no contexto em que são enunciadas.
c) deslocam-se de um sen�do concreto para um abstrato.
d) evidenciam o sen�do fixo dos advérbios de tempo.
GR0396 - (Fuvest)
Nasceu o dia e expirou.
Já brilha na cabana de Araquém o fogo, companheiro da
noite. Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas,
filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente. Mar�m
se embala docemente; e como a alva rede que vai e vem, sua
vontade oscila de um a outro pensamento. Lá o espera a
virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a virgem
morena dos ardentes amores.
Iracema recosta-se langue ao punho da rede; seus olhos
negros e fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o
16@professorferretto @prof_ferretto
estrangeiro, e lhe entram n’alma. O cristão sorri; a virgem
palpita; como o saí, fascinado pela serpente, vai declinando o
lascivo talhe, que se debruça enfim sobre o peito do
guerreiro.
José de Alencar, Iracema.
 
É correto afirmar que, no texto, o narrador
a) prioriza a ordem direta da frase, como se pode verificar
nos dois primeiros parágrafos do texto.
b) usa o verbo “correr” (2º parágrafo) com a mesma acepção
que se verifica na frase “Travam das armas os rápidos
guerreiros, e correm ao campo” (também extraída do
romance Iracema).
c) recorre à adje�vação de caráter obje�vo para tornar a
cena mais real.
d) emprega, a par�r do segundo parágrafo, o presente do
indica�vo, visando dar maior vivacidade aos fatos
narrados, aproximando-os do leitor.
e) atribui, nos trechos “aqui lhe sorri” e “lhe entram n’alma”,
valor possessivo ao pronome “lhe”.
GR0090 - (Enem)
No�cias do além
Aquele que morrer primeiro e for para o céu deverá voltar à
Terra para contar ao outro como é a vida lá no paraíso. Assim
ficou combinado entre Francisco e Sebas�ão, amigos
inseparáveis e apaixonados pelo futebol. Francisco teve
morte súbita e, passado algum tempo, no meio da noite, sua
alma apareceu ao colega: — Nossa Senhora, Chico! Você veio
mesmo!
— Estou aqui, Tião, para cumprir a minha promessa,
trazendo-lhe duas no�cias.
— Então me fala.
— O céu é uma maravilha, um colosso, uma beleza. Tem
futebol todo dia.
— E a outra?
— A outra é que você está escalado para jogar no meu �me
amanhã cedo.
DIAS, M. V. R. Humor na Marolândia. In: ILARI, R. Introdução
à semân�ca: brincando com a gramá�ca. São Paulo:
Contexto, 2001
 
Esse texto pode ser analisado sob dois pontos de vista que
incluem situações diferentes de interlocução: a primeira,
considerando seu produtor e seus potenciais leitores; e a
segunda, considerando os interlocutores Francisco e
Sebas�ão. Para cada uma dessas situações o produtor do
texto tem um obje�vo específico que se determina, não só
pela situação, mas também pelo gênero textual. Os verbos
que sinte�zam os obje�vos do produtor nas duas situações
propostas são, respec�vamente,
a) entreter e seduzir.
b) diver�r e informar.
c) distrair e comover.
d) recrear e assustar.
e) alegrar e in�midar.
GR0358 - (Uerj)
Três teses sobre o avanço da febre amarela
1 Como a febre amarela rompeu os limites da Floresta
Amazônica e alcançou o Sudeste, a�ngindo os grandes
centros urbanos? A par�r do ano passado, o número de
casos da doença alcançou níveis sem precedentes nos
úl�mos cinquenta anos. Desde o início de 2017, foram
confirmados 779 casos, 262 deles resultando em mortes.
Trata-se do maior surto da forma silvestre da doença já
registrado no país1. Outros 435 registros ainda estão sob
inves�gação.
2 Como tudo começou? Os navios portugueses vindos
da África nos séculos XVII e XVIII não trouxeram ao Brasil
somente escravos e mercadorias. Dois inimigos silenciosos
vieram junto: o vírus da febre amarela e o mosquito Aedes
aegyp�. A consequência foi uma série de surtos de febre
amarela urbana no Brasil, com milhares de mortos2. Por
volta de 1940, a febre amarela urbana foi erradicada. Mas o
vírus migrou, pelo trânsito de pessoas infectadas, para zonas
de floresta na região Amazônica. No início dos anos 2000, a
febre amarela ressurgiu em áreas da Mata Atlân�ca. Três
teses tentam explicar o fenômeno.
3 Segundo o professor Aloísio Falqueto, da Universidade
Federal do Espírito Santo, “uma pessoa pegou o vírus na
Amazônia e entrou na Mata Atlân�ca depois, possivelmente
na altura de Montes Claros, em Minas Gerais, onde surgiram
casos de macacos e pessoas infectadas”. O vírus teria se
espalhado porque os primatas da mata eram vulneráveis:
como o vírus desaparece da região na década de 1940, não
desenvolveram an�corpos. Logo os macacos passaram a ser
mortos por seres humanos que temem contrair a doença. O
massacre desses bichos, porém, é um “�ro no pé”, o que faz
crescer a chance de contaminação de pessoas. Sem primatas
para picar na copa das árvores, os mosquitos procuram
sangue humano3.
4 De acordo com o pesquisador Ricardo Lourenço, do
Ins�tuto Oswaldo Cruz, os mosquitos transmissores da
doença se deslocaram do Norte para o Sudeste, voando ao
longo de rios e corredores de mata. Es�ma-se que um
mosquito seja capaz de voar 3 km por dia. Tanto o homem
quanto o macaco, quando picados, só carregam o vírus da
febre amarela por cerca de três dias. Depois disso, o
organismo produz an�corpos4. Em cerca de dez dias,
primatas e humanos ou morrem ou se curam, tornando-se
imunes à doença.5 Para o infectologista Eduardo Massad, professor da
Universidade de São Paulo, o rompimento da barragem da
Samarco, em Mariana (MG), em 2015, teve papel relevante
na disseminação acelerada da doença no Sudeste. A
destruição do habitat natural de diferentes espécies teria
17@professorferretto @prof_ferretto
reduzido significa�vamente os predadores naturais dos
mosquitos. A tragédia ambiental ainda teria afetado o
sistema imunológico dos macacos, tornando-os mais
susce�veis ao vírus.
6 Por que é importante determinar a “viagem” do vírus?
Basicamente, para orientar as campanhas de vacinação. Em
2014, Eduardo Massad elaborou um plano de imunização
depois que 11 pessoas morreram ví�mas de febre amarela
em Botucatu (SP): “Eu fiz cálculos matemá�cos para
determinar qual seria a proporção da população nas áreas
não vacinadas que deveria ser imunizada, considerando os
riscos de efeitos adversos da vacina. Infelizmente, a
Secretaria de Saúde não adotou essa estratégia. Os casos
acontecem exatamente nas áreas onde eu havia
recomendado a vacinação. A Secretaria está correndo atrás
do prejuízo”. Desde julho de 2017, mais de 100 pessoas
foram contaminadas em São Paulo e mais de 40 morreram.
7 O Ministério da Saúde afirmou em nota que, desde
2016, os estados e municípios vêm sendo orientados para a
necessidade de intensificar as medidas de prevenção. A
orientação é que pessoas em áreas de risco se vacinem.
NATHALIA PASSARINHO. Adaptado de bbc.com, 06/02/2018
 
No quinto parágrafo, são apresentadas duas hipóteses acerca
da disseminação da febre amarela. A marca verbal que
evidencia a formulação dessas hipóteses é o uso de:
a) voz a�va
b) modo subjun�vo
c) futuro do pretérito
d) forma no gerúndio
GR0283 - (Unesp)
Leia o trecho do romance Grande sertão: Veredas, de
Guimarães Rosa.
Sei que estou contando errado, pelos altos.
Desemendo. Mas não é por disfarçar, não pense. De grave,
na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio
receio. O senhor é homem de pensar o dos outros como
sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já
revogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado.
Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco
me resta — só o deo-gra�as; e o troco. Bobeia. Na feira de
São João Branco, um homem andava falando: — “A pátria
não pode nada com a velhice...” Discordo. A pátria é dos
velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de
anéis velhos sem valor, as pedras re�radas — ele dizia:
aqueles todos anéis davam até choque elétrico... Não. Eu
estou contando assim, porque é o meu jeito de contar.
Guerras e batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte,
reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de
Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de todos os
animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em
São Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de
tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar
um pau, encontra balas cravadas. O que vale, são outras
coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos
diversos, cada um com seu signo e sen�mento, uns com os
outros acho que nem não misturam. Contar seguido,
alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância.
De cada vivimento que eu real �ve, de alegria forte ou pesar,
cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse
diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho,
assim é que eu conto. [...] Tem horas an�gas que ficaram
muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O
senhor mesmo sabe.
(Grande sertão: veredas, 2015.)
 
Dupla negação: emprego conjugado de palavras nega�vas.
(Celso Pedro Lu�. Abc da língua culta, 2010. Adaptado.)
 
Observa-se a ocorrência de dupla negação no trecho:
a) “A lembrança da vida da gente se guarda em trechos
diversos, cada um com seu signo e sen�mento, uns com
os outros acho que nem não misturam.”
b) “Mas não é por disfarçar, não pense.”
c) “O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o
seu, não é criatura de pôr denúncia.”
d) “Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça.”
e) “De cada vivimento que eu real �ve, de alegria forte ou
pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se
fosse diferente pessoa.”
GR0350 - (Puccamp)
No museu do passado
O interesse pela história deu origem aos museus e
também à decisão de preservar os monumentos históricos. A
jus�fica�va inicial dessas inicia�vas era: lembrar-se para não
repe�r. Não deu muito certo, pois nunca paramos de repe�r
o pior. Na verdade, suspeito que nosso gosto pelos resíduos
do passado não seja pedagógico. Por que nos importa a
história? Por que deambulamos pelos museus?
Acreditamos que os homens devam afirmar-se
segundo as suas habilidades. Não queremos que o passado
decida nosso des�no: o que nos importa, em princípio, é o
futuro. ”Não me fale de suas façanhas de ontem, diga-me o
que sabe fazer.” Se inventamos a arqueologia, a história, o
museu, a restauração e a conservação das an�guidades, não
foi para aprender uma lição. A razão dessa nossa paixão é o
caráter incompleto da revolução moderna: o futuro é um
terreno demasiado inquietante e incerto para aceitarmos
que só ele nos defina; portanto, o passado assombra nossos
dias.
Não conseguimos esquecer: proclamamos a
liberdade dos espíritos, mas cul�vamos an�gos preconceitos
de raça, cultura e classe. Ou então nos dizemos autônomos,
mas explicamos nossos atos pelos eventos da nossa infância
ou pelo legado dos nossos pais.
Numa cultura diferente da nossa, os restos do
passado poderiam parecer bem mais importantes do que
uma vida. Talvez um homem do An�go Regime nos dissesse
que sem a presença do passado não haveria sociedade nem
sujeitos. Talvez, para ele, a promessa de futuro con�da no
18@professorferretto @prof_ferretto
sorriso de um menino valesse menos do que os artefatos que
sustentam a memória de um povo.
(Adaptado de: CALLIGARIS, Contardo. Terra de ninguém. S.
Paulo, Cia das Letras, 2004, p. 331-332)
 
Transpondo-se para a voz passiva a frase proclamamos a
liberdade dos espíritos, mas cul�vamos an�gos preconceitos,
as formas verbais deverão ser
a) proclamam-se e cul�vam-se.
b) é proclamada e são cul�vados.
c) seja proclamada e cul�ve-se.
d) foram proclamados e cul�varam-se.
e) proclamavam-se e seriam cul�vados.
GR0086 - (Unesp)
Para responder à questão, leia a letra da canção “Bom
conselho”, de Chico Buarque, composta em 1972.
 
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inú�l dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado:
Quem espera nunca alcança
 
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
 
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
(www.chicobuarque.com.br)
 
Observa-se, em ambos os pares, rima entre palavras de
classes grama�cais diferentes em
a) “graça” / “passa” (1ª estrofe) e “regaço” / “faço” (2ª
estrofe).
b) “regaço” / “faço” (2ª estrofe) e “onde” / “longe” (3ª
estrofe).
c) “onde” / “longe” (3ª estrofe) e “cidade” / “tempestade”
(3ª estrofe).
d) “sentado” / “povoado” (1ª estrofe) e “cansa” / “alcança”
(1ª estrofe).
e) “cansa” / “alcança” (1ª estrofe) e “graça” / “passa” (1ª
estrofe).
GR0340 - (Fuvest)
Luc Boltanski e Ève Chiapello demonstram com
clarezae sagacidade a capacidade antropofágica do
capitalismo financeiro que “engole” a linguagem do protesto
e da libertação para transformá-la e u�lizá-la para legi�mar a
dominação social e polí�ca a par�r do próprio mercado.
Na dimensão do mundo do trabalho, por exemplo,
todo um novo vocabulário teve que ser inventado para
escamotear as novas transformações e melhor oprimir o
trabalhador. Com essa linguagem aparentemente
libertadora, passa-se a impressão de que o ambiente de
trabalho melhorou e o trabalhador se emancipou.
Assim houve um esforço dirigido para transformar o
trabalhador em "colaborador", para eufemizar e esconder a
consciência de sua superexploração; tenta-setambém
exaltar os supostos valores de liderança para possibilitar que,
a par�r de agora, o próprio funcionário, não mais o patrão,
passe a controlar e vigiar o colega de trabalho. Ou, ainda, há
a intenção de difundir a cultura do empreendedorismo,
segundo a qual todo mundo pode ser empresário de si
mesmo. E, o mais importante, se ele falhar nessa
empreitada, a culpa é apenas dele. É necessário sempre
culpar individualmente a ví�ma pelo fracasso socialmente
construído.
SOUZA, Jessé. Como o racismo criou o Brasil. Rio de Janeiro:
Estação Brasil, 2021.
 
O uso dos verbos “passar” (2º parágrafo) e “tentar” (3º
parágrafo) no texto, em sua forma pronominal, revela
a) adequação à forma analí�ca da voz passiva.
b) construção com conjunção integrante.
c) marcação da impessoalidade do discurso.
d) informalidade correspondente ao gênero discursivo.
e) ênfase na reciprocidade da linguagem.
GR0278 - (Unesp)
Leia a crônica “A obra-prima”, de Lima Barreto, publicada na
revista Careta em 25.09.1915.
Marco Aurélio de Jesus, dono de um grande talento
e senhor de um sólido saber, resolveu certa vez escrever uma
obra sobre filologia.
Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e
que daria ao espírito inculto dos brasileiros as noções exatas
da língua portuguesa. Trabalhou durante três anos, com
esforço e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria
trazer à confusão, à dificuldade de hoje, o saber de amanhã.
Era uma obra-prima pelas generalizações e pelos exemplos.
A quem dedicá-la? Como dedicá-la? E o prefácio?
E Marco Aurélio resolve meditar. Ao fim de igual
tempo havia resolvido o di�cil problema.
A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de
“duas palavras ao leitor” e levaria, como demonstração de
sua submissão intelectual, uma dedicatória.
Mas “duas palavras”, quando seriam centenas as que
escreveria? Não. E Marco Aurélio contou as “duas palavras”
19@professorferretto @prof_ferretto
uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance único,
genial, destacou em relevo, ao alto da página “duzentas e
uma palavras ao leitor”.
Mas “pálida homenagem”... Professor, autor de um
livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum:
“pálida homenagem”? Não. E pensou. E de sua grave
meditação, de seu profundo pensamento, saiu a frase
límpida, a grande frase que definia a sua ideia da expressão
e, num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase
sublime: “lívida homenagem do autor”...
Está aí como um grande gramá�co faz uma obra-
prima. Leiam-na e verão como a coisa é bela.
(Sá�ras e outras subversões, 2016.)
 
Em “Professor, autor de um livro de filologia, cair na
vulgaridade da expressão comum: ‘pálida homenagem’?” (8º
parágrafo), o termo sublinhado está empregado na acepção
de
a) “lançar-se rapidamente; a�rar-se, jogar-se”, como em “ela
caiu no colo da mãe”.
b) “incorrer em erro, falta; incidir”, como em “durante o
depoimento, caiu em contradição”.
c) “deixar-se enganar, ser ví�ma de logro”, como em “ele caiu
no conto do vigário”.
d) “cri�car severamente; acusar”, como em “a imprensa caiu
em cima dos corruptos”.
e) “entrar em determinado estado ou situação”, como em
“durante o filme, caiu no sono”.
GR0097 - (Ufam)
Leia as frases a seguir:
 
I. O animal foi morto.
II. Comprou-se um automóvel importado.
III. Por descuido, as duas crianças se machucaram no parque.
IV. Sou barbeado quase diariamente.
 
As vozes verbais das frases anteriores são, respec�vamente:
a) a�va, passiva analí�ca, reflexiva, passiva sinté�ca.
b) passiva sinté�ca, passiva analí�ca, a�va, passiva analí�ca.
c) a�va, passiva sinté�ca, passiva analí�ca, reflexiva.
d) passiva analí�ca, reflexiva, reflexiva, passiva sinté�ca.
e) passiva analí�ca, passiva sinté�ca, reflexiva, passiva
analí�ca.
GR0352 - (Uerj)
COM O OUTRO NO CORPO, O ESPELHO PARTIDO
O que acontece com o sen�mento de iden�dade de
uma pessoa que se depara, diante do espelho, com um rosto
que não é seu? Como é possível manter a convicção
razoavelmente estável que nos acompanha pela vida, a
respeito do nosso ser, no caso de sofrermos uma alteração
radical em nossa imagem? Perguntas como essas
provocaram intenso debate a respeito da é�ca médica
depois do transplante de parte da face em uma mulher que
teve o rosto desfigurado por seu cachorro em Amiens, na
França.
Nosso sen�mento de permanência e unidade se
estabelece diante do espelho, a despeito de todas as
mudanças que o corpo sofre ao longo da vida. A criança
humana, em um determinado estágio de maturação,
iden�fica-se com sua imagem no espelho. Nesse caso, um
transplante (ainda que parcial) que altera tanto os traços
feno�picos quanto as marcas da história de vida inscritas na
face destruiria para sempre o sen�mento de iden�dade do
transplantado? Talvez não. Ocorre que o poder do espelho –
esse de vidro e aço pendurado na parede – não é tão
absoluto: o espelho que importa, para o humano, é o olhar
de um outro humano. A cultura contemporânea do
narcisismo*, ao remeter as pessoas a buscar con�nuamente
o testemunho do espelho1, não considera que o espelho do
humano é, antes de mais nada, o olhar do semelhante.
É o reconhecimento do outro que nos confirma que
exis�mos e que somos (mais ou menos) os mesmos ao longo
da vida, na medida em que as pessoas próximas con�nuam a
nos devolver nossa “iden�dade”. O rosto é a sede do olhar
que reconhece e que também busca reconhecimento. É que
o rosto não se reduz à dimensão da imagem: ele é a própria
presen�ficação de um ser humano, em sua singularidade
irrecusável. Além disso, dentre todas as partes do corpo, o
rosto é a que faz apelo ao outro2. A parte que se comunica,
expressa amor ou ódio e, sobretudo, demanda amor3.
A literatura pode nos ajudar a amenizar o drama da
paciente francesa. O personagem Robinson Crusoé do livro
Sexta-feira ou os limbos do Pacífico, de Michel Tournier,
perde a noção de sua iden�dade e enlouquece, na falta do
olhar de um semelhante que lhe confirme que ele é um ser
humano. No início do romance, o náufrago solitário tenta
fazer da natureza seu espelho. Faz do estranho, familiar,
trabalhando para “civilizar” a ilha e representando diante de
si mesmo o papel de senhor sem escravos, mestre sem
discípulos. Mas depois de algum tempo o isolamento
degrada sua humanidade.
A paciente francesa, que agradeceu aos médicos a
recomposição de uma face humana, ainda que não seja a
“sua”4, vai agora depender de um esforço de tolerância e
generosidade por parte dos que lhe são próximos. Parentes e
amigos terão de superar o desconforto de olhar para ela e
não encontrar a mesma de antes. Diante de um rosto outro,
deverão ainda assim confirmar que ela con�nua sendo ela. E
amar a mulher estranha a si mesma que renasceu daquela
operação.
MARIA RITA KEHL. Adaptado de folha.uol.com.br,
11/12/2005.
 
*narcisismo − amor do indivíduo por sua própria imagem
 
o espelho do humano é, antes de mais nada, o olhar do
semelhante. (2º parágrafo, sublinhado)
 
20@professorferretto @prof_ferretto
No trecho, a expressão sublinhada enfa�za uma ideia, tal
como se observa em:
a) A cultura contemporânea do narcisismo, ao remeter as
pessoas a buscar con�nuamente o testemunho do
espelho, (1º itálico)
b) Além disso, dentre todas as partes do corpo, o rosto é a
que faz apelo ao outro. (2º itálico)
c) A parte que se comunica, expressa amor ou ódio e,
sobretudo, demanda amor. (3º itálico)
d) A paciente francesa, que agradeceu aos médicos a
recomposição de uma face humana, ainda que não seja a
“sua”, (4º itálico)
GR0354 - (Uerj)
A questão refere-se ao conto “A terceira margem do rio”, de
João Guimarães Rosa.
Guimarães Rosa afirmou, em uma entrevista, que somente
renovando a língua é que se pode renovar o mundo. Visando
a essa renovação, recorria a neologismos e inversões pouco
usuais de termos, explorando novos sen�dos em seus textos.
Um exemplo dessas inversões encontra-se em:
a) Nossa mãe era quem regia,
b) Nossa mãe muito não se demonstrava.
c) Nossa mãe terminou indo também, de uma vez,
d) Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura;
GR0520 - (Fuvest)Chegada do Perseverance abre caminho para retorno de
amostras de Marte
Agora que o rover Perseverance está seguro e saudável
na super�cie de Marte, vários grupos de trabalho espalhados
pelo mundo podem respirar aliviados e pensar nos passos
futuros do programa de exploração marciana -que vai agora
focar seus esforços no cobiçado retorno de amostras de volta
à Terra. A missão atual é um primeiro passo crucial. Afinal,
cabe ao Percy, como foi apelidado o jipe, fazer o escru�nio e
a escolha das rochas (comandado por cien�stas na Terra,
claro) que serão acondicionadas por ele em pequenos tubos
lacrados e ultrarresistentes e depois deixadas, juntas, em
algum canto da super�cie de Marte. Ele terá vários anos para
fazer isso durante a exploração da cratera Jezero, um dos
locais mais promissores para a busca de evidências de vida
pregressa marciana.
Mas e aí, o que vem depois? Nasa e ESA,
respec�vamente agências espaciais americana e europeia, já
trabalham conjuntamente nos próximos passos, que
envolvem pelo menos mais dois, e possivelmente três,
lançamentos diferentes a fim de trazer de volta o cobiçado
material. Ainda faltam definições, mas trabalhos 20
preliminares sugerem a seguinte sequência.
Em 2026, parte um módulo de pouso com um pequeno
foguete, de menos de três metros, instalado a bordo.
Projetada e construída pela Nasa, a nave pousaria próximo
ao local onde desceu o Perseverance. E aí, talvez par�ndo do
próprio módulo, talvez enviado num lançamento à parte,
1um pequeno rover produzido pela ESA encontraria as
amostras e as instalaria no interior do foguete. 2Em paralelo,
em 2026 ou 2027, um orbitador com propulsão elétrica,
outra contribuição da ESA, par�ria da Terra e se instalaria em
órbita ao redor de Marte. Em meados de 2029, 3o foguete
seria disparado (o primeiro lançamento feito de outro
planeta!), colocando a cápsula com as amostras em órbita
marciana. Lá ela se acoplaria ao orbitador europeu, que por
sua vez traria o conteúdo de volta à Terra, em 2031. 4A
empreitada toda custaria cerca de US$ 5 bilhões, sem contar
os US$ 2,7 bilhões empenhados na missão do Perseverance.
5A recompensa, contudo, teria valor incomensurável.
6Cien�stas já �veram a chance de analisar algumas amostras
de Marte - meteoritos provenientes do planeta vermelho -,
mas nunca com a chance de escolher quais rochas,
conhecendo o contexto geológico de onde elas par�ram. E
7amostras trazidas de volta con�nuam a render novos
resultados por décadas, conforme equipamentos mais
sofis�cados surgem para estudá-las. Não à toa, as amostras
trazidas pelo programa Apollo, que levou humanos à Lua
entre 1969 e 1972, con�nuam sendo estudadas até hoje.
Ademais, é fundamental demonstrar a capacidade de trazer
uma pequena carga de Marte antes que se ambicione trazer
uma grande carga - como humanos - em uma futura missão
tripulada.
Nogueira, S. "Chegada do Perseverance abre caminho para
retorno de amostras de Marte". Folha de São Paulo.
21.2.2021, Disponível em: h�ps://bit.Iv/3bZL69q/.Adaptado
 
No fragmento "... a nave pousaria próximo ao local onde
desceu o Perseverance", “próximo" e “onde" são,
respec�vamente, classificados como
a) substan�vo e pronome rela�vo. 
b) adje�vo e pronome rela�vo. 
c) advérbio e pronome rela�vo. 
d) adje�vo e advérbio. 
e) advérbio e advérbio.
GR0264 - (Unesp)
O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em
casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma
limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são
levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se.
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra,
bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos
miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as
lombrigas comeram o segundo, o úl�mo teve angina e a
mulher enforcou-se.
Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção,
proibi a aguardente.
Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que
não preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou
aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode interessar
aos arquitetos, homens que provavelmente não lerão isto.
Ficou tudo confortável e bonito. Naturalmente deixei de
21@professorferretto @prof_ferretto
dormir em rede. Comprei móveis e diversos objetos que
entrei a u�lizar com receio, outros que ainda hoje não u�lizo,
porque não sei para que servem.
Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos
o mundo dá um bando de voltas. Ninguém imaginará que,
topando os obstáculos mencionados, eu haja procedido
invariavelmente com segurança e percorrido, sem me deter,
caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive
aba�mentos, desejo de recuar; contornei dificuldades:
muitas curvas. Acham que andei mal?
A verdade é que nunca soube quais foram os meus
atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me
trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como
sempre �ve a intenção de possuir as terras de S. Bernardo,
considerei legí�mas as ações que me levaram a obtê-las.
Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus.
Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio
se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E os
negócios desdobraram-se automa�camente.
Automa�camente. Di�cil? Nada! Se eles entram nos trilhos,
rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços.
Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices
que pra�carem viram sabedoria. Tenho visto criaturas que
trabalham demais e não progridem.
Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro:
quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca – e
engolem tudo.
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras
tenta�vas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas
seguintes. Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca,
naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava
no tempo de Salus�ano Padilha. Houve reclamações.
– Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo
enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar,
paciência, vá à jus�ça.
Como a jus�ça era cara, não foram à jus�ça. E eu, o
caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralí�co de um
braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando
Direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz.
Violências miúdas passaram despercebidas. As questões
mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João
Nogueira.
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei
maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam
por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a
pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao
mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo
Gondim compôs sobre ela dois ar�gos, chamou-me patriota,
citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou
uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe
polí�co local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis.
(S. Bernardo, 1996.)
 
Verifica-se o emprego de verbo no modo impera�vo no
seguinte trecho:
a) “Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se
não entram, cruzem os braços.” (7º parágrafo)
b) “Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo
enquanto viveu. Mas agora é isto.” (10º parágrafo)
c) “Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção,
proibi a aguardente.” (3º parágrafo)
d) “Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o
mundo dá um bando de voltas.” (5º parágrafo)
e) “Não senhor, não procedi nem percorri. Tive aba�mentos,
desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas.”
(6º parágrafo)
GR0105 - (Espm)
Aborto, porte de armas e o presidente Donald Trump foram
alguns dos assuntos que dominaram a primeira audiência de
confirmação do juiz conservador Bre� Kavanaugh para a
Suprema Corte dos Estados Unidos, realizada em meio a
protestos de a�vistas e tenta�vas de adiamento do processo
por parte de democratas. Kavanaugh passará por mais dois
dias de saba�na, na quarta e na quinta, e testemunhas
contra e a favor do juiz devem ser ouvidas na sexta.
(Folha de S.Paulo, 04/09/2018)
 
 
 
Assinale a afirmação correta sobre o trecho: “... testemunhas
contra e a favor do juiz devem ser ouvidas na sexta...” A frase
está:a) na voz passiva analí�ca, enfa�zando o sujeito paciente
“testemunhas”, alvo do processo verbal.
b) na voz a�va, enfa�zando o agente indeterminado do
processo expresso pelo verbo.
c) na voz passiva sinté�ca e, se transpuséssemos para a voz
a�va, teríamos “devem ouvir testemunhas contra e a favor
do juiz na sexta”, enfa�zando o sujeito indeterminado.
d) na voz passiva analí�ca e, se transpuséssemos para a voz
a�va, teríamos “ouvirão testemunhas contra e a favor do
juiz na sexta”, realçando o sujeito indeterminado na ação
de ouvir.
e) na voz passiva e, se transpuséssemos para a voz a�va,
teríamos “deverão ouvir testemunhas contra e a favor do
juiz na sexta”, dando destaque em “testemunhas”.
GR0528 - (Ufrgs)
1Leia isto. A depender da maneira como a frase acima
for falada, ela será entendida como um pedido, uma ordem
ou uma sugestão. Suponha, por exemplo, que ela seja falada
por alguém que acabou de chegar do consultório médico e
não consegue decifrar o que está escrito na receita. Suponha
agora que seja falada por um o�almologista, apontando para
a primeira 2linha de um quadro de letras, durante uma
avaliação o�almológica. Suponha ainda que seja falada por
um amigo, numa livraria, segurando o novo livro de Daniel
Galera. Agora suponha que a pessoa com a receita quer, na
22@professorferretto @prof_ferretto
verdade, ironizar porque sabe que ninguém vai entender os
rabiscos do médico e que o amigo, fã de Daniel Galera,
denuncia com a sugestão o entusiasmo pelo novo livro.
Suponha, por fim, que 3o paciente examinado comece a ler a
segunda linha do quadro e seja interrompido pelo
o�almologista, 4que aponta para a primeira linha e fala.
“Leia ISTO".
Como uma mesma 5combinação de sons consegue
expressar sen�dos diversos? Como vimos, a frase que inicia
este texto 6pode ser u�lizada para realizar diferentes ações
(um pedido ou uma ordem, por exemplo), pode indicar uma
a�tude (ironia, por exemplo) ou uma emoção (alegria,
entusiasmo, euforia etc.). Também é possível destacar uma
das palavras da frase, de maneira a indicar um contraste (no
exemplo, o o�almologista apontou para o que estava escrito
na primeira linha do quadro, em oposição ao que estava
escrito na segunda linha). 7A frase, escrita como está, não
consegue 8sozinha, sem a ajuda de um contexto, expressar
nenhum desses sen�dos. Quando falada, sim. Mas que
9propriedades da fala são responsáveis pela diversidade de
sen�dos que 10ela é capaz de expressar? Não são
certamente as 11propriedades de cada segmento sonoro
individual que formam, em combinação, as palavras. São
propriedades 12que não estão no nível do segmento, mas
13num nível acima 14dele.
Uma frase como a de nosso exemplo pode ser
enunciada mais lenta ou mais rapidamente. Podemos
sobrepor uma duração 15diferenciada a um mesmo grupo de
sons. 16Também é 17possível falar a frase 18bem 19baixinho
ou até mesmo gritá-la. É possível então regular a intensidade
de enunciação de um mesmo conjunto de sons. Por fim,
também podemos usar um tom mais grave (grosso) ou mais
agudo (fino) para falar uma mesma frase.
Por sua vez, a escrita tenta capturar a entonação de
diversas. maneiras. Assim, por exemplo,
temos os sinais de 20pontuação; eles servem para
indicar se determinada frase é uma pergunta ou uma
afirmação e também para indicar quando uma frase termina
e outra começa ou quando ela não terminou por completo e
ainda há mais por dizer. Na escrita, u�lizamos marcas para
explicitar que vamos iniciar uma nova porção do discurso,
u�lizamos maiúsculas ou itálicos para indicar ênfase e assim
por diante. No entanto, a escrita não consegue expressar
muito do que é possível com a entonação. Comumente
temos de indicar 21expressamente que estamos 22sendo
irônicos ou gen�s, 23por exemplo, para evitar mal-
entendidos na escrita, O que, mesmo de maneira restrita,
indica o modo como um texto deve ser lido ou
compreendido.
Adaptado de: OLIVEIRA JR., M. O que é entonação? In:
OTHERO, G. A.; FLORES, V. N. O que sabemos sobre a
linguagem? São Paulo: Parábola, 2022.
 
No bloco superior abaixo, estão listadas palavras re�radas do
texto; no inferior, afirmações sobre a classe grama�cal
dessas palavras. Associe adequadamente o bloco superior ao
inferior.
 
(__) linha (ref. 2).
(__) sozinha (ref. 8).
(__) diferenciada (ref. 15).
(__) bem (ref. 18).
(__) baixinho (ref. 19).
 
1. Palavras que estão sendo empregadas como adje�vos.
2. Palavras que estão sendo empregadas como substan�vos.
3. Palavras que estão sendo empregadas como advérbios.
 
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de
cima para baixo, é
a) 2 – 1 – 1 – 3 – 3. 
b) 1 – 3 – 3 – 2 – 1. 
c) 2 – 3 – 1 – 1 – 2. 
d) 1 – 1 – 3 – 3 – 3. 
e) 2 – 1 – 3 – 1 – 3.
GR0356 - (Uerj)
Quem tem o direito de falar?
A polí�ca não é uma questão apenas de circulação
de bens e riquezas. Na verdade, a polí�ca é também uma
questão de circulação de afetos, da maneira como eles irão
criar vínculos sociais, afetando os que fazem parte desses
vínculos.
A maneira como somos afetados define o que somos
e o que não somos capazes de ver, sen�r e perceber.
Definido o que vejo, sinto e percebo, definem-se o campo
das minhas ações, a maneira como julgarei, o que faz parte e
o que está excluído do meu mundo.
Percebam, por exemplo, como um dos maiores
feitos polí�cos de 2015 foi a circulação de uma mera foto, a
foto do menino sírio morto em um naufrágio no Mar
Mediterrâneo. Nesse sen�do, foi muito interessante
pesquisar as reações de certos europeus que invadiram sites
de no�cias de seu con�nente com posts e comentários. Uma
quan�dade impressionante deles reclamava daqueles jornais
que decidiram publicar a foto. Eles diziam basicamente a
mesma coisa: “parem de nos mostrar o que não queremos
ver”.
(...)
VLADIMIR SAFATLE. Adaptado de Folha de S. Paulo,
25/09/2015.
 
No segundo parágrafo, observa-se a alternância no emprego
da primeira pessoa do plural com
a do singular. O emprego da primeira pessoa do singular
estabelece o efeito de:
a) revelar uma culpa
b) antecipar um preconceito
c) interpelar uma individualidade
d) reafirmar um posicionamento
GR0527 - (Eear)
Leia os provérbios abaixo:
23@professorferretto @prof_ferretto
I. Muito riso, pouco siso.
II. O muito sem Deus não é nada.
III. Muito ajuda quem não atrapalha.
 
A palavra “muito” neles presente é advérbio somente em
a) III.
b) I e II.
c) I e III.
d) II e III.
GR0310 - (Unesp)
Leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533-
1592).
Há alguma razão em fazer o julgamento de um
homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo
em vista a natural instabilidade de nossos costumes e
opiniões, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons
autores estão errados em se obs�narem em formar de nós
uma ideia constante e sólida.
(...)
Em toda a An�guidade é di�cil escolher uma dúzia
de homens que tenham ordenado sua vida num projeto
definido e seguro, que é o principal obje�vo da sabedoria.
Pois para resumi-la por inteiro numa só palavra e abranger
em uma só todas as regras de nossa vida, “a sabedoria”, diz
um an�go, “é sempre querer a mesma coisa, é sempre não
querer a mesma coisa”, “eu não me dignaria”, diz ele, “a
acrescentar ‘contanto que a tua vontade esteja certa’, pois se
não está certa, é impossível que sempre seja uma só e a
mesma.” Na verdade, aprendi outrora que o vício é apenas o
desregramento e a falta de moderação; e, por conseguinte, é
impossível o imaginarmos constante. É uma frase de
Demóstenes, dizem, que “o começo de toda virtude são a
reflexão e a deliberação, e seu fim e sua perfeição, a
constância”. Se, guiados pela reflexão, pegássemos certa via,
pegaríamos a mais bela, mas ninguém pensa antes de agir:
“O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de
abandonar; agita-se e sua vida não se dobra a nenhuma
ordem.”
(Michel de Montaigne. Os ensaios: uma seleção, 2010.
Adaptado.)
 
“o começo de toda virtude são a reflexão e a deliberação, e
seu fim e sua perfeição, a constância” (2º parágrafo)
Nesse trecho, a segunda vírgula é empregada com a
finalidade de
a) separar o voca�vo.
b)indicar a supressão de um verbo.
c) separar dois objetos diretos.
d) separar o sujeito de seu predicado.
e) indicar a supressão do conec�vo “e”.
GR0383 - (Unicamp)
Entre todas as palavras do momento, a mais
flamejante talvez seja desigualdade. E nem é uma boa
palavra, incomoda. Começa com des. Des de desalento, des
de desespero, des de desesperança. Des, defini�vamente,
não é um bom prefixo.
Desigualdade. A palavra do ano, talvez da década,
não importa em que dicionário. Doravante ouviremos falar
muito nela.
De-si-gual-da-de. Há quem não veja nem soletre,
mas está escrita no des�no de todos os busões da cidade,
sen�do centro/subúrbio, na linha reta de um trem. Solano
Trindade, no sinal fechado, fez seu primeiro rap, “tem gente
com fome, tem gente com fome, tem gente com fome”,
somente com esses substan�vos. Você ainda não conhece o
Solano? Corra, dá tempo. Dá tempo para você entender que
vivemos essa desigualdade. Pegue um busão da Avenida
Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o vale-transporte na
catraca e simbora — mais de 30 quilômetros. O patrão
jardinesco vive 23 anos a mais, em média, do que um
humaníssimo habitante da Cidade Tiradentes, por todas as
razões sociais que a gente bem conhece.
Evitei as esta�s�cas nessa crônica. Podia matar de
desesperança os leitores, os números rendem manchete,
mas carecem de rostos humanos. Pega a visão, imprensa, só
há uma possibilidade de fazer a grande cobertura: mire-se na
desigualdade, talvez não haja mais jeito de achar que os
pontos da bolsa de valores signifiquem a ideia de fazer um
país.
(Adaptado de Xico Sá, A vidinha sururu da desigualdade
brasileira. Em El País, 28/10/2019. Disponível em
h�ps://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/ opinion/
1572287747_637859.html?�clid
=IwAR1VPA7qDYs1Q0Ilcdy6UGAJTwBO
_snMDUAw4yZpZ3zyA1ExQx _XB9Kq2qU. Acessado em
25/05/2020.)
 
Assinale a alterna�va que iden�fica corretamente recursos
linguís�cos explorados pelo autor nessa crônica.
a) Uso de verbos no impera�vo, linguagem informal, texto
impessoal.
b) Marcas de coloquialidade, uso de primeira pessoa,
linguagem obje�va.
c) Marcas de oralidade, uso expressivo de recursos
ortográficos, subje�vidade do autor.
d) Uso de variação linguís�ca, linguagem neutra, apelo ao
tom coloquial.
GR0334 - (Fuvest)
Romance LIII ou Das Palavras Aéreas
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
24@professorferretto @prof_ferretto
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova! (...)
 
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!
— sois madeira que se corta,
— sois vinte degraus de escada,
— sois um pedaço de corda...
— sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa...
 
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
— sois um homem que se enforca!
Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência
 
Ao subs�tuir a pessoa verbal u�lizada para se referir ao
substan�vo “palavras” pela 3ª pessoa do plural, os verbos
dos versos “sois de vento, ides no vento,” (v. 4) / “Perdão
podíeis ter sido!” (v. 12)! / “Éreis um sopro na aragem...” (v.
20) seriam conjugados conforme apresentado na alterna�va:
a) são, vão, podiam, eram.
b) seriam, iriam, podiam, serão.
c) eram, foram, poderiam, seriam.
d) são, vão, poderiam, eram.
e) eram, iriam, podiam, seriam.
GR0306 - (Unesp)
Leia o trecho do conto “A menina, as aves e o sangue”, do
escritor moçambicano Mia Couto (1955 - ).
 
Aconteceu, certa vez, uma menina a quem o coração ba�a só
de quando em enquantos. A mãe sabia que o sangue estava
parado pelo roxo dos lábios, palidez nas unhas. Se o coração
estancava por demasia de tempo a menina começava a
esfriar e se cansava muito. A mãe, então, se afligia: roía o
dedo e deixava a unha intacta. Até que o peito da filha
voltava a dar sinal:
— Mãe, venha ouvir: está a bater!
A mãe acorria, debruçando a orelha sobre o peito estreito
que soletrava pulsação. E pareciam, as duas, presenciando
pingo de água em pleno deserto. Depois, o sangue dela
voltava a calar, resina empurrando a arrastosa vida.
Até que, certa noite, a mulher ganhou para o susto. Foi
quando ela escutou os pássaros. Sentou na cama: não eram
só piares, chilreinações. Eram rumores de asas, brancos
drapejos de plumas. A mãe se ergueu, pé descalço pelo
corredor. Foi ao quarto da menina e joelhou-se junto ao
leito. Sen�u a transpiração, reconheceu o seu próprio cheiro.
Quando lhe ia tocar na fronte a menina despertou:
— Mãe, que bom, me acordou! Eu estava sonhar pássaros.
A mãe sor�u-se de medo, aconchegou o lençol como se
protegesse a filha de uma maldição. Ao tocar no lençol uma
pena se desprendeu e subiu, levinha, volteando pelo ar. A
menina suspirou e a pluma, algodão em asa, de novo se
ergueu, rodopiando por alturas do tecto. A mãe tentou
apanhar a errante plumagem. Em vão, a pena saiu voando
pela janela. A senhora ficou espreitando a noite, na ilusão de
escutar a voz de um pássaro. Depois, re�rou-se, adentrando-
se na solidão do seu quarto. Dos pássaros selou-se o
segredo, só entre as duas.[...]
Com o tempo, porém, cada vez menos o coração se fazia
frequente. Quase deixou de dar sinais à vida. Até que essa
imobilidade se prolongou por consecu�vas demoras. A
menina falecera? Não se vislumbravam sinais dessa
derradeiragem.
Pois ela seguia pra�cando vivências, brincando, sempre
cansadinha, resfriorenta. Uma só diferença se contava. Já à
noite a mãe não escutava os piares.
— Agora não sonha, filha?
— Ai mãe, está tão escuro no meu sonho! 
Só então a mãe arrepiou decisão e foi à cidade:
— Doutor, lhe respeito a permissão: queria saber a saúde de
minha única. É seu peito... nunca mais deu sinal.
O médico corrigiu os óculos como se entendesse rec�ficar a
própria visão. Clareou a voz, para melhor se autorizar.
E disse:
— Senhora, vou dizer: a sua menina já morreu.
— Morta, a minha menina? Mas, assim...?
— Esta é a sua maneira de estar morta.
A senhora escutou, mãos juntas, na educação do colo.
Anuindo com o queixo, ia esbugolhando o médico. Todo seu
corpo dizia sim, mas ela, dentro do seu centro, duvidava.
Pode-se morrer assim com tanta leveza, que nem se nota a
re�rada da vida? E o médico, lhe amparando, já na porta:
— Não se entristonhe, a morte é o fim sem finalidade.
A mãe regressou à casa e encontrou a filha entoando danças,
cantarolando canções que nem existem. Se chegou a ela,
tocou-lhe como se a miúda inexis�sse. A sua pele não
desprendia calor.
— Então, minha querida não escutou nada?
Ela negou. A mãe percorreu o quarto, vasculhou recantos.
Buscava uma pena, o sinal de um pássaro. Mas nada não
encontrou. E assim, ficou sendo, então e adiante.
Cada vez mais fria, a moça brinca, se aquece na torreira do
sol. Quando acorda, manhã alta, encontra flores que a mãe
depositou ao pé da cama. Ao fim da tarde, as duas, mãe e
filha, passeiam pela praça e os velhos descobrem a cabeça
em sinal de respeito.
E o caso se vai seguindo, estória sem história. Uma única,
silenciosa, sombra se instalou: de noite, a mãe deixou de
dormir. Horas a fio a sua cabeça anda em serviço de escutar,
a ver se regressam as vozearias das aves.
(Mia Couto. A menina sem palavra, 2013.)
 
Ocorre o pronome apassivador “se” no seguinte trecho:
25@professorferretto @prof_ferretto
a) “A mãe, então, se afligia: roía o dedo e deixava a unha
intacta.” (1º parágrafo)
b) “Cada vez mais fria, a moça brinca, se aquece na torreira
do sol.” (21º parágrafo)
c) “Clareou a voz, para melhor se autorizar.” (12º parágrafo)
d) “E o caso se vai seguindo, estória sem história.” (22º
parágrafo)
e) “Não se vislumbravam sinais dessa derradeiragem.” (7º
parágrafo)
GR0099 - (Unesp)
Numa an�ga anedota que circulava na hoje falecida
República Democrá�ca Alemã, um operário alemão
consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda
correspondência será lida pelos censores, ele combina com
os amigos: “Vamos combinar um código: se umacarta es�ver
escrita em �nta azul, o que ela diz é verdade; se es�ver
escrita em �nta vermelha, tudo é men�ra.” Um mês depois,
os amigos recebem uma carta escrita em �nta azul: “Tudo
aqui é maravilhoso: as lojas vivem cheias, a comida é
abundante, os apartamentos são grandes e bem aquecidos,
os cinemas exibem filmes do Ocidente, há muitas garotas,
sempre prontas para um programa – o único senão é que
não se consegue encontrar �nta vermelha.” Neste caso, a
estrutura é mais refinada do que indicam as aparências:
apesar de não ter como usar o código combinado para
indicar que tudo o que está dito é men�ra, mesmo assim ele
consegue passar a mensagem. Como? Pela introdução da
referência ao código, como um de seus elementos, na
própria mensagem codificada.
(Bem-vindo ao deserto do real!, 2003.)
 
“Um mês depois, os amigos recebem uma carta escrita em
�nta azul [...].” Assinale a alterna�va que expressa, na voz
passiva, o conteúdo dessa oração.
a) Um mês depois, uma carta escrita em �nta azul seria
recebida pelos amigos.
b) Os amigos deveriam ter recebido, um mês depois, uma
carta escrita em �nta azul.
c) Um mês depois, uma carta escrita em �nta azul foi
recebida pelos amigos.
d) Um mês depois, uma carta escrita em �nta azul é recebida
pelos amigos.
e) Os amigos receberiam, um mês depois, uma carta escrita
em �nta azul.
GR0100 - (Espcex)
Polí�ca pública de saneamento básico: as bases do
saneamento como direito de cidadania e os debates sobre
novos modelos de gestão
Ana Lucia Bri�o
Professora Associada do PROURB-FAU-UFRJ
Pesquisadora do INCT Observatório das Metrópoles
 
A Assembleia Geral da ONU reconheceu em 2010 que o
acesso à água potável e ao esgotamento sanitário é
indispensável para o pleno gozo do direito à vida. É preciso,
para tanto, fazê-lo de modo financeiramente acessível e com
qualidade para todos, sem discriminação. Também obriga os
Estados a eliminarem progressivamente as desigualdades na
distribuição de água e esgoto entre populações das zonas
rurais ou urbanas, ricas ou pobres.
No Brasil, dados do Ministério das Cidades indicam que cerca
de 35 milhões de brasileiros não são atendidos com
abastecimento de água potável, mais da metade da
população não tem acesso à coleta de esgoto, e apenas 39%
de todo o esgoto gerado são tratados. Aproximadamente
70% da população que compõe o déficit de acesso ao
abastecimento de água possuem renda domiciliar mensal de
até 0,5 salário-mínimo por morador, ou seja, apresentam
baixa capacidade de pagamento, o que coloca em pauta o
tema do saneamento financeiramente acessível.
Desde 2007, quando foi criado o Ministério das Cidades,
iden�ficam-se avanços importantes na busca de diminuir o
déficit já crônico em saneamento e pode-se caminhar alguns
passos em direção à garan�a do acesso a esses serviços
como direito social. Nesse sen�do destacamos as
Conferências das Cidades e a criação da Secretaria de
Saneamento e do Conselho Nacional das Cidades, que deram
à polí�ca urbana uma base de par�cipação e controle social.
Houve também, até 2014, uma progressiva ampliação de
recursos para o setor, sobretudo a par�r do PAC 1 e PAC 2; a
ins�tuição de um marco regulatório (Lei 11.445/2007 e seu
decreto de regulamentação) e de um Plano Nacional para o
setor, o PLANSAB, construído com amplo debate popular,
legi�mado pelos Conselhos Nacionais das Cidades, de Saúde
e de Meio Ambiente, e aprovado por decreto presidencial
em novembro de 2013.
Esse marco legal e ins�tucional traz aspectos essenciais para
que a gestão dos serviços seja pautada por uma visão de
saneamento como direito de cidadania: a) ar�culação da
polí�ca de saneamento com as polí�cas de desenvolvimento
urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de
sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da
saúde; e b) a transparência das ações, baseada em sistemas
de informações e processos decisórios par�cipa�vos
ins�tucionalizados.
A Lei 11.445/2007 reforça a necessidade de planejamento
para o saneamento, por meio da obrigatoriedade de planos
municipais de abastecimento de água, coleta e tratamento
de esgotos, drenagem e manejo de águas pluviais, limpeza
urbana e manejo de resíduos sólidos. Esses planos são
obrigatórios para que possam ser estabelecidos contratos de
delegação da prestação de serviços e para que possam ser
acessados recursos do governo federal (OGU, FGTS e FAT),
com prazo final para sua elaboração terminando em 2017. A
Lei reforça também a par�cipação e o controle social, através
de diferentes mecanismos como: audiências públicas,
definição de conselho municipal responsável pelo
acompanhamento e fiscalização da polí�ca de saneamento,
sendo que a definição desse conselho também é condição
para que possam ser acessados recursos do governo federal.
26@professorferretto @prof_ferretto
O marco legal introduz também a obrigatoriedade da
regulação da prestação dos serviços de saneamento, visando
à garan�a do cumprimento das condições e metas
estabelecidas nos contratos, à prevenção e à repressão ao
abuso do poder econômico, reconhecendo que os serviços
de saneamento são prestados em caráter de monopólio, o
que significa que os usuários estão subme�dos às a�vidades
de um único prestador.
FONTE: adaptado de
h�p://www.assemae.org.br/ar�gos/item/1762-saneamento-
basico-como-direito-de-cidadania
 
Marque a alterna�va que mostra a voz passiva pronominal.
a) Necessita-se de água potável para 35 milhões de
brasileiros.
b) Precisa-se de que a coleta de esgoto, em todo o mundo,
seja uma prioridade.
c) Trata-se de apenas 39% de todo o esgoto gerado pela
população.
d) Iden�ficou-se importante avanço na questão do
saneamento.
e) Pode-se caminhar alguns passos em direção à garan�a do
acesso a esses serviços.
GR0382 - (Unicamp)
No conto “O espelho”, de Machado de Assis, uma
personagem assume a palavra e narra uma história.
(Machado de Assis, O Espelho. Campinas: Editora da
Unicamp, 2019.)
 
Assinale a alterna�va que explicita sua interlocução com os
cavalheiros presentes.
a) “Lembra-me de alguns rapazes que se davam comigo, e
passaram a olhar-me de revés, durante algum tempo.”
b) “Ah! pérfidos! Mal podia eu suspeitar a intenção secreta
dos malvados.”
c) “Imaginai um homem que, pouco a pouco, emerge de um
letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a ver.”
d) “O espelho estava naturalmente muito velho; mas via se-
lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo.”
GR0360 - (Uerj)
Soneto de separação
 
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
 
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a úl�ma chama
E da paixão fez-se o pressen�mento
E do momento imóvel fez-se o drama.
 
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
 
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes. São Paulo: Companhia das Letras, 2009
 
Uma série de transformações é apresentada pelo verbo fazer
acompanhado da palavra se.
Na cena construída no poema, essa estrutura linguís�ca
produz o seguinte efeito:
a) apagamento dos parceiros da relação
b) esquecimento da sensação de perda
c) neutralização dos espaços de conflito
d) indefinição do momento da despedida
GR0258 - (Unesp)
Leia o soneto “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia”, do
poeta Gregório de Matos (1636-1696).
 
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em con�nuas tristezas a alegria.
 
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
 
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
 
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
(Poemas escolhidos, 2010.)
 
Verifica-se a ocorrência de um termo subentendido,mas
citado no verso anterior, em:
a) “Se é tão formosa a Luz, por que não dura?” (2ª estrofe)
b) “Como o gosto da pena assim se fia?” (2ª estrofe)
c) “Em con�nuas tristezas a alegria.” (1ª estrofe)
d) “Na formosura não se dê constância,” (3ª estrofe)
e) “Depois da Luz se segue a noite escura,” (1ª estrofe)
GR0361 - (Uerj)
O ensino da �sica sempre foi um grande desafio. Nos
úl�mos anos, muitos esforços foram feitos com o obje�vo de
ensiná-la desde as séries iniciais do ensino fundamental, no
contexto do ensino de ciências. Porém, como disciplina
27@professorferretto @prof_ferretto
regular, a �sica aparece no ensino médio, quando se torna
“um terror” para muitos estudantes.
Várias pesquisas vêm tentando iden�ficar quais são
as principais dificuldades do ensino de �sica e das ciências
em geral. Em par�cular, a queixa que sempre se detecta é
que os estudantes não conseguem compreender a
linguagem matemá�ca na qual, muitas vezes, os conceitos
�sicos são expressos. Outro ponto importante é que as
questões que envolvem a �sica são apresentadas fora de
uma contextualização do co�diano das pessoas, o que
dificulta seu aprendizado. Por fim, existe uma enorme
carência de professores formados em �sica para ministrar as
aulas da disciplina.
As pessoas que vão para o ensino superior e que não
são da área de ciências exatas pra�camente nunca mais têm
contato com a �sica, da mesma maneira que os estudantes
de �sica, engenharia e química poucas vezes voltam a ter
contato com a literatura, a história e a sociologia. É triste
notar que a especialização na formação dos indivíduos
costuma deixá-los distantes de partes importantes da nossa
cultura, da qual as ciências �sicas e as humanidades fazem
parte.
Mas vamos pensar em soluções. Há alguns anos,
ofereço um curso chamado “Física para poetas”. A ideia não
é original – ao contrário, é muito u�lizada em diversos países
e aqui mesmo no Brasil. Seu obje�vo é apresentar a �sica
sem o uso da linguagem matemá�ca e tentar mostrá-la
próxima ao co�diano das pessoas. Procuro destacar a beleza
dessa ciência, associando-a, por exemplo, à poesia e à
música.
Alguns dos temas que trabalho em “Física para
poetas” são inspirados nos ar�gos que publico. Por exemplo,
“A busca pela compreensão cósmica” é uma das aulas, na
qual apresento a evolução dos modelos que temos do
universo. Começando pelas visões mís�cas e mitológicas e
chegando até as modernas teorias cosmológicas, falo sobre a
busca por responder a questões sobre a origem do universo
e, consequentemente, a nossa origem, para
compreendermos o nosso lugar no mundo e na história.
Na aula “Memórias de um carbono”, faço uma
narra�va de um átomo de carbono contando sua história, em
primeira pessoa, desde seu nascimento, em uma distante
estrela que morreu há bilhões de anos, até o momento em
que sai pelo nariz de uma pessoa respirando. Temas como
astronomia, biologia, evolução e química surgem ao longo
dessa aula, bem como as músicas “Á�mo de pó” e “Estrela”,
de Gilberto Gil, além da poesia “Psicologia de um vencido”,
de Álvares de Azevedo.
Em “O tempo em nossas vidas”, apresento esse
fascinante conceito que, na verdade, vai muito além da
�sica: está presente em áreas como a filosofia, a biologia e a
psicologia. Algumas músicas de Chico Buarque e Caetano
Veloso, além de poesias de Vinicius de Moraes e Carlos
Drummond de Andrade, ajudaram nessa abordagem. Não
faltou também “Tempo Rei”, de Gil.
A arte é uma forma importante do conhecimento
humano. Se músicas e poesias inspiram as mentes e os
corações, podemos mostrar que a ciência, em par�cular a
�sica, também é algo inspirador e belo, capaz de criar certa
poesia e encantar não somente aos �sicos, mas a todos os
poetas da natureza.
ADILSON DE OLIVEIRA. Adaptado de cienciahoje.org.br,
08/08/2016.
 
Por exemplo, “A busca pela compreensão cósmica” é uma
das aulas, na qual apresento a evolução dos modelos que
temos do universo. (itálico)
 
No trecho, a forma verbal sublinhada expressa uma ação que
se caracteriza como:
a) interrompida
b) simultânea
c) concluída
d) reiterada
GR0323 - (Fuvest)
Sim, estou me associando à campanha nacional
contra os verbos que acabam em "ilizar". Se nada for feito,
daqui a pouco eles serão mais numerosos do que os
terminados simplesmente em "ar". Todos os dias os maus
tradutores de livros de marke�ng e administração
disponibilizam mais e mais termos infelizes, que
imediatamente são operacionalizados pela mídia,
reinicializando1 palavras que já exis�am e eram
perfeitamente claras e eufônicas.
A doença está tão disseminada que muitos verbos
honestos, com currículo de ó�mos serviços prestados, estão
a ponto de cair em desgraça entre pessoas de ouvidos
sensíveis. Depois que você fica alérgico a disponibilizar, como
você vai admi�r, digamos, “viabilizar2”? É triste demorar
tanto tempo para a gente se dar conta de que
"desincompa�bilizar3" sempre foi um palavrão.
FREIRE, Ricardo. Complicabilizando. Época, ago. 2003.
 
Com base no texto, é correto afirmar:
a) A “campanha nacional” a que se refere o autor tem por
obje�vo banir da língua portuguesa os verbos terminados
em “ilizar”.
b) O autor considera o emprego de verbos como
“reinicializando” (1º itálico) e “viabilizar” (2º itálico) uma
verdadeira “doença”.
c) A maioria dos verbos terminados em “(i)lizar”, presentes
no texto, foi incorporada à língua por influência
estrangeira.
d) O autor, no final do primeiro parágrafo, acaba usando
involuntariamente os verbos que ele condena.
e) Os prefixos “des” e “in”, que entram na formação do
verbo “desincompa�bilizar” (3º itálico), têm sen�do
oposto, por isso o autor o considera um “palavrão”.
GR0529 - (Ucs)
Timidez como virtude
28@professorferretto @prof_ferretto
Luiz Felipe Pondé
Outro dia ouvia uma colega1, muito inteligente e
bonita2, dizer da 3“gastura” que sen�a em ouvir pessoas
falando sobre suas qualidades intelectuais, realizações e
�tulos. Estando 4eu presente no momento desse infeliz self
marke�ng que causou a 5“gastura” no estômago da minha
jovem colega, entendi bem o que ela dizia.
O 6 ..... de falar das próprias realizações sempre exis�u.
Mas, hoje, é diferente: ser brega e fazer self marke�ng virou
uma “ciência”. Hoje, a velha máxima que “toda virtude
verdadeira é �mida” se transformou em uma informação
urgente.
7Toda virtude verdadeira é �mida. Sempre. Sim8, 9sei
que somos seres de con�nua 10baixa autoes�ma, e que 11o
mundo prima por nos ferrar todo dia12: gorda, burro,
brocha, histérica, mal-amado, enfim, adje�vos feitos para
destruir a 13já frágil autoes�ma que temos. E que,
14portanto, muitas vezes 15nos faz cair na tentação de
reafirmar nossos feitos na cara dos outros. Mas há uma
diferença quando fazemos isso em claro momento de
desespero e quando fazemos isso achando que estamos
abafando. 16O fato comentado pela minha colega era este
segundo caso.
17Por que toda virtude verdadeira é �mida? Antes de
tudo, porque a vocação constante à vaidade que nos assola
deixa a virtude insegura com relação 18..... si mesma. Essa
dinâmica entre 19a dúvida da virtude versus a certeza da
vaidade é tema, por exemplo, da clássica polêmica da graça
entre Santo Agos�nho (354 – 430) e Pelagius (360 – 420).
Outro traço da virtude é ser desatenta consigo mesma.
20Por isso, alguns afirmam que a maior de todas as virtudes
seria a humildade, uma vez que essa é o oposto simétrico da
vaidade. O co�diano da virtude não é checar a si mesma
con�nuamente no espelho para ver o quão 21..... ela tem
sido em ser ela mesma. Essa desatenção consigo mesma é
traço 22essencial da 23virtude. Associada a ela está a
percepção de “naturalidade” que toda virtude verdadeira
transparece.
Somos naturalmente “equipados” com a capacidade de
iden�ficar a leveza com a qual alguém age de modo virtuoso.
Assemelhando-se à manifestação da graça, a leveza da
virtude �mida e natural equipara-se à beleza sem vaidade.
Essa “naturalidade” da virtude está descrita por
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) quando em seu “É�ca a
Nicômaco” ele diz que a virtude deve se transformar em umasegunda natureza.
Não se trata de negar o esforço consciente em busca do
comportamento virtuoso, segundo o filósofo. O esforço é
real e consciente. Portanto, a �midez da virtude não é fruto
de sua inconsciência como comportamento. A �midez é
fruto da naturalidade 24(segunda natureza, nos termos do
filósofo) que caracteriza uma virtude madura.
Timidez aqui é quase uma metáfora, não para a
insegurança enquanto tal, mas para a virtude instalada no
co�diano do virtuoso que se deixa perceber pelo ato, e não
pelo anúncio do ato.
A é�ca é uma ciência prá�ca. A ideia de fazer marke�ng
da é�ca 25é como se afirmar que um círculo é quadrado.
Dizer que a virtude é prá�ca e jamais teórica significa dizer
que só o outro reconhece a virtude em você. A virtude é da
ordem do ato e não do discurso. 26Se você falar da sua
virtude, você jamais convencerá uma pessoa razoavelmente
inteligente e madura da veracidade da sua afirmação. Porque
quem precisa anunciar sua própria virtude é porque a prá�ca
dessa virtude não é suficiente para ser reconhecida.
Por isso, afirma-se que a virtude é pública, 27jamais
privada. É silenciosa, mas sua existência é atestada pelo
olhar do outro que a vê acontecer no mundo, sem anunciar
que está acontecendo. O histórico do seu comportamento,
reconhecido ao longo do tempo pelas pessoas à sua volta
(mesmo as que lhe odeiam), se cons�tuirá na substância do
seu caráter. Esse caráter, ao longo da vida, se cons�tuirá, por
sua vez, no seu des�no. Por isso, afirma-se que virtude é
des�no. Sendo ela uma segunda natureza, realizada no
silêncio do esforço prá�co sem tagarelice, a virtude 28(ou a
ausência dela) pode se transformar em uma maldição
29mesmo.
Nada garante que virtude traga “felicidade”.
No nosso mundo tagarela, marcado pela breguice do
self marke�ng, a virtude não deve ser apenas �mida, mas a
própria �midez se torna, a cada dia, uma virtude em si
mesma. 30E esta é um animal do silêncio. Semelhantes 31.....
ela são a discrição, a delicadeza, a elegância e a contenção. A
busca dessas virtudes como forma de sabedoria é um desafio
para o século 21.
Disponível em:
h�ps://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2018/09/�mid
como-virtude.shtml. Acesso em: 21 jul. 2022. (Adaptado)
 
Assinale a alterna�va que apresenta afirmação correta
acerca de fragmentos do texto.
a) O advérbio de modo como (�tulo) expressa intensidade
entre �midez e virtude. 
b) A conjunção já (ref. 13) circunscreve a autoes�ma no
tempo. 
c) O adje�vo essencial (ref. 22) associa virtude (ref. 23) à
noção de fundamental. 
d) A conjunção jamais (ref. 27) opõe as noções de público e
privado. 
e) O advérbio mesmo (ref. 29) atribui o sen�do de realmente
à ação citada na oração.
GR0584 - (Enem PPL)
O seu cérebro é capaz de quase qualquer coisa. Ele
consegue parar o tempo, ficar vários dias numa boa sem
dormir, ler pensamentos, mover objetos a distância e se
reconstruir de acordo com a necessidade. Parecem
superpoderes de histórias em quadrinhos, mas são apenas
algumas das descobertas que os neurocien�stas fizeram ao
longo da úl�ma década. Algumas dessas façanhas sempre
fizeram parte do seu cérebro e só agora conseguimos
perceber. Outras são fruto da ciência: ao decifrar alguns
mecanismos da nossa mente, os pesquisadores estão
encontrando maneiras de realizar coisas que antes pareciam
impossíveis. O resultado é uma revolução como nenhuma
29@professorferretto @prof_ferretto
outra, capaz de mudar não só a maneira como entendemos
o cérebro, mas também a imagem que fazemos do mundo,
da realidade e de quem somos nós. Siga adiante e entenda o
que está acontecendo (e aproveite que, segundo uma das
mais recentes descobertas, nenhum exercício para o seu
cérebro é tão bom quanto a leitura).
KENSKI, R. A revolução do cérebro. Superinteressante, ago.
2006
 
Nessa introdução de uma matéria de popularização da
ciência, são usados recursos linguís�cos que estabelecem
interação com o leitor, buscando envolvê-lo. Desses recursos,
aquele que caracteriza a persuasão pretendida de forma
mais incisiva se dá pelo emprego
a) do pronome possessivo como em "O seu cérebro é capaz
de quase qualquer coisa".
b) de verbos na primeira pessoa do plural como
"entendemos" e "somos".
c) de pronomes em primeira pessoa do plural como "nossa"
e "nós".
d) de verbos no modo impera�vo como "siga" e "aproveite".
e) de estruturas linguís�cas avalia�vas como "tão bom
quanto a leitura".
GR0585 - (Enem PPL)
 
Adorei a pergunta, darling! Tem muita gente que não sabe
se comportar no elevador do prédio onde mora nem no da
empresa em que trabalha. Anote as minhas dicas para o bom
convívio de todos: entre a saia rapidamente (nada de segurar
a porta para terminar o bate-papo com a sua amiga); ao
embarcar, cumprimente os que já estão presentes; encerre a
conversa com o seu colega ao lado ou no celular antes de
entrar; não entre se o elevador es�ver cheio (o ambiente fica
insuportável para todos); espere para embarcar, pois a
preferência é sempre de quem está desembarcando; se você
sair com o seu pet ou carregar objetos grandes, espere até
que ele esteja vazio ou use as escadas.
Ana Maria. 20 JAN. 2012.
 
Nas regras de e�queta, a linguagem coloquial promove
maior proximidade do leitor com o texto. Um recurso para a
produção desse efeito cons�tui um desvio à variedade
padrão da língua portuguesa. Trata-se do uso
a) de palavras estrangeiras, como "darling" e "pet", pois
afrontam a iden�dade nacional.
b) do verbo "ter", que foi u�lizado em lugar de "haver" com
o sen�do de "exis�r".
c) da forma verbal "adorei", uma expressão exagerada de
emoção e sen�mento.
d) do modo impera�vo, �pico das conversas informais.
e) do substan�vo "bate-papo", que é uma gíria inadequada
para regras de e�queta.
GR0590 - (Enem PPL)
Miss Universo: “As pessoas racistas devem procurar ajuda”
SÃO PAULO — Leila Lopes, de 25 anos, não é a primeira
negra a receber a faixa de Miss Universo. A primazia coube a
Janelle “Penny” Commissiong, de Trinidad e Tobago,
vencedora do concurso em 1977. Depois dela vieram Chelsi
Smith, dos Estados Unidos, em 1995; Wendy Fitzwilliam,
também de Trinidad e Tobago, em 1998, e Mpule Kwelagobe,
de Botswana, em 1999. Em 1986, a gaúcha Deise Nunes, que
foi a primeira negra a se eleger Miss Brasil, ficou em sexto
lugar na classificação geral. Ainda assim a estupidez humana
faz com que, vez ou outra, surjam manifestações
preconceituosas como a de um site brasileiro que, às
vésperas da compe�ção, e se valendo do anonimato de
quem o criou, emi�u opiniões do �po “Como alguém
consegue achar uma preta bonita?” Após receber o �tulo, a
mulher mais linda do mundo — que tem o português como
língua materna e também fala fluentemente o inglês — disse
o que pensa de a�tudes como essa e também sobre como
sua conquista pode ajudar os necessitados de Angola e de
outros países.
COSTA, D. Disponível em: h�p://oglobo.globo.com. Acesso
em: 10 set. 2011 (adaptado).
 
O uso da expressão “ainda assim” presente nesse texto tem
como finalidade
a) cri�car o teor das informações fatuais até ali veiculadas.
b) ques�onar a validade das ideias apresentadas
anteriormente.
c) comprovar a veracidade das informações expressas
anteriormente.
d) introduzir argumentos que reforçam o que foi dito
anteriormente.
e) enfa�zar o contrassenso entre o que é dito antes e o que
vem em seguida.
GR0594 - (Enem PPL)
Argumento
Tá legal
Eu aceito o argumento
30@professorferretto @prof_ferretto
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sen�ndo a falta
De um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim
Sem preconceito Ou mania de passado
Sem querer ficar do lado
De quem não quer navegar
Faça como o velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar.
PAULINHO DA
VIOLA.
Disponível
em:
www.paulinhodaviola.com.br.
Acesso em: 6
dez. 2012.
 
Na letra da canção, percebe-se uma interlocução. A posição
do emissor é conciliatória entre as tradições do samba e os
movimentos inovadores desse ritmo. A estratégia
argumenta�va de concessão, nesse cenário, é marcada notrecho
a) “Mas não me altere o samba tanto assim”.
b) “Olha que a rapaziada está sen�ndo a falta”.
c) “Sem preconceito / Ou mania de passado”.
d) “Sem querer ficar do lado / De quem não quer navegar”.
e) “Leva o barco devagar”.
GR0596 - (Enem PPL)
Revolução digital cria a era do leitor-sujeito
Foi-se uma vez um leitor. Com a revolução digital, quem
lê passa a ter voz no processo de leitura. “Até outro dia, as
crí�cas literárias eram exclusividade de um grupo fechado,
assim como em tantas outras áreas. Agora, temos grupos
que conversam, trocam, se manifestam em tempo real,
recomendam ou desaprovam, trocam ideias com os autores,
par�cipam a�vamente da construção de obras literárias
cole�vas. Isso é um jeito novo de pensar a escrita, de
construir memória e o próprio conhecimento”, analisa uma
professora de comunicação da PUC-MG.
A secretária Fabiana Araújo, 32, é uma “leitora-sujeito”,
como Daniela chama esses novos atores do universo da
leitura. Leitora assídua desde o final da adolescência, quando
foi seduzida pela série Harry Po�er, só neste ano já leu mais
de 30 �tulos. Suas leituras não costumam terminar quando
fecha um livro. Fabiana escreve resenhas de �tulos como
Es�lhaça-me, romance fantás�co na linha de Crepúsculo,
publicadas em um blog com o qual foi convidada a colaborar.
“Escrever sobre um livro é uma forma de relê-lo. E conversar,
pessoal ou virtualmente, com outros leitores também”,
defende.
FANTINI, D. Jornal Pampulha, n. 1 138, maio 2012
(adaptado).
 
As sequências textuais “Até outro dia” e “agora” auxiliam a
progressão temá�ca do texto, pois delimitam
a) o perfil social dos envolvidos na revolução digital.
b) o limite etário dos promotores da revolução digital.
c) os períodos pré e pós revolução digital.
d) a urgência e a rapidez da revolução digital.
e) o alcance territorial da leitura digital.
GR0601 - (Enem PPL)
Reclame
se o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
... ou transforme o mundo.
ó�ca olho vivo
agradece a preferência.
CHACAL.
Disponível
em:
www.escritas.org.
Acesso
em:
14
ago.
2014.
 
Os gêneros podem ser híbridos, mesclando caracterís�cas de
diferentes composições textuais que circulam socialmente.
Nesse poema, o autor preservou, do gênero publicitário, a
seguinte caracterís�ca:
a) Extensão do texto.
b) Emprego da injunção.
c) Apresentação do �tulo.
d) Disposição das palavras.
e) Pontuação dos períodos.
GR0607 - (Enem PPL)
Construindo uma irmandade da língua
A ideia de que a língua portuguesa é pertença de todos
os seus falantes é hoje quase pacífica. Só meia dúzia de
ultranacionalistas portugueses insiste ainda no disparate de
se julgar proprietário exclusivo do idioma. Aliás, ao contrário
da Commonwealth e da francofonia, a irmandade da língua
portuguesa não tem um único centro ou voz dominante, e
essa é precisamente uma das suas maiores virtudes.
AGUALUSA, J. E. O Globo, 8 maio 2021 (adaptado).
 
Nesse texto, o termo “Aliás” ar�cula dois enunciados
envolvidos numa mesma relação argumenta�va,
construindo, para o segundo, uma ideia de
31@professorferretto @prof_ferretto
a) ques�onamento da origem da língua portuguesa.
b) semelhança de condições sociais dos falantes do
português.
c) acréscimo de fato comprobatório sobre a língua
portuguesa.
d) comparação entre o português brasileiro e o europeu.
e) relevância do português sobre o inglês e o francês.
GR0618 - (Ufrgs)
Pede-se a quem souber
do paradeiro de Luísa Porto
avise sua residência à Rua Santos Óleos, 48.
Previna urgente
solitária mãe enferma
entrevada há longos anos
erma de seus cuidados.
Pede-se a quem avistar Luísa Porto, 37 anos,
que apareça, que escreva, que mande dizer
onde está.
Suplica-se ao repórter-amador,
ao caixeiro, ao mata-mosquitos,
ao transeunte,
a qualquer do povo e da classe média,
até mesmo aos senhores ricos,
que tenham pena de mãe aflita
e lhe res�tuam a filha vola�lizada
ou pelo menos dêem informações.
É alta, magra, morena;
rosto penugento, dentes alvos,
sinal de nascença junto ao olho esquerdo,
levemente estrábica.
Ves�dinho simples. Óculos.
Sumida há três meses.
Mãe entrevada chamando.
Foi fazer compras na feira da praça.
Não voltou.
 
Nada de insinuações quanto à moça casta
que não �nha, não �nha namorado.
Algo de extraordinário terá acontecido,
terremoto, chegada de rei.
As ruas mudaram de rumo,
para que demore tanto, é noite.
Mas há de voltar, espontânea
ou trazida por mão benigna,
o olhar desviado e terno,
canção.
Mas se acharem
que a sorte dos povos é mais importante
e que não devemos atentar
nas dores individuais,
se fecharem ouvidos
a este apelo de campainha,
não faz mal, insultem a mãe de Luísa,
virem a página:
Deus terá compaixão
da abandonada e da ausente,
erguerá a enferma, e os membros perclusos
já se desatam em forma de busca.
Deus lhe dirá: Vai,
procura tua filha, beija-a
e fecha-a para sempre em teu coração.
Ou talvez não seja preciso esse favor divino.
A mãe de Luísa (somos pecadores)
sabe-se indigna de tamanha graça.
E resta a espera, que sempre é um dom.
Sim, os extraviados um dia regressam,
ou nunca, ou pode ser, ou ontem.
E de pensar realizamos.
(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de.
Desaparecimento de Luísa Porto. In: Novos Poemas, v. 1, de
Carlos Drummond de Andrade: Nova Reunião - 19 Livros de
Poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983. p. 230-234.)
 
Considere as seguintes afirmações sobre a equivalência entre
expressões pertencentes a classes grama�cais diferentes.
I. Embora tenha forma de adje�vo, urgente (l. 04) é usado
como advérbio e poderia ser subs�tuído por urgentemente,
sem mudança significa�va no sen�do da frase.
II. A subs�tuição do adje�vo espontânea (l. 34) pelo advérbio
espontaneamente mudaria o sen�do da frase.
III. Embora seja locução verbal, pode ser (l. 58) é usado em
paralelo aos advérbios nunca (l. 58) e ontem (l. 58) porque
expressa sen�do semelhante ao do advérbio talvez.
 
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
GR0627 - (Ufscar)
Soneto de fidelidade
(Vinicius de Moraes)
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
 
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
 
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angús�a de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
 
Eu possa me dizer do amor (que �ve):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
32@professorferretto @prof_ferretto
Disponível em: h�p://bdjur.stj.jus.br. Acesso em: 23 abr.
2010.
 
No segundo verso do poema, no qual o poeta mostra como
tratará o seu amor, as expressões “com tal zelo”, “sempre” e
“tanto” dão, respec�vamente, ideia de
a) Modo – intensidade – modo.
b) Modo – tempo – intensidade.
c) Tempo –- tempo – modo.
d) Finalidade – tempo – modo.
e) Finalidade – modo – intensidade.
GR0632 - (Uece)
Da solidão
Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta
que em redor delas se arme o silêncio, que não se manifeste
aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas
se apodere imensa angús�a: como se o peso do céu
desabasse sobre sua cabeça, como se dos horizontes se
levantasse o anúncio do fim do mundo.
No entanto, haverá na terra verdadeira solidão? Não
estamos todos cercados por inúmeros objetos, por infinitas
formas da Natureza e o nosso mundo par�cular não está
cheio de lembranças, de sonhos, de raciocínios, de ideias,
que impedem uma total solidão?
Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com
vida e voz que não são humanas, mas que podemos
aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem
secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como
aquele Sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros,
podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse aparente
vazio de solidão: e pouco a pouco nos sen�remos
enriquecidos.
Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à
procura de ângulos, jogos deuma comparação que se dá entre dois
elementos do texto. 
d) indica uma oposição que se verifica entre o trecho
anterior e o seguinte. 
e) delimita o resultado de uma ação que foi apresentada no
trecho anterior.
GR0289 - (Unesp)
A crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada
originalmente em 1902.
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem
o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos
impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não
adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do
outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este
era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas
guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade.
Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para
quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As
almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a
salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato
bairro — como um fantasma de grande e louvável modés�a.
E tão esba�do (^1) passava o seu vulto na treva, tão
su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas — que
as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea.
[...] O fantasma não falava — naturalmente por saber de
longa data que pela boca é que morrem os peixes e os
fantasmas... Também, ninguém lhe falava — não por
experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem
ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter
mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da
Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no
Diabo — e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta,
quando encontra na rua, a desoras (^2), uma avantesma
(^3)...
2@professorferretto @prof_ferretto
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi — quando começaram de aparecer
ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas,
mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se
tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da
igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S.
Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia,
ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao
despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada
disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as
arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias...
E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o
lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a
sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os
pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas (^4) que a polícia,
competentemente munida de ben�nhos (^5) e de
revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o
reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência,
disse que o delegado achou dentro da casa sinistra — um
velho pardieiro (^6) que fica no topo de uma ladeira íngreme
— alguns objetos singulares que pareciam instrumentos
“pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos
esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas
que os si�ante (^7) empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique
român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o
repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos,
que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai
dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
(^1) esba�do: de tom pálido.
(^2) a desoras: muito tarde.
(^3) avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
(^4) folha: periódico diário, jornal.
(^5) ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
(^6) pardieiro: prédio velho ou arruinado.
(^7) si�ante: policial.
 
Cons�tui exemplo de interação do cronista com o leitor o
trecho
a) “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de
toda a sua classe, andava acumulando novos pecados
sobre os pecados an�gos” (3º parágrafo).
b) “As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa
e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando”
(1º parágrafo).
c) “Não vades agora crer que se tenham sumido, por
exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi” (3º
parágrafo).
d) “as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea”
(2º parágrafo).
e) “O fantasma não falava — naturalmente por saber de
longa data que pela boca é que morrem os peixes e os
fantasmas” (2º parágrafo).
GR0089 - (Enem)
E se a água potável acabar? O que aconteceria se a água
potável do mundo acabasse? As teorias mais pessimistas
dizem que a água potável deve acabar logo, em 2050. Nesse
ano, ninguém mais tomará banho todo dia. Chuveiro com
água só duas vezes por semana. Se alguém exceder 55 litros
de consumo (metade do que a ONU recomenda), seu
abastecimento será interrompido. Nos mercados, não
haveria carne, pois, se não há água para você, imagine para o
gado. Gastam-se 43 mil litros de água para produzir 1 kg de
carne. Mas, não é só ela que faltará. A Região Centro-Oeste
do Brasil, maior produtor de grãos da América La�na em
2012, não conseguiria manter a produção. Afinal, no país, a
agricultura e a agropecuária são, hoje, as maiores
consumidoras de água, com mais de 70% do uso. Faltariam
arroz, feijão, soja, milho e outros grãos. 
Disponível em: h�p://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul.
2012 
 
A língua portuguesa dispõe de vários recursos para indicar a
a�tude do falante em relação ao conteúdo de seu
enunciado. No início do texto, o verbo “dever” 
a) contribui para expressar uma constatação sobre como as
pessoas administram os recursos hídricos.
b) a habilidade das comunidades em lidar com problemas
ambientais contemporâneos.
c) a capacidade humana de subs�tuir recursos naturais
renováveis.
d) uma previsão trágica a respeito das fontes de água
potável.
e) uma situação ficcional com base na realidade ambiental
brasileira.
GR0093 - (Enem)
E-mail no ambiente de trabalho
 T C., consultor e palestrante de assuntos ligados ao
mercado de trabalho, alerta que a obje�vidade, a
organização da mensagem, sua coerência e ortografia são
3@professorferretto @prof_ferretto
pontos de atenção fundamentais para uma comunicação
virtual eficaz.
 E, para evitar que erros e falta de atenção resultem
em saias justas e situações constrangedoras, confira cinco
dicas para usar o e-mail com bom senso e organização:
1. Responda às mensagens imediatamente após recebê-las.
2. Programe sua assinatura automá�ca em todas as
respostas e encaminhamentos.
3. Ao final do dia, exclua as mensagens sem importância e
arquive as demais em pastas previamente definidas.
4. U�lize o recurso de “confirmação de leitura” somente
quando necessário.
5. Evite mensagens do �po “corrente”.
Disponível em: h�p://no�cias.uol.com.br. Acesso em: 30 jul.
2012 (fragmento)
 
O texto apresenta algumas sugestões para o leitor. Esse
caráter instrucional é atribuído, principalmente, pelo
emprego
a) do modo verbal impera�vo, como em “responda” e
“programe”.
b) das marcas de qualificação do especialista, como
“consultor” e “palestrante”.
c) de termos específicos do discurso no mundo virtual.
d) de argumentos favoráveis à comunicação eficaz.
e) da palavra “dica” no desenvolvimento do texto.
GR0094 - (Enem)
Descubra e aproveite um momento todo seu. Quando você
quebra o delicado chocolate, o irresis�vel recheio cremoso
começa a derreter na sua boca, acariciando todos os seus
sen�dos. Criado por nossa empresa. Paixão e amor por
chocolate desde 1845. 
Veja, n. 2 320, 8 maio 2013 (adaptado).
 
O texto publicitário tem a intenção de persuadir o público-
alvo a consumir determinado produto ouluz, eloquência de formas, para
revelarem aquilo que lhes parece não só o mais está�co dos
seus aspectos, mas também o mais comunicável, o mais rico
de sugestões, o mais capaz de transmi�r aquilo que excede
os limites �sicos desses objetos, cons�tuindo, de certo
modo, seu espírito e sua alma.
Façamo-nos também¹ desse modo videntes: olhemos
devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a
transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem
maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que
arrebata logo o olhar, o equilíbrio de linhas, a graça das
proporções: muitas vezes seu aspecto — como o das
criaturas humanas — é inábil e desajeitado. Mas não é isso
que procuramos, apenas: é o seu sen�do ín�mo que
tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a carga
de experiências que representam, e a repercussão, nelas
sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis séculos.
Amemos o que sen�mos de nós mesmos, nessas variadas
coisas, já que, por egoístas que somos, não sabemos amar
senão aquilo em que nos encontramos. Amemos o an�go
encantamento dos nossos olhos infan�s, quando começavam
a descobrir o mundo: as nervuras das madeiras, com seus
caminhos de bosques e ondas e horizontes; o desenho dos
azulejos; o esmalte das louças; os tranquilos, metódicos
telhados... Amemos o rumor da água que corre, os sons das
máquinas, a inquieta voz dos animais, que desejaríamos
traduzir.
Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de
amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa
infinidade de formas naturais ou ar�ficiais que encerram seu
segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A
rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o
nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos de
quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado,
presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos.
Mundo delicado, que não se impõe com violência: que aceita
a nossa frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o
descubramos, sem anunciar nem pretender prevalecer; que
pode ficar para sempre ignorado, sem que por isso deixe de
exis�r; que não faz da sua presença um anúncio exigente
“Estou aqui! estou aqui!”. Mas, concentrado em sua
essência, só se revela quando os nossos sen�dos estão aptos
para descobrirem. E que em silêncio nos oferece sua múl�pla
companhia, generosa e invisível.
Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai atenção,
em redor de vós, a essa pres�giosa presença, a essa copiosa
linguagem que de tudo transborda, e que conversará
convosco interminavelmente.
MEIRELES, Cecília. Da solidão. In: MEIRELES, Cecília. Janela
Mágica. São Paulo: Global, 2016, p. 71-74.
 
A expressão destacada no trecho “Façamo-nos também
desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das
paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das
vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões.”
(ref. 1) pode ser subs�tuída sem mudança de sen�do por
a) entretanto.
b) mas.
c) porque.
d) ainda.
GR0655 - (Uece)
Transferência de Neymar ao PSG é golpe de ‘so� power’ do
Catar a países do Golfo, dizem especialistas
A transferência do fenômeno(01) brasileiro Neymar ao
Paris Saint-Germain (PSG) representa uma estratégia de
marke�ng e um golpe de ‘so� power’ do Catar contra os
países do Golfo que cortaram relações diplomá�cas com o
emirado. Esta é a análise de especialistas ouvidos pela
agência de no�cias France Presse e do comentarista da
GloboNews (07), Marcelo Lins.
Neymar se tornou o jogador mais caro da história do
futebol, com o pagamento da cláusula de rescisão no valor
de € 222 milhões (R$ 812 milhões).
Segundo Mathieu Guidere, especialista em geopolí�ca do
mundo árabe consultado pela AFP(04)(08), o anúncio da
transferência do jogador ao PSG, que é de um fundo de
inves�mentos do Catar(06), “foi testado entre catarianos
33@professorferretto @prof_ferretto
como uma espécie de estratégia de comunicação que
ofuscaria o debate em torno de outras considerações, como
o terrorismo”.
Marcelo Lins, comentarista da GloboNews, afirmou(02)
que a transferência beneficia a imagem do Catar. “Um
pequeno país riquíssimo em petróleo, do Golfo, que bota
tanto dinheiro para dar alegria a uma torcida, ou a milhões
de torcedores espalhados pelo mundo... você tem uma volta
disso na imagem do Catar, que é muito grande”, disse(03) à
GloboNews. “É uma grande jogada de marke�ng do Catar
como um todo”, acrescentou.
O Catar enfrenta a sua pior crise polí�ca em décadas, com
a Arábia Saudita e outros países do Golfo tendo cortado
relações diplomá�cas com o emirado por acusações de apoio
a grupos terroristas. O Catar nega as acusações e diz que o
obje�vo é prejudicar o emirado rico em gás.
Com a transferência de Neymar, Doha pode estar de olho
em inves�r em ‘so� power’(11).O conceito de ‘so� power’
(‘poder suave’(10),em tradução livre) foi elaborado para
definir a influência de países nas relações internacionais por
meio de inves�mentos em ações posi�vas. 
“Esse é um golpe de ‘so� power’. O Catar precisa
demonstrar ao mundo que, apesar de todas as acusações, é
o país mais resiliente no Oriente Médio”(12), disse(03) à AFP
Andreas Krieg, analista de risco polí�co no King’s College de
Londres(05)(09).“Ter o melhor jogador do mundo mostra ao
resto do mundo que se o Catar é determinado, eles ainda
têm os maiores recursos para �rar e, se necessário, usar o
dinheiro que têm para promover a sua agenda”, acrescentou.
O custo da transferência de Neymar “envia um sinal
muito forte para o mundo espor�vo e um sinal muito forte
de desafio contra os Emirados Árabes Unidos e a Arábia
Saudita”, disse Krieg. “Eles queriam esse jogador e usaram o
dinheiro para comprá-lo a qualquer preço”. [...]
Disponível em:
.
 
No enunciado “O Catar precisa demonstrar ao mundo que,
apesar de todas as acusações, é o país mais resiliente no
Oriente Médio” (12), a expressão parenté�ca “apesar de
todas as acusações” estabelece com a oração com a qual
está ligada uma relação de:
a) condição, pois, se o Catar não demonstrar ao mundo que
é o país mais resiliente do Oriente Médio, ele con�nuará
ainda sofrendo muitas acusações.
b) finalidade, porque o propósito do Catar, diante de todas
as acusações, é o de precisar demonstrar ao mundo que é
o país mais resiliente do Oriente Médio.
c) consequência, visto que o mo�vo de o Catar precisar
demonstrar ao mundo que é o país mais resiliente do
Oriente Médio deve-se às acusações sofridas.
d) concessão, já que, independentemente das acusações, o
Catar precisa demonstrar ao mundo que é o país mais
resiliente do mundo.
GR0660 - (Epcar)
Observe as formas verbais empregadas nos enunciados
abaixo e assinale V para as proposições verdadeiras e F para
as falsas. A seguir, marque a sequência correta.
 
I) “Se não quiser adoecer, fale de seus sen�mentos.”
II) “Pessoas nega�vas não enxergam soluções e aumentam
os problemas.”
III) “A rejeição de si próprio, a ausência de autoes�ma, faz
com que sejamos algozes de nós mesmos.”
IV) “Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as crí�cas, é
sabedoria, bom senso e terapia.”
V) “Não viva sempre triste!”
 
(__) O presente do indica�vo aparece nos enunciados II, III e
IV com o obje�vo de exprimir um fato verdadeiro e que não
pertence a uma época determinada.
(__) No enunciado I, o verbo “falar” encontra-se no presente
do subjun�vo e expressa um fato incerto, mas que apresenta
a expecta�va do locutor de que venha a se realizar.
(__) Com o obje�vo de manter o paralelismo verbal, se
colocássemos a primeira forma verbal do período III no
pretérito perfeito do indica�vo, teríamos que usar a forma
verbal “fôssemos” na segunda oração.
(__) O par�cípio do verbo “aceitar”, no enunciado IV, foi
u�lizado na formação da voz passiva.
(__) O verbo “viver”, na frase V, encontra-se flexionada na 2ª
pessoa do singular do impera�vo nega�vo.
a) F, V, F, F, V.
b) V, F, V, V, F.
c) V, F, V, F, F.
d) F, F, F, V, V.
GR0690 - (Unifenas)
CIDADANIAE DEMOCRACIA NA ANTIGUIDADE
Por Leandro Augusto Mar�ns Junior
Mestre em História Polí�ca pela UERJ
POLÍTICA NA ANTIGUIDADE
A An�guidade surge como um período histórico de
fundamental importância, destacadamente por suas criações
e legados, muitos dos quais essenciais ao conhecimento
produzido pelas sociedades humanas.
Espaço de elaboração dos primeiros sistemas de escrita,
do teatro, dos jogos olímpicos e de boa parte das áreas do
conhecimento, a An�guidade assis�u igualmente ao
surgimento das primeiras cidades e, com elas, do
aparecimento do Estado enquanto ins�tuição capaz de
regulamentar o convívio entre os homens. A par�r de então,
o crescente nível de complexidade das civilizações
comportou também o fortalecimento das relações polí�cas.
(...)
Neste mundo grego, as duas cidades-Estados de maior
destaque, Atenas e Esparta, possuíam sistemas de governo
frontalmente diferentes. Enquanto esta úl�ma era
administrada por uma oligarquia militarizada, a cidade de
34@professorferretto @prof_ferretto
Atenas esteve alicerçada em bases mais democrá�cas,
cabendo a todos os seus cidadãos o direito de debater os
des�nos da cole�vidade. O próprio sistema educacional
ateniense, compromissado com uma formação baseada na
reflexão e debate acerca da realidade, salienta este traço da
polí�ca de Atenas.
CONSOLIDAÇÃO DEMOCRÁTICA
Na verdade, debates acerca do desenvolvimento de
organizações polí�cas solidamente democrá�cas, onde
governantes e governados �vessem uma relação baseada em
pactos mais igualitários, só puderam ser assis�dos mais
vastamente com o advento da modernidade. Notadamente a
par�r do século XVIII – o Século do Iluminismo – boa parte
do mundo ocidental passa a refle�r sobre a necessidade de
se estabelecer critérios de cidadania mais amplos,
fundamentados na igualdade jurídica entre os indivíduos.
Além disso, baseados nas ideias de pensadores como
Voltaire e Rousseau, diversos grupos sociais salientam a
necessidade de separação entre assuntos polí�cos e
religiosos, advogando a cons�tuição de governos laicos.
Ao longo dos séculos seguintes diversos povos passaram
a adotar, com maior ou menor impacto, noções mais amplas
de cidadania, muito embora ainda hoje possamos notar a
existência de ditaduras teocrá�cas, caudilhismos e �ranias de
outras naturezas. A própria cons�tuição da cidadania
brasileira, por exemplo, tem sido elaborada através de um
processo de avanços e recuos: se por um lado o século XX
nos ofertou o direito de voto às mulheres e analfabetos, por
outro a existência de prá�cas coronelistas como a “compra
de votos” emperra o desenvolvimento de nossa cidadania
em sua plenitude.
Disponível em:
 Acesso em: 22/08/22.
 
O trecho “Enquanto esta úl�ma era administrada por uma
oligarquia militarizada (...)” está na voz passiva analí�ca.
Respeitando as regras da norma-padrão, se ela fosse
passada, respec�vamente, para a voz passiva sinté�ca e para
a voz a�va teríamos:
a) Enquanto se administrava esta úl�ma e Enquanto uma
oligarquia militarizada administrava esta úl�ma.
b) Enquanto se administrou esta úl�ma e Enquanto uma
oligarquia militarizada administrou esta úl�ma.
c) Enquanto se administrava esta úl�ma e Enquanto esta
úl�ma administrava uma oligarquia militarizada.
d) Enquanto se administra esta úl�ma e Enquanto uma
oligarquia militarizada administra esta úl�ma.
e) Enquanto uma oligarquia militarizada administrava esta
úl�ma e Enquanto se administrava esta úl�ma.
GR0696 - (Eam)
Um caminho tortuoso
1 Do jeito que a ciência é ensinada nas escolas, não é à
toa que a maioria das pessoas acha que o conhecimento
cien�fico cresce linearmente, sempre se acumulando. No
entanto, uma rápida olhada na história da ciência permite
ver que não é bem assim: o caminho que leva ao
conhecimento é tortuoso e, às vezes, vai até para trás,
quando uma ideia errada persiste por mais tempo do que
deveria.
2 Isso pode ocorrer por razões como censura polí�ca [...]
ou por ideologias na classe cien�fica, promulgadas por
membros influentes.
3 Apresentar a ciência nas escolas e universidades ou nos
meios informais de comunicação como um triunfalismo
infalível da civilização esconde um de seus lados mais
interessantes: o drama da descoberta, as incertezas da
cria�vidade.
4 Cien�stas tendem a reagir nega�vamente às ideias que
ameaçam o que eles pensam ser a verdade. Por um lado,
esse ce�cismo é essencial, dado que a maioria das ideias
novas está errada. Por outro, ele pode revelar um
conservadorismo que atravanca o avanço do conhecimento.
Um bom exemplo disso é o experimento de Albert Michelson
e Edward Morley, realizado em 1887 para detectar o
movimento da Terra através do éter, o meio material cuja
função era servir de suporte para a propagação das ondas de
luz.
5 Tal qual as ondas de som se propagam no ar, supunha-
se que as ondas luminosas também necessitassem de um
meio para se propagar, o éter. O experimento mediria as
diferenças na velocidade da luz quando um raio luminoso ia
contra o éter ou a favor, como quando andamos de bicicleta
e sen�mos um "vento" contra nosso corpo. (Uma bola
jogada contra ou a favor do "vento" terá velocidades
diferentes.)
6 Para total e completa surpresa da comunidade
cien�fica, o experimento não detectou diferenças na
velocidade da luz em qualquer direção.
7 Em meio à perplexidade generalizada, várias tenta�vas
de explicar o achado foram propostas, inclusive uma por
George Fitzgerald e Hendrik Lorentz que sugeria que as
hastes do aparato podiam encolher na direção do
movimento. Esse encolhimento de fato existe, mas não como
proposto pelos dois.
8 Apenas em 1905 Einstein explicou o que estava
acontecendo, com sua teoria da rela�vidade especial: o éter
não existe – a velocidade da luz é sempre a mesma, uma
constante da natureza.
9 Observações recentes andam ques�onando a existência
de um outro meio material ainda não detectado, a matéria
escura. Essa matéria, supostamente feita de par�culas
diferentes das que compõem o que conhecemos no Universo
(ou seja, coisas feitas de elétrons, prótons e nêutrons), deve
ser seis vezes mais abundante que a matéria comum e se
aglomerar em torno de galáxias, inclusive a nossa.
10 As observações não detectaram a quan�dade
esperada de matéria escura. E agora? A coisa é complicada
porque existem outros métodos de detecção da matéria
escura que parecem bastante claros. Qualquer que seja a
resolução do impasse atual, estou certo de que algo de novo
e surpreendente está para acontecer. Será interessante ver a
reação da comunidade ao se deparar com o inesperado.
35@professorferretto @prof_ferretto
GLEISER, Marcelo. Um caminho tortuoso. Folha de São Paulo,
29 de abril de 2012. Com adaptações.
 
Assinale a opção correta em que o trecho em destaque
corresponde à voz do verbo:
a) “Observações recentes andam ques�onando a existência
[...]" (9º parágrafo) – voz reflexiva.
b) “Cien�stas tendem a reagir nega�vamente às ideias [...]”
(4º parágrafo) – voz passiva sinté�ca.
c) “Do jeito que a ciência é ensinada nas escolas [...]” (1º
parágrafo) – voz passiva analí�ca.
d) “[...] várias tenta�vas de explicar o achado foram
propostas [...]” (7º parágrafo) – voz passiva sinté�ca.
e) “Tal qual as ondas de som se propagam no ar [...]” (5º
parágrafo) – voz a�va analí�ca.
GR0698 - (Famerp)
 
Considere os textos dos quatro jornais. Ocorre voz passiva
a) nos três primeiros, apenas.
b) em todos eles.
c) no segundo e no quarto, apenas.
d) apenas no quarto.
e) apenas no segundo.
GR0720 - (Famema)
“O criminoso pode alegar que foi o segundo eu o autor
do crime.”
(Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas, 1990.)
 
Transpondo-se para a voz passiva a oração centrada na
locução verbal sublinhada, surge a forma verbal:
a) pôde ser alegado.
b) pode alegar.
c) é alegado.
d) pode ser alegado.
e) foi alegado.
GR0721 - (Famema)
Homo insapiens1
Vocês se lembram de quando a gente se perdia no campo
e soltava a rédea ao cavalo e ele voltavadirei�nho para casa?
Pois até hoje, quando não me lembro de onde guardei uma
coisa, desisto de quebrar a cabeça, afrouxo o espírito e eis
que ele conduz meu passo e minha mão sonâmbula ao lugar
exato. Quanto a saber qual dos dois, espírito e corpo, é o
cavaleiro e o cavalo, é questão acadêmica. Só sei que isso
não me acontece agora na vas�dão do campo, mas dentro
de uma casa, de uma sala, de um móvel...
(A vaca e o hipogrifo, 2012.)
 
1Homo sapiens: na classificação biológica dos seres, é o
nome cien�fico do ser humano. Do la�m, significa “homem
sábio”, racional. “Homo insapiens”, �tulo do texto, é uma
variação do termo.
 
“soltava a rédea ao cavalo e ele voltava direi�nho para casa”
 
O termo sublinhado tem sen�do e função sintá�ca
semelhantes ao termo sublinhado em:
a) Bianca sempre faz direito sua lição de casa.
b) André acordou hoje com o pé direito.
c) Carlos nunca foi um homem direito.
d) Denise considera que é seu direito rebelar-se contra um
opressor.
e) Ernesto ves�u a camisa pelo avesso porque o direito
estava sujo.
GR0595 - (Enem PPL)
A palavra e a imagem têm o poder de criar e destruir, de
prometer e negar. A publicidade se vale deste recurso
linguís�co-imagé�co como seu principal instrumento. Vende
a ficção como o real, o normal como algo fantás�co;
transforma um carro em um símbolo de pres�gio social, uma
cerveja em uma loira bonita, e um cidadão comum num
astro ou estrela, bastando tão somente u�lizar o produto ou
serviço divulgado. Assim1, fazer o banal tornar-se o ideal é
tarefa ordinária da linguagem publicitária.
ALMEIDA, W. M. A linguagem publicitária e o estrangeirismo.
Língua Portuguesa, n. 35, jan. 2012.
 
Alguns elementos linguís�cos estabelecem relações entre as
diferentes partes do texto. Nesse texto, o vocábulo “Assim”
(ref. 1) tem a função de
a) contrariar os argumentos anteriores.
b) sinte�zar as informações anteriores.
c) acrescentar um novo argumento.
d) introduzir uma explicação.
e) apresentar uma analogia.
36@professorferretto @prof_ferretto
GR0726 - (Espcex)
 
Assiste à demolição
— Morou mais de vinte anos nesta casa? Então vai sen�r
“uma coisa” quando ela for demolida.
Começou a demolição. Passando pela rua, ele viu a casa
já sem telhado, e operários, na poeira, removendo caibros.
Aquele telhado que lhe dera tanto trabalho por causa das
goteiras, tapadas aqui, reaparecendo ali. Seu quarto de
dormir estava exposto ao céu, no calor da manhã. Ao fundo,
no terraço, �nham desaparecido as colunas da pérgula, e a
cobertura de ramos de buganvília – dois troncos subindo do
pá�o lá embaixo e enchendo de florinhas vermelhas o chão
de ladrilho, onde gatos da vizinhança amavam fazer sesta e
surpreender �co-�cos.
Passou nos dias seguintes e viu o progressivo desfazer-se
das paredes, que escancarava a casa de frente e de flancos
jogando-a por assim dizer na rua. Os marcos das portas
apareciam emoldurando o vazio. O azul e as nuvens
circulavam pelos cômodos, em composição surrealista. E o
pequeno balcão da fachada, cercado de ar, parecia um
mirante espacial, baixado ao nível dos míopes.
A demolição prosseguiu à noite, espontaneamente. Um
lanço de parede desabou sozinho, para fora do tapume,
quando já cessara na rua o movimento dos lotações. Caiu
discreto, sem ferir ninguém, apenas avariando – desculpem –
a rede telefônica.
A casa encolhera-se, em processo involu�vo. Já agora de
um só pavimento, sem teto, aspirava mesmo à
desintegração. Chegou a vez da pequena sala de estar, da
sala de jantar com seu lambri envernizado a preto, que ele
passara meses raspando a poder de gilete, para recuperar a
cor da madeira. E a vez do escritório, parte pensante e
sen�nte de seu mecanismo individual, do eu mais ín�mo e
simultaneamente mais público, eu de gavetas sigilosas,
manuseadas por um profissional da escrita. De todo o tempo
que vivera na casa, fora ali que passara o maior número de
horas, sentado, meio corcunda, desligado de
acontecimentos, ouvindo, sem escutar, rumores que
chegavam de outro mundo – cantoria de bêbados, motor de
avião, chorinho de bebê, galo na madrugada.
E não sen�u dor vendo esfarinharem-se esses
compar�mentos de sua história pessoal. Nem sequer a
melancolia do desvanecimento das coisas �sicas. Elas �nham
durado, cumprido a tarefa. Chega o instante em que
compreendemos a demolição como um resgate de formas
cansadas, sentença de liberdade. Talvez sejamos levados a
essa compreensão pelo trabalho similar, mais surdo, que se
vai desenvolvendo em nós. E não é preciso imaginar a alegria
de formas novas, mais claras, a surgirem constantemente de
formas caducas, para aceitar de coração sereno o fim das
coisas que se ligaram à nossa vida.
Fitou tranquilo o que �nha sido sua casa e era um
amontoado de caliça e �jolo, a ser removido. Em breve
restaria o lote, à espera de outra casa maior, sem sinal dele e
dos seus, mas des�nada a concentrar outras vivências. Uma
ordem, um estatuto pairava sobre os destroços, e tudo era
como devia ser, sem ilusão de permanência.
Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço.
12. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979.
 
Vocabulário
caibro s.m. elemento estrutural de um telhado, geralmente
peças de madeira que se dispõem da cumeeira ao frechal, a
intervalos regulares e paralelas umas às outras, em que se
cruzam e assentam as ripas, frequentemente mais finas e
compridas, e sobre as quais se apoiam e se encaixam as
telhas
pérgula s. f. espécie de galeria coberta de barrotes
espacejados assentados em pilares, geralmente guarnecida
de trepadeiras
buganvília s.f. designação comum às plantas do gênero
bougainvillea, trepadeira, muito cul�vadas como
ornamentais
de flanco s. m. pela lateral
marco s. m. parte fixa que guarnece o vão de portas e
janelas, e onde as folhas destas se encaixam, prendendo-se
por meio de dobradiças
tapume s. m. cerca ou vala guarnecida de sebe que defende
uma área; anteparo, geralmente de madeira, com que se
veda a entrada numa área, numa construção
lambri s. m. reves�mento interno de parede, usado com fim
decora�vo ou para proteger contra frio, umidade ou barulho;
feito de madeira, mármore, estuque, numa só peça ou
composto por painéis, que vão até certa altura ou do chão ao
teto (mais usado no plural)
caliça s.f. conjunto de resíduos de uma obra de alvenaria
demolida ou em desmoronamento, formado por pó ou
fragmentos dos materiais diversos do reboco (cal, argamassa
ressequida) e de pedras, �jolos desfeitos
lote s. m. porção de terra autônoma que resulta de
loteamento ou desmembramento; terreno de pequenas
dimensões, urbano ou rural, que se des�na a construções ou
à pequena agricultura
Fonte: HOUAISS, A. e Villar, M. de S. Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa. Elaborado no Ins�tuto Antônio Houaiss
de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa. Rio
de Janeiro. Obje�va, 2009.
 
Marque a alterna�va em que a forma verbal subs�tui
corretamente a locução verbal sublinhada na seguinte
oração: “Ao fundo, no terreno, �nham desaparecido as
colunas da pérgula...”.
a) havia desaparecido.
b) havia desaparecidas.
c) haviam desaparecidas.
d) haviam desaparecido.
e) haviam desaparecidos.
GR0729 - (Pmesp)
Leia a crônica “Bandidos”, de Luis Fernando Verissimo.
37@professorferretto @prof_ferretto
Nos filmes e histórias em quadrinhos da nossa infância
recebíamos uma lição da qual só agora me dou conta. Não
era a que o Bem sempre vence o Mal, embora o herói
sempre vencesse o bandido. Quem dava a lição era o
bandido, e era esta: a morte precisa de uma certa
solenidade.
A vitória do herói sobre o bandido era banalizada pela
repe�ção. Para o mocinho, matar era uma coisa corriqueira,
uma decorrência da sua virtude. Já o bandido era torturado
pela ideia da morte, pela sua própria vilania, pelo terrível
poder que cada um tem de acabar com a vida de outro. O
bandido era incapaz de simplesmente matar alguém, ou
matar alguém simplesmente. Para ele o ato de matar
precisava ser lento, trabalhado, ornamentado, erguido acima
da sua inaceitável vulgaridade — enfim, tão valorizado que
dava ao heróitempo de escapar e ainda salvar a mocinha.
Pois a verdade é que nenhum herói teria sobrevivido à sua
primeira aventura se não fosse esta compulsão do vilão de
fazer da morte uma arte demorada, um processo com
preâmbulo e apoteose, e significado. Nunca entendi por que
o bandido não dava logo um �ro na testa do herói quando o
�nha em seu poder, em vez de deixá-lo suspenso sobre o
poço dos jacarés por uma corda besuntada que os ratos
roeriam pouco a pouco, enquanto o gramofone^1 tocava
Wagner^2. Hoje sei que o vilão queria dar tempo, ao
mocinho e à plateia, de refle�r sobre a finitude e a
perversidade humanas.
Os vilões do meu tempo de ma�nês eram
invariavelmente “gênios do Mal”, paródias de intelectuais e
cien�stas cujas maquinações eram frustradas pelo prá�co
mocinho. A imaginação perdia para a ação porque a
imaginação, como a hesitação, é a ação retardada, a ação
precedida do pensamento, do pavor ou, no caso do bandido,
da volúpia do significado. O Mal era inteligência demais, era
a obsessão com a morte, enquanto o Bem — o que ficava
com a mocinha — era o que não pensava na morte. Quando
recapturava o mocinho, mesmo sabendo que ele escapara da
morte tão cuidadosamente orquestrada com os ratos e os
jacarés, o bandido ainda não lhe dava o rápido e defini�vo
�ro na testa, para ele aprender. Deixava-o amarrado sobre
uma tábua que lentamente, solenemente, se aproximava de
uma serra circular, da qual o herói obviamente escaparia de
novo. E, se pegasse o mocinho pela terceira vez, nem assim o
bandido abandonaria sua missão didá�ca. Sucumbiria à sua
outra compulsão fatal, a de falar demais. Mesmo o �ro na
testa precisava de uma frase antes, uma explicação, um jogo
de palavras. Geralmente era o que dava tempo para a
chegada da polícia e a prisão do vilão, derrotado pela
literatura.
Pobres vilões. E nós, inconscientemente, torcíamos pelos
burros
Luis Fernando Verissimo. O suicida e o computador, 1992.
 
1 gramofone: an�go toca-discos.
2 Wagner: Richard Wagner, compositor alemão do século
XIX.
“paródias de intelectuais e cien�stas cujas maquinações
eram frustradas pelo prá�co mocinho.” (3º parágrafo)
 
Ao se transpor esse trecho para a voz a�va, a forma verbal
resultante será:
a) frustraria.
b) frustrariam.
c) frustrara.
d) frustravam.
e) frustrava.
GR0730 - (Pmesp)
De acordo com o Dicionário eletrônico Houaiss da língua
portuguesa, os dêi�cos são expressões linguís�cas que se
referem “à situação em que o enunciado é produzido, ao
momento da enunciação e aos atores do discurso”. Por
exemplo, “eu” designa a pessoa que fala “eu”. Expressões
como “aqui”, “agora” ou “amanhã” devem ser interpretadas
em função de onde e em que momento se encontra a pessoa
que fala, quando diz “aqui”, “agora” ou “amanhã”.
 
Verifica-se a ocorrência de dêi�co que se refere ao momento
da enunciação no seguinte trecho:
a) “Nos filmes e histórias em quadrinhos da nossa infância
recebíamos uma lição” (1º parágrafo).
b) “Nunca entendi por que o bandido não dava logo um �ro
na testa do herói quando o �nha em seu poder” (2º
parágrafo).
c) “Hoje sei que o vilão queria dar tempo, ao mocinho e à
plateia, de refle�r sobre a finitude e a perversidade
humanas” (2º parágrafo).
d) “Geralmente era o que dava tempo para a chegada da
polícia e a prisão do vilão, derrotado pela literatura” (3º
parágrafo).
e) “E nós, inconscientemente, torcíamos pelos burros” (4º
parágrafo).
GR0734 - (Pmesp)
 
Leia a crônica “Bandidos”, de Luis Fernando Verissimo.
Nos filmes e histórias em quadrinhos da nossa infância
recebíamos uma lição da qual só agora me dou conta. Não
era a que o Bem sempre vence o Mal, embora o herói
sempre vencesse o bandido. Quem dava a lição era o
bandido, e era esta: a morte precisa de uma certa
solenidade.
A vitória do herói sobre o bandido era banalizada pela
repe�ção. Para o mocinho, matar era uma coisa corriqueira,
uma decorrência da sua virtude. Já o bandido era torturado
pela ideia da morte, pela sua própria vilania, pelo terrível
poder que cada um tem de acabar com a vida de outro. O
bandido era incapaz de simplesmente matar alguém, ou
matar alguém simplesmente. Para ele o ato de matar
precisava ser lento, trabalhado, ornamentado, erguido acima
da sua inaceitável vulgaridade — enfim, tão valorizado que
dava ao herói tempo de escapar e ainda salvar a mocinha.
Pois a verdade é que nenhum herói teria sobrevivido à sua
38@professorferretto @prof_ferretto
primeira aventura se não fosse esta compulsão do vilão de
fazer da morte uma arte demorada, um processo com
preâmbulo e apoteose, e significado. Nunca entendi por que
o bandido não dava logo um �ro na testa do herói quando o
�nha em seu poder, em vez de deixá-lo suspenso sobre o
poço dos jacarés por uma corda besuntada que os ratos
roeriam pouco a pouco, enquanto o gramofone^1 tocava
Wagner^2. Hoje sei que o vilão queria dar tempo, ao
mocinho e à plateia, de refle�r sobre a finitude e a
perversidade humanas.
Os vilões do meu tempo de ma�nês eram
invariavelmente “gênios do Mal”, paródias de intelectuais e
cien�stas cujas maquinações eram frustradas pelo prá�co
mocinho. A imaginação perdia para a ação porque a
imaginação, como a hesitação, é a ação retardada, a ação
precedida do pensamento, do pavor ou, no caso do bandido,
da volúpia do significado. O Mal era inteligência demais, era
a obsessão com a morte, enquanto o Bem — o que ficava
com a mocinha — era o que não pensava na morte. Quando
recapturava o mocinho, mesmo sabendo que ele escapara da
morte tão cuidadosamente orquestrada com os ratos e os
jacarés, o bandido ainda não lhe dava o rápido e defini�vo
�ro na testa, para ele aprender. Deixava-o amarrado sobre
uma tábua que lentamente, solenemente, se aproximava de
uma serra circular, da qual o herói obviamente escaparia de
novo. E, se pegasse o mocinho pela terceira vez, nem assim o
bandido abandonaria sua missão didá�ca. Sucumbiria à sua
outra compulsão fatal, a de falar demais. Mesmo o �ro na
testa precisava de uma frase antes, uma explicação, um jogo
de palavras. Geralmente era o que dava tempo para a
chegada da polícia e a prisão do vilão, derrotado pela
literatura.
Pobres vilões. E nós, inconscientemente, torcíamos pelos
burros.
Luis Fernando Verissimo. O suicida e o computador, 1992.
 
1 gramofone: an�go toca-discos.
2 Wagner: Richard Wagner, compositor alemão do século
XIX.
 
“Quando recapturava o mocinho, mesmo sabendo que ele
escapara da morte tão cuidadosamente orquestrada com os
ratos e os jacarés, o bandido ainda não lhe dava o rápido e
defini�vo �ro na testa, para ele aprender. Deixava-o
amarrado sobre uma tábua que lentamente, solenemente,
se aproximava de uma serra circular, da qual o herói
obviamente escaparia de novo.” (3º parágrafo)
 
Nesse trecho, o cronista relata uma série de fatos ocorridos
no passado. Um fato anterior a esse tempo passado está
indicado pela seguinte forma verbal:
a) “recapturava”.
b) “escapara”.
c) “dava”.
d) “aproximava”.
e) “escaparia”.
GR0739 - (Espcex)
Homem no mar
 Rubem Braga
De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar.
Não há ninguém na praia, que resplende ao sol. O vento é
nordeste, e vai tangendo, aqui e ali, no belo azul das águas,
pequenas espumas que marcham alguns segundos e
morrem, como bichos alegres e humildes; perto da terra a
onda é verde.
Mas percebo um movimento em um ponto do mar; é um
homem nadando. Ele nada a uma certa distância da praia,
em braçadas pausadas e fortes; nada a favor das águas e do
vento, e as pequenas espumas que nascem e somem
parecem ir mais depressa do que ele. Justo: espumas são
leves, não são feitas de nada, toda sua substância é água e
vento e luz, e o homem tem sua carne, seus ossos, seu
coração, todo seu corpo a transportar na água.
Ele usa os músculos com uma calma energia; avança.
Certamente não suspeita de que um desconhecido o vê e o
admira porque ele está nadando na praia deserta. Não sei de
onde vem essa admiração, mas encontro nesse homem uma
nobreza calma, sinto-me solidário com ele, acompanho o seu
esforço solitário como se ele es�vesse cumprindo umabela
missão. Já nadou em minha presença uns trezentos metros;
antes, não sei; duas vezes o perdi de vista, quando ele
passou atrás das árvores, mas esperei com toda confiança
que reaparecesse sua cabeça, e o movimento alternado de
seus braços. Mais uns cinquenta metros, e o perderei de
vista, pois um telhado o esconderá. Que ele nade bem esses
cinquenta ou sessenta metros; isto me parece importante; é
preciso que conserve a mesma ba�da de sua braçada, e que
eu o veja desaparecer assim como o vi aparecer, no mesmo
rumo, no mesmo ritmo, forte, lento, sereno. Será perfeito; a
imagem desse homem me faz bem.
É apenas a imagem de um homem, e eu não poderia
saber sua idade, nem sua cor, nem os traços de sua cara.
Estou solidário com ele, e espero que ele esteja comigo. Que
ele a�nja o telhado vermelho, e então eu poderei sair da
varanda tranquilo, pensando "vi um homem sozinho,
nadando no mar; quando o vi ele já estava nadando;
acompanhei-o com atenção durante todo o tempo, e
testemunho que ele nadou sempre com firmeza e correção;
esperei que ele a�ngisse um telhado vermelho, e ele o
a�ngiu".
Agora não sou mais responsável por ele; cumpri o meu
dever, e ele cumpriu o seu. Admiro-o. Não consigo saber em
que reside, para mim, a grandeza de sua tarefa; ele não
estava fazendo nenhum gesto a favor de alguém, nem
construindo algo de ú�l; mas certamente fazia uma coisa
bela, e a fazia de um modo puro e viril. Não desço para ir
esperá-lo na praia e lhe apertar a mão; mas dou meu
silencioso apoio, minha atenção e minha es�ma a esse
desconhecido, a esse nobre animal, a esse homem, a esse
correto irmão.
(ANDRADE, Carlos Drummond de; et al. Elenco de cronistas
modernos. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984. p.128-
129).
39@professorferretto @prof_ferretto
 
Em “... nada a favor das águas...", a palavra sublinhada,
considerando o contexto em que ela aparece, pertence, sob
o aspecto morfológico, à seguinte classe grama�cal:
a) Substan�vo.
b) Adje�vo.
c) Pronome indefinido.
d) Verbo.
e) Advérbio.
GR00754 - (Albert Einstein)
Leia a crônica “A decadência do Ocidente”, de Luis Fernando
Verissimo.
 
O doutor ganhou uma galinha viva e chegou em casa com
ela, para alegria de toda a família. O filho mais moço,
inclusive, nunca �nha visto uma galinha viva de perto. Já
�nha até um nome para ela – Margarete – e planos para
adotá-la, quando ouviu do pai que a galinha seria,
obviamente, comida.
— Comida?!
— Sim, senhor.
— Mas se come ela?
— Ué. Você está cansado de comer galinha.
— Mas a galinha que a gente come é igual a esta aqui?
— Claro..
Na verdade o guri gostava muito de peito, de coxa e de
asa, mas nunca �nha ligado as partes ao animal. Ainda mais
aquele animal vivo ali no meio do apartamento.
O doutor disse que queria a galinha ao molho pardo. Há
anos que não comia uma galinha ao molho pardo. A
empregada sabia como se preparava galinha ao molho
pardo?
A mulher foi consultar a empregada. Dali a pouco o
doutor ouviu um grito de horror vindo da cozinha. Depois
veio a mulher dizer que ele esquecesse a galinha ao molho
pardo.
— A empregada não sabe fazer?
— Não só não sabe fazer, como quase desmaiou quando
eu disse que precisava cortar o pescoço da galinha. Nunca
cortou um pescoço de galinha.
Era o cúmulo. Então a mulher que cortasse o pescoço da
galinha.
— Eu?! Não mesmo!
O doutor lembrou-se de uma velha empregada da sua
mãe. A Dona Noca. Não só cortava pescoços de galinhas,
como fazia isto com uma certa alegria assassina. A solução
era a Dona Noca.
— A Dona Noca já morreu — disse a mulher.
— O quê?!
— Há dez anos.
— Não é possível! A úl�ma galinha ao molho pardo que
eu comi foi feita por ela.
— Então faz mais de dez anos que você não come galinha
ao molho pardo.
Alguém no edi�cio se disporia a degolar a galinha.
Fizeram uma rápida enquete entre os vizinhos. Ninguém se
animava a cortar o pescoço da galinha. Nem o Rogerinho do
701, que fazia coisas inomináveis com gatos.
— Somos uma civilização de frouxos! — sentenciou o
doutor.
Foi para o poço do edi�cio e repe�u:
— Frouxos! Perdemos o contato com o barro da vida! E a
Margarete só olhando.
Luis Fernando Verissimo. A mãe do Freud, 1997.
 
Ao se transpor a oração “Fizeram uma rápida enquete entre
os vizinhos.” (20º parágrafo) para a voz passiva sinté�ca, a
forma verbal resultante será:
a) Fariam.
b) Fez-se.
c) Fizeram-se.
d) Tinham feito.
e) Far-se-ia.
GR0773 - (Col. Naval)
O amigo da onça
 (19)A Onça, que é bicho valente - mas nem sempre
a�lado, como se pensa – , estava quie�nha (48)no seu
canto(49), quando lhe apareceu o compadre Lobo(20) e lhe
foi dizendo:– Saiba de uma coisa, comadre Onça: você - com
perdão da palavra - não é, como supõe, (78)(58)o bicho mais
valente e destemido que existe no mundo(59)(79), nem
também o Leão, com toda a (50)sua prosa(51) de rei dos
animais.
(98)(09) – Como assim! – gritou a Onça, enfurecida(99). –
Então, como é isso, grande pedaço de idiota? (60)(29)Haverá
bicho mais valente e (38)poderoso do que eu?(10)(39)(61)
O Lobo, adoçando a voz, respondeu:
(82)(21) – Ó comadre, me perdoe(83). (68)Estou
arrependido de dizer tal coisa(69) ... (84)Mas a (52)minha
intenção (53)foi preveni-la contra um bicho terrível(85) que
apareceu nesta paragem(22). Uma pessoa prevenida vale
por duas.
(11) – Sim, não deixa você de ter alguma razão – (70)
(30)acudiu a Onça(31) mais acomodada.
(71). – Mas sempre quero saber o nome desse bicho.
Como se chama?(12) 
(23) – Esse bicho, comadre, chama-se homem, conforme
me disse o amigo papagaio. (100)(80)Nunca vi em minha
vida animal de mais perigosa valen�a(81)(101). Ele sim, e
ninguém mais, é o que me parece ser mesmo o verdadeiro
rei dos animais. Basta dizer que, de longe, (92)(32)o vi
matar(33), com dois espirros, nada menos do que um leão e
uma hiena(24)(93). Ih! Comadre, com o estrondo dos
espirros parecia que tudo ia pelos ares. (86)Deus nos livre!
(87)
(34) – Oh! Compadre, não me diga!(35)
– É como lhe conto. (40)E o que mais admira ê ser(41) o
bicho-homem de pequeno porte. (72)Parece até fraco(73), e
40@professorferretto @prof_ferretto
é (96)muito mal servido de unhas e dentes(97). (102)Deve
ser um bicho misterioso e encantado(103).
(13) – Pois bem, compadre, (74)estou curiosa(75), e
desejo que, sem demora, me conduza ao (88)lugar onde se
encontra tão estranho animal.(14)(89)
(25)– Ah, comadre, peça-me tudo, menos isso. Pelos
estragos que, de longe, vi o homem fazer com seus malditos
espirros, nunca me atreveria a tal aventura ...(26) – Pois
queira ou não queira, tem de mostrar-me o bicho, ou então,
agora mesmo perderá a vida.(16)
– Lã por isso não seja - disse o Lobo amedrontado.-
Iremos. (62)(01)Mas havemos de tomar todas as
precauções(02)(63). Eu -com a sua licença - posso correr
mais do que a comadre. Assim, levaremos uma embira
daquelas que não arrebentam nunca. (104)Amarro uma das
pontas no pescoço da comadre e (105) a outra em minha
cintura. Em caso de perigo, se for preciso fugir, a comadre e
eu corremos.
(17)- Fugir! (42)Veja lá o que diz(43)! Você já viu, (54)seu
podrela(55), alguma vez onça fugir?(18)
(90) – Não me expliquei bem(91). (44)Eu é que
fugirei(45). (94)A comadre será apenas arrastada por
mim(95). Isso não é fugir. Está certo?
– Está bem. Faremos como propõe.
(36)E par�ram(37). A Onça com a embira atada ao
pescoço, e o Lobo, muito respeitoso e �mido, a puxá-la.
(106)(27)(03)Quando chegaram ao des�no(04)(107), o
bicho-homem, surpreendido ao avistá-los, �rou da cinta a
garrucha, e, atarantado, bateu fogo(28), isto é, espirrou,
uma, duas vezes, que foi mesmo um estrondo de todos os
diabos.
O Lobo então mais que depressa disparou numa corrida
desabalada, redobrando quanto podia as forças para arrastar
a Onça pela forte embira que (64)�nha atado no (56)pescoço
dela(57)(65).
De repente, já muito distante, o Lobo sen�u que (76)a
Onça estava mais pesada(77). Parou então e contemplou a
companheira estendida no chão, com os dentes
arreganhados, sem o mais leve movimento.
O Lobo, (46)sem perceber que a (66)Onça havia(47)
morrido enforcada(67)no laço da embira - antes pensando
que es�vesse apenas cansada – , disse-lhe, (05)tremendo
como varas verdes(06)
– He lã, comadre! Não ri não (07)que o negócio ê sério!
(08)
(GOMES, Lindolfo. In: Os 100 melhores contos de humor da
literatura universal. Org. Flávio Moreira da Costa. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2001, p. 522-3.)
 
Assinale a opção que apresenta um verbo impessoal.
a) “... o bicho mais valente e destemido que existe no
mundo, ..." (58)(59).
b) “Haverá bicho mais valente e poderoso do que eu?" (60)
(61).
c) “Mas havemos de tomar todas as precauções." (62)(63).
d) “... �nha atado no pescoço dela." (64)(65).
e) “... a Onça havia morrido enforcada ..." (66)(67).
GR0784 - (Fei)
Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
 
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar an�go
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
 
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
 
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma mul�plica...
(Vinicius de Moraes)
 
O trecho destacado de “Sabendo se mover e comover”
(verso 10) é exemplo de:
a) voz passiva.
b) voz a�va.
c) oração sem sujeito.
d) oração passiva.
e) voz reflexiva.
GR0792 - (Mackenzie)
Breve história do �que
 A palavra parece nascida da linguagem dos desenhos
animados. Segundo alguns¹, sua clara origem onomatopaica
derivaria do alemão �cken, que significa “tocar
ligeiramente”, ou de um termo da medicina veterinária que,
já no século XVII, associava �cq e �cquet a um fenômeno no
qual os cavalos sofrem uma súbita³ suspensão da respiração,
seguida por um ruído: uma espécie de² soluço² que produz
no animal comportamentos estranhos⁴ e sofrimento. Daí a
extensão a várias manifestações que têm em comum a
rapidez, o caráter repe��vo e pouco controlável e a piora⁵
em situação de stress.
 Fonte: Rosella Castelnuovo.
 
Transpondo a frase uma espécie de soluço que produz no
animal comportamentos estranhos e sofrimento para a voz
passiva, a forma verbal destacada acima corresponde a
41@professorferretto @prof_ferretto
a) “são produzidos”.
b) “é produzido”.
c) “foram produzidos”.
d) “estão produzidos”.
e) “havia sido produzido”.
GR0818 - (Fuvest)
O império das festas e as festas do império
O Brasil do século XIX, excluindo-se a primeira e a úl�ma
década, conviveu intensamente com a realeza. De 1808 a
1889, os brasileiros acostumaram-se a ter um rei à frente da
cena polí�ca. Mas se D. João, D. Pedro I, D. Pedro II e a
princesa Isabel – esta, quando da ausência de seu pai –
ocuparam o espaço formal do mando execu�vo, no dia a dia
interagiram com outros reis e rainhas. Estamos falando de
uma série de personagens que lideravam as festas populares
e que, provenientes de reinos distantes – presentes na
memória dos escravos africanos ou nas lembranças dos
saudosos colonos portugueses −, povoaram o nosso
assoberbado calendário de festas. Oriundo de tradições
diversas e de cosmologias par�culares, esse puzzle* ritual fez
do Brasil o país das festas, o depositário de um arsenal de
símbolos, costumes e valores.
Contudo, mais do que isso, tal qual um caleidoscópio,
essas tradições não foram apenas se reproduzindo, como o
movimento ro�neiro de um motor. Ao contrário,
dinamicamente, acabaram por criar festas próprias e leituras
originais de um material que lhes era anterior. Nesses rituais,
teatralizava-se um grande jogo simbólico e, entre outros
figurantes, a realeza era personagem frequente, porém não
sempre principal.
* puzzle: confusão; quebra-cabeça.
(Lilia M. Schwarcz, Valéria M. de Macedo, in: As barbas do
imperador: D.Pedro II, um monarca nos trópicos.)
 
O verbo de “Nesses rituais, teatralizava-se um grande jogo
simbólico” (úl�mo período) está na voz passiva sinté�ca. Na
voz passiva analí�ca, adquire a seguinte forma:
a) era teatralizado.
b) foi teatralizado.
c) é teatralizada.
d) são teatralizados.
e) foram teatralizadas.
42@professorferretto @prof_ferrettoserviço. No
anúncio, essa intenção assume a forma de um convite,
estratégia argumenta�va linguis�camente marcada pelo uso
de
a) conjunção (quando).
b) adje�vo (irresis�vel).
c) verbo no impera�vo (descubra).
d) palavra do campo afe�vo (paixão).
e) expressão sensorial (acariciando).
GR0279 - (Unesp)
Leia a crônica “A obra-prima”, de Lima Barreto, publicada na
revista Careta em 25.09.1915.
Marco Aurélio de Jesus, dono de um grande talento
e senhor de um sólido saber, resolveu certa vez escrever uma
obra sobre filologia.
Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e
que daria ao espírito inculto dos brasileiros as noções exatas
da língua portuguesa. Trabalhou durante três anos, com
esforço e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria
trazer à confusão, à dificuldade de hoje, o saber de amanhã.
Era uma obra-prima pelas generalizações e pelos exemplos.
A quem dedicá-la? Como dedicá-la? E o prefácio?
E Marco Aurélio resolve meditar. Ao fim de igual
tempo havia resolvido o di�cil problema.
A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de
“duas palavras ao leitor” e levaria, como demonstração de
sua submissão intelectual, uma dedicatória.
Mas “duas palavras”, quando seriam centenas as que
escreveria? Não. E Marco Aurélio contou as “duas palavras”
uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance único,
genial, destacou em relevo, ao alto da página “duzentas e
uma palavras ao leitor”.
Mas “pálida homenagem”... Professor, autor de um
livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum:
“pálida homenagem”? Não. E pensou. E de sua grave
meditação, de seu profundo pensamento, saiu a frase
límpida, a grande frase que definia a sua ideia da expressão
e, num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase
sublime: “lívida homenagem do autor”...
Está aí como um grande gramá�co faz uma obra-
prima. Leiam-na e verão como a coisa é bela.
(Sá�ras e outras subversões, 2016.)
 
O cronista narra uma série de fatos ocorridos no passado.
Um fato anterior a esse tempo passado está indicado pela
forma verbal sublinhada em
a) “Eram duzentas e uma e, em um lance único, genial,
destacou em relevo, ao alto da página ‘duzentas e uma
palavras ao leitor’.” (6º parágrafo)
b) “A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de ‘duas
palavras ao leitor’ e levaria, como demonstração de sua
submissão intelectual, uma dedicatória.” (5º parágrafo)
c) “A dedicatória, como todas as dedicatórias, seria a ‘pálida
homenagem’ de seu talento ao espírito amigo que lhe
ensinara a pensar...” (7º parágrafo)
d) “E Marco Aurélio resolve meditar.” (4º parágrafo)
e) “Leiam-na e verão como a coisa é bela.” (9º parágrafo)
GR0098 - (Unifesp)
Para responder à questão, leia o trecho do livro Casa-grande
e senzala, de Gilberto Freyre.
Mas a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza,
capela, escola, oficina, santa casa, harém, convento de
moças, hospedaria. Desempenhou outra função importante
na economia brasileira: foi também banco. Dentro das suas
grossas paredes, debaixo dos �jolos ou mosaicos, no chão,
enterrava-se dinheiro, guardavam-se joias, ouro, valores. Às
vezes guardavam-se joias nas capelas, enfeitando os santos.
Daí Nossas Senhoras sobrecarregadas à baiana de teteias,
balangandãs, corações, cavalinhos, cachorrinhos e correntes
de ouro. Os ladrões, naqueles tempos piedosos, raramente
ousavam entrar nas capelas e roubar os santos. É verdade
que um roubou o esplendor e outras joias de São Benedito;
4@professorferretto @prof_ferretto
mas sob o pretexto, ponderável para a época, de que “negro
não devia ter luxo”. Com efeito, chegou a proibir-se, nos
tempos coloniais, o uso de “ornatos de algum luxo” pelos
negros.
Por segurança e precaução contra os corsários, contra os
excessos demagógicos, contra as tendências comunistas dos
indígenas e dos africanos, os grandes proprietários, nos seus
zelos exagerados de priva�vismo, enterraram dentro de casa
as joias e o ouro do mesmo modo que os mortos queridos.
Os dois fortes mo�vos das casas-grandes acabarem sempre
mal-assombradas com cadeiras de balanço se balançando
sozinhas sobre �jolos soltos que de manhã ninguém
encontra; com barulho de pratos e copos batendo de noite
nos aparadores; com almas de senhores de engenho
aparecendo aos parentes ou mesmo estranhos pedindo
padres- -nossos, ave-marias, gemendo lamentações,
indicando lugares com bo�jas de dinheiro. Às vezes dinheiro
dos outros, de que os senhores ilicitamente se haviam
apoderado. Dinheiro que compadres, viúvas e até escravos
lhes �nham entregue para guardar. Sucedeu muita dessa
gente ficar sem os seus valores e acabar na miséria devido à
esperteza ou à morte súbita do depositário. Houve senhores
sem escrúpulos que, aceitando valores para guardar,
fingiram-se depois de estranhos e desentendidos: “Você está
maluco? Deu-me lá alguma cousa para guardar?”
Muito dinheiro enterrado sumiu-se misteriosamente.
Joaquim Nabuco, criado por sua madrinha na casa-grande de
Maçangana, morreu sem saber que des�no tomara a ourama
para ele reunida pela boa senhora; e provavelmente
enterrada em algum desvão de parede. […] Em várias casas-
grandes da Bahia, de Olinda, de Pernambuco se têm
encontrado, em demolições ou escavações, bo�jas de
dinheiro. Na que foi dos Pires d’Ávila ou Pires de Carvalho, na
Bahia, achou- -se, num recanto de parede, “verdadeira
fortuna em moedas de ouro”. Noutras casas-grandes só se
têm desencavado do chão ossos de escravos, jus�çados
pelos senhores e mandados enterrar no quintal, ou dentro
de casa, à revelia das autoridades. Conta-se que o visconde
de Suaçuna, na sua casa-grande de Pombal, mandou enterrar
no jardim mais de um negro supliciado por ordem de sua
jus�ça patriarcal. Não é de admirar. Eram senhores, os das
casas-grandes, que mandavam matar os próprios filhos. Um
desses patriarcas, Pedro Vieira, já avô, por descobrir que o
filho man�nha relações com a mucama de sua predileção,
mandou matá-lo pelo irmão mais velho.
(In: Silviano San�ago (coord.). Intérpretes do Brasil, 2000.)
 
Ao se transpor a frase “Às vezes guardavam-se joias nas
capelas, enfeitando os santos.” (1° parágrafo) para a voz
passiva analí�ca, o termo sublinhado assume a seguinte
forma:
a) seriam guardadas. 
b) fossem guardadas. 
c) foram guardadas. 
d) eram guardadas.
e) são guardadas.
GR0281 - (Unesp)
Leia a letra da canção “Bom conselho”, de Chico Buarque,
composta em 1972.
 
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inú�l dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado:
Quem espera nunca alcança
 
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
 
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
(www.chicobuarque.com.br)
 
Observa-se rima entre palavras de classes grama�cais
diferentes em
a) “graça”/“passa” (1ª estrofe) e “regaço”/“faço” (2ª
estrofe).
b) “regaço”/“faço” (2ª estrofe) e “onde”/“longe” (3ª estrofe).
c) “onde”/“longe” (3ª estrofe) e “cidade”/“tempestade” (3ª
estrofe).
d) “sentado”/“provado” (1ª estrofe) e “cansa”/“alcança” (1ª
estrofe).
e) “cansa”/“alcança” (1ª estrofe) e “graça”/“passa” (1ª
estrofe).
GR0088 - (Enem)
Querido Sr. Clemens,
Sei que o ofendi porque sua carta, não datada de outro dia,
mas que parece ter sido escrita em 5 de julho, foi muito
abrupta; eu a li e reli com os olhos turvos de lágrimas. Não
usarei meu maravilhoso broche de peixe-anjo se o senhor
não quiser; devolverei ao senhor, se assim me for pedido...
OATES, J. C. Descanse em paz. São Paulo: Leya, 2008.
 
Nesse fragmento de carta pessoal, quanto à sequenciação
dos eventos, reconhece-se a norma-padrão pelo(a)
5@professorferretto @prof_ferretto
a) colocação pronominaI em prócIise.
b) uso recorrente de marcas de negação.
c) emprego adequado dos tempos verbais.
d) preferência por arcaísmos, como “abrupta” e “turvo”.
e) presença de qualificadores, como “maravilhoso” e “peixe-
anjo”.
GR0261 - (Unesp)
Leia o trecho dolivro Em casa, de Bill Bryson, para responder
à questão.
Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos
que adulteravam alimentos. O açúcar e outros ingredientes
caros muitas vezes eram aumentados com gesso, areia e
poeira. A manteiga �nha o volume aumentado com sebo e
banha. Quem tomasse chá, segundo autoridades da época,
poderia ingerir, sem querer, uma série de coisas, desde
serragem até esterco de carneiro pulverizado. Um
carregamento inspecionado, relata Judith Flanders,
demonstrou conter apenas a metade de chá; o resto era
composto de areia e sujeira. Acrescentava-se ácido sulfúrico
ao vinagre para dar mais acidez; giz ao leite; terebin�na1 ao
gim. O arsenito de cobre era usado para tornar os vegetais
mais verdes, ou para fazer a geleia brilhar. O cromato de
chumbo dava um brilho dourado aos pães e também à
mostarda. O acetato de chumbo era adicionado às bebidas
como adoçante, e o chumbo avermelhado deixava o queijo
Gloucester, se não mais seguro para comer, mais belo para
olhar.
Não havia pra�camente nenhum gênero que não
pudesse ser melhorado ou tornado mais econômico para o
varejista por meio de um pouquinho de manipulação e
engodo. Até as cerejas, como relata Tobias Smolle�,
ganhavam novo brilho depois de roladas, delicadamente, na
boca do vendedor antes de serem colocadas em exposição.
Quantas damas inocentes, perguntava ele, �nham saboreado
um prato de deliciosas cerejas que haviam sido “umedecidas
e roladas entre os maxilares imundos e, talvez, ulcerados de
um mascate de Saint Giles”?
O pão era par�cularmente a�ngido. Em seu romance
de 1771, The expedi�on of Humphry Clinker, Smolle� definiu
o pão de Londres como um composto tóxico de “giz, alume 2
e cinzas de ossos, insípido ao paladar e destru�vo para a
cons�tuição”; mas acusações assim já eram comuns na
época. A primeira acusação formal já encontrada sobre a
adulteração generalizada do pão está em um livro chamado
Poison detected: or frigh�ul truths, escrito anonimamente
em 1757, que revelou segundo “uma autoridade altamente
confiável” que “sacos de ossos velhos são usados por alguns
padeiros, não infrequentemente”, e que “os ossuários dos
mortos são revolvidos para adicionar imundícies ao alimento
dos vivos”.
(Em casa, 2011. Adaptado.)
 
1 terebin�na: resina extraída de uma planta e usada na
fabricação de vernizes, diluição de �ntas etc.
2 alume: designação dos sulfatos duplos de alumínio e
metais alcalinos, com propriedades adstringentes, usado na
fabricação de corantes, papel, porcelana, na purificação de
água, na clarificação de açúcar etc
 
É invariável quanto a gênero e a número o termo sublinhado
em:
a) “o resto era composto de areia e sujeira” (1º parágrafo).
b) “O pão era par�cularmente a�ngido” (3º parágrafo).
c) “O açúcar e outros ingredientes caros” (1º parágrafo).
d) “uma autoridade altamente confiável” (3º parágrafo).
e) “um pouquinho de manipulação e engodo” (2º parágrafo).
GR0102 - (Unicentro)
Passando a frase: “Ela havia feito muitos doces de leite para
a festa” para a voz passiva, obtém-se:
a) Doces de leite para a festa foram feitos.
b) Muitos doces de leite para a festa haviam sido feitos por
ela.
c) Fizeram-se muitos doces de leite por ela para a festa.
d) Muitos doces de leite havia ela feito para a festa.
e) Para a festa ela fez muitos doces de leite.
GR0301 - (Unesp)
Trecho inicial da crônica “Está aberta a sessão do júri”, de
Graciliano Ramos, publicada originalmente em 1943.
O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha
sertaneja, andava em meio século, �nha gravidade imensa,
verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de
pontas muito finas. Ves�a-se ordinariamente de preto, exigia
que todos na jus�ça procedessem da mesma forma – e
chegou a mandar re�rar-se do Tribunal um jurado
inconveniente, de roupa clara, ordenar-lhe que voltasse
razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência do
veredicto.
Não via, não sorria. Quando parava numa esquina,
as cavaqueiras dos vadios gelavam. Ao afastar-se, mexia as
pernas matema�camente, os passos mediam setenta
cen�metros, exatos, apesar de barrocas¹ e degraus. A
espinha não se curvava, embora descesse ladeiras, as mãos e
os braços executavam os movimentos indispensáveis, as
duas rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem se
desfaziam.
Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos,
tratados majestosos, severos na encadernação negra
semelhante à do proprietário, emper�gavam-se – e nenhum
ousava deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento
rigoroso.
Dr. França levantava-se às sete horas e recolhia-se à
meia-noite, fizesse frio ou calor, almoçava ao meio-dia e
jantava às cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de
seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no
dia 31, entendia-se com a mulher, parcimonioso, na
linguagem usada nas sentenças, linguagem arrevesada e
6@professorferretto @prof_ferretto
arcaica das ordenações. Nunca julgou oportuno modificar
esses hábitos salutares.
Não amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude,
emanação das existências calmas, e condenou o crime,
infeliz consequência da paixão.
Se atentássemos nas palavras emi�das por via oral,
poderíamos afirmar que o Dr. França não pensava. Vistos os
autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com
alguma frequência. Apenas o pensamento de Dr. França não
seguia a marcha dos pensamentos comuns. Operava, se não
nos enganamos, deste modo: “considerando isto,
considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda
mais isto, considerando porém aquilo, concluo.” Tudo se
formulava em obediência às regras – e era impossível
qualquer desvio.
Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito
redigido com circunlóquios, dividido em capítulos, �tulos,
ar�gos e parágrafos. E o que se distanciava desses
parágrafos, ar�gos, �tulos e capítulos não o comovia, porque
Dr. França está livre dos tormentos da imaginação.
(Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.)
 
^1 barroca: monte de terra ou de barro.
 
Expressa sen�do hipoté�co a forma verbal sublinhada em:
a) “Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito
redigido com circunlóquios, dividido em capítulos, �tulos,
ar�gos e parágrafos.” (7º parágrafo)
b) “Ao afastar-se, mexia as pernas matema�camente, os
passos mediam setenta cen�metros, exatos, apesar de
barrocas e degraus.” (2º parágrafo)
c) “Vistos os autos, etc., perceberíamos entretanto que ele
pensava com alguma frequência.” (6º parágrafo)
d) “Tudo se formulava em obediência às regras – e era
impossível qualquer desvio.” (6º parágrafo)
e) “Nunca julgou oportuno modificar esses hábitos
salutares.” (4º parágrafo)
GR0372 - (Uerj)
O coração do meu Tony é uma constelação de cinco pontos.
Um pentágono. Eu, Rami, sou a primeira-dama, a rainha-
mãe. Depois vem a Julieta, a enganada, ocupando o posto de
segunda-dama. Segue-se a Luísa, a desejada, no lugar de
terceira-dama. A Saly, a apetecida, é a quarta. Finalmente a
Mauá Sualé, a amada, a caçulinha, recém-adquirida. (cap. 5)
 
Ruínas de uma família. A Lu, a desejada, par�u para os
braços de outro com véu e grinalda. A Ju, a enganada, está
loucamente apaixonada por um velho português cheio de
dinheiro. A Saly, a apetecida, enfei�çou o padre italiano que
até deixou a ba�na só por amor a ela. A Mauá, a amada, ama
outro alguém. (cap. 43)
 
A repe�ção de estruturas nos dois trechos citados aponta
para as condições de vida das mulheres, que passam de uma
postura passiva a um comportamento a�vo. Essa
transformação é marcada pela alternância entre os seguintes
elementos:
a) nomeações e marcas de ênfase
b) metáforas “pentágono” e “ruínas”
c) atributos e formas verbais conjugadas
d) ironias “uma constelação” e “uma família”
GR0096 - (Enem)
A rapidez é destacada como uma das qualidades do serviço
anunciado, funcionando como estratégia de persuasão em
relação ao consumidor do mercado gráfico. O recurso da
linguagem verbal que contribui para esse destaque é o
emprego
a) do termo “fácil" no início do anúncio, com foco no
processo.
b) de adje�vos que valorizam a ni�dez da impressão.
c)das formas verbais no futuro e no pretérito, em
sequência.
d) da expressão intensificadora “menos do que" associada à
qualidade.
e) da locução “do mundo" associada a “melhor", que
quan�fica a ação.
GR0259 - (Unesp)
Leia o trecho do livro Em casa, de Bill Bryson, para responder
à questão.
7@professorferretto @prof_ferretto
Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos
que adulteravam alimentos. O açúcar e outros ingredientes
caros muitas vezes eram aumentados com gesso, areia e
poeira. A manteiga �nha o volume aumentado com sebo e
banha. Quem tomasse chá, segundo autoridades da época,
poderia ingerir, sem querer, uma série de coisas, desde
serragem até esterco de carneiro pulverizado. Um
carregamento inspecionado, relata Judith Flanders,
demonstrou conter apenas a metade de chá; o resto era
composto de areia e sujeira. Acrescentava-se ácido sulfúrico
ao vinagre para dar mais acidez; giz ao leite; terebin�na1 ao
gim. O arsenito de cobre era usado para tornar os vegetais
mais verdes, ou para fazer a geleia brilhar. O cromato de
chumbo dava um brilho dourado aos pães e também à
mostarda. O acetato de chumbo era adicionado às bebidas
como adoçante, e o chumbo avermelhado deixava o queijo
Gloucester, se não mais seguro para comer, mais belo para
olhar.
Não havia pra�camente nenhum gênero que não
pudesse ser melhorado ou tornado mais econômico para o
varejista por meio de um pouquinho de manipulação e
engodo. Até as cerejas, como relata Tobias Smolle�,
ganhavam novo brilho depois de roladas, delicadamente, na
boca do vendedor antes de serem colocadas em exposição.
Quantas damas inocentes, perguntava ele, �nham saboreado
um prato de deliciosas cerejas que haviam sido “umedecidas
e roladas entre os maxilares imundos e, talvez, ulcerados de
um mascate de Saint Giles”?
O pão era par�cularmente a�ngido. Em seu romance
de 1771, The expedi�on of Humphry Clinker, Smolle� definiu
o pão de Londres como um composto tóxico de “giz, alume 2
e cinzas de ossos, insípido ao paladar e destru�vo para a
cons�tuição”; mas acusações assim já eram comuns na
época. A primeira acusação formal já encontrada sobre a
adulteração generalizada do pão está em um livro chamado
Poison detected: or frigh�ul truths, escrito anonimamente
em 1757, que revelou segundo “uma autoridade altamente
confiável” que “sacos de ossos velhos são usados por alguns
padeiros, não infrequentemente”, e que “os ossuários dos
mortos são revolvidos para adicionar imundícies ao alimento
dos vivos”.
(Em casa, 2011. Adaptado.)
 
1 terebin�na: resina extraída de uma planta e usada na
fabricação de vernizes, diluição de �ntas etc.
2 alume: designação dos sulfatos duplos de alumínio e
metais alcalinos, com propriedades adstringentes, usado na
fabricação de corantes, papel, porcelana, na purificação de
água, na clarificação de açúcar etc
 
“O acetato de chumbo era adicionado às bebidas como
adoçante” (1º parágrafo). Preservando-se a correção
grama�cal e o seu sen�do original, essa oração pode ser
reescrita na forma:
a) Adicionava-se o acetato de chumbo às bebidas como
adoçante.
b) Adiciona-se o acetato de chumbo às bebidas como
adoçantes.
c) Eram adicionadas às bebidas como adoçante o acetato de
chumbo.
d) Adicionam-se às bebidas como adoçante o acetato de
chumbo.
e) Adicionavam-se às bebidas como adoçante o acetato de
chumbo.
GR0303 - (Unesp)
Leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond de
Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro de
1974.
E se reverenciássemos neste 2 de novembro os
mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho do
mar - o mar que eles não alcançam, pois encalham na areia
das margens, e os urubus os devoram?
Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de
flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são
amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus corpos,
não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo que for.
Se algum deles tem sorte de derivar pela res�nga da
Marambaia e ali é recolhido por pescadores - ah, peixe
menos desejado - ganha sepultura anônima, que a piedade
dos humildes providencia. Mas não é prudente pescar
mortos do Guandu: há sempre a perspec�va de
interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às vezes
mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos suspeitos e
aos que explicam mal suas pescarias macabras.
São marginais caçados pela polícia ou por outros
marginais, são suicidas, são acidentados? Di�cil classificá-los,
se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou estes
sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos, pesos
amarrados aos pés. Estes úl�mos são mortos fáceis de
catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em rodopio à
flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo, fluindo e
boiando, em sonho aquá�co deslizante, estes desesperaram
da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa?
Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis
desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela corda
fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de
moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela de
espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar para
conversas ín�mas:
- Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três
garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...
Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com
chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros de
cartório. O garrafinha nº1 não é diferente do garrafinha nº2
ou 3. Foram todos nivelados pelo Guandu. Como frascos
vazios, de pequeno porte e nenhuma importância, lá vão rio
abaixo, Nova Iguaçu abaixo, rumo do esquecimento das
garrafas e dos crimes que cometeram ou não cometeram, ou
dos crimes que neles foram come�dos.
8@professorferretto @prof_ferretto
[⋯]
O Guandu não responde a inquéritos nem a
repórteres. Não dis�ngue, carrega. Não comenta, não julga,
não reclama se lhe corrompem as águas; transporta. Em sua
impessoalidade serve a desígnios vários, favorece a vida que
quer se desembaraçar da morte, facilita a morte que quer se
libertar da vida. Pela jus�ça sumária, pelo absurdo, pelo
desespero.
Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia,
é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia de
pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não criminosos, os
que se destruíram, os que resvalaram. Mortos sem sepultura
e sem lembrança. Trágicos e apagados deslizantes na
correnteza. Passageiros do Guandu, apenas e afinal.
(Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.)
 
O cronista dirige-se explicitamente a seu leitor no trecho:
a) “São marginais caçados pela polícia ou por outros
marginais, são suicidas, são acidentados?” (4º parágrafo)
b) “Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de flores
consagradas aos mortos queridos.” (2º parágrafo)
c) “— Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três
garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...”
(6º parágrafo)
d) “Não comenta, não julga, não reclama se lhe corrompem
as águas; transporta.” (8º parágrafo)
e) “Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é aos
mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia de
pensar os e nos mortos.” (9º parágrafo)
GR0095 - (Enem)
Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me
tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de
Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que
ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a
saber que antes de exis�r no lugar um sanatório, lá es�vera
por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas", um de
seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado
de “Clavadel, outubro, 1895". Fiquei na Suíça até outubro de
1914.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1985.
 
No relato de memórias do autor, entre os recursos usados
para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se
a
a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade
ao texto.
b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão
dos fatos.
c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os
acontecimentos.
d) inclusão de enunciados com comentários e avaliaçõespessoais.
e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do
escritor.
GR0103 - (Unifesp)
Qualquer discussão sobre o tempo deve começar com uma
análise de sua estrutura, que, por falta de melhor expressão,
devemos chamar de "temporal". É comum dividirmos o
tempo em passado, presente e futuro. O passado é o que
vem antes do presente e o futuro é o que vem depois. Já o
presente é o "agora", o instante atual.
Isso tudo parece bastante óbvio, mas não é. Para definirmos
passado e futuro, precisamos definir o presente. Mas,
segundo nossa separação estrutural, o presente não pode ter
duração no tempo, pois nesse caso poderíamos definir um
período no seu passado e no seu futuro. Portanto, para
sermos coerentes em nossas definições, o presente não
pode ter duração no tempo. Ou seja, o presente não existe!
A discussão acima nos leva a outra questão, a da origem do
tempo. Se o tempo teve uma origem, então exis�u um
momento no passado em que ele passou a exis�r. Segundo
nossas modernas teorias cosmogônicas, que visam explicar a
origem do Universo, esse momento especial é o momento da
origem do Universo "clássico". A expressão "clássico" é
usada em contraste com "quân�co", a área da �sica que lida
com fenômenos atômicos e subatômicos.
[...]
As descobertas de Einstein mudaram profundamente nossa
concepção do tempo. Em sua teoria da rela�vidade geral, ele
mostrou que a presença de massa (ou de energia) também
influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja
irrelevante em nosso dia a dia. O tempo rela�vís�co adquire
uma plas�cidade definida pela realidade �sica á sua volta. A
coisa se complica quando usamos a rela�vidade geral para
descrever a origem do Universo.
(Folha do S.Paulo. 07.06.1998.)
 
“Em sua teoria da rela�vidade geral, ele mostrou que a
presença de massa (ou de energia) também influencia a
passagem do tempo, embora esse efeito seja irrelevante em
nosso dia a dia.” (4º parágrafo)
Ao se converter o trecho destacado para a voz passiva, o
verbo “influencia” assume a seguinte forma:
9@professorferretto @prof_ferretto
a) é influenciada.
b) foi influenciada.
c) era influenciada.
d) seria influenciada.
e) será influenciada.
GR0297 - (Unesp)
Trecho do livro A solidão dos moribundos, do sociólogo
alemão Norbert Elias.
Não mais consideramos um entretenimento de
domingo assis�r a enforcamentos, esquartejamentos e
suplícios na roda. Assis�mos ao futebol, e não aos
gladiadores na arena. Se comparados aos da An�guidade,
nossa iden�ficação com outras pessoas e nosso
compar�lhamento de seus sofrimentos e morte
aumentaram. Assis�r a �gres e leões famintos devorando
pessoas vivas pedaço a pedaço, ou a gladiadores, por astúcia
e engano, mutuamente se ferindo e matando, dificilmente
cons�tuiria uma diversão para a qual nos prepararíamos com
o mesmo prazer que os senadores ou o povo romano. Tudo
indica que nenhum sen�mento de iden�dade unia esses
espectadores àqueles que, na arena, lutavam por suas vidas.
Como sabemos, os gladiadores saudavam o imperador ao
entrar com as palavras “Morituri te salutant” (Os que vão
morrer te saúdam). Alguns dos imperadores sem dúvida se
acreditavam imortais. De todo modo, teria sido mais
apropriado se os gladiadores dissessem “Morituri moriturum
salutant” (Os que vão morrer saúdam aquele que vai
morrer). Porém, numa sociedade em que �vesse sido
possível dizer isso, provavelmente não haveria gladiadores
ou imperadores. A possibilidade de se dizer isso aos
dominadores — alguns dos quais mesmo hoje têm poder de
vida e morte sobre um sem-número de seus semelhantes —
requer uma desmitologização da morte mais ampla do que a
que temos hoje, e uma consciência muito mais clara de que
a espécie humana é uma comunidade de mortais e de que as
pessoas necessitadas só podem esperar ajuda de outras
pessoas. O problema social da morte é especialmente di�cil
de resolver porque os vivos acham di�cil iden�ficar-se com
os moribundos.
A morte é um problema dos vivos. Os mortos não
têm problemas. Entre as muitas criaturas que morrem na
Terra, a morte cons�tui um problema só para os seres
humanos. Embora compar�lhem o nascimento, a doença, a
juventude, a maturidade, a velhice e a morte com os
animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que
morrerão; apenas eles podem prever seu próprio fim,
estando cientes de que pode ocorrer a qualquer momento e
tomando precauções especiais — como indivíduos e como
grupos — para proteger- se contra a ameaça da aniquilação.
(A solidão dos moribundos, 2001.)
 
No primeiro parágrafo, a impessoalidade da linguagem está
bem exemplificada no trecho:
a) “Se comparados aos da An�guidade, nossa iden�ficação
com outras pessoas e nosso compar�lhamento de seus
sofrimentos e morte aumentaram.”
b) “Como sabemos, os gladiadores saudavam o imperador
ao entrar com as palavras ‘Morituri te salutant’ (Os que
vão morrer te saúdam).”
c) “Assis�mos ao futebol, e não aos gladiadores na arena.”
d) “Tudo indica que nenhum sen�mento de iden�dade unia
esses espectadores àqueles que, na arena, lutavam por
suas vidas.”
e) “Não mais consideramos um entretenimento de domingo
assis�r a enforcamentos, esquartejamentos e suplícios na
roda.”
GR0515 - (Enem PPL)
Reclame
se o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
... ou transforme o mundo.
ó�ca olho vivo
agradece a preferência.
CHACAL. Disponível em: www.escritas.org. Acesso em: 14
ago. 2014.
 
Os gêneros podem ser híbridos, mesclando caracterís�cas de
diferentes composições textuais que circulam socialmente.
Nesse poema, o autor preservou, do gênero publicitário, a
seguinte caracterís�ca:
a) Extensão do texto.
b) Emprego da injunção.
c) Apresentação do �tulo.
d) Disposição das palavras.
e) Pontuação dos períodos.
GR0341 - (Fuvest)
 
Os verbos “detonar” e “avariar”, no texto, são exemplos de
10@professorferretto @prof_ferretto
a) usos linguís�cos próprios de gêneros da área jurídica.
b) termos cujos sen�dos se contradizem na composição da
�ra.
c) vocábulos empregados informalmente.
d) recursos linguís�cos inadequados à situação de
comunicação.
e) escolhas vocabulares associadas ao contexto de cada
personagem.
GR0300 - (Unesp)
Trecho inicial da crônica “Está aberta a sessão do júri”, de
Graciliano Ramos, publicada originalmente em 1943.
O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha
sertaneja, andava em meio século, �nha gravidade imensa,
verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de
pontas muito finas. Ves�a-se ordinariamente de preto, exigia
que todos na jus�ça procedessem da mesma forma – e
chegou a mandar re�rar-se do Tribunal um jurado
inconveniente, de roupa clara, ordenar-lhe que voltasse
razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência do
veredicto.
Não via, não sorria. Quando parava numa esquina,
as cavaqueiras dos vadios gelavam. Ao afastar-se, mexia as
pernas matema�camente, os passos mediam setenta
cen�metros, exatos, apesar de barrocas¹ e degraus. A
espinha não se curvava, embora descesse ladeiras, as mãos e
os braços executavam os movimentos indispensáveis, as
duas rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem se
desfaziam.
Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos,
tratados majestosos, severos na encadernação negra
semelhante à do proprietário, emper�gavam-se – e nenhum
ousava deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento
rigoroso.
Dr. França levantava-se às sete horas e recolhia-se à
meia-noite, fizesse frio ou calor, almoçava ao meio-dia e
jantava às cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de
seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no
dia 31, entendia-se com a mulher, parcimonioso, na
linguagem usada nas sentenças, linguagem arrevesada e
arcaica das ordenações. Nunca julgou oportuno modificar
esses hábitos salutares.
Não amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude,
emanação das existências calmas, e condenou o crime,
infeliz consequência da paixão.
Se atentássemos nas palavras emi�das por via oral,
poderíamos afirmar que o Dr. França não pensava. Vistos os
autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com
alguma frequência. Apenas o pensamentode Dr. França não
seguia a marcha dos pensamentos comuns. Operava, se não
nos enganamos, deste modo: “considerando isto,
considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda
mais isto, considerando porém aquilo, concluo.” Tudo se
formulava em obediência às regras – e era impossível
qualquer desvio.
Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito
redigido com circunlóquios, dividido em capítulos, �tulos,
ar�gos e parágrafos. E o que se distanciava desses
parágrafos, ar�gos, �tulos e capítulos não o comovia, porque
Dr. França está livre dos tormentos da imaginação.
(Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.)
 
^1 barroca: monte de terra ou de barro.
 
O cronista intromete-se explicitamente no texto no seguinte
trecho:
a) “Contudo exaltou a virtude, emanação das existências
calmas, e condenou o crime, infeliz consequência da
paixão.” (5º parágrafo)
b) “Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito
redigido com circunlóquios, dividido em capítulos, �tulos,
ar�gos e parágrafos.” (7º parágrafo)
c) “O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja,
andava em meio século, �nha gravidade imensa, verbo
escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas
muito finas.” (1º parágrafo)
d) “Operava, se não nos enganamos, deste modo:
‘considerando isto, considerando isso, considerando
aquilo, considerando ainda mais isto, considerando porém
aquilo, concluo.’” (6º parágrafo)
e) “E o que se distanciava desses parágrafos, ar�gos, �tulos e
capítulos não o comovia, porque Dr. França está livre dos
tormentos da imaginação.” (7º parágrafo)
GR0091 - (Enem)
Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que
me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando
a cabeça com dificuldade, eu dis�nguia nas costelas grandes
lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos
molhados com água de sal – e houve uma discussão na
família. Minha avó, que nos visitava, condenou o
procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me ã
toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado
era o nó.
RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1998.
 
Num texto narra�vo, a sequência dos fatos contribui para a
progressão temá�ca. No fragmento, esse processo é indicado
pela
a) alternância das pessoas do discurso que determinam o
foco narra�vo.
b) u�lização de formas verbais que marcam tempos
narra�vos variados.
c) indeterminação dos sujeitos de ações que caracterizam os
eventos narrados.
d) justaposição de frases que relacionam seman�camente os
acontecimentos narrados.
e) recorrência de expressões adverbiais que organizam
temporalmente a narra�va.
11@professorferretto @prof_ferretto
GR0513 - (Enem PPL)
Como ocorrem os eclipses solares?
Quando a Lua passa exatamente entre a Terra e o Sol, o astro
que ilumina nosso planeta some por alguns minutos. O
espetáculo só ocorre durante a lua nova e apenas nas
ocasiões em que a sombra projetada pelo satélite a�nge
algum ponto da super�cie do planeta. Aliás, é o tamanho
dessa sombra que vai determinar se o desaparecimento do
astro será total, parcial ou anular. Geralmente, ocorrem ao
menos dois eclipses solares por ano. Um eclipse solar é uma
excelente oportunidade para estudar melhor o Sol.
Disponível em: h�ps://mundoestranho.abril.com.br. Acesso
em: 21 ago. 2017 (adaptado).
 
Nesse texto, a palavra “aliás” cumpre a função de
a) promover uma conclusão de ideias valendo-se das
informações da frase anterior. 
b) indicar uma mudança de assunto e de foco no tema
desenvolvido. 
c) conectar a informação da frase anterior com a da
posterior. 
d) conferir um caráter mais coloquial à reportagem. 
e) salientar a negação expressa na frase posterior.
GR0101 - (Uefs)
Leia o texto de Georges Jean.
A história do an�go Egito teria ficado, sem dúvida, em
grande parte desconhecida ou obscura, se Champollion e os
egiptólogos não �vessem penetrado no segredo da escrita
“hieroglífica” que recobre os inumeráveis monumentos do
vale e do delta do Nilo.
Esta escrita, ao contrário da cuneiforme – austera,
geométrica, abstrata –, é fascinante, poé�ca e realmente
viva. Porque é feita de desenhos admiravelmente es�lizados:
cabeças humanas, pássaros, animais diversos, plantas e
flores.
Sumérios e egípcios habitavam a mesma região do mundo e
suas civilizações apresentavam muitos pontos em comum.
Por essa razão, os pesquisadores ainda se interrogam sobre
eventuais equivalências entre os pictogramas de uns e os
hieróglifos de outros. Contudo, por enquanto, ainda se está
no terreno das hipóteses e a pesquisa está longe de ser
concluída.
Segundo os an�gos egípcios, foi o próprio deus Thot quem
teria criado a escrita, dando-a depois aos homens. A palavra
“hieróglifo”, que designa os caracteres da escrita egípcia,
significa, de fato, “escrita dos deuses” (do grego hieros,
“sagrado”, e gluphein, “gravar”).
Os primeiros documentos contendo inscrições em hieróglifos
remontam ao terceiro milênio a.C.; porém, parece que a
escrita surgiu antes. Em todo caso, não sofreu nenhuma
transformação notável até aproximadamente 390 d.C., nem
mesmo quando o Egito estava sob o domínio romano.
Simplesmente, o número de símbolos cresceu, passando de
setecentos a cinco mil, no momento da ocupação romana.
(A escrita: memória dos homens, 2008. Adaptado.)
 
“Sumérios e egípcios habitavam a mesma região” (3º
parágrafo)
Passada à voz passiva e man�do o sen�do original, a oração
transforma-se em:
a) A mesma região habitavam sumérios e egípcios.
b) A mesma região era habitada por sumérios e egípcios.
c) A mesma região foi habitada por sumérios e egípcios.
d) A mesma região habitava sumérios e egípcios.
e) A mesma região é habitada por sumérios e egípcios.
GR0293 - (Unesp)
Ar�go “Pó de pirlimpimpim”, do neurocien�sta brasileiro
Sidarta Ribeiro.
Alcançar o aprendizado instantâneo é um desejo
poderoso, pois o cérebro sem informação é pouco mais que
estofo de macela 1. Emília, a sabida boneca de Monteiro
Lobato, aprendeu a falar copiosamente após engolir uma
pílula, adquirindo de supetão todo o vocabulário dos seres
humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingestão de
uma pílula colorida faz o personagem Neo descobrir que
todo o mundo em que sempre viveu não passa de uma
simulação chamada Matriz, dentro da qual é possível
programar qualquer coisa. Poucos instantes depois de se
conectar a um computador, Neo desperta e profere
estupefato: “I know kung fu”.
Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de carne
e osso, vale o dito popular: “Urubu, pra cantar, demora.” O
aprendizado de comportamentos complexos é di�cil e
demorado, pois requer a alteração massiva de conexões
neuronais. Há consenso hoje em dia de que o conteúdo dos
nossos pensamentos deriva dos padrões de a�vação de
vastas redes neuronais, impossibilitando a aquisição
instantânea de memórias intrincadas.
Mas nem sempre foi assim. Há meio século,
experimentos realizados na Universidade de Michigan
pareciam indicar que as planárias, vermes aquá�cos
passíveis de condicionamento clássico, eram capazes de
adquirir, mesmo sem treinamento, associações es�mulo-
resposta por ingestão de um extrato de planárias já
condicionadas. O resultado, aparentemente revolucionário,
sugeria que os substratos materiais da memória são
moléculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que
a ingestão de planárias não condicionadas também acelerava
o aprendizado, revelando um efeito hormonal genérico,
independente do conteúdo das memórias presentes nas
planárias ingeridas.
A ingestão de memórias é impossível porque elas
são estados complexos de redes neuronais, não um quantum
de significado como a pílula da Emília. Por outro lado, é sim
possível acelerar a consolidação das memórias por meio da
o�mização de variáveis fisiológicas envolvidas no processo.
Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono, cujo
bene�cio à consolidação de memórias já foi comprovado. Em
2006, pesquisadores alemães publicaram um estudo sobre
12@professorferretto @prof_ferretto
os efeitos mnemônicos da es�mulação cerebral com ondas
lentas (0,75 Hz)aplicadas durante o sono por meio de um
es�mulador elétrico. Os resultados mostraram que a
es�mulação de baixa frequência é suficiente para melhorar o
aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as
oscilações lentas do sono são puro pó de pirlimpimpim.
(Sidarta Ribeiro. Limiar: ciência e vida contemporânea,
2020.)
 
1 macela: planta herbácea cujas flores costumam ser usadas
pela população como estofo de travesseiros.
 
Pode ser reescrito na voz passiva o seguinte trecho do ar�go:
a) “Há consenso hoje em dia de que o conteúdo dos nossos
pensamentos deriva dos padrões de a�vação de vastas
redes neuronais” (2º parágrafo).
b) “Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono”
(4º parágrafo).
c) “A ingestão de memórias é impossível porque elas são
estados complexos de redes neuronais” (4º parágrafo).
d) “Em 2006, pesquisadores alemães publicaram um estudo
sobre os efeitos mnemônicos da es�mulação cerebral” (4º
parágrafo).
e) “Alcançar o aprendizado instantâneo é um desejo
poderoso” (1º parágrafo).
GR0092 - (Enem)
DECRETO N. 28 314, DE 28 DE SETEMBRO DE 2007 
Demite o Gerúndio do Distrito Federal e dá outras
providências.
O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL, no uso das
atribuições que lhe confere o ar�go 100, incisos VII e XXVI,
da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:
Art. 1º Fica demi�do o Gerúndio de todos os órgãos do
Governo do Distrito Federal.
Art. 2º Fica proibido, a par�r desta data, o uso do gerúndio
para desculpa de INEFICIÊNCIA.
Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua
publicação.
Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 28 de setembro de 2007. 119° da República e 48° de
Brasília
Disponível em: www.dodf.gov.br. Acesso em: 11 dez. 2017
 
Esse decreto pauta-se na ideia de que o uso do gerúndio,
como "desculpa de ineficiência", indica
a) conclusão de uma ação.
b) realização de um evento.
c) repe�ção de uma prá�ca.
d) con�nuidade de um processo.
e) transferência de responsabilidade.
GR0275 - (Unesp)
Leia o texto extraído da primeira parte, in�tulada “A terra”,
da obra Os sertões, de Euclides da Cunha. A obra resultou da
cobertura jornalís�ca da Guerra de Canudos, realizada por
Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de
agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902.
Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de
1897], as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um
canhoneio1 frouxo de �ros espaçados e soturnos,
encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular,
onde as colinas se dispunham circulando um vale único.
Pequenos arbustos, icozeiros2 virentes viçando em tufos
intermeados de palmatórias3 de flores ru�lantes, davam ao
lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono.
Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta,
sobranceando a vegetação franzina.
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo
chão e protegido por ela — braços largamente abertos, face
volvida para os céus — um soldado descansava.
Descansava... havia três meses.
Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A
coronha da Mannlicher 4 estrondada, o cinturão e o boné
jogados a uma banda, e a farda em �ras, diziam que
sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante.
Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara
a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-
se, dias depois, os mortos, não fora percebido. Não
compar�ra, por isto, a vala comum de menos de um côvado
de fundo em que eram jogados, formando pela úl�ma vez
juntos, os companheiros aba�dos na batalha. O des�no que
o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma
concessão: livrara-o da promiscuidade lúgubre de um fosso
repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços
largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis
ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes...
E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara
conservando os traços fisionômicos, de modo a incu�r a
ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em
tranquilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem um
verme — o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria —
lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem
decomposição repugnante, numa exaustão impercep�vel.
Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas
suges�vo, a secura extrema dos ares. 
(Os sertões, 2016.)
 
1 canhoneio: descarga de canhões. 2 icozeiro: arbusto de
folhas coriáceas, flores de tom verde-pálido e frutos
bacáceos. 3 palmatória: planta da família das cactáceas, de
flores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha,
ou róseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado
por Ferdinand Ri�er von Mannlicher.
 
Observa-se o emprego de voz passiva no trecho
13@professorferretto @prof_ferretto
a) “Descansava... havia três meses.” (3º parágrafo)
b) “Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe
sulcara a fronte, manchada de uma escara preta.” (4º
parágrafo)
c) “Nem um verme — o mais vulgar dos trágicos analistas da
matéria — lhe maculara os tecidos.” (5º parágrafo)
d) “Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição
repugnante, numa exaustão impercep�vel.” (5º parágrafo)
e) “E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, não fora
percebido.” (4º parágrafo).
GR0319 - (Fuvest)
(...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma
cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me
importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo
cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A
diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono,
e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos,
mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e
esperamos preás. (...)
Carta de Graciliano Ramos a sua esposa.
 
(...) Uma angús�a apertou-lhe o pequeno coração. Precisava
vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam
andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas.
Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do
caritó onde sinhá Vitória guardava o cachimbo.
(...)
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de
preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme.
As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num
pá�o enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo
cheio de preás, gordos, enormes.
Graciliano Ramos, Vidas secas.
 
A comparação entre os fragmentos, respec�vamente, da
Carta e de Vidas secas, permite afirmar que
a) “será que há mesmo” e “acordaria feliz” sugerem dúvida.
b) “procurei adivinhar” e “precisava vigiar” significam
necessidade.
c) “no fundo todos somos” e “andar pelas ribanceiras”
indicam lugar.
d) “padre Zé Leite pretende” e “Baleia queria dormir”
indicam intencionalidade.
e) “todos nós desejamos” e “dormiam na esteira” indicam
possibilidade.
GR0087 - (Enem)
Novas tecnologias
Atualmente, prevalece na mídia um discurso de exaltação
das novas tecnologias, principalmente aquelas ligadas às
a�vidades de telecomunicações. Expressões frequentes
como “o futuro já chegou”, “maravilhas tecnológicas” e
“conexão total com o mundo” “fei�chizam” novos produtos,
transformando-os em objetos do desejo, de consumo
obrigatório. Por esse mo�vo, carregamos hoje nos bolsos,
bolsas e mochilas o “futuro” tão festejado.
Todavia, não podemos reduzir-nos a meras ví�mas de um
aparelho midiá�co perverso, ou de um aparelho capitalista
controlador. Há perversão, certamente, e controle, sem
sombra de dúvida. Entretanto, desenvolvemos uma relação
simbió�ca de dependência mútua com os veículos de
comunicação, que se estreita a cada imagem compar�lhada
e a cada dossiê pessoal transformado em objeto público de
entretenimento.
Não mais como aqueles acorrentados na caverna de
Platão, somos livres para nos aprisionar por espontânea
vontade a esta relação sadomasoquista com as estruturas
midiá�cas, na qual tanto controlamos quanto somos
controlados.
SAMPAIO, A. S. A micro�sica do espetáculo. Disponível em:
h�p://observatoriodaimpresa.com.br. Acesso em: 1 mar.
2013 (adaptada).
 
Ao escrever um ar�go de opinião, o produtor precisa criar
uma base de orientação linguís�ca que permita alcançaros
leitores e convencê-los com relação ao ponto de vista
defendido. Diante disso, nesse texto, a escolha das formas
verbais em destaque obje�va
a) criar relação de subordinação entre leitor e autor, já que
ambos usam as novas tecnologias.
b) enfa�zar a probabilidade de que toda população brasileira
esteja aprisionada às novas tecnologias.
c) indicar, de forma clara, o ponto de vista de que hoje as
pessoas são controladas pelas novas tecnologias.
d) tornar o leitor copar�cipe do ponto de vista de que ele
manipula as novas tecnologias e por elas é manipulado.
e) demonstrar ao leitor sua parcela de responsabilidade por
deixar que as novas tecnologias controlem as pessoas.
GR0285 - (Unesp)
Leia a crônica de Machado de Assis, publicada em
19.05.1888.
Eu pertenço a uma família de profetas après coup 1,
post facto 2, depois do gato morto, ou como melhor nome
tenha em holandês. Por isso digo, e juro se necessário for,
que toda a história desta lei de 13 de maio estava por mim
prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos
debates, tratei de alforriar um molecote que �nha, pessoa
dos seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada;
entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos,
e dei um jantar.
Neste jantar, a que os meus amigos deram o nome
de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco
pessoas, conquanto as no�cias dissessem trinta e três (anos
de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico.
No golpe do meio (coup du milieu 3, mas eu prefiro
falar a minha língua), levantei-me eu com a taça de
champanha e declarei que, acompanhando as ideias
pregadas por Cristo, há dezoito séculos, res�tuía a liberdade
14@professorferretto @prof_ferretto
ao meu escravo Pancrácio; que entendia que a nação inteira
devia acompanhar as mesmas ideias e imitar o meu
exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus,
que os homens não podiam roubar sem pecado.
Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala,
como um furacão, e veio a abraçar-me os pés. Um dos meus
amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra
taça, e pediu à ilustre assembleia que correspondesse ao ato
que eu acabava de publicar, brindando ao primeiro dos
cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e
entreguei a carta ao molecote. Todos os lenços comovidos
apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi
mais nada. De noite, recebi muitos cartões. Creio que estão
pintando o meu retrato, e suponho que a óleo.
No dia seguinte, chamei Pancrácio e disse-lhe com
rara franqueza:
— Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens
casa amiga, já conhecida e tens mais um ordenado, um
ordenado que…
— Oh! meu senhô! fico.
— … Um ordenado pequeno, mas que há de crescer.
Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente.
Quando nasceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje
estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro
dedos…
— Artura não qué dizê nada, não, senhô…
— Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas
é de grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales
muito mais que uma galinha.
— Eu vaio um galo, sim, senhô.
— Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano,
se andares bem, conta com oito. Oito ou sete.
Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que
lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas;
efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco,
sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil
adquirido por um �tulo que lhe dei. Ele con�nuava livre, eu
de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos.
Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí para
cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro
puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo
filho do diabo; coisas todas que ele recebe humildemente, e
(Deus me perdoe!) creio que até alegre.
O meu plano está feito; quero ser deputado, e, na
circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes,
muito antes de abolição legal, já eu, em casa, na modés�a da
família, libertava um escravo, ato que comoveu a toda a
gente que dele teve no�cia; que esse escravo tendo
aprendido a ler, escrever e contar (simples suposição) é
então professor de Filosofia no Rio das Cobras; que os
homens puros, grandes e verdadeiramente polí�cos, não são
os que obedecem à lei, mas os que se antecipam a ela,
dizendo ao escravo: és livre, antes que o digam os poderes
públicos, sempre retardatários, trôpegos e incapazes de
restaurar a jus�ça na terra, para sa�sfação do céu.
(Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.)
 
1 après coup: a posteriori.
2 post facto: após o fato.
3 coup du milieu: bebida, às vezes acompanhada de brindes,
que se tomava no meio de um banquete
 
Para evitar a repe�ção de um verbo já mencionado, o
narrador recorre à elipse de um verbo na frase
a) “Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como
um furacão, e veio a abraçar-me os pés.” (4º parágrafo)
b) “Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e
entreguei a carta ao molecote.” (4º parágrafo)
c) “Quando nasceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje
estás mais alto que eu.” (8º parágrafo)
d) Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe
dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas;
efeitos da liberdade.” (13º parágrafo)
e) “Ele con�nuava livre, eu de mau humor; eram dois
estados naturais, quase divinos.” (13º parágrafo)
GR0408 - (Unesp)
Leia o excerto do livro Violência urbana, de Paulo Sérgio
Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida.
De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos.
Evite falar com estranhos. À noite, não saia para caminhar,
principalmente se es�ver sozinho e seu bairro for deserto.
Quando estacionar, tranque bem as portas do carro [...]. De
madrugada, não pare em sinal vermelho. Se for assaltado,
não reaja – entregue tudo.
É provável que você já esteja exausto de ler e ouvir
várias dessas recomendações. Faz tempo que a ideia de
integrar uma comunidade e sen�r-se confiante e seguro por
ser parte de um cole�vo deixou de ser um sen�mento
comum aos habitantes das grandes cidades brasileiras. As
noções de segurança e de vida comunitária foram
subs�tuídas pelo sen�mento de insegurança e pelo
isolamento que o medo impõe. O outro deixa de ser visto
como parceiro ou parceira em potencial; o desconhecido é
encarado como ameaça. O sen�mento de insegurança
transforma e desfigura a vida em nossas cidades. De lugares
de encontro, troca, comunidade, par�cipação cole�va, as
moradias e os espaços públicos transformam-se em palco do
horror, do pânico e do medo.
A violência urbana subverte e desvirtua a função das
cidades, drena recursos públicos já escassos, ceifa vidas –
especialmente as dos jovens e dos mais pobres –, dilacera
famílias, modificando nossas existências drama�camente
para pior. De potenciais cidadãos, passamos a ser
consumidores do medo. O que fazer diante desse quadro de
insegurança e pânico, denunciado diariamente pelos jornais
e alardeado pela mídia eletrônica? Qual tarefa impõe-se aos
cidadãos, na democracia e no Estado de direito?
(Violência urbana, 2003.)
 
O trecho “As noções de segurança e de vida comunitária
foram subs�tuídas pelo sen�mento de insegurança e pelo
isolamento que o medo impõe.” (2º parágrafo) foi construído
na voz passiva. Ao se adaptar tal trecho para a voz a�va, a
15@professorferretto @prof_ferretto
locução verbal “foram subs�tuídas” assume a seguinte
forma:
a) subs�tui.
b) subs�tuíram.
c) subs�tuiriam.
d) subs�tuiu.
e) subs�tuem.
GR0288 - (Unesp)
Leia o trecho do ensaio “As mutações do poder e os limites
do humano”, de Newton Bigno�o.
A modernidade se construiu a par�r do
Renascimento à luz da famosa asserção do filósofo italiano
Pico della Mirandola em seu Discurso sobre a dignidade do
homem (1486), segundo o qual fomos criados livres e com o
poder de escolher o que desejamos ser. Diferentemente dos
outros seres, o homem pode cons�tuir a própria face e
transitar pelos caminhos mais elevados, ou degenerar até o
nível inferior das bestas.
Para Pico della Mirandola, o homem é um ser

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