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Classes do Verbo GR0364 - (Uerj) SOBREVIVEREMOS NA TERRA? Tenho interesse pessoal no tempo. Primeiro, meu best-seller chama-se Uma breve história do tempo. Segundo, por ser alguém que, aos 21 anos, foi informado pelos médicos de que teria apenas mais cinco anos de vida e que completou 76 anos em 2018. Tenho uma aguda e desconfortável consciência da passagem do tempo. Durante a maior parte da minha vida, convivi com a sensação de que estava fazendo hora extra. Parece que nosso mundo enfrenta uma instabilidade polí�ca maior do que em qualquer outro momento. Uma grande quan�dade de pessoas sente ter ficado para trás. Como resultado, temos nos voltado para polí�cos populistas, com experiência de governo limitada e cuja capacidade para tomar decisões ponderadas em uma crise ainda está para ser testada. A Terra sofre ameaças em tantas frentes que é di�cil permanecer o�mista. Os perigos são grandes e numerosos demais. O planeta está ficando pequeno para nós. Nossos recursos �sicos estão se esgotando a uma velocidade alarmante. A mudança climá�ca foi uma trágica dádiva humana ao planeta. Temperaturas cada vez mais elevadas, redução da calota polar, desmatamento, superpopulação, doenças, guerras, fome, escassez de água e extermínio de espécies; todos esses problemas poderiam ser resolvidos, mas até hoje não foram. O aquecimento global está sendo causado por todos nós. Queremos andar de carro, viajar e desfrutar um padrão de vida melhor. Mas quando as pessoas se derem conta do que está acontecendo, pode ser tarde demais. Estamos no limiar de um período de mudança climá�ca sem precedentes. No entanto, muitos polí�cos negam a mudança climá�ca provocada pelo homem, ou a capacidade do homem de revertê-la. O derre�mento das calotas polares ár�ca e antár�ca reduz a fração de energia solar refle�da de volta no espaço e aumenta ainda mais a temperatura. A mudança climá�ca pode destruir a Amazônia e outras florestas tropicais, eliminando uma das principais ferramentas para a remoção do dióxido de carbono da atmosfera. A elevação da temperatura dos oceanos pode provocar a liberação de grandes quan�dades de dióxido de carbono. Ambos os fenômenos aumentariam o efeito estufa e exacerbariam o aquecimento global, tornando o clima em nosso planeta parecido com o de Vênus: atmosfera escaldante e chuva ácida a uma temperatura de 250 ºC. A vida humana seria impossível. Precisamos ir além do Protocolo de Kyoto – o acordo internacional adotado em 1997 – e cortar imediatamente as emissões de carbono. Temos a tecnologia. Só precisamos de vontade polí�ca. Quando enfrentamos crises parecidas no passado, havia algum outro lugar para colonizar. Estamos ficando sem espaço, e o único lugar para ir são outros mundos. Tenho esperança e fé de que nossa engenhosa raça encontrará uma maneira de escapar dos sombrios grilhões do planeta e, deste modo, sobreviver ao desastre. A mesma providência talvez não seja possível para os milhões de outras espécies que vivem na Terra, e isso pesará em nossa consciência. Mas somos, por natureza, exploradores. Somos mo�vados pela curiosidade, essa qualidade humana única. Foi a curiosidade obs�nada que levou os exploradores a provar que a Terra não era plana, e é esse mesmo impulso que nos leva a viajar para as estrelas na velocidade do pensamento, ins�gando- nos a realmente chegar lá. E sempre que realizamos um grande salto, como nos pousos lunares, exaltamos a humanidade, unimos povos e nações, introduzimos novas descobertas e novas tecnologias. Deixar a Terra exige uma abordagem global combinada – todos devem par�cipar. STEPHEN HAWKING (1942-2018) Adaptado de Breves respostas para grandes questões. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018. Segundo, por ser alguém que, aos 21 anos, foi informado pelos médicos de que teria apenas mais cinco anos de vida e que completou 76 anos em 2018. (1º parágrafo, sublinhado) Os verbos sublinhados descrevem dois fatos que podem ser caracterizados, respec�vamente, como: a) hipoté�co – realizado b) inconcluso – eventual c) con�nuo – momentâneo d) repe��vo – retrospec�vo GR0104 - (Famema) Vossas excelências, ilustríssimos senhores e senhoras, trago no�cias urgentes de um reino distante. É mister vos alertar, Vossas Excelências, que nesta estranha terra os habitantes criaram um país onde os mui digníssimos e respeitáveis representantes do povo são tratados, imaginem Vossas Senhorias, como o próprio povo. Insânia! Dirão que as histórias que aqui relato são meras alucinações de contos de fada, pois há neste rico reino, que chamam de Suécia, rei, rainha e princesas. Mas não se iludam! Os habitantes desta terra já �raram todos os poderes do rei, em nome de uma democracia que proclama uma tal igualdade entre todos, e o 1@professorferretto @prof_ferretto que digo são coisas que tenho visto com os olhos que esta mesma terra um dia há de comer. Nestas longínquas comarcas, os mui dis�ntos parlamentares, ministros e prefeitos viajam de trem ou de ônibus para o trabalho, em sua labuta para adoçar as mazelas do povo. De ônibus, Eminências! E muitos castelos há pelos quatro cantos deste próspero reino, mas aos egrégios representantes do povo é oferecido abrigo apenas em pífias habitações de um cômodo, indignas dos ilustríssimos defensores dos direitos dos cidadãos e da democracia. Este reino está cercado por outros ricos reinos, numa península chamada Escandinávia, onde também há príncipes e reis, e onde os representantes do povo vivem como sobrevive um súdito qualquer. E isto eu também vi, com os olhos que esta terra há de comer: em um dos povos vizinhos, conhecido como o reino dos noruegueses, os nobres representantes do povo chegam a almoçar sanduíches que trazem de casa, e que �ram dos bolsos dos paletós quando a fome aperta. É preciso cautela, Vossas Excelências. Deste reino, que chamam de Suécia ainda pouco se ouve falar. Mas as no�cias sobre o igualitário reino dos suecos se espalham. Estocolmo, 6 de janeiro de 2013. (Um país sem excelências e mordomias, 2014. Adaptado.) “Os habitantes desta terra já �raram todos os poderes do rei”. Assinale a alterna�va que expressa, na voz passiva, o conteúdo dessa oração. a) Todos os poderes do rei já �raram os habitantes desta terra. b) Os habitantes desta terra já �ram todos os poderes do rei. c) Os habitantes desta terra já foram �rados por todos os poderes do rei. d) Todos os poderes do rei já foram �rados pelos habitantes desta terra. e) Todos os poderes do rei já são �rados pelos habitantes desta terra. GR0514 - (Enem PPL) Slow Food A favor da alimentação com prazer e da responsabilidade socioambiental, o slow food é um movimento que vai contra o ritmo acelerado de vida da maioria das pessoas hoje: o ritmo fast-food, que valoriza a rapidez e não a qualidade. Traduzido na alimentação, o fast-food está nos produtos ar�ficiais, que, apesar de prá�cos, são péssimos à saúde: muito processados e muito distantes da sua natureza – como os lanches cheios de gorduras, os salgadinhos e biscoitos convencionais etc. etc. Agora, vamos deixar de lado o fast e entender melhor o slow food. Segundo esse movimento, o alimento deve ser:” - bom: tão gostoso que merece ser saboreado com calma, fazendo de cada refeição uma pausa especial do dia; - limpo: bom à saúde do consumidor e dos produtores, sem prejudicar o meio ambiente nem os animais; - justo: produzido com transparência e hones�dade social e, de preferência, de produtores locais. Deu pra ver que o slow food traz muita coisa interessante para o nosso dia a dia. Ele resgata valores tão importantes, mas que muitas vezes passam despercebidos. Não é à toa que ele já está contagiando o mundo todo, inclusive o nosso país. Disponível em: www.maeterra.com.br. Acesso em: 5 ago. 2017. Algumas palavras funcionam como marcadores textuais, atuando na organização dos textos e fazendo-os progredir. No segundo parágrafo desse texto, o marcador “agora” a) define o momento em que se realiza o fato descrito na frase. b) sinaliza a mudança de foco no tema que se vinha discu�ndo. c) promoveautoconstruído, e, por isso, não podemos atribuir a forças transcendentes nem os sucessos nem os fracassos. A liberdade para forjar sua própria natureza é um dom que implica riscos. Se com frequência preferimos olhar apenas para a força de uma vontade, que decidiu explorar o mundo com as ferramentas da razão, desde a era do Barroco sabemos que o real comporta um lado escuro, que não pode ser simplesmente esquecido. Ao lado do racionalismo triunfante, sempre houve um grito de alerta quanto às trevas que rondavam as sociedades modernas. O século XX viu essas trevas ocuparem o centro da cena mundial e enterrou para sempre a ideia de que o progresso da civilização iria nos livrar de nossas fraquezas e defeitos. O século da técnica e dos avanços espetaculares da ciência foi também o século dos massacres e do aparecimento da morte em escala industrial. Tudo se passa como se a par�r de agora não pudéssemos mais esquecer da besta, que Pico della Mirandola via como uma das possibilidades de nossa natureza. O monstro, que rondava a razão, e que por tanto tempo pareceu poder ser por ela derrotado, aproveitou-se de muitas de suas conquistas para criar uma nova iden�dade, que nos obriga a conviver com a barbárie no seio mesmo de sociedades que tanto contribuíram para criar a imagem iluminada do Ocidente. (Adauto Novaes (org.). Mutações, 2008. Adaptado.) Dêi�cos: expressões linguís�cas cuja interpretação depende da pessoa, do lugar e do momento em que são enunciadas. Por exemplo, “eu” designa a pessoa que fala “eu”. Expressões como “aqui”, “hoje” devem ser interpretadas em função de onde e em que momento se encontra o locutor, quando diz “aqui” e “hoje”. (Ernani Terra. Leitura do texto literário, 2014. Adaptado.) Verifica-se a ocorrência de dêi�co no seguinte trecho: a) “O século da técnica e dos avanços espetaculares da ciência foi também o século dos massacres e do aparecimento da morte em escala industrial.” (3º parágrafo) b) “Diferentemente dos outros seres, o homem pode cons�tuir a própria face e transitar pelos caminhos mais elevados, ou degenerar até o nível inferior das bestas.” (1º parágrafo) c) “A liberdade para forjar sua própria natureza é um dom que implica riscos.” (2º parágrafo) d) “Ao lado do racionalismo triunfante, sempre houve um grito de alerta quanto às trevas que rondavam as sociedades modernas.” (2º parágrafo) e) “Tudo se passa como se a par�r de agora não pudéssemos mais esquecer da besta, que Pico dela Mirandola via como uma das possibilidades de nossa natureza.” (3º parágrafo) GR0375 - (Unicamp) Considerando os sen�dos produzidos pela �rinha, é correto afirmar que o autor explora o fato de que palavras como “ontem”, “hoje” e “amanhã” a) mudam de sen�do dependendo de quem fala. b) adquirem sen�do no contexto em que são enunciadas. c) deslocam-se de um sen�do concreto para um abstrato. d) evidenciam o sen�do fixo dos advérbios de tempo. GR0396 - (Fuvest) Nasceu o dia e expirou. Já brilha na cabana de Araquém o fogo, companheiro da noite. Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas, filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente. Mar�m se embala docemente; e como a alva rede que vai e vem, sua vontade oscila de um a outro pensamento. Lá o espera a virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a virgem morena dos ardentes amores. Iracema recosta-se langue ao punho da rede; seus olhos negros e fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o 16@professorferretto @prof_ferretto estrangeiro, e lhe entram n’alma. O cristão sorri; a virgem palpita; como o saí, fascinado pela serpente, vai declinando o lascivo talhe, que se debruça enfim sobre o peito do guerreiro. José de Alencar, Iracema. É correto afirmar que, no texto, o narrador a) prioriza a ordem direta da frase, como se pode verificar nos dois primeiros parágrafos do texto. b) usa o verbo “correr” (2º parágrafo) com a mesma acepção que se verifica na frase “Travam das armas os rápidos guerreiros, e correm ao campo” (também extraída do romance Iracema). c) recorre à adje�vação de caráter obje�vo para tornar a cena mais real. d) emprega, a par�r do segundo parágrafo, o presente do indica�vo, visando dar maior vivacidade aos fatos narrados, aproximando-os do leitor. e) atribui, nos trechos “aqui lhe sorri” e “lhe entram n’alma”, valor possessivo ao pronome “lhe”. GR0090 - (Enem) No�cias do além Aquele que morrer primeiro e for para o céu deverá voltar à Terra para contar ao outro como é a vida lá no paraíso. Assim ficou combinado entre Francisco e Sebas�ão, amigos inseparáveis e apaixonados pelo futebol. Francisco teve morte súbita e, passado algum tempo, no meio da noite, sua alma apareceu ao colega: — Nossa Senhora, Chico! Você veio mesmo! — Estou aqui, Tião, para cumprir a minha promessa, trazendo-lhe duas no�cias. — Então me fala. — O céu é uma maravilha, um colosso, uma beleza. Tem futebol todo dia. — E a outra? — A outra é que você está escalado para jogar no meu �me amanhã cedo. DIAS, M. V. R. Humor na Marolândia. In: ILARI, R. Introdução à semân�ca: brincando com a gramá�ca. São Paulo: Contexto, 2001 Esse texto pode ser analisado sob dois pontos de vista que incluem situações diferentes de interlocução: a primeira, considerando seu produtor e seus potenciais leitores; e a segunda, considerando os interlocutores Francisco e Sebas�ão. Para cada uma dessas situações o produtor do texto tem um obje�vo específico que se determina, não só pela situação, mas também pelo gênero textual. Os verbos que sinte�zam os obje�vos do produtor nas duas situações propostas são, respec�vamente, a) entreter e seduzir. b) diver�r e informar. c) distrair e comover. d) recrear e assustar. e) alegrar e in�midar. GR0358 - (Uerj) Três teses sobre o avanço da febre amarela 1 Como a febre amarela rompeu os limites da Floresta Amazônica e alcançou o Sudeste, a�ngindo os grandes centros urbanos? A par�r do ano passado, o número de casos da doença alcançou níveis sem precedentes nos úl�mos cinquenta anos. Desde o início de 2017, foram confirmados 779 casos, 262 deles resultando em mortes. Trata-se do maior surto da forma silvestre da doença já registrado no país1. Outros 435 registros ainda estão sob inves�gação. 2 Como tudo começou? Os navios portugueses vindos da África nos séculos XVII e XVIII não trouxeram ao Brasil somente escravos e mercadorias. Dois inimigos silenciosos vieram junto: o vírus da febre amarela e o mosquito Aedes aegyp�. A consequência foi uma série de surtos de febre amarela urbana no Brasil, com milhares de mortos2. Por volta de 1940, a febre amarela urbana foi erradicada. Mas o vírus migrou, pelo trânsito de pessoas infectadas, para zonas de floresta na região Amazônica. No início dos anos 2000, a febre amarela ressurgiu em áreas da Mata Atlân�ca. Três teses tentam explicar o fenômeno. 3 Segundo o professor Aloísio Falqueto, da Universidade Federal do Espírito Santo, “uma pessoa pegou o vírus na Amazônia e entrou na Mata Atlân�ca depois, possivelmente na altura de Montes Claros, em Minas Gerais, onde surgiram casos de macacos e pessoas infectadas”. O vírus teria se espalhado porque os primatas da mata eram vulneráveis: como o vírus desaparece da região na década de 1940, não desenvolveram an�corpos. Logo os macacos passaram a ser mortos por seres humanos que temem contrair a doença. O massacre desses bichos, porém, é um “�ro no pé”, o que faz crescer a chance de contaminação de pessoas. Sem primatas para picar na copa das árvores, os mosquitos procuram sangue humano3. 4 De acordo com o pesquisador Ricardo Lourenço, do Ins�tuto Oswaldo Cruz, os mosquitos transmissores da doença se deslocaram do Norte para o Sudeste, voando ao longo de rios e corredores de mata. Es�ma-se que um mosquito seja capaz de voar 3 km por dia. Tanto o homem quanto o macaco, quando picados, só carregam o vírus da febre amarela por cerca de três dias. Depois disso, o organismo produz an�corpos4. Em cerca de dez dias, primatas e humanos ou morrem ou se curam, tornando-se imunes à doença.5 Para o infectologista Eduardo Massad, professor da Universidade de São Paulo, o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), em 2015, teve papel relevante na disseminação acelerada da doença no Sudeste. A destruição do habitat natural de diferentes espécies teria 17@professorferretto @prof_ferretto reduzido significa�vamente os predadores naturais dos mosquitos. A tragédia ambiental ainda teria afetado o sistema imunológico dos macacos, tornando-os mais susce�veis ao vírus. 6 Por que é importante determinar a “viagem” do vírus? Basicamente, para orientar as campanhas de vacinação. Em 2014, Eduardo Massad elaborou um plano de imunização depois que 11 pessoas morreram ví�mas de febre amarela em Botucatu (SP): “Eu fiz cálculos matemá�cos para determinar qual seria a proporção da população nas áreas não vacinadas que deveria ser imunizada, considerando os riscos de efeitos adversos da vacina. Infelizmente, a Secretaria de Saúde não adotou essa estratégia. Os casos acontecem exatamente nas áreas onde eu havia recomendado a vacinação. A Secretaria está correndo atrás do prejuízo”. Desde julho de 2017, mais de 100 pessoas foram contaminadas em São Paulo e mais de 40 morreram. 7 O Ministério da Saúde afirmou em nota que, desde 2016, os estados e municípios vêm sendo orientados para a necessidade de intensificar as medidas de prevenção. A orientação é que pessoas em áreas de risco se vacinem. NATHALIA PASSARINHO. Adaptado de bbc.com, 06/02/2018 No quinto parágrafo, são apresentadas duas hipóteses acerca da disseminação da febre amarela. A marca verbal que evidencia a formulação dessas hipóteses é o uso de: a) voz a�va b) modo subjun�vo c) futuro do pretérito d) forma no gerúndio GR0283 - (Unesp) Leia o trecho do romance Grande sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já revogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco me resta — só o deo-gra�as; e o troco. Bobeia. Na feira de São João Branco, um homem andava falando: — “A pátria não pode nada com a velhice...” Discordo. A pátria é dos velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anéis velhos sem valor, as pedras re�radas — ele dizia: aqueles todos anéis davam até choque elétrico... Não. Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em São Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sen�mento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real �ve, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. [...] Tem horas an�gas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. (Grande sertão: veredas, 2015.) Dupla negação: emprego conjugado de palavras nega�vas. (Celso Pedro Lu�. Abc da língua culta, 2010. Adaptado.) Observa-se a ocorrência de dupla negação no trecho: a) “A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sen�mento, uns com os outros acho que nem não misturam.” b) “Mas não é por disfarçar, não pense.” c) “O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia.” d) “Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça.” e) “De cada vivimento que eu real �ve, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa.” GR0350 - (Puccamp) No museu do passado O interesse pela história deu origem aos museus e também à decisão de preservar os monumentos históricos. A jus�fica�va inicial dessas inicia�vas era: lembrar-se para não repe�r. Não deu muito certo, pois nunca paramos de repe�r o pior. Na verdade, suspeito que nosso gosto pelos resíduos do passado não seja pedagógico. Por que nos importa a história? Por que deambulamos pelos museus? Acreditamos que os homens devam afirmar-se segundo as suas habilidades. Não queremos que o passado decida nosso des�no: o que nos importa, em princípio, é o futuro. ”Não me fale de suas façanhas de ontem, diga-me o que sabe fazer.” Se inventamos a arqueologia, a história, o museu, a restauração e a conservação das an�guidades, não foi para aprender uma lição. A razão dessa nossa paixão é o caráter incompleto da revolução moderna: o futuro é um terreno demasiado inquietante e incerto para aceitarmos que só ele nos defina; portanto, o passado assombra nossos dias. Não conseguimos esquecer: proclamamos a liberdade dos espíritos, mas cul�vamos an�gos preconceitos de raça, cultura e classe. Ou então nos dizemos autônomos, mas explicamos nossos atos pelos eventos da nossa infância ou pelo legado dos nossos pais. Numa cultura diferente da nossa, os restos do passado poderiam parecer bem mais importantes do que uma vida. Talvez um homem do An�go Regime nos dissesse que sem a presença do passado não haveria sociedade nem sujeitos. Talvez, para ele, a promessa de futuro con�da no 18@professorferretto @prof_ferretto sorriso de um menino valesse menos do que os artefatos que sustentam a memória de um povo. (Adaptado de: CALLIGARIS, Contardo. Terra de ninguém. S. Paulo, Cia das Letras, 2004, p. 331-332) Transpondo-se para a voz passiva a frase proclamamos a liberdade dos espíritos, mas cul�vamos an�gos preconceitos, as formas verbais deverão ser a) proclamam-se e cul�vam-se. b) é proclamada e são cul�vados. c) seja proclamada e cul�ve-se. d) foram proclamados e cul�varam-se. e) proclamavam-se e seriam cul�vados. GR0086 - (Unesp) Para responder à questão, leia a letra da canção “Bom conselho”, de Chico Buarque, composta em 1972. Ouça um bom conselho Que eu lhe dou de graça Inú�l dormir que a dor não passa Espere sentado Ou você se cansa Está provado: Quem espera nunca alcança Venha, meu amigo Deixe esse regaço Brinque com meu fogo Venha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes antes de pensar Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio vento na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade (www.chicobuarque.com.br) Observa-se, em ambos os pares, rima entre palavras de classes grama�cais diferentes em a) “graça” / “passa” (1ª estrofe) e “regaço” / “faço” (2ª estrofe). b) “regaço” / “faço” (2ª estrofe) e “onde” / “longe” (3ª estrofe). c) “onde” / “longe” (3ª estrofe) e “cidade” / “tempestade” (3ª estrofe). d) “sentado” / “povoado” (1ª estrofe) e “cansa” / “alcança” (1ª estrofe). e) “cansa” / “alcança” (1ª estrofe) e “graça” / “passa” (1ª estrofe). GR0340 - (Fuvest) Luc Boltanski e Ève Chiapello demonstram com clarezae sagacidade a capacidade antropofágica do capitalismo financeiro que “engole” a linguagem do protesto e da libertação para transformá-la e u�lizá-la para legi�mar a dominação social e polí�ca a par�r do próprio mercado. Na dimensão do mundo do trabalho, por exemplo, todo um novo vocabulário teve que ser inventado para escamotear as novas transformações e melhor oprimir o trabalhador. Com essa linguagem aparentemente libertadora, passa-se a impressão de que o ambiente de trabalho melhorou e o trabalhador se emancipou. Assim houve um esforço dirigido para transformar o trabalhador em "colaborador", para eufemizar e esconder a consciência de sua superexploração; tenta-setambém exaltar os supostos valores de liderança para possibilitar que, a par�r de agora, o próprio funcionário, não mais o patrão, passe a controlar e vigiar o colega de trabalho. Ou, ainda, há a intenção de difundir a cultura do empreendedorismo, segundo a qual todo mundo pode ser empresário de si mesmo. E, o mais importante, se ele falhar nessa empreitada, a culpa é apenas dele. É necessário sempre culpar individualmente a ví�ma pelo fracasso socialmente construído. SOUZA, Jessé. Como o racismo criou o Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2021. O uso dos verbos “passar” (2º parágrafo) e “tentar” (3º parágrafo) no texto, em sua forma pronominal, revela a) adequação à forma analí�ca da voz passiva. b) construção com conjunção integrante. c) marcação da impessoalidade do discurso. d) informalidade correspondente ao gênero discursivo. e) ênfase na reciprocidade da linguagem. GR0278 - (Unesp) Leia a crônica “A obra-prima”, de Lima Barreto, publicada na revista Careta em 25.09.1915. Marco Aurélio de Jesus, dono de um grande talento e senhor de um sólido saber, resolveu certa vez escrever uma obra sobre filologia. Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e que daria ao espírito inculto dos brasileiros as noções exatas da língua portuguesa. Trabalhou durante três anos, com esforço e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria trazer à confusão, à dificuldade de hoje, o saber de amanhã. Era uma obra-prima pelas generalizações e pelos exemplos. A quem dedicá-la? Como dedicá-la? E o prefácio? E Marco Aurélio resolve meditar. Ao fim de igual tempo havia resolvido o di�cil problema. A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de “duas palavras ao leitor” e levaria, como demonstração de sua submissão intelectual, uma dedicatória. Mas “duas palavras”, quando seriam centenas as que escreveria? Não. E Marco Aurélio contou as “duas palavras” 19@professorferretto @prof_ferretto uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance único, genial, destacou em relevo, ao alto da página “duzentas e uma palavras ao leitor”. Mas “pálida homenagem”... Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum: “pálida homenagem”? Não. E pensou. E de sua grave meditação, de seu profundo pensamento, saiu a frase límpida, a grande frase que definia a sua ideia da expressão e, num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase sublime: “lívida homenagem do autor”... Está aí como um grande gramá�co faz uma obra- prima. Leiam-na e verão como a coisa é bela. (Sá�ras e outras subversões, 2016.) Em “Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum: ‘pálida homenagem’?” (8º parágrafo), o termo sublinhado está empregado na acepção de a) “lançar-se rapidamente; a�rar-se, jogar-se”, como em “ela caiu no colo da mãe”. b) “incorrer em erro, falta; incidir”, como em “durante o depoimento, caiu em contradição”. c) “deixar-se enganar, ser ví�ma de logro”, como em “ele caiu no conto do vigário”. d) “cri�car severamente; acusar”, como em “a imprensa caiu em cima dos corruptos”. e) “entrar em determinado estado ou situação”, como em “durante o filme, caiu no sono”. GR0097 - (Ufam) Leia as frases a seguir: I. O animal foi morto. II. Comprou-se um automóvel importado. III. Por descuido, as duas crianças se machucaram no parque. IV. Sou barbeado quase diariamente. As vozes verbais das frases anteriores são, respec�vamente: a) a�va, passiva analí�ca, reflexiva, passiva sinté�ca. b) passiva sinté�ca, passiva analí�ca, a�va, passiva analí�ca. c) a�va, passiva sinté�ca, passiva analí�ca, reflexiva. d) passiva analí�ca, reflexiva, reflexiva, passiva sinté�ca. e) passiva analí�ca, passiva sinté�ca, reflexiva, passiva analí�ca. GR0352 - (Uerj) COM O OUTRO NO CORPO, O ESPELHO PARTIDO O que acontece com o sen�mento de iden�dade de uma pessoa que se depara, diante do espelho, com um rosto que não é seu? Como é possível manter a convicção razoavelmente estável que nos acompanha pela vida, a respeito do nosso ser, no caso de sofrermos uma alteração radical em nossa imagem? Perguntas como essas provocaram intenso debate a respeito da é�ca médica depois do transplante de parte da face em uma mulher que teve o rosto desfigurado por seu cachorro em Amiens, na França. Nosso sen�mento de permanência e unidade se estabelece diante do espelho, a despeito de todas as mudanças que o corpo sofre ao longo da vida. A criança humana, em um determinado estágio de maturação, iden�fica-se com sua imagem no espelho. Nesse caso, um transplante (ainda que parcial) que altera tanto os traços feno�picos quanto as marcas da história de vida inscritas na face destruiria para sempre o sen�mento de iden�dade do transplantado? Talvez não. Ocorre que o poder do espelho – esse de vidro e aço pendurado na parede – não é tão absoluto: o espelho que importa, para o humano, é o olhar de um outro humano. A cultura contemporânea do narcisismo*, ao remeter as pessoas a buscar con�nuamente o testemunho do espelho1, não considera que o espelho do humano é, antes de mais nada, o olhar do semelhante. É o reconhecimento do outro que nos confirma que exis�mos e que somos (mais ou menos) os mesmos ao longo da vida, na medida em que as pessoas próximas con�nuam a nos devolver nossa “iden�dade”. O rosto é a sede do olhar que reconhece e que também busca reconhecimento. É que o rosto não se reduz à dimensão da imagem: ele é a própria presen�ficação de um ser humano, em sua singularidade irrecusável. Além disso, dentre todas as partes do corpo, o rosto é a que faz apelo ao outro2. A parte que se comunica, expressa amor ou ódio e, sobretudo, demanda amor3. A literatura pode nos ajudar a amenizar o drama da paciente francesa. O personagem Robinson Crusoé do livro Sexta-feira ou os limbos do Pacífico, de Michel Tournier, perde a noção de sua iden�dade e enlouquece, na falta do olhar de um semelhante que lhe confirme que ele é um ser humano. No início do romance, o náufrago solitário tenta fazer da natureza seu espelho. Faz do estranho, familiar, trabalhando para “civilizar” a ilha e representando diante de si mesmo o papel de senhor sem escravos, mestre sem discípulos. Mas depois de algum tempo o isolamento degrada sua humanidade. A paciente francesa, que agradeceu aos médicos a recomposição de uma face humana, ainda que não seja a “sua”4, vai agora depender de um esforço de tolerância e generosidade por parte dos que lhe são próximos. Parentes e amigos terão de superar o desconforto de olhar para ela e não encontrar a mesma de antes. Diante de um rosto outro, deverão ainda assim confirmar que ela con�nua sendo ela. E amar a mulher estranha a si mesma que renasceu daquela operação. MARIA RITA KEHL. Adaptado de folha.uol.com.br, 11/12/2005. *narcisismo − amor do indivíduo por sua própria imagem o espelho do humano é, antes de mais nada, o olhar do semelhante. (2º parágrafo, sublinhado) 20@professorferretto @prof_ferretto No trecho, a expressão sublinhada enfa�za uma ideia, tal como se observa em: a) A cultura contemporânea do narcisismo, ao remeter as pessoas a buscar con�nuamente o testemunho do espelho, (1º itálico) b) Além disso, dentre todas as partes do corpo, o rosto é a que faz apelo ao outro. (2º itálico) c) A parte que se comunica, expressa amor ou ódio e, sobretudo, demanda amor. (3º itálico) d) A paciente francesa, que agradeceu aos médicos a recomposição de uma face humana, ainda que não seja a “sua”, (4º itálico) GR0354 - (Uerj) A questão refere-se ao conto “A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa. Guimarães Rosa afirmou, em uma entrevista, que somente renovando a língua é que se pode renovar o mundo. Visando a essa renovação, recorria a neologismos e inversões pouco usuais de termos, explorando novos sen�dos em seus textos. Um exemplo dessas inversões encontra-se em: a) Nossa mãe era quem regia, b) Nossa mãe muito não se demonstrava. c) Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, d) Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; GR0520 - (Fuvest)Chegada do Perseverance abre caminho para retorno de amostras de Marte Agora que o rover Perseverance está seguro e saudável na super�cie de Marte, vários grupos de trabalho espalhados pelo mundo podem respirar aliviados e pensar nos passos futuros do programa de exploração marciana -que vai agora focar seus esforços no cobiçado retorno de amostras de volta à Terra. A missão atual é um primeiro passo crucial. Afinal, cabe ao Percy, como foi apelidado o jipe, fazer o escru�nio e a escolha das rochas (comandado por cien�stas na Terra, claro) que serão acondicionadas por ele em pequenos tubos lacrados e ultrarresistentes e depois deixadas, juntas, em algum canto da super�cie de Marte. Ele terá vários anos para fazer isso durante a exploração da cratera Jezero, um dos locais mais promissores para a busca de evidências de vida pregressa marciana. Mas e aí, o que vem depois? Nasa e ESA, respec�vamente agências espaciais americana e europeia, já trabalham conjuntamente nos próximos passos, que envolvem pelo menos mais dois, e possivelmente três, lançamentos diferentes a fim de trazer de volta o cobiçado material. Ainda faltam definições, mas trabalhos 20 preliminares sugerem a seguinte sequência. Em 2026, parte um módulo de pouso com um pequeno foguete, de menos de três metros, instalado a bordo. Projetada e construída pela Nasa, a nave pousaria próximo ao local onde desceu o Perseverance. E aí, talvez par�ndo do próprio módulo, talvez enviado num lançamento à parte, 1um pequeno rover produzido pela ESA encontraria as amostras e as instalaria no interior do foguete. 2Em paralelo, em 2026 ou 2027, um orbitador com propulsão elétrica, outra contribuição da ESA, par�ria da Terra e se instalaria em órbita ao redor de Marte. Em meados de 2029, 3o foguete seria disparado (o primeiro lançamento feito de outro planeta!), colocando a cápsula com as amostras em órbita marciana. Lá ela se acoplaria ao orbitador europeu, que por sua vez traria o conteúdo de volta à Terra, em 2031. 4A empreitada toda custaria cerca de US$ 5 bilhões, sem contar os US$ 2,7 bilhões empenhados na missão do Perseverance. 5A recompensa, contudo, teria valor incomensurável. 6Cien�stas já �veram a chance de analisar algumas amostras de Marte - meteoritos provenientes do planeta vermelho -, mas nunca com a chance de escolher quais rochas, conhecendo o contexto geológico de onde elas par�ram. E 7amostras trazidas de volta con�nuam a render novos resultados por décadas, conforme equipamentos mais sofis�cados surgem para estudá-las. Não à toa, as amostras trazidas pelo programa Apollo, que levou humanos à Lua entre 1969 e 1972, con�nuam sendo estudadas até hoje. Ademais, é fundamental demonstrar a capacidade de trazer uma pequena carga de Marte antes que se ambicione trazer uma grande carga - como humanos - em uma futura missão tripulada. Nogueira, S. "Chegada do Perseverance abre caminho para retorno de amostras de Marte". Folha de São Paulo. 21.2.2021, Disponível em: h�ps://bit.Iv/3bZL69q/.Adaptado No fragmento "... a nave pousaria próximo ao local onde desceu o Perseverance", “próximo" e “onde" são, respec�vamente, classificados como a) substan�vo e pronome rela�vo. b) adje�vo e pronome rela�vo. c) advérbio e pronome rela�vo. d) adje�vo e advérbio. e) advérbio e advérbio. GR0264 - (Unesp) O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-se. Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o úl�mo teve angina e a mulher enforcou-se. Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente. Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode interessar aos arquitetos, homens que provavelmente não lerão isto. Ficou tudo confortável e bonito. Naturalmente deixei de 21@professorferretto @prof_ferretto dormir em rede. Comprei móveis e diversos objetos que entrei a u�lizar com receio, outros que ainda hoje não u�lizo, porque não sei para que servem. Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas. Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive aba�mentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre �ve a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legí�mas as ações que me levaram a obtê-las. Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E os negócios desdobraram-se automa�camente. Automa�camente. Di�cil? Nada! Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços. Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices que pra�carem viram sabedoria. Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca – e engolem tudo. Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta�vas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salus�ano Padilha. Houve reclamações. – Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à jus�ça. Como a jus�ça era cara, não foram à jus�ça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralí�co de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando Direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz. Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira. Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois ar�gos, chamou-me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe polí�co local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis. (S. Bernardo, 1996.) Verifica-se o emprego de verbo no modo impera�vo no seguinte trecho: a) “Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços.” (7º parágrafo) b) “Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto.” (10º parágrafo) c) “Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente.” (3º parágrafo) d) “Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas.” (5º parágrafo) e) “Não senhor, não procedi nem percorri. Tive aba�mentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas.” (6º parágrafo) GR0105 - (Espm) Aborto, porte de armas e o presidente Donald Trump foram alguns dos assuntos que dominaram a primeira audiência de confirmação do juiz conservador Bre� Kavanaugh para a Suprema Corte dos Estados Unidos, realizada em meio a protestos de a�vistas e tenta�vas de adiamento do processo por parte de democratas. Kavanaugh passará por mais dois dias de saba�na, na quarta e na quinta, e testemunhas contra e a favor do juiz devem ser ouvidas na sexta. (Folha de S.Paulo, 04/09/2018) Assinale a afirmação correta sobre o trecho: “... testemunhas contra e a favor do juiz devem ser ouvidas na sexta...” A frase está:a) na voz passiva analí�ca, enfa�zando o sujeito paciente “testemunhas”, alvo do processo verbal. b) na voz a�va, enfa�zando o agente indeterminado do processo expresso pelo verbo. c) na voz passiva sinté�ca e, se transpuséssemos para a voz a�va, teríamos “devem ouvir testemunhas contra e a favor do juiz na sexta”, enfa�zando o sujeito indeterminado. d) na voz passiva analí�ca e, se transpuséssemos para a voz a�va, teríamos “ouvirão testemunhas contra e a favor do juiz na sexta”, realçando o sujeito indeterminado na ação de ouvir. e) na voz passiva e, se transpuséssemos para a voz a�va, teríamos “deverão ouvir testemunhas contra e a favor do juiz na sexta”, dando destaque em “testemunhas”. GR0528 - (Ufrgs) 1Leia isto. A depender da maneira como a frase acima for falada, ela será entendida como um pedido, uma ordem ou uma sugestão. Suponha, por exemplo, que ela seja falada por alguém que acabou de chegar do consultório médico e não consegue decifrar o que está escrito na receita. Suponha agora que seja falada por um o�almologista, apontando para a primeira 2linha de um quadro de letras, durante uma avaliação o�almológica. Suponha ainda que seja falada por um amigo, numa livraria, segurando o novo livro de Daniel Galera. Agora suponha que a pessoa com a receita quer, na 22@professorferretto @prof_ferretto verdade, ironizar porque sabe que ninguém vai entender os rabiscos do médico e que o amigo, fã de Daniel Galera, denuncia com a sugestão o entusiasmo pelo novo livro. Suponha, por fim, que 3o paciente examinado comece a ler a segunda linha do quadro e seja interrompido pelo o�almologista, 4que aponta para a primeira linha e fala. “Leia ISTO". Como uma mesma 5combinação de sons consegue expressar sen�dos diversos? Como vimos, a frase que inicia este texto 6pode ser u�lizada para realizar diferentes ações (um pedido ou uma ordem, por exemplo), pode indicar uma a�tude (ironia, por exemplo) ou uma emoção (alegria, entusiasmo, euforia etc.). Também é possível destacar uma das palavras da frase, de maneira a indicar um contraste (no exemplo, o o�almologista apontou para o que estava escrito na primeira linha do quadro, em oposição ao que estava escrito na segunda linha). 7A frase, escrita como está, não consegue 8sozinha, sem a ajuda de um contexto, expressar nenhum desses sen�dos. Quando falada, sim. Mas que 9propriedades da fala são responsáveis pela diversidade de sen�dos que 10ela é capaz de expressar? Não são certamente as 11propriedades de cada segmento sonoro individual que formam, em combinação, as palavras. São propriedades 12que não estão no nível do segmento, mas 13num nível acima 14dele. Uma frase como a de nosso exemplo pode ser enunciada mais lenta ou mais rapidamente. Podemos sobrepor uma duração 15diferenciada a um mesmo grupo de sons. 16Também é 17possível falar a frase 18bem 19baixinho ou até mesmo gritá-la. É possível então regular a intensidade de enunciação de um mesmo conjunto de sons. Por fim, também podemos usar um tom mais grave (grosso) ou mais agudo (fino) para falar uma mesma frase. Por sua vez, a escrita tenta capturar a entonação de diversas. maneiras. Assim, por exemplo, temos os sinais de 20pontuação; eles servem para indicar se determinada frase é uma pergunta ou uma afirmação e também para indicar quando uma frase termina e outra começa ou quando ela não terminou por completo e ainda há mais por dizer. Na escrita, u�lizamos marcas para explicitar que vamos iniciar uma nova porção do discurso, u�lizamos maiúsculas ou itálicos para indicar ênfase e assim por diante. No entanto, a escrita não consegue expressar muito do que é possível com a entonação. Comumente temos de indicar 21expressamente que estamos 22sendo irônicos ou gen�s, 23por exemplo, para evitar mal- entendidos na escrita, O que, mesmo de maneira restrita, indica o modo como um texto deve ser lido ou compreendido. Adaptado de: OLIVEIRA JR., M. O que é entonação? In: OTHERO, G. A.; FLORES, V. N. O que sabemos sobre a linguagem? São Paulo: Parábola, 2022. No bloco superior abaixo, estão listadas palavras re�radas do texto; no inferior, afirmações sobre a classe grama�cal dessas palavras. Associe adequadamente o bloco superior ao inferior. (__) linha (ref. 2). (__) sozinha (ref. 8). (__) diferenciada (ref. 15). (__) bem (ref. 18). (__) baixinho (ref. 19). 1. Palavras que estão sendo empregadas como adje�vos. 2. Palavras que estão sendo empregadas como substan�vos. 3. Palavras que estão sendo empregadas como advérbios. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) 2 – 1 – 1 – 3 – 3. b) 1 – 3 – 3 – 2 – 1. c) 2 – 3 – 1 – 1 – 2. d) 1 – 1 – 3 – 3 – 3. e) 2 – 1 – 3 – 1 – 3. GR0356 - (Uerj) Quem tem o direito de falar? A polí�ca não é uma questão apenas de circulação de bens e riquezas. Na verdade, a polí�ca é também uma questão de circulação de afetos, da maneira como eles irão criar vínculos sociais, afetando os que fazem parte desses vínculos. A maneira como somos afetados define o que somos e o que não somos capazes de ver, sen�r e perceber. Definido o que vejo, sinto e percebo, definem-se o campo das minhas ações, a maneira como julgarei, o que faz parte e o que está excluído do meu mundo. Percebam, por exemplo, como um dos maiores feitos polí�cos de 2015 foi a circulação de uma mera foto, a foto do menino sírio morto em um naufrágio no Mar Mediterrâneo. Nesse sen�do, foi muito interessante pesquisar as reações de certos europeus que invadiram sites de no�cias de seu con�nente com posts e comentários. Uma quan�dade impressionante deles reclamava daqueles jornais que decidiram publicar a foto. Eles diziam basicamente a mesma coisa: “parem de nos mostrar o que não queremos ver”. (...) VLADIMIR SAFATLE. Adaptado de Folha de S. Paulo, 25/09/2015. No segundo parágrafo, observa-se a alternância no emprego da primeira pessoa do plural com a do singular. O emprego da primeira pessoa do singular estabelece o efeito de: a) revelar uma culpa b) antecipar um preconceito c) interpelar uma individualidade d) reafirmar um posicionamento GR0527 - (Eear) Leia os provérbios abaixo: 23@professorferretto @prof_ferretto I. Muito riso, pouco siso. II. O muito sem Deus não é nada. III. Muito ajuda quem não atrapalha. A palavra “muito” neles presente é advérbio somente em a) III. b) I e II. c) I e III. d) II e III. GR0310 - (Unesp) Leia o trecho de um ensaio de Michel de Montaigne (1533- 1592). Há alguma razão em fazer o julgamento de um homem pelos aspectos mais comuns de sua vida; mas, tendo em vista a natural instabilidade de nossos costumes e opiniões, muitas vezes me pareceu que mesmo os bons autores estão errados em se obs�narem em formar de nós uma ideia constante e sólida. (...) Em toda a An�guidade é di�cil escolher uma dúzia de homens que tenham ordenado sua vida num projeto definido e seguro, que é o principal obje�vo da sabedoria. Pois para resumi-la por inteiro numa só palavra e abranger em uma só todas as regras de nossa vida, “a sabedoria”, diz um an�go, “é sempre querer a mesma coisa, é sempre não querer a mesma coisa”, “eu não me dignaria”, diz ele, “a acrescentar ‘contanto que a tua vontade esteja certa’, pois se não está certa, é impossível que sempre seja uma só e a mesma.” Na verdade, aprendi outrora que o vício é apenas o desregramento e a falta de moderação; e, por conseguinte, é impossível o imaginarmos constante. É uma frase de Demóstenes, dizem, que “o começo de toda virtude são a reflexão e a deliberação, e seu fim e sua perfeição, a constância”. Se, guiados pela reflexão, pegássemos certa via, pegaríamos a mais bela, mas ninguém pensa antes de agir: “O que ele pediu, desdenha; exige o que acaba de abandonar; agita-se e sua vida não se dobra a nenhuma ordem.” (Michel de Montaigne. Os ensaios: uma seleção, 2010. Adaptado.) “o começo de toda virtude são a reflexão e a deliberação, e seu fim e sua perfeição, a constância” (2º parágrafo) Nesse trecho, a segunda vírgula é empregada com a finalidade de a) separar o voca�vo. b)indicar a supressão de um verbo. c) separar dois objetos diretos. d) separar o sujeito de seu predicado. e) indicar a supressão do conec�vo “e”. GR0383 - (Unicamp) Entre todas as palavras do momento, a mais flamejante talvez seja desigualdade. E nem é uma boa palavra, incomoda. Começa com des. Des de desalento, des de desespero, des de desesperança. Des, defini�vamente, não é um bom prefixo. Desigualdade. A palavra do ano, talvez da década, não importa em que dicionário. Doravante ouviremos falar muito nela. De-si-gual-da-de. Há quem não veja nem soletre, mas está escrita no des�no de todos os busões da cidade, sen�do centro/subúrbio, na linha reta de um trem. Solano Trindade, no sinal fechado, fez seu primeiro rap, “tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome”, somente com esses substan�vos. Você ainda não conhece o Solano? Corra, dá tempo. Dá tempo para você entender que vivemos essa desigualdade. Pegue um busão da Avenida Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o vale-transporte na catraca e simbora — mais de 30 quilômetros. O patrão jardinesco vive 23 anos a mais, em média, do que um humaníssimo habitante da Cidade Tiradentes, por todas as razões sociais que a gente bem conhece. Evitei as esta�s�cas nessa crônica. Podia matar de desesperança os leitores, os números rendem manchete, mas carecem de rostos humanos. Pega a visão, imprensa, só há uma possibilidade de fazer a grande cobertura: mire-se na desigualdade, talvez não haja mais jeito de achar que os pontos da bolsa de valores signifiquem a ideia de fazer um país. (Adaptado de Xico Sá, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El País, 28/10/2019. Disponível em h�ps://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/28/ opinion/ 1572287747_637859.html?�clid =IwAR1VPA7qDYs1Q0Ilcdy6UGAJTwBO _snMDUAw4yZpZ3zyA1ExQx _XB9Kq2qU. Acessado em 25/05/2020.) Assinale a alterna�va que iden�fica corretamente recursos linguís�cos explorados pelo autor nessa crônica. a) Uso de verbos no impera�vo, linguagem informal, texto impessoal. b) Marcas de coloquialidade, uso de primeira pessoa, linguagem obje�va. c) Marcas de oralidade, uso expressivo de recursos ortográficos, subje�vidade do autor. d) Uso de variação linguís�ca, linguagem neutra, apelo ao tom coloquial. GR0334 - (Fuvest) Romance LIII ou Das Palavras Aéreas Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna, e, em tão rápida existência, tudo se forma e transforma! 24@professorferretto @prof_ferretto Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! (...) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Perdão podíeis ter sido! — sois madeira que se corta, — sois vinte degraus de escada, — sois um pedaço de corda... — sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa... Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem... — sois um homem que se enforca! Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência Ao subs�tuir a pessoa verbal u�lizada para se referir ao substan�vo “palavras” pela 3ª pessoa do plural, os verbos dos versos “sois de vento, ides no vento,” (v. 4) / “Perdão podíeis ter sido!” (v. 12)! / “Éreis um sopro na aragem...” (v. 20) seriam conjugados conforme apresentado na alterna�va: a) são, vão, podiam, eram. b) seriam, iriam, podiam, serão. c) eram, foram, poderiam, seriam. d) são, vão, poderiam, eram. e) eram, iriam, podiam, seriam. GR0306 - (Unesp) Leia o trecho do conto “A menina, as aves e o sangue”, do escritor moçambicano Mia Couto (1955 - ). Aconteceu, certa vez, uma menina a quem o coração ba�a só de quando em enquantos. A mãe sabia que o sangue estava parado pelo roxo dos lábios, palidez nas unhas. Se o coração estancava por demasia de tempo a menina começava a esfriar e se cansava muito. A mãe, então, se afligia: roía o dedo e deixava a unha intacta. Até que o peito da filha voltava a dar sinal: — Mãe, venha ouvir: está a bater! A mãe acorria, debruçando a orelha sobre o peito estreito que soletrava pulsação. E pareciam, as duas, presenciando pingo de água em pleno deserto. Depois, o sangue dela voltava a calar, resina empurrando a arrastosa vida. Até que, certa noite, a mulher ganhou para o susto. Foi quando ela escutou os pássaros. Sentou na cama: não eram só piares, chilreinações. Eram rumores de asas, brancos drapejos de plumas. A mãe se ergueu, pé descalço pelo corredor. Foi ao quarto da menina e joelhou-se junto ao leito. Sen�u a transpiração, reconheceu o seu próprio cheiro. Quando lhe ia tocar na fronte a menina despertou: — Mãe, que bom, me acordou! Eu estava sonhar pássaros. A mãe sor�u-se de medo, aconchegou o lençol como se protegesse a filha de uma maldição. Ao tocar no lençol uma pena se desprendeu e subiu, levinha, volteando pelo ar. A menina suspirou e a pluma, algodão em asa, de novo se ergueu, rodopiando por alturas do tecto. A mãe tentou apanhar a errante plumagem. Em vão, a pena saiu voando pela janela. A senhora ficou espreitando a noite, na ilusão de escutar a voz de um pássaro. Depois, re�rou-se, adentrando- se na solidão do seu quarto. Dos pássaros selou-se o segredo, só entre as duas.[...] Com o tempo, porém, cada vez menos o coração se fazia frequente. Quase deixou de dar sinais à vida. Até que essa imobilidade se prolongou por consecu�vas demoras. A menina falecera? Não se vislumbravam sinais dessa derradeiragem. Pois ela seguia pra�cando vivências, brincando, sempre cansadinha, resfriorenta. Uma só diferença se contava. Já à noite a mãe não escutava os piares. — Agora não sonha, filha? — Ai mãe, está tão escuro no meu sonho! Só então a mãe arrepiou decisão e foi à cidade: — Doutor, lhe respeito a permissão: queria saber a saúde de minha única. É seu peito... nunca mais deu sinal. O médico corrigiu os óculos como se entendesse rec�ficar a própria visão. Clareou a voz, para melhor se autorizar. E disse: — Senhora, vou dizer: a sua menina já morreu. — Morta, a minha menina? Mas, assim...? — Esta é a sua maneira de estar morta. A senhora escutou, mãos juntas, na educação do colo. Anuindo com o queixo, ia esbugolhando o médico. Todo seu corpo dizia sim, mas ela, dentro do seu centro, duvidava. Pode-se morrer assim com tanta leveza, que nem se nota a re�rada da vida? E o médico, lhe amparando, já na porta: — Não se entristonhe, a morte é o fim sem finalidade. A mãe regressou à casa e encontrou a filha entoando danças, cantarolando canções que nem existem. Se chegou a ela, tocou-lhe como se a miúda inexis�sse. A sua pele não desprendia calor. — Então, minha querida não escutou nada? Ela negou. A mãe percorreu o quarto, vasculhou recantos. Buscava uma pena, o sinal de um pássaro. Mas nada não encontrou. E assim, ficou sendo, então e adiante. Cada vez mais fria, a moça brinca, se aquece na torreira do sol. Quando acorda, manhã alta, encontra flores que a mãe depositou ao pé da cama. Ao fim da tarde, as duas, mãe e filha, passeiam pela praça e os velhos descobrem a cabeça em sinal de respeito. E o caso se vai seguindo, estória sem história. Uma única, silenciosa, sombra se instalou: de noite, a mãe deixou de dormir. Horas a fio a sua cabeça anda em serviço de escutar, a ver se regressam as vozearias das aves. (Mia Couto. A menina sem palavra, 2013.) Ocorre o pronome apassivador “se” no seguinte trecho: 25@professorferretto @prof_ferretto a) “A mãe, então, se afligia: roía o dedo e deixava a unha intacta.” (1º parágrafo) b) “Cada vez mais fria, a moça brinca, se aquece na torreira do sol.” (21º parágrafo) c) “Clareou a voz, para melhor se autorizar.” (12º parágrafo) d) “E o caso se vai seguindo, estória sem história.” (22º parágrafo) e) “Não se vislumbravam sinais dessa derradeiragem.” (7º parágrafo) GR0099 - (Unesp) Numa an�ga anedota que circulava na hoje falecida República Democrá�ca Alemã, um operário alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda correspondência será lida pelos censores, ele combina com os amigos: “Vamos combinar um código: se umacarta es�ver escrita em �nta azul, o que ela diz é verdade; se es�ver escrita em �nta vermelha, tudo é men�ra.” Um mês depois, os amigos recebem uma carta escrita em �nta azul: “Tudo aqui é maravilhoso: as lojas vivem cheias, a comida é abundante, os apartamentos são grandes e bem aquecidos, os cinemas exibem filmes do Ocidente, há muitas garotas, sempre prontas para um programa – o único senão é que não se consegue encontrar �nta vermelha.” Neste caso, a estrutura é mais refinada do que indicam as aparências: apesar de não ter como usar o código combinado para indicar que tudo o que está dito é men�ra, mesmo assim ele consegue passar a mensagem. Como? Pela introdução da referência ao código, como um de seus elementos, na própria mensagem codificada. (Bem-vindo ao deserto do real!, 2003.) “Um mês depois, os amigos recebem uma carta escrita em �nta azul [...].” Assinale a alterna�va que expressa, na voz passiva, o conteúdo dessa oração. a) Um mês depois, uma carta escrita em �nta azul seria recebida pelos amigos. b) Os amigos deveriam ter recebido, um mês depois, uma carta escrita em �nta azul. c) Um mês depois, uma carta escrita em �nta azul foi recebida pelos amigos. d) Um mês depois, uma carta escrita em �nta azul é recebida pelos amigos. e) Os amigos receberiam, um mês depois, uma carta escrita em �nta azul. GR0100 - (Espcex) Polí�ca pública de saneamento básico: as bases do saneamento como direito de cidadania e os debates sobre novos modelos de gestão Ana Lucia Bri�o Professora Associada do PROURB-FAU-UFRJ Pesquisadora do INCT Observatório das Metrópoles A Assembleia Geral da ONU reconheceu em 2010 que o acesso à água potável e ao esgotamento sanitário é indispensável para o pleno gozo do direito à vida. É preciso, para tanto, fazê-lo de modo financeiramente acessível e com qualidade para todos, sem discriminação. Também obriga os Estados a eliminarem progressivamente as desigualdades na distribuição de água e esgoto entre populações das zonas rurais ou urbanas, ricas ou pobres. No Brasil, dados do Ministério das Cidades indicam que cerca de 35 milhões de brasileiros não são atendidos com abastecimento de água potável, mais da metade da população não tem acesso à coleta de esgoto, e apenas 39% de todo o esgoto gerado são tratados. Aproximadamente 70% da população que compõe o déficit de acesso ao abastecimento de água possuem renda domiciliar mensal de até 0,5 salário-mínimo por morador, ou seja, apresentam baixa capacidade de pagamento, o que coloca em pauta o tema do saneamento financeiramente acessível. Desde 2007, quando foi criado o Ministério das Cidades, iden�ficam-se avanços importantes na busca de diminuir o déficit já crônico em saneamento e pode-se caminhar alguns passos em direção à garan�a do acesso a esses serviços como direito social. Nesse sen�do destacamos as Conferências das Cidades e a criação da Secretaria de Saneamento e do Conselho Nacional das Cidades, que deram à polí�ca urbana uma base de par�cipação e controle social. Houve também, até 2014, uma progressiva ampliação de recursos para o setor, sobretudo a par�r do PAC 1 e PAC 2; a ins�tuição de um marco regulatório (Lei 11.445/2007 e seu decreto de regulamentação) e de um Plano Nacional para o setor, o PLANSAB, construído com amplo debate popular, legi�mado pelos Conselhos Nacionais das Cidades, de Saúde e de Meio Ambiente, e aprovado por decreto presidencial em novembro de 2013. Esse marco legal e ins�tucional traz aspectos essenciais para que a gestão dos serviços seja pautada por uma visão de saneamento como direito de cidadania: a) ar�culação da polí�ca de saneamento com as polí�cas de desenvolvimento urbano e regional, de habitação, de combate à pobreza e de sua erradicação, de proteção ambiental, de promoção da saúde; e b) a transparência das ações, baseada em sistemas de informações e processos decisórios par�cipa�vos ins�tucionalizados. A Lei 11.445/2007 reforça a necessidade de planejamento para o saneamento, por meio da obrigatoriedade de planos municipais de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, drenagem e manejo de águas pluviais, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Esses planos são obrigatórios para que possam ser estabelecidos contratos de delegação da prestação de serviços e para que possam ser acessados recursos do governo federal (OGU, FGTS e FAT), com prazo final para sua elaboração terminando em 2017. A Lei reforça também a par�cipação e o controle social, através de diferentes mecanismos como: audiências públicas, definição de conselho municipal responsável pelo acompanhamento e fiscalização da polí�ca de saneamento, sendo que a definição desse conselho também é condição para que possam ser acessados recursos do governo federal. 26@professorferretto @prof_ferretto O marco legal introduz também a obrigatoriedade da regulação da prestação dos serviços de saneamento, visando à garan�a do cumprimento das condições e metas estabelecidas nos contratos, à prevenção e à repressão ao abuso do poder econômico, reconhecendo que os serviços de saneamento são prestados em caráter de monopólio, o que significa que os usuários estão subme�dos às a�vidades de um único prestador. FONTE: adaptado de h�p://www.assemae.org.br/ar�gos/item/1762-saneamento- basico-como-direito-de-cidadania Marque a alterna�va que mostra a voz passiva pronominal. a) Necessita-se de água potável para 35 milhões de brasileiros. b) Precisa-se de que a coleta de esgoto, em todo o mundo, seja uma prioridade. c) Trata-se de apenas 39% de todo o esgoto gerado pela população. d) Iden�ficou-se importante avanço na questão do saneamento. e) Pode-se caminhar alguns passos em direção à garan�a do acesso a esses serviços. GR0382 - (Unicamp) No conto “O espelho”, de Machado de Assis, uma personagem assume a palavra e narra uma história. (Machado de Assis, O Espelho. Campinas: Editora da Unicamp, 2019.) Assinale a alterna�va que explicita sua interlocução com os cavalheiros presentes. a) “Lembra-me de alguns rapazes que se davam comigo, e passaram a olhar-me de revés, durante algum tempo.” b) “Ah! pérfidos! Mal podia eu suspeitar a intenção secreta dos malvados.” c) “Imaginai um homem que, pouco a pouco, emerge de um letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a ver.” d) “O espelho estava naturalmente muito velho; mas via se- lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo.” GR0360 - (Uerj) Soneto de separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a úl�ma chama E da paixão fez-se o pressen�mento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. Vinicius de Moraes. São Paulo: Companhia das Letras, 2009 Uma série de transformações é apresentada pelo verbo fazer acompanhado da palavra se. Na cena construída no poema, essa estrutura linguís�ca produz o seguinte efeito: a) apagamento dos parceiros da relação b) esquecimento da sensação de perda c) neutralização dos espaços de conflito d) indefinição do momento da despedida GR0258 - (Unesp) Leia o soneto “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia”, do poeta Gregório de Matos (1636-1696). Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em con�nuas tristezas a alegria. Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (Poemas escolhidos, 2010.) Verifica-se a ocorrência de um termo subentendido,mas citado no verso anterior, em: a) “Se é tão formosa a Luz, por que não dura?” (2ª estrofe) b) “Como o gosto da pena assim se fia?” (2ª estrofe) c) “Em con�nuas tristezas a alegria.” (1ª estrofe) d) “Na formosura não se dê constância,” (3ª estrofe) e) “Depois da Luz se segue a noite escura,” (1ª estrofe) GR0361 - (Uerj) O ensino da �sica sempre foi um grande desafio. Nos úl�mos anos, muitos esforços foram feitos com o obje�vo de ensiná-la desde as séries iniciais do ensino fundamental, no contexto do ensino de ciências. Porém, como disciplina 27@professorferretto @prof_ferretto regular, a �sica aparece no ensino médio, quando se torna “um terror” para muitos estudantes. Várias pesquisas vêm tentando iden�ficar quais são as principais dificuldades do ensino de �sica e das ciências em geral. Em par�cular, a queixa que sempre se detecta é que os estudantes não conseguem compreender a linguagem matemá�ca na qual, muitas vezes, os conceitos �sicos são expressos. Outro ponto importante é que as questões que envolvem a �sica são apresentadas fora de uma contextualização do co�diano das pessoas, o que dificulta seu aprendizado. Por fim, existe uma enorme carência de professores formados em �sica para ministrar as aulas da disciplina. As pessoas que vão para o ensino superior e que não são da área de ciências exatas pra�camente nunca mais têm contato com a �sica, da mesma maneira que os estudantes de �sica, engenharia e química poucas vezes voltam a ter contato com a literatura, a história e a sociologia. É triste notar que a especialização na formação dos indivíduos costuma deixá-los distantes de partes importantes da nossa cultura, da qual as ciências �sicas e as humanidades fazem parte. Mas vamos pensar em soluções. Há alguns anos, ofereço um curso chamado “Física para poetas”. A ideia não é original – ao contrário, é muito u�lizada em diversos países e aqui mesmo no Brasil. Seu obje�vo é apresentar a �sica sem o uso da linguagem matemá�ca e tentar mostrá-la próxima ao co�diano das pessoas. Procuro destacar a beleza dessa ciência, associando-a, por exemplo, à poesia e à música. Alguns dos temas que trabalho em “Física para poetas” são inspirados nos ar�gos que publico. Por exemplo, “A busca pela compreensão cósmica” é uma das aulas, na qual apresento a evolução dos modelos que temos do universo. Começando pelas visões mís�cas e mitológicas e chegando até as modernas teorias cosmológicas, falo sobre a busca por responder a questões sobre a origem do universo e, consequentemente, a nossa origem, para compreendermos o nosso lugar no mundo e na história. Na aula “Memórias de um carbono”, faço uma narra�va de um átomo de carbono contando sua história, em primeira pessoa, desde seu nascimento, em uma distante estrela que morreu há bilhões de anos, até o momento em que sai pelo nariz de uma pessoa respirando. Temas como astronomia, biologia, evolução e química surgem ao longo dessa aula, bem como as músicas “Á�mo de pó” e “Estrela”, de Gilberto Gil, além da poesia “Psicologia de um vencido”, de Álvares de Azevedo. Em “O tempo em nossas vidas”, apresento esse fascinante conceito que, na verdade, vai muito além da �sica: está presente em áreas como a filosofia, a biologia e a psicologia. Algumas músicas de Chico Buarque e Caetano Veloso, além de poesias de Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade, ajudaram nessa abordagem. Não faltou também “Tempo Rei”, de Gil. A arte é uma forma importante do conhecimento humano. Se músicas e poesias inspiram as mentes e os corações, podemos mostrar que a ciência, em par�cular a �sica, também é algo inspirador e belo, capaz de criar certa poesia e encantar não somente aos �sicos, mas a todos os poetas da natureza. ADILSON DE OLIVEIRA. Adaptado de cienciahoje.org.br, 08/08/2016. Por exemplo, “A busca pela compreensão cósmica” é uma das aulas, na qual apresento a evolução dos modelos que temos do universo. (itálico) No trecho, a forma verbal sublinhada expressa uma ação que se caracteriza como: a) interrompida b) simultânea c) concluída d) reiterada GR0323 - (Fuvest) Sim, estou me associando à campanha nacional contra os verbos que acabam em "ilizar". Se nada for feito, daqui a pouco eles serão mais numerosos do que os terminados simplesmente em "ar". Todos os dias os maus tradutores de livros de marke�ng e administração disponibilizam mais e mais termos infelizes, que imediatamente são operacionalizados pela mídia, reinicializando1 palavras que já exis�am e eram perfeitamente claras e eufônicas. A doença está tão disseminada que muitos verbos honestos, com currículo de ó�mos serviços prestados, estão a ponto de cair em desgraça entre pessoas de ouvidos sensíveis. Depois que você fica alérgico a disponibilizar, como você vai admi�r, digamos, “viabilizar2”? É triste demorar tanto tempo para a gente se dar conta de que "desincompa�bilizar3" sempre foi um palavrão. FREIRE, Ricardo. Complicabilizando. Época, ago. 2003. Com base no texto, é correto afirmar: a) A “campanha nacional” a que se refere o autor tem por obje�vo banir da língua portuguesa os verbos terminados em “ilizar”. b) O autor considera o emprego de verbos como “reinicializando” (1º itálico) e “viabilizar” (2º itálico) uma verdadeira “doença”. c) A maioria dos verbos terminados em “(i)lizar”, presentes no texto, foi incorporada à língua por influência estrangeira. d) O autor, no final do primeiro parágrafo, acaba usando involuntariamente os verbos que ele condena. e) Os prefixos “des” e “in”, que entram na formação do verbo “desincompa�bilizar” (3º itálico), têm sen�do oposto, por isso o autor o considera um “palavrão”. GR0529 - (Ucs) Timidez como virtude 28@professorferretto @prof_ferretto Luiz Felipe Pondé Outro dia ouvia uma colega1, muito inteligente e bonita2, dizer da 3“gastura” que sen�a em ouvir pessoas falando sobre suas qualidades intelectuais, realizações e �tulos. Estando 4eu presente no momento desse infeliz self marke�ng que causou a 5“gastura” no estômago da minha jovem colega, entendi bem o que ela dizia. O 6 ..... de falar das próprias realizações sempre exis�u. Mas, hoje, é diferente: ser brega e fazer self marke�ng virou uma “ciência”. Hoje, a velha máxima que “toda virtude verdadeira é �mida” se transformou em uma informação urgente. 7Toda virtude verdadeira é �mida. Sempre. Sim8, 9sei que somos seres de con�nua 10baixa autoes�ma, e que 11o mundo prima por nos ferrar todo dia12: gorda, burro, brocha, histérica, mal-amado, enfim, adje�vos feitos para destruir a 13já frágil autoes�ma que temos. E que, 14portanto, muitas vezes 15nos faz cair na tentação de reafirmar nossos feitos na cara dos outros. Mas há uma diferença quando fazemos isso em claro momento de desespero e quando fazemos isso achando que estamos abafando. 16O fato comentado pela minha colega era este segundo caso. 17Por que toda virtude verdadeira é �mida? Antes de tudo, porque a vocação constante à vaidade que nos assola deixa a virtude insegura com relação 18..... si mesma. Essa dinâmica entre 19a dúvida da virtude versus a certeza da vaidade é tema, por exemplo, da clássica polêmica da graça entre Santo Agos�nho (354 – 430) e Pelagius (360 – 420). Outro traço da virtude é ser desatenta consigo mesma. 20Por isso, alguns afirmam que a maior de todas as virtudes seria a humildade, uma vez que essa é o oposto simétrico da vaidade. O co�diano da virtude não é checar a si mesma con�nuamente no espelho para ver o quão 21..... ela tem sido em ser ela mesma. Essa desatenção consigo mesma é traço 22essencial da 23virtude. Associada a ela está a percepção de “naturalidade” que toda virtude verdadeira transparece. Somos naturalmente “equipados” com a capacidade de iden�ficar a leveza com a qual alguém age de modo virtuoso. Assemelhando-se à manifestação da graça, a leveza da virtude �mida e natural equipara-se à beleza sem vaidade. Essa “naturalidade” da virtude está descrita por Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) quando em seu “É�ca a Nicômaco” ele diz que a virtude deve se transformar em umasegunda natureza. Não se trata de negar o esforço consciente em busca do comportamento virtuoso, segundo o filósofo. O esforço é real e consciente. Portanto, a �midez da virtude não é fruto de sua inconsciência como comportamento. A �midez é fruto da naturalidade 24(segunda natureza, nos termos do filósofo) que caracteriza uma virtude madura. Timidez aqui é quase uma metáfora, não para a insegurança enquanto tal, mas para a virtude instalada no co�diano do virtuoso que se deixa perceber pelo ato, e não pelo anúncio do ato. A é�ca é uma ciência prá�ca. A ideia de fazer marke�ng da é�ca 25é como se afirmar que um círculo é quadrado. Dizer que a virtude é prá�ca e jamais teórica significa dizer que só o outro reconhece a virtude em você. A virtude é da ordem do ato e não do discurso. 26Se você falar da sua virtude, você jamais convencerá uma pessoa razoavelmente inteligente e madura da veracidade da sua afirmação. Porque quem precisa anunciar sua própria virtude é porque a prá�ca dessa virtude não é suficiente para ser reconhecida. Por isso, afirma-se que a virtude é pública, 27jamais privada. É silenciosa, mas sua existência é atestada pelo olhar do outro que a vê acontecer no mundo, sem anunciar que está acontecendo. O histórico do seu comportamento, reconhecido ao longo do tempo pelas pessoas à sua volta (mesmo as que lhe odeiam), se cons�tuirá na substância do seu caráter. Esse caráter, ao longo da vida, se cons�tuirá, por sua vez, no seu des�no. Por isso, afirma-se que virtude é des�no. Sendo ela uma segunda natureza, realizada no silêncio do esforço prá�co sem tagarelice, a virtude 28(ou a ausência dela) pode se transformar em uma maldição 29mesmo. Nada garante que virtude traga “felicidade”. No nosso mundo tagarela, marcado pela breguice do self marke�ng, a virtude não deve ser apenas �mida, mas a própria �midez se torna, a cada dia, uma virtude em si mesma. 30E esta é um animal do silêncio. Semelhantes 31..... ela são a discrição, a delicadeza, a elegância e a contenção. A busca dessas virtudes como forma de sabedoria é um desafio para o século 21. Disponível em: h�ps://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2018/09/�mid como-virtude.shtml. Acesso em: 21 jul. 2022. (Adaptado) Assinale a alterna�va que apresenta afirmação correta acerca de fragmentos do texto. a) O advérbio de modo como (�tulo) expressa intensidade entre �midez e virtude. b) A conjunção já (ref. 13) circunscreve a autoes�ma no tempo. c) O adje�vo essencial (ref. 22) associa virtude (ref. 23) à noção de fundamental. d) A conjunção jamais (ref. 27) opõe as noções de público e privado. e) O advérbio mesmo (ref. 29) atribui o sen�do de realmente à ação citada na oração. GR0584 - (Enem PPL) O seu cérebro é capaz de quase qualquer coisa. Ele consegue parar o tempo, ficar vários dias numa boa sem dormir, ler pensamentos, mover objetos a distância e se reconstruir de acordo com a necessidade. Parecem superpoderes de histórias em quadrinhos, mas são apenas algumas das descobertas que os neurocien�stas fizeram ao longo da úl�ma década. Algumas dessas façanhas sempre fizeram parte do seu cérebro e só agora conseguimos perceber. Outras são fruto da ciência: ao decifrar alguns mecanismos da nossa mente, os pesquisadores estão encontrando maneiras de realizar coisas que antes pareciam impossíveis. O resultado é uma revolução como nenhuma 29@professorferretto @prof_ferretto outra, capaz de mudar não só a maneira como entendemos o cérebro, mas também a imagem que fazemos do mundo, da realidade e de quem somos nós. Siga adiante e entenda o que está acontecendo (e aproveite que, segundo uma das mais recentes descobertas, nenhum exercício para o seu cérebro é tão bom quanto a leitura). KENSKI, R. A revolução do cérebro. Superinteressante, ago. 2006 Nessa introdução de uma matéria de popularização da ciência, são usados recursos linguís�cos que estabelecem interação com o leitor, buscando envolvê-lo. Desses recursos, aquele que caracteriza a persuasão pretendida de forma mais incisiva se dá pelo emprego a) do pronome possessivo como em "O seu cérebro é capaz de quase qualquer coisa". b) de verbos na primeira pessoa do plural como "entendemos" e "somos". c) de pronomes em primeira pessoa do plural como "nossa" e "nós". d) de verbos no modo impera�vo como "siga" e "aproveite". e) de estruturas linguís�cas avalia�vas como "tão bom quanto a leitura". GR0585 - (Enem PPL) Adorei a pergunta, darling! Tem muita gente que não sabe se comportar no elevador do prédio onde mora nem no da empresa em que trabalha. Anote as minhas dicas para o bom convívio de todos: entre a saia rapidamente (nada de segurar a porta para terminar o bate-papo com a sua amiga); ao embarcar, cumprimente os que já estão presentes; encerre a conversa com o seu colega ao lado ou no celular antes de entrar; não entre se o elevador es�ver cheio (o ambiente fica insuportável para todos); espere para embarcar, pois a preferência é sempre de quem está desembarcando; se você sair com o seu pet ou carregar objetos grandes, espere até que ele esteja vazio ou use as escadas. Ana Maria. 20 JAN. 2012. Nas regras de e�queta, a linguagem coloquial promove maior proximidade do leitor com o texto. Um recurso para a produção desse efeito cons�tui um desvio à variedade padrão da língua portuguesa. Trata-se do uso a) de palavras estrangeiras, como "darling" e "pet", pois afrontam a iden�dade nacional. b) do verbo "ter", que foi u�lizado em lugar de "haver" com o sen�do de "exis�r". c) da forma verbal "adorei", uma expressão exagerada de emoção e sen�mento. d) do modo impera�vo, �pico das conversas informais. e) do substan�vo "bate-papo", que é uma gíria inadequada para regras de e�queta. GR0590 - (Enem PPL) Miss Universo: “As pessoas racistas devem procurar ajuda” SÃO PAULO — Leila Lopes, de 25 anos, não é a primeira negra a receber a faixa de Miss Universo. A primazia coube a Janelle “Penny” Commissiong, de Trinidad e Tobago, vencedora do concurso em 1977. Depois dela vieram Chelsi Smith, dos Estados Unidos, em 1995; Wendy Fitzwilliam, também de Trinidad e Tobago, em 1998, e Mpule Kwelagobe, de Botswana, em 1999. Em 1986, a gaúcha Deise Nunes, que foi a primeira negra a se eleger Miss Brasil, ficou em sexto lugar na classificação geral. Ainda assim a estupidez humana faz com que, vez ou outra, surjam manifestações preconceituosas como a de um site brasileiro que, às vésperas da compe�ção, e se valendo do anonimato de quem o criou, emi�u opiniões do �po “Como alguém consegue achar uma preta bonita?” Após receber o �tulo, a mulher mais linda do mundo — que tem o português como língua materna e também fala fluentemente o inglês — disse o que pensa de a�tudes como essa e também sobre como sua conquista pode ajudar os necessitados de Angola e de outros países. COSTA, D. Disponível em: h�p://oglobo.globo.com. Acesso em: 10 set. 2011 (adaptado). O uso da expressão “ainda assim” presente nesse texto tem como finalidade a) cri�car o teor das informações fatuais até ali veiculadas. b) ques�onar a validade das ideias apresentadas anteriormente. c) comprovar a veracidade das informações expressas anteriormente. d) introduzir argumentos que reforçam o que foi dito anteriormente. e) enfa�zar o contrassenso entre o que é dito antes e o que vem em seguida. GR0594 - (Enem PPL) Argumento Tá legal Eu aceito o argumento 30@professorferretto @prof_ferretto Mas não me altere o samba tanto assim Olha que a rapaziada está sen�ndo a falta De um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim Sem preconceito Ou mania de passado Sem querer ficar do lado De quem não quer navegar Faça como o velho marinheiro Que durante o nevoeiro Leva o barco devagar. PAULINHO DA VIOLA. Disponível em: www.paulinhodaviola.com.br. Acesso em: 6 dez. 2012. Na letra da canção, percebe-se uma interlocução. A posição do emissor é conciliatória entre as tradições do samba e os movimentos inovadores desse ritmo. A estratégia argumenta�va de concessão, nesse cenário, é marcada notrecho a) “Mas não me altere o samba tanto assim”. b) “Olha que a rapaziada está sen�ndo a falta”. c) “Sem preconceito / Ou mania de passado”. d) “Sem querer ficar do lado / De quem não quer navegar”. e) “Leva o barco devagar”. GR0596 - (Enem PPL) Revolução digital cria a era do leitor-sujeito Foi-se uma vez um leitor. Com a revolução digital, quem lê passa a ter voz no processo de leitura. “Até outro dia, as crí�cas literárias eram exclusividade de um grupo fechado, assim como em tantas outras áreas. Agora, temos grupos que conversam, trocam, se manifestam em tempo real, recomendam ou desaprovam, trocam ideias com os autores, par�cipam a�vamente da construção de obras literárias cole�vas. Isso é um jeito novo de pensar a escrita, de construir memória e o próprio conhecimento”, analisa uma professora de comunicação da PUC-MG. A secretária Fabiana Araújo, 32, é uma “leitora-sujeito”, como Daniela chama esses novos atores do universo da leitura. Leitora assídua desde o final da adolescência, quando foi seduzida pela série Harry Po�er, só neste ano já leu mais de 30 �tulos. Suas leituras não costumam terminar quando fecha um livro. Fabiana escreve resenhas de �tulos como Es�lhaça-me, romance fantás�co na linha de Crepúsculo, publicadas em um blog com o qual foi convidada a colaborar. “Escrever sobre um livro é uma forma de relê-lo. E conversar, pessoal ou virtualmente, com outros leitores também”, defende. FANTINI, D. Jornal Pampulha, n. 1 138, maio 2012 (adaptado). As sequências textuais “Até outro dia” e “agora” auxiliam a progressão temá�ca do texto, pois delimitam a) o perfil social dos envolvidos na revolução digital. b) o limite etário dos promotores da revolução digital. c) os períodos pré e pós revolução digital. d) a urgência e a rapidez da revolução digital. e) o alcance territorial da leitura digital. GR0601 - (Enem PPL) Reclame se o mundo não vai bem a seus olhos, use lentes ... ou transforme o mundo. ó�ca olho vivo agradece a preferência. CHACAL. Disponível em: www.escritas.org. Acesso em: 14 ago. 2014. Os gêneros podem ser híbridos, mesclando caracterís�cas de diferentes composições textuais que circulam socialmente. Nesse poema, o autor preservou, do gênero publicitário, a seguinte caracterís�ca: a) Extensão do texto. b) Emprego da injunção. c) Apresentação do �tulo. d) Disposição das palavras. e) Pontuação dos períodos. GR0607 - (Enem PPL) Construindo uma irmandade da língua A ideia de que a língua portuguesa é pertença de todos os seus falantes é hoje quase pacífica. Só meia dúzia de ultranacionalistas portugueses insiste ainda no disparate de se julgar proprietário exclusivo do idioma. Aliás, ao contrário da Commonwealth e da francofonia, a irmandade da língua portuguesa não tem um único centro ou voz dominante, e essa é precisamente uma das suas maiores virtudes. AGUALUSA, J. E. O Globo, 8 maio 2021 (adaptado). Nesse texto, o termo “Aliás” ar�cula dois enunciados envolvidos numa mesma relação argumenta�va, construindo, para o segundo, uma ideia de 31@professorferretto @prof_ferretto a) ques�onamento da origem da língua portuguesa. b) semelhança de condições sociais dos falantes do português. c) acréscimo de fato comprobatório sobre a língua portuguesa. d) comparação entre o português brasileiro e o europeu. e) relevância do português sobre o inglês e o francês. GR0618 - (Ufrgs) Pede-se a quem souber do paradeiro de Luísa Porto avise sua residência à Rua Santos Óleos, 48. Previna urgente solitária mãe enferma entrevada há longos anos erma de seus cuidados. Pede-se a quem avistar Luísa Porto, 37 anos, que apareça, que escreva, que mande dizer onde está. Suplica-se ao repórter-amador, ao caixeiro, ao mata-mosquitos, ao transeunte, a qualquer do povo e da classe média, até mesmo aos senhores ricos, que tenham pena de mãe aflita e lhe res�tuam a filha vola�lizada ou pelo menos dêem informações. É alta, magra, morena; rosto penugento, dentes alvos, sinal de nascença junto ao olho esquerdo, levemente estrábica. Ves�dinho simples. Óculos. Sumida há três meses. Mãe entrevada chamando. Foi fazer compras na feira da praça. Não voltou. Nada de insinuações quanto à moça casta que não �nha, não �nha namorado. Algo de extraordinário terá acontecido, terremoto, chegada de rei. As ruas mudaram de rumo, para que demore tanto, é noite. Mas há de voltar, espontânea ou trazida por mão benigna, o olhar desviado e terno, canção. Mas se acharem que a sorte dos povos é mais importante e que não devemos atentar nas dores individuais, se fecharem ouvidos a este apelo de campainha, não faz mal, insultem a mãe de Luísa, virem a página: Deus terá compaixão da abandonada e da ausente, erguerá a enferma, e os membros perclusos já se desatam em forma de busca. Deus lhe dirá: Vai, procura tua filha, beija-a e fecha-a para sempre em teu coração. Ou talvez não seja preciso esse favor divino. A mãe de Luísa (somos pecadores) sabe-se indigna de tamanha graça. E resta a espera, que sempre é um dom. Sim, os extraviados um dia regressam, ou nunca, ou pode ser, ou ontem. E de pensar realizamos. (Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Desaparecimento de Luísa Porto. In: Novos Poemas, v. 1, de Carlos Drummond de Andrade: Nova Reunião - 19 Livros de Poesia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983. p. 230-234.) Considere as seguintes afirmações sobre a equivalência entre expressões pertencentes a classes grama�cais diferentes. I. Embora tenha forma de adje�vo, urgente (l. 04) é usado como advérbio e poderia ser subs�tuído por urgentemente, sem mudança significa�va no sen�do da frase. II. A subs�tuição do adje�vo espontânea (l. 34) pelo advérbio espontaneamente mudaria o sen�do da frase. III. Embora seja locução verbal, pode ser (l. 58) é usado em paralelo aos advérbios nunca (l. 58) e ontem (l. 58) porque expressa sen�do semelhante ao do advérbio talvez. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III. GR0627 - (Ufscar) Soneto de fidelidade (Vinicius de Moraes) De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angús�a de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que �ve): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. 32@professorferretto @prof_ferretto Disponível em: h�p://bdjur.stj.jus.br. Acesso em: 23 abr. 2010. No segundo verso do poema, no qual o poeta mostra como tratará o seu amor, as expressões “com tal zelo”, “sempre” e “tanto” dão, respec�vamente, ideia de a) Modo – intensidade – modo. b) Modo – tempo – intensidade. c) Tempo –- tempo – modo. d) Finalidade – tempo – modo. e) Finalidade – modo – intensidade. GR0632 - (Uece) Da solidão Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme o silêncio, que não se manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere imensa angús�a: como se o peso do céu desabasse sobre sua cabeça, como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim do mundo. No entanto, haverá na terra verdadeira solidão? Não estamos todos cercados por inúmeros objetos, por infinitas formas da Natureza e o nosso mundo par�cular não está cheio de lembranças, de sonhos, de raciocínios, de ideias, que impedem uma total solidão? Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como aquele Sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros, podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse aparente vazio de solidão: e pouco a pouco nos sen�remos enriquecidos. Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à procura de ângulos, jogos deuma comparação que se dá entre dois elementos do texto. d) indica uma oposição que se verifica entre o trecho anterior e o seguinte. e) delimita o resultado de uma ação que foi apresentada no trecho anterior. GR0289 - (Unesp) A crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro — como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do (^1) passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas — que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava — naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava — não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo — e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras (^2), uma avantesma (^3)... 2@professorferretto @prof_ferretto Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi — quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas (^4) que a polícia, competentemente munida de ben�nhos (^5) e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra — um velho pardieiro (^6) que fica no topo de uma ladeira íngreme — alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si�ante (^7) empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) (^1) esba�do: de tom pálido. (^2) a desoras: muito tarde. (^3) avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. (^4) folha: periódico diário, jornal. (^5) ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. (^6) pardieiro: prédio velho ou arruinado. (^7) si�ante: policial. Cons�tui exemplo de interação do cronista com o leitor o trecho a) “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos” (3º parágrafo). b) “As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando” (1º parágrafo). c) “Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi” (3º parágrafo). d) “as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea” (2º parágrafo). e) “O fantasma não falava — naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas” (2º parágrafo). GR0089 - (Enem) E se a água potável acabar? O que aconteceria se a água potável do mundo acabasse? As teorias mais pessimistas dizem que a água potável deve acabar logo, em 2050. Nesse ano, ninguém mais tomará banho todo dia. Chuveiro com água só duas vezes por semana. Se alguém exceder 55 litros de consumo (metade do que a ONU recomenda), seu abastecimento será interrompido. Nos mercados, não haveria carne, pois, se não há água para você, imagine para o gado. Gastam-se 43 mil litros de água para produzir 1 kg de carne. Mas, não é só ela que faltará. A Região Centro-Oeste do Brasil, maior produtor de grãos da América La�na em 2012, não conseguiria manter a produção. Afinal, no país, a agricultura e a agropecuária são, hoje, as maiores consumidoras de água, com mais de 70% do uso. Faltariam arroz, feijão, soja, milho e outros grãos. Disponível em: h�p://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012 A língua portuguesa dispõe de vários recursos para indicar a a�tude do falante em relação ao conteúdo de seu enunciado. No início do texto, o verbo “dever” a) contribui para expressar uma constatação sobre como as pessoas administram os recursos hídricos. b) a habilidade das comunidades em lidar com problemas ambientais contemporâneos. c) a capacidade humana de subs�tuir recursos naturais renováveis. d) uma previsão trágica a respeito das fontes de água potável. e) uma situação ficcional com base na realidade ambiental brasileira. GR0093 - (Enem) E-mail no ambiente de trabalho T C., consultor e palestrante de assuntos ligados ao mercado de trabalho, alerta que a obje�vidade, a organização da mensagem, sua coerência e ortografia são 3@professorferretto @prof_ferretto pontos de atenção fundamentais para uma comunicação virtual eficaz. E, para evitar que erros e falta de atenção resultem em saias justas e situações constrangedoras, confira cinco dicas para usar o e-mail com bom senso e organização: 1. Responda às mensagens imediatamente após recebê-las. 2. Programe sua assinatura automá�ca em todas as respostas e encaminhamentos. 3. Ao final do dia, exclua as mensagens sem importância e arquive as demais em pastas previamente definidas. 4. U�lize o recurso de “confirmação de leitura” somente quando necessário. 5. Evite mensagens do �po “corrente”. Disponível em: h�p://no�cias.uol.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (fragmento) O texto apresenta algumas sugestões para o leitor. Esse caráter instrucional é atribuído, principalmente, pelo emprego a) do modo verbal impera�vo, como em “responda” e “programe”. b) das marcas de qualificação do especialista, como “consultor” e “palestrante”. c) de termos específicos do discurso no mundo virtual. d) de argumentos favoráveis à comunicação eficaz. e) da palavra “dica” no desenvolvimento do texto. GR0094 - (Enem) Descubra e aproveite um momento todo seu. Quando você quebra o delicado chocolate, o irresis�vel recheio cremoso começa a derreter na sua boca, acariciando todos os seus sen�dos. Criado por nossa empresa. Paixão e amor por chocolate desde 1845. Veja, n. 2 320, 8 maio 2013 (adaptado). O texto publicitário tem a intenção de persuadir o público- alvo a consumir determinado produto ouluz, eloquência de formas, para revelarem aquilo que lhes parece não só o mais está�co dos seus aspectos, mas também o mais comunicável, o mais rico de sugestões, o mais capaz de transmi�r aquilo que excede os limites �sicos desses objetos, cons�tuindo, de certo modo, seu espírito e sua alma. Façamo-nos também¹ desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que arrebata logo o olhar, o equilíbrio de linhas, a graça das proporções: muitas vezes seu aspecto — como o das criaturas humanas — é inábil e desajeitado. Mas não é isso que procuramos, apenas: é o seu sen�do ín�mo que tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a carga de experiências que representam, e a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis séculos. Amemos o que sen�mos de nós mesmos, nessas variadas coisas, já que, por egoístas que somos, não sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos. Amemos o an�go encantamento dos nossos olhos infan�s, quando começavam a descobrir o mundo: as nervuras das madeiras, com seus caminhos de bosques e ondas e horizontes; o desenho dos azulejos; o esmalte das louças; os tranquilos, metódicos telhados... Amemos o rumor da água que corre, os sons das máquinas, a inquieta voz dos animais, que desejaríamos traduzir. Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou ar�ficiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos. Mundo delicado, que não se impõe com violência: que aceita a nossa frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o descubramos, sem anunciar nem pretender prevalecer; que pode ficar para sempre ignorado, sem que por isso deixe de exis�r; que não faz da sua presença um anúncio exigente “Estou aqui! estou aqui!”. Mas, concentrado em sua essência, só se revela quando os nossos sen�dos estão aptos para descobrirem. E que em silêncio nos oferece sua múl�pla companhia, generosa e invisível. Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai atenção, em redor de vós, a essa pres�giosa presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco interminavelmente. MEIRELES, Cecília. Da solidão. In: MEIRELES, Cecília. Janela Mágica. São Paulo: Global, 2016, p. 71-74. A expressão destacada no trecho “Façamo-nos também desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões.” (ref. 1) pode ser subs�tuída sem mudança de sen�do por a) entretanto. b) mas. c) porque. d) ainda. GR0655 - (Uece) Transferência de Neymar ao PSG é golpe de ‘so� power’ do Catar a países do Golfo, dizem especialistas A transferência do fenômeno(01) brasileiro Neymar ao Paris Saint-Germain (PSG) representa uma estratégia de marke�ng e um golpe de ‘so� power’ do Catar contra os países do Golfo que cortaram relações diplomá�cas com o emirado. Esta é a análise de especialistas ouvidos pela agência de no�cias France Presse e do comentarista da GloboNews (07), Marcelo Lins. Neymar se tornou o jogador mais caro da história do futebol, com o pagamento da cláusula de rescisão no valor de € 222 milhões (R$ 812 milhões). Segundo Mathieu Guidere, especialista em geopolí�ca do mundo árabe consultado pela AFP(04)(08), o anúncio da transferência do jogador ao PSG, que é de um fundo de inves�mentos do Catar(06), “foi testado entre catarianos 33@professorferretto @prof_ferretto como uma espécie de estratégia de comunicação que ofuscaria o debate em torno de outras considerações, como o terrorismo”. Marcelo Lins, comentarista da GloboNews, afirmou(02) que a transferência beneficia a imagem do Catar. “Um pequeno país riquíssimo em petróleo, do Golfo, que bota tanto dinheiro para dar alegria a uma torcida, ou a milhões de torcedores espalhados pelo mundo... você tem uma volta disso na imagem do Catar, que é muito grande”, disse(03) à GloboNews. “É uma grande jogada de marke�ng do Catar como um todo”, acrescentou. O Catar enfrenta a sua pior crise polí�ca em décadas, com a Arábia Saudita e outros países do Golfo tendo cortado relações diplomá�cas com o emirado por acusações de apoio a grupos terroristas. O Catar nega as acusações e diz que o obje�vo é prejudicar o emirado rico em gás. Com a transferência de Neymar, Doha pode estar de olho em inves�r em ‘so� power’(11).O conceito de ‘so� power’ (‘poder suave’(10),em tradução livre) foi elaborado para definir a influência de países nas relações internacionais por meio de inves�mentos em ações posi�vas. “Esse é um golpe de ‘so� power’. O Catar precisa demonstrar ao mundo que, apesar de todas as acusações, é o país mais resiliente no Oriente Médio”(12), disse(03) à AFP Andreas Krieg, analista de risco polí�co no King’s College de Londres(05)(09).“Ter o melhor jogador do mundo mostra ao resto do mundo que se o Catar é determinado, eles ainda têm os maiores recursos para �rar e, se necessário, usar o dinheiro que têm para promover a sua agenda”, acrescentou. O custo da transferência de Neymar “envia um sinal muito forte para o mundo espor�vo e um sinal muito forte de desafio contra os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita”, disse Krieg. “Eles queriam esse jogador e usaram o dinheiro para comprá-lo a qualquer preço”. [...] Disponível em: . No enunciado “O Catar precisa demonstrar ao mundo que, apesar de todas as acusações, é o país mais resiliente no Oriente Médio” (12), a expressão parenté�ca “apesar de todas as acusações” estabelece com a oração com a qual está ligada uma relação de: a) condição, pois, se o Catar não demonstrar ao mundo que é o país mais resiliente do Oriente Médio, ele con�nuará ainda sofrendo muitas acusações. b) finalidade, porque o propósito do Catar, diante de todas as acusações, é o de precisar demonstrar ao mundo que é o país mais resiliente do Oriente Médio. c) consequência, visto que o mo�vo de o Catar precisar demonstrar ao mundo que é o país mais resiliente do Oriente Médio deve-se às acusações sofridas. d) concessão, já que, independentemente das acusações, o Catar precisa demonstrar ao mundo que é o país mais resiliente do mundo. GR0660 - (Epcar) Observe as formas verbais empregadas nos enunciados abaixo e assinale V para as proposições verdadeiras e F para as falsas. A seguir, marque a sequência correta. I) “Se não quiser adoecer, fale de seus sen�mentos.” II) “Pessoas nega�vas não enxergam soluções e aumentam os problemas.” III) “A rejeição de si próprio, a ausência de autoes�ma, faz com que sejamos algozes de nós mesmos.” IV) “Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as crí�cas, é sabedoria, bom senso e terapia.” V) “Não viva sempre triste!” (__) O presente do indica�vo aparece nos enunciados II, III e IV com o obje�vo de exprimir um fato verdadeiro e que não pertence a uma época determinada. (__) No enunciado I, o verbo “falar” encontra-se no presente do subjun�vo e expressa um fato incerto, mas que apresenta a expecta�va do locutor de que venha a se realizar. (__) Com o obje�vo de manter o paralelismo verbal, se colocássemos a primeira forma verbal do período III no pretérito perfeito do indica�vo, teríamos que usar a forma verbal “fôssemos” na segunda oração. (__) O par�cípio do verbo “aceitar”, no enunciado IV, foi u�lizado na formação da voz passiva. (__) O verbo “viver”, na frase V, encontra-se flexionada na 2ª pessoa do singular do impera�vo nega�vo. a) F, V, F, F, V. b) V, F, V, V, F. c) V, F, V, F, F. d) F, F, F, V, V. GR0690 - (Unifenas) CIDADANIAE DEMOCRACIA NA ANTIGUIDADE Por Leandro Augusto Mar�ns Junior Mestre em História Polí�ca pela UERJ POLÍTICA NA ANTIGUIDADE A An�guidade surge como um período histórico de fundamental importância, destacadamente por suas criações e legados, muitos dos quais essenciais ao conhecimento produzido pelas sociedades humanas. Espaço de elaboração dos primeiros sistemas de escrita, do teatro, dos jogos olímpicos e de boa parte das áreas do conhecimento, a An�guidade assis�u igualmente ao surgimento das primeiras cidades e, com elas, do aparecimento do Estado enquanto ins�tuição capaz de regulamentar o convívio entre os homens. A par�r de então, o crescente nível de complexidade das civilizações comportou também o fortalecimento das relações polí�cas. (...) Neste mundo grego, as duas cidades-Estados de maior destaque, Atenas e Esparta, possuíam sistemas de governo frontalmente diferentes. Enquanto esta úl�ma era administrada por uma oligarquia militarizada, a cidade de 34@professorferretto @prof_ferretto Atenas esteve alicerçada em bases mais democrá�cas, cabendo a todos os seus cidadãos o direito de debater os des�nos da cole�vidade. O próprio sistema educacional ateniense, compromissado com uma formação baseada na reflexão e debate acerca da realidade, salienta este traço da polí�ca de Atenas. CONSOLIDAÇÃO DEMOCRÁTICA Na verdade, debates acerca do desenvolvimento de organizações polí�cas solidamente democrá�cas, onde governantes e governados �vessem uma relação baseada em pactos mais igualitários, só puderam ser assis�dos mais vastamente com o advento da modernidade. Notadamente a par�r do século XVIII – o Século do Iluminismo – boa parte do mundo ocidental passa a refle�r sobre a necessidade de se estabelecer critérios de cidadania mais amplos, fundamentados na igualdade jurídica entre os indivíduos. Além disso, baseados nas ideias de pensadores como Voltaire e Rousseau, diversos grupos sociais salientam a necessidade de separação entre assuntos polí�cos e religiosos, advogando a cons�tuição de governos laicos. Ao longo dos séculos seguintes diversos povos passaram a adotar, com maior ou menor impacto, noções mais amplas de cidadania, muito embora ainda hoje possamos notar a existência de ditaduras teocrá�cas, caudilhismos e �ranias de outras naturezas. A própria cons�tuição da cidadania brasileira, por exemplo, tem sido elaborada através de um processo de avanços e recuos: se por um lado o século XX nos ofertou o direito de voto às mulheres e analfabetos, por outro a existência de prá�cas coronelistas como a “compra de votos” emperra o desenvolvimento de nossa cidadania em sua plenitude. Disponível em: Acesso em: 22/08/22. O trecho “Enquanto esta úl�ma era administrada por uma oligarquia militarizada (...)” está na voz passiva analí�ca. Respeitando as regras da norma-padrão, se ela fosse passada, respec�vamente, para a voz passiva sinté�ca e para a voz a�va teríamos: a) Enquanto se administrava esta úl�ma e Enquanto uma oligarquia militarizada administrava esta úl�ma. b) Enquanto se administrou esta úl�ma e Enquanto uma oligarquia militarizada administrou esta úl�ma. c) Enquanto se administrava esta úl�ma e Enquanto esta úl�ma administrava uma oligarquia militarizada. d) Enquanto se administra esta úl�ma e Enquanto uma oligarquia militarizada administra esta úl�ma. e) Enquanto uma oligarquia militarizada administrava esta úl�ma e Enquanto se administrava esta úl�ma. GR0696 - (Eam) Um caminho tortuoso 1 Do jeito que a ciência é ensinada nas escolas, não é à toa que a maioria das pessoas acha que o conhecimento cien�fico cresce linearmente, sempre se acumulando. No entanto, uma rápida olhada na história da ciência permite ver que não é bem assim: o caminho que leva ao conhecimento é tortuoso e, às vezes, vai até para trás, quando uma ideia errada persiste por mais tempo do que deveria. 2 Isso pode ocorrer por razões como censura polí�ca [...] ou por ideologias na classe cien�fica, promulgadas por membros influentes. 3 Apresentar a ciência nas escolas e universidades ou nos meios informais de comunicação como um triunfalismo infalível da civilização esconde um de seus lados mais interessantes: o drama da descoberta, as incertezas da cria�vidade. 4 Cien�stas tendem a reagir nega�vamente às ideias que ameaçam o que eles pensam ser a verdade. Por um lado, esse ce�cismo é essencial, dado que a maioria das ideias novas está errada. Por outro, ele pode revelar um conservadorismo que atravanca o avanço do conhecimento. Um bom exemplo disso é o experimento de Albert Michelson e Edward Morley, realizado em 1887 para detectar o movimento da Terra através do éter, o meio material cuja função era servir de suporte para a propagação das ondas de luz. 5 Tal qual as ondas de som se propagam no ar, supunha- se que as ondas luminosas também necessitassem de um meio para se propagar, o éter. O experimento mediria as diferenças na velocidade da luz quando um raio luminoso ia contra o éter ou a favor, como quando andamos de bicicleta e sen�mos um "vento" contra nosso corpo. (Uma bola jogada contra ou a favor do "vento" terá velocidades diferentes.) 6 Para total e completa surpresa da comunidade cien�fica, o experimento não detectou diferenças na velocidade da luz em qualquer direção. 7 Em meio à perplexidade generalizada, várias tenta�vas de explicar o achado foram propostas, inclusive uma por George Fitzgerald e Hendrik Lorentz que sugeria que as hastes do aparato podiam encolher na direção do movimento. Esse encolhimento de fato existe, mas não como proposto pelos dois. 8 Apenas em 1905 Einstein explicou o que estava acontecendo, com sua teoria da rela�vidade especial: o éter não existe – a velocidade da luz é sempre a mesma, uma constante da natureza. 9 Observações recentes andam ques�onando a existência de um outro meio material ainda não detectado, a matéria escura. Essa matéria, supostamente feita de par�culas diferentes das que compõem o que conhecemos no Universo (ou seja, coisas feitas de elétrons, prótons e nêutrons), deve ser seis vezes mais abundante que a matéria comum e se aglomerar em torno de galáxias, inclusive a nossa. 10 As observações não detectaram a quan�dade esperada de matéria escura. E agora? A coisa é complicada porque existem outros métodos de detecção da matéria escura que parecem bastante claros. Qualquer que seja a resolução do impasse atual, estou certo de que algo de novo e surpreendente está para acontecer. Será interessante ver a reação da comunidade ao se deparar com o inesperado. 35@professorferretto @prof_ferretto GLEISER, Marcelo. Um caminho tortuoso. Folha de São Paulo, 29 de abril de 2012. Com adaptações. Assinale a opção correta em que o trecho em destaque corresponde à voz do verbo: a) “Observações recentes andam ques�onando a existência [...]" (9º parágrafo) – voz reflexiva. b) “Cien�stas tendem a reagir nega�vamente às ideias [...]” (4º parágrafo) – voz passiva sinté�ca. c) “Do jeito que a ciência é ensinada nas escolas [...]” (1º parágrafo) – voz passiva analí�ca. d) “[...] várias tenta�vas de explicar o achado foram propostas [...]” (7º parágrafo) – voz passiva sinté�ca. e) “Tal qual as ondas de som se propagam no ar [...]” (5º parágrafo) – voz a�va analí�ca. GR0698 - (Famerp) Considere os textos dos quatro jornais. Ocorre voz passiva a) nos três primeiros, apenas. b) em todos eles. c) no segundo e no quarto, apenas. d) apenas no quarto. e) apenas no segundo. GR0720 - (Famema) “O criminoso pode alegar que foi o segundo eu o autor do crime.” (Carlos Drummond de Andrade. O avesso das coisas, 1990.) Transpondo-se para a voz passiva a oração centrada na locução verbal sublinhada, surge a forma verbal: a) pôde ser alegado. b) pode alegar. c) é alegado. d) pode ser alegado. e) foi alegado. GR0721 - (Famema) Homo insapiens1 Vocês se lembram de quando a gente se perdia no campo e soltava a rédea ao cavalo e ele voltavadirei�nho para casa? Pois até hoje, quando não me lembro de onde guardei uma coisa, desisto de quebrar a cabeça, afrouxo o espírito e eis que ele conduz meu passo e minha mão sonâmbula ao lugar exato. Quanto a saber qual dos dois, espírito e corpo, é o cavaleiro e o cavalo, é questão acadêmica. Só sei que isso não me acontece agora na vas�dão do campo, mas dentro de uma casa, de uma sala, de um móvel... (A vaca e o hipogrifo, 2012.) 1Homo sapiens: na classificação biológica dos seres, é o nome cien�fico do ser humano. Do la�m, significa “homem sábio”, racional. “Homo insapiens”, �tulo do texto, é uma variação do termo. “soltava a rédea ao cavalo e ele voltava direi�nho para casa” O termo sublinhado tem sen�do e função sintá�ca semelhantes ao termo sublinhado em: a) Bianca sempre faz direito sua lição de casa. b) André acordou hoje com o pé direito. c) Carlos nunca foi um homem direito. d) Denise considera que é seu direito rebelar-se contra um opressor. e) Ernesto ves�u a camisa pelo avesso porque o direito estava sujo. GR0595 - (Enem PPL) A palavra e a imagem têm o poder de criar e destruir, de prometer e negar. A publicidade se vale deste recurso linguís�co-imagé�co como seu principal instrumento. Vende a ficção como o real, o normal como algo fantás�co; transforma um carro em um símbolo de pres�gio social, uma cerveja em uma loira bonita, e um cidadão comum num astro ou estrela, bastando tão somente u�lizar o produto ou serviço divulgado. Assim1, fazer o banal tornar-se o ideal é tarefa ordinária da linguagem publicitária. ALMEIDA, W. M. A linguagem publicitária e o estrangeirismo. Língua Portuguesa, n. 35, jan. 2012. Alguns elementos linguís�cos estabelecem relações entre as diferentes partes do texto. Nesse texto, o vocábulo “Assim” (ref. 1) tem a função de a) contrariar os argumentos anteriores. b) sinte�zar as informações anteriores. c) acrescentar um novo argumento. d) introduzir uma explicação. e) apresentar uma analogia. 36@professorferretto @prof_ferretto GR0726 - (Espcex) Assiste à demolição — Morou mais de vinte anos nesta casa? Então vai sen�r “uma coisa” quando ela for demolida. Começou a demolição. Passando pela rua, ele viu a casa já sem telhado, e operários, na poeira, removendo caibros. Aquele telhado que lhe dera tanto trabalho por causa das goteiras, tapadas aqui, reaparecendo ali. Seu quarto de dormir estava exposto ao céu, no calor da manhã. Ao fundo, no terraço, �nham desaparecido as colunas da pérgula, e a cobertura de ramos de buganvília – dois troncos subindo do pá�o lá embaixo e enchendo de florinhas vermelhas o chão de ladrilho, onde gatos da vizinhança amavam fazer sesta e surpreender �co-�cos. Passou nos dias seguintes e viu o progressivo desfazer-se das paredes, que escancarava a casa de frente e de flancos jogando-a por assim dizer na rua. Os marcos das portas apareciam emoldurando o vazio. O azul e as nuvens circulavam pelos cômodos, em composição surrealista. E o pequeno balcão da fachada, cercado de ar, parecia um mirante espacial, baixado ao nível dos míopes. A demolição prosseguiu à noite, espontaneamente. Um lanço de parede desabou sozinho, para fora do tapume, quando já cessara na rua o movimento dos lotações. Caiu discreto, sem ferir ninguém, apenas avariando – desculpem – a rede telefônica. A casa encolhera-se, em processo involu�vo. Já agora de um só pavimento, sem teto, aspirava mesmo à desintegração. Chegou a vez da pequena sala de estar, da sala de jantar com seu lambri envernizado a preto, que ele passara meses raspando a poder de gilete, para recuperar a cor da madeira. E a vez do escritório, parte pensante e sen�nte de seu mecanismo individual, do eu mais ín�mo e simultaneamente mais público, eu de gavetas sigilosas, manuseadas por um profissional da escrita. De todo o tempo que vivera na casa, fora ali que passara o maior número de horas, sentado, meio corcunda, desligado de acontecimentos, ouvindo, sem escutar, rumores que chegavam de outro mundo – cantoria de bêbados, motor de avião, chorinho de bebê, galo na madrugada. E não sen�u dor vendo esfarinharem-se esses compar�mentos de sua história pessoal. Nem sequer a melancolia do desvanecimento das coisas �sicas. Elas �nham durado, cumprido a tarefa. Chega o instante em que compreendemos a demolição como um resgate de formas cansadas, sentença de liberdade. Talvez sejamos levados a essa compreensão pelo trabalho similar, mais surdo, que se vai desenvolvendo em nós. E não é preciso imaginar a alegria de formas novas, mais claras, a surgirem constantemente de formas caducas, para aceitar de coração sereno o fim das coisas que se ligaram à nossa vida. Fitou tranquilo o que �nha sido sua casa e era um amontoado de caliça e �jolo, a ser removido. Em breve restaria o lote, à espera de outra casa maior, sem sinal dele e dos seus, mas des�nada a concentrar outras vivências. Uma ordem, um estatuto pairava sobre os destroços, e tudo era como devia ser, sem ilusão de permanência. Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. 12. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979. Vocabulário caibro s.m. elemento estrutural de um telhado, geralmente peças de madeira que se dispõem da cumeeira ao frechal, a intervalos regulares e paralelas umas às outras, em que se cruzam e assentam as ripas, frequentemente mais finas e compridas, e sobre as quais se apoiam e se encaixam as telhas pérgula s. f. espécie de galeria coberta de barrotes espacejados assentados em pilares, geralmente guarnecida de trepadeiras buganvília s.f. designação comum às plantas do gênero bougainvillea, trepadeira, muito cul�vadas como ornamentais de flanco s. m. pela lateral marco s. m. parte fixa que guarnece o vão de portas e janelas, e onde as folhas destas se encaixam, prendendo-se por meio de dobradiças tapume s. m. cerca ou vala guarnecida de sebe que defende uma área; anteparo, geralmente de madeira, com que se veda a entrada numa área, numa construção lambri s. m. reves�mento interno de parede, usado com fim decora�vo ou para proteger contra frio, umidade ou barulho; feito de madeira, mármore, estuque, numa só peça ou composto por painéis, que vão até certa altura ou do chão ao teto (mais usado no plural) caliça s.f. conjunto de resíduos de uma obra de alvenaria demolida ou em desmoronamento, formado por pó ou fragmentos dos materiais diversos do reboco (cal, argamassa ressequida) e de pedras, �jolos desfeitos lote s. m. porção de terra autônoma que resulta de loteamento ou desmembramento; terreno de pequenas dimensões, urbano ou rural, que se des�na a construções ou à pequena agricultura Fonte: HOUAISS, A. e Villar, M. de S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Elaborado no Ins�tuto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro. Obje�va, 2009. Marque a alterna�va em que a forma verbal subs�tui corretamente a locução verbal sublinhada na seguinte oração: “Ao fundo, no terreno, �nham desaparecido as colunas da pérgula...”. a) havia desaparecido. b) havia desaparecidas. c) haviam desaparecidas. d) haviam desaparecido. e) haviam desaparecidos. GR0729 - (Pmesp) Leia a crônica “Bandidos”, de Luis Fernando Verissimo. 37@professorferretto @prof_ferretto Nos filmes e histórias em quadrinhos da nossa infância recebíamos uma lição da qual só agora me dou conta. Não era a que o Bem sempre vence o Mal, embora o herói sempre vencesse o bandido. Quem dava a lição era o bandido, e era esta: a morte precisa de uma certa solenidade. A vitória do herói sobre o bandido era banalizada pela repe�ção. Para o mocinho, matar era uma coisa corriqueira, uma decorrência da sua virtude. Já o bandido era torturado pela ideia da morte, pela sua própria vilania, pelo terrível poder que cada um tem de acabar com a vida de outro. O bandido era incapaz de simplesmente matar alguém, ou matar alguém simplesmente. Para ele o ato de matar precisava ser lento, trabalhado, ornamentado, erguido acima da sua inaceitável vulgaridade — enfim, tão valorizado que dava ao heróitempo de escapar e ainda salvar a mocinha. Pois a verdade é que nenhum herói teria sobrevivido à sua primeira aventura se não fosse esta compulsão do vilão de fazer da morte uma arte demorada, um processo com preâmbulo e apoteose, e significado. Nunca entendi por que o bandido não dava logo um �ro na testa do herói quando o �nha em seu poder, em vez de deixá-lo suspenso sobre o poço dos jacarés por uma corda besuntada que os ratos roeriam pouco a pouco, enquanto o gramofone^1 tocava Wagner^2. Hoje sei que o vilão queria dar tempo, ao mocinho e à plateia, de refle�r sobre a finitude e a perversidade humanas. Os vilões do meu tempo de ma�nês eram invariavelmente “gênios do Mal”, paródias de intelectuais e cien�stas cujas maquinações eram frustradas pelo prá�co mocinho. A imaginação perdia para a ação porque a imaginação, como a hesitação, é a ação retardada, a ação precedida do pensamento, do pavor ou, no caso do bandido, da volúpia do significado. O Mal era inteligência demais, era a obsessão com a morte, enquanto o Bem — o que ficava com a mocinha — era o que não pensava na morte. Quando recapturava o mocinho, mesmo sabendo que ele escapara da morte tão cuidadosamente orquestrada com os ratos e os jacarés, o bandido ainda não lhe dava o rápido e defini�vo �ro na testa, para ele aprender. Deixava-o amarrado sobre uma tábua que lentamente, solenemente, se aproximava de uma serra circular, da qual o herói obviamente escaparia de novo. E, se pegasse o mocinho pela terceira vez, nem assim o bandido abandonaria sua missão didá�ca. Sucumbiria à sua outra compulsão fatal, a de falar demais. Mesmo o �ro na testa precisava de uma frase antes, uma explicação, um jogo de palavras. Geralmente era o que dava tempo para a chegada da polícia e a prisão do vilão, derrotado pela literatura. Pobres vilões. E nós, inconscientemente, torcíamos pelos burros Luis Fernando Verissimo. O suicida e o computador, 1992. 1 gramofone: an�go toca-discos. 2 Wagner: Richard Wagner, compositor alemão do século XIX. “paródias de intelectuais e cien�stas cujas maquinações eram frustradas pelo prá�co mocinho.” (3º parágrafo) Ao se transpor esse trecho para a voz a�va, a forma verbal resultante será: a) frustraria. b) frustrariam. c) frustrara. d) frustravam. e) frustrava. GR0730 - (Pmesp) De acordo com o Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, os dêi�cos são expressões linguís�cas que se referem “à situação em que o enunciado é produzido, ao momento da enunciação e aos atores do discurso”. Por exemplo, “eu” designa a pessoa que fala “eu”. Expressões como “aqui”, “agora” ou “amanhã” devem ser interpretadas em função de onde e em que momento se encontra a pessoa que fala, quando diz “aqui”, “agora” ou “amanhã”. Verifica-se a ocorrência de dêi�co que se refere ao momento da enunciação no seguinte trecho: a) “Nos filmes e histórias em quadrinhos da nossa infância recebíamos uma lição” (1º parágrafo). b) “Nunca entendi por que o bandido não dava logo um �ro na testa do herói quando o �nha em seu poder” (2º parágrafo). c) “Hoje sei que o vilão queria dar tempo, ao mocinho e à plateia, de refle�r sobre a finitude e a perversidade humanas” (2º parágrafo). d) “Geralmente era o que dava tempo para a chegada da polícia e a prisão do vilão, derrotado pela literatura” (3º parágrafo). e) “E nós, inconscientemente, torcíamos pelos burros” (4º parágrafo). GR0734 - (Pmesp) Leia a crônica “Bandidos”, de Luis Fernando Verissimo. Nos filmes e histórias em quadrinhos da nossa infância recebíamos uma lição da qual só agora me dou conta. Não era a que o Bem sempre vence o Mal, embora o herói sempre vencesse o bandido. Quem dava a lição era o bandido, e era esta: a morte precisa de uma certa solenidade. A vitória do herói sobre o bandido era banalizada pela repe�ção. Para o mocinho, matar era uma coisa corriqueira, uma decorrência da sua virtude. Já o bandido era torturado pela ideia da morte, pela sua própria vilania, pelo terrível poder que cada um tem de acabar com a vida de outro. O bandido era incapaz de simplesmente matar alguém, ou matar alguém simplesmente. Para ele o ato de matar precisava ser lento, trabalhado, ornamentado, erguido acima da sua inaceitável vulgaridade — enfim, tão valorizado que dava ao herói tempo de escapar e ainda salvar a mocinha. Pois a verdade é que nenhum herói teria sobrevivido à sua 38@professorferretto @prof_ferretto primeira aventura se não fosse esta compulsão do vilão de fazer da morte uma arte demorada, um processo com preâmbulo e apoteose, e significado. Nunca entendi por que o bandido não dava logo um �ro na testa do herói quando o �nha em seu poder, em vez de deixá-lo suspenso sobre o poço dos jacarés por uma corda besuntada que os ratos roeriam pouco a pouco, enquanto o gramofone^1 tocava Wagner^2. Hoje sei que o vilão queria dar tempo, ao mocinho e à plateia, de refle�r sobre a finitude e a perversidade humanas. Os vilões do meu tempo de ma�nês eram invariavelmente “gênios do Mal”, paródias de intelectuais e cien�stas cujas maquinações eram frustradas pelo prá�co mocinho. A imaginação perdia para a ação porque a imaginação, como a hesitação, é a ação retardada, a ação precedida do pensamento, do pavor ou, no caso do bandido, da volúpia do significado. O Mal era inteligência demais, era a obsessão com a morte, enquanto o Bem — o que ficava com a mocinha — era o que não pensava na morte. Quando recapturava o mocinho, mesmo sabendo que ele escapara da morte tão cuidadosamente orquestrada com os ratos e os jacarés, o bandido ainda não lhe dava o rápido e defini�vo �ro na testa, para ele aprender. Deixava-o amarrado sobre uma tábua que lentamente, solenemente, se aproximava de uma serra circular, da qual o herói obviamente escaparia de novo. E, se pegasse o mocinho pela terceira vez, nem assim o bandido abandonaria sua missão didá�ca. Sucumbiria à sua outra compulsão fatal, a de falar demais. Mesmo o �ro na testa precisava de uma frase antes, uma explicação, um jogo de palavras. Geralmente era o que dava tempo para a chegada da polícia e a prisão do vilão, derrotado pela literatura. Pobres vilões. E nós, inconscientemente, torcíamos pelos burros. Luis Fernando Verissimo. O suicida e o computador, 1992. 1 gramofone: an�go toca-discos. 2 Wagner: Richard Wagner, compositor alemão do século XIX. “Quando recapturava o mocinho, mesmo sabendo que ele escapara da morte tão cuidadosamente orquestrada com os ratos e os jacarés, o bandido ainda não lhe dava o rápido e defini�vo �ro na testa, para ele aprender. Deixava-o amarrado sobre uma tábua que lentamente, solenemente, se aproximava de uma serra circular, da qual o herói obviamente escaparia de novo.” (3º parágrafo) Nesse trecho, o cronista relata uma série de fatos ocorridos no passado. Um fato anterior a esse tempo passado está indicado pela seguinte forma verbal: a) “recapturava”. b) “escapara”. c) “dava”. d) “aproximava”. e) “escaparia”. GR0739 - (Espcex) Homem no mar Rubem Braga De minha varanda vejo, entre árvores e telhados, o mar. Não há ninguém na praia, que resplende ao sol. O vento é nordeste, e vai tangendo, aqui e ali, no belo azul das águas, pequenas espumas que marcham alguns segundos e morrem, como bichos alegres e humildes; perto da terra a onda é verde. Mas percebo um movimento em um ponto do mar; é um homem nadando. Ele nada a uma certa distância da praia, em braçadas pausadas e fortes; nada a favor das águas e do vento, e as pequenas espumas que nascem e somem parecem ir mais depressa do que ele. Justo: espumas são leves, não são feitas de nada, toda sua substância é água e vento e luz, e o homem tem sua carne, seus ossos, seu coração, todo seu corpo a transportar na água. Ele usa os músculos com uma calma energia; avança. Certamente não suspeita de que um desconhecido o vê e o admira porque ele está nadando na praia deserta. Não sei de onde vem essa admiração, mas encontro nesse homem uma nobreza calma, sinto-me solidário com ele, acompanho o seu esforço solitário como se ele es�vesse cumprindo umabela missão. Já nadou em minha presença uns trezentos metros; antes, não sei; duas vezes o perdi de vista, quando ele passou atrás das árvores, mas esperei com toda confiança que reaparecesse sua cabeça, e o movimento alternado de seus braços. Mais uns cinquenta metros, e o perderei de vista, pois um telhado o esconderá. Que ele nade bem esses cinquenta ou sessenta metros; isto me parece importante; é preciso que conserve a mesma ba�da de sua braçada, e que eu o veja desaparecer assim como o vi aparecer, no mesmo rumo, no mesmo ritmo, forte, lento, sereno. Será perfeito; a imagem desse homem me faz bem. É apenas a imagem de um homem, e eu não poderia saber sua idade, nem sua cor, nem os traços de sua cara. Estou solidário com ele, e espero que ele esteja comigo. Que ele a�nja o telhado vermelho, e então eu poderei sair da varanda tranquilo, pensando "vi um homem sozinho, nadando no mar; quando o vi ele já estava nadando; acompanhei-o com atenção durante todo o tempo, e testemunho que ele nadou sempre com firmeza e correção; esperei que ele a�ngisse um telhado vermelho, e ele o a�ngiu". Agora não sou mais responsável por ele; cumpri o meu dever, e ele cumpriu o seu. Admiro-o. Não consigo saber em que reside, para mim, a grandeza de sua tarefa; ele não estava fazendo nenhum gesto a favor de alguém, nem construindo algo de ú�l; mas certamente fazia uma coisa bela, e a fazia de um modo puro e viril. Não desço para ir esperá-lo na praia e lhe apertar a mão; mas dou meu silencioso apoio, minha atenção e minha es�ma a esse desconhecido, a esse nobre animal, a esse homem, a esse correto irmão. (ANDRADE, Carlos Drummond de; et al. Elenco de cronistas modernos. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984. p.128- 129). 39@professorferretto @prof_ferretto Em “... nada a favor das águas...", a palavra sublinhada, considerando o contexto em que ela aparece, pertence, sob o aspecto morfológico, à seguinte classe grama�cal: a) Substan�vo. b) Adje�vo. c) Pronome indefinido. d) Verbo. e) Advérbio. GR00754 - (Albert Einstein) Leia a crônica “A decadência do Ocidente”, de Luis Fernando Verissimo. O doutor ganhou uma galinha viva e chegou em casa com ela, para alegria de toda a família. O filho mais moço, inclusive, nunca �nha visto uma galinha viva de perto. Já �nha até um nome para ela – Margarete – e planos para adotá-la, quando ouviu do pai que a galinha seria, obviamente, comida. — Comida?! — Sim, senhor. — Mas se come ela? — Ué. Você está cansado de comer galinha. — Mas a galinha que a gente come é igual a esta aqui? — Claro.. Na verdade o guri gostava muito de peito, de coxa e de asa, mas nunca �nha ligado as partes ao animal. Ainda mais aquele animal vivo ali no meio do apartamento. O doutor disse que queria a galinha ao molho pardo. Há anos que não comia uma galinha ao molho pardo. A empregada sabia como se preparava galinha ao molho pardo? A mulher foi consultar a empregada. Dali a pouco o doutor ouviu um grito de horror vindo da cozinha. Depois veio a mulher dizer que ele esquecesse a galinha ao molho pardo. — A empregada não sabe fazer? — Não só não sabe fazer, como quase desmaiou quando eu disse que precisava cortar o pescoço da galinha. Nunca cortou um pescoço de galinha. Era o cúmulo. Então a mulher que cortasse o pescoço da galinha. — Eu?! Não mesmo! O doutor lembrou-se de uma velha empregada da sua mãe. A Dona Noca. Não só cortava pescoços de galinhas, como fazia isto com uma certa alegria assassina. A solução era a Dona Noca. — A Dona Noca já morreu — disse a mulher. — O quê?! — Há dez anos. — Não é possível! A úl�ma galinha ao molho pardo que eu comi foi feita por ela. — Então faz mais de dez anos que você não come galinha ao molho pardo. Alguém no edi�cio se disporia a degolar a galinha. Fizeram uma rápida enquete entre os vizinhos. Ninguém se animava a cortar o pescoço da galinha. Nem o Rogerinho do 701, que fazia coisas inomináveis com gatos. — Somos uma civilização de frouxos! — sentenciou o doutor. Foi para o poço do edi�cio e repe�u: — Frouxos! Perdemos o contato com o barro da vida! E a Margarete só olhando. Luis Fernando Verissimo. A mãe do Freud, 1997. Ao se transpor a oração “Fizeram uma rápida enquete entre os vizinhos.” (20º parágrafo) para a voz passiva sinté�ca, a forma verbal resultante será: a) Fariam. b) Fez-se. c) Fizeram-se. d) Tinham feito. e) Far-se-ia. GR0773 - (Col. Naval) O amigo da onça (19)A Onça, que é bicho valente - mas nem sempre a�lado, como se pensa – , estava quie�nha (48)no seu canto(49), quando lhe apareceu o compadre Lobo(20) e lhe foi dizendo:– Saiba de uma coisa, comadre Onça: você - com perdão da palavra - não é, como supõe, (78)(58)o bicho mais valente e destemido que existe no mundo(59)(79), nem também o Leão, com toda a (50)sua prosa(51) de rei dos animais. (98)(09) – Como assim! – gritou a Onça, enfurecida(99). – Então, como é isso, grande pedaço de idiota? (60)(29)Haverá bicho mais valente e (38)poderoso do que eu?(10)(39)(61) O Lobo, adoçando a voz, respondeu: (82)(21) – Ó comadre, me perdoe(83). (68)Estou arrependido de dizer tal coisa(69) ... (84)Mas a (52)minha intenção (53)foi preveni-la contra um bicho terrível(85) que apareceu nesta paragem(22). Uma pessoa prevenida vale por duas. (11) – Sim, não deixa você de ter alguma razão – (70) (30)acudiu a Onça(31) mais acomodada. (71). – Mas sempre quero saber o nome desse bicho. Como se chama?(12) (23) – Esse bicho, comadre, chama-se homem, conforme me disse o amigo papagaio. (100)(80)Nunca vi em minha vida animal de mais perigosa valen�a(81)(101). Ele sim, e ninguém mais, é o que me parece ser mesmo o verdadeiro rei dos animais. Basta dizer que, de longe, (92)(32)o vi matar(33), com dois espirros, nada menos do que um leão e uma hiena(24)(93). Ih! Comadre, com o estrondo dos espirros parecia que tudo ia pelos ares. (86)Deus nos livre! (87) (34) – Oh! Compadre, não me diga!(35) – É como lhe conto. (40)E o que mais admira ê ser(41) o bicho-homem de pequeno porte. (72)Parece até fraco(73), e 40@professorferretto @prof_ferretto é (96)muito mal servido de unhas e dentes(97). (102)Deve ser um bicho misterioso e encantado(103). (13) – Pois bem, compadre, (74)estou curiosa(75), e desejo que, sem demora, me conduza ao (88)lugar onde se encontra tão estranho animal.(14)(89) (25)– Ah, comadre, peça-me tudo, menos isso. Pelos estragos que, de longe, vi o homem fazer com seus malditos espirros, nunca me atreveria a tal aventura ...(26) – Pois queira ou não queira, tem de mostrar-me o bicho, ou então, agora mesmo perderá a vida.(16) – Lã por isso não seja - disse o Lobo amedrontado.- Iremos. (62)(01)Mas havemos de tomar todas as precauções(02)(63). Eu -com a sua licença - posso correr mais do que a comadre. Assim, levaremos uma embira daquelas que não arrebentam nunca. (104)Amarro uma das pontas no pescoço da comadre e (105) a outra em minha cintura. Em caso de perigo, se for preciso fugir, a comadre e eu corremos. (17)- Fugir! (42)Veja lá o que diz(43)! Você já viu, (54)seu podrela(55), alguma vez onça fugir?(18) (90) – Não me expliquei bem(91). (44)Eu é que fugirei(45). (94)A comadre será apenas arrastada por mim(95). Isso não é fugir. Está certo? – Está bem. Faremos como propõe. (36)E par�ram(37). A Onça com a embira atada ao pescoço, e o Lobo, muito respeitoso e �mido, a puxá-la. (106)(27)(03)Quando chegaram ao des�no(04)(107), o bicho-homem, surpreendido ao avistá-los, �rou da cinta a garrucha, e, atarantado, bateu fogo(28), isto é, espirrou, uma, duas vezes, que foi mesmo um estrondo de todos os diabos. O Lobo então mais que depressa disparou numa corrida desabalada, redobrando quanto podia as forças para arrastar a Onça pela forte embira que (64)�nha atado no (56)pescoço dela(57)(65). De repente, já muito distante, o Lobo sen�u que (76)a Onça estava mais pesada(77). Parou então e contemplou a companheira estendida no chão, com os dentes arreganhados, sem o mais leve movimento. O Lobo, (46)sem perceber que a (66)Onça havia(47) morrido enforcada(67)no laço da embira - antes pensando que es�vesse apenas cansada – , disse-lhe, (05)tremendo como varas verdes(06) – He lã, comadre! Não ri não (07)que o negócio ê sério! (08) (GOMES, Lindolfo. In: Os 100 melhores contos de humor da literatura universal. Org. Flávio Moreira da Costa. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001, p. 522-3.) Assinale a opção que apresenta um verbo impessoal. a) “... o bicho mais valente e destemido que existe no mundo, ..." (58)(59). b) “Haverá bicho mais valente e poderoso do que eu?" (60) (61). c) “Mas havemos de tomar todas as precauções." (62)(63). d) “... �nha atado no pescoço dela." (64)(65). e) “... a Onça havia morrido enforcada ..." (66)(67). GR0784 - (Fei) Enfim, depois de tanto erro passado Tantas retaliações, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado. É bom sentá-lo novamente ao lado Com olhos que contêm o olhar an�go Sempre comigo um pouco atribulado E como sempre singular comigo. Um bicho igual a mim, simples e humano Sabendo se mover e comover E a disfarçar com o meu próprio engano. O amigo: um ser que a vida não explica Que só se vai ao ver outro nascer E o espelho de minha alma mul�plica... (Vinicius de Moraes) O trecho destacado de “Sabendo se mover e comover” (verso 10) é exemplo de: a) voz passiva. b) voz a�va. c) oração sem sujeito. d) oração passiva. e) voz reflexiva. GR0792 - (Mackenzie) Breve história do �que A palavra parece nascida da linguagem dos desenhos animados. Segundo alguns¹, sua clara origem onomatopaica derivaria do alemão �cken, que significa “tocar ligeiramente”, ou de um termo da medicina veterinária que, já no século XVII, associava �cq e �cquet a um fenômeno no qual os cavalos sofrem uma súbita³ suspensão da respiração, seguida por um ruído: uma espécie de² soluço² que produz no animal comportamentos estranhos⁴ e sofrimento. Daí a extensão a várias manifestações que têm em comum a rapidez, o caráter repe��vo e pouco controlável e a piora⁵ em situação de stress. Fonte: Rosella Castelnuovo. Transpondo a frase uma espécie de soluço que produz no animal comportamentos estranhos e sofrimento para a voz passiva, a forma verbal destacada acima corresponde a 41@professorferretto @prof_ferretto a) “são produzidos”. b) “é produzido”. c) “foram produzidos”. d) “estão produzidos”. e) “havia sido produzido”. GR0818 - (Fuvest) O império das festas e as festas do império O Brasil do século XIX, excluindo-se a primeira e a úl�ma década, conviveu intensamente com a realeza. De 1808 a 1889, os brasileiros acostumaram-se a ter um rei à frente da cena polí�ca. Mas se D. João, D. Pedro I, D. Pedro II e a princesa Isabel – esta, quando da ausência de seu pai – ocuparam o espaço formal do mando execu�vo, no dia a dia interagiram com outros reis e rainhas. Estamos falando de uma série de personagens que lideravam as festas populares e que, provenientes de reinos distantes – presentes na memória dos escravos africanos ou nas lembranças dos saudosos colonos portugueses −, povoaram o nosso assoberbado calendário de festas. Oriundo de tradições diversas e de cosmologias par�culares, esse puzzle* ritual fez do Brasil o país das festas, o depositário de um arsenal de símbolos, costumes e valores. Contudo, mais do que isso, tal qual um caleidoscópio, essas tradições não foram apenas se reproduzindo, como o movimento ro�neiro de um motor. Ao contrário, dinamicamente, acabaram por criar festas próprias e leituras originais de um material que lhes era anterior. Nesses rituais, teatralizava-se um grande jogo simbólico e, entre outros figurantes, a realeza era personagem frequente, porém não sempre principal. * puzzle: confusão; quebra-cabeça. (Lilia M. Schwarcz, Valéria M. de Macedo, in: As barbas do imperador: D.Pedro II, um monarca nos trópicos.) O verbo de “Nesses rituais, teatralizava-se um grande jogo simbólico” (úl�mo período) está na voz passiva sinté�ca. Na voz passiva analí�ca, adquire a seguinte forma: a) era teatralizado. b) foi teatralizado. c) é teatralizada. d) são teatralizados. e) foram teatralizadas. 42@professorferretto @prof_ferrettoserviço. No anúncio, essa intenção assume a forma de um convite, estratégia argumenta�va linguis�camente marcada pelo uso de a) conjunção (quando). b) adje�vo (irresis�vel). c) verbo no impera�vo (descubra). d) palavra do campo afe�vo (paixão). e) expressão sensorial (acariciando). GR0279 - (Unesp) Leia a crônica “A obra-prima”, de Lima Barreto, publicada na revista Careta em 25.09.1915. Marco Aurélio de Jesus, dono de um grande talento e senhor de um sólido saber, resolveu certa vez escrever uma obra sobre filologia. Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e que daria ao espírito inculto dos brasileiros as noções exatas da língua portuguesa. Trabalhou durante três anos, com esforço e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria trazer à confusão, à dificuldade de hoje, o saber de amanhã. Era uma obra-prima pelas generalizações e pelos exemplos. A quem dedicá-la? Como dedicá-la? E o prefácio? E Marco Aurélio resolve meditar. Ao fim de igual tempo havia resolvido o di�cil problema. A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de “duas palavras ao leitor” e levaria, como demonstração de sua submissão intelectual, uma dedicatória. Mas “duas palavras”, quando seriam centenas as que escreveria? Não. E Marco Aurélio contou as “duas palavras” uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance único, genial, destacou em relevo, ao alto da página “duzentas e uma palavras ao leitor”. Mas “pálida homenagem”... Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum: “pálida homenagem”? Não. E pensou. E de sua grave meditação, de seu profundo pensamento, saiu a frase límpida, a grande frase que definia a sua ideia da expressão e, num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase sublime: “lívida homenagem do autor”... Está aí como um grande gramá�co faz uma obra- prima. Leiam-na e verão como a coisa é bela. (Sá�ras e outras subversões, 2016.) O cronista narra uma série de fatos ocorridos no passado. Um fato anterior a esse tempo passado está indicado pela forma verbal sublinhada em a) “Eram duzentas e uma e, em um lance único, genial, destacou em relevo, ao alto da página ‘duzentas e uma palavras ao leitor’.” (6º parágrafo) b) “A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de ‘duas palavras ao leitor’ e levaria, como demonstração de sua submissão intelectual, uma dedicatória.” (5º parágrafo) c) “A dedicatória, como todas as dedicatórias, seria a ‘pálida homenagem’ de seu talento ao espírito amigo que lhe ensinara a pensar...” (7º parágrafo) d) “E Marco Aurélio resolve meditar.” (4º parágrafo) e) “Leiam-na e verão como a coisa é bela.” (9º parágrafo) GR0098 - (Unifesp) Para responder à questão, leia o trecho do livro Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre. Mas a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza, capela, escola, oficina, santa casa, harém, convento de moças, hospedaria. Desempenhou outra função importante na economia brasileira: foi também banco. Dentro das suas grossas paredes, debaixo dos �jolos ou mosaicos, no chão, enterrava-se dinheiro, guardavam-se joias, ouro, valores. Às vezes guardavam-se joias nas capelas, enfeitando os santos. Daí Nossas Senhoras sobrecarregadas à baiana de teteias, balangandãs, corações, cavalinhos, cachorrinhos e correntes de ouro. Os ladrões, naqueles tempos piedosos, raramente ousavam entrar nas capelas e roubar os santos. É verdade que um roubou o esplendor e outras joias de São Benedito; 4@professorferretto @prof_ferretto mas sob o pretexto, ponderável para a época, de que “negro não devia ter luxo”. Com efeito, chegou a proibir-se, nos tempos coloniais, o uso de “ornatos de algum luxo” pelos negros. Por segurança e precaução contra os corsários, contra os excessos demagógicos, contra as tendências comunistas dos indígenas e dos africanos, os grandes proprietários, nos seus zelos exagerados de priva�vismo, enterraram dentro de casa as joias e o ouro do mesmo modo que os mortos queridos. Os dois fortes mo�vos das casas-grandes acabarem sempre mal-assombradas com cadeiras de balanço se balançando sozinhas sobre �jolos soltos que de manhã ninguém encontra; com barulho de pratos e copos batendo de noite nos aparadores; com almas de senhores de engenho aparecendo aos parentes ou mesmo estranhos pedindo padres- -nossos, ave-marias, gemendo lamentações, indicando lugares com bo�jas de dinheiro. Às vezes dinheiro dos outros, de que os senhores ilicitamente se haviam apoderado. Dinheiro que compadres, viúvas e até escravos lhes �nham entregue para guardar. Sucedeu muita dessa gente ficar sem os seus valores e acabar na miséria devido à esperteza ou à morte súbita do depositário. Houve senhores sem escrúpulos que, aceitando valores para guardar, fingiram-se depois de estranhos e desentendidos: “Você está maluco? Deu-me lá alguma cousa para guardar?” Muito dinheiro enterrado sumiu-se misteriosamente. Joaquim Nabuco, criado por sua madrinha na casa-grande de Maçangana, morreu sem saber que des�no tomara a ourama para ele reunida pela boa senhora; e provavelmente enterrada em algum desvão de parede. […] Em várias casas- grandes da Bahia, de Olinda, de Pernambuco se têm encontrado, em demolições ou escavações, bo�jas de dinheiro. Na que foi dos Pires d’Ávila ou Pires de Carvalho, na Bahia, achou- -se, num recanto de parede, “verdadeira fortuna em moedas de ouro”. Noutras casas-grandes só se têm desencavado do chão ossos de escravos, jus�çados pelos senhores e mandados enterrar no quintal, ou dentro de casa, à revelia das autoridades. Conta-se que o visconde de Suaçuna, na sua casa-grande de Pombal, mandou enterrar no jardim mais de um negro supliciado por ordem de sua jus�ça patriarcal. Não é de admirar. Eram senhores, os das casas-grandes, que mandavam matar os próprios filhos. Um desses patriarcas, Pedro Vieira, já avô, por descobrir que o filho man�nha relações com a mucama de sua predileção, mandou matá-lo pelo irmão mais velho. (In: Silviano San�ago (coord.). Intérpretes do Brasil, 2000.) Ao se transpor a frase “Às vezes guardavam-se joias nas capelas, enfeitando os santos.” (1° parágrafo) para a voz passiva analí�ca, o termo sublinhado assume a seguinte forma: a) seriam guardadas. b) fossem guardadas. c) foram guardadas. d) eram guardadas. e) são guardadas. GR0281 - (Unesp) Leia a letra da canção “Bom conselho”, de Chico Buarque, composta em 1972. Ouça um bom conselho Que eu lhe dou de graça Inú�l dormir que a dor não passa Espere sentado Ou você se cansa Está provado: Quem espera nunca alcança Venha, meu amigo Deixe esse regaço Brinque com meu fogo Venha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes antes de pensar Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio vento na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade (www.chicobuarque.com.br) Observa-se rima entre palavras de classes grama�cais diferentes em a) “graça”/“passa” (1ª estrofe) e “regaço”/“faço” (2ª estrofe). b) “regaço”/“faço” (2ª estrofe) e “onde”/“longe” (3ª estrofe). c) “onde”/“longe” (3ª estrofe) e “cidade”/“tempestade” (3ª estrofe). d) “sentado”/“provado” (1ª estrofe) e “cansa”/“alcança” (1ª estrofe). e) “cansa”/“alcança” (1ª estrofe) e “graça”/“passa” (1ª estrofe). GR0088 - (Enem) Querido Sr. Clemens, Sei que o ofendi porque sua carta, não datada de outro dia, mas que parece ter sido escrita em 5 de julho, foi muito abrupta; eu a li e reli com os olhos turvos de lágrimas. Não usarei meu maravilhoso broche de peixe-anjo se o senhor não quiser; devolverei ao senhor, se assim me for pedido... OATES, J. C. Descanse em paz. São Paulo: Leya, 2008. Nesse fragmento de carta pessoal, quanto à sequenciação dos eventos, reconhece-se a norma-padrão pelo(a) 5@professorferretto @prof_ferretto a) colocação pronominaI em prócIise. b) uso recorrente de marcas de negação. c) emprego adequado dos tempos verbais. d) preferência por arcaísmos, como “abrupta” e “turvo”. e) presença de qualificadores, como “maravilhoso” e “peixe- anjo”. GR0261 - (Unesp) Leia o trecho dolivro Em casa, de Bill Bryson, para responder à questão. Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos que adulteravam alimentos. O açúcar e outros ingredientes caros muitas vezes eram aumentados com gesso, areia e poeira. A manteiga �nha o volume aumentado com sebo e banha. Quem tomasse chá, segundo autoridades da época, poderia ingerir, sem querer, uma série de coisas, desde serragem até esterco de carneiro pulverizado. Um carregamento inspecionado, relata Judith Flanders, demonstrou conter apenas a metade de chá; o resto era composto de areia e sujeira. Acrescentava-se ácido sulfúrico ao vinagre para dar mais acidez; giz ao leite; terebin�na1 ao gim. O arsenito de cobre era usado para tornar os vegetais mais verdes, ou para fazer a geleia brilhar. O cromato de chumbo dava um brilho dourado aos pães e também à mostarda. O acetato de chumbo era adicionado às bebidas como adoçante, e o chumbo avermelhado deixava o queijo Gloucester, se não mais seguro para comer, mais belo para olhar. Não havia pra�camente nenhum gênero que não pudesse ser melhorado ou tornado mais econômico para o varejista por meio de um pouquinho de manipulação e engodo. Até as cerejas, como relata Tobias Smolle�, ganhavam novo brilho depois de roladas, delicadamente, na boca do vendedor antes de serem colocadas em exposição. Quantas damas inocentes, perguntava ele, �nham saboreado um prato de deliciosas cerejas que haviam sido “umedecidas e roladas entre os maxilares imundos e, talvez, ulcerados de um mascate de Saint Giles”? O pão era par�cularmente a�ngido. Em seu romance de 1771, The expedi�on of Humphry Clinker, Smolle� definiu o pão de Londres como um composto tóxico de “giz, alume 2 e cinzas de ossos, insípido ao paladar e destru�vo para a cons�tuição”; mas acusações assim já eram comuns na época. A primeira acusação formal já encontrada sobre a adulteração generalizada do pão está em um livro chamado Poison detected: or frigh�ul truths, escrito anonimamente em 1757, que revelou segundo “uma autoridade altamente confiável” que “sacos de ossos velhos são usados por alguns padeiros, não infrequentemente”, e que “os ossuários dos mortos são revolvidos para adicionar imundícies ao alimento dos vivos”. (Em casa, 2011. Adaptado.) 1 terebin�na: resina extraída de uma planta e usada na fabricação de vernizes, diluição de �ntas etc. 2 alume: designação dos sulfatos duplos de alumínio e metais alcalinos, com propriedades adstringentes, usado na fabricação de corantes, papel, porcelana, na purificação de água, na clarificação de açúcar etc É invariável quanto a gênero e a número o termo sublinhado em: a) “o resto era composto de areia e sujeira” (1º parágrafo). b) “O pão era par�cularmente a�ngido” (3º parágrafo). c) “O açúcar e outros ingredientes caros” (1º parágrafo). d) “uma autoridade altamente confiável” (3º parágrafo). e) “um pouquinho de manipulação e engodo” (2º parágrafo). GR0102 - (Unicentro) Passando a frase: “Ela havia feito muitos doces de leite para a festa” para a voz passiva, obtém-se: a) Doces de leite para a festa foram feitos. b) Muitos doces de leite para a festa haviam sido feitos por ela. c) Fizeram-se muitos doces de leite por ela para a festa. d) Muitos doces de leite havia ela feito para a festa. e) Para a festa ela fez muitos doces de leite. GR0301 - (Unesp) Trecho inicial da crônica “Está aberta a sessão do júri”, de Graciliano Ramos, publicada originalmente em 1943. O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio século, �nha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas muito finas. Ves�a-se ordinariamente de preto, exigia que todos na jus�ça procedessem da mesma forma – e chegou a mandar re�rar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de roupa clara, ordenar-lhe que voltasse razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência do veredicto. Não via, não sorria. Quando parava numa esquina, as cavaqueiras dos vadios gelavam. Ao afastar-se, mexia as pernas matema�camente, os passos mediam setenta cen�metros, exatos, apesar de barrocas¹ e degraus. A espinha não se curvava, embora descesse ladeiras, as mãos e os braços executavam os movimentos indispensáveis, as duas rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem se desfaziam. Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na encadernação negra semelhante à do proprietário, emper�gavam-se – e nenhum ousava deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso. Dr. França levantava-se às sete horas e recolhia-se à meia-noite, fizesse frio ou calor, almoçava ao meio-dia e jantava às cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no dia 31, entendia-se com a mulher, parcimonioso, na linguagem usada nas sentenças, linguagem arrevesada e 6@professorferretto @prof_ferretto arcaica das ordenações. Nunca julgou oportuno modificar esses hábitos salutares. Não amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude, emanação das existências calmas, e condenou o crime, infeliz consequência da paixão. Se atentássemos nas palavras emi�das por via oral, poderíamos afirmar que o Dr. França não pensava. Vistos os autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com alguma frequência. Apenas o pensamento de Dr. França não seguia a marcha dos pensamentos comuns. Operava, se não nos enganamos, deste modo: “considerando isto, considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando porém aquilo, concluo.” Tudo se formulava em obediência às regras – e era impossível qualquer desvio. Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito redigido com circunlóquios, dividido em capítulos, �tulos, ar�gos e parágrafos. E o que se distanciava desses parágrafos, ar�gos, �tulos e capítulos não o comovia, porque Dr. França está livre dos tormentos da imaginação. (Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.) ^1 barroca: monte de terra ou de barro. Expressa sen�do hipoté�co a forma verbal sublinhada em: a) “Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito redigido com circunlóquios, dividido em capítulos, �tulos, ar�gos e parágrafos.” (7º parágrafo) b) “Ao afastar-se, mexia as pernas matema�camente, os passos mediam setenta cen�metros, exatos, apesar de barrocas e degraus.” (2º parágrafo) c) “Vistos os autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com alguma frequência.” (6º parágrafo) d) “Tudo se formulava em obediência às regras – e era impossível qualquer desvio.” (6º parágrafo) e) “Nunca julgou oportuno modificar esses hábitos salutares.” (4º parágrafo) GR0372 - (Uerj) O coração do meu Tony é uma constelação de cinco pontos. Um pentágono. Eu, Rami, sou a primeira-dama, a rainha- mãe. Depois vem a Julieta, a enganada, ocupando o posto de segunda-dama. Segue-se a Luísa, a desejada, no lugar de terceira-dama. A Saly, a apetecida, é a quarta. Finalmente a Mauá Sualé, a amada, a caçulinha, recém-adquirida. (cap. 5) Ruínas de uma família. A Lu, a desejada, par�u para os braços de outro com véu e grinalda. A Ju, a enganada, está loucamente apaixonada por um velho português cheio de dinheiro. A Saly, a apetecida, enfei�çou o padre italiano que até deixou a ba�na só por amor a ela. A Mauá, a amada, ama outro alguém. (cap. 43) A repe�ção de estruturas nos dois trechos citados aponta para as condições de vida das mulheres, que passam de uma postura passiva a um comportamento a�vo. Essa transformação é marcada pela alternância entre os seguintes elementos: a) nomeações e marcas de ênfase b) metáforas “pentágono” e “ruínas” c) atributos e formas verbais conjugadas d) ironias “uma constelação” e “uma família” GR0096 - (Enem) A rapidez é destacada como uma das qualidades do serviço anunciado, funcionando como estratégia de persuasão em relação ao consumidor do mercado gráfico. O recurso da linguagem verbal que contribui para esse destaque é o emprego a) do termo “fácil" no início do anúncio, com foco no processo. b) de adje�vos que valorizam a ni�dez da impressão. c)das formas verbais no futuro e no pretérito, em sequência. d) da expressão intensificadora “menos do que" associada à qualidade. e) da locução “do mundo" associada a “melhor", que quan�fica a ação. GR0259 - (Unesp) Leia o trecho do livro Em casa, de Bill Bryson, para responder à questão. 7@professorferretto @prof_ferretto Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos que adulteravam alimentos. O açúcar e outros ingredientes caros muitas vezes eram aumentados com gesso, areia e poeira. A manteiga �nha o volume aumentado com sebo e banha. Quem tomasse chá, segundo autoridades da época, poderia ingerir, sem querer, uma série de coisas, desde serragem até esterco de carneiro pulverizado. Um carregamento inspecionado, relata Judith Flanders, demonstrou conter apenas a metade de chá; o resto era composto de areia e sujeira. Acrescentava-se ácido sulfúrico ao vinagre para dar mais acidez; giz ao leite; terebin�na1 ao gim. O arsenito de cobre era usado para tornar os vegetais mais verdes, ou para fazer a geleia brilhar. O cromato de chumbo dava um brilho dourado aos pães e também à mostarda. O acetato de chumbo era adicionado às bebidas como adoçante, e o chumbo avermelhado deixava o queijo Gloucester, se não mais seguro para comer, mais belo para olhar. Não havia pra�camente nenhum gênero que não pudesse ser melhorado ou tornado mais econômico para o varejista por meio de um pouquinho de manipulação e engodo. Até as cerejas, como relata Tobias Smolle�, ganhavam novo brilho depois de roladas, delicadamente, na boca do vendedor antes de serem colocadas em exposição. Quantas damas inocentes, perguntava ele, �nham saboreado um prato de deliciosas cerejas que haviam sido “umedecidas e roladas entre os maxilares imundos e, talvez, ulcerados de um mascate de Saint Giles”? O pão era par�cularmente a�ngido. Em seu romance de 1771, The expedi�on of Humphry Clinker, Smolle� definiu o pão de Londres como um composto tóxico de “giz, alume 2 e cinzas de ossos, insípido ao paladar e destru�vo para a cons�tuição”; mas acusações assim já eram comuns na época. A primeira acusação formal já encontrada sobre a adulteração generalizada do pão está em um livro chamado Poison detected: or frigh�ul truths, escrito anonimamente em 1757, que revelou segundo “uma autoridade altamente confiável” que “sacos de ossos velhos são usados por alguns padeiros, não infrequentemente”, e que “os ossuários dos mortos são revolvidos para adicionar imundícies ao alimento dos vivos”. (Em casa, 2011. Adaptado.) 1 terebin�na: resina extraída de uma planta e usada na fabricação de vernizes, diluição de �ntas etc. 2 alume: designação dos sulfatos duplos de alumínio e metais alcalinos, com propriedades adstringentes, usado na fabricação de corantes, papel, porcelana, na purificação de água, na clarificação de açúcar etc “O acetato de chumbo era adicionado às bebidas como adoçante” (1º parágrafo). Preservando-se a correção grama�cal e o seu sen�do original, essa oração pode ser reescrita na forma: a) Adicionava-se o acetato de chumbo às bebidas como adoçante. b) Adiciona-se o acetato de chumbo às bebidas como adoçantes. c) Eram adicionadas às bebidas como adoçante o acetato de chumbo. d) Adicionam-se às bebidas como adoçante o acetato de chumbo. e) Adicionavam-se às bebidas como adoçante o acetato de chumbo. GR0303 - (Unesp) Leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro de 1974. E se reverenciássemos neste 2 de novembro os mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho do mar - o mar que eles não alcançam, pois encalham na areia das margens, e os urubus os devoram? Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo que for. Se algum deles tem sorte de derivar pela res�nga da Marambaia e ali é recolhido por pescadores - ah, peixe menos desejado - ganha sepultura anônima, que a piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente pescar mortos do Guandu: há sempre a perspec�va de interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos suspeitos e aos que explicam mal suas pescarias macabras. São marginais caçados pela polícia ou por outros marginais, são suicidas, são acidentados? Di�cil classificá-los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos, pesos amarrados aos pés. Estes úl�mos são mortos fáceis de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo, fluindo e boiando, em sonho aquá�co deslizante, estes desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa? Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar para conversas ín�mas: - Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também... Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros de cartório. O garrafinha nº1 não é diferente do garrafinha nº2 ou 3. Foram todos nivelados pelo Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que neles foram come�dos. 8@professorferretto @prof_ferretto [⋯] O Guandu não responde a inquéritos nem a repórteres. Não dis�ngue, carrega. Não comenta, não julga, não reclama se lhe corrompem as águas; transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela jus�ça sumária, pelo absurdo, pelo desespero. Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram. Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do Guandu, apenas e afinal. (Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.) O cronista dirige-se explicitamente a seu leitor no trecho: a) “São marginais caçados pela polícia ou por outros marginais, são suicidas, são acidentados?” (4º parágrafo) b) “Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de flores consagradas aos mortos queridos.” (2º parágrafo) c) “— Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...” (6º parágrafo) d) “Não comenta, não julga, não reclama se lhe corrompem as águas; transporta.” (8º parágrafo) e) “Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia de pensar os e nos mortos.” (9º parágrafo) GR0095 - (Enem) Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a saber que antes de exis�r no lugar um sanatório, lá es�vera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas", um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895". Fiquei na Suíça até outubro de 1914. BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se a a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto. b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos. c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos. d) inclusão de enunciados com comentários e avaliaçõespessoais. e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor. GR0103 - (Unifesp) Qualquer discussão sobre o tempo deve começar com uma análise de sua estrutura, que, por falta de melhor expressão, devemos chamar de "temporal". É comum dividirmos o tempo em passado, presente e futuro. O passado é o que vem antes do presente e o futuro é o que vem depois. Já o presente é o "agora", o instante atual. Isso tudo parece bastante óbvio, mas não é. Para definirmos passado e futuro, precisamos definir o presente. Mas, segundo nossa separação estrutural, o presente não pode ter duração no tempo, pois nesse caso poderíamos definir um período no seu passado e no seu futuro. Portanto, para sermos coerentes em nossas definições, o presente não pode ter duração no tempo. Ou seja, o presente não existe! A discussão acima nos leva a outra questão, a da origem do tempo. Se o tempo teve uma origem, então exis�u um momento no passado em que ele passou a exis�r. Segundo nossas modernas teorias cosmogônicas, que visam explicar a origem do Universo, esse momento especial é o momento da origem do Universo "clássico". A expressão "clássico" é usada em contraste com "quân�co", a área da �sica que lida com fenômenos atômicos e subatômicos. [...] As descobertas de Einstein mudaram profundamente nossa concepção do tempo. Em sua teoria da rela�vidade geral, ele mostrou que a presença de massa (ou de energia) também influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso dia a dia. O tempo rela�vís�co adquire uma plas�cidade definida pela realidade �sica á sua volta. A coisa se complica quando usamos a rela�vidade geral para descrever a origem do Universo. (Folha do S.Paulo. 07.06.1998.) “Em sua teoria da rela�vidade geral, ele mostrou que a presença de massa (ou de energia) também influencia a passagem do tempo, embora esse efeito seja irrelevante em nosso dia a dia.” (4º parágrafo) Ao se converter o trecho destacado para a voz passiva, o verbo “influencia” assume a seguinte forma: 9@professorferretto @prof_ferretto a) é influenciada. b) foi influenciada. c) era influenciada. d) seria influenciada. e) será influenciada. GR0297 - (Unesp) Trecho do livro A solidão dos moribundos, do sociólogo alemão Norbert Elias. Não mais consideramos um entretenimento de domingo assis�r a enforcamentos, esquartejamentos e suplícios na roda. Assis�mos ao futebol, e não aos gladiadores na arena. Se comparados aos da An�guidade, nossa iden�ficação com outras pessoas e nosso compar�lhamento de seus sofrimentos e morte aumentaram. Assis�r a �gres e leões famintos devorando pessoas vivas pedaço a pedaço, ou a gladiadores, por astúcia e engano, mutuamente se ferindo e matando, dificilmente cons�tuiria uma diversão para a qual nos prepararíamos com o mesmo prazer que os senadores ou o povo romano. Tudo indica que nenhum sen�mento de iden�dade unia esses espectadores àqueles que, na arena, lutavam por suas vidas. Como sabemos, os gladiadores saudavam o imperador ao entrar com as palavras “Morituri te salutant” (Os que vão morrer te saúdam). Alguns dos imperadores sem dúvida se acreditavam imortais. De todo modo, teria sido mais apropriado se os gladiadores dissessem “Morituri moriturum salutant” (Os que vão morrer saúdam aquele que vai morrer). Porém, numa sociedade em que �vesse sido possível dizer isso, provavelmente não haveria gladiadores ou imperadores. A possibilidade de se dizer isso aos dominadores — alguns dos quais mesmo hoje têm poder de vida e morte sobre um sem-número de seus semelhantes — requer uma desmitologização da morte mais ampla do que a que temos hoje, e uma consciência muito mais clara de que a espécie humana é uma comunidade de mortais e de que as pessoas necessitadas só podem esperar ajuda de outras pessoas. O problema social da morte é especialmente di�cil de resolver porque os vivos acham di�cil iden�ficar-se com os moribundos. A morte é um problema dos vivos. Os mortos não têm problemas. Entre as muitas criaturas que morrem na Terra, a morte cons�tui um problema só para os seres humanos. Embora compar�lhem o nascimento, a doença, a juventude, a maturidade, a velhice e a morte com os animais, apenas eles, dentre todos os vivos, sabem que morrerão; apenas eles podem prever seu próprio fim, estando cientes de que pode ocorrer a qualquer momento e tomando precauções especiais — como indivíduos e como grupos — para proteger- se contra a ameaça da aniquilação. (A solidão dos moribundos, 2001.) No primeiro parágrafo, a impessoalidade da linguagem está bem exemplificada no trecho: a) “Se comparados aos da An�guidade, nossa iden�ficação com outras pessoas e nosso compar�lhamento de seus sofrimentos e morte aumentaram.” b) “Como sabemos, os gladiadores saudavam o imperador ao entrar com as palavras ‘Morituri te salutant’ (Os que vão morrer te saúdam).” c) “Assis�mos ao futebol, e não aos gladiadores na arena.” d) “Tudo indica que nenhum sen�mento de iden�dade unia esses espectadores àqueles que, na arena, lutavam por suas vidas.” e) “Não mais consideramos um entretenimento de domingo assis�r a enforcamentos, esquartejamentos e suplícios na roda.” GR0515 - (Enem PPL) Reclame se o mundo não vai bem a seus olhos, use lentes ... ou transforme o mundo. ó�ca olho vivo agradece a preferência. CHACAL. Disponível em: www.escritas.org. Acesso em: 14 ago. 2014. Os gêneros podem ser híbridos, mesclando caracterís�cas de diferentes composições textuais que circulam socialmente. Nesse poema, o autor preservou, do gênero publicitário, a seguinte caracterís�ca: a) Extensão do texto. b) Emprego da injunção. c) Apresentação do �tulo. d) Disposição das palavras. e) Pontuação dos períodos. GR0341 - (Fuvest) Os verbos “detonar” e “avariar”, no texto, são exemplos de 10@professorferretto @prof_ferretto a) usos linguís�cos próprios de gêneros da área jurídica. b) termos cujos sen�dos se contradizem na composição da �ra. c) vocábulos empregados informalmente. d) recursos linguís�cos inadequados à situação de comunicação. e) escolhas vocabulares associadas ao contexto de cada personagem. GR0300 - (Unesp) Trecho inicial da crônica “Está aberta a sessão do júri”, de Graciliano Ramos, publicada originalmente em 1943. O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio século, �nha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas muito finas. Ves�a-se ordinariamente de preto, exigia que todos na jus�ça procedessem da mesma forma – e chegou a mandar re�rar-se do Tribunal um jurado inconveniente, de roupa clara, ordenar-lhe que voltasse razoável e fúnebre, para não prejudicar a decência do veredicto. Não via, não sorria. Quando parava numa esquina, as cavaqueiras dos vadios gelavam. Ao afastar-se, mexia as pernas matema�camente, os passos mediam setenta cen�metros, exatos, apesar de barrocas¹ e degraus. A espinha não se curvava, embora descesse ladeiras, as mãos e os braços executavam os movimentos indispensáveis, as duas rugas horizontais da testa não se aprofundavam nem se desfaziam. Na sua biblioteca digna e sábia, volumes bojudos, tratados majestosos, severos na encadernação negra semelhante à do proprietário, emper�gavam-se – e nenhum ousava deitar-se, inclinar-se, quebrar o alinhamento rigoroso. Dr. França levantava-se às sete horas e recolhia-se à meia-noite, fizesse frio ou calor, almoçava ao meio-dia e jantava às cinco, ouvia missa aos domingos, comungava de seis em seis meses, pagava o aluguel da casa no dia 30 ou no dia 31, entendia-se com a mulher, parcimonioso, na linguagem usada nas sentenças, linguagem arrevesada e arcaica das ordenações. Nunca julgou oportuno modificar esses hábitos salutares. Não amou nem odiou. Contudo exaltou a virtude, emanação das existências calmas, e condenou o crime, infeliz consequência da paixão. Se atentássemos nas palavras emi�das por via oral, poderíamos afirmar que o Dr. França não pensava. Vistos os autos, etc., perceberíamos entretanto que ele pensava com alguma frequência. Apenas o pensamentode Dr. França não seguia a marcha dos pensamentos comuns. Operava, se não nos enganamos, deste modo: “considerando isto, considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando porém aquilo, concluo.” Tudo se formulava em obediência às regras – e era impossível qualquer desvio. Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito redigido com circunlóquios, dividido em capítulos, �tulos, ar�gos e parágrafos. E o que se distanciava desses parágrafos, ar�gos, �tulos e capítulos não o comovia, porque Dr. França está livre dos tormentos da imaginação. (Graciliano Ramos. Viventes das Alagoas, 1976.) ^1 barroca: monte de terra ou de barro. O cronista intromete-se explicitamente no texto no seguinte trecho: a) “Contudo exaltou a virtude, emanação das existências calmas, e condenou o crime, infeliz consequência da paixão.” (5º parágrafo) b) “Dr. França possuía um espírito, sem dúvida, espírito redigido com circunlóquios, dividido em capítulos, �tulos, ar�gos e parágrafos.” (7º parágrafo) c) “O Dr. França, Juiz de Direito numa cidadezinha sertaneja, andava em meio século, �nha gravidade imensa, verbo escasso, bigodes, colarinhos, sapatos e ideias de pontas muito finas.” (1º parágrafo) d) “Operava, se não nos enganamos, deste modo: ‘considerando isto, considerando isso, considerando aquilo, considerando ainda mais isto, considerando porém aquilo, concluo.’” (6º parágrafo) e) “E o que se distanciava desses parágrafos, ar�gos, �tulos e capítulos não o comovia, porque Dr. França está livre dos tormentos da imaginação.” (7º parágrafo) GR0091 - (Enem) Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu dis�nguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me ã toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. RAMOS, G. Infância. Rio de Janeiro: Record, 1998. Num texto narra�vo, a sequência dos fatos contribui para a progressão temá�ca. No fragmento, esse processo é indicado pela a) alternância das pessoas do discurso que determinam o foco narra�vo. b) u�lização de formas verbais que marcam tempos narra�vos variados. c) indeterminação dos sujeitos de ações que caracterizam os eventos narrados. d) justaposição de frases que relacionam seman�camente os acontecimentos narrados. e) recorrência de expressões adverbiais que organizam temporalmente a narra�va. 11@professorferretto @prof_ferretto GR0513 - (Enem PPL) Como ocorrem os eclipses solares? Quando a Lua passa exatamente entre a Terra e o Sol, o astro que ilumina nosso planeta some por alguns minutos. O espetáculo só ocorre durante a lua nova e apenas nas ocasiões em que a sombra projetada pelo satélite a�nge algum ponto da super�cie do planeta. Aliás, é o tamanho dessa sombra que vai determinar se o desaparecimento do astro será total, parcial ou anular. Geralmente, ocorrem ao menos dois eclipses solares por ano. Um eclipse solar é uma excelente oportunidade para estudar melhor o Sol. Disponível em: h�ps://mundoestranho.abril.com.br. Acesso em: 21 ago. 2017 (adaptado). Nesse texto, a palavra “aliás” cumpre a função de a) promover uma conclusão de ideias valendo-se das informações da frase anterior. b) indicar uma mudança de assunto e de foco no tema desenvolvido. c) conectar a informação da frase anterior com a da posterior. d) conferir um caráter mais coloquial à reportagem. e) salientar a negação expressa na frase posterior. GR0101 - (Uefs) Leia o texto de Georges Jean. A história do an�go Egito teria ficado, sem dúvida, em grande parte desconhecida ou obscura, se Champollion e os egiptólogos não �vessem penetrado no segredo da escrita “hieroglífica” que recobre os inumeráveis monumentos do vale e do delta do Nilo. Esta escrita, ao contrário da cuneiforme – austera, geométrica, abstrata –, é fascinante, poé�ca e realmente viva. Porque é feita de desenhos admiravelmente es�lizados: cabeças humanas, pássaros, animais diversos, plantas e flores. Sumérios e egípcios habitavam a mesma região do mundo e suas civilizações apresentavam muitos pontos em comum. Por essa razão, os pesquisadores ainda se interrogam sobre eventuais equivalências entre os pictogramas de uns e os hieróglifos de outros. Contudo, por enquanto, ainda se está no terreno das hipóteses e a pesquisa está longe de ser concluída. Segundo os an�gos egípcios, foi o próprio deus Thot quem teria criado a escrita, dando-a depois aos homens. A palavra “hieróglifo”, que designa os caracteres da escrita egípcia, significa, de fato, “escrita dos deuses” (do grego hieros, “sagrado”, e gluphein, “gravar”). Os primeiros documentos contendo inscrições em hieróglifos remontam ao terceiro milênio a.C.; porém, parece que a escrita surgiu antes. Em todo caso, não sofreu nenhuma transformação notável até aproximadamente 390 d.C., nem mesmo quando o Egito estava sob o domínio romano. Simplesmente, o número de símbolos cresceu, passando de setecentos a cinco mil, no momento da ocupação romana. (A escrita: memória dos homens, 2008. Adaptado.) “Sumérios e egípcios habitavam a mesma região” (3º parágrafo) Passada à voz passiva e man�do o sen�do original, a oração transforma-se em: a) A mesma região habitavam sumérios e egípcios. b) A mesma região era habitada por sumérios e egípcios. c) A mesma região foi habitada por sumérios e egípcios. d) A mesma região habitava sumérios e egípcios. e) A mesma região é habitada por sumérios e egípcios. GR0293 - (Unesp) Ar�go “Pó de pirlimpimpim”, do neurocien�sta brasileiro Sidarta Ribeiro. Alcançar o aprendizado instantâneo é um desejo poderoso, pois o cérebro sem informação é pouco mais que estofo de macela 1. Emília, a sabida boneca de Monteiro Lobato, aprendeu a falar copiosamente após engolir uma pílula, adquirindo de supetão todo o vocabulário dos seres humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingestão de uma pílula colorida faz o personagem Neo descobrir que todo o mundo em que sempre viveu não passa de uma simulação chamada Matriz, dentro da qual é possível programar qualquer coisa. Poucos instantes depois de se conectar a um computador, Neo desperta e profere estupefato: “I know kung fu”. Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de carne e osso, vale o dito popular: “Urubu, pra cantar, demora.” O aprendizado de comportamentos complexos é di�cil e demorado, pois requer a alteração massiva de conexões neuronais. Há consenso hoje em dia de que o conteúdo dos nossos pensamentos deriva dos padrões de a�vação de vastas redes neuronais, impossibilitando a aquisição instantânea de memórias intrincadas. Mas nem sempre foi assim. Há meio século, experimentos realizados na Universidade de Michigan pareciam indicar que as planárias, vermes aquá�cos passíveis de condicionamento clássico, eram capazes de adquirir, mesmo sem treinamento, associações es�mulo- resposta por ingestão de um extrato de planárias já condicionadas. O resultado, aparentemente revolucionário, sugeria que os substratos materiais da memória são moléculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingestão de planárias não condicionadas também acelerava o aprendizado, revelando um efeito hormonal genérico, independente do conteúdo das memórias presentes nas planárias ingeridas. A ingestão de memórias é impossível porque elas são estados complexos de redes neuronais, não um quantum de significado como a pílula da Emília. Por outro lado, é sim possível acelerar a consolidação das memórias por meio da o�mização de variáveis fisiológicas envolvidas no processo. Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono, cujo bene�cio à consolidação de memórias já foi comprovado. Em 2006, pesquisadores alemães publicaram um estudo sobre 12@professorferretto @prof_ferretto os efeitos mnemônicos da es�mulação cerebral com ondas lentas (0,75 Hz)aplicadas durante o sono por meio de um es�mulador elétrico. Os resultados mostraram que a es�mulação de baixa frequência é suficiente para melhorar o aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as oscilações lentas do sono são puro pó de pirlimpimpim. (Sidarta Ribeiro. Limiar: ciência e vida contemporânea, 2020.) 1 macela: planta herbácea cujas flores costumam ser usadas pela população como estofo de travesseiros. Pode ser reescrito na voz passiva o seguinte trecho do ar�go: a) “Há consenso hoje em dia de que o conteúdo dos nossos pensamentos deriva dos padrões de a�vação de vastas redes neuronais” (2º parágrafo). b) “Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono” (4º parágrafo). c) “A ingestão de memórias é impossível porque elas são estados complexos de redes neuronais” (4º parágrafo). d) “Em 2006, pesquisadores alemães publicaram um estudo sobre os efeitos mnemônicos da es�mulação cerebral” (4º parágrafo). e) “Alcançar o aprendizado instantâneo é um desejo poderoso” (1º parágrafo). GR0092 - (Enem) DECRETO N. 28 314, DE 28 DE SETEMBRO DE 2007 Demite o Gerúndio do Distrito Federal e dá outras providências. O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL, no uso das atribuições que lhe confere o ar�go 100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA: Art. 1º Fica demi�do o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal. Art. 2º Fica proibido, a par�r desta data, o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA. Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 28 de setembro de 2007. 119° da República e 48° de Brasília Disponível em: www.dodf.gov.br. Acesso em: 11 dez. 2017 Esse decreto pauta-se na ideia de que o uso do gerúndio, como "desculpa de ineficiência", indica a) conclusão de uma ação. b) realização de um evento. c) repe�ção de uma prá�ca. d) con�nuidade de um processo. e) transferência de responsabilidade. GR0275 - (Unesp) Leia o texto extraído da primeira parte, in�tulada “A terra”, da obra Os sertões, de Euclides da Cunha. A obra resultou da cobertura jornalís�ca da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897], as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio1 frouxo de �ros espaçados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale único. Pequenos arbustos, icozeiros2 virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias3 de flores ru�lantes, davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina. O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão e protegido por ela — braços largamente abertos, face volvida para os céus — um soldado descansava. Descansava... havia três meses. Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher 4 estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma banda, e a farda em �ras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem- se, dias depois, os mortos, não fora percebido. Não compar�ra, por isto, a vala comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela úl�ma vez juntos, os companheiros aba�dos na batalha. O des�no que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concessão: livrara-o da promiscuidade lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incu�r a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem um verme — o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria — lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão impercep�vel. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas suges�vo, a secura extrema dos ares. (Os sertões, 2016.) 1 canhoneio: descarga de canhões. 2 icozeiro: arbusto de folhas coriáceas, flores de tom verde-pálido e frutos bacáceos. 3 palmatória: planta da família das cactáceas, de flores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou róseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ri�er von Mannlicher. Observa-se o emprego de voz passiva no trecho 13@professorferretto @prof_ferretto a) “Descansava... havia três meses.” (3º parágrafo) b) “Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta.” (4º parágrafo) c) “Nem um verme — o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria — lhe maculara os tecidos.” (5º parágrafo) d) “Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão impercep�vel.” (5º parágrafo) e) “E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, não fora percebido.” (4º parágrafo). GR0319 - (Fuvest) (...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. (...) Carta de Graciliano Ramos a sua esposa. (...) Uma angús�a apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinhá Vitória guardava o cachimbo. (...) Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pá�o enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes. Graciliano Ramos, Vidas secas. A comparação entre os fragmentos, respec�vamente, da Carta e de Vidas secas, permite afirmar que a) “será que há mesmo” e “acordaria feliz” sugerem dúvida. b) “procurei adivinhar” e “precisava vigiar” significam necessidade. c) “no fundo todos somos” e “andar pelas ribanceiras” indicam lugar. d) “padre Zé Leite pretende” e “Baleia queria dormir” indicam intencionalidade. e) “todos nós desejamos” e “dormiam na esteira” indicam possibilidade. GR0087 - (Enem) Novas tecnologias Atualmente, prevalece na mídia um discurso de exaltação das novas tecnologias, principalmente aquelas ligadas às a�vidades de telecomunicações. Expressões frequentes como “o futuro já chegou”, “maravilhas tecnológicas” e “conexão total com o mundo” “fei�chizam” novos produtos, transformando-os em objetos do desejo, de consumo obrigatório. Por esse mo�vo, carregamos hoje nos bolsos, bolsas e mochilas o “futuro” tão festejado. Todavia, não podemos reduzir-nos a meras ví�mas de um aparelho midiá�co perverso, ou de um aparelho capitalista controlador. Há perversão, certamente, e controle, sem sombra de dúvida. Entretanto, desenvolvemos uma relação simbió�ca de dependência mútua com os veículos de comunicação, que se estreita a cada imagem compar�lhada e a cada dossiê pessoal transformado em objeto público de entretenimento. Não mais como aqueles acorrentados na caverna de Platão, somos livres para nos aprisionar por espontânea vontade a esta relação sadomasoquista com as estruturas midiá�cas, na qual tanto controlamos quanto somos controlados. SAMPAIO, A. S. A micro�sica do espetáculo. Disponível em: h�p://observatoriodaimpresa.com.br. Acesso em: 1 mar. 2013 (adaptada). Ao escrever um ar�go de opinião, o produtor precisa criar uma base de orientação linguís�ca que permita alcançaros leitores e convencê-los com relação ao ponto de vista defendido. Diante disso, nesse texto, a escolha das formas verbais em destaque obje�va a) criar relação de subordinação entre leitor e autor, já que ambos usam as novas tecnologias. b) enfa�zar a probabilidade de que toda população brasileira esteja aprisionada às novas tecnologias. c) indicar, de forma clara, o ponto de vista de que hoje as pessoas são controladas pelas novas tecnologias. d) tornar o leitor copar�cipe do ponto de vista de que ele manipula as novas tecnologias e por elas é manipulado. e) demonstrar ao leitor sua parcela de responsabilidade por deixar que as novas tecnologias controlem as pessoas. GR0285 - (Unesp) Leia a crônica de Machado de Assis, publicada em 19.05.1888. Eu pertenço a uma família de profetas après coup 1, post facto 2, depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em holandês. Por isso digo, e juro se necessário for, que toda a história desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que �nha, pessoa dos seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar. Neste jantar, a que os meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as no�cias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico. No golpe do meio (coup du milieu 3, mas eu prefiro falar a minha língua), levantei-me eu com a taça de champanha e declarei que, acompanhando as ideias pregadas por Cristo, há dezoito séculos, res�tuía a liberdade 14@professorferretto @prof_ferretto ao meu escravo Pancrácio; que entendia que a nação inteira devia acompanhar as mesmas ideias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens não podiam roubar sem pecado. Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio a abraçar-me os pés. Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça, e pediu à ilustre assembleia que correspondesse ao ato que eu acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite, recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo. No dia seguinte, chamei Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza: — Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que… — Oh! meu senhô! fico. — … Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos… — Artura não qué dizê nada, não, senhô… — Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas é de grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha. — Eu vaio um galo, sim, senhô. — Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete. Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um �tulo que lhe dei. Ele con�nuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos. Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí para cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do diabo; coisas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que até alegre. O meu plano está feito; quero ser deputado, e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes de abolição legal, já eu, em casa, na modés�a da família, libertava um escravo, ato que comoveu a toda a gente que dele teve no�cia; que esse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar (simples suposição) é então professor de Filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente polí�cos, não são os que obedecem à lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: és livre, antes que o digam os poderes públicos, sempre retardatários, trôpegos e incapazes de restaurar a jus�ça na terra, para sa�sfação do céu. (Machado de Assis. Crônicas escolhidas, 2013.) 1 après coup: a posteriori. 2 post facto: após o fato. 3 coup du milieu: bebida, às vezes acompanhada de brindes, que se tomava no meio de um banquete Para evitar a repe�ção de um verbo já mencionado, o narrador recorre à elipse de um verbo na frase a) “Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio a abraçar-me os pés.” (4º parágrafo) b) “Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote.” (4º parágrafo) c) “Quando nasceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje estás mais alto que eu.” (8º parágrafo) d) Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade.” (13º parágrafo) e) “Ele con�nuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos.” (13º parágrafo) GR0408 - (Unesp) Leia o excerto do livro Violência urbana, de Paulo Sérgio Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida. De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos. Evite falar com estranhos. À noite, não saia para caminhar, principalmente se es�ver sozinho e seu bairro for deserto. Quando estacionar, tranque bem as portas do carro [...]. De madrugada, não pare em sinal vermelho. Se for assaltado, não reaja – entregue tudo. É provável que você já esteja exausto de ler e ouvir várias dessas recomendações. Faz tempo que a ideia de integrar uma comunidade e sen�r-se confiante e seguro por ser parte de um cole�vo deixou de ser um sen�mento comum aos habitantes das grandes cidades brasileiras. As noções de segurança e de vida comunitária foram subs�tuídas pelo sen�mento de insegurança e pelo isolamento que o medo impõe. O outro deixa de ser visto como parceiro ou parceira em potencial; o desconhecido é encarado como ameaça. O sen�mento de insegurança transforma e desfigura a vida em nossas cidades. De lugares de encontro, troca, comunidade, par�cipação cole�va, as moradias e os espaços públicos transformam-se em palco do horror, do pânico e do medo. A violência urbana subverte e desvirtua a função das cidades, drena recursos públicos já escassos, ceifa vidas – especialmente as dos jovens e dos mais pobres –, dilacera famílias, modificando nossas existências drama�camente para pior. De potenciais cidadãos, passamos a ser consumidores do medo. O que fazer diante desse quadro de insegurança e pânico, denunciado diariamente pelos jornais e alardeado pela mídia eletrônica? Qual tarefa impõe-se aos cidadãos, na democracia e no Estado de direito? (Violência urbana, 2003.) O trecho “As noções de segurança e de vida comunitária foram subs�tuídas pelo sen�mento de insegurança e pelo isolamento que o medo impõe.” (2º parágrafo) foi construído na voz passiva. Ao se adaptar tal trecho para a voz a�va, a 15@professorferretto @prof_ferretto locução verbal “foram subs�tuídas” assume a seguinte forma: a) subs�tui. b) subs�tuíram. c) subs�tuiriam. d) subs�tuiu. e) subs�tuem. GR0288 - (Unesp) Leia o trecho do ensaio “As mutações do poder e os limites do humano”, de Newton Bigno�o. A modernidade se construiu a par�r do Renascimento à luz da famosa asserção do filósofo italiano Pico della Mirandola em seu Discurso sobre a dignidade do homem (1486), segundo o qual fomos criados livres e com o poder de escolher o que desejamos ser. Diferentemente dos outros seres, o homem pode cons�tuir a própria face e transitar pelos caminhos mais elevados, ou degenerar até o nível inferior das bestas. Para Pico della Mirandola, o homem é um ser