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CST EM GESTÃO PÚBLICA PROJETO INTEGRADO Cidade 2020 Cidade Cidade 2024 PROJETO INTEGRADO Projeto de Ensino apresentado à ANHANGUERA como requisito parcial à conclusão do Curso. Docente supervisor: Prof. 2024 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 3 1 DESENVOLVIMENTO 4 2 CONSIDERAÇÕES FINAIS 10 REFERÊNCIAS 11 INTRODUÇÃO A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) é uma ferramenta essencial dentro do arcabouço jurídico e político brasileiro, prevista na Constituição Federal de 1988, artigo 58, § 3º, que confere a estas comissões poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. Seu objetivo é apurar fatos determinados que se revistam de relevância para o interesse público. A instauração de uma CPI é um indicativo da atuação fiscalizadora do Poder Legislativo sobre os demais poderes e sobre a própria sociedade, sendo capaz de mobilizar recursos, atenção e esforços na direção de temas que exigem uma investigação detalhada e aprofundada. No contexto da pandemia de COVID-19, uma crise sanitária global sem precedentes na história recente, a instauração de uma CPI pelo Senado Federal Brasileiro tornou-se um marco na investigação das ações e omissões dos agentes públicos e privados na gestão da crise. A pandemia, que foi oficialmente caracterizada como tal pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, não apenas desencadeou uma crise de saúde pública, mas também expôs e amplificou vulnerabilidades sistêmicas em diversas esferas da gestão pública e privada. A CPI da COVID-19, portanto, emerge como um instrumento de diagnóstico dessas falhas, buscando identificar, por meio de um procedimento investigativo rigoroso, as responsabilidades civis e criminais decorrentes da gestão da pandemia. Este processo envolve a análise de uma série de condutas que vão desde a infração de medidas sanitárias preventivas até crimes contra a humanidade, configurando um espectro amplo de atos que possam ter contribuído para agravar os efeitos da crise. Assim, a importância da abertura e condução de uma CPI, especialmente em um contexto de crise como o da pandemia de COVID-19, transcende a mera apuração de responsabilidades. Ela se estabelece como um mecanismo de transparência, prestação de contas e aprendizado coletivo, capaz de oferecer à sociedade não apenas um entendimento claro dos erros e acertos na gestão da crise, mas também lições fundamentais para o fortalecimento das instituições e a prevenção de futuras crises. A CPI da COVID-19, nesse sentido, assume um papel educativo e preventivo, contribuindo para a elaboração de políticas públicas mais resilientes e para a consolidação de uma gestão pública que esteja à altura dos desafios impostos por crises de grande magnitude. DESENVOLVIMENTO A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) tem um papel fundamental no sistema democrático brasileiro, servindo como um mecanismo de controle e fiscalização exercido pelo Poder Legislativo sobre as ações do Poder Executivo e outras esferas governamentais. A CPI é dotada de amplos poderes investigativos, comparáveis aos das autoridades judiciais, o que permite aprofundar investigações sobre matérias de relevante interesse público (BROSSARD, 1994). O fundamento legal para a criação de uma CPI está firmemente ancorado na Constituição Federal de 1988, que prevê a possibilidade de sua instauração mediante requerimento de um terço dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. Esse dispositivo constitucional destaca a importância das minorias parlamentares no processo democrático, assegurando-lhes um instrumento eficaz para a fiscalização do governo (MELLO, 2007). As CPIs possuem uma amplitude de atuação que permite a investigação de "todos os assuntos que estejam na competência legislativa ou fiscalizatória do Congresso Nacional". Isso significa que os temas passíveis de investigação por uma CPI não se limitam, estando abertos a uma vasta gama de questões de interesse nacional, o que amplia significativamente o escopo de sua atuação e sua relevância para a sociedade (MENDES, COELHO & BRANCO, 2008). A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) tem contribuído para delimitar e ao mesmo tempo expandir o alcance das CPIs, esclarecendo que a exigência de um fato determinado para a instauração de uma CPI não impede a investigação de fatos conexos que possam surgir durante as investigações. Essa interpretação garante a eficácia das CPIs como ferramentas de investigação, permitindo que se adaptem às complexidades e desenvolvimentos que emergem ao longo do processo investigativo (VELLOSO, 1994). Apesar de suas amplas competências, as atividades das CPIs são limitadas no tempo, com a duração dos trabalhos vinculada ao término da respectiva sessão legislativa. Esse limite temporal visa equilibrar o poder investigativo das CPIs com a proteção dos direitos individuais, evitando exposições prolongadas e possivelmente prejudiciais à honra e à imagem das pessoas investigadas (PERTENCE, 1994). Sobre a Infração de Medida Sanitária Preventiva, é importante compreender que este delito está previsto no artigo 268 do Código Penal Brasileiro e se caracteriza pela violação de determinações do poder público destinadas a impedir introdução ou propagação de doenças contagiosas. No contexto da pandemia de COVID-19, a observância dessas medidas sanitárias assumiu uma importância sem precedentes, uma vez que a rápida disseminação do vírus exigiu respostas imediatas e eficazes por parte das autoridades e da população (VENTURA, 2020). A CPI da COVID-19, instaurada para investigar as ações e omissões do governo brasileiro no enfrentamento da pandemia, dedicou especial atenção às infrações de medidas sanitárias preventivas. A investigação abrangeu desde a promoção de aglomerações em desacordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) até a negligência na implementação de políticas de distanciamento social e uso de máscaras (MELLO, 2007). As consequências da infração de medidas sanitárias vão além das implicações legais, refletindo-se diretamente na saúde pública e na sobrecarga dos sistemas de saúde. A disseminação não controlada do vírus resultou em um número elevado de hospitalizações e óbitos, evidenciando a importância crítica do cumprimento das medidas sanitárias estabelecidas (BROSSARD, 1994). A responsabilização por infrações de medidas sanitárias preventivas, conforme investigado pela CPI, não se restringe a indivíduos, abrangendo também entidades e autoridades públicas que falharam em promover e fazer cumprir as diretrizes necessárias para a contenção da pandemia. Esse aspecto destaca a multifacetada responsabilidade no âmbito da gestão da crise sanitária (MENDES, COELHO & BRANCO, 2008). A análise da CPI sobre as infrações de medidas sanitárias preventivas contribui para um entendimento mais amplo sobre as falhas e os desafios enfrentados pelo Brasil no combate à pandemia de COVID-19. As lições aprendidas com essa investigação são fundamentais para o aprimoramento das políticas públicas e a preparação para futuras emergências sanitárias (PERTENCE, 1994). Atos de falsidade ideológica e corrupção, tanto ativa quanto passiva, configuram crimes sérios no ordenamento jurídico brasileiro, especialmente quando relacionados à gestão de crises como a pandemia de COVID-19. A falsidade ideológica, prevista no art. 299 do Código Penal, envolve a alteração da verdade em documento público ou privado para obter vantagem ou prejudicar outrem, uma prática que pode ter sérias implicações no contexto de medidas emergenciais de saúde (BROSSARD, 1994). A corrupção passiva, por sua vez, está definida no art. 317 do Código Penal e ocorre quando um funcionário público solicita ou recebe, direta ou indiretamente, vantagem indevida, ou aceita promessa de tal vantagem. Durante a pandemia, esse tipo de corrupção pode envolver desde a aquisição de insumos médicos até a implementação de políticas de saúde, afetando diretamente a eficáciada resposta à crise (MELLO, 2007). A corrupção ativa, estabelecida no art. 333 do mesmo código, acontece quando alguém oferece ou promete vantagem indevida a funcionário público para levá-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício. Em um cenário de pandemia, isso pode incluir desde a oferta de propinas para a agilização de processos de compra até a manipulação de contratos de fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs) e vacinas (MENDES, COELHO & BRANCO, 2008). A investigação desses crimes no âmbito da CPI da COVID-19 revela não apenas a complexidade e a gravidade das infrações, mas também a necessidade de sistemas robustos de controle e transparência. A apuração desses atos visa não só à responsabilização dos envolvidos, mas também à implementação de medidas que previnam sua repetição em futuras crises sanitárias (PERTENCE, 1994). Portanto, a análise dos atos de falsidade ideológica e corrupção em meio à gestão da pandemia de COVID-19 evidencia a importância de mecanismos efetivos de fiscalização e integridade no setor público. A atuação da CPI da COVID-19 nesse contexto destaca o papel do Poder Legislativo na investigação e no combate a essas práticas ilícitas, reforçando a necessidade de uma governança transparente e ética (VELLOSO, 1994). A improbidade administrativa, definida pela Lei 8.429/92, é um tema crucial no contexto da gestão pública, especialmente durante uma crise como a pandemia de COVID-19. Esta lei visa punir atos de agentes públicos que resultem em enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário ou violação dos princípios administrativos. Ações que configuram improbidade, como a má gestão de recursos destinados ao combate da pandemia, podem ter consequências devastadoras para a sociedade (BROSSARD, 1994). A Lei Anticorrupção (Lei 12.846/2013) complementa o quadro normativo de combate à corrupção no Brasil, estabelecendo responsabilidades para pessoas jurídicas envolvidas em atos contra a administração pública. No contexto da pandemia, essa legislação é particularmente relevante para assegurar que empresas envolvidas em fornecimento de bens e serviços essenciais atuem de forma íntegra e transparente (MELLO, 2007). A investigação de atos de improbidade e corrupção no âmbito da CPI da COVID-19 sublinha a importância de mecanismos de controle e fiscalização eficazes. A análise desses atos visa não apenas punir os responsáveis, mas também estabelecer práticas que garantam a integridade e a eficiência na gestão de recursos públicos, especialmente em tempos de crise (MENDES, COELHO & BRANCO, 2008). A responsabilização por improbidade administrativa e atos de corrupção não se limita às esferas penal e civil. Ela tem também um forte componente moral e ético, reforçando a necessidade de uma cultura de integridade e transparência no setor público. A atuação da CPI neste contexto evidencia a função do Poder Legislativo como órgão de controle, essencial para a manutenção da confiança pública nas instituições (PERTENCE, 1994). Dessa forma, a análise dos atos de improbidade administrativa e corrupção pela CPI da COVID-19 contribui significativamente para o debate sobre governança e ética pública. Ao destacar as falhas e propor melhorias, a CPI desempenha um papel vital na prevenção de futuras crises de integridade no setor público, promovendo uma gestão mais responsável e transparente (VELLOSO, 1994). Os crimes contra a humanidade, enquadrados no contexto do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, incluem atos como genocídio, perseguição e outros atos desumanos de grande escala. No âmbito da pandemia de COVID-19, investigações sobre esses crimes se concentram em ações ou omissões que possam ter contribuído para a propagação do vírus e o consequente sofrimento humano em larga escala (BROSSARD, 1994). A CPI da COVID-19 buscou identificar se as ações do governo ou de outras entidades poderiam ser classificadas como crimes contra a humanidade, especialmente em relação à gestão da crise sanitária. A negligência na implementação de medidas preventivas, a falta de transparência nas comunicações e a inadequação na distribuição de recursos médicos são aspectos considerados nessa análise (MELLO, 2007). A responsabilidade por crimes contra a humanidade vai além das fronteiras nacionais, envolvendo a jurisdição de tribunais internacionais. Isso implica que as conclusões da CPI podem ter repercussões significativas, não apenas no âmbito interno brasileiro, mas também no contexto internacional, reforçando a importância de uma gestão eficaz e ética em situações de crise (MENDES, COELHO & BRANCO, 2008). A análise desses crimes no contexto da pandemia destaca a necessidade de uma cooperação internacional mais efetiva e de sistemas de saúde pública robustos. A pandemia evidenciou lacunas críticas na preparação e resposta global a emergências sanitárias, apontando para a necessidade urgente de reformas (PERTENCE, 1994). Assim, a investigação de crimes contra a humanidade pela CPI da COVID-19 contribui para um entendimento mais profundo sobre as falhas na resposta global à pandemia. Essas análises são fundamentais para a elaboração de políticas que visem prevenir futuras crises sanitárias e garantir a proteção dos direitos humanos em escala global (VELLOSO, 1994). 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS As considerações finais deste trabalho proporcionam uma oportunidade de reflexão sobre a importância da análise crítica das ações governamentais, especialmente em contextos de crise, como o da pandemia de COVID-19. A investigação realizada pela CPI do COVID-19 no Brasil revelou não apenas falhas e desafios na gestão da crise sanitária, mas também a importância da transparência, da responsabilidade e da integridade no exercício da gestão pública. Do ponto de vista profissional, a compreensão detalhada dos procedimentos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), bem como dos aspectos legais e éticos envolvidos nas investigações, reforça a importância de competências como análise crítica, pensamento ético e capacidade de avaliação de políticas públicas. Estas são habilidades essenciais para profissionais que atuam ou pretendem atuar na esfera pública, em organizações não governamentais ou mesmo no setor privado, em áreas relacionadas à gestão de crises, políticas de saúde ou no campo jurídico. Pessoalmente, aprofundar-se nos temas abordados pela CPI do COVID-19 contribui para a construção de uma consciência mais crítica sobre o papel do cidadão na sociedade. A pandemia evidenciou a interconexão entre as decisões políticas e os impactos diretos na vida das pessoas, destacando a importância da participação cidadã, da exigência por transparência e da necessidade de fiscalização das ações governamentais. Além disso, este estudo reforça a percepção de que a gestão eficaz de crises não depende apenas de medidas técnicas ou sanitárias, mas também de uma sólida base ética e de compromisso com os direitos humanos. A investigação sobre possíveis crimes contra a humanidade, atos de corrupção e improbidade administrativa no contexto da pandemia ressalta a relevância de princípios éticos e legais na condução de políticas públicas, especialmente em situações de emergência. Por fim, a análise das ações investigadas pela CPI do COVID-19 serve como um lembrete crucial da responsabilidade compartilhada entre governantes e governados na construção de uma sociedade mais justa, transparente e resiliente. Esse entendimento fortalece o compromisso com a formação contínua, não apenas como profissional, mas também como cidadão ativo e crítico-reflexivo, capaz de contribuir para o enfrentamento de desafios presentes e futuros na sociedade. REFERÊNCIAS BROSSARD, P. (1994). Judicialização da política, poder judiciário e comissões parlamentares de inquérito no Brasil. Analisa o papel e os limites das CPIs dentro da estrutura política e jurídica brasileira.SCIELO. CODATO, A., Costa, L.D., Massimo, L. & Heinz, F. (2016). Regime político e recrutamento parlamentar: um retrato coletivo dos senadores brasileiros antes e depoisda ditadura. Revista de Sociologia e Política, 24(60), pp. 47-68. FIGUEIREDO, A. & Limongi, F. (1999). Executivo e legislativo na nova ordem constitucional. Rio de Janeiro: FGV. MELLO, C. A. B. (2007). O papel das minorias parlamentares na criação de CPIs. SCIELO. MENDES, G. F., Coelho, I. M., & Branco, P. G. G. (2008). Curso de direito constitucional. SCIELO. PERISSINOTTO, R.M. & Miríade, A. (2009). Caminhos para o parlamento: candidatos e eleitos nas eleições para deputado federal em 2006. Dados, 52(2), pp. 301-333. SCIELO.. VELLOSO, C. M. (1994). A atuação das Comissões Parlamentares de Inquérito e seus limites constitucionais. SCIELO.. VENTURA, D. (2020). Defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e segurança sanitária internacional. SCIELO.. image1.png