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Direito Civil – Parte Geral
Professora: Carla Froener
E-mail: carlafroener@gmail.com
AULA 12
NEGÓCIO JURÍDICO
Defeitos
SUMÁRIO
1. Defeitos do negócio jurídico
1.1. Vícios da vontade
1.1.1. Erro
1.1.2. Dolo
1.1.3. Coação
1.1.4. Estado de perigo
1.1.5. Lesão
DEFEITOS (OU VÍCIOS) DO NEGÓCIO JURÍDICO
São imperfeições que podem surgir no negócio jurídico, decorrentes de
anomalias na formação da vontade ou na sua declaração.
Como o problema atinge a vontade, repercute na validade do negócio
jurídico celebrado.
Previsão legal: art. 138 a 165 e 167 do CC.
CLASSIFICAÇÃO DOS DEFEITOS
Os vícios ou defeitos do negócio jurídico são divididos em duas
modalidades:
* Vícios da vontade ou do consentimento: - erro ou ignorância
- dolo
- coação
- estado de perigo
- lesão
* Vícios sociais: - fraude contra credores
- simulação
ERRO OU IGNORÂNCIA (art. 138-144 CC)
É um engano fático (falsa noção ou desconhecimento da realidade) em
relação a uma pessoa, ao objeto do negócio ou a um direito, que atinge a
vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico.
A parte engana-se sozinha.
Erro é a ideia falsa da realidade. Já ignorância, é o completo
desconhecimento da realidade. O Código Civil, entretanto, equiparou os efeitos
do erro à ignorância. Em ambos os casos, o agente é levado a praticar o ato
ou a realizar o negócio que não celebraria ou que praticaria em circunstâncias
diversas, se estivesse devidamente esclarecido.
Classificação de ERRO
* Erro substancial ou essencial - recai sobre circunstâncias e aspectos
determinantes do negócio, tornando-o anulável. O erro possui tamanha
importância que se a parte conhecesse a verdade, o negócio jurídico não seria
celebrado. Ex. Contrato de aluguel em que consta compra e venda;
publicidade com valor irrisório.
* Erro acidental – refere-se a circunstâncias de menos importância e que
não causam efetivo prejuízo. Se conhecida a realidade, mesmo assim o
negócio seria realizado. Não acarreta anulação do negócio jurídico porque
pode ser corrigido. Ex. erro na correção monetária de cálculo; erro na
digitação do nome (Carla x Karla).
Art. 139 do CC
“O erro é substancial quando:
I — interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a
alguma das qualidades a ele essenciais;
II — concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se
refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo
relevante;
III — sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo
único ou principal do negócio jurídico.”
Art. 139 CC - O erro é substancial quando:
I — interessa:
* à natureza do negócio. É erro sobre a categoria jurídica. Uma das partes manifesta
a sua vontade, pretendendo e supondo celebrar determinado negócio jurídico, mas
na verdade, realiza outro diferente. Ex: quer alugar e escreve vender;
* ao objeto principal da declaração. É erro sobre a identidade do objeto. A
manifestação da vontade recai sobre objeto diverso daquele que o agente tinha em
mente. Ex: uma pessoa quer alugar a sua casa que fica no centro da cidade, mas o
outro contratante entende que é uma casa de campo;
* a alguma das qualidades a ele essenciais. É erro sobre as qualidades do objeto que
influíram na decisão de realizar o negócio. Ocorre quando o motivo determinante do
negócio é a suposição de que o objeto possui determinada qualidade e depois a
parte descobre que o objeto não a possuía. Ex: pessoa que compra um relógio
folhado a ouro, achando que é de ouro maciço.
Art. 139 CC - O erro é substancial quando:
II — concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a
declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante. Se
refere aos negócios jurídicos intuitu personae, ou seja, pessoa específica. Pode se
referir tanto à identidade quanto às qualidades desta pessoa, porém, para ser
classificado como erro substancial, precisa influenciar na declaração de vontade
“de modo relevante”.
Ex: doação ou testamento para pessoa que o doador supõe, equivocadamente,
que lhe salvou a vida.
Art. 139 CC - O erro é substancial quando:
III — sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo
único ou principal do negócio jurídico. Refere-se ao falso conhecimento, à
ignorância ou à interpretação errônea da norma jurídica aplicável à situação
concreta.
Ex: pessoa que contrata a importação de determinada mercadoria ignorando
existir lei que proíbe a importação.
Como essa ignorância foi a causa determinante do ato, ela pode ser alegada
para anular o contrato.
Art. 142 CC
“O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração
de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas
circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.”
Refere-se ao erro sanável.
Ex: o doador ou testador beneficia o seu sobrinho Antônio quando, na
realidade, ele não tem nenhum sobrinho com esse nome, mas se verifica que
ele tem um afilhado de nome Antônio, a quem sempre chamou de sobrinho.
Art. 141 do CC
“A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável
nos mesmos casos em que o é a declaração direta.”
Aplica-se este artigo aos casos em que o declarante não se encontra na
presença do declaratário, valendo-se da interposição de outra pessoa ou de
um meio de comunicação (ex. material publicitário, internet, e-mail), e ocorre
uma divergência entre a vontade inicial e o que foi transmitido erroneamente.
* material de apoio no portal
Prazo – ERRO
É de quatro anos o prazo para requerer a anulação do negócio jurídico por
erro, contado do dia em que se realizou o negócio.
Artigo 178, inciso II, do Código Civil.
DOLO (art. 145-150 CC)
É o artificio ardiloso (sugestões ou manobras maliciosas) empregado para
enganar alguém, induzindo-o a praticar um ato que beneficiará o autor do dolo
ou a terceiro.
Diferentemente do erro, a pessoa não se engana sozinha, é provocada.
* material de apoio no portal
Tipos de DOLO segundo o CC
Dolo essencial - configura-se quando o negócio é realizado somente porque
houve induzimento malicioso de uma das partes, ou seja, o dolo foi a causa
determinante da declaração de vontade, por isso vicia o negócio.
Se não fosse o convencimento astucioso e a manobra insidiosa, a avença
não se teria concretizado.
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
Dolo é a causa do negócio  negócio jurídico anulável
Dolo acidental - refere-se às condições do negócio, que seria realizado
independentemente da malícia empregada pela outra parte ou por terceiro,
porém em condições favoráveis ao agente. Por essa razão, o dolo acidental não
vicia o negócio, apenas obriga indenização por perdas e danos.
Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando,
a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.
Negócio seria realizado de qualquer forma, mas de modo diverso  não 
admite anulação do negócio, apenas possibilita perdas e danos
Dolo de terceiro - o dolo é praticado por pessoa estranha ao negócio.
* Se a parte beneficiada tem ciência do dolo: aplica-se a regra do dolo
essencial  anulabilidade do negócio.
* Se a parte beneficiada não tem ciência do dolo: aplica-se a regra do dolo
acidental  mantém o negócio jurídico e o terceiro responde por perdas e
danos.
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a
quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que
subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a
quem ludibriou.
Dolo do representante - o representante age como se fosse o próprio
representado (não é terceiro).
* representante legal: o representado responde civilmente até a importância
do proveito que teve.
* representante convencional: o representado responde solidariamente com o
representante por perdas e danos.
Art. 149 CC. O dolo do representante legal de uma daspartes só obriga o representado
a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do
representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas
e danos.
Outras classificações de DOLO
1. Quanto ao conteúdo:
Dolo bom - consiste em um dolo tolerável, caracterizado pelo exagero
sobre as qualidades de um bem. Ex. um vendedor que exalta um produto para
conseguir vender.
Dolo mau - há a intenção de enganar alguém e causar prejuízo. Ex. um
vendedor que engana o comprador para conseguir vender (e não apenas
exalta como no dolo bom).
2. Quanto à conduta das partes:
Dolo positivo ou comissivo - dolo praticado por meio de uma ação. É
uma conduta positiva, fazer algo.
Dolo negativo ou omissivo (art. 147 CC) - dolo praticado por omissão.
Ex.: contratante omite doença grave na contratação de seguro de vida.
3. Quanto à parte que exerce:
Dolo unilateral – o dolo é exercido por apenas uma das partes (é o mais
comum).
Dolo recíproco ou bilateral (art. 150 CC) – o dolo é exercido por ambas
as partes. Neste caso, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio ou
reclamar indenização. (aplicação da regra de que ninguém pode se beneficiar
da própria torpeza).
Prazo – DOLO
É de quatro anos o prazo para requerer a anulação do negócio jurídico por
dolo, contado do dia em que se realizou o negócio.
Artigo 178, inciso II, do Código Civil.
COAÇÃO (art. 151-155 CC)
É ameaça ou pressão injusta (física ou psicológica) exercida sobre um
indivíduo para forçá-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um
negócio jurídico.
Ex: fazendeiro obriga vizinho a vender suas terras mediante o uso de força
física ou coação psicológica, como ateando fogo ou matando algum animal da
propriedade vizinha.
Distinção:
coator: quem pratica a coação.
coato, coagido ou paciente: quem sofre a coação (CC -> paciente).
Requisitos para anulação por meio de COAÇÃO (art. 151 CC):
a. fundado temor;
b. dano iminente e considerável;
c. em face da pessoa, sua família ou seus bens (se não for pessoa da família
do paciente, o juiz analisará com base nas circunstâncias).
Para verificar a constatação de coação no caso concreto, deve-se levar em
consideração o sexo, a idade, a condição, a saúde e o temperamento do
paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir em sua gravidade
(art. 152 CC), ou seja, deve ser analisado caso a caso.
Descaracterização da coação (art. 153 CC) - temor reverencial e ameaça
de exercício normal de um direito. Ex: credor informa o devedor de que irá
protestar o título que possui em Cartório, havendo dívida.
Coação de terceiro (arts. 154 e 155 CC) - a coação é praticada por pessoa
estranha ao negócio.
* Se a parte beneficiada tem ou devesse ter conhecimento da coação  o
negócio jurídico é anulável e a parte beneficiada responderá solidariamente
com o terceiro por perdas e danos.
* Se a parte beneficiada não tinha conhecimento da coação  mantém o
negócio jurídico e o terceiro responde por perdas e danos.
Prazo – COAÇÃO
É de quatro anos o prazo para requerer a anulação do negócio jurídico por
coação, contado do dia em que ela cessar.
Artigo 178, inciso I, do Código Civil.
ESTADO DE PERIGO (art. 156 CC)
É a situação de extrema necessidade de salvar a si próprio ou a alguém da
família que conduz uma pessoa a celebrar negócio jurídico em que assume
obrigação desproporcional e excessiva.
Requisitos:
(a) onerosidade excessiva;
(b) conhecimento da situação de perigo pela outra parte.
Ex: pessoa precisa de uma cirurgia de urgência e o médico cobra um valor
muito acima da sua tabela para realizá-la.
Art. 156 CC. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da
necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do
declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.
Prazo – ESTADO DE PERIGO
É de quatro anos o prazo para requerer a anulação do negócio jurídico por
estado de perigo, contado do dia em que se realizou o negócio.
Artigo 178, inciso II, do Código Civil.
LESÃO (art. 157 CC)
É a situação em que, sob imediata necessidade ou por inexperiência, a
pessoa se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta.
Requisitos:
(a) onerosidade excessiva;
(b) necessidade imediata ou inexperiência.
Ex: empresa de turismo que cobra um valor absurdo para um transporte de
não previsto.
Art. 157 CC. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente
necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao
tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
Prazo – LESÃO
É de quatro anos o prazo para requerer a anulação do negócio jurídico por
lesão, contado do dia em que se realizou o negócio.
Artigo 178, inciso II, do Código Civil.
RESUMO:
Direito Civil
Parte Geral
Professora: Carla Froener
E-mail: carlafroener@gmail.com

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