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DIREITO CIVIL – PARTE GERAL PROFª. VANESSA ZAMBALDI 2 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO AULA 08 CONTINUAÇÃO... 3 REQUISITOS DE VALIDADE O negócio jurídico exige alguns requisitos: Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. 4 AGENTE CAPAZ: Regra é que seja agente capaz; Quando houver um agente absolutamente incapaz, ele deverá ser representado por seu representante legal. Quando o agente for relativamente incapaz, ele deverá ser assistido ao celebrar o negócio; 5 OBJETO LÍCITO: Deve-se estar em conformidade com a norma jurídica e também respeitar a moral e os bons costumes; Licitude é a possibilidade jurídica do objeto do contrato. Assim, não se pode firmar negócio sobre a compra e venda de cocaína, substância ilícita. Tampouco se pode determinar como objeto de contrato a herança de pessoa viva, segundo o art. 426. Determina-se na lei aquilo que é ilícito. 6 POSSÍVEL: Sendo a licitude a possibilidade jurídica, temos no “possível” a possibilidade física, entendendo-se tudo que estiver dentro das forças humanas ou da natureza. Assim, é impossível viajar ao Sol, sendo inválido o contrato estabelecido com este objeto. Já a viagem à Lua, que é possível, não invalidaria o contrato. Observa-se que a viagem à Lua é de fato impossível à esmagadora maioria da população, sendo possível apenas a determinadas empresas. Distingue-se aqui a impossibilidade absoluta, das viagens ao Sol, da impossibilidade relativa, das viagens à Lua. É inválido todo negócio absolutamente impossível; já o negócio relativamente impossível é válido. 7 DETERMINADO OU DETERMINÁVEL: Pode o objeto não ter sido determinado no próprio ato, mas há de ser determinável, pelo menos. É determinado o objeto de um contrato que seja específico: um táxi de placa tal e chassi tal. Não sendo determinado, é determinável um táxi qualquer de uma tal frota. Ambos são objetos válidos. Inválido é o negócio cujo objeto é indeterminável, como um táxi — sem especificações, sem conjunto que o delimite. Este objeto pode ser qualquer táxi no mundo e geraria diversos problemas jurídicos. 8 NORMA PREVISTA: Norma prevista (ou não proibida por lei): É simplesmente a liberdade das formas limitadas pela lei. Que é o acordo de vontades a respeito do negócio que se celebra; 9 CAUSA FINAL: Causa final: Se trata do motivo pelo qual as partes celebraram o negócio, devendo sempre ter a finalidade lícita. 10 11 PLANO DE EFICÁCIA os negócios jurídicos, que cuida das possibilidades de as partes inserirem nestes elementos que podem suspender ou extinguir os efeitos do negócio, tratando-se de verdadeiros elementos acidentais ao negócio jurídico, que podem modificar algum efeito natural deste negócio. 12 Vejamos como o doutrinador Flávio Tartuce explica: Por fim, no plano da eficácia estão os elementos relacionados com a suspensão e resolução de direitos e deveres das partes envolvidas. De outra forma, pode-se dizer que nesse último plano, ou último degrau da escada, estão os efeitos gerados pelo negócio em relação às partes e em relação a terceiros, ou seja, as suas consequências jurídicas e práticas. (TARTUCE, 2019, p. 371) 13 CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO os elementos acidentais que atingem a eficácia dos negócios jurídicos são: condição, termo e encargo. 14 CONDIÇÃO Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto (art. 121, CC/2002). A condição é elemento acidental do negócio jurídico inserido pelas partes que têm o condão de suspender a eficácia do negócio a um evento futuro e incerto. O art. 121 do Código Civil define “condição”, como podemos ver: “Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto” https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/589767/conflito-de-competencia-cc-2002-pb-1991-0008014-4 15 EXEMPLIFICANDO Como exemplo de condição, podemos citar o caso de um pai que doa uma casa ao seu filho, desde que ele termine a faculdade. Assim, é um evento futuro e incerto – o término da faculdade – que condiciona a eficácia da entrega gratuita do bem ao filho. 16 TERMO É o acontecimento futuro e certo. Pode ser classificado quanto aos seus efeitos, como suspensivo e resolutivo. 1. Termo suspensivo estabelece que o ato ou negócio só passa a ter eficácia após ocorrer o evento futuro e certo. E 2. Termo resolutivo é aquele que extingue os efeitos do ato ou negócio em virtude da ocorrência do evento futuro e certo. 17 ENCARGO É a tarefa atribuída a uma pessoa que lhe impõe uma obrigação de fazer em virtude de um benefício com que veio a ser contemplada. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito (art. 136, CC/2002). O último elemento acidental do negócio jurídico é o encargo ou modo. Trata-se de verdadeiro ônus inserido no negócio jurídico, visto que uma das partes deverá cumprir para receber o objeto do negócio jurídico (o qual, normalmente, será um benefício/liberalidade). http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10721772/artigo-136-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/589767/conflito-de-competencia-cc-2002-pb-1991-0008014-4 18 19 DÚVIDAS? 20 21 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO AULA 09 DOS DEFEITOS OU VÍCIOS DO NEGÓCIO JURÍDICO (TEÓRICO) - Defeitos do Negócio Jurídico. Vícios de Consentimento e Vícios Sociais. - Erro ou Ignorância. Conceito e espécies. - Dolo. Conceito, características e espécies. - Coação. Conceito e requisitos. - Nulidades. 22 DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Código Civil – 138 a 165 Ocorrem defeitos do negócio jurídico quando surgem imperfeições decorrentes de anomalias na formação da vontade ou em sua declaração. Dizemos que há um defeito no negócio jurídico quando existe um vício que: - VÍCIOS DE CONSENTIMENTO: Incide sobre a vontade (consentimento) da pessoa - VÍCIOS SOCIAIS: Foi realizado com a ]intenção de prejudicar terceiros 23 VÍCIOS DE CONSENTIMENTO Incidem sobre a vontade da pessoa; O negócio jurídico é um ato de vontade da pessoa e por isso o consentimento da pessoa ao realizar o tegócio tem que ser livre e consciente. 24 Vícios do consentimento: provocam uma manifestação de vontade não correspondente com o íntimo e verdadeiro querer do agente. Criam uma divergência, um conflito entre a vontade manifestada e a real intenção de quem a exteriorizou. (Carlos Roberto Gonçalves) - Intenção que diverge da consequência - Anulação – Artigo 171, II - Prazo: 4 anos – Artigo 178 25 NEGÓCIO JURÍDICO O Código Civil brasileiro menciona e regula seis defeitos: ERRO (eu me enganei) ESTADO DE PERIGO DOLO (eu fui enganada) LESÃO COAÇÃO (ameaça) FRAUDE CONTRA CREDORES 26 O erro consiste em uma falsa representação da realidade. Nessa modalidade de vício do consentimento, o agente engana-se sozinho. Quando é induzido em erro pelo outro contratante ou por terceiro, caracteriza-se o dolo. (Gonçalves). ERRO ou IGNORÂNCIA– ARTIGOS 138 A 144 CC/2002 Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. 27 Art. 139. O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. Sempre pensar: o homem médio, cometeria esse erro? Requisitos: Substancial e escusável: grande e desculpável 28 Erro Substancial: é o que recaisobre circunstâncias e aspectos relevantes do negócio. Há de ser a causa determinante, ou seja, se conhecida a realidade, o negócio não seria celebrado. Segundo Francisco Amaral, erro essencial, também dito substancial, “é aquele de tal importância que, sem ele, o ato não se realizaria. Se o agente conhecesse a verdade, não manifestaria vontade de concluir o negócio jurídico. Diz-se, por isso, essencial, porque tem para o agente importância determinante, isto é, se não existisse, não se praticaria o ato” Erro Acidental: é o que se opõe ao substancial, porque se refere a circunstâncias de menor importância e que não acarretam efetivo prejuízo, ou seja, a qualidades secundárias do objeto ou da pessoa. Se conhecida a realidade, mesmo assim o negócio seria realizado. (Ver art. 143 do Código Civil ). O Código de 2002, nesse ponto, inova, permitindo a retificação da declaração de vontade em caso de mero erro de cálculo, quando as duas partes têm conhecimento do exato valor do negócio. 29 Carlos Roberto Gonçalves, . 354 DÚVIDAS? 30 FIXAÇÃO DO CONTEÚDO QUESTÕES DE CONCURSOS: 31 32 ( FCC - 2010 - TRT - 8ª Região (PA e AP) - Analista Judiciário - Área Judiciária) . A respeito dos defeitos do negócio jurídico, considere: I. Erro sobre a natureza do negócio. II. Erro sobre o objeto principal da declaração. III. Erro sobre alguma das qualidades essenciais do objeto. IV. Erro de cálculo. Consideram-se substanciais os indicados APENAS em: A - I, II e III. B - I e III. C - I e IV. D - II e III. E - II, III e IV. 33 DOLO – Artigos 145 a 150 CC/2002 Dolo é o artifício ou expediente astucioso empregado para induzir alguém à prática de um ato que o prejudique e aproveite ao autor do dolo ou a terceiro. Consiste em sugestões ou manobras maliciosamente levadas a efeito por uma das partes a fim de conseguir da outra uma emissão de vontade que lhe traga proveito ou a terceiro. (Carlos Roberto Gonçalves) 34 DOLO ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL Somente o dolo principal, como causa determinante da declaração de vonta de, vicia o negócio jurídico. Configura-se quando o negócio é realizado somente porque houve induzimento malicioso de uma das partes. Não fosse o convencimento astucioso e a manobra insidiosa, a avença não se teria concretizado. Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa. 35 DOLO ACIDENTAL Diz respeito, pois, às condições do negócio. Este seria realizado independentemente da malícia empregada pela outra parte ou por terceiro, porém em condições favoráveis ao agente. Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. 36 DOLO POR OMISSÃO Verifica-se, assim, que o legislador equiparou a omissão dolosa à ação dolosa, exigindo que aquela seja de tal importância que, sem ela, o ato não se teria realizado. Provando-se, pois, tal circunstância, pode ser pleiteada a anulação do negócio jurídico. (Carlos Roberto Gonçalves) Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. 37 DOLO DE TERCEIROS Somente ensejará a anulação do negócio se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento. Se o beneficiado pelo dolo de terceiro não adverte a outra parte, está tacitamente aderindo ao expediente astucioso, tornando-se cúmplice. Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou. 38 Carlos Roberto Gonçalves, p. 364 39 DOLO BILATERAL Neste caso, se ambas as partes têm culpa, uma vez que cada qual quis obter vantagem em prejuízo da outra, nenhuma delas pode invocar o dolo para anular o negócio ou reclamar indenização. Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. DÚVIDAS? 40 FIXAÇÃO DO CONTEÚDO QUESTÕES DE CONCURSOS: 41 42 (CESGRANRIO - 2007 - REFAP SA - Advogado Júnior). O Código Civil estabelece que os negócios jurídicos são anuláveis por dolo, quando esta for a sua causa. Quando da realização de um negócio jurídico, pode-se afirmar, sobre a ocorrência de dolo, que: A - não se pode configurar a partir de uma omissão. B - se ambas as partes procederem com dolo, caberão indenizações recíprocas, respeitando-se as proporções. C - se for acidental, só obriga à satisfação de perdas e danos. D - se for de terceiro, nunca torna o negócio anulável. E - se for de terceiro, nunca torna o negócio anulável. 43 (CONSCAM - 2018 - SAAEDOCO – Advogado). Sobre os defeitos nos negócios jurídicos, assinale a alternativa correta. A - Se ambas as partes procederem com dolo, qualquer delas pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. B - Considera-se coação o simples temor reverencial. C - Configura-se a lesão quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. D - O prazo decadencial para anular o negócio jurídico com base na ocorrência de coação, inicia quando está cessar. E - A invalidade do instrumento induz a do negócio jurídico, mesmo que este puder provar-se por outro meio. 44 COAÇÃO – ARTIGOS 151 A 155 DO CC/2002 Coação é toda ameaça ou pressão injusta exercida sobre um indivíduo para força-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio. O que a caracteriza é o emprego da violência psicológica para viciar a vontade. Ameaça séria: aquela que transmite no coagido um receio contra ele próprio, sua família ou seus bens. Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. 45 REQUISITOS DA COAÇÃO a) deve ser a causa determinante do ato; b) deve ser grave; c) deve ser injusta; d) deve dizer respeito a dano atual ou iminente; e) deve constituir ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima ou a pessoa de sua família Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela. 46 Excludente de Coação Coação Exercida Por Terceiro Art. 153.Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos. Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto. DÚVIDAS? 47 FIXAÇÃO DO CONTEÚDO QUESTÕES DE CONCURSOS: 48 49(TRT 2R (SP) - 2009 - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Juiz do Trabalho). Em relação aos defeitos do negócio jurídico analise as proposições abaixo e responda: I - São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial em face das circunstâncias do negócio, erro este que poderia ser percebido pelo "hominus medius". II - O Código Civil prevê as seguintes hipóteses de erro substancial: a) erro sobre a natureza do negócio; b) erro sobre o objeto principal da declaração de vontade; c) erro sobre alguma qualidade essencial do objeto; d) erro relativo a identidadeou qualidade essencial da pessoa desde que a consideração pessoal fosse condição fundamental para efetivação do ato; e) erro de direito que não implica recusa à aplicação da lei e for o motivo único ou principal do negócio jurídico. III - O dolo acidental, assim considerado aquele que leva a vítima a realizar o negócio, porém em condições mais onerosas ou menos vantajosas, sem afetar sua declaração de vontade, é vício do negócio jurídico que acarretará a anulação do negócio, além de obrigar a satisfação de perdas e danos. IV - Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. A - Todas as proposições estão corretas. B - Estão corretas apenas as proposições I e II. C - Estão incorretas apenas as proposições I e III D - Estão incorretas apenas as proposições II e IV. E - Está incorreta apenas a proposição III.