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Moderna PLUS MATEMÁTICA 4 Parte I Capítulo 1 Conjuntos PAIVA w w w .m o d e rn a p lu s .c o m .b r 1 MANOEL PAIVA TEXTO COMPLEMENTAR Teoremas sobre números inteiros Qualquer propriedade da Matemática que pode ser demonstrada é chamada de teorema. Neste item, estuda- remos as demonstrações de alguns teoremas envolvendo números inteiros. Demonstrações de um teorema da forma p ] q Em todo teorema que apresenta uma afirmação p da qual se pode concluir uma afirmação q, as afirmações p e q são chamadas, respectivamente, de hipótese e tese, sendo o teorema representado por p ] q. Essa sentença pode ser lida das seguintes formas: • p implica q; • se p, então q; • p é condição suficiente para q; • q é condição necessária para p. Por exemplo, a propriedade “Se k é um número inteiro par, então k 1 1 é um número inteiro ímpar” é um teorema da forma p ] q, onde p é a sentença “k é um número inteiro par”, e q é a sentença “k 1 1 é um número inteiro ímpar”. A ideia fundamental para a demonstração de teoremas do tipo p ] q é: Se o fato de uma afirmação p ser verdadeira garantir que outra afirmação q também é verdadeira, então a sentença p ] q é verdadeira. Exercícios resolvidos 1 Demonstre que: “se a e b são números pares, en- tão a 1 b é um número par”. Resolução Uma técnica de demonstração de um teorema do tipo p ] q consiste em deduzir a tese q a partir da hipótese p, isto é, admite-se que a hipótese p é verda- deira e conclui-se a tese q. Essa técnica de demons- tração é chamada de demonstração direta. Assim, admitindo-se que a e b são números pares, temos, por definição, que a 5 2n e b 5 2k, com {n, k} - b. Logo: a 1 b 5 2n 1 2k 5 2(n 1 k) Como a soma de dois números inteiros é um número inteiro (propriedade P3), temos que n 1 k é um número inteiro e, portanto, 2(n 1 k) é um número par. Logo, a 1 b é um número par. (Nota: a sentença “se a e b são números pares, então a 1 b é um número par” poderia ter sido enunciada de outra forma, por exemplo, “a soma de dois números pares é um número par”.) 2 Sendo x um número inteiro, demonstra-se que: “se x2 é ímpar, então x é ímpar”. Resolução Outra técnica de demonstração de um teorema do tipo p ] q consiste em anexar à hipótese p a negação da tese q (essa negação é indicada por 8q) e provar que, ao se admitir como ver- dadeira a “nova hipótese” p e 8q, chega-se a um absurdo, com o que se conclui que p ] q. Essa técnica de demonstração é chamada de demonstração indireta ou demonstração por absurdo. A negação da tese é x não é ímpar, ou seja, x é par, pois x é inteiro. Anexando essa negação à hipótese x2 é ímpar, temos a “nova hipótese”: x2 é ímpar e x é par. Sendo x um número par, temos, por definição, que x 5 2n, com n 9 b. Assim: x2 5 (2n)2 ] x2 5 4n2 } x2 5 2(2n2) Como 2n2 é um número inteiro, deduzimos que 2(2n2) é um número par, ou seja, x2 é um número par. O que é um absurdo, pois, por hipótese, x2 é um número ímpar. Como, admitindo que x é par chega-se a um ab- surdo, concluímos que o número inteiro x não poder ser par e, portanto, x é ímpar. Demonstrações de um teorema da forma p ] q Observe que são verdadeiras as duas implicações: • x 2 3 5 0 ] x 5 3 • x 5 3 ] x 2 3 5 0 Pelo fato de essas duas implicações serem verdadeiras, dizemos que as sentenças x 2 3 5 0 e x 5 3 são equivalentes e escrevemos x 2 3 5 0 [ x 5 3. Generalizando: Duas sentenças p e q, tais que p ] q e q ] p, são chamadas de sentenças equivalentes. Indica-se essa equi- valência por p [ q. A dupla implicação p [ q pode ser lida das seguintes formas: • p equivale a q; • p, se e somente se, q; • p é condição necessária e suficiente para q; • q é condição necessária e suficiente para q. Moderna PLUS MATEMÁTICA 5 Parte I Capítulo 1 Conjuntos PAIVA w w w .m o d e rn a p lu s .c o m .b r 1 MANOEL PAIVA Exemplos a) x 5 3 [ 2x 5 6 Essa sentença é verdadeira, pois são verdadeiras as duas implicações: x 5 3 ] 2x 5 6 e 2x 5 6 ] x 5 3 b) x 5 5 [ x2 5 25 Essa sentença é falsa, pois é falsa a implicação x2 5 25 ] x 5 5. c) Demonstrar que o quadrado de um número inteiro é par se, e somente se, esse número é par, isto é, x2 é par [ x é par, com x 9 b. Resolução A proposição “x2 é par [ x é par, com x 9 b” pode ser decomposta nas duas proposições: x é par ] x2 é par, com x 9 b (I) e x2 é par ] x é par, com x 9 b (II) Demonstração de (I): • Pela hipótese, x é par; logo, podemos representar x por x 5 2n, com n 9 b. Então: x2 5 (2n)2 5 4n2 5 2 3 2n2 • Como, por P5, 2n2 é inteiro, concluímos que 2 3 2n2 é par. Assim, demonstramos que x2 é par. Demonstração de (II): Faremos essa demonstração por absurdo. • Consideramos que x não seja par, isto é, que x seja ímpar. Então, podemos representar x por x 5 2n 1 1, com n 9 b. Assim: x2 5 (2n 1 1)2 5 4n2 1 4n 1 1 5 2(2n2 1 2n) 1 1 • Como por P3 e por P5, (2n2 1 2n) é inteiro, então x2 5 2(2n2 1 2n) 1 1 é impar. Mas isso é um absurdo, pois, por hipótese, x2 é par. Como, admitindo x ímpar, chegamos a um absurdo, concluímos que x não pode ser ímpar, portanto x é par. Assim, está demostrada a parte (II). Pela demonstração de (I) e (II), provamos que: x2 é par [ x é par, com x 9 b Moderna PLUS MATEMÁTICA 6 Parte I Capítulo 1 Conjuntos PAIVA w w w .m o d e rn a p lu s .c o m .b r 1 MANOEL PAIVA TEXTO COMPLEMENTAR Demonstrações adotando símbolos matemáticos Veremos novamente a demonstração da propriedade P1 da união de conjuntos e da P1 da diferença de conjuntos, agora adotando os símbolos matemáticos. Se B é subconjunto de A, então A 0 B 5 A e, se A 0 B 5 A, então B é subcon- junto de A. Ou seja: B - A [ A 0 B 5 A Sendo A e B conjuntos quaisquer, temos: B - A [ B 2 A 5 ~ Demonstração A sentença B - A [ A 0 B 5 A pode ser decomposta em duas sentenças: Demonstração A sentença B - A [ B 2 A 5 ~ pode ser decomposta em duas sentenças: B - A ] A 0 B 5 A (I) A 0 B 5 A ] B - A (II) B - A ] B 2 A 5 ~ (I) B 2 A 5 ~ ] B - A (II) Demonstração de (I): • x 9 A ] x 9 (A 0 B); logo, A - (A 0 B). • x 9 (A 0 B) ] x 9 A ou x 9 B, mas como B - A, temos: x 9 (A 0 B) ] x 9 A; logo (A 0 B) - A. Assim, provamos que A - (A 0 B) e (A 0 B) - A. Logo, podemos concluir que (A 0 B) 5 A. Demonstração de (II): • x 9 B ] x 9 (A 0 B), mas como A 0 B 5 A, temos x 9 B ] x 9 A; logo B - A. As demonstrações de (I) e (II) permitem concluir que: B - A [ A 0 B 5 A Demonstração de (I): x 9 (B 2 A) ] x 9 B e x ( A, mas como B - A, não existe x tal que x 9 B e x ( A. Portanto, B 2 A 5 ~. Demonstração de (II): Se B 2 A 5 ~, então x 9 B ] x 9 A, ou seja, B - A. As demonstrações de (I) e (II) permitem concluir que: B - A [ B 2 A 5 ~ e e Moderna PLUS MATEMÁTICA 7 Parte I Capítulo 1 Conjuntos PAIVA w w w .m o d e rn a p lu s .c o m .b r 1 MANOEL PAIVA TEXTO COMPLEMENTAR Vamos demonstrar que a medida da diagonal de um quadrado de lado 1 não é um número racional. Demonstração A medida d da diagonal de um quadrado de lado 1 é dada por: d2 5 12 1 12 ] d2 5 2 Precisamos mostrar que d não é racional. Para isso, faremos uma demonstração por absurdo. Suponhamos que existam dois números inteiros p e q, com q % 0, tal que @ p __ q # 2 5 2. Podemos admitir, sem perda de generalidade, que a fração p __ q é irredutível, isto é, mdc(p, q) 5 1. Assim, temos apenas dois casos a considerar: p é par ou p é ímpar. 1o caso Sendo p um número par, podemos representá-lo por p 5 2n, como n 9 b. Assim: @ 2n ___ q # 2 5 2 ] 4n2 5 2q2 } 2n2 5 q2 Note que q2 é par, pois 2n2 é par. Além disso, q é par, pois o quadrado de um número inteiro é par se, e somente se, esse número é par. Essa conclusão é absurda, pois, sendo p e q números pares, a fração p __ q não é irredutível. Logo, o primeiro caso não pode ocorrer. 2o caso Sendo p um número ímpar, podemos representá-lo por q 5 2n 1 1, com n 9 b. Assim: @ 2n 1 1 _______ q # 2 5 2 ] (2n 1 1)2 5 2q2 O quadrado de um número ímpar é sempreímpar, logo (2n 1 1)2 é ímpar. Então, temos: Essa última igualdade é absurda, pois não existe um número que seja par e ímpar simultaneamente. Logo, o segundo caso também não pode ocorrer. Como não é possível nenhum dos dois casos, concluímos que não existe nenhum racional p __ q cujo quadrado seja igual a 2. Assim, demonstramos que a medida da diagonal de um quadrado de lado 1 não é um número racional. (2n 1 1)2 5 2q2 ímpar par