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Compreender filosoficamente a nós mesmos, aos outros e ao mundo 
 
Adaptado por Sérgio Sell (IFSC) a partir de entrevista de Juvenal Savian 
Filho (USP) 
 
Você sabe o que é filosofar? 
 
Filosofar é parar de crer que os pensamentos que temos sobre nós mesmos, 
sobre os outros e sobre o mundo são pensamentos “naturais” ou “normais”. 
Começamos a filosofar quando passamos a perceber que, em sua maioria, os nossos 
pensamentos são construídos. 
Compreender filosoficamente a nós mesmos, aos outros e ao mundo requer 
como primeira tarefa desconstruir os pensamentos que nos fazem falar de “eu/nós”, 
“outro” e “mundo”. Mas desconstruir não significa destruir! Essa é uma ilusão típica 
de iniciantes. Desconstruir significa desmontar para ver como funciona. É uma das 
tarefas mais básicas da Filosofia, e deve ser feita não apenas para julgar, mas 
principalmente para entender o funcionamento interno de cada pensamento. Depois 
de desconstruir um pensamento, podemos recusá-lo ou concordar com ele. 
A Filosofia parte da ideia de que a característica que melhor define o ser 
humano é a liberdade. Nesse sentido, mesmo que tenhamos nascido como seres 
humanos, a educação que nós recebemos e o contexto em que vamos vivendo a 
nossa vida acabam fazendo com que nos tornemos cada vez mais humanos ou que 
acabemos nos tornando bichos ou coisas ou números de estatísticas. Ao ser 
trabalhada na escola, a Filosofia acaba sendo uma disciplina diferente: mais do que 
ensinar conteúdos, ela ensina a pensar sobre as possibilidades e os limites de 
conhecermos nós mesmos e o mundo ao nosso redor. 
No atual contexto produtivista em que vivemos, as disciplinas escolares, 
sobretudo quando organizadas em função do ENEM, do vestibular ou da preparação 
para o mundo do trabalho, nem sequer levantam a temática da humanização. Elas 
operam no registro da hominização, ou seja, da transmissão do estritamente 
necessário para distinguir-se das outras espécies animais: a assimilação da cultura 
tradicional. Isso não significa necessariamente humanizar-se, tarefa que implica 
assumir tudo o que determina cada indivíduo e grupo, a fim de desenvolver ao 
máximo possível e da maneira mais elaborada possível as potencialidades que são 
propriamente humanas: o pensamento e a liberdade. 
A filosofia permite uma humanização mais eficaz, não porque ensine respostas 
determinadas, mas porque intensifica nossa autoconsciência e, por conseguinte, 
colabora para dispormos de nós mesmos com mais liberdade, mais maturidade e 
mais felicidade. Não se trata de refinar as pessoas, nem de conscientizá-las, como 
se elas não tivessem nenhuma consciência. Trata-se de contribuir para que elas 
levantem a pergunta essencial pelo que significa existir, conhecer, pensar, amar, agir. 
De certa forma, o ato de filosofar está perdendo espaço no mundo atual. Hoje, 
perde espaço tudo o que representa o pensamento articulado, gerador de unidade e 
buscador de coerência. Ao invés disso tudo, ganha espaço a dispersão, a rapidez, a 
mercadoria, o consumo, o virtual que dispensa o contato físico, o tempo que não 
apenas devora tudo, mas que a tudo joga na indiferença. 
 
Mitos Gregos 
 
Quando se estuda a origem da civilização, constata-se que as primeiras 
explicações para os acontecimentos da realidade estavam geralmente ligadas à ideia 
de que tudo na natureza é controlado por seres sobrenaturais. 
Há três mil anos, não havia explicações científicas para grande parte dos 
fenômenos da natureza ou para os acontecimentos históricos. Por isso, para buscar 
um significado para a existência dos seres da natureza, para os eventos climáticos e 
para os fatos políticos, econômicos e sociais, as primeiras civilizações criaram uma 
série de histórias, de origem imaginativa, que eram transmitidas, principalmente, 
através da tradição oral. Tais histórias são geralmente chamadas de lendas ou mitos. 
Na formação da nossa própria civilização (ocidental) foi fundamental a 
influência dos mitos gregos. Grande parte dessas histórias chegou até os dias de 
hoje e são importantes fontes de informações para entendermos a história e a 
mentalidade dos gregos antigos. 
 
A influência dos deuses 
Os gregos antigos enxergavam vida em quase tudo que os cercava. A 
imaginação fértil deste povo criou personagens e figuras mitológicas das mais 
diversas. Heróis, deuses, ninfas e centauros habitavam o mundo material, 
influenciando os acontecimentos e interferindo na vida das pessoas. Quem soubesse 
“ler” os sinais que esses seres deixavam na natureza, poderia conseguir atingir mais 
facilmente os seus objetivos. A pitonisa (sacerdotisa) era uma importante 
personagem neste contexto. Os gregos a consultavam os seus oráculos para saber 
sobre as coisas que estavam acontecendo e sobre o futuro. Quase sempre, a pitonisa 
buscava explicações sobrenaturais para tais acontecimentos. Agradar as divindades 
era uma condição fundamental para atingir bons resultados na vida material. Um 
trabalhador do comércio, por exemplo, deveria deixar o deus Hermes sempre 
satisfeito, para conseguir bons resultados em seu trabalho. 
 
Além dos deuses, os principais seres mitológicos da Grécia Antiga eram: 
Heróis: seres mortais, filhos de deuses com seres humanos. Exemplos: Herácles 
(Hércules), Perseu, Ajax e Aquiles. 
Ninfas: seres femininos que habitavam os campos e bosques, levando alegria e 
felicidade. 
Sátiros: figura com corpo de homem, chifres e patas de bode. 
Centauros: corpo formado por uma metade de homem e outra de cavalo. 
Sereias: mulheres com metade do corpo de peixe, atraíam os marinheiros com seus 
cantos atraentes. 
Górgonas: mulheres-monstro, com cabelos de serpentes. Ex: Medusa 
Quimeras: mistura de leão e cabra, soltavam fogo pelas ventas. 
 
Religião e arte 
 
Na mitologia (o estudo dos mitos) é muito difícil fazer uma separação entre 
religião e arte. Na Grécia antiga, a arte tratava essencialmente de temas mitológicos. 
E foi através da arte que tomamos contato com a mitologia grega: além de uma 
grande quantidade de templos (arquitetura), de esculturas, baixo-relevo e pinturas, a 
literatura grega é a principal fonte que temos dessa mitologia. Em especial, podemos 
destacar as obras de Homero, a "Ilíada" e a "Odisseia", que datam provavelmente do 
século 9 a.C., e a de Hesíodo, "Teogonia", escrita possivelmente no século seguinte. 
Essas três obras podem ser consideradas as fontes básicas para o 
conhecimento dos mitos gregos. A "Teogonia" narra a origem dos deuses (Theo, em 
grego, significa deus). Já a "Ilíada" e a "Odisseia" tratam de aventuras de heróis, 
respectivamente Aquiles e Odisseu, embora a participação dos deuses em ambas as 
narrativas seja fundamental. 
Teogonia: a origem dos deuses 
No princípio, existia apenas o Caos, o vazio primordial e escuro que precedeu 
toda a existência; depois, surgiu Gaia, Tártaro, Eros, Érebo e Nix. 
Essas poderosas divindades primordiais começaram a existir, aparentemente, 
a partir de simples "desdobramentos", sem a ajuda de qualquer união sexual. Mais 
tarde, graças ao aparecimento de Eros, tais uniões começaram a ocorrer. 
As linhagens de Tártaro e Eros foram pouco produtivas, mas Nix, Érebo e Gaia 
tiveram muitos filhos e deram origem aos deuses propriamente ditos, seja através de 
mais "desdobramentos" ou pela união amorosa. 
Gaia, a "terra-mãe", a mãe dos deuses e dos homens, personificava a 
inesgotável capacidade geradora da terra. Foi a primeira entidade divina a emergir do 
Caos primitivo e dela provêm a linhagem divina mais importante, alguns monstros e 
o ser humano. 
A partir de Gaia, “sem o desejável ato de amor”, surgiram primeiro Urano (o 
céu), as grandes Montanhas e Ponto (o mar). Posteriormente, Gaia se uniu a Urano 
e a Ponto, seus próprios filhos, e gerou numerosos descendentes. 
Os filhos de Gaia com Urano eram chamados de Titãs ou de “deuses antigos”. 
O mais importante deles foi Cronos,que reinou sobre todos os outros. No entanto, o 
Destino, um outro deus, previu que Cronos seria destronado por um de seus filhos. 
Por isso, mal eles saíam do ventre materno, Cronos os devorava. 
 
O mito de Eros 
 
As lendas gregas foram transmitidas oralmente e por isso sofreram inúmeras 
modificações, resultando numa variação muito grande de interpretações e sentidos. 
Às vezes, uma figura mítica aparece em várias versões, sempre ricas de significados. 
É o caso do amor-desejo, representado pelo deus Eros (e, na mitologia romana pelo 
deus Cupido). Há várias versões sobre quem (ou o que) ele é e sobre a forma como 
ele surgiu. 
 
 
 
Na Teogonia de Hesíodo, as entidades que surgiram do seio de Caos (vazio da 
desorganização inicial) nasceram por separação (desmembramento). Até que 
nasceu Eros, o Amor, força de atração que governa a partir daí a coesão e a ordem 
do universo nascente. 
No ciclo dos mitos olimpianos, Eros é filho de Afrodite (deusa da fertilidade e da 
sedução) e de Ares (deus da guerra). Nessa versão, Eros é representado como uma 
criança travessa, ocupada em flechar os corações para torná-los apaixonados. Mas 
ele próprio se apaixona por Psiquê (Alma). Afrodite, invejosa da beleza de Psiquê, 
afasta-a do filho e a submete às mais difíceis provas e sofrimentos, dando-lhe como 
companheiras a Inquietude e a Tristeza; até que Zeus, atendendo aos apelos de 
Eros, liberta-a para que o casal se una novamente. 
Também entre os primeiros filósofos gregos há referências a essa imagem mítica. 
Parmênides e Empédocles, por exemplo, se referem ao princípio do amor e do ódio 
que preside a combinação dos elementos entre si para formarem os diversos corpos 
físicos. 
Numa das obras de Platão, o diálogo O Banquete, encontra-se a narrativa de um 
jantar no qual se reuniram diversas personalidades de Atenas. Após comer e beber 
vinho, alguns dos participantes receberam do dono da casa um desafio: fazer um 
pequeno discurso sobre o amor. O primeiro a falar foi Aristófanes, um famoso escritor 
de peças teatrais. Ele então narrou o mito segundo o qual, no início, os seres eram 
duplos e esféricos, e os sexos eram três: um constituído por duas metades 
masculinas; outro por duas metades femininas; e o terceiro, andrógino, metade 
masculino, metade feminino. Mas esses seres desafiaram os deuses e Zeus os 
cortou ao meio para enfraquecê-los. Cada ser tornou-se dividido e incompleto. Desde 
então, todos buscam a sua metade. Surge assim o amor recíproco como uma 
tentativa de restauração da unidade primitiva e o anseio por uma totalidade do ser. 
Outro participante desse banquete foi o filósofo Sócrates, e ele também foi desafiado 
a falar sobre o amor. Sócrates também narrou um mito, segundo o qual Eros seria 
descendente de Poros (Riqueza) e de Penia (Pobreza). Por isso o amor se manifesta 
como uma ânsia de sair da situação de miséria para a de riqueza; é a oscilação entre 
o possuir e o não-possuir. "É capaz de desabrochar e de viver, morrer e ressuscitar 
no mesmo dia. Come e bebe, dá e se derrama, sem nunca estar rico ou pobre. Para 
Sócrates, Eros representa “um anseio de qualquer coisa que não se tem e se deseja 
ter” 
A partir dessas narrativas, Platão chama a atenção para o fato de que o amor não se 
prende somente à atração física. Platão não reduz a busca apenas à procura da outra 
metade do nosso ser que nos completa; Eros é ânsia de ajudar o eu próprio autêntico 
a realizar-se. E a realização se faz na medida em que a vontade humana tende para 
o Bem e para o Belo: subordina a beleza física à beleza espiritual. E numa segunda 
etapa, desliga-se da paixão por determinado indivíduo ou atividade, ocupando-se 
com a pura contemplação da beleza e da perfeição. 
Este texto no leva a refletir sobre: 
• O que é o amor e como ele surgiu, de acordo com Hesíodo? 
• O que é o amor e como ele surgiu, de acordo com os mitos do ciclo 
olimpiano? 
• O que é o amor e como ele surgiu, de acordo com Aristófanes? 
• O que é o amor e como ele surgiu, de acordo com Sócrates? 
• Qual é o significado filosófico que Platão dá para o amor? 
 
HADES E SEU REINO 
No limite da terra, onde o sol se põe e o oceano começa, abria-se o império dos 
mortos, no qual reinava o poderoso Hades. 
O mundo subterrâneo era rodeado de todos os lados por pântanos e rios. Portanto, 
as sombras dos defuntos tinham que passar pelas águas lamacentas do Estige e do 
Aqueronte para entrar nos domínios de Hades. O barqueiro Caronte aguardava na 
margem e só aceitava a bordo da sua barca os mortos que tivessem sido sepultados. 
Os outros, os que não foram encontrados ou foram abandonados, eram condenados 
a errar eternamente na entrada do Inferno, enquanto esperavam que um vivo 
resolvesse enterrá-los. 
Aqueles que embarcavam tinham que pagar Caronte. Era por isso, para que o morto 
pagasse sua passagem, que os gregos punham uma moeda entre os dentes dele 
durante o funeral. 
Uma vez na barca, os defuntos deixavam definitivamente o mundo dos vivos. Quem 
fazia a viagem num sentido, jamais podia retornar nem ver de novo a luz. 
Cérbero, o cão de três cabeças, tratava de impedir os que tentassem fazê-lo. Postado 
na entrada do reino, recebia com amabilidade os passageiros de Caronte. Mas se 
alguém procurasse voltar, mostrava-se um guardião feroz. Ora, mais de um defunto 
aspirava à luz logo que desembarcava na monótona planície dos Asfódelos. Arvores 
sombrias varriam tristemente o chão com seus galhos. Que lugar sinistro! 
Os mortos eram julgados de acordo com sua vida passada e, conforme seus erros, 
eram postos em diferentes lugares. Minos, Éaco e Radamanto é que examinavam a 
vida passada dos defuntos e pronunciavam um julgamento. Eles haviam sido 
designados juízes por sua sabedoria e vida exemplar. 
Os que não cometeram nenhum crime, mas não se distinguiram por nenhuma ação 
virtuosa, ficavam na planície dos Asfódelos por toda a eternidade. 
Aos heróis e aos homens virtuosos, os juízes reservavam os Campos Elísios. Lá se 
estendiam clareiras floridas das quais se elevava o canto dos pássaros e os acordes 
melodiosos da lira. Os bem-aventurados se divertiam em banquetes onde o vinho 
corria à larga. 
Já os desgraçados que foram culpados de algum erro, recebiam punição eterna. Eram 
encerrados no soturno Tártaro, cercado pelos meandros do rio Estige, e lá sofriam 
suplícios proporcionais a suas faltas. 
Tântalo, rei da Lídia, cometera em vida um crime horrível. Recebendo a visita dos 
deuses, servira-lhes seu próprio filho Pélope, a fim de ver se eles eram capazes de 
identificar a carne humana. Um só bocado bastou para que os deuses 
reconhecessem que o que comiam não era um animal. Indignados, conseguiram 
trazer Pélope de volta à vida, mas o rapaz guardou para sempre um vestígio desse 
banquete funesto: o ombro devorado foi substituído por um pedaço de marfim. 
Quanto a Tântalo, foi atirado nas profundezas do Tártaro para sofrer uma punição 
terrível. Mergulharam-no até o pescoço num lago, debaixo de uma árvore com galhos 
carregados de frutas maduras. Apesar disso, ele nunca saciaria sua sede nem 
mataria sua fome. A água recuava, mal ele aproximava os lábios secos. Quando 
estendia a mão para colher uma fruta, os galhos se erguiam. Numerosos supliciados 
povoavam assim essa parte do reino. 
Hades era o soberano onipotente de lá, porém não demorou para que o poder 
deixasse de compensar sua profunda solidão. Cansado de reinar sozinho sobre 
aquele povo de sombras, quis se casar. Infelizmente, as noivas eram muito raras. 
Nenhuma deusa e nenhuma mortal queriam adotar aquela vida debaixo da terra, 
privada para todo o sempre da luz do sol. Logo, ele se viu obrigado a raptar uma 
noiva. Sua escolha recaiu em Perséfone, uma das moças mais bonitas da Sicília. 
 
DEMETER E PERSÉFONE 
Hades aproveitou um dia em que Perséfone passeava sozinha. Quando ela se 
inclinou para aspirar o perfume de uma flor, a terra tremeu com grande estrondo. 
Uma falha se abriu bruscamente, e dela surgiu o deus do Inferno, num carro puxadopor quatro cavalos negros. A jovem nem teve tempo de se recuperar do susto, porque 
ele a agarrou pela cintura e a levou consigo. O carro sumiu tão depressa quanto tinha 
aparecido, e a brecha se fechou atrás deles. 
Os gritos desesperados de Perséfone foram ouvidos por sua mãe, Deméter. Ela 
acudiu, mas tarde demais. Nada assinalava a passagem do deus. Somente o ar 
agitado conservava o vestígio dessa aparição súbita, e as flores caídas atestavam 
silenciosas uma agitação recente. 
Apavorada, a pobre mãe não sabia mais aonde ia. Errava pelo lugar, esquecendo 
seus deveres para com os homens. Normalmente, sua função de deusa da colheita, 
do trigo e de todas as plantas lhe impunha vigiar a produção agrícola. Na ausência 
de Deméter, o trigo se recusou a germinar, as plantas cessaram de crescer, e a terra 
inteira se tornou estéril. Então os deuses resolveram intervir. 
O Sol, que tudo viu, revelou a Deméter onde estava sua filha. A princípio ela ficou 
aliviada por Perséfone estar viva, mas quando soube quem a detinha, exigiu que 
Zeus obtivesse sua libertação. 
"Entendo sua dor de mãe", o deus lhe respondeu. "Intercederei por você junto a 
Hades. Ele vai devolver sua filha, ou não me chamo Zeus!" 
Mas Hades se negou a deixar a doce companheira partir. Deméter decidiu então 
abandonar suas funções. Pouco lhe importava como os deuses e os mortais viveriam 
sem ela. Ela também não podia viver sem a filha. Assumiu o aspecto de uma velhinha 
e se exilou voluntariamente na terra. 
Iniciou-se então um período cruel para os homens. De novo o solo secou, e a fome 
ameaçou a espécie humana. Essa situação não podia mais persistir. Os deuses se 
reuniram no palácio de Zeus e concordaram em persuadir Hades a devolver 
Perséfone à mãe. Zeus tomou a palavra: 
"Caro irmão, você é o soberano do reino subterrâneo. Como tal, age de acordo com 
a sua vontade, contanto que não se meta neste mundo. Ora, desde que você reteve 
Perséfone, sua mãe recusa alimento aos mortais. Pela mesma razão, os sacrifícios 
se fazem raros. Você não pode deixar essa situação se agravar. Devolva a moça!" 
"Está bem!", disse o deus esperto. "Mas antes preciso verificar se ela não comeu ou 
bebeu alguma coisa durante sua estada, senão ela não pode mais voltar à terra. E a 
lei." 
Interrogada, Perséfone respondeu com candura que tinha experimentado as 
sementes de uma romã. Hades exultou. Mas acabaram fazendo um trato: Deméter 
teve que aceitar que sua filha permanecesse três meses ao lado de Hades e subisse 
para ficar com ela o resto do ano. 
Assim é que, durante três meses, a terra se entristece, junto com Deméter, pela 
ausência de Perséfone. E o inverno, e o solo se torna improdutivo. Logo que a moça 
volta, a vida renasce, e a natureza inteira festeja o encontro entre mãe e filha. 
Somente Hades acha demorada essa primavera que o separa de sua companheira. 
 
 
Referências: 
 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda,; MARTINS, Maria Helena Pires. 
Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed., rev. e atual. São Paulo: 
Moderna, 1993-2001. 395 
 
DUROZOI, Gérard; ROUSSEL, André. Dicionário de filosofia. 2. ed. 
Campinas: Papirus, 1996 511 
 
SEVERINO, Antonio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1994 211 p 
(Magistério 2. grau ; Formação geral) 
 
GHIRALDELLI JR. P. Introdução à Filosofia. Barueri-SP: Manole,2003 
 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda,; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas 
de filosofia. São Paulo: Moderna, 1992 232 p. ISBN 85-16-00690-5. 
 
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Atica, 2005 
 
BURNET, John. O despertar da filosofia grega. São Paulo: Siciliano, 
1994 301 p. ISBN 85-267- 0605-5.

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