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UNIDADE VI – DO CONTRATO PRELIMINAR. 6.1 – Definição e distinções relevantes. Definição. Contrato preliminar é um negócio jurídico consensual em que os contraentes sempre pactuarão uma obrigação de fazer um contrato futuro. Natureza do contrato futuro: Contrato definitivo. Realidade comum nas relações cíveis. Contrato preliminar. Realidade comum nas relações empresariais. Seminovidade do CC/02. Inovou, pois trouxe a regulamentação sobre este tipo de contrato. Contudo, contrato preliminar não é novidade para o direito brasileiro, já sendo figura utilizada pelos juristas que usavam o CC/16. Viabiliza que os contratantes que não podem realizar imediatamente o contrato definitivo, organizem-se e garantam a realização futura deste negócio jurídico. Distinções de relevo. Contrato preliminar x “compromisso de compra e venda” (ou “promessa irrevogável de compra e venda”). Distinção sugerida por Orlando Gomes. Contudo, esta distinção não foi recepcionada pelo uso. Os juristas permanecem usando esses termos como sinônimos. Contratos preliminares. Caracterizados pela possibilidade de retratação e revogação da proposta. Contratos preliminares que possuem a cláusula de arrependimento expressa. Compromisso de compra e venda (ou promessa irrevogável de compra e venda). Caracterizado pela irretratabilidade e irrevogabilidade da proposta. Contrato preliminar x negócio jurídico ainda não celebrado. O contrato preliminar não deve ser confundido com um negócio jurídico não celebrado pelo fato de viabilizar a celebração de um negócio jurídico futuro. O contrato preliminar é um negócio jurídico contratual prefeito e acabado que passa por todo o processo contratual para a sua elaboração e extinção, submisso, portanto, a todas as garantias que qualquer contrato está sujeito. Contrato preliminar x negociações preliminares. O contrato preliminar passa por todas as fases do processo contratual (fase pré-contratual; fase contratual e fase pós-contratual). As negociações preliminares é uma etapa da fase pré-contratual de todo processo contratual. Os contratos preliminares não podem ser confundidos com a etapa das negociações preliminares do contrato futuro que este contrato garante. 6.2 – Natureza jurídica. Negócio jurídico consensual. Deve respeito a todos os pressupostos de existência, validade e eficácia exigidos de todos contratos a fim de garantir os seus efeitos. A. Requisitos de validade. A.1 – Requisitos objetivos de validade (V. art. 104, II, CC). O contrato preliminar deve atender a todos os requisitos do artigo 104, CC. Quanto as qualidades do objeto: Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. A.2 – Requisitos subjetivos de validade (V. art. 104, I, CC). O contrato preliminar deve atender a todos os requisitos do artigo 104, CC. Quanto as qualidades dos contraentes: Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: IV - agente capaz; V - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; VI - forma prescrita ou não defesa em lei. A.3 – Requisito formal (V. art. 462, CC). Os contratos preliminares são classificados como informais. Viabilizar a finalidade dos contratos preliminares. Os contratos preliminares não precisam executar todas as formalidades ou solenidades que o contrato definitivo exige para que sejam celebrados. Contudo, os contratos preliminares devem trazer os requisitos necessários para viabilizar a formação do contrato futuro. 6.3 – Classificação. A. Quanto à exigibilidade. Identifica quais das partes podem exigir a formação do contrato futuro. A.1 – Unilaterais (V. arts. 509 a 512, CC). Contrato preliminar unilateral é quando somente um dos contraentes pode exigir a formação do contrato futuro. Exemplos: Contratos preliminares de opção. Compra e venda a contento. Promessa de doação. Omissão ao estipular o prazo de prevalência da vontade de um dos contraentes para a formação do contrato. Socorrendo-se ao judiciário para que este analise se já passou o tempo médio necessário para a formação de contratos da mesma natureza. A.2 – Bilaterais. Contrato preliminar bilateral é quando ambos os contraentes podem exigir reciprocamente a formação do contrato definitivo. B. Quanto à retratabilidade. Analisa se há a possibilidade de haver retratação da proposta do contrato preliminar. B.1 – Retratáveis. É possível a retratação da proposta. É necessário que seja pactuado expressamente a cláusula de arrependimento, pois a possibilidade de retratação é uma medida que onera o negócio jurídico, fragilizando o vínculo entre os contraentes. A celebração da cláusula de arrependimento deve ser feita, portanto, expressa e mediante a contraprestação devida para garantir o equilíbrio da relação contratual. Recomenda-se ainda que ao celebrar a cláusula de arrependimento para diminuir a instabilidade que este dispositivo traz, pactuar uma multa para o contratante que utilizar os efeitos da cláusula de arrependimento. B.2 – Irretratáveis. Regra geral para os contratos preliminares. Prevalece a força obrigatória dos contratos. Não é possível a retratação da proposta. C. Quanto à onerosidade. Identificar se foi dado alguma contraprestação pela prerrogativa de poder exigir exclusivamente a formação do contrato futuro. C.1 – Onerosos. Único contrato preliminar oneroso: Contrato preliminar de opção. C.2 – Gratuitos. Regra geral para os contratos preliminares. Todos os contraentes, regra geral, podem exigir a formação do contrato futuro, desde que tenham cumprido as suas responsabilidades contratuais. 6.4 – Tutela específica. Deve-se priorizar as tutelas específicas, pois elas é que, regra geral, garantem a maior satisfação dos contratantes. Tutela inespecífica deve ser utilizada subsidiariamente quando: A tutela específica não for mais interessante ao credor. A tutela específica for impossível ao devedor. A. Tipos de tutela jurisdicional das obrigações: A.1 – Tutela inespecífica (geral). Tutela inespecífica seria a execução forçada de providências que visam garantir uma prestação diversa àquela desejadas pelos contratantes no momento da formação do contrato. Providências que tentam amenizar os prejuízos da não entrega da prestação inicialmente pretendida pelos contratantes. Perdas e Danos Danos morais. Danos materiais: Lucros cessantes. Danos emergentes. A.2 – Tutela específica: V. arts. 461; 466-A; 466-B; 466-C, CPC. Tutela específica é a execução forçada, por meio de remédios e providências, orientada a garantir ao credor o resultado prático idêntico àquele que teria sido alcançado se a obrigação fosse espontaneamente executada. B. Registro do contrato preliminar e adjudicação compulsória. A adjudicação compulsória é uma medida de tutela específica que pode ser usada nos contratos preliminares, sob fundamentos da releitura que os princípios sociais dos contratos trouxeram sobre a teoria geral dos contratos. Adjudicação compulsória é uma garantia real que garante o direito de sequela sobre o bem. B.1 – Situação fática (V. arts. 463, § único; 1225, VII; 1417; 1418, CC) (V. súmula 239, STJ) (V. enunciados nº 30 e 95, CJF). Contrato preliminar de compra e venda de imóvel o qual possui como objeto a obrigação de fazer o contrato definitivo de compra e venda do imóvel. Ainda não foi feito a escrituração (contrato definitivo). Houve algum problema que vai ser necessário se valer da adjudicação compulsória, por exemplo; Terceiro registrou antes o imóvel em seu nome; A construtora que tinha o imóvel em seu nome entrou emfalência. Caso haja o registro do contrato preliminar junto aos documentos do imóvel: Poderá utilizar o instituto da adjudicação compulsória, resgatando o bem ao seu patrimônio jurídico. Não há preocupação com a figura do terceiro de boa-fé, pois é dever deste antes de fazer a escrituração consultar as documentações sobre o imóvel que está adquirindo. Para maior garantia recomenda que o registro seja feito no CRI, não no CRTD que tem apenas uma amplitude local. B.2 – Requisitos para a dispensa do registro do contrato preliminar: I. Contrato preliminar, firmado em caráter irrevogável e irretratável (de preferência, com previsão expressa de cláusula de adjudicação compulsória). II. Quitação integral do preço. III. Inocorrência de interesses de terceiros. Caso a adjudicação compulsória seja usada contra o promitente- vendedor ou terceiro que ingressou na relação contratual por meio de cessão de posição contratual com o promitente-vendedor. Neste caso não é exigido o registro do contrato preliminar para se valer da adjudicação compulsória, pois estes pela sua posição contratual tem o dever de conhecer este contrato. Caso não haja o registro do contrato preliminar junto aos documentos do imóvel: Súmula 239, STJ: Súmula de 30 de agosto de 2000. Apresenta três requisitos que se atendidos possibilita que seja utilizada a adjudicação compulsória nos casos em que não há registro do contrato preliminar: Contrato preliminar, firmado em caráter irrevogável e irretratável (de preferência, com previsão expressa de cláusula de adjudicação compulsória). Quitação integral do preço. Inocorrência de interesses de terceiros (inocorrência de terceiro de boa-fé). Súmula 239, STJ “versus” Código Civil 2002. CC/02 na sua redação exige obrigatoriamente o registro para se valer da adjudicação compulsória no contexto dos contratos preliminares. A súmula, apesar de menos atual com a vontade do legislador e inferior hierarquicamente ao CC/02, prevalecerá sobre o Código Civil. Princípio da vedação ao retrocesso social. C. Possibilidade da divergência (Flávio Tartuce; Jones de Figueirêdo Alves, etc). C.1 – A do art. 463, CC, com o uso da tutela específica das obrigações para obrigar o promitente vendedor a celebrar o contrato definitivo (V. arts. 461; 466-A; 466-B; 466-C, CPC). C.2 – Esgotado o prazo assinado pelo juiz, exigir o “suprimento de vontade”, caso tanto tenha sido requerido na inicial (V. art. 464, CC; art. 466-B, CPC). C.3 – Caso não exista mais interesse por parte do promitente comprador, este poderá requerer a tutela inespecífica, por meio da liquidação em perdas e danos (V. art. 465, CC). Em suma, as possibilidades apresentadas anteriormente tentam apresentar outros métodos de tutela específica que não a adjudicação compulsória. Estas outras possibilidades não possuem o mesmo grau de garantia a tutela específica, como a adjudicação compulsória. 6.5 – Considerações sobre o contrato preliminar de doação. É possível haver contrato preliminar sobre um contrato de doação. A possibilidade de haver tutela específica sobre contratos preliminares de doação. Contratos preliminares de doação pura/gratuita. Não é possível exigir tutela específica. Em respeito à autodeterminação potencial do doador. É possível exigir tutela inespecífica. É possível exigir perdas e danos. Contratos preliminares de doação onerosa. É possível exigir tanto a tutela específica, como a tutela inespecífica. Contrato de doação onerosa é um contrato bilateral imperfeito. Como este tipo de contrato preliminar possui bilateralidade/sinalagma é possível aplicar a ele as providências da tutela específica.