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UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE DIREITO PAULA DA SILVA SANTOS FEMINICÍDIO NO BRASIL SÃO PAULO 2024 FEMINICÍDIO NO BRASIL Monografia apresentada à faculdade de Direito de São Paulo como parte dos requisitos para conclusão de curso em: / /2024 Professor Orientador: Dr. Ricardo Andreucci SÃO PAULO 2024 ( PAULA DA SILVA SANTOS ) CIP - Catalogação na Publicação ( Santos, Paula da Silva FEMINICÍDIO NO BRASIL / Paula da Silva Santos. - 2024. 33 fs. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao Instituto de Ciência Jurídicas da Universidade Paulista, São Paulo, 2024. Área de Concentração: Direito Penal. Orientador: Prof. Me. Marcio Andreucci. Feminicídio no Brasil . I. Andreucci, Marcio (orientador). II. Título. ) Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Universidade Paulista com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). FEMINICÍDIO NO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado a Banca Examinadora da Universidade Paulista (UNIP), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Direito. São Paulo, de 2024. Aprovada em: / / BANCA EXAMINADORA / / Dr. Ricardo Andreucci (Orientador-Unip) Universidade Paulista –UNIP / / Prof. Universidade Paulista – UNIP / / Prof. Universidade Paulista – UNIP ( PAULA DA SILVA SANTOS ) ‘ A justiça não se estabelece sob o discurso falacioso de que todos são iguais perante a lei, mas sim na comprovação de que a lei venha a ser igual perante todos!’ Reinaldo Ribeiro – O Poeta do Amor AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente a Deus, que me deu discernimento e sabedoria para chegar até o presente momento; Aos meus pais que batalharam comigo em toda minha trajetória; Aos meus irmãos que tornaram esse processo mais leve. A presente monografia, é um Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, na qual tem o tema: '' Feminicídio no Brasil'', é explanado o conceito de feminicídio no Brasil, a sua evolução histórica, as primeiras leis e artigos que tutelam a mulher, quem é o sujeito passivo e ativo no crime de feminicídio, a diferença de violência doméstica e violência contra a mulher, quais os tipos de violência contra a mulher e como o Estado pode adotar medidas para prevenir a violência contra a mulher e o feminicídio, este trabalho tem uma grande utilidade pública, pois é um tema de grande repercussão e conhecimento. Palavras-Chave: Feminicídio. Violência Doméstica. Legislação. ( RESUMO ) ABSTRACT This monograph is a Course Conclusion Paper - TCC, which has the theme: ''Femicide in Brazil'', the concept of femicide in Brazil is explained, its historical evolution, the first laws and articles that protect women, who is the passive and active subject in the crime of femicide, the difference between domestic violence and violence against women, what are the types of violence against women and how the State can adopt measures to prevent violence against women and femicide, this work has great public utility, as it is a topic of great repercussion and knowledge. Keywords: Femicide. Domestic Violence. Legislation. INTRODUÇÃO 10 FEMINICÍDIO. 11 Origem/Conceito 11 Evolução Histórica 18 Primeiras leis e artigos referente ao feminicídio 21 Sujeito ativo e Sujeito passivo 23 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 24 Violência doméstica X Violência contra mulher 24 Tipos de Violência contra a mulher 25 PREVENÇÃO AO FEMINICÍDIO. .............26 Atitudes de prevenção do Estado 26 CONCLUSÃO. 29 BIBLIOGRAFIA 30 ( 10 ) ( SUMÁRIO ) INTRODUÇÃO Neste Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, aborda o tema: ‘ O Feminicídio no Brasil’’, tema polêmico, pois o Brasil lidera mundialmente o ranking de violência contra a mulher em quinto lugar no mundo, ou seja, em solo nacional muitas mulheres morrem vítimas da violência por simplesmente nascerem mulheres, neste trabalho é abordado o conceito de feminicídio conforme diversos doutrinadores e jurisprudências, além da evolução do crime e a base normativa. No capítulo 1, refere-se a origem e o conceito do feminicídio conforme Guilherme de Souza Nucci, Cleber Masson entre outros doutrinadores, com a análise normativa da lei e análise das qualificadoras. No capítulo 2, trata-se da violência doméstica e da violência contra mulher, neste capítulo é conceituado o que é a violência doméstica e a violência contra mulher e no capítulo seguinte é abordado a evolução histórica da violência contra a mulher, sendo algo intrínseco na nossa sociedade desde os tempos antigos. No capítulo 3, aborda-se a prevenção ao Feminícidio, qual o posicionamento e as atitudes que o Estado deve adotar para evitar e abaixar os altos índices deste crime na nossa sociedade. No penúltimo e no último capítulo, trata-se da conclusão e bibliografia, na qual é analisado toda a extensa pesquisa da presente monografia e todo o conhecimento adquirido, na bibliografia tem todas as fontes de todos os livros e sites. A metodologia utilizada nesta monografia é de pesquisa bibliográfica, e todos os tipos documentação indireta e livros. 1 FEMINICÍDIO Neste capítulo será abordado a origem e o conceito do feminicídio, como ocorreu a sua evolução histórica, quais foram as primeiras leis e artigos e qual é o sujeito ativo e passivo do crime. 1.1 Origem/Conceito Guilherme de Souza Nucci leciona: ‘A morte da mulher sempre foi tutelada pelo direito penal, no homicídio. Em verdade, não significa o termo “homicídio”1. O feminicídio é derivado do Homicídio e visa não só eliminar a vida sexual do homem/mulher, mas também a vida humana. Diversas normas foram editadas para proteger a mulher, em face da opressão que enfrenta quando convive com alguém do sexo masculino. É comum culturamente em várias partes do mundo, a mulher ser inferiorizada sob diversos aspectos. Segundo Cleber masson : Feminicídio é o homicídio doloso cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. O legislador não foi feliz na redação do tipo penal. No lugar de “razões da condição de sexo feminino” deveria ter utilizado a expressão “razões de gênero”, seguindo o exemplo bem-sucedido da Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha. A propósito, o Projeto de Lei 8.305/2014, que culminou na Lei 13.104/2015, adotava a terminologia “razões de gênero”, mas esta foi substituída em decorrência de manobras políticas da bancada “conservadora” do Congresso Nacional, com a finalidade de excluir os transexuais da tutela do feminicídio. E o que são “razões da condição de sexo feminino”? O § 2.º-A do art. 121 do Código Penal contém uma norma penal explicativa, assim redigida: § 2.º-A. Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica e familiar; II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher2. Portanto, somente nessas duas hipóteses é que o homicídio doloso pode configurar o feminicídio. Nesse ponto, é importante destacar que feminicídio e femicídio não se confundem. Ambos caracterizam homicídio, mas, enquanto aquele se baseia em razões da condição de sexo feminino, este consiste em qualquer homicídio contra a mulher. 1 NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal, Vol 2 . Ed 8. Editora Forense. São Paulo. 2024. 2 MASSON, Cleber. Direito Penal, Parte Especial (Arts. 121 a 212). Ed 17. Editora Método. São Paulo. 2024. Exemplificativamente, se uma mulher matar outra mulher no contexto de uma briga de trânsito, estará configurado o femicídio, mas não o feminicídio. Foi aprovada a Lei Federal n. 13.104 de 09/03/2015, na qual é intitulada uma nova modalidade qualificadora, o chamado feminicídio. Segundo o art. 121, § 2º, VI, tem- se que é qualificado o homicídio praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. A explicação dada pela lei para talinclusão, dada no art. 121, § 2º-A, é, no mínimo, curiosa. Afirma-se, assim: “considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: violência doméstica e familiar” ou “menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Miguel Reale Júnior, ET AL, leciona: Inúmeras razões motivaram a inovação legislativa, em especial a percepção de uma crescente violência em razão de gênero. Entretanto, e em que pese certa racionalidade desse grau de proteção, a nova disposição legislativa acaba por determinar, na prática, certa confusão entre um aspecto objetivo (quando o crime envolve violência doméstica e familiar) e um subjetivo (pois a qualificadora deveria se justificar em razão do menosprezo ou discriminação à condição de mulher). Com isso, o que se pode constatar é que um crime de homicídio praticado contra mulher, ainda quando não se dê em função de violência doméstica ou em menosprezo à sua condição, acabe por ser considerado, sim, qualificado, como se a mulher, per se, já fosse dotada de maior proteção. Cumpre mencionar que o Superior Tribunal de Justiça entende ser o feminicídio uma qualificadora de natureza objetiva (STJ, HC 430.222/MG, rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, j. 15-3-2018, DJe 22-3-2018)3. Segundo Guilherme de Souza Nucci: Constitucionalmente, todos são iguais perante a lei. Essa afirmação normativa não bastava, tendo em vista que as mulheres continuavam a sofrer dentro de seus lares (principalmente) inúmeras formas de violência física e psicológica. Adveio a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) contendo normas explicativas, programáticas e determinadas, com o fito de tutelar, de maneira mais eficiente, a condição do sexo feminino, em particular nos relacionamentos domésticos e familiares. O feminicídio4 é uma continuidade dessa tutela especial, considerando homicídio qualificado e hediondo a conduta de matar a mulher, valendo-se de sua condição de sexo feminino (vide tópico a seguir). “Radford definia o feminicídio como o assassinato de mulheres cometido por homens, como uma forma de violência sexual, aclarando que o conceito abarcava algo mais que a sua definição legal de assassinato, levando a situações nas quais as mulheres morrem como resultados de atitudes misóginas ou de práticas sociais.” ( 32 ) ( 31 ) As Nações Unidas definem a violência contra as mulheres como "qualquer ato de violência de gênero que resulte ou possa resultar em danos ou sofrimentos físicos, sexuais ou mentais para as mulheres, inclusive ameaças de tais atos, coação ou privação arbitrária de liberdade, seja em vida pública ou privada"3. Conforme leciona Mauricio Schaun Jalil e Vicente Greco Filho: O feminicídio é descrito como um crime cometido por homens contra mulheres, individualmente ou em grupos, e tem características misóginas, de repulsa contra as mulheres. É o assassinato de uma mulher pelo fato de ser mulher. Geralmente, acontece na intimidade dos relacionamentos e, com frequência, é caracterizado por formas extremas de violência e barbárie. Entretanto com a modernização o feminicídio hoje em dia é criminalizado moralmente e legislativamente, diferente de antigamente3. É um crime que é ignorado, praticado sem distinção de lugar, cultura, raça ou classe, além de ser a expressão perversa de um tipo de dominação masculina que ainda está fortemente presente na cultura brasileira, os números demonstram as altas taxas de feminícidio. Planejado por homens contra mulheres, seus motivos são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda da propriedade sobre elas, objetificando a mulher como coisa, e não ser humano4. O § 7º do art. 121, do Código Penal, também inserido pela Lei n. 13.104/2015, estabelece que a pena do feminicídio será aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado: I – durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que não há bis in idem: “Caso que o Tribunal de origem afastou da pronúncia o crime de provocação ao aborto (art. 125 do CP) ao entendimento de que a admissibilidade simultânea da majorante do feminicídio perpetrado durante a gestação da vítima (art. 121, § 7º, I, do CP) acarretaria indevido bis in idem. 2. A jurisprudência desta Corte vem sufragando o entendimento de que, enquanto o art. 125 do CP tutela o feto enquanto bem jurídico, o crime de homicídio praticado contra gestante, agravado pelo art. 61, II, h, do Código Penal protege a pessoa em maior grau de vulnerabilidade, raciocínio aplicável ao caso dos autos, em que se imputou ao acusado o art. 121, § 7º, I, do CP, tendo em vista a identidade de bens jurídicos protegidos pela agravante genérica e pela qualificadora em referência. 3. Recurso especial provido5 3 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Violência contra as mulheres. Dísponivel em: https://www.paho.org/pt/topics/violence-against- women#:~:text=As%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas%20definem%20a%20viol%C3%AAncia% 20contra,liberdade%2C%20seja%20em%20vida%20p%C3%BAblica%20ou%20privada%22. Acesso em: 29 de agosto de 2024. 4 JUNIOR, Miguel Reale, Et Al. Código Penal Comentado. Ed 8. Editora Saraiva jur. São Paulo. 2023. 5 Gustavo A. Arocena e José D. Cesano, El delito de femicidio, Ed 2. Montevideu. 2017. – contra pessoa maior de 60 anos ou com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; Esse dispositivo foi alterado pela Lei n. 14.344/2021, que retirou a majorante relativa a vítimas menores de 14 anos, na medida em que a mesma lei inseriu tal hipótese como qualificadora autônoma do homicídio. I – na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; II – em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), De acordo com o referido art. 22, constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I – suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente; II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III – proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação6; c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida. IV – restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V – prestação de alimentos provisionais ou provisórios; VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de apoio. 2. A jurisprudência desta Corte vem sufragando o entendimento de que, enquanto o art. 125 do CP tutela o feto enquanto bem jurídico, o crime de homicídio praticado contra gestante, agravado pelo art. 61, II, h, do Código Penal protege a pessoa em maior grau de vulnerabilidade, raciocínio aplicável ao caso dos autos, em que se imputou ao acusado o art. 121, § 7º, I, do CP, tendo em vista a identidade de bens jurídicos protegidos pela agravante genérica e pela qualificadora em referência. 3. Recurso especial provido6” II – contra pessoa maior de 60 anos ou com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; Esse dispositivo foi alterado pela Lei n. 14.344/2021, que retirou a majorante relativa a vítimas menores de 14 anos, na medida em que a mesma lei inseriu tal hipótese como qualificadora autônoma do homicídio. III – na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; – em descumprimentodas medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), De acordo com o referido art. 22, constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I – suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente; II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III – proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida. 6 JALIL, Mauricio Schaun, FILHO, Vicente Greco. Código Penal Comentado: Doutrina e Jurisprudência. Ed 6a . Editora Manole. São Paulo. 2023. IV – restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V – prestação de alimentos provisionais ou provisórios; VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de apoio7. Como resultado, a majorante exige que uma das medidas protetivas mencionadas acima tenha sido previamente aplicada e que o agente que comete o feminicídio descumprindo a restrição imposta a ele. Ex.: O juiz da Vara da Violência Doméstica contra Mulher ordenou o afastamento do marido do lar devido a uma agressão anterior; no entanto, ele posteriormente invade o lar e mata a esposa. A resposta ao feminicídio é uma punição agravada. A Lei incluiu esse dispositivo no Código Penal. 13.771/2018. Por se tratar de uma majorante específica do crime de feminicídio, parece-nos impossível punir o mesmo crime pelo art. 24. A Lei Maria da Penha prevê prisão de três meses a dois anos para quem descumprir a determinação judicial que tenha imposto medida protetiva de urgência. Vale ressaltar que no cenário brasileiro tivemos diversos feminicidas tais como: Francisco de Assis Pereira (‘Maníaco do Parque’), caso Mércia Nakashima, Caso Mônica Granuzzo, Maria Bueno, entre tantos outros. Há diversas espécies de feminicídio, adinate vamos explanar cada uma delas: Femicídio íntimo: São crimes cometidos por homens com os quais a vítima tem ou teve uma relação íntima, familiar, de convivência ou afins. Incluem os crimes cometidos por parceiros sexuais ou homens com quem tiveram outras relações interpessoais, por exemplo: maridos, companheiros, namorados, seja em relações atuais ou passadas. Femicídio não íntimo: São crimes cometidos por homens com os quais a vítima não tinha relações íntimas, familiares ou de convivência, mas com os quais havia uma relação de confiança, hierarquia ou amizade, por exemplo: amigos ou colegas de trabalho, trabalhadores da saúde, empregadores. Os crimes classificados nesse grupo podem ser classificados em dois subgrupos, segundo tenha ocorrido a prática de violência sexual ou não, que seria o Abuso Sexual seguido de morte8. Femicídio por conexão: crimes em que as mulheres foram assassinadas porque se encontravam na “linha de fogo” de um homem que tentava matar outra mulher, ou seja, são casos em que as mulheres adultas ou meninas tentam intervir para impedir a prática de um crime contra outra mulher e acabam morrendo. 7 Recurso Especial :1860829/RJ, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, 6ª Turma, julgado em 15-9-2020, DJe 23-9-2020.Dispónível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=202000281954&dt_publicacao=23/09/2020. Acesso em 08 ago 2024. 8 Agravo em Recurso Especial - (AgRg no REsp n. 1.741.418/SP, Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 15-6-2018)”. Disponível em: (AgRg no REsp n. 1.741.418/SP, Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 15-6-2018)”. Acesso em: 08 ago 2024. Independem do tipo de vínculo entre a vítima e o agressor, que pode inclusive ser desconhecido. (“Femicídios e as mortes de mulheres no Brasil”, Cadernos Pagu (37), jul.-dez. 2011, p. 219-46)9. Femicídio por conexão: crimes em que as mulheres foram assassinadas porque se encontravam na “linha de fogo” de um homem que tentava matar outra mulher, ou seja, são casos em que as mulheres adultas ou meninas tentam intervir para impedir a prática de um crime contra outra mulher e acabam morrendo. Independem do tipo de vínculo entre a vítima e o agressor, que pode inclusive ser desconhecido. (“Femicídios e as mortes de mulheres no Brasil”, Cadernos Pagu (37), jul.-dez. 2011, p. 219-46)9. O feminicídio é uma qualificadora do crime de homicídio, conforme entendimento do STJ, é uma qualificadora de caráter objetivo, conforme o julgado abaixo: “A jurisprudência desta Corte de Justiça firmou o entendimento segundo o qual o feminicídio possui natureza objetiva, pois incide nos crimes praticados contra a mulher por razão do seu gênero feminino e/ou sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e familiar propriamente dita, assim o animus do agente não é objeto de análise10. “Nos termos do art. 121, § 2º-A, I, do CP, é devida a incidência da qualificadora do feminicídio nos casos em que o delito é praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar, possuindo, portanto, natureza de ordem objetiva, o que dispensa a análise do ‘animus’ do agente. Assim, não há se falar em ocorrência de bis in idem no reconhecimento das qualificadoras do motivo torpe e do feminicídio, porquanto, a primeira tem natureza subjetiva e a segunda objetiva.” “As qualificadoras do motivo torpe e do feminicídio não possuem a mesma natureza, sendo certo que a primeira tem caráter subjetivo, ao passo que a segunda é objetiva, não havendo, assim, qualquer óbice à sua imputação simultânea. Doutrina. Precedentes11” 9 HABEAS CORPUS 433.898/RS — Rel. Min. Nefi Cordeiro — 6ª Turma — j. em 24-4-2018, DJe 11-5-2018. Disponível em: HC 433.898/RS — Rel. Min. Nefi Cordeiro — 6ª Turma — j. em 24-4-2018, DJe 11-5-2018. Acesso em: 08 ago 2024. Conforme Nestor Sampaio Penteado Filho e Eron Veríssimo Gimenes: A palavra “feminicídio” é usada para conceituar o homicídio de mulheres em função do gênero significa a violência extrema contra a mulher. Fala-se também em uxoricídio, do latim ‘uxor’ (esposa, mulher casada), e ‘caedere’ (matar), que significa o homicídio da mulher casada, tipificando tal crime com a necessária condição de marido/convivente do sujeito ativo10. Tanto um quanto outro resultam geralmente de uma escalada da violência contra a mulher/esposa: ofensas, vias de fato, lesões corporais, até o ato maior de violência Os números absurdos de feminicídios no país, no Estado de São Paulo, de janeiro a novembro de 2019, foram registrados 155 casos, entretanto é apenas aqueles cujos boletins de ocorrência mencionaram a circunstância da violência de gênero, havendo a probabilidade de existir subnotificação ou cifra negra pelo registro de mortes de mulheres como homicídio11. Os dados estatísticos revelam que a causa da morte na imensa maioria dos feminicídios é decorrente de lesões por arma de fogo. No entanto, em muitos casos há outros métodos que exigem contato direto do agressor com a vítima, como o uso de objetos cortantes (faca, estiletes etc.), perfurantes (punhal, picador de gelo, tesoura etc.), contundentes (pedra, pedaço de madeira, cano etc.) e sufocação (esganadura com as mãos, pés, joelhos no pescoço da vítima, uso de travesseiros para impedir a respiração etc.), para consecução do delito. Muitas vezes o contato direto do agressor com a vítima vem aliado a torturas precedentes, lesões nos órgãos genitais, estupro e lesões faciais, indicadores de crime passional. Não é incomum o agressor alegar que a vítima sejaculpada de sua morte, quer implicando com a forma pela qual ela se veste, quer pela sua postura de mulher independente ou ainda por negar-lhe uma nova chance em reatar a relação de matrimônio, namoro etc. É imperioso anotar que a violência contra as mulheres assume grave problema para além da questão da segurança pública: cuida-se de sério problema de saúde pública, com contornos epidemiológicos. 10 FILHO, Nestor Sampaio Penteado; GIMENES, Eron Veríssimo. Criminologia. 14 Ed. Saraiva Jur. 2018. 11 Estatística violência contra a mulher, Fonte: CAP/SSP/SP. Disponível em: . Acesso em: 16 set. 2024. A violência praticada pelo companheiro (marido, namorado etc.) contra as mulheres revela um crescimento nos atendimentos no sistema único de saúde, inclusive com transtornos psiquiátricos como pânico, agorafobia e Transtorno de Estresse Pós- Traumático (TEPT). Como analisar a condição de sexo feminino no feminicídio? Para Guilherme de Sousa Nucci: A inserção dessa expressão trata-se de uma nova motivação para matar, razão pela qual a qualificadora introduzida no inciso VI do § 2.º, do art. 121 seria subjetiva. Assim sendo, não conviveria com as qualificadoras dos incisos I, II e V. Essa expressão diz respeito ao fundamento de criação do feminicídio. Seria simples demais colocar no inciso V I apenas contra a mulher. Afinal, o caput (matar alguém) já previa isso. O termo “alguém” envolve o homem e a mulher, pouco importando a sua condição sexual, idade, posição social etc12. O legislador conduzido a fundamentar a opção normativa de uma nova qualificadora com o objetivo de conferir maior proteção à mulher, por ser do sexo feminino, a pessoa que, em virtude de sua inferioridade de força física, de sua subjugação cultural, de sua dependência econômica, de sua redução à condição de serviçal do homem (seja marido, companheiro, namorado), é a parte fraca do relacionamento doméstico ou familiar. Esse é o prisma do feminicídio: matar a mulher por razões da condição de sexo feminino. O homem mata ou lesiona a mulher porque se sente (e é, na maioria imensa dos casos) mais forte. Mas seu motivo não é esse: mata porque acha que ela o traiu; mata porque quer livrar-se do relacionamento; mata porque é extremamente ciumento; mata até porque foi injustamente provocado. O agente (sujeito ativo), pode ser outra mulher, num relacionamento homossexual; ao matar a outra mulher, porque ela é a parte fraca da relação, também responde por feminicídio. A mulher mais forte, que mata a mais fraca, não o faz porque ela é do sexo feminino, mas porque tem ciúme e o relacionamento deteriorou-se. Assim, a qualificadora “contra a mulher por razões de condição de sexo feminino” é o fiel espelho, em continuidade, da Lei Maria da Penha. Confere-se maior tutela à mulher porque ela é o sexo fragilizado nas relações domésticas e familiares. Imagine-se que o agente mate a mulher, porque é misógino. O motivo pode ser considerado torpe (ódio às mulheres) e ainda é aplicável a qualificadora de eliminar a vida da mulher, porque ela é o sexo frágil, física e culturalmente frágil. 12 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal – Volume único. 19 Ed. Gen Jurídico. São Paulo. 2023. Esse foi um dos focos de debate da Lei 11.340/2006, considerada inconstitucional, pois confere maior proteção à mulher que ao homem? Chegou-se, majoritariamente, à conclusão negativa, pois se está tutelando desigualmente os desiguais. É o fundamento de várias outras leis, que protegem deficientes físicos ou mentais, tutelam pessoas em virtude de raça, religião etc. Por certo, a lei não é constituída de exceções, mas de regras gerais. Quando se idealizou a agravante de crime praticado contra criança, enfermo, mulher grávida ou idoso, é explanada a maioria esmagadora das hipóteses de evidente covardia do agente (mais forte) em face de pessoas com dificuldade de defesa. Imagine-se um crime de estelionato praticado contra mulher grávida, no início da gravidez. A mulher ainda está trabalhando normalmente e é ludibriada pelo estelionatário, que pode até saber de sua gestação. Não há nenhum nexo causal entre o crime e a condição física da gestante, razão pela qual inexiste motivo para aplicar a agravante. O mesmo pode ocorrer no cenário do feminicídio, desde que se prove que a vítima (mulher) não se encontrava em condição de inferioridade, sob nenhum prisma. Afinal, as qualificadoras objetivas também comportam debate e controvérsia (desferir 40 facadas na vítima é um meio cruel? Depende do caso concreto, somente para dar um exemplo). O mesmo raciocínio se aplica ao feminicídio. Confira-se, também, a respeito o parágrafo abaixo ‘ in verbis ‘: é de caráter objetivo § 2.º-A inserido no art. 121: “considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica e familiar; II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. 1.2 Evolução Histórica Conforme Victor Eduardo Rios Gonçalves: ‘A presente figura delituosa foi introduzida no Código Penal pela Lei n. 13.104/2015. Não obstante a denominação específica contida no texto legal – feminicídio –, cuida-se, em verdade, de nova forma qualificada do crime de homicídio’. A tipificação legal do feminicídio nas legislações ao redor do mundo, é fato recente na história. No entanto, desde a Bíblia encontramos relatos de morte de mulheres, verdadeiro feminicídio, apesar de o conceito de violência de gênero e de feminicídio, serem relativamente recentes. O primeiro feminicídio que se tem notícia registrado inclusive na Bíblia, é a tentativa de “apedrejamento da mulher”, episódio descrito no Evangelho de São João (8, 1-11). Em tal passagem bíblica, Jesus está no Templo pregando, quando aparecem os escribas e os fariseus, trazendo consigo uma mulher que praticou adultério. Eles a colocam no meio da roda, entre Jesus e o povo. Conforme a lei da época, esta mulher deveria ser apedrejada até a morte. Assim, eles perguntam a Jesus a sua opinião13. Assim, a mulher que a princípio era considerada culpada, até mesmo pelas leis da época e merecedora da pena capital, em frente de Jesus, foi absolvida, redimida e dignificada. Jesus absolveu e protegeu a mulher adúltera, numas das primeiras tentativas de feminicídio ou morte de mulher relatada na Bíblia, e de que temos notícia na história. Desde a Bíblia via-se a exclusão da mulher, considerando-a inapta para a vida pública, deixando-a reservada somente para a função de esposa e mãe. Apesar da lei prever a morte do casal adúltero, somente a mulher era apedrejada. Assim, a mulher desde então era culpabilizada, pela própria má sorte, se um crime era praticado contra ela, no caso, a tentativa de feminicídio, tal só tinha ocorrido, porque ela tinha dado causa. E a defesa da honra do homem, justificava até mesmo a morte de quem na verdade, era vítima, do crime e da cultura patriarcal. Com o advento da história, melhor sorte não ocorreu às mulheres. Passamos ao caso de Ângela Diniz, assassinada pelo companheiro Doca Street, em 30 de dezembro de 1976, em Búzios, no litoral do Rio de Janeiro. Doca Street matou Ângela Diniz com três tiros desferidos contra o seu rosto e mais um tiro na nuca, deixando-a desfigurada. A vítima era conhecida por sua beleza, sendo chamada de “Pantera de Minas”, sendo que ao decidir expulsar de casa seu atroz, o mesmo após sair do local, retornou em seguida e efetuou os disparos fatais. Em seu primeiro julgamento, Doca Street recebeu uma pena de apenas dois anos de reclusão com direito a sursis processual, sendo que não precisaria sequer cumprir a pena, tendo no julgamento seu advogado, Evandro Lins e Silva, alegado legítima defesa da honra. Com tal discussão, a sociedade que havia apoiado ‘Doca Street’ no primeiro julgamento, recebendo-o com aplausos na entrada do fórum e com cartazes dizendo que Cabo Frio estava ao lado do réu, passou no segundo julgamento a mudar a sua postura, a partir do entendimento de que não se poderia atribuir ao amor,a morte de uma mulher pelo seu companheiro, simplesmente porque esta não queria mais o relacionamento amoroso. 13 JALIL, Mauricio Schaun, FILHO, Vicente Greco. Código Penal Comentado: Doutrina e Jurisprudência. Ed 6a . Editora Manole. São Paulo. 2023. No entanto, ainda prevalece em nossa sociedade atual, o pensamento na sociedade, ainda imputando às vítimas a responsabilidade pelo crime sofrido, isto é, pelo feminicídio. Se o autor do crime a matou, foi porque a vítima contribuiu para o crime: não sendo uma boa mãe, uma boa esposa, tendo comportamento sexual condenável, entre outras falsas justificativas, com o único fim de reforçar uma legítima defesa da honra, ainda que tal não esteja sequer disciplinada atualmente na legislação do nosso país, tratando- se de mera construção jurisprudencial. As condições estruturais dessas mortes também enfatizam que são resultados da desigualdade de poder que caracteriza as relações entre homens e mulheres nas sociedades, contrapondo-se a explicações amplamente aceitas de que se tratam de crimes passionais, motivados por razões de foro íntimo ou numa abordagem patologizante, como resultado de distúrbios psíquicos. Conforme mencionado nas Diretrizes Nacionais para investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero – Feminicídio, as mortes violentas de mulheres por razões de gênero ocorrem em todos os países do planeta, seja em tempos de guerra ou paz, e em muitas dessas mortes há a tolerância da sociedade e dos governos, justificadas por costumes, tradições, aceitas com naturalidade e normalidade, atribuindo e dando direito aos homens de punir as mulheres da família: Pouco se sabe sobre as mortes, inclusive sobre o número exato de sua ocorrência, mas é possível afirmar que ano após ano muitas mulheres morrem em razão de seu gênero, ou seja, em decorrência da desigualdade de poder que coloca mulheres e meninas em situação de maior vulnerabilidade e risco social nas diferentes relações de que participam nos espaços público e privado. Desta forma, é importante analisar a evolução do conceito de feminicídio, bem como, as demais causas que são apontadas como causas da perpetuação do problema, dentre elas, a cultura e a mídia, para se conseguir verificar os motivos de feminicídios continuarem a ocorrer no tempo14. 14 Diretrizes Nacionais Feminicídio, 2015, p. 13, apud ONU MULHERES, 2012. 1.3 Primeiras leis e artigos referente ao feminicídio Em relação ao inciso I (homicídio contra mulher motivado por razões do sexo feminino por envolver violência doméstica ou familiar) é necessário fazer uma análise com o art. 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que conceitua violência doméstica ou familiar como: “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”, no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto17. A denúncia alegou violação aos artigos 1, 8, 24 e 25 da Convenção Americana de Direitos Humanos e aos artigos 3, 4 “a” a “g”, 5 e 7 da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará)15. Para ocorrer a tipificação da violência doméstica ou familiar caracterizadora do feminicídio, é imprescindivel que a agressão tenha como fator determinante o gênero feminino, não bastando que a vítima seja a esposa, a companheira, ou qualquer ser do sexo feminino etc. Caso o marido mata a esposa porque ela não quis manter relação sexual ou porque não acatou suas ordens, ou, ainda, porque pediu o divórcio, configura-se o feminicídio. Entretanto, se ele mata a esposa com o objetivo de receber o seguro de vida por ela contratado, não há tipificação, e sim homicídio qualificado por motivo torpe. Este também é o entendimento de Rogério Sanches Cunha18 e Ronaldo Batista Pinto16 e de Cezar Roberto Bitencourt19. Em sentido contrário, argumentando que o feminicídio, nesta modalidade do inciso I, temos a opinião de Guilherme de Souza Nucci, segundo o qual o crime é qualificado pelo fato de a vítima ser mulher, o fato da vítima ser mulher é uma condição objetiva, Quando alguém mata em razão de ter flagrado cônjuge ou companheiro em ato de adultério, é possível o reconhecimento do privilégio. Não se trata aqui de morte baseada em mero ciúme, e sim de violenta emoção decorrente do flagrante de adultério. No passado alguns homens que cometeram crimes em tal situação foram absolvidos por legítima defesa da honra. Os Tribunais, todavia, há muitos anos, rechaçaram tal possibilidade de absolvição, alegando que existe completa desproporção entre o homicídio e o ato de adultério, o que inviabiliza a absolvição por legítima defesa17. 15 Violência doméstica: Lei Maria da Penha comentada artigo por artigo. 6. ed. São Paulo: RT, 2015. 16 Cezar Roberto Bitencourt. Curso de direito penal. Parte Especial. Rio de Janeiro: Forense, 2017. 17 Disponível em: . Acesso em: 29 de agosto de 2024. A Corte Suprema, inclusive, no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n. 779, em 12 de março de 2021, vedou a utilização, no Plenário do Tribunal do Júri, da tese da legítima defesa da honra conforme a decisão abaixo: Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou integralmente procedente o pedido formulado na presente arguição de descumprimento de preceito fundamental para: (i) firmar o entendimento de que a tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por contrariar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), da proteção à vida e da igualdade de gênero (art. 5º, caput, da CF); (ii) conferir interpretação conforme à Constituição aos arts. 23, inciso II, e 25, caput e parágrafo único, do Código Penal e ao art. 65 do Código de Processo Penal, de modo a excluir a legítima defesa da honra do âmbito do instituto da legítima defesa e, por consequência, (iii) obstar à defesa, à acusação, à autoridade policial e ao juízo que utilizem, direta ou indiretamente, a tese de legítima defesa da honra (ou qualquer argumento que induza à tese) nas fases pré- processual ou processual penais, bem como durante o julgamento perante o tribunal do júri, sob pena de nulidade do ato e do julgamento; (iv) diante da impossibilidade de o acusado beneficiar- se da própria torpeza, fica vedado o reconhecimento da nulidade, na hipótese de a defesa ter-se utilizado da tese com esta finalidade. Por fim, julgou procedente também o pedido sucessivo apresentado pelo requerente, de forma a conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 483, III, § 2º, do Código de Processo Penal, para entender que não fere a soberania dos vereditos do Tribunal do Júri o provimento de apelação que anule a absolvição fundada em quesito genérico, quando, de algum modo, possa implicar a repristinação da odiosa tese da legítima defesa da honra. Tudo nos termos do voto reajustado do Relator. Presidência da Ministra Rosa Weber. Plenário, 1º.8.202321. Nota-se, por consequência, que, para o reconhecimento do privilégio, não é necessário que a vítima tenha tido a específica intenção de provocar, bastando que o agente se sinta provocado. No caso do adultério, por exemplo, o cônjuge traidor sequer pretendia que o outro tomasse conhecimento disso. A lei do feminicídio foi sancionada em março de 2015 e, de modo que é somente a partir de 2016 que temos os dados disponíveis do período de janeiro a dezembro de cada ano. Mesmo considerando a subnotificação de casos nos primeiros anos de vigência da legislação, ao menos 10.655 mulheres foram vítimas de feminicídio entre 2015 e 2023. 18 ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6081690. Acesso em: 24 de set de 2024. 1.4 Sujeito ativo e Sujeito passivo Somente as mulheres podem ser sujeito passivo do crime de feminicídio. Mulheres transx podemser vítima deste delito. Homens, homossexuais do gênero masculino ou travestis não podem figurar como sujeito passivo do delito. O homicídio de um travesti cometido por preconceito constitui homicídio qualificado pelo motivo torpe. Já o sujeito ativo, pode ser qualquer pessoa, sendo o crime classificado por ser um crime comum. Conforme Cleber Mason: O feminicidio trata-se de crime comum ou geral: pode ser cometido por qualquer pessoa. Em princípio, não se admite o concurso de pessoas, pois o feminicídio é circunstância pessoal ou subjetiva (CP, art. 30)19. Muitas vezes as vítimas de feminicidio são esposas/namoradas/amiga, no caso abaixo, conforme o relator Luis Soares de Melo: ‘ Consta da denúncia que o acusado e a vítima mantêm relacionamento amoroso, mas que a ofendida se relaciona também com outras pessoas, o que incomoda o réu, que, no entanto, mantém o relacionamento com a ofendida’. EMENTA: Recurso em sentido estrito. Pronúncia por homicídio praticado por motivo fútil e emprego que dificultou a defesa da vítima (art. 121, § 2º, II e IV, do Código Penal). Requisitos de materialidade e autoria bem caracterizados nos autos. Evidências mais que suficientes a mandar a causa a julgamento popular pelo Tribunal do Júri, foro apropriado para tanto. Qualificadora de feminicídio que deve ser mantida. Homicídio praticado em contexto de relacionamento amoroso, que pode caracterizar a tipicidade prevista no art. 121, § 2º, III e VI, na forma do § 2-A, I, do Código Penal. Matéria a ser analisada em Plenário23. Indícios de autoria suficientes à pronúncia. Insuficiência probatória não caracterizada. Prisão preventiva necessária. Recurso defensivo improvido, provido o ministerial20. 19 MASSON, Cleber. Direito Penal, Parte Especial (Arts. 121 a 212). Ed 17. Editora Método. São Paulo. 2024. 20 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Recurso Em Sentido Estrito nº 1525275-88.2021.8.26.0114 -Voto nº 67.229 2 Voto nº 67.229 Recurso em Sentido Estrito nº 1525275-88.2021.8.26.0114 Disponível em: https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=18359537&cdForo=0. Acesso em: 24 de set de 2024. 2.0 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Neste capítulo é abordado a Violência doméstica e a violência contra a mulher e quais os tipos de violência. 2.1 Violência doméstica X Violência contra mulher Uma das razões para a condição de gênero feminino (§ 2o-A, I) é a ocorrência de violência doméstica e familiar. É importante destacar que a qualificadora do feminicídio é objetiva, uma vez que a condição de ser mulher é a principal responsável por grande parte da violência doméstica e familiar, devido à covardia do agente. Não é uma razão para agredir a mulher, mas o companheiro o faz porque ela é mais fraca. Os motivos podem variar dos mais simples aos mais relevantes para o agressor, mas, para se configurar violência doméstica ou familiar, de acordo com a Lei Maria da Penha, o motivo do ataque é irrelevante. Disciplina o tema o art. 5.º da Lei 11.340/2006 (denominada Lei Maria da Penha), nos seguintes termos: “para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual” (grifamos). De acordo com uma análise do sistema legal, torna-se possível definir violência doméstica e familiar de acordo com a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) como "qualquer ato ou negligência motivados pelo gênero que resultem em morte, lesões, dor física, sexual ou psicológica, além de danos morais ou patrimoniais". Portanto, torna-se essencial avaliar se a violência ocorrida tem como base o gênero ou não. O caso da Maria da Penha, vítima de violência doméstica, foi o que impulsionou a edição da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), como parte de uma agenda estatal para a prevenção e repressão à violência doméstica e familiar contra a mulher, consistindo em um exitoso exemplo da articulação entre Estado e sociedade na promoção dos direitos da cidadania21. No parágrafo supracitado é explanado que apenas existiu a Lei Maria da Penha, por conta do excesso de mulheres falecendo de feminicídio. 21 SANTOS, de Castro ; CALHEIROS, Maria Clara da Cunha, MESSA, Ana Flávia. Violência contra a mulher. Ed única. Almedina. São Paulo. 2023. A partir de uma denúncia pública feita pela vítima, após sofrer, no contexto de uma violência reiterada, duas tentativas de homicídio por seu companheiro em 1983, sem que, 15 anos depois, ele tivesse sido devidamente responsabilizado, o Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) e o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) apresentaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, recebida em 20 de agosto de 1998. 2.2 Tipos de Violência contra a mulher A violência contra a mulher pode ser: Física, sexual, psicoló gica, moral e patrimonial. A norma atendeu à recomendação da Convenção de Belé m do Pará . Ela quebra a regra, na legislação penal brasileira, de que a lei, quando menciona somente violê ncia, sem se referir à grave ameaça, indica somente a física. Assim, para fins de adequação dos tipos realizados no â mbito domé stico ou familiar, a ex- pressão “violê ncia” abrange, alé m de outras, as duas formas, quais sejam, a física e a moral (grave ameaça). Lei n. 11.340/2006, art. 5o I – no â mbito da unidade domé stica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas, e também o Relacionamento domé stico. Concernente ao lar. Lei n. 11.340/2006, art. 5º II – no â mbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; Violê ncia familiar: A violê ncia pode també m ser cometida no â mbito familiar, consis- tente na comunidade integrada por parentes ou pessoas que assim se con- sideram, ligados por liames naturais, afinidade ou vontade expressa. Família substituta também pode estar incluída no núcleo do tipo. A maioria das pessoas não imaginam mais o feminicídio e a violência contra a mulher pode ocorrer de mulher contra mulher, ou seja em relações de Homossexualismo feminino. A família pode ser formada por um casal de lé sbicas (homossexuais femininas) que se consideram unidas por vontade expressa. Alé m disso, de ver-se que o inciso III concede relevâ ncia ao afeto na conceituação da família. 3.2 Atitudes de prevenção do Estado No ano de 2023, 1.463 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, taxa de 1,4 mulheres mortas para cada grupo de 100 mil, crescimento de 1,6% comparado ao mesmo período do ano anterior, e o maior número já registrado desde a tipificação da lei22. Conforme o Ministério da Justiça e Segurança Pública, há dois Estados empatados em segundo lugar, os estados mais violentos para mulheres foram Acre, Rondônia e Tocantins, com taxa de 2,4 mortes por 100 mil. Enquanto Acre e Tocantins tiveram crescimento de, respectivamente, 11,1% e 28,6%, Rondônia conseguiu reduzir em 20,8% a taxa de feminicídios. Na terceira posição aparece o Distrito Federal, cuja taxa foi de 2,3 por 100 mil mulheres, variação de 78,9% entre 2022 e 2023. O total de mulheres mortas por razões de gênero passou de 19 vítimas em 2022 para 34vítimas no ano passado22. Há um número crescente de estudos bem desenvolvidos que analisam a eficácia dos programas de prevenção e resposta. São necessários mais recursos para fortalecer a prevenção e a resposta à violência por parte do parceiro e à violência sexual, incluindo a prevenção primária, ou seja, impedindo que isso chegue a ocorrer. Em relação à prevenção primária, há evidências de países de alta renda que mostram a eficácia de programas escolares para prevenir a violência em relacionamentos. No entanto, estes ainda não foram avaliados para serem usados em contextos com poucos recursos. Outras estratégias de prevenção primária que têm se revelado promissoras, mas que deveriam ser avaliadas mais a fundo, são, por exemplo, as que combinam o empoderamento econômico da mulher à formação em igualdade de gênero, as que fomentam a comunicação e as relações interpessoais dentro da comunidade, as que reduzem o acesso ao álcool e seu uso nocivo e as que mudam as normas culturais em matéria de gênero23. Para propiciar uma mudança duradoura, é importante promulgar leis e formular políticas que: · Abordem a discriminação contra as mulheres; · Promovam a igualdade de gênero; · Apoiem as mulheres; · Ajudem a adotar normas culturais mais pacíficas. 22 Os dados aqui apresentados têm como fonte os boletins de ocorrência registrados pelas Polícias Civis dos estados e do Distrito Federal, e, portanto, são preliminares e podem ser alterados no curso da investigação ou quando tornarem-se processos. 23 Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e foram consultados no painel de Dados Nacionais de Segurança Pública do Sinesp em 04/03/2024, disponível no link: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiYThmMDBkNTYtOGU0Zi00MjUxLWJiMzAtZjFlMmYzYTgwO TBlIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em 19 de set de 2024. Uma resposta adequada do setor da saúde pode desempenhar um papel importante na prevenção da violência. A sensibilização e educação em saúde e de outros prestadores de serviços é, portanto, outra estratégia importante . É preciso uma resposta multisetorial para resolver plenamente as consequências da violência e as necessidades das vítimas/sobreviventes. Conforme explana Willie e Elaine Oliver: "Famílias que praticam o respeito, a empatia e o amor têm maior probabilidade de superar desafios e crises. O papel dos pais é crucial na criação de um ambiente onde o diálogo seja constante e onde cada membro da família se sinta valorizado e amado28." A Defensoria Pública do Estado de São Paulo enfatiza o papel fundamental da instituição no apoio às vítimas de violência doméstica e familiar, especialmente no âmbito legal. Exemplo de citação: "A Defensoria Pública desempenha um papel crucial na proteção das mulheres vítimas de violência doméstica" O que é o NUDEM? O NUDEM é o Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos das Mulheres e tem como principal atribuição atuar na efetivação do princípio da igualdade entre homens e mulheres e dar suporte às Defensoras e Defensores Públicos na atuação em defesa dos direitos das mulheres. Cumpre ainda ao NUDEM garantir a aplicação da Maria da Penha que prevê medidas de prevenção e repressão à violência doméstica e familiar contra a mulher e determina uma série de políticas públicas para garantir a igualdade de gênero. Há também o GEVID – Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à violência doméstica do Ministério Público Para informações sobre contato do Ministério Público acessar: www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/GEVID ou através do telefone (11) 3429- 6474/6475 4)Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher – JVD Para obter informações sobre os Juizados de Violência Doméstica e Familiar acesse: https://www.tjsp.jus.br/Comesp ou através dos telefones: (11) 2171- 4807 e (11) 3104-5521. 5) Atendimento urgente– 190 É o número de telefone da Polícia Militar que deve ser acionado em casos de necessidade imediata ou socorro rápido. 24 WILLIE; OLIVER Elaine. Esperança para a família, o caminho para um final feliz. São Paulo. 2019. 6) Central de atendimento à mulher – 180 Atendimento que funciona por 24 horas e presta acolhimento, orientações e encaminhamentos para os serviços da rede de atendimento em todo o território nacional. Leciona Nestor Sampaio Penteado Filho e Eron Veríssimo Gimenes: a política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher mais uma vez adveio através dos órgãos de segurança pública, in casu, pela Secretaria da Segurança do Estado de São Paulo, que consiste em atendimento especializado, com capacitação técnica de seus agentes e preferencialmente realizado por policiais civis femininas, com o objetivo de mitigar as consequências do crime para as vítimas de violência doméstica. Nesse passo, a Resolução SSP n. 2/2017 (publicada no DOE de 13-1-2017) instituiu o “Protocolo Único de Atendimento”, a ser observado nas ocorrências de violência doméstica e familiar contra a mulherx: O Secretário da Segurança Pública, resolve: Art. 1º Fica instituído no âmbito desta Secretaria da Segurança Pública, o “Protocolo Único de Atendimento” de ocorrências relacionadas às infrações previstas na Lei n. 11.340/2006, nos termos que seguem, sem prejuízo das normas regulamentares já existentes. Art. 2º A autoridade policial que atender ocorrência referente à Lei n. 11.340/2006 deverá, sempre que possível: I – proceder à oitiva imediata da vítima e realizar a fotografação das lesões aparentes, se houver, mediante prévia autorização; II – orientar a vítima quanto à necessidade de representação ou requerimento para instauração de inquérito policial, bem como sobre as medidas protetivas; III – encaminhar a vítima à rede de proteção local existente; IV – colher os depoimentos das testemunhas presentes, diretas ou indiretas; V – informar eventuais ocorrências criminais anteriores envolvendo o agressor; VI – requisitar perícia, especificando tratar-se de crime de violência doméstica e familiar contra a mulher, indicando o endereço eletrônico para remessa do laudo; VII – instruir o auto de prisão em flagrante ou a representação para medidas protetivas com indicações dos fatores de risco, notadamente os constantes do Anexo. § 1º Se a testemunha não estiver presente no momento da notícia do crime, a vítima será cientificada a apresentar rol testemunhal com nomes e endereços, no prazo máximo de cinco dias, o que constará do histórico do boletim de ocorrência. § 2º Os registros e diligências emergenciais deverão ser realizados independentemente de a vítima estar munida de documento de identidade, cuja apresentação poderá ocorrer posteriormente, valendo-se a autoridade policial dos meios disponíveis e imediatos para obter a identificação da ofendida. Art. 3º Caso o laudo de exame de corpo de delito não seja encaminhado à delegacia no prazo previsto no inciso II do art. 5º desta Resolução, a autoridade policial deverá requisitá-lo, valendo-se dos meios disponíveis. Art. 4º A Polícia Militar deverá: I – preservar o local do crime, observando os termos da Resolução SSP 57, de 8- 5-2015; II – verificar, quando possível, se há incidência de medida protetiva em face do agressor, adotando as providências legais cabíveis25. 25 FILHO, Nestor Sampaio Penteado; GIMENES, Eron Veríssimo. Criminologia. 14 Ed. Saraiva Jur. 2018. 4 CONCLUSÃO Concluo que o Feminicídio no Brasil é um tema polêmico, mais ao mesmo tempo delicado pois ocorre a morte da vítima mais fraca fisicamente a mulher. A violência de gênero é um fator determinante no país, sendo um papel importante na sociedade, dependendo da cultura do país ele pode ter um nível mais alto ou baixo de violência doméstica. Conforme foi pesquisado na presente mongrafia há vários tipos de violência doméstica: psicológica, física, moral, sexual, é um ciclo de violência, na qual as mulheres saem mortas. Por conta da repercussão internacional no mundo, o Brasil Foi obrigado a criar uma norma de proteção à mulher, é necessário assegurartodos os direitos humanos das mulheres. Houve a apresentação da proposta de tipificação do crime de feminicídio, que foi uma iniciativa da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência contra a Mulher. E após houve uma análise da qualificadora penal em seus aspectos mais relevantes e seus requisitos típicos. A implementação da figura do feminicídio, tem o obejtivo de buscar o equilíbrio da situação das mulheres na sociedade, nitidamente em uma sociedade desigual, é necessário igualar as desisgualdades. Portanto, a ampliação promovida pela implementação da qualificadora da figura do homicídio, tem apresentado diversos cenários de violência pautados na discriminação de gênero. O recente diploma legal não resolverá o problema de desigualdade estrutural na nossa atual sociedade, pois é uma construção histórica e cultural no Brasil, que ainda prejudica a mulher e viola os direitos femininos nos mais diversos níveis. A lei se trata de importante instrumento de defesa e proteção, que criminaliza condutas contra o bem mais precioso, a vida, O estado tem o dever de auxiliar no combate a violência de gênero, e é capaz de gerar políticas públicas no combate à violência de gênero. 1 BIBLIOGRAFIA Agravo em Recurso Especial - (AgRg no REsp n. 1.741.418/SP, Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 15-6-2018)”. Disponível em: (AgRg no REsp n. 1.741.418/SP, Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 15-6-2018)”. Acesso em: 08 ago 2024. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. 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