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ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO W B A 04 44 _v 1. 0 2 Larissa Maria Palacio dos Santos Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Henrique Salustiano Silva Juliana Caramigo Gennarini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Wilson Campanholi Júnior Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) _________________________________________________________________________________________ Santos, Larissa Maria Palacio dos S237e Ecossistema de inovação/ Larissa Maria Palacio dos Santos, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 40 p. ISBN 978-65-87806-77-8 1. Empresas 2. Incubadoras de empresas 3. Inovações tecnológicas I. Título. CDD 658 ____________________________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 6/278 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO Ambientes, Redes e Ecossistema de inovação _______________________ 05 Colaboração entre universidade, empreendedores e investidores __ 20 Incubadoras e aceleradoras _________________________________________ 34 Modelo de Maturidade de Ecossistema de Inovação ________________ 50 ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO 5 Ambientes, Redes e Ecossistema de inovação Autoria: Larissa Maria Palacio dos Santos Leitura crítica: Wilson Campanholi Júnior Objetivos • Apresentar a perspectiva de redes como abordagem de análise de empresas. • Mostrar a relação entre a abordagem de redes e a inovação. • Definir o conceito de ecossistemas de inovação. 6 1. Ambientes de inovação Para as empresas, a inovação é um aspecto fundamental que lhes garante vantagens competitivas e as impulsiona dentro de mercados altamente competitivos. Pressupõe-se que a inovação pode ocorrer de forma fechada, dentro das fronteiras da organização, ou aberta, quando o processo envolve outros elementos que são externos ao ambiente corporativo (IKENAMI; GARNICA; RINGER, 2016). A teoria sobre os processos de inovação também leva em consideração que a inserção de empresas dentro de locais altamente inovativos, ou a proximidade com outras empresas de um mesmo segmento, pode ser um fator que influencia positivamente sua capacidade de inovar. Com isso, estamos admitindo a influência do ambiente como mola propulsora da inovação (IKENAMI; GARNICA; RINGER, 2016). Esses ambientes são compostos por grupos de empresas que estabelecem uma relação denominada de coopetição, a qual caracteriza- se pela colaboração entre elementos que podem ser concorrentes. Acredita-se que esse tipo de união entre os elementos seja capaz de reduzir os riscos de fracasso, acelerar a inovação e gerar vantagens competitivas para todos os envolvidos (IKENAMI; GARNICA; RINGER, 2016). Diante de diversas evidências acerca do sucesso desse tipo de relacionamento, emergiram no Brasil leis de fomento à inovação, por intermédio de incentivos à colaboração entre diferentes atores, tais como a Lei de inovação, Lei n. 10.973/2004 (BRASIL, 2004), e a Lei do Bem, Lei n. 11.196/2005 (BRASIL, 2005), que criou incentivos fiscais às pessoas jurídicas relacionadas à pesquisa e ao desenvolvimento de inovação tecnológica (IKENAMI; GARNICA; RINGER, 2016). Nesse sentido, é fundamental compreender a dinâmica desses ambientes de inovação, tanto para beneficiar empresas envolvidas 7 quanto, em nível macro, para utilizá-los como forma de desenvolvimento econômico e territorial com a formulação de políticas públicas e com a utilização de articuladores nesses processos. São esses, portanto, os primeiros interessados quando tratamos de ambientes de inovação de maneira genérica. Todavia, tais estudos podem fomentar planejamentos estratégicos empresariais (IKENAMI; GARNICA; RINGER, 2016). Esses ambientes de inovação podem ser estudados sob a perspectiva de redes, bem como sob a perspectiva teórica de ecossistemas de inovação, a qual permite compreender a sua dinamicidade. Vamos agora conhecer um pouco sobre cada uma dessas formas de abordagem do tema. (IKENAMI; GARNICA; RINGER, 2016) 2. Abordagem de redes Diante das mudanças impostas na sociedade com o avanço das tecnologias, diversas transformações ocorreram no campo dos negócios, tornando os processos muito mais complexos à medida em que consumidores, empresas e outros elementos que compõem a cadeia de suprimentos estão em pontos geograficamente distintos. Diversos estudiosos, de diferentes campos do conhecimento, têm estudado as relações entre as empresas, estando ou não atreladas ao fator território. Esses estudos são, quase sempre, embasados na perspectiva de redes que, enquanto categoria de análise, tem caráter multidisciplinar e, quase sempre, parte da premissa da cooperação (BRITTO, 2013). Inúmeros fatores contribuíram para a mudança da perspectiva de análise das empresas, e a primeira delas foi o fato de o modelo japonês de produção, o sistema de produção enxuta, Lean Manufacturing, ter influenciado as empresas a trabalharem com baixos níveis de estoques, diminuindo os desperdícios. Cientes dos benefícios de atuação no sistema enxuto, as empresas começaram a compreender a necessidade 8 de atuar de forma mais conectada com fornecedores e de compreender as cadeias de suprimentos como um todo para que conseguissem se tornar mais competitivas. Como consequência, há uma ruptura com a categoria de análise a nível micro, que considerava apenas o ambiente interno à organização, passando-se a considerar que a empresa está inserida em um meio com o qual ela interage, influenciando e sendo influenciada (BRITTO, 2013). Outros fatores podem ser mencionados como motivadores da análise sob a perspectiva de redes, tais como: o conceito de especialização flexível, que influenciou as empresas a comporem sistemas produtivos; o surgimento das tecnologias da informação, que permitiram essa integração entre as empresas e facilitaram a descentralização territorial; e as mudanças na política industrial, que passaram a privilegiar o apoio de redes em detrimento ao apoio a empresas isoladas (BRITTO, 2013). Sob essa perspectiva, é possível estudar as alianças estratégicas entre empresas; as diversas formas de cooperação produtiva e tecnológica; o fenômeno da terceirização e da subcontratação; os distritos industriais e outras formas aglomeração territorial de empresas em determinadas regiões; os programas de cooperação voltados à inovação; e os sistemas nacionais e regionais de inovação, os quais são compostos por agentes de empresas, universidades e outras instituições (BRITTO, 2013). Esse tipo de análise considera a configuração de todos os vínculos entre os pontos queformam a rede, sejam eles presentes ou ausentes. Na estrutura de redes, considera-se a existência dos seguintes elementos: nós (empresas ou atividades); posições (estrutura de divisão dos trabalhos); ligações (aspectos qualitativos das relações entre empresas); e fluxos (de bens tangíveis e intangíveis) (BRITTO, 2013). Há ainda que se considerar o posicionamento dos elementos na rede, sendo possível, a partir da análise das ligações entre os nós, também determinar se uma rede é dispersa ou densa. A densidade da rede diz respeito ao número de ligações que ocorrem entre os elementos. Outra 9 análise realizada é o grau de centralidade da rede, ou seja, o número de associações a um determinado ponto; por outro lado, considera-se ainda a quantidade de pontos entre dois pontos interligados (BRITTO, 2013). Para caracterizar as redes, deve-se detalhar os relacionamentos entre as organizações e os relacionamentos produtivos e tecnológicos, levando em consideração sua forma e seu conteúdo. Podemos ainda interpretar as redes sob a ótica dos relacionamentos internos, levando em consideração diferentes graus de complexidade. As redes podem ser restritas ao plano mercadológico, sem que haja integração, ou compostas por elementos que integram etapas da cadeia produtiva, exigindo um grau de compatibilidade com relação aos procedimentos e às tecnologias empregadas. Por fim, o terceiro tipo de ligação promove o compartilhamento e a difusão dos conhecimentos entre os elementos, exigindo, para tanto, certa integração para que ajam de forma coordenada. É nesse terceiro tipo que residem as redes de inovações (BRITTO, 2013). É claro que as redes são elementos que estão em constante transformação, desconhecendo, por vezes, a estrutura como um todo. Ainda assim, tal abordagem é bastante útil (BRITTO, 2013). Nesse ponto, podemos articular o conceito de Sistemas Adaptativos Complexos, valendo vale buscar mais sobre o assunto. Embora as redes tenham três tipos de dimensões, aqui exploraremos a dimensão que Britto (2013) chamou de dimensão de cooperação tecnológica em redes de empresas, a qual envolve fomentar a inovação entre os membros. Como nessas redes há uma difusão de informação e conhecimento, cria-se uma atmosfera de aprendizagem coletiva que, por consequência, dá margem à ampliação do potencial de inovação. Nesse sentido, destacam-se quatro tipos de aprendizados coletivos: 10 1. Criação de conhecimentos e tecnologias desenvolvidas de forma cooperativa: envolve a realização de um projeto particular, no qual diferentes elementos interagem, contribuindo com suas competências complementares. Nesses casos, são realizadas conjuntamente atividades de pesquisa e desenvolvimento, e o trabalho é sistematicamente organizado. 2. Circulação informal de conhecimentos na intrarrede: como o próprio nome já diz, esse tipo não é obrigatoriamente envolvido com pesquisa e desenvolvimento. Para tal análise, considera- se a descrição dos sistemas de informação disponíveis entre os membros da rede, a forma de circulação de conhecimento codificado e, por fim, a avaliação dos instrumentos utilizados para a conversão de conhecimentos tácitos. 3. Incremento coordenado de competências dos agentes: esforços empregados no sentido de qualificar recursos humanos, desenvolvendo competências técnicas e a disseminação de padrões tecnológicos. 4. Profusão e difusão de novas tecnologias: parte da premissa de que há uma maior difusão de tecnologias entre agentes que se inter-relacionam de forma sistemática. De maneira geral, é possível afirmar que os processos de cooperação do ponto de vista tecnológico se dividem em dois grupos de especificidades, conforme ilustra a Figura 1 a seguir: 11 Figura 1 – Processos de cooperação do ponto de vista tecnológico Fonte: elaborada pela autora. Em outras palavras, pode-se dizer que a capacidade de absorção e identificação de informações importantes está atrelada ao grau de socialização de conhecimentos que ocorre no intrarrede. Já o aspecto do incremento da capacidade inovativa se dá pela junção de competências de diferentes membros, quando estes operam em projetos conjuntos. De toda forma, há que se mencionar as vantagens oriundas desse tipo de integração e a sua importância para mercados competitivos (BRITTO, 2013). Há diversos tipos de redes descritos por autores diversos, entre eles destaca-se o conceito de distritos industriais, que tem como origem os desdobramentos dos estudos de Alfred Marshall, o qual apregoava as vantagens obtidas da aglomeração espacial de empresas de um mesmo ramo, ou cujas atividades são complementares. Aliam-se às empresas instituições que colaborem com esses processos (BRITTO, 2013). 12 Essas empresas interagem entre si de maneira, ao mesmo tempo, horizontalizada e verticalizada. Como elementos, destacamos as empresas que, embora desempenhem funções similares, dependem umas das outras, como agentes produtores de conhecimento, instituições pontes e consumidores (BRITTO, 2013) Há inúmeras vantagens para as empresas que pertencem a aglomerados industriais: atratividade de público consumidor, possibilidade de ganhos de escala e difusão do conhecimento. Por vezes, as empresas que compõem esses aglomerados são de pequeno e médio porte e, ao mesmo tempo, cooperam e competem entre si. No entanto, sozinhas não conseguiriam competir no mercado global. Assim, quando atuam de forma conjunta, essas empresas alavancam sua capacidade competitiva (BRITTO, 2013). Em setores de tecnologia, esses distritos industriais são denominados de Parques Tecnológicos, os quais, normalmente, localizam-se em áreas próximas a Universidades e instituições de pesquisa. Nesse caso, a aglomeração é capaz de absorver a mão de obra altamente especializada e explorar as potencialidades dos avanços científicos gerados. Não raras vezes, desses ambientes emergem as incubadoras de empresas. Um exemplo clássico de parque tecnológico é o Vale do Silício na Califórnia (BRITTO, 2013). A intensidade dos esforços inovativos realizados no interior dessas redes varia em função do grau de sofisticação tecnológica dos produtos gerados. No caso de produtos pouco sofisticados, os esforços inovativos assumem um caráter não sistemático, envolvendo inovações incrementais baseadas em mecanismos de aprendizado que emergem como subproduto das práticas produtivas adotadas. Os próprios esforços inovativos de caráter formal – consubstanciados em gastos de P&D – adquirem especificidades nesse tipo de rede. Geralmente, esses esforços estão baseados numa centralização das atividades de design em determinadas empresas – montadoras, fornecedores especializados ou agentes distribuidores – envolvendo melhorias incrementais nos produtos gerados e variações dos 13 componentes que devem ser atendidas pelos fornecedores. (BRITTO, 2013, p. 228) As redes tecnológicas, por sua vez, visam objetivamente à exploração de oportunidades no campo de tecnologia, e, para tanto, articulam elementos no intuito de desenvolver uma inovação mercadológica, ou, ainda, a sua difusão. Essa integração ocorre de maneira planejada e ordenada, podendo ser promovida por agências governamentais, por exemplo. Não necessariamente essa rede necessita estar geograficamente concentrada (BRITTO, 2013). Nesse tipo de aglomerado empresarial, temos dois tipos de estruturas para que o processo inovativo seja interpretado do ponto de vista sistêmico. Assim, as redes podem ser representadas pelos vínculos entre agentes responsáveis pelos atores responsáveis por pesquisa e desenvolvimento e aqueles que estão relacionados às atividades de aplicação das tecnologias geradas, ou, ainda, podem ser caracterizadas pela por divisão do trabalho, considerando os estágios do ciclo de pesquisa e desenvolvimento. Quando atuam de forma conjunta, potencializam suas capacidades ao compartilharem competências e, consequentemente, aceleram o processo de desenvolvimento deinovações e tecnologias (BRITTO, 2013). No que tange à capacidade que as redes têm de processar informações, destacam-se três características principais (BRITTO, 2013): 1. Identificação de oportunidades de investimento: consiste na identificação de informações que possam representar uma oportunidade de mercado. 2. Mecanismos próprios de codificação de conhecimento: as redes começam a compor uma linguagem ou meios de comunicação. 3. Possibilidade de integração de conhecimento: os conhecimentos são somados à medida que são compartilhados entre as redes. 14 3. Ecossistemas de inovação O termo ecossistema originalmente foi aplicado ao contexto das ciências biológicas; no entanto, hoje é utilizado com uma ampla gama de sentidos e aplicações. Considera-se que o trabalho de Moore, denominado Ecossistema de Negócios, como o ponto de partida do qual emergiu tal abordagem teórica, sendo o difusor dos estudos de relações complexas nas quais os usuários cooperam e concorrem entre si (AUTIO; THOMAS, 2014). Do ponto de vista biológico, é considerado como um sistema composto pelos seres vivos, pelo local de habitat e por todas as relações estabelecidas entre eles e com o meio. Tudo deve funcionar em perfeita harmonia e qualquer desequilíbrio com algum de seus elementos afeta o todo (JACKSON, 2011). Para a administração, esse conceito pode ser interpretado como a rede de organizações e outros atores que estão interconectados ou de empresas que estão envolvidas com um ponto central da rede. Nessa abordagem, no entanto, as empresas incorporam seus processos e têm como foco central o desenvolvimento de inovações, diferenciando-se das demais abordagens de redes. Outro aspecto que diferencia essa abordagem das demais pertencentes ao mesmo arcabouço teórico é o fato de envolver tanto o lado da produção quanto o lado do usuário, de maneira concomitante. Além disso, esse termo remete à consideração do sistema como um todo, o que pressupõe considerar o caráter difuso da rede (AUTIO; THOMAS, 2014). Há que se considerar ainda que a bibliografia da área aponta para outras definições, que variam de acordo com o seu contexto de aplicação. No campo da administração, considera-se que a abordagem de ecossistemas é mais ampla, já que ela leva em consideração os impactos dos diferentes elementos envolvidos nos processos de 15 inovação, como comunidade, instituições regulamentadoras, política, universidades, sistema judiciário, pesquisa, educação e empresas (AUTIO; THOMAS, 2014). Outro avanço está no fato de os ecossistemas de inovação serem dinâmicos ao envolver usuários e participantes em processos de cocriação, desenvolvendo, de forma conjunta, suas competências no sentido de gerar valor. Considerando a mudança de perspectiva que coloca o consumidor sempre no centro de todos os processos, focando em sua satisfação, esses sistemas são capazes de, de forma orientada, criar produtos e desenvolver soluções. Além disso, a cocriação permite obter feedbacks ou insights que retroalimentam o processo de inovação a partir das impressões de diferentes usuários ou membros envolvidos (AUTIO; THOMAS, 2014). Entre os elementos, podemos considerar como sendo atores todos os recursos envolvidos, sejam eles equipamentos, recursos financeiros ou capital social que representam as entidades e instituições, além de agências de financiamento, formuladores de políticas públicas e outros (JACKSON, 2011). A premissa principal é a de que a união faz a força, pois, em ecossistemas de inovação, compreende-se que a conjunção dessas competências potencializa as capacidades inovativas. Além disso, nesses sistemas estão inclusos elementos que se diferenciam daqueles que ficam restritos à cadeia de suprimentos. Para que haja inovação, é preciso que haja abertura dentro da rede, ou seja, que ela esteja aberta a aceitar elementos externos, o que implica a dificuldade de delimitar os limites dessa modalidade de rede. Porém, apesar das dificuldades de delimitação, o que se sabe é que os ecossistemas tendem a ser mais amplos e abrangentes do que as cadeias de valor (AUTIO; THOMAS, 2014). 16 Assim como os ecossistemas naturais, os ecossistemas inovativos se caracterizam por sua capacidade de adaptação e evolução. Quando tratamos de inovação, precisamos ter ideias criativas que gerem algum ganho competitivo, Nesses ecossistemas é fundamental, a partir do desenvolvimento conjunto de inovações, promover a redução de custos, adequar-se de forma antecipada às mudanças impostas pelo mercado e pelas novas tecnologias e, quiçá, criar nichos de mercado específicos (AUTIO; THOMAS, 2014). É devido a essa capacidade de criar mercado e de melhorar a eficiência dos processos produtivos que o investimento e a gestão dos ecossistemas de inovação assumem relevante importância para o desenvolvimento econômico e territorial. O próprio conceito de economia, preconizado por Schumpeter, prevê a perspectiva de geração de ganhos econômicos. As indústrias são uma fonte potencial de geração de empregos e de riqueza, e, quando ligadas à tecnologia, têm um alto grau de perspectiva de crescimento, derivando disso o interesse das entidades governamentais em fomentar esse tipo de ecossistema e investir em pesquisa tecnológica (JACKSON, 2011). Como em todo sistema complexo, temos diversidade de membros, o que significa que há diferentes poderes, capacidades e níveis de dificuldades para cada um deles no desenvolvimento de seus papéis. Para tentar equalizar esforços, normalmente conta-se com uma governança ou, ainda, com uma empresa central (hub firm) – conforme Figura 2 –, que visa controlar a arquitetura tecnológica, o que pode ser exercido com base em uma plataforma compartilhada, embora não seja um fator determinante ao seu sucesso ou a sua existência (AUTIO; THOMAS, 2014). 17 Figura 2 – Rede de hub Fonte: Serhii Brovko/iStock.com. Esses elementos regulamentadores não são obrigatórios nos ecossistemas de inovação; no entanto, ajudam a estabilizar o ecossistema e a melhorar seus resultados. Também não necessariamente existe um único elemento central, pode ser um grupo deles, ou, ainda, pode haver um consórcio ou a presença de uma organização sem fins lucrativos. Há que se destacar ainda que quando existentes, essas empresas centrais destacam esse papel de forma espontânea (AUTIO; THOMAS, 2014). É importante salientar que esses hubs não são líderes dentro do ecossistema, sendo sua conotação muito mais de atrator do que de trazer novos elementos para o ecossistema (IKENAMI; GARNICA; RINGER, 2016). 18 Outros aspectos, como o comportamento dos elementos do ecossistema e o grau de confiabilidade entre os membros, podem ser fundamentais para o desenvolvimento de inovações nesses sistemas. Em outras palavras, o que gera a inovação são a transparência e o grau de compartilhamento entre os diferentes elementos e elos. A profusão de conhecimentos tem um enorme impacto nesse sentido, e os mecanismos informais para que eles ocorram também têm impacto relevante; no entanto, os mecanismos formais garantem que seja mantido o foco (AUTIO; THOMAS, 2014). Por fim, destaca-se ainda o fator de concentração territorial, considerando que essas empresas estão localizadas em pontos geograficamente próximos. Isso nos remete aos ambientes de inovação, uma vez que estamos falando de concentração física, o que nos leva novamente, a título de exemplo, ao Vale do Silício. Em suma, existem inúmeras semelhanças entre a abordagem de redes e a abordagem de ecossistema de inovação, pois ambas partem da premissa da existência de conexões entre diferentes atores, os quais formam uma rede. Além disso, ambas admitem a dinamicidade desses arranjos. No entanto, a abordagem de ecossistema é capaz de trazer uma delimitação de fronteiras para a abordagem de redes na medida em que que adota parâmetros para direcionar a análise, como uma empresa, uma plataforma de tecnologia ou um setor do mercado.Também há uma marcante diferença com relação à finalidade das análises, pois, enquanto a rede preocupa-se com as mudanças e os possíveis movimentos futuros dos atores, a abordagem de ecossistema tem como principal objetivo definir processos, caracterizar funções de cada um dos atores e compreender qual sua importância em seu contexto. (IKENAMI; GARNICA; RINGER, 2016). 19 Referências Bibliográficas AUTIO, E.; THOMAS, L. Innovation ecosystems. The Oxford handbook of innovation management. Oxford, UK: Oxford University Press, 2014. p. 204-288. BRASIL. Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2004]. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm. Acesso em: 7 out. 2020. BRASIL. Lei n. 11.196, de 21 de novembro de 2005. Institui o Regime Especial de Tributação para a Plataforma de Exportação de Serviços de Tecnologia da Informação – REPE [...]. Brasília, DF: Presidência da República, [2005]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11196.htm. Acesso em: 7 out. 2020. BRITTO, J. Cooperação Interindustrial e Redes de Empresas. In: KUPFER, D.; HASENCLEVER, L. Economia industrial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p. 168-230. IKENAMI, R. K.; GARNICA, L. A.; RINGER, N. J. Ecossistemas de inovação: abordagem analítica da perspectiva empresarial para formulação de estratégias de interação. Revista de Administração, Contabilidade e Economia da Fundace, [s.l.], v. 7, n. 1, 2016. Disponível em: https://www.fundace.org.br/revistaracef/index.php/racef/ article/view/232/pdf_13. Acesso em: 21 jul. 2020. JACKSON, Deborah J. What is an innovation ecosystem. National Science Foundation, [s.l.], v. 1, n. 2, 2011. Disponível em: https://erc-assoc.org/sites/default/ files/topics/policy_studies/DJackson_Innovation%20Ecosystem_03-15-11.pdf. Acesso em: 7 out. 2020. KOSLOSKY, M. A. N.; DE MOURA SPERONI, R.; GAUTHIER, O. Ecossistema de inovação: uma revisão sistemática de literatura. Revista Espacios, v. 36, n. 3, 2015. Disponível em: https://www.revistaespacios.com/a15v36n03/15360313.html. Acesso em: 7 out. 2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11196.htm https://www.fundace.org.br/revistaracef/index.php/racef/article/view/232/pdf_13 https://www.fundace.org.br/revistaracef/index.php/racef/article/view/232/pdf_13 https://erc-assoc.org/sites/default/files/topics/policy_studies/DJackson_Innovation%20Ecosystem_03-15-11.pdf https://erc-assoc.org/sites/default/files/topics/policy_studies/DJackson_Innovation%20Ecosystem_03-15-11.pdf https://www.revistaespacios.com/a15v36n03/15360313.html 20 Colaboração entre universidade, empreendedores e investidores Autoria: Larissa Maria Palacio dos Santos Leitura crítica: Wilson Campanholi Júnior Objetivos • Entender a importância do relacionamento entre Universidades e Empresas para o desenvolvimento de inovações. • Compreender as formas de relacionamento entre Universidade, governo e empresa e sua importância para o desenvolvimento regional. • Compreender o modelo tríplice hélice. • Aprender sobre os investimentos em inovação e a importância destes para o fomento à inovação. 21 1. Universidade, governo e empresa Os ecossistemas de inovação são compostos por uma rede de atores que interagem entre si, mas, além das empresas, contam com outros elementos que auxiliam na geração da inovação, trabalhando de forma cooperativa. Nesse contexto, destacamos o papel das universidades, do governo e dos investidores. 1.1 Relação entre Universidade, empresas e governo Dentro dos ecossistemas de inovação, o papel das universidades é apoiar os demais atores, auxiliando-os no desenvolvimento ou aprimoramento de novos produtos e tecnologias. Os estudos acerca da importância da Universidade dentro dos ecossistemas de inovação na América Latina têm como ponto de partida um artigo publicado em 1968, por Jorge Sabato e Natalio Botana. O artigo destacava a contribuição dos investimentos e das ações em pesquisa científica e tecnológica como promotores do desenvolvimento da região (REIS, 2008). Outros estudos, publicados pelos mesmos autores, reforçaram a importância da Universidade dentro desses ecossistemas, incluindo ainda um outro elemento importante, o governo. Nesse sentido, os autores propuseram que os três elementos fossem estudados de forma conjunta, bem como a inter-relação entre cada um deles. De acordo com a teoria, há que se levar em consideração ainda que, além desses elementos, devem ser consideradas as relações do agrupamento com a sociedade e de cada um deles, individualmente, com a sociedade. Concluiu-se, então, que não bastam apenas os investimentos governamentais, mas que é fundamental o relacionamento empresa- universidade, para que se colham os frutos dessas relações cooperativas (REIS, 2008). 22 No que tange ao ponto de vista da universidade, há uma série de dilemas que envolvem os objetivos centrais da pesquisa e a neutralidade da ciência, com ela atendendo no caso desses relacionamentos a interesses de mercado. Fato é que, embora o tema seja polêmico, não se negam as contribuições que a universidade traz para a inovação e para o desenvolvimento, vide exemplos que podemos identificar em todo o mundo. Nessa discussão, há também que se resguardar que a Universidade, ao atuar nesse sentido, está dando para a sociedade o retorno daquilo que foi investido nela (REIS, 2008). A relação entre empresas e universidades não data da atualidade, ela teve início nos primórdios do século XX, quando cientistas começaram a desenvolver inovações, aproximando a relação entre ciência e tecnologia. O interesse em fomentar esse tipo de pesquisa, com vistas aos resultados alcançados, obviamente ampliou-se (REIS, 2008). Para melhor compreensão, podemos dizer que a aproximação entre empresa e universidade teve duas fases distintas. Em um primeiro momento, as empresas realizavam internamente pesquisa e desenvolvimento, com áreas específicas. No entanto, com o passar dos tempos, percebeu-se que os custos envolvidos para manter esse tipo de área eram elevados, impactando os resultados financeiros. Além disso, há que se considerar o tempo levado para o desenvolvimento dessas pesquisas. Neste sentido, ficaria mais fácil manter essa etapa do processo dentro do ambiente universitário, fomentado por instituições governamentais e outras instituições filantrópicas (REIS, 2008). O governo passou a atuar como um regulador entre esses dois elementos (empresa-universidade), e as discussões acerca do desvio de função da universidade, perda de essência, neutralidade, reputação e outras se acaloraram e são polêmicas até os dias atuais. Há quem defenda que pode haver instituições que se dediquem a um e a outro tipo de ciência; por outro lado, as Universidades, estrategicamente, podem fragmentar-se para desenvolver pesquisas com as duas 23 finalidades. O fundamental é que a integridade das instituições de ensino e pesquisa seja mantida, validando a necessidade de investimento governamental (REIS, 2008). Embora tenha existido uma inegável pressão externa, por parte das empresas e do governo, para que as Universidades passassem a cooperar, houve também uma mudança de paradigma interno, advindo dos próprios pesquisadores, que acreditavam na valorização de suas atividades (REIS, 2008). A Universidade incorporou em seu escopo uma missão além das suas tradicionais de ensino e pesquisa, o fator do protagonismo no desenvolvimento socioeconômico (AUDY, 2017). Essa mudança no papel da universidade para com a sociedade é também conhecida como sendo a Segunda Revolução Acadêmica, que a colocou em um papel de empreendedora, porintermédio de grupos de pesquisa voltados a essa finalidade. Isso tudo foi motivado pela percepção da inovação baseada na difusão de conhecimentos (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). Assim, diante da inegável contribuição da ciência, incorporou-se aos antigos distritos industriais o fator Universidade como difusor de conhecimento, dando origem a uma nova estrutura de fomento ao empreendedorismo. Surgiram ainda as incubadoras e aceleradoras e os espaços de coworking. Outros ambientes de inovação sofreram modificações, e, nesse sentido, tornou-se salutar pensar em como a Universidade deve se relacionar com os diferentes atores e suas formas de estruturas internas, agora contando com núcleos de inovações tecnológicas (NIT), Escritórios de Transferência de Tecnologia (ETT) e Institutos de Pesquisa aplicada, por exemplo (AUDY, 2017). Pensando do ponto de vista das motivações que levam a essas relações, podemos mencionar algumas razões principais: acesso às fronteiras científicas; ampliação da capacidade de previsão da ciência; delegação de atividades de pesquisa com vistas à redução de custos; e a escassez 24 de recursos (AUDY, 2017). Sobre a primeira motivação, podemos compreender a apropriação, por parte das empresas, do conhecimento científico para desenvolver tecnologias. O segmento de tecnologia é altamente competitivo e as tecnologias tornam-se obsoletas com muita rapidez, ou seja, as empresas precisam inovar de forma incremental em curto prazo (REIS, 2008). A segunda motivação é a capacidade de previsibilidade que a ciência tem sobre determinados temas, possibilitando direcionar investimentos em testes mais certeiros. A terceira motivação refere-se a transferir para instituições de pesquisa determinadas fases do processo de desenvolvimento, como os testes e as validações (REIS, 2008). Por fim, mas não menos importante, temos a motivação da falta de recursos, pois, por vezes, as empresas não têm dentro de suas fronteiras equipamentos para a realização de testes ou mesmo conhecimento específico para tal (falta de capital intelectual). Na prática, empresas com menos recursos tendem a interagir menos com universidades, embora a interação seja fundamental para elas. Assim, essas empresas temem a falta de contrapartida para oferecer nesse relacionamento (REIS, 2008). 1.2 Hélice tríplice No cenário internacional, com os ambientes de inovação compostos pela cooperação entre empresas, universidades e governo, temos a famosa teoria da hélice tríplice, elaborada por Henry Etzowitz. Esses ambientes, de acordo com a teoria, condizem com que prega a economia do conhecimento –, que vigora na atualidade (AUDY, 2017). A origem da teoria da hélice tríplice (Figura 1) remonta ao sistema da Rota 128 de Boston, e hoje é considerada um guia para a implementação de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento local e regional. Essa teoria coloca a Universidade em um papel equivalente aos 25 governamentais e industriais na promoção do desenvolvimento (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). Figura 1 – Universidade-governo-empresa Fonte: adaptada de Etzkowitz e Chunyan (2017, p. 40). A primeira menção ao modelo da Hélice Tríplice se deu na década de 1920, com o intuito de desenvolver a economia da Nova Inglaterra, por iniciativa do governo local junto com um líder acadêmico do MIT (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). A ligação entre esses três elementos é bastante interessante na medida em que adiciona um mediador, amenizando possíveis desequilíbrios e dualidades que poderiam ocorrer em relações entre apenas dois elementos. Assim, é formada a teoria da Hélice Tríplice, conhecida por ser o grande segredo por trás do Vale do Silício, podendo ser definida como [...] um modelo de inovação em que a unidade/academia, a indústria e o governo, como esferas instituições primárias, interagem para promover 26 o desenvolvimento por meio da inovação e do empreendedorismo. (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017, p. 24) Da interação entre esses diferentes elementos, emergem as organizações híbridas, ilustradas na Figura 1. Nesse contexto, Etzkowitz e Zhou (2017) reafirmam que a universidade está passando por uma transformação e entrando em uma nova era, a qual os autores chamam de era da universidade empreendedora. O modelo não é estático, pelo contrário, ele prevê a dinamicidade das relações entre os atores, com foco na criação de inovação e empreendedorismo. A principal diferença desse modelo é o fato de elencar um elemento como líder da inovação, ou seja, é esse elemento previamente determinado que inicia o processo de inovação e reúne diferentes atores em um projeto único. A ideia pode ser aplicada em diferentes contextos e localidades e é por isso que se tornou um modelo universalmente conhecido e elogiado para a inovação (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). Historicamente, houve inúmeras tentativas de aproximação entre universidade e empresa como forma de fomento ao empreendedorismo e à inovação, a exemplo do caso da construção das primeiras incubadoras de empresas brasileiras, após o fim do regime militar, como forma de posicionamento de oposição por parte de acadêmicos. Outro exemplo foi o projeto Manhattan para a construção da bomba atômica. Nesses momentos históricos, o governo era interpretado como oposição (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). A Hélice Tríplice coloca o governo em um novo patamar dentro desses relacionamentos, atribuindo-lhe o papel de moderador e/ou aliado potencial. Por isso, três palavras-chaves – conhecimento, consenso e inovação – diferenciam a Hélice Tríplice das cooperações que ocorriam no passado (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). 27 Nesse novo contexto, a Universidade fomenta o empreendedorismo na medida em que compreende que o conhecimento é um capital que pode e deve ser utilizado para fins de promoção do desenvolvimento regional e social. Tudo isso corrobora com o formato de trabalho colaborativo, no qual baseia-se a sociedade da informação, ou do conhecimento. As ações são planejadas e discutidas por diferentes atores envolvidos no processo, o que aumenta as chances de serem efetivas, criando uma atmosfera propícia à inovação (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). A partir dessa equalização entre os papéis e a importância dos diferentes atores, emergem as estruturas mencionadas anteriormente, as quais chamamos de estruturas híbridas (incubadoras, parques tecnológicos e firmas de capital de risco) (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). Atribui-se à universidade empreendedora a capacidade de desenvolver inovações na medida em que há um fluxo intenso de capital intelectual humano, isto é, o ambiente é composto por grupos de estudantes e professores que interagem entre si, trocando informações e desenvolvendo pesquisa ativamente. Além disso, a cada ano, novas turmas são formadas, o que injeta um “sangue novo”, com novas ideias, cheias de vontades, sonhos e expertises diferenciadas (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). Em suma, a combinação desses diferentes elementos interagindo entre si e suas diversas recombinação é que dão origem a novas fontes de inovação. Essas recombinações decorrentes da entrada e saída de elementos do ambiente de inovação é capaz de promover inovações mais radicais (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). 1.3 Investidores Agora que já sabemos que a cooperação entre os elementos é capaz de promover a inovação, devemos pensar de onde vem o recurso para que as ideias e os projetos sejam implementados. Nesse sentido, vale 28 ressaltar que, quando as empresas atuam de forma isolada, grande parte dos capitais iniciais, ou seja, voltados à abertura de negócios, é de fonte do próprio empreendedor (BESSANT; TIDD, 2009). Os investimentos podem também ser realizados por investidores de capital de risco, ou seja, pessoas que têm ampla experiência na área de gestão e recursos para investir e que estão dispostas a fazer investimentos mais ousados. Isso ocorre, principalmente, em razão da maior possibilidade de retorno que esse tipo de investimento traz. Quando comparado ao mercadode ações tradicionais, investir de maneira correta, analisando uma série de variáveis das empresas de base tecnológica, pode representar maiores ganhos. Por outro lado, caso o investimento seja realizado em um empreendimento que apresente futuramente um mau desempenho, o valor perdido será proporcionalmente maior (BESSANT; TIDD, 2009). A ideia da firma de capital de risco foi inventada na década de 1930 nos Estados Unidos mediante discussões entre atores da universidade, da indústria e do governo, que focaram a necessidade de criar uma entidade que oferecesse capital-semente e assessoria empresarial a possíveis empreendedores científicos. (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017, p. 32) No cenário internacional, esse tipo de investimento surgiu da necessidade das empresas não listadas pela bolsa de valores e que também não conseguiam o acesso a outras formas de capitalização. Existem duas modalidades para a realização de investimentos em mercado de capital de risco: participação direta ou fundos de investimentos, os quais podem ainda se subdividir em proprietários ou mútuos (SILVA; BIAGINI, 2015). É importante salientar que os investimentos podem ocorrer em diferentes fases do processo de negócio. Em outras palavras, podem ocorrer não só no momento de sua abertura, mas com o intuito de desenvolvimento e crescimento, para consolidação e crescimento, e 29 na fase de maturidade ou saída (BESSANT; TIDD, 2009: SILVA; BIAGINI, 2015). Antes da abertura do negócio, é incomum o investimento externo em razão do grande risco representado pelo negócio, já que nessa fase ainda não é possível predizer como o mercado irá encará-lo ou aceitá- lo. É por isso que, nesse momento, conta-se com as economias que o empreendedor poupou ao longo da vida, ou com o apoio financeiro de pessoas que tenham proximidade e vínculos e que confiem em fazê-lo (BESSANT; TIDD, 2009). Outra possibilidade é o capital semente, ou seja, o capital dedicado àqueles que estão em processo de abertura. Essa modalidade direciona- se a empresas pequenas, inovadoras e que, normalmente, estão ligadas a incubadoras e parques tecnológicos (SILVA; BIAGINI, 2015). Assim, os investimentos em capital de risco ocorrem comumente nos estágios de maior maturidade do negócio, já que, nessa etapa, existem dados e histórico acerca do desempenho da empresa. Além disso, um plano de negócios sólido e bem construído pode facilitar o acesso a esse tipo de recurso. É claro que, em contrapartida, os investidores almejam ações da empresa ou até mesmo interferências no processo de gestão (BESSANT; TIDD, 2009). Considerando que a atividade inovadora realizada pelas empresas de base tecnológica tem, em razão de sua natureza, alto grau de incertezas, o investidor considera uma série de critérios a serem avaliados para a decisão acerca do investimento, os quais, respectivamente são: pontos positivos e a personalidade dos fundadores da organização; o plano de negócios; o produto, em seus aspectos técnicos; e valor comercial. Esses investidores de risco assumem dois modos de conduta, conforme ilustra a Figura 2 a seguir: 30 Figura 2 – Papéis dos investidores de risco Fonte: elaborada pela autora. Conforme mostra a ilustração, o investidor de risco pode avaliar as características e o desempenho do negócio e, a partir daí, optar por investir em tipos de negócios distintos. No primeiro caso, acompanhar vencedores trata-se da opção de identificação de negócios que já vão bem e apresentam um bom desempenho, decidindo, a partir disso, investir e entrar na onda de seu desempenho. No segundo caso, o investidor identifica as potencialidades de um negócio, mas percebe que são necessários alguns ajustes ou melhorias de processos, produtos ou condutas para que deslanche; dessa forma, assume um papel de consultor ou coach do negócio (BESSANT; TIDD, 2009). Nesse sentido, partindo da premissa de que a inovação emerge da colaboração entre diferentes instituições, o governo também pode se enquadrar como um investidor de risco, na medida em que estimula 31 o empreendedorismo e financia novas empresas de base tecnológica (BESSANT; TIDD, 2009). Assim, podemos interpretar o capital de risco como um parceiro que pode ser um desdobramento de uma determinada corporação, do governo, de uma universidade ou de uma fundação. Como dito, a busca pelo fomento pode ocorrer tanto de maneira individualizada, por cada empreendedor, quanto por um grupo de empreendedores que buscam apoio de forma simultânea (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017). No cenário de fomento ao empreendedorismo, considerando o impacto social das universidades para esse tipo de atividade, emerge uma nova forma de capital empreendedor (venture capital e private equity) voltado ao desenvolvimento das empresas de base tecnológicas. O venture capital pode ser interpretado como sinônimo de capital empreendedor e, em suma, quer dizer um investimento realizado em empresas de base tecnológica com forte potencial de crescimento e rentabilidade e que não conseguem captar recursos por meios tradicionais. Os investimentos são realizados por instituições ou indivíduos, têm caráter minoritário e são temporários. Além disso, caracterizam-se pelo elevado risco e, por isso, incluem ações de apoio à gestão. As empresas que recebem esse tipo de aporte financeiro são de porte pequeno e médio (BAÊTA; EMRICH, 2007) Importante assinalar que a existência de uma estrutura de capital empreendedor amplia o fomento à pesquisa científica, incentiva o empreendedorismo e favorece o desenvolvimento tecnológico interno, concorrendo para a retenção dos talentos no país e a criação de novos empregos. (BAÊTA; EMRICH, 2007, p. 28) O papel do venture capital não se restringe apenas ao apoio financeiro, embora este seja relevante para a continuidade das atividades em pesquisa e desenvolvimento. O private equity, por sua vez, é destinado a empresas que não estão listadas na bolsa de valores, mas que já têm certo grau de maturidade (SILVA; BIAGINI, 2015). 32 O investidor, em razão de seu conhecimento de mercado, consegue orientar a empresa e dar-lhe certo aporte nesse sentido também. Entre as características desse tipo de aporte de capital, podemos destacar que, além da busca pelos altos retornos, procuram ainda impulsionar os aspectos relacionados à gestão do negócio, atuam na fronteira tecnológica e apoiam a busca pela competitividade internacional. Isso é importante principalmente em razão das dificuldades enfrentadas por esse tipo de negócio, quando eles partem da fase de início para etapas de maturidade e, em um cenário de gestão mais complexo, encontram dificuldades para equilibrar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, enquanto simultaneamente gerem um negócio em crescimento (BAÊTA; EMRICH, 2007). Esses investidores normalmente especializam-se em investir em empresas de um determinado setor e, para tanto, estudam bastante o assunto, analisam diversos casos – das empresas nas quais investiram – e, com isso, conseguem as melhores inserções nesse tipo de mercado. Assim, à medida que um investidor opta por investir em determinada empresa, ele irá contribuir tanto com seus conhecimentos adquiridos por meio formais quanto pelo compartilhamento de conhecimentos adquiridos das experiências anteriores e do que aprendeu em outras empresas de caráter e atividades semelhantes (BAÊTA; EMRICH, 2007). No Brasil, o maior investidor em capital semente e venture capital é o BNDES, que começou suas ações na década de 1990 por intermédio da série de fundos Criatec, o qual dedica-se a investimentos dedicados a micro, pequenas e médias empresas inovadoras (SILVA; BIAGINI, 2015). Em suma, ressalta-se a importância desse tipo de fundos de investimentos devido ao favorecimento de acesso a recursos que as empresas não conseguiriam obter. Além disso, o impulsionamento dessas empresas gera empregos e contribui para o desenvolvimento daquela localidade. O que podemos compreender a partirdo exposto é que, dada a importância da Universidade e dos investidores para a 33 promoção do desenvolvimento local, cabe ao governo também portar-se de forma participativa, fomentando esse tipo de ação. O fomento deve ocorrer com base em legislações e ações públicas que aproximem os demais atores. Cabe também salientar que o governo, ciente do papel da inovação, deve investir em capital semente e em outras formas de investimentos, tais como os investidores-anjo. Tudo deve ser realizado com muita transparência e clareza, para que esses arranjos inovativos consigam atingir excelentes resultados (BAÊTA; EMRICH, 2007). Referências Bibliográficas AUDY, Jorge. A inovação, o desenvolvimento e o papel da Universidade. Estudos avançados, São Paulo, v. 31, n. 90, p. 75-87, 2017. Disponível em: scielo.br/scielo. php?pid=S0103-40142017000200075&script=sci_arttext. Acesso em: 28 jul. 2020. BAÊTA, Adelaide Maria Coelho; EMRICH, Guilherme. A pesquisa no Brasil: o papel do capital empreendedor. Revista USP, São Paulo, n. 73, p. 24-31, 2007. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13585. Acesso em: 7 out. 2020. BESSANT, John; TIDD, Joe. Inovação e empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman, 2009. ETZKOWITZ, Henry; ZHOU, Chunyan. Hélice Tríplice: inovação e empreendedorismo universidade-indústria-governo. Estudos avançados, São Paulo, v. 31, n. 90, p. 23-48, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ea/v31n90/0103-4014- ea-31-90-0023.pdf. Acesso em: 29 jul. 2020. REIS, Dálcio Roberto dos. Gestão da inovação tecnológica. 2. ed. Barueri: Manole, 2008. SILVA, Filipe Borsato da; BIAGINI, Fabio Luiz. Capital de risco e o desenvolvimento de empresas de base tecnológica no Brasil – a experiência dos fundos Criatec e perspectivas. BNDES Setorial 42, p. 101-130, 2015. Disponível em: https://web. bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/9619/2/BNDES%20Setorial%2042%20 Capital%20de%20risco%20e%20o%20desenvolvimento%20de%20empresas%20 de%20base._P_BD.pdf. Acesso em: 1 ago. 2020. http://scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142017000200075&script=sci_arttext http://scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142017000200075&script=sci_arttext http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/13585 https://www.scielo.br/pdf/ea/v31n90/0103-4014-ea-31-90-0023.pdf https://www.scielo.br/pdf/ea/v31n90/0103-4014-ea-31-90-0023.pdf https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/9619/2/BNDES%20Setorial%2042%20Capital%20de%20risco%20e%20o%20desenvolvimento%20de%20empresas%20de%20base._P_BD.pdf https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/9619/2/BNDES%20Setorial%2042%20Capital%20de%20risco%20e%20o%20desenvolvimento%20de%20empresas%20de%20base._P_BD.pdf https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/9619/2/BNDES%20Setorial%2042%20Capital%20de%20risco%20e%20o%20desenvolvimento%20de%20empresas%20de%20base._P_BD.pdf https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/9619/2/BNDES%20Setorial%2042%20Capital%20de%20risco%20e%20o%20desenvolvimento%20de%20empresas%20de%20base._P_BD.pdf 34 Incubadoras e aceleradoras Autoria: Larissa Maria Palacio dos Santos Leitura crítica: Wilson Campanholi Júnior Objetivos • Compreender o que é e qual o papel das incubadoras de empresas. • Aprender a definição e o papel das aceleradoras de empresas. • Compreender as semelhanças e diferenças entre os modelos de apoio a negócios. 35 1. Incubadoras e aceleradoras Como vimos, nos ambientes ou ecossistemas de inovação, temos múltiplas empresas interagindo entre si e, além delas, a presença das Universidades como atores que auxiliam o desenvolvimento de novas tecnologias por intermédio da difusão de conhecimentos. Além disso, temos os investidores que impulsionam os negócios e podem atuar como mentores. Por fim, existe a presença do governo, que pode atuar como indutor desses processos, tendo em vista o desenvolvimento territorial. São inúmeras as formas como as empresas podem estabelecer relacionamentos de interação com as universidades, e a eficácia desses modelos de interação é igualmente variável. Como exemplos de aproximação entre universidades e empresas podemos citar: solenidades de premiação de determinados profissionais ou empresas de cada segmento; visitas de dirigentes universitários às empresas; feiras de empresas; feiras de estágio ou emprego; programas de acompanhamento de ex-alunos; visitas técnicas de alunos às empresas; mesas-redondas; encontros com os responsáveis por recursos humanos nas empresas; cursos de extensão acadêmica; prestação de serviços; pesquisas encomendadas; incubadoras de empresas; e outros (REIS, 2008). Além dessas formas mais tradicionais, temos ainda os hackathons, que estão aliados ao movimento maker, ou seja, aquele caraterizado pela cultura que popularmente chamamos de “mão na massa” e que envolve processos criativos, de design e de inovação. Esse tipo de movimento dentro do escopo universitário é utilizado para fomentar o engajamento de alunos, já que estes conseguirão, a partir dessas ações, desenvolver competências socioemocionais e profissionais sólidas, sendo capazes de interagir com outros alunos e com mentores. Nesse sentido, no movimento de formação empreendedora hands-on, emergem os hackathons como projetos que colocam o aluno perante o desafio de 36 cumprir um objetivo ou desenvolver um negócio e criar uma proposta inovadora em um curto período de tempo (FOWLER; SUMITANI; NORONHA,[s.d.]). Nesse contexto, destaca-se o papel das incubadoras que em muito contribuem com aquelas empresas que carecem de apoio para seu desenvolvimento e que estão em estágios iniciais. Assim, elas auxiliam desde a fase de planejamento, quando as ideias ainda estão sendo concebidas e o plano de negócio está sendo elaborado, até o momento em que essas empresas conseguem operar sozinhas no mercado (REIS, 2018). Essa ideia de apoiar negócios em estágios iniciais, no entanto, não é nova e remete às estratégias desenhadas pelos Estados Unidos e pela Inglaterra, no século XX, para impulsionar o desenvolvimento socioeconômico após períodos de crise. Nesse contexto, ofereceu-se às empresas um espaço de apoio ao empreendedorismo, o que foi considerado como as primeiras estruturas de incubadoras (ANPROTEC, 2019). Além dos fatores de interesse na promoção de ambientes de inovação com vistas ao desenvolvimento local, há o interesse em promover e fomentar empreendedorismos inovadores com base nas mudanças econômicas de caráter estrutural que ocorreram no Brasil nos últimos 30 anos, bem como as mudanças tecnológicas que impactaram as empresas já estabelecidas, criando necessidades de adaptação. Nesse contexto, emergiram regulamentações legais (criação de fundos setoriais, Lei de inovação de 2004, Lei do Bem, emenda Constitucional n. 85/2015, Código de Ciência, Tecnologia e Inovação de 2016, entre outros), que foram elaboradas e aprimoradas, criando um arcabouço para a inovação e para o surgimento de startups no País (ANPROTEC, 2019). 37 Além disso, existe o reconhecimento dos ecossistemas de inovação para o desenvolvimento econômico, o que leva à criação de mecanismos de troca de informações e compartilhamento de experiências para os processos de inovação aberta (ANPROTEC, 2019). Na mesma linha das incubadoras, existem outras formas de apoiar o empreendedorismo e a inovação, como os parques tecnológicos, os espaços de coworking, os hubs de inovação, as venture builders e os laboratórios abertos (ANPROTEC, 2019). Aqui, nosso objetivo central será o aprofundamento acerca de incubadoras e aceleradoras, termos muitas vezes empregados como similares; no entanto, ao estudarmos de maneira mais aprofundada, trazem diferenças entre si. Dessa forma, vamos começar nossos estudos compreendendo um pouco mais sobre as incubadoras, o que são, suas atribuições e características principais, para, posteriormente, abordamos a questão das aceleradoras e sermos capazes de diferenciar os dois termos. 1.1 Incubadoras de Empresas Podemos dizerque as incubadoras de empresas são espaços em que os empreendedores recebem o apoio necessário para desenvolver seus negócios e projetos, contando com apoio técnico e gerencial. Mas, afinal, o que são incubadoras? Existem inúmeras definições acerca do termo incubadora de empresas, os quais divergem de acordo com os profissionais ou acadêmicos que as propõem. Normalmente, incubadoras são definidas como sendo uma instalação física compartilhada, que tem por objetivo oferecer apoio, intervenção de valor agregado, monitoramento e assistência ao negócio (RATINHO, 2011). Normalmente, as incubadoras são consideradas como processos de suporte a negócios, voltados a empresas iniciantes, que oferecem uma 38 série de serviços e recursos, os quais são exercidos de forma direta pela gestão da incubadora ou por sua rede de contatos e apoio. Seu principal objetivo é apoiar as empresas para que elas consigam, em determinado momento, deixar a incubação estando financeiramente independentes. Por isso, o nome incubadora remete às incubadoras de recém-nascidos (Figura 1), as quais protegem os elementos das ações externas; no entanto, no caso das incubadoras, a proteção se dá com relação às forças externas do mercado (COHEN; HOCHBERG, 2014; RATINHO, 2011). Figura 1 – Incubadora Fonte: Istock–Tomwang112.com. O tipo de apoio oferecido pelas incubadoras inclui infraestrutura, serviços básicos, assessoria, qualificação e networking. No quesito infraestrutura, oferecem espaços que contam com salas individuais e coletivas, laboratórios, auditórios, cozinha, estacionamentos e outros. No que tange aos serviços básicos de infraestrutura, disponibilizam internet, telefone, segurança, acesso a laboratórios de universidades e a outras instituições parceiras da incubadora (SILVA et al., 2018). 39 As incubadoras também ofertam assessoria para as empresas de gestão e tecnologia, suporte jurídico, gestão financeira, marketing, exportação e outros. Além de assessoras, nesses espaços são realizados treinamentos e cursos de capacitação e outras ações voltadas à promoção da qualificação dos empreendedores e de seus respectivos gestores. Por fim, há que se comentar ainda sobre a importância do fator networking, pois, ao estar dentro do ambiente de uma incubadora, o empreendedor estabelece contatos com entidades governamentais e com investidores, além de outras formas de ampliação da rede de contatos (SILVA et al., 2018). Além do suporte técnico oferecido, por compartilharem espaços físicos entre diferentes empreendedores, as incubadoras têm impactos significativos nos gastos e nas despesas empresariais. Como consequência de todo o suporte, o que se observa é uma melhora expressiva na sobrevivência, no crescimento e na sustentabilidade dos negócios incubados (RATINHO, 2011). De acordo com Ratinho (2011), há três dimensões que caracterizam as incubadoras: infraestrutura, suporte comercial e acesso a redes. • Compartilhamento de espaço físico: gera economia de escala e reduz os custos indiretos. Assim, ao oferecerem serviços complementares, é possível que os empreendedores foquem em suas atividades centrais (core). • Suporte aos negócios: contribui com o processo de aprendizagem das empresas nascentes, suprindo suas necessidades de desenvolver habilidades de gestão e rotinas. Isso minimiza a ocorrência de processos experimentais que levam a aprender com o erro, substituindo-os por desenvolvimento de estratégias de alto desempenho. • Network: ao possibilitar a abertura a suas redes de contatos, a incubadora promove também o acesso a investimentos de capital 40 de risco, investidores-anjos e outros elementos de fomento aos quais não teria acesso se as empresas estivessem atuando de maneira isolada e autônoma. Outro ponto interessante acerca das incubadoras é o seu papel em prol do desenvolvimento econômico, tanto em nível local quanto em nível nacional. Isso porque geram emprego, revitalizam regiões e comercializam novas tecnologias (RATINHO, 2011). Grande parte das incubadoras está associada a Universidades, podendo, nesses casos, haver transferência de propriedade intelectual de docentes e pesquisadores para empresas cujo objetivo é comercializar propriedades intelectuais (COHEN, 2013; COHEN; HOCHBERG, 2014). Ainda, elas podem estar associadas a outros tipos de instituições mantenedoras, como comunidades, institutos de pesquisas, consórcios, ONGs ou organizações governamentais, como prefeituras (SILVA et al., 2018). Entre os objetivos das incubadoras de empresas, destacam-se a facilidade de implantar novas empresas, especialmente aquelas inovadoras; a produção de empresas de sucesso; a criação de cultura empreendedora com base em conhecimentos profissionais e práticos; e a consolidação de empresas, que conseguem deixar o ambiente de incubação com aporte financeiro e com capacidade de competir no mercado (COHEN; HOCHBERG, 2014). As primeiras incubadoras surgiram e proliferaram nos Estados Unidos, tendo sido a mais famosa delas a Bill Idealabs de Gross. Ela qual surgiu no final da década de 1990, quando os EUA passavam pela ascensão das ações de novas empresas de tecnologia da informação e comunicação baseadas na internet, período que ficou conhecido também como Bolha da Internet. No Brasil, a primeira incubadora surgiu em 1994, na Fundação de Alta Tecnologia de São Carlos (Parqtec) (SILVA et al., 2018; COHEN; HOCHBERG, 2014). 41 É importante ressaltar a existência de diferentes tipos de incubadoras, os quais caracterizam-se pelas diferenças de objetivos e outros aspectos, como critérios para admissão e saída, grau de conhecimento acerca dos projetos, configuração e instalações de serviços, entre outros (RATINHO, 2011). Silva et al. (2018) ressaltam que as incubadoras podem ser divididas de acordo com diferentes categorias, como tecnológicas, industriais, de serviços, de micro e pequenos empreendimentos, voltadas ao empreendedorismo feminino ou outros grupos de minorias, entre ouras. Como exemplos, temos que as incubadoras de base tecnológica são, normalmente, relacionadas a tecnologias desenvolvidas a partir de estudos científicos; as de setores tradicionais correspondem a setores tradicionais da economia que queiram absorver e desenvolver novas tecnologias para agregar valor; e as mistas mesclam em seus interiores empreendimentos de base tecnologia e de setores tradicionais. Tanto para selecionar as empresas quanto para decidir se estão aptas a sair do mercado, os critérios são diferentes de incubadora para incubadora. Normalmente, incubadoras específicas de algum setor conseguem proporcionar ainda mais vantagens aos incubados, pois são capazes de aumentar o valor agregado, já que o apoio que ofertam é personalizado e especializado (RATINHO, 2011). A política de saída das incubadoras deve garantir que ocorra uma rotatividade de empresas, e, por isso, normalmente, as empresas podem ficar incubadas por um período restrito a mais ou menos três anos. Depois disso, são consideradas graduadas e podem concorrer no mercado, deixando a incubadora e abrindo espaço para que outras empresas possam passar pelos mesmos processos (RATINHO, 2011). Apesar de todos os aspectos positivos que ressaltamos das incubadoras, existem algumas críticas, pois, em alguns casos, o apoio fornecido pode não ser suficiente para garantir a sustentabilidade do negócio quando 42 este for arriscar-se no mercado. Ocorre que pode haver uma perda substancial de feedbacks de mercado que poderiam ser importantes para retroalimentar os processos de melhoria contínua. Assim, corre-se o risco de algumas empresas adaptarem-se ao cenário da incubadora, mas não estarem preparadas para atuar fora delas (COHEN, 2013). 1.2 Aceleradoras As aceleradoras, assim como as incubadoras, fomentam o empreendedorismo. Podemos dizer que elas auxiliam os empreendedores na definição de construção de negócios, na identificação de segmentos de cliente, de nichosde mercado, bem como auxiliam a proteger recursos, sejam eles financeiros ou humanos (COHEN, 2013). No caso das aceleradoras, o período de auxílio é de normalmente três meses. Elas são focadas em startups e fornecem, além do local de trabalho, o fomento de seed capital (capital semente). Assim como as incubadoras, as aceleradoras conseguem ampliar a rede de contatos (network) dos empreendimentos, apresentando-os a capitalistas de risco, investidores-anjos, pares ou executivos. Por fim, o apoio se encerra com um grande evento, quando a empresa e as ideias são apresentadas ao público de investidores (COHEN, 2013). “O papel primordial das aceleradoras é apoiar e investir no desenvolvimento e expansão de empresas que trazem conceitos inovadores” (SILVA et al., 2018, p. 197). Em suma, as aceleradoras visam acelerar as interações da empresa com o mercado, para, dessa forma, fazerem com as empresas se adaptem rapidamente ao mercado (COHEN, 2013). As aceleradoras são propriedades privadas, e é importante salientar que exigem das empresas uma contrapartida com relação aos seus investimentos. Em outras palavras, investem e adquirem ações da 43 empresa acelerada, podendo representar entre 5 e 15% do valor dos negócios (SILVA et al., 2018). De acordo com a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec): Registros apontam que a primeira aceleradora, a Y Combinator, foi fundada em 2005 em Cambridge, Massachusetts – Estados Unidos – e logo se transferiu para o Vale do Silício. Quase concomitantemente, dois investidores de startups estabeleceram a TechStars em Boulder, Colorado, também Estados Unidos (Cohen e Hochberg, 2014). Já os laboratórios abertos de prototipagem tiveram a sua origem no início dos anos 2000, no Center for Bits and Atoms (CBA) do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA. O CBA foi criado em 2001 para pesquisar a integração entre Tecnologia da Informação (TI) e objetos físicos. (ANPROTEC, 2019, p. 9) Considera-se que as aceleradoras apoiam e investem em empresas inovadoras e têm como principal objetivo alavancar negócios que já têm potencial de crescimento, ou seja, que são promissores. Além disso, há um apoio com relação à modelagem de negócios, muitas vezes partindo de ideias que serão projetadas em algo concreto. Alguns investidores exigem que as empresas que pretendem ser aceleradas apresentem algum tipo de protótipo (SILVA et al., 2018). Os gestores das aceleradoras normalmente são investidores-anjo são capitalistas de riscos que investem nos empreendimentos de forma direta ou por fundos. O lado positivo é que esses proprietários ou gestores possuem ampla experiência com empreendimentos, o que lhes dá know-how para auxiliar as startups. Nesse contexto, as empresas aceleradas são denominadas empresas portfólio. É importante destacar também que há, embora em menor frequência, aceleradoras sem fins lucrativos, cujo objetivo é fomentar o desenvolvimento (COHEN, 2013). Considerando que todo empreendimento tem um ciclo de vida, o que os programas de aceleração fazem é forçar o negócio a amadurecer 44 com maior rapidez, e, como consequência a empresa poderá apresentar um crescimento rápido ou uma falha rápida. Por que falhar rápido pode ser interessante? No caso de empreendedores que querem buscar oportunidades de alto valor, levar um empreendimento à falha fará com que gastem menos tempo e energia, ou seja, nesse sentido, ao identificarem a falha, poderão redirecionar seus esforços para segmentos diferentes (COHEN, 2013). Dessa forma, o grau de dependência das empresas com relação aos programas de aceleração é baixo, pois o apoio é realizado com base em mecanismos de seleção similares aos que ocorrem em ambientes de seleção do mercado (COHEN, 2013). Acerca dessa aceleração do ciclo de amadurecimento, associamos à teoria da startup enxuta de Eric Ries (2012). De acordo com o autor, o mercado passou por inúmeras mudanças, tornando-se cada vez mais incerto, o que levava as startups a traçarem estratégias sólidas, com base em pesquisas de mercado completas. No entanto, no atual cenário, as mudanças são constantes, e o ambiente em que elas competem é mutável, sendo esse o motivo de os antigos modelos de administração não atenderem a suas necessidades. Apenas para resumir os conceitos, o método da startup enxuta, ou Lean Startup, proposto por Ries, parte da premissa de que para as startups não é necessário elaborar um modelo de negócios baseado em um plano tradicional, pois os negócios emergem de ideias. A ideia da startup enxuta advém da filosofia lean de redução de desperdícios, e, para tanto, sugere-se um processo que se inicia em uma hipótese do empreendedor, que deve ser modelada a partir do modelo Canvas. A segunda etapa consiste em testar se tais hipóteses podem ser comprovadas, entrando no processo de desenvolvimento com clientes, que consiste em testar com potenciais usuários um MVP, ou seja, o protótipo anteriormente mencionado. Para concluir o ciclo do método, a startup entra no processo de desenvolvimento ágil, ou seja, o produto ou 45 serviço é desenvolvido de maneira incremental e iterativa, o que significa que são parcialmente entregues para validação (RIES, 2012). Dessa forma, o grau de dependência das empresas com relação aos programas de aceleração é baixo, pois o apoio é realizado com base em mecanismos de seleção similares aos que ocorrem em ambientes de seleção do mercado (COHEN, 2013). As aceleradoras iniciam os projetos por lotes, ou seja, por agrupamentos de empresas. Os lotes ou coortes são considerados subprodutos desses programas. Como muitas empresas iniciam de forma conjunta o processo de aceleração, isso gera uma empatia, identificação e proximidade entre eles, sendo, dessa forma, uma rede de apoio e motivação durante o programa (COHEN, 2013). Os processos de seleção de empresas ocorrem em datas importantes e são abertos para empreendedores de diferentes localidades. É bastante difícil adentrar em um desses programas, pois os critérios são bastante seletivos e a concorrência é acirrada (COHEN, 2013). A educação e a formação das empresas é um dos pilares centrais dos programas de incubação. As ações educacionais normalmente são realizadas por intermédio da realização de seminários educacionais com temática de empreendedorismo e áreas correlatas, e os palestrantes podem ser convidados especiais ou os próprios diretores dos programas, contando também com ações direcionadas e orientações individuais (COHEN, 2013). Os seminários mencionados, além do fator educativo e de desenvolvimento dos empreendedores, também os colocam em uma rede de contatos bastante interessante. Além disso, ocorrem os processos de mentoria que a contribuir com o desenvolvimento do negócio e com o conhecimento dos empreendedores (COHEN, 2013). 46 Quais as vantagens para os aceleradores? Gerir um programa de aceleração é uma opção para aumentar a quantidade de empresas com as quais um investidor estabelece contato e nas quais investe, ampliando então o seu portfólio. Outro aspecto positivo é que esse formato auxilia na escolha das empresas nas quais irá investir, além de diminuir os riscos, na medida em que é possível diversificar seu portfólio de investimentos por haver mais investidores envolvidos. Além disso, o processo permite ter maior conhecimento acerca do negócio antes de realizar o aporte financeiro (COHEN, 2013). O Brasil possui algumas ações voltadas à aceleração de empresas, como “o Programa Startup Brasil, criado pelo MCTIC, com gestão da Softex e em parceria com aceleradoras, e do qual participaram 18 aceleradoras” (ANPROTEC, 2019, p. 36). Esse programa foi criado em 2012 com o objetivo de desenvolver inovações em tecnologia da informação e comunicação e promover um ambiente favorável à pesquisa. Em suma, embora incubadoras e aceleradoras desempenhem muitas funções similares, existe uma série de característicasque as diferenciam, como o tempo de duração dos programas e a existência de coortes nas aceleradoras – e não nas incubadoras. Ambas podem ser modelos sem fins lucrativos, mas, em geral, as incubadoras têm um caráter de maior ocorrência, enquanto as aceleradoras estão mais voltadas ao perfil de investimentos. Diferem-se também quanto aos critérios de seleção, que é competitivo apenas no caso de aceleradoras. O aspecto de desenvolvimento educacional também tem caráter diferente, já que nas aceleradoras se dá pela ocorrência de seminários, enquanto nas incubadoras são desenvolvidas ações de capacitação com base em assuntos de formação. As mentorias são mínimas e com foco tático nas incubadoras, enquanto nas aceleradoras são intensas. Diante do contexto das dificuldades de acesso a financiamentos, emergem ainda outros formatos e atores, como as venture builders. Eles atuam de maneira similar aos capitalistas de risco e são organizações 47 que fornecem subsídios financeiros às startups no intuito de construir uma carteira de clientes e traçar estratégias de sucesso para as empresas (AZEVEDO; SILVA; MAY, 2018). Na realidade, para as venture builders, o grau de interferência no negócio é bem maior do que aquele dos capitalistas de risco, pois, nesse caso, ocorre a atuação na gestão da empresa. Entre as atividades nas quais atuam, podemos destacar gestão de pessoas, recrutamento e seleção, campanhas publicitárias e suporte jurídico. Por tudo isso é que se considera que as venture builders são capazes de gerar valor para as startups pelos serviços ofertados e pelo compartilhamento de conhecimentos. Além disso, ao envolver-se com startups, também criam valor para si próprias, ao adquirirem participação societária (AZEVEDO; SILVA; MAY, 2018). Quatro pilares embasam a atividade das venture builders: comprometimento de capital, trabalho colaborativo, experiência de mercado e motivação para construir novidades. É preciso tomar as devidas cautelas para não as confundir com aceleradoras, pois, entre os pontos de diferença, destaca-se o foco destas na construção do modelo de negócio, desenvolvendo e amadurecendo a concepção dos negócios. As venture builders não estimulam a competição nem possuem dias de apresentação dos projetos, ou demo days. Em suma, o ponto que diferencia esses modelos é o suporte dado à gestão (AZEVEDO; SILVA; MAY, 2018). Outros atores dentro dos ecossistemas de inovação são as startups studios, também conhecidas como startup factories (fábricas de startups) ou company builders. Podemos defini-las como organizações cujo objetivo é construir empresas para vendê-las após atingirem outros estágios de amadurecimento. Entre o escopo de suas atividades, podemos destacar o aporte de capital e os serviços de valor agregado às startups, como mentorias e acesso a redes de network (BAUMANN et al., 2018). 48 São as funcionalidades desse modelo de negócio que o diferenciam das aceleradoras, pois, normalmente, estes operam com equipes diversificadas, cujo empenho está em construir produtos e negócios. Nesse caso, observa-se um maior nível de participação, mas, em contrapartida, obtêm uma maior participação dos lucros das empresas, ocupando até o papel de cofundador adicional (BAUMANN et al., 2018). Como exemplo de startup studios podemos mencionar a Rocket Internet, por seu pioneirismo e relevância dentro da área. Em suma, ela ajuda empreendedores que têm novas ideias de negócios, ou realiza um benchmarking de negócios, aplicando-o em diferentes contextos ou em novos mercados. Como a empresa consegue utilizar e replicar processos para diferentes empresas de seu portfolio, tem um enorme potencial de produzir negócios mais rapidamente e consegue garantir maior segurança aos empreendedores, quando comparado àqueles que atuam isoladamente (BAUMANN et al., 2018). As expressões startup factories e startup studios podem ser encontradas como sendo similares, conforme aqui apresentamos, ou podem ser apresentadas com diferentes conceituações, como pode ser encontrado em artigos e ou bibliografias da área. Isso ocorre devido a limitações de pesquisas nesse campo, sendo esses temas ainda muito recentes (BAUMANN et al., 2018). Referências Bibliográficas ANPROTEC. Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores. Mapeamento dos mecanismos de geração de Empreendimentos Inovadores no Brasil. Brasília: Anprotec, 2019. Disponível em: https://anprotec.org. br/site/wp-content/uploads/2019/09/Mapeamento_Empreendimentos_Inovadores. pdf. Acesso em: 8 ago. 2020. AZEVEDO, Ellen Maria Lopes; SILVA, Ana Cláudia Olegário da; MAY, Márcia Ramos. Análise do Modelo de Negócio das Ventures Builders. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, São Paulo, v. 7, n. 1, p. https://anprotec.org.br/site/wp-content/uploads/2019/09/Mapeamento_Empreendimentos_Inovadores.pdf https://anprotec.org.br/site/wp-content/uploads/2019/09/Mapeamento_Empreendimentos_Inovadores.pdf https://anprotec.org.br/site/wp-content/uploads/2019/09/Mapeamento_Empreendimentos_Inovadores.pdf 49 104-129, 2018. Disponível em: https://www.regepe.org.br/regepe/article/view/498. Acesso em: 7 out. 2020. BAUMANN, Oliver et al. Rocket Internet: organizing a startup factory. Journal of Organization Design, [s.l.], v. 7, n. 1, p. 13, 2018. Disponível em: https://link. springer.com/article/10.1186/s41469-018-0037-2. Acesso em: 26 ago. 2020. COHEN, Susan. What do accelerators do? Insights from incubators and angels. Innovations: Technology, Governance, Globalization, [s.l.], v. 8, n. 3-4, p. 19-25, 2013. Disponível em: https://www.mitpressjournals.org/doi/pdf/10.1162/ INOV_a_00184. Acesso em: 8 ago. 2020. COHEN, Susan; HOCHBERG, Yael V. Accelerating startups: The seed accelerator phenomenon. 2014. Disponível em : http://www.seedrankings.com/pdf/seed- accelerator-phenomenon.pdf. Acesso em: 8 ago. 2020. FOWLER, Fábio Roberto; SUMITANI, Yasmim P. T.; NORONHA, Juliana Caminha. Hackathons como programas de desenvolvimento em empreendedorismo: um estudo de caso do Maker Hacklab. [s.d.]. Disponível em: http://fablearn.org/wp- content/uploads/2016/09/FLBrazil_2016_paper_137.pdf. Acesso em: 26 ago. 2020. RIES, Eric. A startup enxuta. São Paulo: Leya, 2012. RATINHO, Tiago. Are they helping? An examination of business incubators’ impact on tenant firms. 2011. Disponível em: http://doc.utwente.nl/78235/1/ thesis_T_Ratinho.pdf. Acesso em: 7 out. 2020. REIS, Dálcio Roberto dos. Gestão da inovação tecnológica. 2. ed. Barueri: Manole, 2008. SILVA, Fabiane Padilha da et al. Gestão da Inovação. Porto Alegre: Sagah, 2018. https://www.regepe.org.br/regepe/article/view/498 https://link.springer.com/article/10.1186/s41469-018-0037-2 https://link.springer.com/article/10.1186/s41469-018-0037-2 https://www.mitpressjournals.org/doi/pdf/10.1162/INOV_a_00184 https://www.mitpressjournals.org/doi/pdf/10.1162/INOV_a_00184 http://www.seedrankings.com/pdf/seed-accelerator-phenomenon.pdf http://www.seedrankings.com/pdf/seed-accelerator-phenomenon.pdf http://fablearn.org/wp-content/uploads/2016/09/FLBrazil_2016_paper_137.pdf http://fablearn.org/wp-content/uploads/2016/09/FLBrazil_2016_paper_137.pdf http://doc.utwente.nl/78235/1/thesis_T_Ratinho.pdf http://doc.utwente.nl/78235/1/thesis_T_Ratinho.pdf 50 Modelo de Maturidade de Ecossistema de Inovação Autoria: Larissa Maria Palacio dos Santos Leitura crítica: Wilson Campanholi Júnior Objetivos • Mostrar que os ecossistemas de inovação evoluem. • Apresentar o modelo de maturidade de ecossistemas de negócios de Moore. • Apresentar o modelo de maturidade de ecossistemas de Startups. 51 1. Evolução de ecossistemas de inovação Os ecossistemas de inovação são conjuntos de empresas e de outros atores que criam uma atmosfera de inovação. Juntos esses elementos são capazes de impulsionar as potencialidades de cada um dos negócios e desenvolver inovações de forma mais rápida e disruptiva. Os elementos do ecossistema de inovação podemtrabalhar concomitantemente e de forma cooperativa e competitiva, traduzindo-se em um fenômeno de coopetição (AUTIO; THOMAS, 2014). Nessa abordagem, admite-se que as interações são orgânicas como em um ecossistema natural. Existe a probabilidade de ecossistemas possuírem um elemento que lidere as funções e as ações visando melhorar a performance do conjunto. A tal fenômeno atribui-se o nome de orquestração (AUTIO; THOMAS, 2014). Considerando-se as formas de relação desses atores e as mudanças impostas por variáveis internas e externas, admite-se que eles passem por uma evolução. Para este texto, adotamos os termos ecossistemas de negócios e ecossistemas de inovação como sendo sinônimos, partindo da premissa de que a primeira alusão à teoria de Moore é a precursora de todos os estudos relacionados aos agrupamentos de empresas como sendo ecossistemas (TEIXEIRA; ALMEIDA; FERREIRA, 2016). No entanto, é importante salientar a existência de diferenças conceituais entre ambas nomenclaturas, especialmente no que tange às formas de geração de valor que estes têm como foco central. Para os ecossistemas de negócios, o principal foco é a captura de valor, enquanto nos ecossistemas de inovação o foco é o processo de inovação aberta, ou seja, a criação compartilhada de inovações e geração de valor. Para tanto, a teoria de ecossistemas de inovação centra-se na inovação e na gestão estratégica do ambiente como um todo (TEIXEIRA; ALMEIDA; FERREIRA, 2016). 52 É importante lembrar que o ecossistema de negócio é uma comunidade cuja finalidade é econômica e cujos elementos coopetem, ou seja, cooperam e competem entre si. A evolução desse tipo de ecossistema é orquestrada pelos seus líderes, que partilham de uma visão compartilhada de futuro, e é a partir das relações de coopetição que são geradas as vantagens competitivas. Nesse caso, a capacidade inovativa do ecossistema só é atingida em sua potencialidade total quando todos os elementos estão preparados (TEIXEIRA; ALMEIDA; FERREIRA, 2016). Os ecossistemas de inovação, por sua vez, têm a relação central pautada na cooperação para o desenvolvimento de inovações de valore sustentado, isto é, são sistemas nos quais observa-se a relação entre diferentes elementos, como voltados a criar, sustentar e apoiar o crescimento dos negócios. Essas inter-relações são fundamentais para o estímulo ao desenvolvimento tecnológico e econômico e, para tanto, abarcam sempre atores políticos e órgãos econômicos, científicos, governamentais e escritórios de transferência de tecnologia, bem como aproximam empresas de possibilidades de financiamento. Em suma, reitera-se, mais uma vez, o foco em desenvolver tecnologias e inovações (TEIXEIRA; ALMEIDA; FERREIRA, 2016). Há na bibliografia inúmeras definições para o termo ecossistemas de inovação, com diferenciações teóricas, não existindo um termo único definidor. Podemos associar essas diferenciações teóricas à própria característica orgânica dos ecossistemas e de suas peculiaridades, a depender dos ambientes observados. É nesse sentido que emergem as análises de modelos que buscam compreender as formas de organização de cada um dos ecossistemas, seus comportamentos e fatores que possam impulsionar seu sucesso ou fatores que causem impactos negativos na evolução do ecossistema como um todo. Esses métodos de análise comparativa, análises de evolução ou modelos de maturidade têm como objetivo principal compreender a dinâmica desses ecossistemas e identificar boas práticas que possam, 53 possivelmente, ser aproveitadas de um ambiente para o outro. A partir dessa conclusão, poder-se-ia criar uma orquestração com maior fundamentação teórica ou, até mesmo, auxiliar na formulação de políticas públicas que fomentem a inovação para promover o desenvolvimento territorial (TEIXEIRA; ALMEIDA; FERREIRA, 2016). 1.1 Maturidade dos ecossistemas de negócios James Moore foi o primeiro a utilizar a nomenclatura ecossistema de negócios, tecendo analogias entre os ecossistemas biológicos e empresariais. De acordo com Moore (1993), para que um negócio evolua, é necessário que os líderes estabeleçam as estratégias que combinem de forma adequada às inovações, aos elos comerciais, às alianças estratégicas, ao grupo de fornecedores e à liderança de clientes. Mais uma vez, o autor remete à evolução dos ecossistemas de negócios comparando-os com os da biologia. Nesse caso, ele compara a coevolução de espécies interdependentes que evoluem em um ciclo infinito. Nesse sentido, as mudanças oriundas da seleção natural para uma espécie irão acarretar mudanças na outra espécie que interage com ela, para equilibrar o ciclo da cadeia alimentar entre predadores e presas. Nessa mesma linha, Moore (1993) ressalta que, assim como os ecossistemas naturais colapsam diante de mudanças radicais externas e dão margem a outros ecossistemas que emergem, alterando também papéis de liderança e poder, o mesmo ocorre em ecossistemas inovadores diante de mudanças de cenários de mercado ou comportamento do consumidor. Dessa forma, devemos sempre levar em consideração a evolução das empresas não de forma isolada, mas como resultado das interações com os demais elementos. Ao estar em um ecossistema de inovação, ocorre uma coevolução, ou seja, a evolução de uma delas leva à evolução de 54 todas as outras. Assim, o papel do líder do ecossistema de inovação é traçar um caminho para que todas as empresas, de forma cooperativa, consigam potencializar suas lucratividades (MOORE, 1993). Há que se considerar ainda que existe mais de um ecossistema, e, dessa forma, as empresas que o compõem não só competem com outras empresas de maneira isolada, mas também o ecossistema compete com outros similares. Atribui-se o processo de transformação industrial a essa nova forma de competição. Assim, na luta pela competitividade empresarial e pela sobrevivência dos negócios, é fundamental considerar ainda esse viés (MOORE, 1993). É por isso que os líderes e os ecossistemas de inovação devem estar atentos à capacidade de competição e ao nível de maturidade dos ecossistemas, pois, dessa forma, realizarão um diagnóstico preciso para decidir quais rotas estratégicas devem ser adotadas para direcionar a mudança necessária a fim de aumentar a competitividade (MOORE, 1993). Moore (1993) classifica os estágios de evolução dos ecossistemas de negócios em quatro fases distintas: 1. Nascimento. 2. Expansão. 3. Liderança. 4. Autorrenovação ou morte. As fases não têm datas específicas de encerramento de um estágio e início do seguinte, mas há gatilhos específicos de transição entre um e outro, com os desafios gerenciais de uma fase emergindo da etapa anterior. É possível observar cada um desses estágios em negócios de diferentes naturezas (MOORE, 1993). 55 O Quadro 1 a seguir ilustra as diferentes fases dos negócios e de que forma se estabelecem as relações de cooperação e de competitividade: Quadro 1 – Evolução dos estágios de um ecossistema de negócios Desafios de cooperação Desafios competitivos Nascimento Clientes e fornecedores ajudam a definir as propostas de negócios a partir de uma ideia ou inovação. Proteger as ideias de concorrentes com mercados similares. Estabelecer vínculos de liderança com clientes, fornecedores-chave e outros canais importantes Expansão Apresentar a oferta ao amplo mercado; trabalhar com fornecedores parceiros para ampliar a capacidade de fornecimento e a cobertura de mercado Concorrer para eliminar concorrentes com alternativas e ideias semelhantes. Garantir a posição de líder de referência no segmento, dominando os principais segmentos de mercado. Liderança Fase de incentivar relações cooperativas entre fornecedores e clientes para fornecer uma visão atraente de futuro, a fim de melhorar a capacidade de atender ao mercado. Ter um forte poder de barganha entre os elementos participantes do ecossistema. Autorrenovação Trabalhar a capacidadede inovação e trazer novas ideias ao ecossistema já existente. Impedir a entrada de novos ecossistemas no mercado. Garantir que os consumidores sejam fiéis para garantir que aguardem os processos de adaptação dos ecossistemas. Fonte: adaptado de Moore (1993, p. 77). 56 Na etapa de nascimento do negócio, a preocupação é definir o plano de negócios, especificando o público-alvo, o produto ou serviço prestado e as melhores formas de realizá-lo. Nesse primeiro momento, considera- se que a obtenção do sucesso é atingida por aqueles que conseguem agregar mais valor ao cliente. Trata-se também de um momento de grande fragilidade para os negócios, e, por isso, a cooperação é muito bem-vinda para conseguir agregar vantagens que não seriam obtidas de forma isolada (MOORE, 1993). Em um ecossistema de inovação, no estágio inicial, espera-se ainda que o líder trabalhe para promover a aceleração dos negócios, gerando melhorias contínuas agregadas pelas parcerias. Além disso, as empresas observam diferentes cenários de novos mercados e deles conseguem captar inovações atraentes para os clientes. Por vezes, há inúmeras possibilidades e a decisão é eleger qual delas gerará mais retorno. As empresas já estabelecidas podem então entrar no Estágio 2, à medida que se apropriam de desenvolvimentos gerados em empresas parceiras (MOORE, 1993). O segundo estágio, denominada expansão, é a fase em que os ecossistemas buscam conquistar novos territórios. É possível que essa expansão seja realizada de forma muito tranquila; por outro lado, pode haver ecossistemas competindo para conquistar um mesmo território/ mercado. Nessa disputa, fornecedores e clientes são pressionados para se aliarem a um ou a outro ecossistema. Ao final, poderá haver um ecossistema vencedor ou os ecossistemas rivais podem ter que dividir o mesmo mercado ou território (MOORE, 1993). Para chegar ao segundo estágio, é preciso que a muitos clientes valoriza o negócio, ou que ela tenha potencial para expandir o conceito do seu negócio para um grande mercado. Trata-se de um momento onde há um grande poder de marketing e de vendas, além disso, a produção começa a ganhar escala e a superar outros ecossistemas menores. Dentre os desafios desta etapa podemos mencionar a capacidade 57 de equilibrar a expansão de mercado tomando o cuidado para não ultrapassar suas capacidades produtivas (MOORE, 1993). Apesar de ser um momento em que se deve colocar os ecossistemas concorrentes em posição desfavorável, o líder deve promover o preparo do ecossistema para que este seja capaz de evoluir e entrar na fase 3. É fundamental que nesse momento de preparo para a fase seguinte mantenha-se um cuidadoso sistema de relacionamento com o cliente e com os pontos focais desenvolvedores de inovações, bem como mantenha relacionamentos com fornecedores de forma a manter-se na liderança (MOORE, 1993). O Estágio 3 caracteriza-se pelas lutas por posição de liderança, e, para tanto, é necessário que o ecossistema, em primeiro lugar, seja considerado forte o suficiente e com boa lucratividade. Além disso, a estrutura geradora de inovações deve apresentar certo grau de estabilidade. É por essa estabilidade que os fornecedores começam a lutar a fim de estabelecer vínculos de contribuição, pois vislumbram- se os benefícios de uma possível expansão das atividades da cadeia de valor (MOORE, 1993). Entre as características do Estágio 3, inclui-se a preocupação das empresas com padrões, interfaces e formas de organizar as relações entre clientes e fornecedores. Como consequência, pode ocorrer a diminuição das dependências entre os fornecedores e o elemento líder (MOORE, 1993). É no Estágio 3 que surge o poder de barganha dos ecossistemas, e, por isso, o status de fonte única de algumas empresas precisa ser estabelecido por intermédio de contratos ou pelo uso de patentes. Porém, esse grau de relacionamento depende da criação de um processo de inovação constante e da capacidade de criação de valor, do qual depende a melhoria de valores e de desempenho de todos os 58 elementos do ecossistema. Por vezes, dois líderes ou mais ocupam esse papel de centralidade e são vitais ao ecossistema (MOORE, 1993). As empresas dominantes podem evoluir ou quebrar nesse estágio. Nesse momento, os produtores que ocupam papel de liderança devem estender o controle e ocupar-se da preparação para o futuro, direcionando os investimentos dos principais clientes e fornecedores. A lucratividade do ecossistema será mantida à medida que qualquer empresa do ecossistema tiver poder de barganha sobre outros membros (MOORE, 1993). O quarto estágio é caracterizado pela ameaça a um ecossistema já amadurecido, a qual emerge de novos ecossistemas de inovações. Além disso, mudanças repentinas e drásticas no cenário podem impactar e ameaçar os ecossistemas maduros. Entre os motivos, podemos elencar mudanças legislativas, regulamentações governamentais, mudanças de comportamento de compra ou condições macroeconômicas. Pode ainda haver uma conjuntura de fatores concomitantes (MOORE, 1993) Essas mudanças repentinas ou drásticas impactam os ecossistemas, deixando-os vulneráveis a negócios novos ou que ocupavam papéis marginais. Essa capacidade de desenvolver inovações de forma contínua é fundamental para que o ecossistema tenha sucesso de longo prazo. Para garantir sua dominância enquanto ecossistema, é possível seguir algumas estratégias de autorrenovação, como retardar o crescimento de novos ecossistemas, desenvolver inovações dentro do próprio ecossistema ou reestruturar-se para lidar com as novas realidades (MOORE, 1993). Por vezes, essas mudanças estruturais são a única opção encontrada pelos líderes de ecossistemas. Apesar de todas as complexidades, cabe a eles traçar as diretrizes estratégicas a fim de garantir a longevidade dos ecossistemas. Entre as possíveis estratégias, podemos elencar a segmentação de mercado, a criação de laços mais próximos com 59 elementos e diferentes clientes. Quando os clientes são fiéis e próximos, é mais possível que eles se mantenham comprometidos com o ecossistema até que os membros sejam capazes de promover as mudanças e adaptações necessárias (MOORE, 1993). Considerando os altos graus de complexidade dos mercados, é fundamental que os ecossistemas sejam geridos e nunca deixem suas estratégias à deriva. É preciso planejar e projetar os ecossistemas de inovação pensando em diferentes contextos e situações que poderão ser enfrentados, a fim de saber como lidar com cada uma dessas possibilidades. Em suma, pode-se dizer que a competição entre ecossistemas é uma luta por participação no mercado, porém essa competitividade é ainda mais complexa. Aqui, os ecossistemas de negócios se diferem dos ecossistemas biológicos, pois são agrupamentos sociais, ou seja, as decisões são tomadas com base em lógicas e ideias diferentes (MOORE, 1993). Algumas variáveis são fundamentais para a saúde dos ecossistemas e podem ser utilizadas como indicadores: produtividade, robustez e criação de nichos. No que tange à produtividade, leva-se em consideração a habilidade da rede de transformar tecnologia e outros recursos em inovação, tanto reduzindo custos quanto desenvolvendo novos produtos. No quesito robustez, temos a capacidade do ecossistema de sobreviver diante de mudanças; para mensurar, podemos utilizar a taxa de sobrevivência de atores no ecossistema após a mudança de cenário ou mesmo como comparativo em ecossistemas. Por fim, a criação de nichos relaciona-se à habilidade de criar novos negócios ou de absorvê-los; como métrica para a criação de nichos, podemos utilizar a taxa de criação de novas funções em razão da inovação desenvolvida (TEIXEIRA; ALMEIDA; FERREIRA, 2016). 60 Não se pode deixar que as mudanças e a autorrenovação de ecossistemas ocorram somente após eles terem sofridos os impactos externos. Cabe também à sociedade apoiá-los de forma a manter a disputa entreeles (MOORE, 1993). 1.2 Um modelo de maturidade baseado em ecossistemas de startups O mercado de startups é caracterizado por empreendimentos inovadores que revolucionaram a sociedade como um todo. Para mensurar a maturidade de cada um desses ecossistemas, é preciso tecer modelos de maturidade. É claro que tais modelos não têm como objetivo ditar mapas estratégicos práticos que tracem o caminho do sucesso para qualquer ecossistema de inovação, pois devemos considerar as particularidades e as diferenças de cada região, cujos potenciais são diferentes entre si (CUKIER; KON, 2018). A partir de um estudo de caso comparativo entre três diferentes ecossistemas de inovação do ramo de software, Cukier e Kon (2018) realizaram uma análise e uma proposição de ações políticas para fomentar a inovação e desenvolver localidades. O estudo buscou compreender a evolução dos sistemas de inovação e, como resultado, apresentou um modelo de mapeamento da evolução dos ecossistemas e de suas dinâmicas. O modelo proposto pelos autores considerou a existência de quatro níveis distintos de maturidades em ecossistemas, conforme Figura 1: 61 Figura 1 – Fases de evolução de ecossistema de inovação de software Fonte: elaborada pela autora. Os autores ressaltam que para compreender um ecossistema de inovação é necessário realizar uma análise aprofundada, por longos períodos, pois eles são dinâmicos. Tal ressalta converge com a proposta de Moore. Além disso, deve ser levado em conta o aspecto cultural dos ecossistemas, o qual irá ditar muitas de suas características. Determinadas culturas contribuem com o sucesso de um ecossistema de inovação, além da interconectividade entre os elementos. O grau de conectividade entre os elementos melhora à medida que o ecossistema progride (CUKIER; KON, 2018). Algumas métricas auxiliam a compreender a maturidade de ecossistemas de inovação, como estratégias de saídas, ou seja, quando ocorre um crescimento lucrativo para o mercado global, a aquisição por uma grande empresa, a fusão com outra empresa ou uma oferta pública de ações. Quando os ecossistemas adotam uma dessas estratégias, pelo menos, são considerados fracos; quanto adotam uma opção, são médios; e, por fim, quando adotam duas ou mais, são considerados maduros (CUKIER; KON, 2018). 62 A globalização de mercado que ocorre quando startups visam atuar em mercados externos, seja tendo clientes externos ou efetivamente alocando um escritório de representação oficial fora do país, é outro indicador de maturidade de um ecossistema. Além disso, também são um indicador as universidades empreendedoras cooperando, e o número de alunos que acabam criando empresas a partir dos seus aprendizados e de suas descobertas nas universidades (CUKIER; KON, 2018). A burocracia governamental e outros fatores do quadro jurídico, como taxas e cargas tributárias, podem complicar a forma como empresas e ecossistemas se desenvolvem. Por outro lado, a qualidade de empresas aceleradas pode ser um bom indicativo de sustentabilidade de negócios, bem como a presença de incubadoras. Também o acesso a investimentos pode beneficiar e impulsionar o desempenho de empresas e ecossistemas (CUKIER; KON, 2018). A qualidade do capital humano dentro do ecossistema e os elementos de estrutura que correlacionem empreendedores e educação, bem como valores culturais voltados ao empreendedorismo, auxiliam no seu desenvolvimento e na sua evolução. Além destes, podemos elencar outros indicadores, como transferência de tecnologia; metodologias de conhecimento; eventos de startups; elementos de mídia; número de startups; dados e pesquisas acerca do ecossistema; incubadoras e parques tecnológicos; e presença de empresas de alta tecnologia, (CUKIER; KON, 2018). Para simplificar, adotamos a classificação em quatro níveis anteriormente descrita. Assim, a Fase 1, denominada nascentes, caracteriza-se por ser um ecossistema já reconhecido como um hub de inicialização, pois já possui algumas startups e acordos de investimentos. Pode ocorrer ainda a presença de iniciativas de estímulo governamentais com vistas a promover a aceleração dos ecossistemas; porém, ainda não 63 se observam grandes resultados em termos de geração de empregos ou de penetração em cenários internacionais (CUKIER; KON, 2018). A Fase 2, denominada evolução, é caracterizada com algumas empresas já atingindo o sucesso. Também há algum impacto no desenvolvimento regional ou local, com geração de empregos que impulsionam a economia local (CUKIER; KON, 2018). Na Fase 3, denominada maturidade, o ecossistema já possui centenas de startups e há negócios de investimento, startups de sucesso e impactos mundiais. Além disso, há uma primeira geração de empreendedores que começam a auxiliar o desenvolvimento do ecossistema, direcionando-o para que seja autossustentável (CUKIER; KON, 2018). Por fim, a Fase 4, de autossustentabilidade, é a fase em que milhares de startups e aceleradoras correspondem ao ecossistema. Ela também deve apresentar uma segunda geração de empreendedores que atuarão como mentores, ou investidores-anjos, ou ainda, uma rede de empreendedores bem-sucedidos que estão envolvidos com a sustentabilidade do ecossistema e com seu desenvolvimento. Nessa etapa, o ambiente é inclusivo e ocorrem muitos eventos de inicialização e um alto nível de especialização técnica (CUKIER; KON, 2018). Depois de apresentar esse modelo aos meios científico e empresarial, Cukier e Kon (2018) perceberam que faltava ainda acrescentar outros fatores essenciais, como o acesso a investidores-anjo e a presença de eventos. Nessa perspectiva, consideram que a quantidade de empresas interfere menos no amadurecimento, porque devemos considerar que diferentes localidades possuem números inferiores de habitantes e, dessa forma, nunca atingiriam o grau de maturidade por esse modelo. Assim, os autores elencaram que a presença de investidores-anjo como elemento fundamental para considerar a evolução de um ecossistema e a ocorrência de eventos podem auxiliar o fortalecimento do network na rede e levar o ecossistema à maturidade (CUKIER; KON, 2018). 64 Esse modelo apresentado diz respeito ao contexto de startups de software, mas pode ser aplicado a outros contextos de negócios. Além disso, é raro encontrar ecossistemas que não sejam caracterizados pela presença de um desenvolvedor de software, pois o modelo permite comparar a evolução e o desenvolvimento de diferentes ecossistemas (CUKIER; KON, 2018). Em suma, podemos concluir, a partir da apresentação dos modelos de maturidade aqui expostos que, em primeiro lugar, os ecossistemas não só são mutáveis como também evoluem. Sua evolução pode levá-los a melhorar seu grau de competitividade ou, pelo contrário, levá-los ao declínio. Nessas mudanças, pode haver inversão de papéis de lideranças, já que os elementos do ecossistema cooperam e competem entre si. Além disso, podemos concluir que não há um único modelo de maturidade para analisar os ecossistemas de inovação, devendo haver diferenciações de acordo com os tipos de ecossistemas formados. No entanto, a ideia de formular um modelo de maturidade é a de conseguir compreender os ecossistemas e diagnosticar de que forma eles estão evoluindo no decorrer do tempo. Por intermédio de um mesmo modelo aplicado a diferentes ecossistemas, é possível também tecer análises comparativas, das quais é possível obter insights para auxiliar no desenvolvimento de planejamentos estratégicos que auxiliem o desenvolvimento de ecossistemas locais. A ideia, portanto, não é a de traçar um perfil característico e gessado de ecossistemas, atribuindo-lhes taxações de características; pelo contrário, é realizar estudos que sirvam de subsídios à compreensão da dinâmica de ecossistemas, destacando quais são os aspectos os que impulsionam ou os prejudicam. Em uma análise aprofundada, poderíamos apresentar ainda outros modelos de maturidade ou comparar oprimeiro e o segundo modelos apresentados, ressaltando as similaridades e diferenças entre as fases descritas. 65 Referências Bibliográficas AUTIO, E.; THOMAS, L. Innovation ecosystems. The Oxford handbook of innovation management. Oxford, UK: Oxford University Press, 2014. p. 204-288. CUKIER, D.; KON, F. A maturity model for software startup ecosystems. Journal of Innovation and Entrepreneurship, [s.l.], v. 7, n. 14, 2018. Disponível em: https:// link.springer.com/article/10.1186/s13731-018-0091-6. Acesso em: 15 ago. 2020. MOORE, J. F. Predators and prey: a new ecology of competition. Harvard business review, [s.l.], v. 71, n. 3, p. 75-86, 1993. Disponível em: https://www.researchgate. net/profile/James_Moore29/publication/13172133_Predators_and_Prey_A_New_ Ecology_of_Competition/links/59a9ad2d0f7e9bdd114ac690/Predators-and-Prey-A- New-Ecology-of-Competition.pdf. Acesso em: 15 ago. 2020. TEIXEIRA, C. S.; ALMEIDA, C. G.; FERREIRA, M. C. Z. (org.). Habitats de Inovação: alinhamento conceitual. Florianópolis: Perse, 2016. Disponível em: http://via.ufsc.br/ download-habitats-de-inovacao/. Acesso em: 27 ago. 2020. https://link.springer.com/article/10.1186/s13731-018-0091-6 https://link.springer.com/article/10.1186/s13731-018-0091-6 https://www.researchgate.net/profile/James_Moore29/publication/13172133_Predators_and_Prey_A_New_Ecology_of_Competition/links/59a9ad2d0f7e9bdd114ac690/Predators-and-Prey-A-New-Ecology-of-Competition.pdf https://www.researchgate.net/profile/James_Moore29/publication/13172133_Predators_and_Prey_A_New_Ecology_of_Competition/links/59a9ad2d0f7e9bdd114ac690/Predators-and-Prey-A-New-Ecology-of-Competition.pdf https://www.researchgate.net/profile/James_Moore29/publication/13172133_Predators_and_Prey_A_New_Ecology_of_Competition/links/59a9ad2d0f7e9bdd114ac690/Predators-and-Prey-A-New-Ecology-of-Competition.pdf https://www.researchgate.net/profile/James_Moore29/publication/13172133_Predators_and_Prey_A_New_Ecology_of_Competition/links/59a9ad2d0f7e9bdd114ac690/Predators-and-Prey-A-New-Ecology-of-Competition.pdf http://via.ufsc.br/download-habitats-de-inovacao/ http://via.ufsc.br/download-habitats-de-inovacao/ 66 BONS ESTUDOS! Sumário Ambientes, Redes e Ecossistema de inovação Objetivos 1. Ambientes de inovação 2. Abordagem de redes 3. Ecossistemas de inovação Referências Bibliográficas Colaboração entre universidade, empreendedores e investidores Objetivos 1. Universidade, governo e empresa Referências Bibliográficas Incubadoras e aceleradoras Objetivos 1. Incubadoras e aceleradoras Referências Bibliográficas Modelo de Maturidade de Ecossistema de Inovação Objetivos 1. Evolução de ecossistemas de inovação Referências Bibliográficas