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SISTEMAS URBANOS DE ÁGUA E ESGOTOSISTEMAS URBANOS DE ÁGUA E ESGOTO TRATAMENTO URBANO DETRATAMENTO URBANO DE ESGOTO E DRENAGEMESGOTO E DRENAGEM Autor: Me. Fabricio Alonso Richmond Navarro Revisor : Suely de Medeiros IN IC IAR introdução Introdução Entre os sistemas urbanos, o sistema separador absoluto coleta e transporta separadamente o esgoto sanitário e as águas pluviais; ele é amplamente usado no Brasil, e tem a vantagem de dar um tratamento particular a cada tipo de água. Mesmo com suas diferenças bem de�nidas, podemos dizer que o potencial poluidor é a característica principal do esgoto sanitário, e as altas vazões em curtos tempos são o principal distintivo das águas pluviais. Por esses motivos, estudaremos na presente unidade os sistemas de tratamento do esgoto sanitário, aprendendo os processos e as operações unitárias básicas necessários para diminuir a carga poluidora dessa água. Quanto ao sistema de drenagem pluvial, estudaremos os conceitos de macro e microdrenagem, e como isso in�uencia a maneira de projetar os elementos básicos desse sistema. Por último, conheceremos os aspectos legais para a ótima gestão da drenagem urbana. Os esgotos produzidos em residências, comércios, instituições públicas ou qualquer outro prédio onde são realizadas atividades como preparação de alimentos, higiene pessoal, lavagem etc. contêm água em sua maioria; uma pequena fração corresponde a sólidos orgânicos, inorgânicos, microrganismos e outros elementos poluentes. Devido a esses elementos é que a água precisa ser tratada antes de voltar para o meio ambiente. Para isso, são utilizadas as estações de tratamento de esgoto (ETE), com o objetivo de condicionar as águas e diminuir os impactos nos corpos d'água receptores. Operações Unitárias Para o condicionamento do esgoto são aplicados processos de tratamento nas ETEs, formados por uma série de operações unitárias que têm como objetivo principal a remoção dos agentes poluentes ou sua transformação em substâncias mais aceitáveis pela natureza (JORDÃO; PESSÔA, 2011). No Quadro 4.1 é apresentado um resumo das operações unitárias mais utilizadas nos processos de tratamento. Tratamento de EsgotoTratamento de Esgoto SanitárioSanitário Quadro 4.1 – Operações unitárias Fonte: Adaptado de Jordão e Pessôa (2011, p. 93-94). Na Figura 4.1 vemos o típico caminho que a água percorre até um corpo receptor. Ele começa na rede coletora (parte superior da �gura) e termina na ETE (parte inferior da �gura); na �gura, ainda Operação unitária De�nição Exemplo Troca de gás Adição ou extração de gases para o tratamento ou como produto deste. Adição de cloro gasoso. Adição de ar para manter condições aeróbias. Gradeamento Retenção e remoção de sólidos �utuantes e em suspensão maiores que as aberturas das grades. Uso de peneiras. Uso de grades. Sedimentação Remoção de partículas pela ação da gravidade. Caixas de areia. Decantadores. Flotação Aumento da capacidade de empuxo da água, usualmente pela adição de agentes �otantes, por meio dos quais as substâncias indesejadas sobem à superfície para serem retiradas. Remoção de graxas e óleos, naturalmente ou com o uso de aeração. Filtração Operação com processos de coação, sedimentação e contato interfacial, com o objetivo de transferir o elemento poluente para outra superfície, de preferência granular. Filtros de areia ou de carvão. Valas de �ltração. Oxidação biológica Decomposição da matéria orgânica pelos microrganismos do esgoto ou lodos. Lagoas aeróbias. Filtração biológica. Lagoas estabilizadoras. Coagulação/ Floculação química Aplicação de substâncias químicas para formar �ocos sedimentáveis, usando as forças de atração entre as partículas di�cilmente sedimentáveis. Uso do sulfato de alumínio para coagulação e �oculação. Precipitação química Aplicação de substâncias químicas que reagem com as substâncias no esgoto, de maneira que precipitam Adição de cal ao esgoto com níveis altos de ferro. Desinfecção Inativação de micro-organismos patógenos Cloração. Ozonização e uso de raios ultravioleta. podemos perceber as quatro operações unitárias: gradeamento, sedimentação, aeração e oxidação biológica, nessa ordem. Figura 4.1 – Cidade com sistema de tratamento Fonte: Chakawut Potjanarit / 123RF. Como veremos na próxima seção, nas duas primeiras unidades são realizados processos físicos, e na terceira é adicionado ar para manter as condições aeróbias e realizar a estabilização do esgoto por meio de processos biológicos. Processos de Tratamento Jordão e Pessôa (2011) classi�cam e explicam, segundo sua natureza, os processos de tratamento realizados no esgoto: Processos físicos : atuam principalmente fenômenos físicos. Têm como objetivo principal a remoção dos sólidos que não estejam dissolvidos na água ou os líquidos que, por meios físicos, sejam separáveis. Exemplos desses processos: remoção de sólidos grosseiros, sólidos sedimentáveis e sólidos �utuantes do esgoto. Processos biológicos : esse tipo de processo depende dos processos biológicos dos microrganismos próprios no esgoto, que transformam compostos complexos e poluentes em compostos simples mais estáveis, fáceis de retirar da água. Exemplo desses processos é encontrado nos tratamentos com lodos ativados, lagoas anaeróbias, lagoas de estabilização, reatores anaeróbios de �uxo ascendente (Rafa) e qualquer outro em que seja realizada uma oxidação biológica. Processos químicos : costuma-se usar produtos químicos. Esses são os processos menos utilizados devido aos seus custos e à produção de subprodutos. Usualmente são empregados quando os dois métodos anteriores não são e�cazes ou e�cientes na remoção de contaminantes, pelo que podem ser vistos como processos auxiliares ou potencializadores. Exemplos desses processos são: coagulação, �oculação, cloração e oxidação química. Pode-se dizer que a ordem apresentada corresponde à hierarquia em economia e uso: os processos físicos são os mais econômicos, sendo usados sempre no começo de uma ETE, seguidos dos biológicos e, por último, poderia ser aplicado um processo químico, como uma desinfecção, por exemplo. praticar Vamos Praticar Numa cidade perto da costa, a empresa encarregada da estação de tratamento de esgoto realizou um estudo dos parâmetros de qualidade utilizados para caracterizar o potencial poluidor do esgoto, detectando uma alta quantidade de areias, que poderiam prejudicar o funcionamento da estação. Nesse sentido, assinale a alternativa que indique qual operação unitária deveria ter mais ênfase na empresa prestadora do serviço: a) Gradeamento. b) Flotação. c) Desinfecção. d) Sedimentação. e) Precipitação Química. A drenagem urbana, como sistema urbano, tem a �nalidade de melhorar as condições da população nas cidades. Diferentemente dos sistemas de abastecimento de água ou esgotamento sanitário que atendem a uma demanda criada pelo ser humano, a drenagem urbana atende a uma solicitação da natureza, pois, como cita Tucci (2013, p. 811), “as águas pluviais requerem espaço. Uma vez sobre o solo, a água irá escoar exista ou não um sistema de drenagem adequado”. A Figura 4.2 mostra o percurso da água de chuva até os corpos receptores. Drenagem UrbanaDrenagem Urbana Figura 4.2 – Percurso das águas pluviais até os corpos receptores Fonte: Adaptada de Tucci (2013). Um sistema de drenagem urbano pretende o correto aproveitamento e encaminhamento das águas de chuva, com o objetivo de minimizar qualquer risco de inundação, possibilitando o desenvolvimento das áreas urbanas de maneira harmônica, articulada e sustentável (TUCCI, 2013). Dessa maneira, o tema é levado para esferas mais abrangentes, como a gestão dos espaços urbanos, sendo um assunto interdisciplinar. Mesmo com a importância que têm os sistemas de drenagem urbanos, muitas cidades brasileiras não contam com a devida infraestrutura para evitar inundações, �cando vulneráveis aos eventos extremos, como chuvasde alta intensidade, o que causa perdas humanas e econômicas em muitos casos. Elementos de um Sistema Pluvial Urbano O sistema pluvial urbano é dividido em dois grandes grupos: Microdrenagem : elemento de pequeno porte pertencente à rede primária urbana. Sua função é escoar rapidamente as águas pluviais de vias públicas, passeios, praças e qualquer outro tipo de acesso ou infraestrutura pública. Ademais, o sistema de reflita Re�ita Por que os sistemas urbanos são importantes? Os centros urbanos são grandes consumidores de produtos e energia, gerando aproximadamente 70% da produção de resíduos em nível global (IBGE, 2020), mesmo ocupando menos de 3% do território mundial (TUCCI, 2012). Em nível nacional e mundial, processos de êxodos rurais têm acontecido ao longo do tempo. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015, 84,72% dos brasileiros vivem em áreas urbanas e apenas 15,28% em áreas rurais (IBGE, 2020). Esses processos têm sobrecarregado o uso e a ocupação do solo das cidades, sendo necessário organizar sistemas urbanos e�cientes e e�cazes, capazes de proporcionar saneamento básico adequado e melhor qualidade de vida aos residentes das cidades. Fonte: Tucci (2012, p. 8). microdrenagem recolhe as águas de prédios e residências. Esse sistema atende a eventos de chuva moderados, evitando principalmente alagamentos pontuais. Macrodrenagem : considera as tubulações principais de vários sistemas de microdrenagem, abrangendo extensas áreas, superiores a 400 ha, mas não limitadas a esse valor, pois dependem das con�gurações da malha urbana (TOLEDO, 2017). Esse sistema atende a eventos de chuva extrema e de alto risco, evitando inundações com prejuízos econômicos e humanos. Os principais elementos que fazem parte da microdrenagem são: Sarjeta : faixas de via pública que acompanham o meio-�o para coletar o escoamento. Meio-�o : composto por elementos principalmente de concreto, localizados entre o passeio e a via pública. Sua face superior está no mesmo nível do passeio; tem função de con�namento do escoamento. Sarjetões : calhas ubicadas nos cruzamentos das vias públicas. Sua função é dar continuidade e orientação ao �uxo das sarjetas. Boca de lobo (BL) : elementos localizados de maneira conveniente nas sarjetas para a captação de água. Tubos de ligações : são os tubos que canalizam as águas captadas nas bocas de lobo até poços de visita ou galerias. Galerias : principais coletores públicos que transportam as águas de chuva aportada pelas bocas de lobo, outras galerias e ligações prediais. Poço de visita (PV) : elementos estruturais que permitem mudanças de direção, de declividade e de diâmetro nas galerias. Ademais, servem para a inspeção e limpeza do sistema. O espaço entre dois poços de visita é de�nido como um trecho de galeria. Caixas de ligação (CL) : elementos com a função similar à de um PV, mas não são visitáveis. São utilizadas para evitar mais de quatro tubulações em um mesmo PV ou para bocas de lobo intermediárias nos quarteirões. Na Figura 4.3 vemos a localização de alguns elementos de microdrenagem indicados anteriormente. Note-se sua localização na via pública e a lógica do �uxo. As bocas de lobo do lado esquerdo não pertencem à rede mostrada na �gura, por isso não estão ligadas ao PV contíguo. Já os elementos da macrodrenagem são estruturas que fazem a condução principal da bacia, concentrando as águas pluviais recebidas dos outros subsistemas, por isso são constituídos por estruturas de maiores dimensões, como canais naturais ou arti�ciais, reservatórios de detenção e retenção e galerias maiores. praticar Vamos Praticar Leia o trecho a seguir: “[...] estruturas de captação e condução de águas pluviais que chegam aos elementos viários como ruas, praças e avenidas, e provenientes não apenas da precipitação direta sobre eles, mas também das captações existentes nas edi�cações e lotes lindeiros.” (SÃO PAULO, 2012, p. 34). SÃO PAULO. Prefeitura de São Paulo. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. Manual de drenagem e manejo de águas pluviais : aspectos tecnológicos; diretrizes para projetos. São Paulo: SMDU, 2012. Nesse sentido, assinale a alternativa que apresenta o que o trecho está descrevendo: Figura 4.3 – Elementos de microdrenagem Fonte: São Paulo (2012, p. 39). a) Uma galeria pluvial. b) Boca de lobo. c) Microdrenagem. d) Macrodrenagem. e) Sistema de tratamento de esgoto. Para chegar ao dimensionamento das estruturas de micro e macrodrenagem, é necessário realizar um estudo de drenagem urbana. Hall (1984) e Tucci (2013) retratam esses procedimentos em 5 passos: 1. Escolha do período de retorno 2. Determinação da tormenta de projeto 3. Determinação do escoamento super�cial direto 4. Determinação das vazões de projeto 5. Dimensionamento das estruturas hidráulicas A escolha do período de retorno (Tr) considera a relação entre custo-risco-consequências (econômicas e sociais), e consiste na frequência de eventos extremos durante a vida útil de uma obra. Os valores mínimos usados dependem dos requerimentos técnicos solicitados pelas autoridades locais. Alguns valores de referência usados para microdrenagem variam entre 2 e 10 anos, segundo o tipo de ocupação. Para macrodrenagem, os valores variam entre 50 e 100 anos; para obras de grande importância, 500 anos. A determinação da tormenta do projeto considera questões meteorológicas, calculando as precipitações máximas segundo o período de retorno aceito. Para isso, podem ser usadas as curvas ou fórmulas de intensidade-duração-frequência (I-tc-Tr). A metodologia mais comum para estruturas de microdrenagem consiste em de�nir o período de retorno do evento (Tr), calcular o tempo de concentração da bacia (tc) segundo suas características e, assim, obter a intensidade da chuva (I). Já para macrodrenagem são aplicados métodos estatísticos ou hidrometeorológicos para calcular a precipitação máxima provável. O terceiro passo, a determinação do escoamento super�cial direto, consiste em estimar a parcela de precipitação que vai ser captada e transportada pela drenagem pluvial, calculada como a precipitação total menos a parcela de in�ltração, a de interceptação e as perdas iniciais. Para isso, é necessária a informação e a aplicação de modelos hidrológicos e de uso do solo. O próximo passo, determinante para o dimensionamento das estruturas, é o cálculo da vazão do projeto, pois ele mostra a condição crítica de funcionamento em que o sistema vai operar. No passo anterior foi possível conhecer a chuva excedente que vai escoar na nossa drenagem urbana, mas, Dimensionamento deDimensionamento de Micro e MacrodrenagemMicro e Macrodrenagem para o correto dimensionamento, é preciso conhecer sua distribuição no tempo e os valores de pico (máximos) de vazão. Para bacias pequenas, com menos de 2,5 km2 de área e tempos de concentração menores que uma hora, pode-se usar o método racional para o cálculo da vazão máxima e considerar uma intensidade constante. Esse procedimento é aplicado na maioria dos problemas da microdrenagem (TUCCI, 2013). Já para a macrodrenagem (bacias médias) são necessários procedimentos que forneçam mais informação, como a utilização do hidrograma unitário, o qual retratará uma resposta mais real da bacia com a aplicação de uma chuva extrema. Por último, para o dimensionamento das estruturas de micro e macrodrenagem é necessária a utilização de modelos hidráulicos que retratem seu comportamento. Normalmente, todo o sistema de drenagem pluvial trabalha em lâmina livre, e evitam-se situações contrárias. Para elementos da microdrenagem, como sarjetas, sarjetões, tubos de ligação e galerias, consideramos o escoamento permanente e em regime uniforme. O dimensionamento consiste na revisão da capacidade hidráulica da estrutura usando a Equação de Manning para a vazão máxima. Em cada caso é necessário considerar o material da estrutura para de�nir o coe�ciente de Manning (n). Por exemplo, parao caso das galerias pluviais circulares na Cidade de São Paulo, o dimensionamento da estrutura está condicionado a elementos como: Diâmetro mínimo: 50 cm. Diâmetros correntes: 0,50; 0,60; 1,00; 1,20 e 1,50 m. A galeria deve funcionar à seção plena com a vazão de projeto. A velocidade máxima admissível para tubos de concreto é de 5,0 m/s e, a mínima, de 0,60 m/s. (SÃO PAULO, 2012). Outras estruturas da microdrenagem, como caixas de passagem, poços de visitas e bocas de lobo, têm seu respectivo gabarito, devendo-se fazer pequenas modi�cações segundo as necessidades do caso. São Paulo (2012) e Toledo (2017) mostram como cada cidade tem solicitações particulares para suas estruturas de drenagem, pelo que é importante revisar para cada obra a normativa local pertinente. O dimensionamento das estruturas de macrodrenagem é mais complexo devido aos métodos de cálculo empregados para a determinação da tormenta de projeto, do escoamento super�cial direto e das vazões. Ademais, considera regime gradualmente variado e não permanente nas soluções hidráulicas de suas estruturas. saiba mais Saiba mais As estruturas hidráulicas da macrodrenagem têm papel importantíssimo na gestão da cidade, pois protegem a população de danos materiais e das perdas de vidas devido às enchentes. No artigo indicado, são apresentados três diferentes reservatórios de detenção, obras de macrodrenagem conhecidas popularmente como “piscinões”. Aprenda sobre essa estrutura de macrodrenagem no link a seguir. ACESSAR Nos últimos anos, devido ao aumento dos eventos extremos de precipitação por mudanças atmosféricas, as cidades têm apresentado maior quantidade de inundações, o que aumenta sua necessidade de estruturas de macrodrenagem, capazes de amortecer os picos de vazões máximas. praticar Vamos Praticar Leia o trecho a seguir: “As chuvas intensas na bacia deverão ser estimadas através de equação I-D-F relativa ao posto de referência. No caso da cidade de São Paulo recomenda-se a utilização da estação do IAG-USP, cuja equação foi estabelecida e publicada pelo DAEE (1999) em ‘Precipitações Intensas no Estado de São Paulo’.” (SÃO PAULO, 2012, p. 24) SÃO PAULO. Prefeitura de São Paulo. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. Manual de drenagem e manejo de águas pluviais : aspectos tecnológicos; diretrizes para projetos. São Paulo: SMDU, 2012. Nesse sentido, assinale a alternativa que apresenta qual dos cinco passos constitui um estudo de drenagem urbana, de acordo com a descrição do enunciado: a) Determinação da tormenta de projeto. b) Escolha do período de retorno. c) Determinação do escoamento super�cial direto. d) Determinação das vazões de projeto. e) Dimensionamento das estruturas hidráulicas. http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-12672019000100013&lng=pt&nrm=iso Em primeiro lugar devemos lembrar que a drenagem urbana faz parte dos serviços de saneamento básico, junto à coleta de resíduos sólidos, à distribuição de água e ao tratamento de esgoto, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da sociedade. As consequências de uma má gestão da drenagem pluvial podem ser traduzidas em dois itens: aumento do número de cheias na cidade e impacto na qualidade dos corpos de água. Sob a ótica descrita anteriormente é que giram os aspectos legais desenvolvidos nesta seção: saneamento básico e gestão da drenagem urbana. A drenagem urbana, dividida em micro e macrodrenagem, pode contar com a aplicação da legislação. A microdrenagem está determinada principalmente por cada município, que disponibiliza uma série de normativas e diretrizes que precisam ser respeitadas no projeto e na execução da obra. Exemplo disso é a Prefeitura de São Paulo (2012) que disponibiliza o Manual de drenagem e manejo de águas pluviais , divido em três volumes: Gerenciamento do sistema de drenagem urbana; Aspectos tecnológicos: fundamentos e Aspectos tecnológicos: diretrizes para projetos . Outro exemplo é o município de Toledo (2017), com seu Manual de drenagem urbano, que, de maneira menos extensa, cita as mesmas diretrizes para a microdrenagem. Já a macrodrenagem envolve não unicamente o município, mas também outros municípios, o Estado e a Federação, pois atividades na montante podem trazer consequências na jusante. A Figura 4.4 mostra o impacto da urbanização a montante nas ocupações existentes, aumentado o nível da água do rio e produzindo prejuízos humanos e materiais potenciais. Aspectos Legais daAspectos Legais da Drenagem UrbanaDrenagem Urbana Soluções para o caso anterior devem considerar respostas reais aos problemas, e não agravar o problema, como se vê em muitos lugares que aumentam o canal e a capacidade do rio para escoar o mais rápido possível a vazão, o que tem como consequência um pico mais acentuado de vazão na próxima cidade a montante. Legislação Aplicável Nesta seção, veremos a legislação aplicável mais relevante quanto ao tema de drenagem pluvial. O tema “legislação” sofre sempre grandes mudanças e envolve temas de outras disciplinas, por isso o pro�ssional interessado em atuar nessa área deve estar atualizando seus conhecimentos constantemente. Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) : seu art. 23 de�ne a competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para cuidar da saúde pública, proteger o meio ambiente, combater a poluição, preservar a fauna e �ora e promover programas de saneamento básico. Adiciona, no art. 30, que compete aos municípios promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso e ocupação do solo, dos elementos que impactam a drenagem pluvial. Também compete à União a função da macrodrenagem, pois, segundo o art. 21, inciso XVIII, ela deve “planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações”. Além disso, deve instituir sistema nacional de gerenciamento de recurso hídrico e diretrizes para o saneamento básico. Figura 4.4 – Impactos das atividades na montante Fonte: Tucci (2012, p. 21). Lei Federal de Recursos Hídricos n. 9.433, de janeiro de 1997 (BRASIL, 1997) : institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Entre seus objetivos, descritos no art. 2º, inciso III e IV, estão a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais, além de incentivar o aproveitamento das águas pluviais. Cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recurso Hídrico, que coordena a gestão integrada das águas. Lei Federal de Saneamento n. 11.445, de 5 de janeiro de 2007 (BRASIL, 2007) : estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, de�nindo os princípios fundamentais desses serviços públicos. Destaca-se o inciso IV do art. 2º: “[...] disponibilidade, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e �scalização preventiva das respectivas redes, adequados à saúde pública e à segurança da vida e do patrimônio público e privado” (BRASIL, 2007). No inciso I do art. 3, de�ne-se o conceito de “drenagem urbana”, destacando a função da microdrenagem como drenar, transportar e dar disposição �nal às águas pluviais e, como função da macrodrenagem, amortecer vazões de cheias, por meio de processos de detenção ou retenção. O art. 36 dessa mesma lei de�ne a cobrança desse serviço e de�ne a criação do Plano Nacional de Saneamento Básico (PNSB), que conterá o manejo da drenagem pluvial e outras ações de saneamento básico de interesse para a melhoria da salubridade ambiental. O Plansab (Plano Nacional de Saneamento Básico) foi �nalizado em 2013 (BRASIL, 2013). O governo, com a intenção de envolver os governos locais no tema do saneamento básico, estabelece diretrizes gerais da política urbana na Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001 (BRASIL, 2001) , com o objetivo de de�nir os planos diretores do uso e da ocupação do solo. Com o Decreto n. 7.217, de 21 de julho de 2010 (BRASIL,2010) , compete aos governos locais desenvolver um Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB). Em seu art. 26, inciso III, parágrafo 2, a referida Lei indica que: Após 31 de dezembro de 2022, a existência de plano de saneamento básico, elaborado pelo titular dos serviços, será condição para o acesso aos recursos orçamentários da União ou aos recursos de �nanciamentos geridos ou administrados por órgão ou entidade da administração pública federal, quando destinados a serviços de saneamento básico. (BRASIL, 2010) Para tomada de decisões sobre a segurança hídrica do país, deve ser considerado o Plano Nacional de Segurança Hídrica (ANA, 2019), prevenindo as possíveis crises hídricas e os eventos extremos devido às mudanças climáticas. praticar Vamos Praticar Leia o trecho a seguir: “[...] a tendência atual na prevenção e mitigação dos riscos de inundações graduais é a de implementar uma combinação de medidas de proteção estrutural e medidas não estruturais, com o intuito de conciliar as funções de armazenamento e escoamento das águas no sistema de drenagem com o espaço disponível e as necessidades relacionadas à ocupação humana sustentável.” (ANA, 2019, p. 27) Fonte: ANA. Agência Nacional de Águas. Plano Nacional de Segurança Hídrica . Brasília: 2019. Diante do apresentado, assinale a alternativa que indique qual seria uma medida não estrutural na prevenção e mitigação dos riscos de inundações graduais: a) O dimensionamento de galerias para períodos de retorno de 100 anos. b) Construção de reservatórios de detenção ou piscinões. c) Criação do Manual de Drenagem Urbano pelo governo local. d) Aumentar a capacidade do canal dos rios. e) Políticas sobre uso do solo. indicações Material Complementar LIVRO Hidrologia: Ciência e Aplicação Editora : UFRGS/ABRH Autor : Carlos E. M. Tucci ISBN : 85-7025-298-6 Comentário : O conhecimento dos fundamentos básicos da hidrologia é indispensável para o dimensionamento das estruturas de micro e macrodrenagem e para a gestão geral da drenagem pluvial. A presente recomendação abrange temas hidrológicos e sua aplicação no contexto urbano brasileiro. WEB “Piscinão” da Praça da Bandeira diminuirá enchentes Ano : 2013 Comentário : Ao longo desta unidade, comentamos sobre a importância dos elementos de micro e macrodrenagem para o conforto da população das cidades e para evitar que chuvas intensas causem inundações com consequências humanas e econômicas. Esse documentário mostra de maneira enxuta como trabalham os elementos que amortecem as vazões picos durante as chuvas. ACESSAR https://www.youtube.com/watch?v=EysauPGJnlU&t=16s conclusão Conclusão Nesta unidade, estudamos as operações unitárias e os processos físicos, biológicos e químicos realizados nas estações de tratamento de esgoto para o condicionamento da água produto das atividades humanas, antes de voltar para o meio ambiente. Estudamos também o sistema de drenagem pluvial, que se divide em micro e macrodrenagem. Sobre microdrenagem, estudamos os elementos constituintes da rede de drenagem das cidades. Além disso, entendemos como é o procedimento de cinco passos para o dimensionamento das estruturas hidráulicas da micro e da macrodrenagem. Por último, revisamos os aspectos legais da drenagem urbana no Brasil, que regem pontos relevantes desse sistema urbano. referências Referências Bibliográ�cas ANA. Agência Nacional de Águas. Plano Nacional de Segurança Hídrica . Brasília, 2019. BRASIL. Constituição (1988). Diário O�cial da União , Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm . Acesso em: 2 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 7.217, de 21 de junho de 2010. Diário O�cial da União , Poder Legislativo, Brasília, DF, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2010/decreto/d7217.htm . Acesso em: 2 maio 2020. BRASIL. Lei n. 9.433, de janeiro de 1997. Diário O�cial da União , Poder Legislativo, Brasília, DF, 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9433.htm . 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